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BRASÍLIA-DF
2008
CLARISSA SERPA DE SOUZA
BRASÍLIA-DF
2008
A Deus, por todas as bênçãos e vitórias que têm me concedido. À
minha mãe Maria Clara Serpa F. Canto, por me ensinar, dentre tantas
brilhantes e inesquecíveis lições, a importância de persistir, batalhar e
acreditar na conquista dos meus sonhos e de um futuro melhor para se
viver. Ao meu noivo Saulo Kasakevitch e Luna, pelo apoio e
incentivo.
Ao ilustre professor Osvaldo Tovani, referência em minha vida
acadêmica e profissional, por quem tive o grande privilégio de ter sido
orientada. Muito obrigada!
“Não há nada mais relevante para a vida social que a formação do
sentimento da justiça”.
Rui Barbosa
RESUMO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 2
1 DO CASO HIPOTÉTICO ....................................................................................................... 4
1.1 DO CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL...................................................................................... 4
1.2 OS PERSONAGENS ................................................................................................................ 6
1.2.1 Caio ............................................................................................................................. 6
1.2.2 Mélvia.......................................................................................................................... 7
1.2.3 Tícia............................................................................................................................. 7
1.2.4 Prometeu ..................................................................................................................... 8
1.2.5 Epitemeu...................................................................................................................... 8
1.2.6 Grupo de Ações Táticas Especiais de Santa Clara - GATE........................................ 8
1.3 O CRIME .............................................................................................................................. 9
1.4 DA ATUAÇÃO DA POLICIA ................................................................................................. 16
2 DO DIREITO MATERIAL................................................................................................... 19
2.1 DA TIPIFICAÇÃO DAS CONDUTAS ...................................................................................... 19
2.1.1 Do homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, e recurso que dificulte ou
torne impossível a defesa da vítima – contra Mélvia ......................................................... 21
2.1.2 Da tentativa de homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, e recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa da vítima – contra Tícia ......................................... 22
2.1.3 Da tentativa de homicídio qualificado para assegurar a execução de crimes – contra
o policial............................................................................................................................. 24
2.1.4 Do cárcere privado qualificado - contra Mélvia, Tícia, Prometeu e Epitemeu ........ 24
2.1.5 Do disparo de arma de fogo em lugar habitado ....................................................... 26
2.2 DO CONCURSO DE CRIMES................................................................................................. 26
2.3 SISTEMAS DE APLICAÇÃO DA PENA ................................................................................... 28
2.4 DO CONCURSO MATERIAL ................................................................................................. 31
3 DOS ASPECTOS PROCEDIMENTAIS E PROCESSUAIS............................................. 34
3.1 DO EXPEDIENTE POLICIAL ................................................................................................. 34
3.2 DA AÇÃO PENAL ................................................................................................................ 38
3.2.1 Da ação penal pública incondicionada..................................................................... 41
3.3 DA COMPETÊNCIA PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO ............................................. 43
3.3.1 Da conexão de crimes ............................................................................................... 43
3.3.2 Da competência do Tribunal do Júri......................................................................... 45
CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 50
2
INTRODUÇÃO
questões sobre um crime passional, especificamente no que diz respeito aos aspectos
examinar desde os fatos que deram origem ao crime passional em epígrafe, até as
para a melhor compreensão da trajetória dos fatos que culminaram em sua ocorrência.
para o desenlace dos eventos, eis que agravado pelo comportamento do ex-namorado,
que acabou por incorrer em diferentes condutas ilícitas contra várias pessoas.
se que jovens foram feitos reféns por várias horas, disparos de arma de fogo foram
vigente.
tendo este praticado mais de uma conduta, insta relevante examinar a hipótese de
serão examinados seus aspectos em suas principais fases, desde o expediente policial,
por meio da instauração do inquérito policial, à avaliação da ação penal adequada diante
1 DO CASO HIPOTÉTICO
Primavera de 2008.
Diversos países preocupam-se com o advento de uma possível crise econômica diante
Processo Penal.
1
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos documentos básicos das Nações Unidas, e nela
são enumerados todos os direitos que os seres humanos possuem. Foi aprovada em 10 de dezembro de
1948 pela Assembléia Geral das Organizações Unidas, tendo como signatários vários países ao redor do
mundo.
