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6ª edição
ROTEIRO De CURSO
2010.1
Sumário
Ideologias Mundiais
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA........................................................................................................................................................3
AULAS.............................................................................................................................................................................................5
Unidade I – Ideologia............................................................................................................... 7
Aula 1. O que é ideologia?.............................................................................................................. 7
Aula 2. Um mapa da ideologia...................................................................................................... 13
Aula 3. Aparatos ideológicos e seu funcionamento........................................................................ 15
Aula 4. Direito e ideologia no mundo contemporâneo.................................................................. 24
Unidade II – Liberalismo....................................................................................................... 25
Aula 5 e 6. Indivíduo, propriedade, liberalismo e igualdade.......................................................... 25
Aula 7 e 8. Indivíduo, propriedade, liberdade e igualdade (continuação)....................................... 31
Aula 9. Estado e democracia.......................................................................................................... 38
Aula 10. Liberalismo no Brasil...................................................................................................... 41
Aula 11. Exercícios: reflexões, paralelos e ascendências do liberalismo no Direito.......................... 44
Unidade V – Nacionalismo..................................................................................................... 76
Aula 19. Estado, nação e nacionalismo.......................................................................................... 76
Aula 20. Mobilização do discurso nacionalista: “nações sem estado”; “estado sem nações”;
diversidade étno-cultural, tolerância e discriminação.............................................................. 84
Aula 21. Nacionalismo em um mundo globalizado....................................................................... 90
Aula 22. Seminário....................................................................................................................... 99
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
1. Objetivo
2. Metodologia
Análise crítica de casos e eventos atuais, com ênfase na relidade brasileira; Dis-
cussão de textos teóricos; Seminários críticos-reflexivos; Aulas expositivas; Exame de
documentos históricos; Análise de legislação; Oficinas; Filmes seguidos de debates.
3. Bibliografia
6. Formas de Avaliação
7. Atividade Complementar
Filmes e Documentários.
AULAS
UNIDADE I: Ideologia
1. O que é ideologia?
2. Um mapa da ideologia
3. Aparatos ideológicos e seu funcionamento
4. Direito e ideologia no mundo contemporâneo – Exercícios
UNIDADE V: Nacionalismo
UNIDADE I – IDEOLOGIA
Idéias do canário
Machado de Assis
“Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns
amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a
supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.
No princípio do mês passado – disse ele –, indo por uma rua, sucedeu que um
tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de urna
loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez
levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir.
Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro
esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele ne-
nhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia
a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.
A loja era escura, atulhada das cousas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, en-
ferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem
própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem
tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de
palha e de pêlo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado,
um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dois
cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado
Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso
e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da
porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá
para dentro, havia outras cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando
os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na
escuridão.
Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para
ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava lhe estar vazia. Não estava vazia.
Dentro pulava um canário.
A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços
uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que
ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar
mais abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio
daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário,
senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem
sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela
vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de
azedume.
– Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer
dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar
esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu
para ir jogar uma quiniela?
E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:
– Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono
execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de
pessoa doente; vai-te curar, amigo.
– Como – interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado. Então o teu dono
não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este
cemitério, como um raio de sol?
– Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do
primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou vendo que con-
fundes.
– Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi
sempre aquele homem que ali está sentado.
– Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos
os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com
pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade
dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.
Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as idéias.
A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos
engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a
mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um
lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do
espaço azul e infinito.
– Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito?
– Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que cousa é o mundo?
O mundo, redargüiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma loja
de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um
prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo
é ilusão e mentira.
Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria
comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia,
e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de
navalhas.
– As navalhas estão em muito bom uso, concluiu ele.
– Quero só o canário.
Paguei-lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e ara-
me, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde
o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul.
Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém,
até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por
alfabeto a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música,
e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi
trilar esta pergunta:
– Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?
Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que
lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doido; mas que me importavam
cuidados de amigos?
Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele
nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular.
– Que jardim? que repuxo?
– O mundo, meu querido.
– Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor. O mundo, con-
cluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.
Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já
fora uma loja de belchior.
– De belchior? trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de belchior?”
Texto extraído do livro “O Alienista e outros contos”, Editora Moderna – São Paulo,
1995, pág. 73.
I. O conceito de ideologia
a) O termo “ideologia” foi criado a partir das palavras gregas eidos+logos, ou seja,
significando ciências das idéias. No bojo desse neologismo, Tracy revelava uma postu-
ra anticlerical e materialista, muito próprias da Revolução Francesa e do Iluminismo.
O termo foi pensado para designar uma nova ciência, que tentava se afastar de qual-
quer parentesco com a metafísica e com a psicologia. Em outras palavras, pretendia-se
criar uma ciência que estudasse a origem natural das idéias, suas causas de produção
a partir das sensações. Para Tracy, “ideologia” seria a rainha das ciências, isto porque
todas as outras ciências se utilizam necessariamente de idéias para a formulação do
conhecimento. Assim, conhecendo o procedimento/lei que rege a produção das idéias
seria possível compreender todas as ações humanas.
2. A ideologia alemã
foi produzido, de certa forma, como uma reação às recordações do uso político de
ideologia como doutrina e sistema político totalitários – tais como o nazismo, o
fascismo, o stalinismo e todas as outras formas de sofrimento dos tempos de guerra.
Assim, a “Escola do fim das ideologias” identificou as “políticas ideológicas” como
sendo a causa do sofrimento humano na primeira metade do século XX.
Uma segunda perspectiva desse debate está associada ao momento de crescimen-
to econômico e estabilidade dos regimes social-democratas, o que significou, para
alguns pensadores, como o consenso, a convergência das metas políticas; isto é,
pela primeira vez na era moderna havia sido alcançando um acordo básico sobre os
valores e ações políticas. Assim, nesse contexto de paz, dispensam-se ideologias para
justificar ou motivar a ação política.
Ainda podemos associar a essa “Escola do fim das ideologias” uma suposta “idade
heróica da sociologia”, vez que esta ciência buscava reforçar seu estatuto científico,
buscando as bases de uma ciência social empírica liberta de valores, isenta de apelos
emotivos das teorias políticas ideológicas. Observa-se, portanto, uma oposição, tal qual
em Marx, entre ciência, portadora da verdade, e ideologia, estrutura teórica distorcida
e falsa. No intuito de sepultar as ideologias, renova-se o sentido “sujo” de ideologia.
4. Ideologia e Ciência
Bibliografia Básica
Bibliografia Complementar
I. Perspectiva crítica
O pensador Slavoj Zizek nos aponta a sutil diferença entre o real e o espectro
do real, bem ilustrada no texto de Machado de Assis. Se considerar que a realidade
nunca é apreensível diretamente por “ela mesma”, mas somente através de seus
símbolos incompletos, percebe-se que a realidade tem um aspecto de ficção, ou
seja, o espectro do real (ideologia) é que dá corpo (representa, projeta) àquilo que
se denomina de real, que nada mais é do que uma sobreestrutura simbolicamente
estruturada (mundo discursivamente construído).
Questão reflexiva: “Ideologias são corpos de conceitos, valores e símbolos que
incorporam concepções da natureza humana e, assim, apontam o que é possível ou
impossível aos homens realizar”. (Andrew Vicent) Nesse conceito, ideologia reivin-
dica descrever o mundo e prescrever ações?
Nessa mesma trilha, ideologia pode ser compreendida como um “mapa” que, tal
qual os mapas geográficos, tem primordialmente duas funções: representar e orien-
tar. Ou seja, a ideologia constitui uma grande metáfora que, tal qual os mapas, “são
distorções reguladas da realidade, distorções organizadas de territórios que criam
ilusões credíveis de correspondência” (Boaventura de Sousa Santos). Importante ter
presente que os mapas representam a realidade – logo, não são a própria realidade; as-
sim sendo, a ideologia, apesar de manter pontos de coincidência com o mundo, não
é o mundo em si, mas, tão somente, uma dentre várias representações possíveis.
Questão reflexiva: A segunda função de um mapa é a orientação. Nesse sentido,
a ideologia, ao construir representações do mundo, serve para orientação de nossa
ação sobre o mundo?
Contudo, nem sempre será possível abordar as ideologias como constructos coeren-
tes que de fato descrevam ou orientem a ação política, uma vez que as ideologias, como
estruturas complexas de discurso, sempre apresentam misturas e sobreposições tanto
no nível fundamental (justificativa) quanto no nível operante (funcionamento).
Bibliografia Básica
Bibliografia Complementar
Lei nº 3.459, de 14 de setembro de 2000, que dispõe sobre ensino religioso confessional
nas escolas da rede pública de ensino do Estado do Rio de Janeiro.
Diálogo fecundo: Sancionada no Rio de Janeiro em setembro a lei estadual que faculta
na rede pública de ensino o ensino religioso confessional
Com efeito, um professor que fosse desligado de qualquer credo religioso, e não
fosse autorizado por uma instituição religiosa, poderia ensinar, por exemplo, que a
religião é ópio dos povos, alienação para perpetuar a opressão econômica, neurose
coletiva, projeção infantil da libido, etc.
Acusa-se a lei recém-aprovada de submeter a aprovação dos programas e dos
professores à autoridade das respectivas confissões religiosas. Ora – citando um hi-
potético exemplo que envolve dois ilustres analistas do fenômeno religioso – Marx
e Freud com certeza ganhariam um concurso público para o ensino religioso; mas,
com pleno direito, as instituições religiosas negariam o mandato a quem tivesse o
objetivo de destruir ou alterar uma determinada religião.
Esse tipo de ensino religioso que se caracteriza com “confessional” nada tira à
importância do ecumenismo e do diálogo inter-religioso que deve realizar-se nas
formas e nas sedes próprias. No ensino religioso poderá ser apresentada toda a va-
riedade das religiões, como também a análise do problema do ateísmo, mas isso é
diferente da normativa que, por decisão do Parlamento, presume silenciar todos
aqueles aspectos de uma religião que vão além do puro senso religioso.
