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Artigo de revisão

INSUFICIÊNCIA RENAL E RABDOMIÓLISE INDUZIDAS POR EXERCÍCIO FÍSICO

Rev Port Nefrol Hipert 2003; 17 (4): 189-197

Insuficiência renal e rabdomiólise


induzidas por exercício físico

José Galvão, Luís Gusmão, Marília Possante

Serviço de Nefrologia e Hemodiálise


Departamento de Medicina do Hospital Militar Principal de Lisboa

RESUMO tratamento das complicações e a prevenção


da rabdomiólise induzida pelo exercício físico.
A rabdomiólise é uma situação ocasional-
mente induzida pelo exercício físico, sendo o Palavras-chave: Exercício físico; Hemoglobi-
treino militar uma das situações mais núria; Insuficiência renal aguda; Rabdomiólise.
conhecidas neste domínio. A insuficiência re-
nal aguda é comum nestas situações, mas
existem alguns factores susceptíveis de diminuir Acute renal failure and rhabdomiolysis in-
a sua incidência, designadamente a progra- duced by physical exercise
mação do treino e as condições climatéricas
em que o exercício é desenvolvido. A correcção Rhabdomiolysis is a well known complica-
destes factores de agravamento constitui um tion of vigourous exercise, such as in military
objectivo fundamental. recruits undergoing basic training.
Os autores abordam neste artigo os meca- Acute renal failure is a not uncommon com-
nismos de lesão renal, a evolução clínica, o plication, mainly if training is not well performed,
or if the exercise takes place in adverse
enviromental conditions such as heat or humid-
ity, and if there is dehydration. Individuals in
good physical shape are not at risk of this con-
dition.
Recebido em 14/10/2002
Aceite em 13/01/2003
This article is a review of renal lesion mecha-

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José Galvão, Luís Gusmão, Marília Possante

nisms, clinical evolution, treatment of compli- condições de treino mal programadas, exercício
cations and preventable intervention in physi- muito violento, sobretudo de tipo excêntrico, ou
cal exercise induced rhabdomiolysis. condições climatéricas adversas (excesso de
calor ou humidade) poderá ocorrer rabdomió-
lise1,7. Inicialmente associada quase exclusiva-
mente ao treino militar, esta encontra-se hoje
descrita nas mais variadas situações de desem-
penho de exercício físico violento: maratonas,
INTRODUÇÃO “fitness”, etc.1.
Existe provavelmente um certo grau de
O exercício físico foi sempre intuitivamente rabdomiólise em todo o exercício físico violento
considerado benéfico, mas só nas últimas de que são consequência as dores musculares,
décadas a medicina acumulou dados que o empastamento e dificuldade de locomoção nos
confirmam. No entanto, o exercício poderá dias subsequentes ao desenvolvimento do
acarretar consequências nocivas, cujo espectro mesmo1.
é muito vasto, podendo ir desde simples A rabdomiólise é um síndrome caracterizado
fasceíte plantar até quadros graves de colite por necrose muscular com libertação de cons-
isquémica ou mesmo morte súbita1. Quando tituintes celulares para a circulação sanguínea1.
muito intenso ou desenvolvido em condições A sua incidência no exercício físico é muito
adversas poderá originar líse muscular, variável entre os diversos autores, dependendo
provocando rabdomiólise1-4. das características da população estudada8-10.
A primeira descrição moderna da rabdomió- Do ponto de vista fisiopatológico alguns autores
lise é atribuída a Bywaters e Bell4, que em 1941 aceitam a existência de condicionante genética,
descreveram quatro casos de síndrome de mas esta hipótese não é aceite por todos. A
esmagamento durante o bombardeamento de necrose isquémica consequente a alterações
Londres. Todos eles desenvolveram insuficiên- hemodinâmicas ou de hidratação, assume
cia renal aguda (IRA), tendo falecido durante a papel importante no inicio da lesão muscular1.
primeira semana. O exame microscópico reve- A hipocaliémia resultante da deplecção por
lou cilíndros fragmentados a nível tubular re- sudorese condiciona redução da irrigação
nal, no entanto a relação entre a lesão muscu- sanguínea, tendo como resultado caimbras e
lar e a insuficiência renal não ficou esclarecida. necrose isquémica, contribuindo também para
Nos anos subsequentes várias outras rabdomiólise11.
etiologias lhe foram associadas, designada- A lesão da membrana das células muscu-
mente o trauma cirúrgico, toxinas e intoxicações lares resulta de lesão mecânica directa12-14 ou
por drogas, tendo sido também incluído o exer- incapacidade em manter os gradientes osmó-
cício físico como causa etiológica e classifi- ticos, com consequente libertação de consti-
cativa por Korein5 et al em 1959. Em 1972 tuintes intracelulares: mioglobina, hemoglobina,
Rowland incluiu-o na revisão clássica da miog- endotoxinas, substâncias tóxicas vasoactivas,
lobinúria6. percursores das purinas, creatinina, potássio,
Nem todo o exercício físico desencadeia ácido úrico, cálcio, fosfato e creatinoquinase
lesão muscular. No entanto, se desenvolvido (CK)2, 15. Se algumas destas substâncias não
em situações particulares, designadamente impõem qualquer atitude, outras, acima de