2
Lei 11.689, de 09 de junho de 2008, que alterou os dispositivos concernentes ao Tribunal do Júri; Lei
11.690, de 10 de junho de 2008, que modificou os artigos relativos à prova; Lei 11.719, de 20 de junho de
2008, que trouxe alterações quanto à suspensão do processo, os institutos da mutatio libelli e da
emendatio libelli, e aos procedimentos.
5
tipo de programa vale por vinte e cinco anos, e o valor das prestações varia de acordo
executivo local, ocorrido há pelo menos mais de cinco anos3, e outro, atual, ao qual
3
O ex-prefeito de Santa Clara foi encontrado morto, baleado com dezoito tiros, em uma estrada próxima
à cidade. O caso ainda se encontra sem solução.
6
1.2 Os personagens
1.2.1 Caio
mudou-se com sua família do interior de uma capital nordestina para Santa Clara, aos
dois anos. Não foi criado pelo pai, que se separou de sua mãe quando ainda era criança.
história em Santa Clara, e de alta comoção nacional, pessoas próximas ao rapaz notaram
depressão após o rompimento do relacionamento de dois anos e sete meses com sua ex-
namorada.
1.2.2 Mélvia
habitacional Jardim Santa Clara com seus pais e com o irmão mais velho, há mais de
dez anos. A mãe é merendeira em uma escola, e seu pai afastado da carreira policial,
fotos, ouvir música e de navegar em sites da internet. Em sua escola, era popular e
Tinha apenas doze anos quando começou a namorar Caio. Sua família
aprovava o relacionamento, que, por sua vez, demonstrava-se conturbado. Foi ela quem
1.2.3 Tícia
com a avó e com sua mãe, que trabalha como professora. A jovem não encontrava o pai
há um ano.
Assim como sua melhor amiga, era reconhecida como uma garota
1.2.4 Prometeu
1.2.5 Epitemeu
Estado onde se localiza Santa Clara é uma unidade de operações policiais especiais,
psicológicas e profissionais.
9
diversas operações especiais que requerem um alto grau de desempenho tático, bem
como para uma eventual necessidade de ação em conjunto com outras instituições.
militares avançados.
resgate de reféns.
1.3 O Crime
4
A arma pertencia a um homem residente em um estado do nordeste brasileiro, segundo apurou a Polícia.
O antigo dono contou que o revólver foi roubado há cerca de vinte anos, quando foi deixado no banco de
uma Kombi, em sua cidade. Entretanto, ainda de acordo com a polícia, a arma registrada era de calibre
trinta e oito, e não trinta e dois, conforme ficou constatado. Agora, os investigadores buscam informações
se houve alguma alteração no equipamento, ou se ocorreu erro no registro de apreensão do revólver.
10
que reatassem o namoro. Caio não concordou, alegando que se isso ocorresse, ocorreria
reafirmando sua intenção de assassinar Mélvia e, de logo em seguida, ceifar sua vida.
Caio ainda afirmava sentir raiva de Tícia, pois acreditava que ela havia influenciado
reféns.
Por volta das 9h, Caio efetuou dois disparos de arma de fogo contra
condomínio onde manteve os jovens reféns por um considerável período de tempo. Não
da garota em breve, sem precisar data e horário. Um pouco antes, também conversou
informações que obteve durante conversa telefônica com Caio, a garota deveria ter sido
recusou a deixar Mélvia sozinha com o ex-namorado, temendo pela morte de sua amiga.
Por volta das 15h30, Caio efetuou outros dois disparos de arma de
fogo contra vizinhos, curiosos e jornalistas que estavam nos arredores do prédio, dentro
contato telefônico com a polícia, o rapaz afirma que voltaria a se comunicar somente na
manhã da quarta-feira.
12
apartamento é restabelecida.
privado.
Mais tarde, às 15h30, uma das reféns joga pela janela uma corda feita
com lençóis, a fim de receber alimentação. Caio se posiciona atrás da refém para
observar a movimentação.
âmbito nacional exibe, ao vivo, uma entrevista com Caio. Ele diz à apresentadora do
programa que pretende libertar a ex-namorada, mas que teme a reação da polícia.
Por volta das 17h30, Tícia, deixa a delegacia de Santa Clara, onde
pelo retorno de Tícia ao apartamento, que havia sido libertada na noite de terça-feira.
procedimento de libertação de Mélvia, Tícia deveria subir apenas dois jogos de escada
do prédio, junto com o irmão de Mélvia, a fim de dar cobertura e dar proteção a Caio.