Os gravíssimos problemas que afetam a nossa sociedade, envolvendo menores
no crime organizado, dependem, entre outros fatores, da falta de uma visão da vida
que comporta a defesa da dignidade da nossa pessoa, dos outros e particularmente
dos mais pobres. O ensino religioso oferece um sentido pleno à vida, e educa a do-
minar qualquer forma de violência, “assegurando o respeito à diversidade cultural e
religiosa do Rio de Janeiro, vedadas quaisquer formas de proselitismo”, como afirma
a lei recém-aprovada.”
(Artigo extraído do jornal O Globo, edição de 3/11/2000)
Trechos da entrevista com o Deputado Estadual Carlos Dias (PPB/RJ), autor da Lei
3.459/2000 que instituiu o ensino religioso confessional nas escolas públicas do Estado
do Rio de Janeiro.
Trechos da entrevista como o Deputado Carlos Minc (PT/RJ), autor do projeto alternativo
de ensino religioso de caráter histórico-antropológico que fora aprovado pela Assem-
bléia Legislativa, porém vetado pelo governadora Rosinha Garotinho.
Minc: Não. Infelizmente, falta tanta coisa nas escolas públicas que não deveria
ter sido dada tal prioridade ao assunto. Acredito que haja outros interesses por trás
do ensino religioso confessional defendido pela Igreja Católica conservadora.
ComCiência: Como o senhor vê a inclusão do criacionismo no currículo escolar? O
senhor é partidário das críticas que apontam a incorporação do criacionismo na ementa
do ensino religioso como estratégia para conseguir apoio político de lideranças religio-
sas?
Minc: Trata-se de uma aberração legal e pedagógica. É claro que o oportunismo
político ultrapassa fronteiras éticas e morais e pode se utilizar do atraso para con-
quistar apoio político de lideranças religiosas.
ComCiência: O senhor acredita na teoria do evolucionismo?
Minc: Não é questão de credo pessoal. Trata-se de ciência e, mesmo acreditando
que até as “verdades” científicas são provisórias, o evolucionismo é a teoria na qual
todos acreditamos. O absurdo atual é o ensino do criacionismo em escolas públicas,
desautorizando a teoria evolucionista. É o caminho de volta à Idade Média, com o
risco de se incentivar as crianças a queimar os livros de Darwin.”
(Disponível em http://www.comciencia.br)
Estado laico – Entidade quer suspender lei que institui ensino religioso
Questões
I. A reprodução da ideologia
a) Poder Estatal;
b) Aparelho de Estado; e
c) Aparelho Ideológico de Estado.
Questão crítico-reflexiva
Caberia, assim, ao Aparelho Repressor de Estado garantir pelo uso da força as con-
dições de reprodução das relações de produção; ao passo em que cabe aos Aparelhos
Ideológicos de Estado também garantir tal reprodução, contudo, pelo uso da ideolo-
gia? O Poder Estatal figura neste quadro teórico como o fundamento de legitimida-
de da repressão em favor do status quo dominante?
Questões:
Bibliografia básica
Bibliografia complementar
Bibliografia Básica
BOBBIO, Norberto. Teoria geral do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2007, pp.
03-24 (Capítulo I – O direito como regra de conduta).
LYRA FILHO, Roberto, “Ideologias jurídicas.” In: O que é o direito? São Paulo:
Editora Brasiliense, 1982, 17 ed., 2005, pp. 12-24.
WOLKMER, Antônio Carlos. Ideologia, Estado e Direito. 2. ed. São Paulo: Re-
vista dos Tribunais, 1995.
________. Fundamentos da História do Direito. Belo Horizonte: Del Rey, 1996.
UNIDADE II – LIBERALISMO
“Em maio de 2004, cerca de quatro mil famílias (14.000 pessoas) ocuparam
– construíram casas e barracos – uma área de 89 hectares localizada no Parque Oeste
Industrial, em Goiânia, abandonada há mais de 50 anos e utilizada, até então, para
desova de carros e cadáveres.
Apesar da inexistência de benfeitorias no local e do débito de cerca de dois mi-
lhões de reais em impostos à prefeitura, o judiciário local entendeu que ‘não hou-
ve desuso associado ao inadimplemento absoluto dos tributos capaz de induzir a
presunção de abandono do imóvel ou de desnaturação de sua função social’, o que
determinou em favor dos antigos proprietários a concessão de medida liminar para
a desocupação do imóvel.
Contudo, em ano eleitoral que era, os candidatos a prefeitos (Íris Resende e San-
des Junior) demonstraram publicamente apoio à ocupação e o governador (Marco-
ni Perillo) prometeu não usar violência contra os posseiros, o que, de fato, retardou
o cumprimento da ordem judicial.
Porém, sob pressão dos proprietários e do setor imobiliário temeroso frente à
organização dos sem-tetos, o governo do estado autorizou em fevereiro de 2005
a polícia militar a iniciar a operação ‘Inquietação’, que durante uma semana inti-
midou os moradores com sirenes, alertas durante a madrugada e bombas de efeito
moral, para em seguida produzir o desfecho com a operação ‘Triunfo’, que obteve
como saldo a desocupação total da área, mais 800 pessoas detidas, dezenas de feri-
dos e dois mortos.”
(http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/02/307174.shtml)
“A situação dos ocupantes é sim alarmante, porém não podemos deixar de lem-
brar que vivemos em um país regido por leis e estas devem ser respeitadas. Mesmo
que os moradores da invasão necessitem dessa área para morar, a lei assegura a pro-
priedade privada e, mesmo que nossa constituição não seja eficaz em todos os casos,
deve ser aplicada.” (Diuds 16/02/2005 03:19, www.midiaindependente.org)
“A vocês sensacionalistas...
(...) Primeiramente é válido lembrar que bem ou mal eles devem desocupar a
área, e se resistirem, a polícia tem o dever de agir com maior rigor, um policial foi
ferido enquanto cumpria seu dever, e aí vem uma série de indivíduos Estúpidos
(na minha opinião) apelando para os direitos humanos desses criminosos!!! Que
absurdo!!! onde estão os direitos humanos do proprietário do imóvel invadido, que
pagou pela propriedade, ou do policial ferido, que estava apenas cumprindo com o
seu dever???
Eles invadiram, agora arquem com as conseqüências.” (Rafael 15/02/2005 22:04,
www.midiaindependente.org)
Questões
O primeiro sentido que se deu ao termo “liberal” foi para se referir a um tipo
específico de educação, abrangente e humanística, com largueza de espírito e tole-
rância – virtudes típicas do homem livre moderno. Mas ao lado desse, um segundo
sentido associava, de forma pejorativa, os liberais à libertinagem, à licenciosidade
sexual, ao desrespeito às normas morais e à tradição. O primeiro uso político do
termo foi feito na Espanha nos anos de 1810 a 1820 para designar os liberales, que
pregavam um reformismo radical, secular e republicano contrário aos interesses
dos monarquistas. Contudo, foram a Revolução Gloriosa Inglesa, 1680, a Revolu-
ção Americana, 1776, o Iluminismo e a Revolução Francesa, 1789, que determi-
naram as características e a difusão do liberalismo.
Um fator insigne a ser abordado é que a nova doutrina política foi construída a partir
dos pilares da consolidação dos Estados nacionais e da expansão do modo de produção
capitalista. E de modo a consolidar essa nova ordem, o movimento do constitucionalis-
mo cuidou de inserir os ideais liberais em normas positivas superiores, isto é, inscrever
direitos do homem e limites do Estado em Constituições escritas e rígidas.
Desse modo, será avaliado de que maneira o liberalismo delineou-se como uma
ideologia baseada na defesa e na promoção das liberdades e direitos individuais, na
separação entre esfera pública e esfera privada, no contrato como expressão da von-
tade, na limitação dos governantes e, por fim, na soberania popular.
Risco de Invasão
Turbação da posse
Dá-se a turbação da posse quando a propriedade é atingida por pessoas que ma-
nifestam o objetivo de causar prejuízo, etc., furtando bens, destruindo cercas, etc.
Nessa hipótese, deverá o proprietário ingressar com Ação de Manutenção de Posse
com Pedido de Concessão de Liminar.
Invasão
Medidas criminais
Esbulho processório
Dano
Incitação ao crime
Quadrilha ou bando
Incêndio
Bibliografia Básica
Bibliografia Complementar
O que não é sabido e divulgado pela grande mídia é que a maioria dos advogados
presos nas diligências da PF, ainda continuam presos, exatamente porque não houve
invasão de escritório, mas, devido ao profundo envolvimento desses cidadãos com
a criminalidade econômica, senão os tribunais superiores já teriam colocado em
liberdade os advogados que cometeram graves desvios.
A OAB, assim como a imprensa e alguns setores com claros interesses no ar-
refecimento da atividade de apuração criminal da PF, está empregando processo
de estigmatização, de acusação, também, é uma faceta da dominação pelo insti-
tucionalismo, onde algumas instituições (setores da OAB, do MPF, da imprensa
etc.) se julgam donas da verdades e possuidoras de auréolas da divindade, e no caso
específico, a PF seria de somenos importância ou carregada de vícios, partidária da
ilegalidade e do arbítrio, com isso, tentam empreender uma dominação cultural.
Hoje, os criminosos de colarinho branco e a criminalidade organizada, já não agem
livremente, exatamente porque em algum momento um Policial Federal baterá em
sua porta, para isso, basta oferecer meios, estrutura, liberdade de ação e certamente,
a PF fará muito mais em 2006.”