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INSUFICIÊNCIA RENAL E RABDOMIÓLISE INDUZIDAS POR EXERCÍCIO FÍSICO

determinados níveis, terão de ser corrigidas, • Quantidade de proteínas de ligação


devido às consequências nefastas que origi- existente (comprometida se existir doença
nam. Estas substâncias poderão ser recicladas, hepática).
metabolizadas ou excretadas por via renal, • Taxa de filtração glomerular na altura da
hepática ou intestinal1. libertação dos hemes.
• Poder de reabsorção a nível tubular.
• No entanto, uma vez presentes na urina,
e em determinadas situações, estas
substâncias adquirem capacidade nefro-
MECANISMO DE LESÃO RENAL tóxica16:
• Coexistência de desidratação, choque,
1 – Citotoxicidade ao nível do tubo hipovolémia, febre, acidose.
proximal • Lesão renal prévia, por isquémia ou anó-
xia.
A hemoglobina e a mioglobina, contraria- • Administração concomitante doutro
mente ao que inicialmente se pensava, parecem agente nefrotóxico.
não ter só por si carácter nefrotóxico (1). Ambas
circulam ligadas a proteínas (hemoglobina com Ambas podem ser dissociadas em hematina
haptoglobina e mioglobina com globulina), (ferrihemato) na presença de pH urinário <5,6,
aparecendo na urina apenas após saturação sendo esta hematina directamente nefrotóxica17,
da sua capacidade de ligação proteica. Existem 18
. Enquanto a hemoglobina só penetra nas
no entanto diferenças substanciais entre as células se elas tiverem sido lesadas previa-
duas. O poder de ligação da mioglobina é menor mente por isquémia, anóxia ou hematina, a
(acima de 23 mg/dl liga-se apenas em 50%). mioglobina, dado o seu PM mais baixo, penetra
Este monómero é também mais facilmente nas células mais facilmente e alguns autores
filtrável porque o seu peso molecular (PM) é atribuem-lhe carácter nefrotóxico directo,
menor (17.000 d), dando à urina a cor tipica- mesmo que presente em meio alcalino.
mente escura1. Em contrapartida a hemoglobina
é fracamente filtrada, devido à sua grande
dimensão (PM = 69.000 d na forma de tetrámero 2- Obstrução intratubular
e 34.000 d na forma de dímero). Consequen-
temente a existência de hemoglobinúria Contrariamente a outras situações de ne-
pressupõe elevada concentração sérica, o que crose tubular aguda (NTA), a excreção fraccio-
confere ao plasma coloração tipicamente nal de sódio é muitas vezes inferior a 1, facto
vermelha ou castanha. Ao contrário, a mioglo- que poderá reflectir a existência preponderante
bina não produz alteração da coloração do soro. de obstrução tubular19.
As duas proteínas são reabsorvidas a nível tu-
bular por endocitose.
O aparecimento dos hemes pigmentados na
urina está assim dependente dos seguintes
factores:

