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I

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CENTRO TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

INFLUÊNCIA DAS DISTORÇÕES HARMÔNICAS EM DISPOSITIVOS DE


PROTEÇÃO DE SISTEMAS INDUSTRIAIS

REINALDO CORRÊA LEITE

DM 04 / 2007

UFPA / CT / PPGEE
Campus Universitário do Guamá
Belém-Pará-Brasil
2007
II

Este trabalho é dedicado à minha esposa Cecília.


Pelo amor que me serviu de inspiração
e pelo incentivo que me deu para
que eu concluísse mais esta
jornada na minha vida profissional.
III

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CENTRO TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

REINALDO CORRÊA LEITE

INFLUÊNCIA DAS DISTORÇÕES HARMÔNICAS EM DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO


DE SISTEMAS INDUSTRIAIS

DM 04 / 2007

UFPA / CT / PPGEE
Campus Universitário do Guamá
Belém-Pará-Brasil
2007
IV

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CENTRO TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

REINALDO CORRÊA LEITE

INFLUÊNCIA DAS DISTORÇÕES HARMÔNICAS EM DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO


DE SISTEMAS INDUSTRIAIS

Dissertação submetida à
Banca Examinadora do
Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Elétrica da
UFPA para a obtenção do
Grau de Mestre em
Engenharia Elétrica

UFPA / CT / PPGEE
Campus Universitário do Guamá
Belém-Pará-Brasil
2007
V

(ficha catalográfica) – fornecida pela biblioteca do ppgee


“Verso da folha anterior”
VI

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CENTRO TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

INFLUÊNCIA DAS DISTORÇÕES HARMÔNICAS EM DISPOSITIVOS DE


PROTEÇÃO DE SISTEMAS INDUSTRIAIS

AUTOR: REINALDO CORRÊA LEITE

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA À AVALIAÇÃO DA BANCA


EXAMINADORA APROVADA PELO COLEGIADO DO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DO PARÁ E JULGADA ADEQUADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE EM ENGENHARIA ELÉTRICA NA ÁREA DE SISTEMAS DE
POTÊNCIA.

APROVADA EM 27/04/2007

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Ghendy Cardoso Júnior


(ORIENTADOR – UFSM)

Prof. Dr. Marcus Vinicius Alves Nunes


(MEMBRO – UFPA)

Profa. Dra. Maria Emília de Lima Tostes


(MEMBRO – UFPA)

Profa. Dra. Carminda Célia Moura de Moura Carvalho


(MEMBRO – UFPA)

Prof. Dr. Raimundo Nonato das Mercês Machado


(MEMBRO – CEFET)

VISTO:

Prof. Dr. Evaldo Gonçalves Pelaes


(COORDENADOR DO PPGEE/CT/UFPA)
UFPA / CT / PPGEE
VII

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que me proporcionou todas as condições para que eu atingisse meus
objetivos.

A minha família em especial minha esposa Cecília e também a minhas filhas Gabriela e
Beatriz.

A meu pai Reinaldo e minha Mãe Nadiege.

Ao Prof. Dr. Ghendy Cardoso Jr pela orientação na condução deste trabalho. Aos Profs
Drs Jurandyr Garcez Nascimento e Roberto Célio Limão pela confiança em mim
depositada quando fui aceito no PPGEE.
VIII

SUMÁRIO
IX

LISTA DE ILUSTRAÇÕES
X

LISTA DE TABELAS
XI

RESUMO

Nos últimos anos o sistema elétrico, seja no Brasil ou no mundo, vem passando por
diversas mudanças. Estas vão desde mudanças de ordem estruturais tais como a
desregulamentação, privatização, mudança de modelo de mercado, entre outros, até
aquelas de ordem técnica impostas pelas novas tecnologias surgidas nos últimos anos do
século vinte. Dentre estas últimas destaca-se o crescimento do uso de cargas não
lineares tais como computadores, inversores de frequência, dispositivos FACTS
(Flexible AC Transmission Systems). Tais cargas têm a característica de distorcer as
ondas de corrente e tensão no sistema elétrico de potência. Os relés que protegem o
sistema de potência e os transformadores de instrumento que lhes fornecem
informações, são projetados para operar com formas de onda fundamentais puras e não
distorcidas. Para proteger o sistema de potência os relés devem responder ao valor RMS
verdadeiro destas formas de onda. Este trabalho tem por objetivo estudar os efeitos
causados por problemas de qualidade de energia em relés e transformadores de
instrumentos e propor soluções para mitigação dos problemas que possam advir desta
influência.