18/12/2005 – 17:45
Disponível em http://conjur.estadao.com.br/static/text/35511,1
Sonegar é preciso?
chegou a chorar ao falar por telefone com a contraventora presa. Diversos telejor-
nais chegaram a criticar no ar o que chamaram de ‘abuso’ da polícia federal. A OAB
e o presidente da Fiesp, o petista Paulo Skaf, também criticaram a ação da polícia,
como se o crime fosse prender os bandidos, e não propriamente praticar o crime.
Essa tremenda intranqüilidade da mídia, políticos e empresários encontra ex-
plicação na seguinte fala do presidente do PSDB, o senador Alberto Goldman:
‘Essa prisão pode gerar uma crise econômica. O empresário vai dizer: para que
vou investir no Brasil se posso ser preso?’. Ou seja, empresário sonegar imposto é a
regra. Impedir isso levaria, segundo essa lógica, o país a uma crise econômica. Esse
escândalo explicitou de forma ainda mais aguda a institucionalização da corrupção
não só entre os políticos, mas entre a burguesia brasileira.”
Centro de Mídia Independente (http://www.midiaindependente.org/eo/
blue/2005/07/322934.shtml)
Será importante refletir acerca da famosa expressão absenteísta “laissez faire”, que
não foi propriamente uma criação dos liberais; mesmo os mais ortodoxos advoga-
vam que a intervenção do Estado seria necessária sempre que a liberdade de mer-
cado estivesse ameaçada. Nessa linha, Keynes se tornou um dos principais econo-
mistas ao propor, em um momento de crise cíclica, a necessidade de supervisão do
Estado na economia de mercado a fim de aumentar a eficácia do sistema capitalista
por meio de um rol de medidas, dentre elas a redução do desemprego e da pobreza
através de obras públicas, a distribuição de títulos de propriedades, o estímulo à
poupança, tributação mínima, etc. – auxiliando, dessa forma, e temporariamente, o
sistema capitalista a usar toda sua capacidade ociosa.
Bibliografia básica
LOCKE, John. “O segundo tratado sobre o governo civil”, In Dois tratados sobre
o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1988, pp 379-405.
SARTORI, Giovanni. A Teoria da Democracia Revisitada, vol. 2. São Paulo: Edi-
tora Ática, 1994, pp 59-106.
Bibliografia complementar
O padrão atual hegemônico da democracia liberal faz crer que haja uma interde-
pendência essencial entre esses dois termos. Será analisado se por liberalismo pode-se
compreender uma determinada concepção de Estado com poderes e funções limi-
tados – contraposto, pois, aos modelos absolutistas e de bem-estar social. Por outro
lado, por democracia há um entendimento que se trata de uma forma específica de
governo em que o poder não está monopolizado por um monarca ou aristocracia.
(Bobbio)
Há fortes argumentos de que os governos democráticos, porque mais limitados
e controlados, garantiriam mais os direitos naturais/fundamentais. Discutir-se-á se
é por essa via que os liberais tendem a aceitar a democracia como uma forma de
governo e passam a conceber os direitos políticos como uma extensão natural das
liberdades individual e civil.
Aproveitando-se do argumento que já era encontrado em Rousseau – de que a
democracia direta somente se viabilizaria em um Estado de pequenas proporções,
cujos cidadãos tivessem grande igualdade de condições e fortunas, costumes sim-
ples, sem nada de luxo –, os liberais concluem que a democracia representativa seria
a única possível nos Estados nacionais modernos. Desse modo, os liberais passam
a compreender que, não sendo possível a democracia direta, seria necessário eleger
representantes para o exercício efetivo do poder.
Com base em tais premissas, questionar-se-á se o modelo liberal converteu a
democracia – que para os antigos significava “governo do povo” – em uma forma de
governo em que o poder é delegado a um pequeno número de indivíduos de prova-
da sabedoria que estariam em condições de avaliar e gerir os interesses de todos os
cidadãos – isto é, converte democracia em oligarquia.
Dessa forma, ainda como parte deste debate, será indagado se os liberais man-
tiveram suas desconfianças quanto a um governo popular e, por isso, tornaram-se
férreos defensores do padrão representativo e do sufrágio restrito.
Segundo o sentido dado por Rousseau, a vontade geral, de fato, não seria a soma
das vontades individuais, mas, sim, um novo ente composto durante a deliberação
democrática. Porém, bem se sabe, os representantes eleitos não se vinculam aos seus
eleitores, mas, ao contrário, devem, teoricamente, expressar a vontade da nação. As-
sim, refletir-se-á se seria possível afirmar a criação de uma abstração chamada vontade
geral, que seria administrada pelo Estado e pelos representantes eleitos e serviria de
justificação dos atos da classe dirigente.
Bibliografia básica
Bibliografia complementar
Somente depois da Revolução de 1930 e com um novo arranjo político das elites
é que foram reconhecidos os direitos sociais no Brasil. Discutir a máxima atribuída
às nossas elites: “façamos a revolução antes que o povo a faça”. O reconhecimento de
direitos sociais no período pós-1930 por governos populistas teriam a missão de
acalmar as massas?
Discutir o trecho de Florestan Fernandes que aponta como a causa da ineficiên-
cia revolucionária na América Latina o casamento de interesses das elites com os das
classes médias que portavam alguns ideais revolucionários.
Questões
Proposta de debate
Bibliografia Básica
Bibliografia Complementar
Links e sites
www.institutoliberal.org.br
http://www.liberal-social.org/principios
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a. Positividade dos Direitos Naturais. Como exposto por LYRA FILHO, a bur-
guesia ao contestar o poder aristocrata feudal defendeu a existência dos di-
reitos naturais como sendo um direito legítimo acima das leis aristocráticas
que não lhe favorecia. Em outras palavras, disse que Direito é mais do que
a lei imposta pelo monarca. Contudo, uma vez conquistado o poder, a bur-
guesia passa a defender a ordem vigente que lhe é favorável, não admitindo
a existência de quaisquer outros direitos fora, além ou acima de seu próprio
“direito”. Desse modo, o que antes eram apresentados como direitos naturais
é reduzido à positividade da lei que é promulgada segundo seus interesses.
b. Duas etapas das ideais liberais: I. Num primeiro momento foram calcados
na pré-existência do indivíduo e de direitos naturais, o que levou a consi-
derar o Estado como mero mecanismo de proteção desses direitos. II. Em
um segundo momento, o liberalismo, enquanto a ideologia de uma classe
em ascendência, aproximou-se ainda mais do constitucionalismo de modo
a positivar, estatificar, os direitos naturais. Pode ser vista essa preocupação
como mais uma garantia (formal) concedida pelo Estado burguês aos direitos
naturais, ou como um estratagema de restringir a descoberta ou a leitura de
novos direitos naturais por outras classes.
c. Jusnaturalismo e juspositivismo. Neste quadro teórico se analisará de que for-
ma o liberalismo serviu-se tanto do jusnaturalismo quanto do juspositivismo.
O primeiro quando ainda era uma ideologia em ascensão, e o segundo quan-
do já hegemônico para sua manutenção. Esta dupla leitura dos direitos pode
ser exemplificada com os principais institutos jurídicos contemporâneos.
“Estou à espera, em dias não muito remotos, da maior mudança que já ocorreu
no âmbito material da vida, para os seres humanos no seu conjunto. Nos vemos
livres para voltar a alguns dos maiores seguros e tradicionais princípios da religião e
da virtude tradicional – de que a avareza é um vicio, a usura uma contravenção, o
amor ao dinheiro algo detestável. Valorizemos novamente os fins acima dos meios e
preferimos o bem ao útil. Honraremos os que nos ensinam a passar virtuosamente e
bem a hora e o dia, as pessoas agradáveis capazes de ter um prazer direto nas coisas,
os lírios do campo não mourejam nem fiam”. (John Maynard Keynes)
tal qual descrita por Marx, em que não haveria mais classes nem Estado; c) o termo
social-democracia está mais relacionado com a corrente do socialismo reformista que
propõe mudanças no Estado capitalista para se alcançar objetivos socialistas.
Não se pode dizer que haja um e genuíno socialismo (nem mesmo o marxismo),
mas vários socialismos. Assim, propõe-se compreender as origens do pensamento
socialista a partir de grupos:
Talvez a unidade conceitual das diversas correntes socialistas esteja na busca por
igualdade. Segundo os pressupostos do materialismo histórico, a história humana
é marcada pelo conflito de classes, isto é, uma classe detém a propriedade privada
sobre os meios de produção e, com estes, explora todas as demais classes. Para o
findar essa exploração do homem pelo homem, os socialistas defendem a revolução
proletária e, pela ditadura do proletariado, a constituição de uma nova sociedade
baseada na igualdade, isto é, uma sociedade sem classes em disputa, sem a violência
do Estado ou do direito.
Contudo, é importante destacar que para os socialistas utópicos era possível a
constituição de uma nova sociedade sem exploração conciliando com a existência
de diferenças, hierarquias e classes desde que em uma ordem harmônica. Os valores
da ordem e da harmonia são, portanto, mais prioritários que a igualdade.
Marx assinala que os argumentos e reivindicações normativas por igualdade con-
sistiam em uma abstração ilusória do liberalismo burguês. Lembrava que em um
primeiro momento a luta proletária consistia na defesa dos salários. Contudo, pos-
síveis vitórias seriam sempre pontuais e efêmeras. Somente a partir de uma luta po-
lítica, organizada a partir do partido dos proletários, poderia fazer frente ao sistema
e ter suas demandas reconhecidas em uma nova estrutura econômica e política.
A igualdade comporta, ainda, outras concepções “socialistas”:
Para o socialismo de mercado, a igualdade pode ser um valor a ser defendido
porque aumentaria a eficácia do sistema alocatício dos bens: em um mercado mais
homogêneo o fluxo de trocas não tenderia a se acumular em um ponto em detri-
mento dos demais.