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3- Outros factores que contribuem também com mioglobinémia, mioglobinúria e aumento


para a lesão renal são: de CK22, 23. A urina escura poderá aparecer após
exercício físico também devido a outras causas:
Isquémia por deplecção de volume. No hemólise, hepatite, malária, drogas, trauma-
modelo animal, as alterações hemodinâmicas tismo genito-urinário ou nefropatias1, 21. Outras
que induzem IRA poderão ser devidas a vezes a pigmentúria poderá não existir, se a
activação do sistema renina-angiotensina, quantidade de mioglobina for insuficiente para
redução do volume extracelular provocando provocar alteração perceptível da coloração da
hipoperfusão renal e alteração da síntese das urina, ou se eventualmente passou desperce-
prostaglandinas. bida na fase prévia à observação clínica. A
A própria lesão muscular provoca sequestro clearence da mioglobina é mais rápida do que
de fluidos que podem atingir 12 l nas primeiras a dos enzimas, não sendo invulgar a elevação
48 horas. Esta redução da perfusão renal pode dos niveis séricos do CK não acompanhada de
ainda ser exacerbada pela inibição do efeito presença da mioglobina. De igual modo a
vasodilatador do óxido nitrico induzida pela mialgia é também muito variável de doente para
hemoglobina, já que aquele é o principal factor doente e se no síndrome de esmagamento a
de relaxamento endotelial. A Alteração da lesão muscular é óbvia, noutras situações esta
permeabilidade da membrana por deposição de pode nunca se tornar evidente, ou decorrer com
fibrina e a oxidação celular com libertação de sintomas mínimos.25
radicais livres, também podem contribuir. A A libertação dos constituintes intracelulares
hiperuricémia em situações de hipovolémia com provoca hipercalcémia, hiperfosfatémia e
diminuição da diurese, e em presença de urina hiperuricémia, no entanto o aumento do CK é a
ácida, pode provocar deposição de cristais de marca da lesão muscular, encontrando-se
urato a nível tubular renal. aumentada em todos os casos de rabdomiólise,
podendo atingir valores >100.000 UI/ l. A
fracção do CK aumentada é quase exclusiva-
QUADRO CLÍNICO E LABORATORIAL mente a MM, no entanto a fracção MB poderá
também encontrar-se acima do normal, o que
A apresentação clássica da rabdomiólise1,20 se explica devido à libertação da fracção
é constituída pela tríade: existente a nível do músculo esquelético, embora
· Mialgias. em pequenas quantidades, se comparada com
· Fraqueza muscular. a existente ao nível do músculo cardíaco1.
· Urina escura. Frequentemente existem também elevação
da desidrogenase láctica e da transaminase
Estes sintomas são extraordinariamente glutamico oxalacética, bem como da aldolase,
inconstantes e não específicos, podendo estar sendo esta específica da lesão muscular, porém
ausentes em cerca de 50% dos casos, de difícil determinação laboratorial. Na fase
sobretudo na fase inicial da doença, pelo que o inicial é característica a hipocalcémia, não só
diagnóstico precoce exige quase sempre um por deposição de fosfato de cálcio a nível do
alto índice de suspeição clínica e posterior músculo lesado com entrada do cálcio nas
confirmação laboratorial21. células musculares, mas também por dimi-
O exercício físico decorre frequentemente nuição dos níveis de 1,25 - dihidrocolecalciferol

