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121337-2
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Processo n.2007.121337-2(287/07) 2a Vara Cível Central Vistos. WILSON CHAVES e sua mulher,
MARIA DE FÁTIMA SANTOS CHAVES ajuizaram a presente ação declaratória de inexigibilidade
de débito com pedido de antecipação de tutela contra COOPERATIVA HABITACIONAL DOS
BANCÁRIOS DE SÃO PAULO-BANCOOP, alegando, em síntese, que aderiram ao sistema
cooperativo habitacional gerido pela ré, em 01/03/2000, para a compra de apartamento
localizado no 5º andar do Bloco 1, Fundos, do Edifício Marlin, integrante do Conjunto
Residencial dos Bancários, situado na Rua Gago Coutinho, n. 265, no Sítio São Gonçalo, no
Município e Comarca de Praia Grande; que cumpriram todas as obrigações assumidas, sendo-
lhes outorgado o Termo de Quitação, bem como autorizada a lavratura da escritura definitiva
do imóvel, em seus nomes, em 17/03/2004 e 21/04/04, respectivamente; e que a ré vem
notificando os autores para pagarem a quantia de R$5.457,60(cinco mil quatrocentos e
cinqüenta e sete reais e sessenta centavos), sob pena de esbulho possessório.
É o relatório. DECIDO.
Conheço diretamente do pedido, nos termos do art. 330, I, do Código de Processo Civil, eis que
a hipótese dos autos não demanda dilação probatória, por repousar a controvérsia em
questão exclusiva de direito. Não foram argüidas preliminares, razão pela qual passo ao
mérito. O pedido é procedente. Inicialmente, embora não discutida pelas partes, necessária
breve digressão sobre a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor à relação jurídica
dos autos. Não se olvida a dicção do artigo 3o do referido diploma legal, de que “fornecedor é
toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços”. A ré é cooperativa sem fins lucrativos, nos termos da Lei n° 5.764/71,
e, por isso mesmo, com sistema jurídico bem diverso de incorporadoras de imóveis. Não é uma
empresa privada cujo objetivo final é o lucro dos seus titulares, mas reunião de pessoas que se
associam com o fim de somar esforços e adquirir a casa própria. Há valiosa jurisprudência no
sentido de que o regime jurídico diferenciado, tal qual a forma de atuação da cooperativa,
afastam a relação de consumo e impedem a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
Nessa linha de entendimento já decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
afirmando taxativamente que não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às cooperativas
habitacionais( Apelação Cível n° 237.276-2 – São Paulo - Rel. Des. Ruy Camilo - em 21.06.94 -
v.u.). Neste sentido: "Cooperativa habitacional. Entidade que não se sujeita ás normas que
regem os consórcios, nem as do Código de Defesa do Consumidor, porque não há relação de
consumo. Estatutos sociais que prevêem, a título de taxa de administração, a retenção de 30%
da contribuição feita pelo associado, e quando houver disponibilidade de caixa. Legalidade.
Recurso provido, para julgar improcedente a ação” ( Apelação Cível nº 95.852.4/2.00 – 2ª
Câmara - Rel. Des. Linneu Carvalho - em 13.02.01 - v.u ). A Promotoria da Justiça do
Consumidor, em inquérito civil público, já deixou assentada a posição de tal órgão sobre a não
aplicação do Código de Defesa ao Consumidor à relação entre a Cooperativa e os cooperados,
enfatizando que toda relação de consumo requer, perfeitamente delineado, o atributo da
bilateralidade estrita; tal não se vislumbra, segundo aquele órgão, nas relações existentes
entre a cooperativa e seus cooperados, eis que, conceitualmente, cooperativa é toda
associação de pessoas que, reciprocamente, obrigam-se a emprestar recursos e esforços
próprios para a consecução, sem fins lucrativos, de uma atividade de proveito comum. Esse o
sentido do artigo 3º, da Lei n. 5.764/71.
Tal posicionamento fica mais nítido no que toca à matéria atinente ao inadimplemento e
rescisão do termo de compromisso de participação em empreendimento habitacional, para a
aquisição de casa própria. Nesse caso, prevalece o entendimento de que as restituições das
importâncias pagas pelo associado devem operar-se de imediato, sem necessidade de se
aguardar o final do plano, calcado na afirmação de que as relações jurídicas envolvendo
cooperativa habitacional e associado podem figurar na relação de consumo, sendo genérica e
não excludente as relações dos arts. 2° e 3°, da Lei 8.078/90.
Tratando-se de questão desta natureza, não basta, para justificar a não devolução de imediato,
o fato do estatuto social da cooperativa prever "a liquidação dos haveres do ex-associado no
final do plano ao qual estava vinculado", pois na restituição de prestações pagas aplica-se o
CDC, que amplia o conceito de consumidor para proteger quem é a ele equiparado.
Partilho do entendimento de que é aplicável à relação jurídica dos autos o Código de Defesa
do Consumidor.