Para o socialismo ético a igualdade está associada à igualdade cristã das almas,
sendo todos criado em igual substancia, seríamos merecedores de igual considera-
ção. Ao lado, os socialistas com uma vertente culturalista defendem a igualdade em
outras dimensões para além da igualdade econômica material.
Por fim, mas fundamental, é o debate entre igualdade e liberdade. Haveria uma
relação causal entre ambas? Para alguns, a liberdade é condição (meio) para se atin-
gir a igualdade (fim); para outros, a liberdade somente se realiza quando pressupõe
a igualdade entre os homens.
Nesse quadro de idéias, qual é o papel da igualdade? Meio ou fim? Para os socia-
listas reformistas, a realização da igualdade (fim) não se pode fazer às custas da liber-
dade (meio). Contudo, para os revolucionários a liberdade é uma ilusão burguesa,
pois somente se é verdadeiramente livre (fim) se livre de exploração e dispondo de
igualdade material (meio).
Bibliografia
Bibliografia Complementar
Gonçalves ressalta que, ao contrário do que está ocorrendo nas áreas afetadas, a
população americana está demonstrando solidariedade, doando alimentos, roupas
e dinheiro.
– Onde o Estado continua organizado, a sociedade está disciplinada, há senti-
mento de solidariedade e compaixão. Agora, onde não há Estado, as paixões vêm
à tona. Essa história que vemos nos filmes, primeiro idosos e crianças, isso não
existe.
O sociólogo José Vicente Tavares dos Santos concorda com o fato de a ausência
da coação institucional tornar possível cenas como as de Nova Orleans, e cita como
exemplos as greves policiais em alguns estados brasileiros em 1997, 1999 e 2001,
ou mesmo áreas carentes do Rio.
– Isso mostra uma crise das relações sociais na sociedade contemporânea. A falta
de controle social democrático permite que apareça uma latente crise das relações
sociais. O único recurso passa a ser um Estado policial, que é contrário à democra-
cia, ao contrato social no qual o cidadão delega poder – critica ele.
Tavares dos Santos, presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia,
diz que há uma crise da sociedade contemporânea, provocada não apenas pela po-
breza, mas principalmente pela desigualdade:
– Alguns chamam de modernidade líquida, são instituições como generosidade,
solidariedade se liquefazendo. Uma perda da herança do Iluminismo.
Tom Dwyer, sociólogo neozelandês radicado no Brasil, concorda, dizendo que o
fato de as pessoas se sentirem em desvantagem social é por vezes mais significativo
que a pobreza em si. Mas alerta para o fato de a tragédia não necessariamente pro-
vocar reações como a de agora.
– Não precisa ser assim. No apagão de Nova York em 1965, nada houve. Em
1977 houve outro apagão que teve resultado contrário. Na tsunami, não houve
registro de saques. No Iraque, os saques foram generalizados.
A afirmação de Dwyer foi muito usada durante a semana por pessoas envolvidas
na operação de resgate da tsunami no sul da Ásia.
– Estou enojada. Depois da tsunami, nosso povo, mesmo quem perdeu
tudo, queria ajudar os outros que estavam sofrendo – disse Sajeewa Chinthaka,
moradora de Colombo, no Sri Lanka, o país que, proporcionalmente, foi mais
afetado pelo maremoto, à agência Reuters. – Com o que está acontecendo
agora nos EUA podemos ver facilmente onde a parte civilizada da população
mundial está.
Moacir Duarte, especialista em ações emergenciais da Coppe/UFRJ, diz que a
violência e a barbárie em Nova Orleans são exceção e não regra em grandes catás-
trofes, e talvez sejam reflexo da sociedade americana.
– Desde que o homem vive em sociedade a solidariedade, e não a barbárie, é a
norma em grandes eventos catastróficos. Se não fosse isso, não sobreviveríamos. O
que vemos em Nova Orleans é uma exceção, um provável sintoma do individualis-
mo característico da sociedade americana.
O Globo. 04/09/2005, Caderno Mundo, p. 39.
Questões
• “Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há justiça. Na
guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais”. (Hobbes). A barbárie
em Nova Orleans seria mais uma comprovação da guerra de todos os homens
contra todos os homens hobbesiana e do imprescindível poder coercitivo do
Estado?
• Qual seria de fato a origem da natureza humana? O homem é um ser social
ou egoísta? Há de fato uma natureza humana ou ela é uma construção so-
cial?
• A violência em Nova Orleans pode ser avaliada como reflexo da sociedade
americana?
• O fato de as pessoas se sentirem em desvantagem social é por vezes mais sig-
nificativo que a pobreza em si?
• Existe um valor social simbólico da propriedade?
• O ideário da igualdade. Interprete: “Desde que o homem vive em sociedade
a solidariedade, e não a barbárie, é a norma em grandes eventos catastróficos.
Se não fosse isso, não sobreviveríamos. O que vemos em Nova Orleans é uma
exceção, um provável sintoma do individualismo característico da sociedade
americana.”
Os socialistas de modo geral têm uma visão otimista dos seres humanos; acre-
ditam na perfectibilidade humana, na possibilidade de aprimoramento moral dos
homens e na inevitabilidade do comunismo. Segundo o materialismo histórico, as
raízes da natureza humana estão na vida social, nas condições materiais históricas
comuns. Em outras palavras, o sujeito não preexiste em essência, mas é determina-
do, construído, pelos processos históricos materiais.
É importante de ser dito que o socialismo apresenta-se como uma doutrina
racional modernizadora, o que faz dela parte do projeto iluminista de explicar e
Bibliografia:
Bibliografia Complementar
BOBBIO, Norberto. Qual socialismo?: debate sobre uma alternativa. São Paulo:
Paz e Terra, 3 ed., 1983.
VICENT, Andrew. Ideologias políticas modernas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1995. pp. 103-120.
I. Socialismo e Democracia
II. Surgimento e consolidação das idéias socialistas no direito: positivação dos direitos
sociais
Bibliografia básica
Bibliografia Complementar
Questões:
I. Desafios ao socialismo
Um ponto unificador das vertentes do socialismo a ser abordado nesta aula con-
siste na crítica ao livre mercado e ao capitalismo. Em alternativa, propõem uma
economia planejada e centralizada pelo Estado, isto é, coletivismo. (livre mercado,
liberalismo, expansão capitalista, exploração do proletário X economia planejada, pro-
dução orientada para o bem comum, igualdade).
Se na antiguidade, a economia era considerada um conjunto de regras para go-
vernar bem a família, estando, pois, subordinada à política, na modernidade a eco-
nomia se emancipa da esfera política e, segundo o materialismo histórico, é deter-
minante da esfera política. Dessa forma, o ideal comunista de extinção do Estado
revela uma pré-compreensão de dispensabilidade da política – o Estado como mero
instrumento de dominação. Ou outras palavras, o ideal comunista de fim do estado
é também o fim da política. (Bobbio)
Bibliografia básica
Atividade Complementar
Links e sites
www.mst.org.br
www.vermelho.org.br
www.cut.org.br
www.psol.org.br
Aula13:
Aula 17.Terminologia
Terminologia e espectro
e espectro
“Quando o“Quando
sistema oé sistema
injusto,ése
injusto, se quisermos
quisermos ser sérios
ser sérios temostemos
que que ser marginais.”
ser marginais.”
Roberto
Roberto Lyra FilhoLyra Filho
A desobediênciaCIVIL
A DESOBEDIÊNCIA civil ativa! Uma batalha inspirada nos zapatistas
ATIVA! Uma batalha inspirada nos zapatistas
“Os Tutte Bianche (macacão branco) chegaram a Praga para participar dos pro-
“Os Tutte Bianche (macacão branco) chegaram a Praga para participar dos protestos
testos contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).
contra o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM). Centenas de
Centenas de jovens ativistas italianos dos Centros Sociais, da Associação Ya Basta,
jovens ativistas eitalianos
parlamentares dos Centros
até religiosos, Sociais, da
executaram Associação
novidades Ya Basta,
táticas parlamentaresci-
de desobediência
vil frente
e até à polícia
religiosos, checa, que
executaram lhes jogou
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táticas e espancou com
de desobediência civil seus
frentecacetetes.
à polícia A
imaginação
checa, que lhespolítica
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– ou a faltacomdele
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destes globalifóbicos
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surpreenderam aos chamaram
globalifóbicos manifestantes de outros
a atenção países queeos
dos jornalistas
acompanhavam.
surpreenderam aos manifestantes de outros países que os acompanhavam.
DuasDuas forças
forças se se encontraram
encontraram corpo
corpo a corpo
a corpo na na ponte
ponte Nusle
Nusle de de Praga,cada
Praga, cadaumauma
defendendo
defendendo uma umaidéiaidéiadedemundo
mundo diferente.
diferente. De umDelado,
um lado, um contingente
um contingente de homensde ho-
e
mens e mulheres vestidos com trajes brancos, protegidos com
mulheres vestidos com trajes brancos, protegidos com espuma, cascos, máscaras
espuma, cascos,
máscaras antigases, escudos feitos com tampas de lixo e toda uma parafernália de
antigases, escudos feitos com tampas de lixo e toda uma parafernália de instrumentos
instrumentos dos mais incríveis, desde redes de gol coloridos até barreiras com câ-
dos mais incríveis, desde redes de gol coloridos até barreiras com câmaras de pneus.
maras de pneus. Do outro, um fosso de policiais uniformizados como Robocops e
Do outro, um fosso de policiais uniformizados como Robocops e protegidos com
protegidos com tanques lança-chamas, escudos e cacetetes. Um muro inquebrável
que bloqueava a passagem.