Contudo, Caio conseguiu o retorno da refém, que estava sem escolta policial ou escudo
balístico.
Por volta de 12h45, uma das reféns jogou pela janela uma mochila,
Justiça do Estado, elaborou uma declaração que garantiria que a integridade física de
prendeu Caio. Tícia estava deitada em um colchão estendido no chão, e Mélvia no sofá,
ambas na sala, dormindo. Caio estava sentado, em frente às garotas. Ouviu-se uma
explosão. Entre o explosivo colocado pela polícia ser detonado, e Caio surgir preso,
cabeça.
levado até o corredor do prédio. Ele ainda tentou resistir, e são necessários mais dois
15
depoimento posterior, afirmou que não ouve nenhum disparo de arma de fogo antes da
entrada dos policiais ao cativeiro, confrontando a versão inicial dada pela polícia.
Mélvia, que foi gravemente ferida, teve perda de massa encefálica, foi
operada, mas não resistiu aos ferimentos e teve sua morte cerebral atestada quase
privado mais longo da história do Estado onde se localiza Santa Clara. O resultado
trágico da operação policial contra o crime que persistiu por cinco dias foi criticado, e a
equipe de policiais.
tempo, perdurando por mais de cem horas. Deste modo, transformou-se em dos casos de
cárcere privado mais longos da história do país, com repercussão de altas proporções.
ataque direto ao criminoso, indicando a pretensão de preservar a vida não somente dos
de escudo balístico.
barreira.
emprego de bombas de luz e som, que poderia facilitar sua atuação e, por conseqüência,
envolvidos saiu ileso. Uma das reféns, alvejada e ferida, teve de submeter-se a cirurgias
18
para recuperação, e a outra, baleada duas vezes, faleceu. Caio apresentou apenas
ferimentos leves.
flagrante, e deve ser denunciado pelo Ministério Público pela prática de uma série de
crimes que se desenvolveram durante os cinco dias em que perdurou um dos mais
2 DO DIREITO MATERIAL
penal por lesionar ou colocar em perigo interesses jurídicos relevantes. Para tanto, o
A essa definição legal fornecida pela ordem jurídico-penal, dá-se o nome de tipicidade.
fato praticado pelo agente e a descrição de cada espécie da infração contida na lei penal
conduta praticada no mundo real ao modelo descritivo constante na lei. Assim, um fato
para ser considerado típico, deve se adequar a um modelo descrito na lei penal. É a
5
JESUS, Damásio E. de, Direito Penal, volume 1: parte geral. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.
260.
6
Consoante preceitua o artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal, “não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”, também reconhecido como princípio da reserva
legal: nullum crimen nulla poena signe praevia lege.
7
JESUS, Damásio E. de, Direito Penal, volume 1: parte geral. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.
269-270.
20
[...] nem sempre é coisa simples que resulte de análise ligeira e mecânica da
lei, pois os tipos não são valores numéricos, nem puros conceitos lógicos, e
sim normas que contêm uma essência que forma um complexo sistema de
relações entre uma figura e outra. Para conseguir uma adequação correta é
sempre necessário indagar a que figura típica deve atender-se entre as
muitas que em regra podem ser aplicadas a determinado
comportamento. Na maior parte das vezes o problema assume feição de uma
operação complexa, seja porque várias leis podem aplicar-se a ela. Em alguns
casos, é correta a aplicação de várias leis ao mesmo fato; em outros, não. A
solução se condiciona às relações existentes entre os múltiplos tipos, com
base nos princípios que resolvem os conflitos aparentes de normas penais9.
[grifo nosso].
embora esse indício não integre a proibição, cuja presunção somente cessa diante de
8
O caso hipotético apresentado no presente trabalho oportunamente exemplifica situações de adequação
penal mediata, indireta ou por extensão.
9
JESUS, Damásio E. de, Direito Penal, volume 1: parte geral. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.
270.
10
Neste sentido, Cezar Bitencourt, em sua obra “Tratado de Direito Penal” ainda indica uma terceira
função, denominada de “função diferenciadora do erro”. Neste sentido, o autor somente poderá ser
punido pela prática de um fato doloso quando conhecer as circunstâncias fáticas que o constituem.
21
Não obstante, para que a conduta humana seja considerada crime, faz-
conduta lesiva.
outras circunstâncias que servem para exacerbar ou diminuir a pena, ou ainda que
tipo penal, e as condutas praticadas no caso hipotético apresentado, eis que lesivas ao
Caio afirmara desde o início do crime que seu principal propósito era
o de matar a ex-namorada, pelo fato dela ter decidido terminar o relacionamento com
11
JESUS, Damásio E. de, Direito Penal, volume 1: parte geral. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.
