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O missionário e o advogado

-“Se os malandros e vigaristas soubessem como é bom ser


honesto, eles seriam honestos até por vigarice !”

Essas palavras voltaram à mente de Roberto, depois de mais


de trinta anos dele as ter ouvido. Ele as ouvira da boca de um
advogado, numa tarde de calor forte, numa praça pública do Rio de
Janeiro. Roberto era na época um missionário mórmon – Elder
Silveira- e estava fazendo uma exposição na praça Castro Alves,
num subúrbio da cidade do Rio.

Com cartazes montados em tripés, Elder Silveira e outro


missionário explicavam para os transeuntes o que a Igreja Mórmon
ensina a respeito de Deus e de outros temas ligados à sua religião.

O advogado, Carlos Cintra, voltava de uma audiência no


fórum e, vendo aqueles dois rapazes de camisa branca e gravata,
um deles brasileiro e o outro americano, sob aquele forte calor,
conversando com as pessoas que paravam, ficou curioso. Parou
também e ficou ouvindo a explicação do Elder Silveira que apontava
para uma gravura de Jesus Cristo e falava da importância de
lembrarmos do Salvador e de Deus. Depois do Elder Silveira, o
outro missionário, um americano de 20 anos, continuou a
explicação, com um forte sotaque, devido ao fato dele ser ter
chegado há pouco tempo ao Brasil.

Quando o Dr.Cintra teve chance, chamou o jovem brasileiro


para o lado, e perguntou de onde ele tinha vindo.

-Sou do interior de São Paulo. Moro na “cidade-sanduíche”


chamada Bauru- respondeu Silveira, rindo. Bauru, além de ser uma
cidade, é o nome de um delicioso sanduíche, preparado com pão
francês, bife, alface e tomate.

O Dr.Cintra riu também, e falou que estava impressionado por


ver os dois jovens pregando o Evangelho em praça pública, ao
contrário de tantos outros jovens que ele conhecia, que só se
preocupavam consigo mesmos. Além do mais, o Dr.Cintra conhecia
também muitos jovens que haviam entrado para o crime, o que
causava muito sofrimento para eles mesmos e para os seus
parentes. Mesmo em 1978, ano que este fato aconteceu, o Rio de
Janeiro já tinha uma grande criminalidade, assim como muitas
grandes capitais.

-Muita gente- falou o Dr.Cintra ao Silveira- quer levar


vantagem em tudo. Acham que podem viver às custas dos outros,
não querem trabalhar, só pensam em roubar, dar golpes do bilhete
premiado e tantos outros golpes. Só que eles não percebem que
um dia a casa cai e eles são presos. Eu tenho visto isso acontecer
todo dia. Vejo tantos malandros e vigaristas serem presos, e
cheguei à conclusão de que o crime não compensa mesmo. O
melhor mesmo é ser honesto, trabalhar e fazer o melhor que a
gente pode, porque a gente fica com a consciência tranqüila.

Foi aí que o Dr. Cintra falou que, “se os malandros e vigaristas


soubessem como é bom ser honestos, seriam honestos até por
vigarice”.

Hoje, mais de trinta anos depois, Roberto ainda ouve as


palavras do Dr.Cintra ecoando em seus ouvidos. Ele lembra
também da noite em que foi assaltado, em Ramos, bairro do Rio de
Janeiro, também no tempo em que era o Elder Silveira, e voltava
para casa após um dia de muito trabalho ensinando os cariocas a
respeito do Evangelho. E como era difícil falar do Evangelho! Aliás,
como era difícil encontrar pessoas interessadas em ouvir a respeito
do Evangelho, numa cidade turística igual ao Rio de Janeiro.

Roberto se lembra bem de sua primeira área, Andaraí,


quando batia nas portas e as pessoas diziam para ele e seu
companheiro americano, que tinha dois metros e pouco de altura,
Elder Ronby : “- José Smith? 1820? Obrigado, mas eu já tenho
religião.”

Era uma área pequena, Andaraí, que abrangia a Vila Isabel e


o Estádio Maracanã – o maior estádio de futebol do Brasil - e muitos
missionários já tinham batido nas mesmas portas que o Roberto.
Os cariocas gostavam muito de brincar com os missionários
mórmons, e de longe, gritavam: “-What time is it?” Também
gritavam de longe, erguendo a mão direita numa saudação nazista,
quando os missionários passavam : “- Heil, Hitler!”

Roberto sorri, lembrando dessas experiências, e sorri mais


ainda quando lembra do caso do jovem carioca que estava num
carro na Avenida Maxwell, perto do Boulevard, e colocou a cabeça
para fora da porta do automóvel azul para gritar alguma coisa para
ele e o outro missionário que andavam na calçada. Nesse
momento, o carro passou sobre um quebra-molas (obstáculo que
existe nas ruas para que os motoristas reduzam a velocidade) e o
rapaz bateu a cabeça com força no batente da porta do carro...

Esse não conseguiu fazer a gozação que planejava e ficou com um


galo na cabeça. O castigo veio na hora.

Mas não era só dessas experiências que Roberto se


lembrava. Ele lembrava também da maravilhosa vista que teve de
cima do Corcovado, onde fica a imagem do Cristo Redentor. Lá de
cima, quando o tempo está bom e as nuvens não bloqueiam a
visão, pode-se ver a Lagoa Rodrigo de Freitas e as outras áreas do
Rio, e é uma vista magnífica! O Rio de Janeiro, pensa Roberto, é
realmente, uma cidade maravilhosa, mesmo hoje, com tantos
problemas que existem lá.

Roberto está agora na casa dos cinquenta anos. Muitas foram


suas experiências depois de sua missão de dois anos. Agora já
casado, com filhos crescidos, ele ainda está firme na Igreja
Mórmon. Sua visão da vida, de religião, do mundo, se ampliou
bastante, porque ele é um “devorador de conhecimento” e está
sempre lendo, vendo filmes, documentários e tudo o que lhe cai
nas mãos.

Para quem é do tempo da máquina de escrever e que ainda


nem se sonhava com computadores pessoais, celulares e outras
tantas tecnologias recentes, a Internet é uma grande festa!

Roberto pesquisa todo dia alguma coisa de assuntos tais


como ufologia, tribos perdidas, astronomia e tantos outros temas
que o interessam, além dos assuntos mais “concretos”, como
profissão e religião. E para quem é curioso como ele, não existe
coisa melhor do que a Internet, que é uma verdadeira janela para o
conhecimento. Só que ele sabe que tem que tomar cuidado com o
que se vê ou lê na Internet, pois nem tudo o que se vê lá é verdade.

“A história”, Roberto aprendeu, “foi escrita pelos vencedores”,


portanto, antes de se acreditar em alguma coisa- mesmo que se
ouça a notícia num respeitado jornal da TV, é preciso analisar bem
para ver por que tal notícia (ou assunto) está sendo abordado nesse
momento, e a quem interessa tal abordagem desse assunto.

Mundo difícil esse que vivemos hoje, pensa Roberto. Com


tantos conhecimentos à disposição, agora, mais do que nunca,
precisamos de sabedoria divina para conseguir separar o joio do
trigo, a verdade da mentira, o acerto do erro.

Mas aquilo que o Dr. Cintra disse na praça pública para o


Roberto continua verdade hoje: o crime não compensa. Ou, nas
palavras do advogado: “se os malandros e vigaristas soubessem
como é bom ser honestos, seriam honestos até por vigarice”

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Conto de Luiz Polito

Bauru-SP. junho 2010

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