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induzido pela hiperfosfatémia. Porém nas fases Laboratoriamente podemos também encon-
mais tardias a reabsorção destes depósitos e/ trar17:
ou a tentativa de correcção dos valores de cálcio • Acidose metabólica por acumulação
para níveis óptimos poderá provocar hipercal- sérica de hidrogénio e sulfato devido a
cémia. Existem ainda outros factores implicados libertação de proteínas excedendo a
no equilíbrio fosfocálcico, designadamente capacidade de excreção renal;
resistência óssea à paratormona, que contribui • Acidose láctica e urémica;
para a hipocalcémia. A hipercalcémia, caracte- • Leucocitose;
rística da fase diurética, deve-se também ao • Cilindros granulosos pigmentados;
aumento dos níveis de 1,25 – dihidroco- • Aumento de bilirrubina;
lecalciferol por recuperação da função renal. • Trombocitopénia e descida de fibrino-
Lopes et al encontraram aumento substan- génio, existindo muitos casos que de-
cial do cálcio intracelular ao nível do músculo correm com coagulação intravascular
do doente com rabdomiólise, não se sabendo disseminada (CID).
se este aumento sucede ou precede o quadro
de rabdomiólise1, 26. Embora laboratorialmente seja característica
A presença de mioglobinúra estabelece o a tríade: elevação do CK, urina escura e cilin-
diagnóstico de rabdomiólise, no entanto esta dros granulosos pigmentados, o diagnóstico
poderá não estar presente à data da obser- assenta fundamentalmente na suspeição clínica
vação1, 20-23. A sua pesquisa através do teste na altura da avaliação inicial da doença, dado
Dipstick (ortotuloidina) é de fácil determinação. que muitas das situações se encontram
No entanto este reage também com o fragmento decapitadas21.
globina, pelo que constitui diagnóstico apenas O despiste poderá ser efectuado com a ajuda
na ausência de hematúria ou hemólise 1 . do teste Dipstick que, sendo positivo na au-
Algumas séries referem este teste positivo em sência de hematúria, é fortemente sugestivo de
74% de doentes com rabdomiólise sem mioglobinúria, não dispensando contudo a
hematúria. No entanto a determinação por RIA restante avaliação laboratorial29.
tem maior sensibilidade e especificidade18, 23.
A mioglobina pode ser detectada na urina
quando os níveis de soro excedem valores de COMPLICAÇÕES
1.500 a 3.000 mg/ml. O doseamento da
mioglobina sérica é de dificil determinação labo- As complicações da rabdomiólise advêm dos
ratorial, e nem sempre é um teste disponível. efeitos locais da líse muscular e dos efeitos
A libertação de creatinina intracelular e sistémicos das substâncias libertadas. A lesão
também de creatina, com consequente conver- do sarcolema induz várias trocas entre os
são em creatinina a nível do fluido extracelular compartimentos extra e intracelulares. Estas
provoca um aumento desproporcional relativa- mudanças hidroelectrolíticas podem causar
mente aos níveis da ureia, desta forma a relação alterações bioquímicas e hemodinâmicas
ureia/creatinina é mais baixa do que o normal, significativas nas horas e dias subsequentes à
podendo atingir valores <10, o que, na ausência lesão muscular30.
de azotémia pré-renal, é também muito suges- A nível sistémico existe habitualmente de-
tivo de rabdomiólise27, 28. plecção de volume por sequestro de fluidos a

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nível muscular que pode motivar hipovolémia Dado que o maior erro nestas situações
(por vezes com choque), e alterações bio- é a não hidratação conveniente, a
químicas (hipercaliémia, hiperfosforémia, hipe- avaliação do estado hídrico deve ser
ruricémia, hipocalcémia e acidose matabólica), efectuada através da medição da PVC ou
carecendo de intervenção terapêutica20, 25. A monitorização hemodinâmica através de
CID é resultante da activação da cascata da cateter de Swan-Ganz.
coagulação por factores libertados a nível mus- • Forçar diurese com manitol: a diurese
cular e a insuficiência renal é devida a múltiplos osmótica pode prevenir a precipitação
factores já atrás abordados, podendo atingir tubular e aumentar a clearence dos
uma incidência de 17% a 40% 1, sendo no pigmentos. Após correcção da hipovolé-
entanto menor no caso de rabdomiólise conse- mia, administrar manitol na dose de 25
quente ao exercício físico, quando comparada gr/6h até desaparecimento da mioglobi-
com outras etiologias, provavelmente devido a núria, excepto se houver contraindicação
inexistência de cofactores nefrotóxicos8, 9, 31. por excesso hídrico ou de osmolaridade35,
A IRA oligúria é frequente no inicio da doença 37
. No caso de não obtenção de resposta
sendo a lesão renal devida a contribuição diurética iniciar furosemida.
conjunta da isquémia, da obstrução tubular • Administrar bicarbonato de sódio para
pelos hemes pigmentados (mioglobinúria alcalinização da urina mantendo um Ph
devido a rabdomiólise ou hemoglubinúria devida urinário > 6 < 7,45. Se o Ph for > 7,45
a hemólise intravascular), e ainda da lesão tu- suspender bicarbonato ou administrar
bular pelo ferro livre30-33. acetazolamida (10, 35)
Localmente pode ocorrer edema com • A hipercaliémia deve ser corrigida se o
síndrome de compartimento, que pode potássio for > 6 mEq/l ou se existirem
necessitar de fasciotomia 27, 34. Tardiamente alterações da condução ventricular. A
pode existir hipercalcémia pelas razões atrás terapêutica convencional com insulina e
referidas. glicose não é eficaz, tal como os beta
agonistas ou bicarbonato de sódio, por
lesão da membrana celular, podendo
INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA exigir utilização de resina permutodara de
iões ou mesmo recurso a depuração ex-
O objectivo fundamental deve consistir na trarenal.
prevenção das complicações. Assim, na • ·A hiperuricémia deve ser corrigida, se for
presença de mioglobinúria ou se os níveis de severa, com administração de allopurinol;
CK forem superiores a 5.000UI/ L, torna-se no entanto a hidratação adequada é
indispensável: suficiente para prevenir complicações dos
• Hidratação agressiva e precoce, inicial- níveis elevados do ácido úrico.
mente com necessidades que podem ser • A hiperfosfatémia deve ser corrigida com
superiores a 10l/dia. Deve iniciar-se com quelantes, de forma a evitar deposição
soro fisiológico (2.000 – 3.000 ml/h) até tecidular e produção de 1–25 dihidroco-
estabilidade hemodinâmica, convertendo- lecalciferol. A administração de cálcio
se a 300 – 500 ml/h para manter uma pode agravar a deposição a nível mus-
diurese mais ou menos 300 ml/h1, 10, 35-37. cular sob a forma de fosfato de cálcio, e