270.
22
de matar Mélvia pelo fato dela ter terminado o relacionamento com Caio. Tal motivo
gera intensa repulsa social, eis que diante de tal fato a sociedade demonstra-se
particularmente indignada.
inciso III.
Matar alguém:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
§ 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.
§ 2º - Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; [grifo nosso]
Caio tentou matar Tícia, desferindo tiros contra ela enquanto dormia
cativeiro. Caio asseverara sentir raiva de Tícia, pois acreditava que ela havia
Ora, Caio atirou contra Mélvia, na tentativa de ceifar sua vida. Porém,
12
Artigo 121, parágrafo II, inciso III, do Código Penal.
23
tentar matar Tícia por raiva, pelo fato de acreditar que influenciou na decisão de Mélvia
em terminar o relacionamento com Caio. Tal fato causa intensa repulsa social, eis que a
jurídico, eis que a tipicidade surge da junção do artigo 121 e do artigo 14, inciso II, do
Código Penal.
Diz-se o crime:
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição
legal;
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a
pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
[grifo nosso]
Matar alguém:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
§ 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.
§ 2º - Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo
torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; [grifo nosso]
13
Artigos 14, inciso II, e 121 parágrafo 2º, incisos I e III, do Código Penal.
24
Matar alguém:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
§ 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.
§ 2º - Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem
de outro crime.
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. [grifo nosso]
14
Artigo 121, parágrafo 2º, inciso V, do Código Penal.
25
menores de dezoito anos. Ainda, Caio cerceou a liberdade de Tícia por duas vezes, eis
Com relação à Tícia, Caio ainda a privou de sua liberdade duas vezes,
eis que depois de libertada, fez com que a jovem retornasse ao cativeiro, mantendo-a
Código Penal, contra Tícia (duas vezes) e contra Mélvia, Prometeu e Epitemeu (uma
15
Artigo 148, do Código Penal.
26
curiosos e jornalistas que estavam nos arredores do prédio, dentro do condomínio onde
Neste sentido, verifica-se que Caio disparou arma de fogo por quatro
delitos, por meio da prática de uma ou mais ações. Assim, configurar-se-á o concurso de
16
Artigo 15, Lei 10.826/03.
27
mais delitos.
delinquentium), pois este se configura quando duas ou mais pessoas praticam um crime.
concurso de crimes, como quando dois ou mais agentes, em concurso, praticarem dois
ou mais crimes.
não há de se falar em conflito aparente de normas penais, eis que se trata de hipótese de
concurso de crimes18.
de crimes, eis que se verifica a ocorrência de cinco delitos realizados, diante da prática
17
MIRABETE, Júlio Fabbrine. Manual de direito penal: parte geral - arts. 1º ao 120 do CP. São
Paulo: Atlas, 2002, p. 314.
18
JESUS, Damásio E. de, Direito Penal, volume 1: parte geral. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.
597.
28
reprimenda diante de um concurso de crimes, cuja realização se opera por meio dos
pena a ser estabelecida diante de um concurso de crimes, eis que um indivíduo que
comete diversos delitos deve ser apenado de forma mais severa do que aquele que
material ou do cúmulo material, determina-se a soma das penas aplicadas para cada
19
MIRABETE, Júlio Fabbrine. Manual de direito penal: parte geral - arts. 1º ao 120 do CP. São
Paulo: Atlas, 2002, p. 314.
20
Idem, p. 598-599.
21
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, volume 1: parte geral, arts. 1º a 120. 4. Ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 472.
29
material é utilizado pelo instituto do concurso material para a fixação da pena ao agente
que, tendo praticado mais de uma ação ou omissão, tenha cometido dois ou mais crimes.
expressamente recomendada a sua utilização pela lei22. Foi adotado pelo Brasil nas
não é será da soma das penas concorrentes, mas sim de tal rigidez que esteja em
Neste sentido, faz com que exista uma pena ponderada entre as várias
previstas para os diversos crimes, com o objetivo de impedir excessos punitivos. Não é
menos grave. Assim, considera-se que, na hipótese de concurso de crimes pode haver a
fixação da pena com base na mais grave, restando a absorvição das demais.