PALAVRAS-CHAVES: Sistemas de proteção, harmônicos, qualidade de energia,


simulação computacional.
XII

ABSTRACT

The electric power system, in Brasil or in the rest of the world, is experiencing several
changes. These changes vary from structural changes as the processes of deregulation,
privatization and changes in the market model to technical such as those imposed by the
new technologies which emerged in the last years of the twentieth century. An example
of these changes is the growing use of non-linear loads such as computers, adjustable
speed drives, HV dc links and FACTS (Flexible AC Transmission Systems) devices.
Such loads distort the current and voltage waveforms on the power system. The relays
that protect the power system and instrument transformers, which provide information
for the relays, are designed to operate with pure, undistorted fundamental waveforms.
To properly protect the power system they should respond to the true RMS value of the
current and voltage waveforms. This thesis has the objective to study the effects caused
by power quality problems in power systems relays and instrument transformers and
suggests solutions to mitigate the problems that may arise from such influence.

KEYWORDS: Protection systems, power quality, harmonics, computer simulation.


1

1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo são apresentadas algumas considerações relativas à influência das


distorções harmônicas no funcionamento dos sistemas de proteção de modo a introduzir
o problema a ser abordado. Também são ressaltadas as contribuições do trabalho, além
de uma breve revisão bibliográfica dos principais trabalhos desenvolvidos na área.

1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

A principal função de um sistema de proteção é salvaguardar os equipamentos que


compõe o sistema potência contra os efeitos causados por faltas através do desligamento
da parte afetada por esta. O dimensionamento da proteção um sistema elétrico é uma
arte, pois ele deve combinar rapidez e confiabilidade a um custo mínimo. Estes três
elementos são antagônicos e deve-se chegar a uma solução de compromisso entre eles.
Para que não haja a menor possibilidade de uma falta causar danos a pessoas ou
equipamentos, a proteção deverá retirar o circuito faltoso o mais rápido possível, ou
seja, a qualquer sinal de anormalidade a proteção deve retirar rapidamente o
equipamento afetado de serviço. Um sistema será considerado confiável se cada um dos
seus componentes executarem suas funções conforme previsto. Assim, a falha de um
componente causará a falha do sistema como um todo. Os relés ao contrário de outros
equipamentos podem falhar i.e., não serem confiáveis de duas maneiras: não operarem
quando devem ou operar quando não devem. Deste modo, a confiabilidade para relés
está dividida em FIDEDIGNIDADE e SEGURANÇA (HOROWITZ & PHADKE,
1995). Fidedignidade é definida como a medida da certeza de que um relé operará de
maneira correta para todas as condições para as quais ele foi ajustado (falha de
operação). Por outro lado, a segurança mede a certeza com que os relés não operarão em
falso (trip indevido).

Por outro lado, ao longo dos últimos anos o uso de dispositivos baseados em
tecnologia de eletrônica de potência vem crescendo vertiginosamente. Este fato causou
o aumento do conteúdo de harmônicos tanto na onda de tensão como na de corrente no
sistema da concessionária (MORENO, 2001). Estes dispositivos são usados em uma
gama de equipamentos que vão desde os conversores de freqüência utilizados para
variar a velocidade de motores elétricos de indução, carregadores de baterias mono e
trifásicos, sistemas de iluminação (reatores eletrônicos e lâmpadas e de descarga) e
2

computadores com suas UPS. Todos os equipamentos citados são comumente achados
em sistemas industriais.