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provocar agravamento da hipercalcémia desenvolve, designadamente calor e humi-


na fase diurética de recuperação da IRA. dade22.
Desta forma a administração de cálcio Promover treino prévio e progressivo1, 17 dado
deve ser reservada apenas para a que este tem os seguintes benefícios:
hipercaliémia severa ou hipoperfusão por • Melhora o fluxo renal por reduzir a acti-
disfunção ventricular. vação do sistema nervoso simpático, com
diminuição de angiotensina II, norepine-
O síndroma de compartimento pode ser frina, dopamina, neuropeptidos e endote-
agravado pela hidratação, carecendo de linas.
fasciotomia (38). A IRA impõe muitas vezes • Melhora o metabolismo da glicose.
recurso a técnicas dialiticas. No entanto há • Aumenta o reflexo cardiaco que por sua
alguns aspectos que se revelam de importância vez diminui o reflexo simpático.
para a sua prevenção, embora por vezes • Melhora a redistribuição da irrigação san-
controversos: guínea por aumento do débito cardíaco
• A oligúria e acidúria potenciam o início provocando vasodilatação e promovendo
de lesão renal. “roubo” vascular dos órgãos inactivos.
• A alcalinização da urina com bicarbonato • Aumenta os substratos neoglicogénicos
protege a lesão renal pela mioglobinúria. no fígado (lactato, alanina, glicerol) e
No entanto a administração de bicarbo- diminui também a neoglicogénese devido
nato pode também ser deletéria, já que a a aumento de oxidação do lactato pelo
alcalose metabólica pode agravar a músculo esquelético.
hipocalcémia20. O aumento da diurese só • Atenua em cerca de 20% a redução da
por si pode aumentar o Ph urinário, não perfusão renal que acontece durante o
carecendo portanto de administração de exercício.
bicarbornato.
• A administração de manitol é também O prognóstico destas situações, em termos
controversa. Pode reduzir o consumo de de sobrevivência, é favorável em cerca de 78%
oxigénio a nível tubular renal por reduzir dos casos , verificando-se uma recuperação
a reabsorção de sódio, o que pode dimi- total da função renal27. Os níveis do CK deverão
nuir a isquémia renal. No entanto a admi- descer 50% de 48 em 48 horas. Em caso
nistração de manitol deve ser efectuada contrário suspeitar da eficácia terapêutica ou
com prudência, já que a diurese osmótica de fenómeno de «second wave» consequente
pode, se não se proceder a reposição a mioedema, acidose e hiperuricémia, que
adequada de volume, agravar a hipovo- agravam a isquémia inicial. Embora nem
lémia. sempre os níveis enzimáticos sejam preditivos
do desenvolvimento de IRA, existe contudo uma
boa correlação: 58% dos doentes que
INTERVENÇÃO PREVENTIVA E EVOLUÇÃO desenvolvem IRA apresentam níveis de CK >
16.000 g/l enquanto, apenas 11% dos doentes
É fundamental proporcionar adequada que não desenvolvem IRA apresentam estes
hidratação pré, intra e pós-exercício, e ter em níveis39.
atenção as condições ambientais onde este se Em conclusão podemos afirmar que:

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José Galvão, Luís Gusmão, Marília Possante

• As repercussões renais motivadas pelo 11. LONKA L, PEDERSEN RS. Fatal rhabdomyolysis in a marathon
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