A polícia estava para proteger aos representantes dos poderes financeiros e eco-
nômicos do planeta. Os manifestantes questionaram a globalização em nome de
milhões de pessoas que sofrem suas conseqüências: fome, miséria e morte. No meio
das duas forças, um jovem passeava nu, com seu corpo tatuado com denuncias110 con-
Chiapas em 1998 –, foi um símbolo muito forte ver um exército de indígenas com
rifles brancos. Conhecer um exército que espera o momento de deixar de ser exército.
Gente que luta pelos direitos do seu povo. As mulheres zapatistas protestando frente
aos tanques podem equipar-se, em distintas condições, aos trajes brancos, os cascos e
escudos para proteger-se dos golpes e gases da polícia. Esse é nosso referente’.
‘A princípio discutíamos das experiências anteriores da ação direta, da sabota-
gem, da violência revolucionária. Concluíamos que nas novas condições da desobe-
diência civil utilizando nossos corpos como uma arma, pode liberar forças cidadãs
que já respondem aos velhos esquemas’, sublinha.
‘É uma maneira imaginativa – disse Mariani – de colocar o outro em um proble-
ma. Com métodos pacíficos de ação direta, a linguagem da violência fica do lado da
polícia, dos governos. As manifestações clássicas já não incomodam. Em mudança,
agora nós desobedecemos como cidadãos e eles reprimem, mas nos defendemos.
Isso chama a atenção da sociedade, que faz eco do nosso protesto.’
Federico Mariani conta que faz mais de um ano que começaram a praticar as
ações de desobediência civil.
‘Nos preparamos para resistir à polícia. Construímos escudos, máscaras antigás,
câmaras de pneus para utilizar como barreira e fizemos proteções para o corpo. Uti-
lizamos o corpo como uma arma de luta política’.
‘Chegou Seattle, e com ele veio a confirmação de um movimento renovador que
resgata a participação da sociedade civil, ainda que não tenha programa. Na Itália
até poucos anos, a luta de rua era um monopólio de uns ultras que praticavam
formas excluentes, grupos que queimavam carros e quebravam vitrines. A maioria
das pessoas se assustava por chegar a esse nível, incorporamos um fator novo, uma
forma de enfrentamento radical que supera as manifestações clássicas e que nos dá
a possibilidade de participação massiva com métodos seguros’, sintetiza Federico
Mariani.
Outro dos grandes êxitos – conclui Mariani:
‘É a participação dos jovens, que são conscientes de que sua intervenção, com seu
próprio corpo, protegido da violência da polícia, tem efeitos claros. O movimento
está crescendo. Este é um grande lucro, que todo mundo reconhece, a gosto de que
podemos tomar um trem para ir a Praga. Se nos abrem grandes espaços. Não é um
grupo político, é um movimento horizontal onde cada um que contribui ao debate
e a organização de uma maneira particular. Tudo se permeia, tem gente de todas as
idades, todos estão em possibilidade de compartilhar paritariamente. Se têm caído
esquemas antigos de vanguardas e dirigências’.
Questões
• Interprete: “No meio das duas forças, um jovem passeava nu, com seu corpo
tatuado com denúncias contra o capitalismo selvagem, nos entremeios de
cada choque: ‘Com os nossos corpos, com o que somos, viemos defender os direitos
de milhões, a dignidade e a justiça.’”
• O anarquismo seria uma forma de romper os esquemas políticos tradicionais?
• Seria uma forma de promover na sociedade a autogestão e a auto-organização?
• É possível passar da resistência a uma nova ofensiva sobre o terreno dos so-
nhos, dos direitos, da liberdade, pela conquista do futuro hoje negado para
as novas gerações, apenas com o uso de métodos pacíficos de ação direta?
• “Queremos construir uma humanidade onde todos estejamos incluídos,
O pensamento anarquista também pode ser visto como uma variante entre o
liberalismo e o socialismo. Com o primeiro se aparenta por ter como objetivo fun-
damental a liberdade, e com o segundo, segundo algumas correntes anárquicas,
por pressupor que a liberdade somente se realiza plenamente em uma sociedade de
iguais livre de autoridade.
Serão abordadas ainda duas fases expoentes do anarquismo:
a) A chamada fase áurea do anarquismo, dos anos 1880 a 1930, quando ocor-
reu a difusão da ideologia e várias tentativas revolucionárias: a guerra civil
espanhola em particular;
b) Um certo retorno do anarquismo nos movimentos de contracultura dos
anos 60.
“Na luta pelos Direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo não podemos
abrir mão do que nos dá força, que são as ocupações e a desobediência civil. Essas são for-
mas de exercer pressão para que os direitos básicos e fundamentais sejam respeitados”.
Foi assim que Dom Tomás Balduíno, presidente da Comissão Pastoral da Terra
encerrou sua intervenção no Encontro Nacional de Direitos Humanos, promovido
pela CPT, de 27 a 29 de agosto, em Goiânia.
Outro conceito fundamental no pensamento anarquista a ser discutido nesta
aula é o de ação direta, entendido como um método para a implementação da
revolução anarquista. Isto é, os próprios interessados na mudança promovem atos
que visem a abolição da coerção e autoridade e a realização da liberdade. Enfim, a
“ação direta” é o método revolucionário contraposto às correntes do reformismo
que propõem mudanças a partir dos mecanismos de Estado – eleições, representan-
tes, governo, lei, etc.
Como exemplos de ação direta, refletiremos acerca das seguintes manifestações:
greves, lockouts, bloqueio de estradas, sabotagens, boicotes – sempre associados
à desobediência civil. Contudo, há ações diretas construtivas como os mutirões,
voluntariado, etc.
Ainda serão abordadas duas formas essenciais de ação anarquista:
lhor roubar do que mendigar. Não! Um pobre que é ingrato, descontente, rebelde
e que se recusa a poupar terá, provavelmente, uma verdadeira personalidade e uma
grande riqueza interior. De qualquer forma, ele representará uma saudável forma
de protesto. Quanto aos pobres virtuosos, devemos ter pena deles, mas jamais
admirá-los. Eles entraram num acordo particular com o inimigo e venderam os
seus direitos por um preço muito baixo. Devem ser também extraordinariamente
estúpidos. Posso entender um homem que aceita as leis que protegem a proprieda-
de privada e admita que ela seja acumulada enquanto for capaz de realizar alguma
forma de atividade intelectual sob tais condições. Mas não consigo entender como
alguém que tem uma vida medonha graças a essas leis possa ainda concordar com
a sua continuidade.
Entretanto, a explicação não é difícil, pelo contrário. A miséria e a pobreza são de
tal modo degradantes e exercem um efeito tão paralisante sobre a natureza humana
que nenhuma classe consegue realmente ter consciência do seu próprio sofrimento.
É preciso que outras pessoas venham apontá-lo e mesmo assim muitas vezes não
acreditam nelas. O que os patrões dizem sobre os agitadores é totalmente verdadeiro.
Os agitadores são um bando de pessoas intrometidas que se infiltram num determi-
nado segmento da comunidade totalmente satisfeito com a situação em que vivem
e semeiam o descontentamento nele. É por isso que os agitadores são necessários.
Sem eles, em nosso estado imperfeito, a civilização não avançaria. A abolição da
escravatura na América não foi uma conseqüência da ação direta dos escravos nem
uma expressão do seu desejo de liberdade. A escravidão foi abolida graças à conduta
totalmente ilegal de agitadores vindos de Boston e de outros lugares, que não eram
escravos, não tinham escravos nem qualquer relação direta com o problema. Foram
eles, sem dúvida, que começaram tudo. É curioso lembrar que dos próprios escravos
eles recebiam pouquíssima ajuda material e quase nenhuma solidariedade. E quan-
do a guerra terminou e os escravos descobriram que estavam livres, tão livres que
podiam até morrer de fome livremente, muitos lamentaram amargamente a nova
situação. Para o pensador, o fato mais trágico da revolução francesa não foi o de que
Maria Antonieta tenha sido morta por ser rainha, mas que os camponeses famintos
da Vendée tivessem concordado em morrer defendendo a causa do feudalismo.
(Extraído da Obra “A Alma do Homem Sob o Socialismo”, de 1891. Disponível
em www.culturabrasil.org)
vontade a outrem.
Uma diferença radical entre o anarquismo e o socialismo russo está em que o
primeiro propõe a organização dos trabalhadores de maneira horizontal, federaliza-
das, ao contrário dos soviets russos, que eram controlados pelo partido bolchevique
de maneira vertical.
Democracia. Existe ainda uma difícil relação entre o pensamento anarquista e a
democracia. Sendo a democracia representativa uma forma de governo, por si só já
seria o bastante para ser repudiada. E ainda mais porque, segundo os anarquistas, a
representação é uma ficção a serviço do despotismo, da autoridade opressora, não
superada nem mesmo com o sufrágio universal. Propõem a abstenção eleitoral.
Justiça e lei
Um primeiro ponto a enunciar é a não coincidência entre Justiça e Lei; esta últi-
ma é entendida como expressão do governo, do Estado, da autoridade – tudo o que
deve ser abolido. Justiça denota um termo muito mais próximo da realização do ser
humano – para os anarco-individualistas, realização do projeto de vida pessoal; para
os anarco-comunistaristas, realização da liberdade em comunidade.
Justiça e contrato
Justiça distributiva
Bibliografia
Bibliografia Complementar
Links e sites:
Anarquismo no Brasil
II – Exercícios – Anarquismo
UNIDADE V – NACIONALISMO
Trechos
Além disso, também sob o ponto de vista preventivo, demarcar as terras indíge-
nas significa garantir o respeito aos direitos dessa minoria, evitando que a opinião
pública mundial questione a capacidade do Brasil em bem gerir esse assunto de
forma adequada.