22
Como exemplo, a hipótese de coação no curso do processo, prevista pelo artigo 344 do Código Penal e
a de alteração de limites, usurpação de águas e esbulho possessório, conforme prevê o artigo 161 do
Código Penal.
23
Artigo 69, caput, do Código Penal.
24
Artigo 70, caput, 2ª parte, do Código Penal.
30
delito, tenha a fixação de somente uma das penas, porém com o acréscimo de uma cota
parte que sirva para representar a punição a todos os demais crimes. Configura-se em
praticado.
progressiva, cada novo crime realizado não é fonte de nova responsabilidade, mas uma
causa posterior que agrava a responsabilidade já configurada. Não é adotado pelo Brasil.
25
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007, p. 410.
26
Artigo 70, do Código Penal.
27
Artigo 71, do Código Penal.
28
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral, volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008,
p. 517.
31
da soma, acumulação ou do cúmulo material, eis que adequada para a situação em que o
seguir exposto.
29
Em contraposição as demais espécies, quais sejam, o concurso formal ou ideal, expresso no Código
Penal, e o instituto do crime continuado, consoante proclama o artigo 71, ambos do Código Penal.
30
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007, p. 410.
31
Idem.
32
crimes idênticos.
de forma se apartada à pena de cada um dos crimes, e, depois, proceder à sua soma na
própria sentença.
incidência sobre cada um dos crimes, desses fatores de majoração da sanção penal, sem
de liberdade somada com restritivas de direitos, caso tenha sido concedida a suspensão
direitos junto à outra pena restritiva diversa devem ser executadas simultaneamente, ou,
32
Artigo 5º, inciso XLVI, 1ª parte, da Constituição Federal.
33
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral, volume 1. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2008,
p. 518.
34
Idem.
33
diversas ações penais, a regra do concurso material será aplicada pelo Juiz da execução
penal, haja vista que, com o trânsito em julgado, todas as condenações são reunidas na
uma das infrações penais deve este ser contado separadamente, consoante proclama o
de concurso material ou real de crimes, tendo em vista a realização de mais de uma ação
ele relacionadas.
particular, desde que por meio da realização atividades lícitas), acerca da efetiva
35
Determina o artigo 119, do Código Penal: “no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade
incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”.
34
subsídios mínimos ao titular da ação penal para que se possa demonstrar a existência de
36
OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal. 9. ed. Rio de Janeiro: Editora Lumens Juris,
2008, p. 39.
37
Artigo 5º, do Código de Processo Penal.
38
Em contraposição à Ação Penal Pública Incondicionada, tem-se à Ação Pública Condicionada à
requisição do Ministro da Justiça e a Ação Penal Privada mediante o requerimento da vítima ou de seu
representante legal. Por outro lado, tratando-se de agente com prerrogativa de função, atual jurisprudência
35
instauração do inquérito.
se observa no caso apresentado, eis que o acusado fora preso em flagrante, a peça inicial
do Supremo Tribunal Federal denota que a autoridade policial não pode indiciá-lo sem prévia autorização
do Ministro-Relator do respectivo inquérito.
39
A Ação Penal Pública Incondicionada será particularmente examinada no presente trabalho em tópico
próprio.
40
Trata-se de peça singela na qual a autoridade policial descreve o fato delituoso, esclarece as
circunstâncias conhecidas, determina as primeiras diligências a serem realizadas e procede à classificação
do delito.
41
ALVES, Reinaldo Rossano. Direito processual penal. 1. ed. Brasília: Fortium Editora, 2008, p. 29.
36
do acusado. Com efeito, o respectivo termo deve ser assinado por duas testemunhas42
que lhe tenham ouvido a leitura, sob pena de nulidade do ato devendo a prisão, caso
garantias, como o de permanecer calado, sem que o silêncio seja interpretado em seu
desfavor.
homicídio doloso, deve o indiciado submeter-se à identificação criminal, ainda que seja
42
Denominadas de testemunhas instrumentárias, não precisam estar presentes na oitiva em si, mas apenas
no ato da leitura do termo de declaração do acusado.
43
ALVES, Reinaldo Rossano. Direito processual penal. 1. ed. Brasília: Fortium Editora, 2008, p. 29.
44
Artigo 3º, inciso II, da Lei 10.054/00.
