Вы находитесь на странице: 1из 3

A Cultura e a casinha do cão

Alceu A. Sperança*

O que os líderes
políticos no Brasil
consideram
“cultura” tende a
ser exatamente o
oposto do que ela
realmente é.

Começa pelas emissoras de rádio e TV, que deveriam ser


instrumentos de evolução cultural e são destinadas a praticamente
tudo, mas raramente a qualquer coisa que pareça cultura.
O que é cultura, afinal? Para a concepção utilitarista, mercenária,
é algo que se exibe, não põe em xeque a ideologia e dá lucro. Fora
disso, a cultura não passa da minúscula casinha do cão.
Por essa visão, uma obra de arte só será arte se for cara. Sua
exibição atrai na proporção direta de seu valor econômico e será
tanto mais útil quanto mais contribuir para fazer ostentação ou lavar
dinheiro. Um “acerto” de loteria mais palatável.
Para a concepção humanista, ao contrário, cultura é o tesouro
espiritual acumulado pelas lutas dos povos em sua insistente busca
da felicidade. Não é a casinha do cão, mas um amplo casarão
humano.
Cultura não é exibicionismo, mero espetáculo ou fonte de lucros,
mas um instrumento de avanço para o coletivo social. Não é nem a
casinhola do cão nem mera janelinha num casarão, mas o próprio
casarão.
Mais recomendável seria entender que há várias culturas, ou seja,
são várias as janelas desse casarão. São múltiplas as culturas que
integram esse conjunto maior a que se poderia chamar Grande
Cultura ou Cultura Real.
Marx Gramsci
Cultura não é um tareco isolado, reduzido e ínfimo, como
pretendem as toscas políticas culturais oficiais no Brasil,
especialmente nas prefeituras. Nestas, é considerada um gasto inútil,
a não ser que sirva, via espetacularização, para a promoção dos
políticos dominantes e anestesiar a população.
A visão mercenária e utilitarista da cultura, observada em
prefeituras e governos em geral, faz dela um adereço desprezível da
educação e um segmento secundário do turismo.
Vovô dizia, numa síntese bem grossa, que cultura é a sociedade
construída no trabalho. Titio Gramsci viu, na masmorra onde os
fascistas o meteram, que a sociedade pensa e age pela imposição de
um padrão policultural, a ideologia.
Combinando as noções de vovô e titio, vemos que a cultura nas
prefeituras e demais aparelhos do Estado no Brasil reflete a
ideologia utilitarista, que faz desse casarão cheio de janelas uma
casinha de cão, mero penduricalho e instrumento da renda turística.
O trabalho do povo não é dirigido para a sua felicidade, mas para
sustentar as máquinas públicas e de exploração privada que
realimentam a alienação, a incultura e a ignorância.
Mesmo pondo todas as crianças em sala de aula, ainda não temos
educação. Mesmo com TV em todos os lares, não ocorre um salto a
níveis importantes na consciência de que o trabalho precisa levar à
construção de uma sociedade melhor e não a esse caos de dívidas,
doenças e morticínio de jovens.
Para ser mais igualitária e desenvolvida sobretudo nos itens
felicidade (confundida com glutonaria e embriaguez) e urbanidade
(sufocada em concreto e asfalto), a sociedade terá que vencer a
concepção de que a cultura é subalterna frente à educação, inferior à
saúde ou complemento do turismo.
Cultura, na verdade, é o conjunto. Educação, urbanismo,
economia, segurança alimentar e saúde são apenas alguns itens da
Cultura. As várias janelinhas do grande casarão.
__________
*Escritor
alceusperanca@ig.com.br

Вам также может понравиться