Apesar da clareza com que a Constituição Federal trata esse tema, algumas orga-
nizações não-governamentais articulam ações com o objetivo de impedir o acesso
das forças de segurança ao interior da área indígena. A Comissão Externa constatou
que a oposição sistemática do CIR à ação das Forças Armadas – a ponto de ajuizar
ação judicial para tentar, sem êxito, evitar a instalação de um pelotão do Exército no
município de Uiramutã – constitui um entrave às atividades de defesa nacional, não
obstante a liberdade de trânsito garantida às Forças Armadas e à Polícia Federal pelo
Decreto no 4.412, de 2002, para movimentação de suas tropas em áreas indígenas.
Apesar de ser manifestamente impertinente, essa articulação, realizada por al-
gumas organizações não-governamentais, pode atrasar uma determinada operação,
militar ou policial, o suficiente para torná-la ineficaz, o que não é desejável, nem
pela ótica da defesa nacional, nem pela da segurança pública.
Adicionalmente, a FUNAI tem, baseando-se numa interpretação equivocada de
suas atribuições administrativas, expedido “autorizações” para a Polícia Federal e as
Forças Armadas entrarem em terras indígenas, embaraçando o exercício das funções
constitucionais desses órgãos. Não obstante a FUNAI exercer “o poder de polícia
nas áreas indígenas e nas matérias atinentes à proteção dos índios”, tal atribuição
não alcança o exercício de polícia judiciária, de repressão ao crime e de defesa de
fronteiras. Essas atividades hão de ser executadas pela Polícia Federal e pelas Forças
Armadas, em coordenação com a FUNAI – e nunca sob sua autorização.
Na verdade, a referida Fundação vem exorbitando de suas funções tão claramen-
te que chegou ao ponto de enviar a esta Comissão Externa uma ‘autorização’ para
entrada na futura terra indígena Raposa Serra do Sol. Cabe lembrar que o Con-
gresso Nacional é um dos Poderes da República e instância representativa máxima
da Nação, possuindo competência constitucional para fiscalizar os atos do Poder
Executivo (CF, art. 49, X). O Congresso Nacional ou qualquer de suas Casas não
dependem, portanto, de autorização de órgão administrativo subordinado ao Mi-
nistério da Justiça para desenvolver suas atividades constitucionais.
Merece registro que no recente episódio do assassinato de 29 garimpeiros na
Terra Indígena Roosevelt, em Rondônia, a Polícia Federal teve de esperar por oito
dias pela autorização da FUNAI para entrar naquela reserva, prejudicando o traba-
lho daquele órgão na identificação dos culpados e o resgate dos corpos. O ocorrido
revela a fragilidade da presença das forças policiais em áreas indígenas, e enfatiza a
premente necessidade de reformulação da prática do policiamento e da atuação das
Forças Armadas naquelas terras, para que não se repitam mais massacres dessa natu-
reza e não se incremente ainda mais o conflito em reservas indígenas no Brasil.
Esta Comissão Externa entende que, apesar da clareza legislativa na garantia
do livre trânsito das forças militares e policiais para a proteção da integridade do
território nacional e o combate de ilícitos na faixa de fronteira, deve-se considerar
garantias adicionais que facilitem aos militares e aos órgãos de segurança pública
previstos no art. 144 da Carta Magna o cumprimento integral de suas missões cons-
titucionais. Não deve restar dúvida de que, garantidos os direitos constitucionais
aos indígenas brasileiros, os órgãos do Estado devem ter plenas condições de inter-
vir, oportunamente, sem qualquer impedimento, no sentido de prevenir e coibir a
ocorrência de delitos transnacionais no interior da reserva Raposa Serra do Sol e de
outras regiões demarcadas. (...)”
Disponível em:
Relatório Raposa do Sol
http://www2.camara.gov.br/comissoes/temporarias/externas/encerradas/cexrapos/re-
latorio.html
Questões
Questão reflexiva
Sociobiologia
Estado-nacional
Comunidade e sociedade
Crítica marxista
Neste tópico serão discutidas as principais vertentes que tentaram explicar a na-
tureza do nacionalismo:
a. Nacionalismo e jusnaturalismo
O nacionalismo expressa uma unidade complexa no pensamento jurídico.
Quando recupera elementos de cultura, história, comportamento imemoriais como
definidores da unidade nacional, o nacionalismo justifica o direito tal qual o jusna-
turalismo, ou seja, a ascendência de uma ordem, sobrenatural ou atemporal, fun-
dante da Nação. O Estado, nesse raciocínio, tem a função de otimizar o espírito
nacional.
Bibliografia básica
Bibliografia Complementar:
O premier dinamarquês, Anders Rasmussen, disse que o caso foi além de uma
disputa entre seu país e o mundo islâmico. Agora é entre “a liberdade de expressão
ocidental e os tabus do Islã”. Ele convocou para hoje uma reunião com todos os
embaixadores.
A confusão começou quando o maior jornal da Dinamarca, o “Jyllands-Posten”,
publicou, em setembro, 12 charges de Maomé. Elas ilustravam uma reportagem
sobre autocensura e liberdade de expressão, citando o caso em que um autor de
livro infantil sobre Maomé não conseguiu encontrar desenhistas que se dispusessem
a retratar o profeta do Islã. Na tradição islâmica, imagens de Maomé são proibidas,
pois poderiam levar à idolatria.
Ontem, jornais de Suíça e Hungria republicaram as charges, repetindo o que já
tinham feito diários de França, Espanha, Alemanha, Itália e Holanda. À noite, as
TVs britânicas BBC e ITN puseram as imagens no ar.
Único jornal da França que publicara as charges originais até ontem – o “Le
Monde” fez uma charge própria –, o “France Soir” surpreendeu o país. O dono do
jornal, o franco-egípcio Raymond Lakah, demitiu o diretor Jacques Lefranc. Os
funcionários não gostaram da medida e o editor escolhido para substituir Lefranc,
Eric Fauveau, recusou-se e pediu demissão.
Único jornal árabe a divulgar as charges, o jordaniano “al-Shihan” as publicou
sob o título “muçulmanos, sejam razoáveis”. “O que provoca mais preconceito con-
tra o Islã? Caricaturas, imagens de um seqüestrador cortando a garganta de sua ví-
tima, ou um homem-bomba num casamento em Amã?”. Os donos do “al-Shihan”
demitiram seu diretor, Yihad Momani.”
O Globo, 3 de fevereiro de 2006
as vozes dos muçulmanos moderados. A terceira lição é que a crise mostra que pre-
cisamos debater. Não conseguimos mais debater. Hoje não há debate, há insultos.
Há cinco milhões de muçulmanos na França e o “Le Monde” publicou uma carica-
tura de Maomé em nome da liberdade de imprensa e em apoio ao jornal dinamarquês.
O que acha?
MÉNARD: Fez bem. Porque o “Le Monde” não reproduziu as caricaturas (do
jornal dinamarquês) e evitou o que poderia parecer uma provocação. Optou por
publicar o ponto de vista dos caricaturistas. É preciso reafirmar a liberdade de ex-
pressão, essencial na democracia.
Então, é preciso bom senso?
MÉNARD: Sim, é preciso um pouco de bom senso, não apontar o dedo contra
todos os muçulmanos. É preciso achar um meio de discutir com algumas pessoas
(muçulmanas). Há governos com os quais não podemos discutir. Como Arábia
Saudita ou Líbia podem nos dar lições sobre o que devemos fazer, logo eles que
calam sua própria imprensa e prendem seus jornalistas? Não aceitamos lição deles.
O Globo, 3 de fevereiro de 2006
Agora são charges do profeta Maomé com um turbante com a forma de uma
bomba. Embaixadores foram retirados da Dinamarca, sauditas e sírios reclamam,
países do Golfo tiram os produtos dinamarqueses dos mercados, milicianos de Gaza
ameaçam a União Européia e jornalistas estrangeiros. Na Dinamarca, Fleming Rose,
o editor de “cultura” do jornal que publicou estas charges bobas – em setembro, pelo
amor de Deus – anunciou que estamos testemunhando um “choque de civilizações”
entre as democracias seculares do Ocidente e as sociedades islâmicas. Isto prova, eu
acho, que os jornalistas dinamarqueses seguem a tradição de Hans Christian Ander-
sen. O que estamos testemunhando é a infantilidade das civilizações.
Vamos começar com o Departamento Interno de Verdades. Este não é um caso
de secularismo contra o Islã. Para os muçulmanos, o profeta é o homem que recebeu
as palavras divinas diretamente de Deus. Vemos nossos santos e profetas como figu-
ras fracamente históricas, em contradição com nossos direitos e liberdade high-tech,
quase caricaturas deles mesmos. O fato é que os muçulmanos vivem sua religião.
Nós não. Eles mantiveram sua fé através de inumeráveis vicissitudes históricas. Nós
perdemos nossa fé desde que Matthew Arnold (poeta e intelectual inglês do século
XIX) escreveu sobre isso. É por isso que falamos de “Ocidente contra o Islã” em vez
de “cristãos contra o Islã” – porque não sobram muitos cristãos na Europa. Não há
um jeito de driblar todas as outras religiões mundiais e perguntá-las por que não
podemos fazer graça de Maomé.
Bibliografia básica
Bibliografia Complementar:
VINCENT, Andrew, Ideologias políticas modernas. Trad. Ana Luísa Borges. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995, pp. 250-260.
BALIBAR, Etienne, & WALLERSTEIN, Immanuel, Race, Nation, Class – Am-
biguous Identities. London/New York: Verso, 1991.
O terror ocidental
Para que vale a pena desenterrar essa história? Porque as fagulhas gêmeas que
acenderam a raiva de Qutb estão sendo atualmente embebidas em gasolina: árabes e
muçulmanos são aviltados em câmaras de tortura ao redor do mundo e suas mortes
estão sendo descontadas nas guerras coloniais simultâneas, ao mesmo tempo em
que provas visuais digitais dessas perdas e humilhações estão à disposição de quem
tenha um computador. E mais uma vez esse coquetel letal de racismo e tortura
queima nas veias de jovens irados. Como revelam o passado de Qutb e o presente de
Osman, não é nossa tolerância pelo multiculturalismo que alimenta o terrorismo; é
nossa tolerância pela barbárie cometida em nosso nome.