37
investigações, devendo encerrar-se, como regra, em dez dias, quando o indiciado estiver
concluído, ser remetido ao Juiz competente que, por sua vez, dará vista, imediatamente
das três ações: requerer o arquivamento dos autos, requisitar novas diligências ou
discussão, deve ser a denúncia oferecida pelo membro do Ministério Público contra o
45
ALVES, Reinaldo Rossano. Direito processual penal. 1. ed. Brasília: Fortium Editora, 2008, p. 33.
46
Idem.
38
agente. Caso seja recebida, dar-se-á início à ação penal pública incondicionada,
concreto. Tendo em vista a existência de uma infração penal precedente, é por meio de
uma ação penal que o Estado ou a vítima alcança a realização de sua pretensão, qual
47
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007, p. 114.
48
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, volume 1: parte geral, arts. 1º a 120. 4. Ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 751-752.
49
TUBINO, Cristina Alves. Direito Penal e processual penal. 3. ed. Brasília: Fortium Editora, 2007, p.
13.
39
declaratórias51 e constitutivas52.
titular da ação penal para seu início e desenvolvimento. A ação penal pode ser
julgamento da lide penal, por meio de um órgão imparcial, ou seja, o Juiz (Estado-
Juiz).53
pela vítima, pelo ofendido, por seu representante legal e por seus sucessores. Havendo
para propositura é de seis meses a contar da data em que a vítima tomou conhecimento
de quem seja o autor do fato, salvo disposição em contrário, nos termos da lei.
50
Visam uma sentença de condenação do réu. Tais ações tendem a uma sentença em que, além da
declaração quanto à existência de uma relação jurídica, contém a aplicação da regra sancionadora.
51
Objetivam a declaração quanto a uma relação jurídica, e a ação visa desfazer, tornando certo aquilo que
é incerto, desfazer a dúvida em que se encontram as partes quanto à relação jurídica.
52
Propõe à verificação e declaração da existência das condições, segundo as quais a lei permite a
modificação de uma relação ou situação jurídica e, em conseqüência dessa declaração, a criação,
modificação ou extinção de uma situação jurídica.
53
A competência para julgamento do caso hipotético em epígrafe será objeto de exame em ponto
específico no presente trabalho.
40
poderá ser iniciada pela vítima ou pelo ofendido, tendo em vista tratar-se de interesses
Público em iniciá-la. Com efeito, o Ministério Público deve acompanhar todos os atos a
serem praticados, e, caso o particular deixe de realizar algum ato processual, deve o
Ministro da Justiça.
delito.
41
tratando-se de ação penal privada, a persecução penal só poderá ser iniciada mediante
iniciativa da vítima.
A ação penal será pública, portanto, quando for o Ministério Público seu
titular. No nosso ordenamento jurídico, porém, não impera de modo
absoluto o caráter publicístico da ação penal. Há casos em que o Estado
considera outros interesses que não estritamente o público, mormente
em se tratando de delitos que afetem profundamente a esfera íntima do
indivíduo, de modo que somente a vítima competirá decidir sobre a
conveniência de se incitar a atividade persecutória. Isso porque a
propositura da ação penal poderá gerar gravame maior à intimidade pessoal
do ofendido do que a própria impunidade do infrator, e, perante o conflito
entre o interesse público e o particular, prefere o Estado deixar o arbítrio
individual a sua punição. Nessas hipóteses, tem-se que a ação penal será
privada. O Estado, embora continue como detentor exclusivo do jus
puniendi, concede excepcionalmente à vítima do delito, ou ao seu
representante legal, a titularidade da ação penal. Para a determinação da
espécie da ação penal a que está submetida determinada infração, dispõe
a lei que a regra geral será a publicidade da ação, só afastada quando
houver expressa referência à modalidade da ação cabível. A ação penal é
pública. Só excepcionalmente será privada, quando a lei declarar como
tal. Destarte, no caso dos crimes, cuja a punição dependa da iniciativa do
ofendido, dispõe o próprio texto legal que “somente se procede mediante
queixa”. Já nos casos de ser a ação penal pública, não há menção na lei
quanto à necessidade de que seja intentada exclusivamente pelo Ministério
Público. Apenas em se tratando de ação penal pública incondicionada, dispõe
a lei que “somente se procede mediante representação”, ou que “procede-se
mediante requisição do Ministro da Justiça54”. [grifo nosso]
54
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, volume 1: parte geral, arts. 1º a 120. 4. Ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 472.
42
quais o texto legal não especifique o cabimento de outro tipo de ação penal diversa
eis que mais presente nos tipos penais. Pode-se afirmar que é a regra geral, enquanto as
exceções configuram-se nas ações penais públicas condicionadas e nas ações penais
privadas55.
discussão, evidencia-se que a lide em tela será manejada por meio da ação penal pública
incondicionada, haja vista que a legislação brasileira não especifica nenhum tipo
específico de ação para tal, e, ainda, por não haver dependência de qualquer providência
55
ALVES, Reinaldo Rossano. Direito processual penal. 1. ed. Brasília: Fortium Editora, 2008, p. 64.
43
objetivo em cada caso concreto, ou seja, o espaço onde cada autoridade judiciária pode
guardam entre si. Irá existir a conexão quando duas ou mais infrações se configurarem
de forma que deverá haver apenas um processo para que seja possível o julgador para a
continência, pois esta ocorre quando uma causa está contida na outra, não sendo
possível separá-las.
56
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007, p. 189.
57
A Súmula 704 do Supremo Tribunal Federal determina que “não viola as garantias do juiz natural, da
ampla defesa e do devido processo penal a atração por conexão ou continência do processo do co-réu ao
for por prerrogativa de função de um dos condenados”.
44
competência.
quando ocorrem duas ou mais infrações, praticadas ao mesmo tempo por várias pessoas
mais infrações tiverem sido praticadas por várias pessoas em concurso, ao mesmo
delito.
duas ou mais infrações, praticadas por várias pessoas, umas contra as outras.
45
unificado, sendo competente para tal. Assim, é preciso encontrar o foro prevalecente, no
instituição do Tribunal do Júri, com a organização que a lei lhe prover, assegurados a
para processar e julgar os crimes dolosos contra a vida, por meio de um corpo de
jurados58.
58
Artigo 5º, inciso XXXVIII, da Consitutição Federal de 1988.
46
tentados.
competência do Tribunal do Júri, eis que determina que a competência pela natureza da
59
Artigo 121, parágrafos 1º e 2º, do Código Penal.
60
Artigo 122, parágrafo único, do Código Penal.
61
Artigo 123, do Código Penal.
62
Artigo 124, do Código Penal.
63
Artigos 125, 126 e 127, do Código Penal.
64
Artigo 78, do Código de Processo Penal.
47
Tribunal do Júri permanece competente para julgar o crime conexo mesmo tendo
verificação da prática de crimes dolosos contra a vida, o processo contra o agente será
Júri, eis que se configura no órgão competente para tal, conforme as disposições
legalmente previstas.
65
ALVES, Reinaldo Rossano. Direito processual penal. 1. ed. Brasília: Fortium Editora, 2008, p. 130.
48
CONCLUSÃO
das diversas questões nos aspectos penais, procedimentais e processuais que envolvem
completo dos fatos relatados, abarcando-se desde sua origem até as implicações
resultado, obteu-se a morte de uma das reféns, duas tentativas de homicídio, sendo uma
contra a refém sobrevivente e outra contra um policial que participara das negociações,
tempo total em que perdurou o delito, e, sobretudo, do lamentável resultado obtido, não
previsto no artigo 121, parágrafo 2º, inciso III, do Código Penal, qual seja, homicídio
duplamente qualificado por motivo torpe, e recurso que dificulte ou torne impossível a
partir da junção do artigo 121 e do artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, a saber,
49
tentativa de homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, e recurso que dificulte
Ainda, praticou a conduta descrita pelo artigo 121, parágrafo 2º, inciso
previsto artigo 148, do Código Penal, contra Tícia (duas vezes) e contra Mélvia,
Prometeu e Epitemeu (uma vez cada), ou seja, cárcere privado qualificado contra
Mélvia, Tícia, Prometeu e Epitemeu. Por fim, o agente incorreu na conduta tipificada no
artigo 15, da Lei 10.826/03 (quatro vezes), qual seja, disparo de arma de fogo em lugar
habitado.
especificamente de concurso material ou real de crimes, eis que o agente, mediante mais
de uma ação, praticou mais de dois crimes, tais como anteriormente indicados. Neste
com detalhes acerca dos procedimentos na fase pré-processual, por ocasião do inquérito
REFERÊNCIAS
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2008.
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do CP. São Paulo: Atlas, 2002.
_____. Código de processo penal interpretado. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
51
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NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 7. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2007.
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Tribunais, 2007.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, volume 1: parte geral, arts.
1º a 120. 4. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
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