Inimigo oculto
Nesse ambiente explosivo entrou Tony Blair, determinado a vender duas das prin-
cipais causas do terror como se fossem sua cura. Ele pretende deportar mais muçul-
manos para países onde provavelmente enfrentam a tortura. E continuará lutando
guerras em que os soldados não sabem os nomes das cidades que estão arrasando.
Enquanto isso, no Reino Unido, não falta a “discriminação racial maligna e faná-
tica” que Qutb denunciou. “É claro que também houve atos isolados e inaceitáveis
de ódio racial ou religioso”, Blair disse antes de revelar seu plano de combate ao
terror. “Mas foram isolados”. Isolados? A Comissão Islâmica de Direitos Humanos
recebeu 320 queixas de agressões racistas depois dos atentados; o Grupo de Monito-
ramento recebeu 83 chamadas de emergência; e a Scotland Yard disse que os crimes
de ódio aumentaram 600% nos últimos 12 meses. Não que a situação anterior a 7
de julho fosse digna de orgulho: “Um em cada cinco eleitores de minorias étnicas
no Reino Unido diz que pensa em deixar o país por causa da intolerância racial”,
revelou uma pesquisa do jornal “The Guardian”, em março.
Essa última estatística mostra que o tipo de multiculturalismo praticado no Reino
Unido (e na França, Alemanha, Canadá...) tem muito pouco a ver com genuína igual-
dade. Nada expõe tanto o raso dessa alegada tolerância quanto a velocidade com que
as comunidades muçulmanas estão recebendo o aviso para “ir embora” (citando o de-
putado conservador Gerald Howarth) em nome dos valores nacionais fundamentais.
O verdadeiro problema não é o excesso de multiculturalismo, mas sua escassez.
Se a diversidade hoje guetificada nas margens das sociedades ocidentais – geográ-
fica e psicologicamente – realmente tivesse permissão para migrar para os centros,
poderia infundir na vida pública ocidental um novo e poderoso humanismo. Se ti-
véssemos sociedades profundamente multiétnicas, em vez de multiculturais e rasas,
seria mais difícil para os políticos assinar ordens de deportação, enviando argelinos
que buscavam asilo para a tortura ou para lutar em guerras nas quais somente os
invasores mortos são contados. Uma sociedade que realmente vivesse seus valores
de igualdade e direitos humanos no país e no exterior teria outra vantagem. Tiraria
dos terroristas o que sempre foi sua melhor ferramenta de recrutamento: nosso
racismo.”
Naomi Klein
Folha de São Paulo. Caderno Mais/2005. Trad. Luiz Roberto Mendes Gonçalves
“Um único modelo sustentável para sucesso nacional: liberdade, democracia e livre
iniciativa”
armas de destruição de massas, e evidências indicam que eles estão fazendo isso com
determinação. Os Estados Unidos não permitirão que esses esforços sucedam. Nós
construiremos defesas contra mísseis e outros modos de ataques. Nós trabalharemos
em conjunto com outras nações para negar, conter e reduzir os esforços de nossos
inimigos para adquirir tecnologias perigosas. E, como um problema de senso co-
mum e autodefesa, a América vai agir contra as ameaças desses inimigos antes que
elas estejam totalmente formadas. Nós não podemos defender a América e nossos
amigos somente esperando pelo melhor. Por isso devemos estar preparados para
derrotar os planos de nossos inimigos, usando a melhor inteligência e procedendo
com deliberação. A história julgará cruelmente aqueles que viram esse perigo, mas
não agiram. No novo mundo em que entramos, o único caminho para paz e segu-
rança é o caminho de ação.
Enquanto defendemos a paz, nós também tiraremos proveito de uma oportu-
nidade histórica para preservar a paz. Hoje, a comunidade internacional tem sua
melhor chance desde a ascensão do estado-nação no século 17 para construir um
mundo em que grandes poderes compitam em paz em vez de continuamente se
preparar para a guerra. Hoje, as maiores potências do mundo se encontram do mes-
mo lado – unidas pelos perigos comuns de violência terrorista e caos. Os Estados
Unidos se basearão nesses interesses comuns para promover a segurança mundial.
Nós estamos também crescentemente unidos por valores comuns. A Rússia está no
meio de uma transição esperançosa, alcançando seu futuro democrático e de par-
ceira contra o terror. Líderes chineses estão descobrindo que liberdade econômica é
a única fonte de riqueza nacional. Em tempo, descobrirão que liberdade política e
social é a única fonte de grandiosidade nacional. A América encorajará o avanço da
democracia e abertura econômica em ambas as nações, porque essas são as funda-
ções de estabilidade doméstica e ordem internacional. Nós vamos resistir fortemen-
te à agressão de outras grandes potências – ao passo que damos as boas-vindas a suas
buscas por prosperidade, comércio e avanço cultural.
Finalmente, os Estados Unidos usarão esse momento de oportunidade para es-
tender os benefícios de liberdade por todo o globo. Nós lutaremos ativamente para
trazer a esperança de democracia, desenvolvimento mercados livres e livre comércio
para todos os cantos do mundo. Os eventos de 11 de setembro de 2001 nos ensina-
ram que Estados fracos, como o Afeganistão, podem ser uma grande ameaça aos nos-
sos interesses como Estados fortes. A pobreza não torna pessoas pobres em terroristas
e assassinos. Mas a pobreza, instituições fracas e corrupção podem tornar Estados
fracos vulneráveis para redes terroristas e cartéis de drogas em suas fronteiras.
Os Estados Unidos estarão ao lado de qualquer nação determinada para cons-
truir um futuro melhor por meio da busca de recompensas de liberdade para seu
povo. Livre comércio e livre mercado provaram sua habilidade de tirar sociedades
da pobreza – por isso os Estados Unidos trabalharão tanto com nações individual-
mente, regiões inteiras e toda a comunidade global de comércio para construir um
mundo que negocia com liberdade e, portanto, cresce em prosperidade. Os Estados
Unidos fornecerão maior assistência de desenvolvimento por meio do ‘New Mil-
lennium Challenge Account’ para nações que governem com justiça, invistam em
Questões
I. CRISE DO ESTADO-NAÇÃO?
Na verdade, são os países mais fracos e mais pobres que causam as maiores histe-
rias. (...) o país mais fraco e mais pobre é mais perigoso como exemplo. Se uma nação
pequena e pobre como Granada pode ser bem-sucedida, alcançando um melhor ní-
vel de vida para seu povo, em outro lugar que tenha mais recursos as pessoas poderão
perguntar: “E nós, por que não?” (...) Eles [estrategistas dos EUA] entendem que
a verdadeira ameaça é o “bom exemplo”. Em outras palavras, o que os EUA que-
rem é “estabilidade”, quer dizer, segurança para “as classes dominantes e liberdade
para as empresas estrangeiras”. Se isso pode ser obtido com métodos democráticos
formais, OK. Se não, a ameaça à “estabilidade” causada pelo bom exemplo tem de
ser destruída, antes que o vírus infecte os outros. É por isso que, mesmo se a menor
partícula causar tal perigo, ela tem de ser esmagada. Noam Chomsky. O Que o Tio
Sam Realmente Quer. (Disponível em: http://www.cibergeo.org/agbnacional/documen-
tos/textoaberto20a.html)
Mito 2: Os grupos étnicos têm inclinação para o conflito violento mútuo, num
choque de valores, pelo que existe um trade-off entre o respeito pela diversidade e a
sustentação da paz.
Mito 3. A liberdade cultural exige a defesa das práticas tradicionais, por isso,
poderá haver um trade-off entre o reconhecimento da diversidade cultural e outras
prioridades do desenvolvimento humano, tais como o progresso no desenvolvimen-
to, na democracia e nos direitos humanos.
Mito 4. Os países etnicamente diversificados são menos capazes de se desenvol-
ver, pelo que existe um trade-off entre o respeito pela diversidade e a promoção do
desenvolvimento.
Mito 5. Algumas culturas têm mais probabilidades de alcançar progressos desen-
volvimentistas do que outras e algumas culturas têm valores democráticos inerentes,
enquanto outras não, pelo que existe um trade-off entre a conciliação de certas cul-
turas e a promoção do desenvolvimento e da democracia.
Disponível em www.pnud.org.br
Bibliografia
Bibliografia Complementar
VINCENT, Andrew, Ideologias políticas modernas. Trad. Ana Luísa Borges. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995, pp. 260-270.
Links e sites
www.integralismo.org.br
http://www.acervoditadura.rs.gov.br/index3.htm
Atividade complementar
Breve histórico
que regeram sua formação e aplicação, a fim de obter-se o real sentido e alcance da
norma.
9. Direito comparado. A exemplo do Brasil as legislações de países organizados
sob a égide do estado moderno de direito democrático igualmente adotam em seu
ordenamento legal punições para delitos que estimulem e propaguem segregação
racial. Manifestações da Suprema Corte Norte-Americana, da Câmara dos Lordes
da Inglaterra e da Corte de Apelação da Califórnia nos Estados Unidos que consa-
graram entendimento que aplicam, igualmente, sanções àqueles que transgridem as
regras de boa convivência social com grupos humanos que simbolizem o exercício
de racismo.
10. A edição e publicação de obras escritas veiculando idéias anti-semitas, que
buscam resgatar e dar credibilidade à concepção racial definida pelo regime nazista,
negadoras e subversoras de fatos históricos incontroversos como o holocausto, con-
substanciadas na pretensa inferioridade e desqualificação do povo judeu, equivalem
à incitação ao discrímen com acentuado conteúdo racista, reforçadas pelas conseqü-
ências históricas dos atos em que se baseiam.
11. Explícita conduta do agente responsável pelo agravo revelador de manifesto
dolo, baseada na equivocada premissa de que os judeus não só são uma raça, mas,
mais do que isso, um segmento racial atávica e geneticamente menor e pernicioso.
12. Discriminação que no caso se evidencia como deliberada e dirigida especifi-
camente aos judeus, que configura ato ilícito de prática de racismo, com as conse-
qüências gravosas que o acompanham.
13. Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como abso-
luta. Limites morais e jurídicos. O direito à livre expressão não pode abrigar, em sua
abrangência, manifestações de conteúdo imoral que implicam ilicitude penal.
14. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas
de maneira harmônica, observados os limites definidos na própria Constituição
Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O preceito fundamental de liberdade
de expressão não consagra o “direito à incitação ao racismo”, dado que um direito
individual não pode constituir-se em salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede
com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa
humana e da igualdade jurídica.
15. “Existe um nexo estreito entre a imprescritibilidade, este tempo jurídico que
se escoa sem encontrar termo, e a memória, apelo do passado à disposição dos vi-
vos, triunfo da lembrança sobre o esquecimento”. No estado de direito democrático
devem ser intransigentemente respeitados os princípios que garantem a prevalência
dos direitos humanos. Jamais podem se apagar da memória dos povos que se pre-
tendam justos os atos repulsivos do passado que permitiram e incentivaram o ódio
entre iguais por motivos raciais de torpeza inominável.
16. A ausência de prescrição nos crimes de racismo justifica-se como alerta grave
para as gerações de hoje e de amanhã, para que impeça a reinstauração de velhos e
ultrapassados conceitos que a consciência jurídica e histórica não mais admitem.
Ordem denegada.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo
Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata do julgamento e das
notas taquigráficas, por maioria de votos, indeferir o habeas corpus.
Brasília, 17 de setembro de 2003
Maurício Corrêa
Presidente e relator para o acórdão
VOTOS
Ministro Moreira Alves:
“Não sendo, pois, os judeus uma raça, não se pode qualificar o crime por discri-
minação pelo qual foi condenado o ora paciente como delito de racismo, e, assim,
imprescritível a pretensão punitiva do Estado”
Visa apresentar uma genealogia histórica do termo fascismo. Este advém do la-
tim fasces, que significa feixe de varetas, denotando unidade e força. Todavia, como
ideologia política, o fascismo se tornou conhecido após a consolidação do regime
fascista na Itália em 1922 e do nacional-socialismo na Alemanha em 1933. Embora
estejam sob o mesmo espectro político, fascismo e nazismo partem de pensamentos
nacionalistas diferentes.
O termo fascismo após a 2ª Guerra Mundial ficou marcado por uma forte
carga negativa, referindo-se genericamente a qualquer tipo de experiência política
totalitária.
Inicialmente, podemos indicar que o fascismo traz em seu bojo a crença ilu-
minista de controle racional da natureza humana ao lado do desejo romântico de
uma vida mais simples, primitiva. Apresenta como características gerais a exaltação
da raça e do Estado representados na figura do líder e o uso de propaganda de
massa e censura, tudo isso amarrado em uma concepção orgânica da sociedade e
do Estado.
Análise marxista
O fascismo pode ser explicado como uma forma específica de, em um determi-
nado contexto histórico, produzir industrialização e modernização.
Como vermos mais adiante neste tópico, o fascismo pode ser visto como mais
uma forma totalitária ao lado do comunismo e stalinismo. No totalitarismo tem
lugar uma política de mobilização de massas, um partido único monolítico, e ne-
nhuma separação entre Estado e sociedade. O Estado tende ao domínio total da
sociedade, da economia e das comunicações para produzir o seu efeito mais devasta-
dor: o desenraizamento, físico e moral, dos indivíduos, que, isolados e atomizados,
já não se identificam ou pertencem nem ao Estado nem a sociedade ou qualquer
outro grupo. Este processo é o que se convenciona denominar ideologia do terror.
A partir do conceito de vitalismo, os regimes fascistas tendem a considerar os
homens como massas frágeis e fáceis de manipulação. Mussolini é claro ao enfatizar
que as massas são como crianças que devem ser repreendidas e presenteadas alter-
nativamente.
Outro ponto forte do fascismo, oposto ao individualismo liberal, está em com-
preender os homens como criaturas sociais, comunais por natureza. No fascismo
italiano, o Estado era o princípio unificador dos indivíduos, a verdadeira e natural
comunidade. Diferentemente, o nacional-socialismo alemão entendia que a dimen-
são racial era o que unia os indivíduos. E mais, a vida emotiva instintiva ligava os
homens ao Volk e ao impulso vital da natureza; assim, o objetivo não estava em,
como acreditavam os liberais, controlar a natureza, mas antes, integrar-se a ela.
Neste tópico será discutida a premissa básica dos fascismos, de que os homens
são antes de tudo criaturas de uma nação, de uma raça, de um Volk. O homem não
existe per se, tal qual o liberalismo pregava. O fascismo, orientado por um pseudo-
ideal comunitário, compreendia que a nação e a raça transcendem o conflito de
classes. Lamentavam que a burguesia e o proletariado desperdiçassem sua energia
vital em anseios materialistas e na política parlamentar. Ao contrário, o “Estado-so-
ciedade” fascista estava orientado para preparar a nação para os tempos de guerra e
para o heroísmo.
Para o fascismo italiano, segundo palavras de Mussolini, “não é a nação que gera
o Estado... mais exatamente a nação é criada pelo Estado”, o que destoa do nacional-
socialismo alemão que, segundo Hitler, “o Estado em si não cria um nível específico de
cultural; pode apenas preservar a raça” (apud VICENT, 1995:163).
Para Hitler o fim do Império Austro-Húngaro foi devido a sua fragilidade racial;
a partir disso, compreendeu que a miscigenação era sinal de decadência e desor-
ganização da civilização. Logo, era necessária a busca pela pureza da raça ariana
– a genuína raça – para o fortalecimento da Alemanha – um país humilhado na
Primeira Guerra.
Bibliografia básica
Bibliografia complementar
‘direito a ter direitos’ como ponto de partida da reconstrução dos direitos humanos
(...) Foram esses fatos que levaram, no pós-Segunda Guerra Mundial, à inclusão
ampla da agenda dos direitos humanos no plano internacional.”
§ 18 “(...) Se o racismo não pode ser justificado por fundamentos biológicos, ele,
no entanto, persiste como fenômeno social. É esse fenômeno social, e não a “raça”,
o destinatário jurídico da repressão prevista pelo art. 5º, LXII, da Constituição da
1988 (...) o conteúdo jurídico do crime da prática do racismo tem o seu núcleo nas
teorias e ideologias e na sua divulgação, que discriminam grupos e pessoas, a elas
atribuindo as características de uma “raça” inferior.”
§ 19 “(...) Esclarece, também, Bobbio que os postulados do racismo como visão
do mundo, que independe da fundamentação científica, como foi visto, são três:
(i) a humanidade está dividida em raças, cuja diversidade é dada por características
biológicas e psicológicas. Estas têm elementos culturais que derivam, porém, das
características biológicas, cuja natureza é invariável e se transmite hereditariamente;
(ii) não só existem raças diversas, mas existem raças superiores e inferiores; e (iii)
não só existem raças, e estas se dividem entre superiores e inferiores, como também
as superiores têm o direito de dominar as inferiores.
(...) O último grau na escala da violência do tratamento racista é a agressão física.
Esta começa de modo esporádico, contra alguns indivíduos – é o que fazem os ski-
nheads – e chega ao extermínio premeditado e de massa. O extermínio premeditado
de massa tem nas câmaras de gás dos campos de concentração da Alemanha nazista
a sua terrível exemplificação, pois foi o meio técnico por excelência do Holocausto
como crime de genocídio. O paradigma deste último grau na escala da violência é o
“Estado racial” no qual se transformou a Alemanha nazista de Hitler. A Alemanha
de Hitler, realça Bobbio, foi “um Estado racial no mais pleno sentido da palavra,
pois a pureza da raça devia ser perseguida não só eliminando indivíduos de outras
raças, mas também indivíduos inferiores física e psiquicamente da própria raça,
como os doentes terminais, os prejudicados psíquicos, os velhos não mais auto-
suficientes.”
IX – Síntese Conclusiva §§28-37
§ 34 (...)
As teorias racistas buscaram sua fundamentação nas ciências biológicas. Justi-
ficaram a prepotência da expansão colonial européia e foram a base do racismo
biológico institucionalizado da Alemanha nazista.
(...)
As teorias racistas não têm fundamentação biológica. Persistem, no entanto,
como fenômeno social. É por essa razão que é este fenômeno, e não a “raça”, o des-
tinatário jurídico da repressão prevista pelo art. 5º, LXII, da Constituição.
§ 35 As teorias e visões do mundo sobre o racismo partem do princípio de que
existem raças; que estas se dividem entre superiores e inferiores e que as superiores
têm o direito de dominar as inferiores. Uma visão racista do mundo leva a distintas
escalas de agressividade, lastreada pelo não reconhecimento aos “outros” dos mes-
mos direitos e garantias, cujo fundamento é o princípio da igualdade e o corolário
da não discriminação. A escala de agressividade se intensifica com a violência da
Questões
• No extremo, podemos dizer que o ápice da dominação, a sua faceta mais “ra-
dical”, foi destituir o homem do seu elemento mais intrínseco, uma das re-
presentações mais decisivas, a sua morte, pois o próprio significado da morte
foi aniquilado?
Bibliografia básica:
Bibliografia complementar:
i. Estado de Exceção
Constituição de Weimar
Questões
Bibliografia BÁSICA
Bibliografia Complementar
Links e sites
FICHA TÉCNICA