Os relés que fazem a proteção do sistema de potência são projetados para operar com
ondas senoidais puras, na frequência fundamental e sem distorções. Para proteger
adequadamente o sistema de potência eles devem responder ao valor RMS verdadeiro
das ondas de corrente e tensão (FULLER et al.,1998). A presença de harmônicos no
sistema altera o valor RMS, podendo levar os relés de proteção a operarem
indevidamente reduzindo a confiabilidade do sistema.

Para sistemas industriais a confiabilidade e o custo são fatores de importância


capital. Um sistema de proteção de baixa confiabilidade expõe a empresa a riscos
inaceitáveis, que vão desde a perda de receita por parada de produção até a danos
materiais causados por curtos-circuitos em equipamentos industriais.

1.2 CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO

O presente trabalho visa analisar o comportamento de relés de proteção digitais e


eletromecânicos, em sistemas industriais, considerando a presença de harmônicos. Para
tal são realizadas simulações nos programas ATP e MATHCAD, com modelos
computacionais de transformadores de corrente e relés retirados da bibliografia.
O TC é simulado no programa ATP através do modelo de transformador
saturável disponível no mesmo. O resultado da simulação do TC é usado como entrada
para os modelos de relé que rodam no programa MATHCAD e utilizam dois
algorítimos: o algorítimo DFT, que simula um relé digital e o RMS que é usado para
simular um relé eletromecânico.
O funcionamento dos relés é observado para as seguintes situações: sistema com
presença de 5ª e 7ª harmônicas em operação normal e em curto-circuito, sistema sem a
presença de harmônicos também para condições de operação normal e em curto curto-
circuito e por fim é simulada a operação de um relé de neutro com a presença de
correntes de 3ª harmônica.
A metodologia proposta pode ser facilmente implementada e utilizada para
validar esquemas de proteção em sistemas reais, novos ou existentes, uma vez que a
definição dos ajustes das proteções é feita considerando a operação em frequência
fundamental.
3

1.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O interesse pelo comportamento de relés de proteção frente a ondas de corrente


distorcidas por harmônicos não é novo. Em 1973, SARAMAGA et al. analisaram o
efeito das distorções harmônicas em relés de indução a disco. Em 1974, JOST et al.
apresentaram um artigo sobre os efeitos de harmônicos em relés de proteção.
Até meados dos anos 80 diversos grupos de trabalho publicaram artigos sobre a
influência de harmônicos em sistemas de proteção, a saber: o WAVE DISTORTION
ON INTERCONNECTION WORKING GROUP e o POWER SYSTEM RELAYING
COMMITEE da Power Engineering Society do IEEE 1984, que publicou um relatório
apontando a impossibilidade da definição de como os relés de proteção responderiam
aos harmônicos em função da variedade de relés e métodos usados por eles.
FULLER et al. (1988) estudaram a desempenho de relés de subfrequência e
sobrecorrente submetidos a formas de onda de tensão e corrente não senoidais de
maneira experimental variando a frequência e o defasamento das componentes
harmônicas de maneira controlada usando um gerador de formas de onda com um
circuito com bloqueio de fase, mostrando que os relés de subfrequência e de
sobrecorrente tiveram o seu desempenho prejudicado de maneira considerável pela
presença dos harmônicos, principalmente a função instantânea dos últimos.
BROZEK (1990) diz que em conseqüência das correntes harmônicas, a
confiabilidade de dispositivos de sobrecorrente fica reduzida já que eles são
dimensionados para valores RMS de correntes não distorcidas. Como conclusão é
sugerido que para ambientes ricos em correntes harmônicas, devem ser especificados
dispositivos de sobrecorrente que respondam ao valor RMS verdadeiro aumentando
assim a confiabilidade do sistema de proteção.
ELMORE et al. (1991) conduziram testes para examinar diversos relés
eletromecânicos, de estado sólido e micro processado sob influência de harmônicos.
Suas conclusões foram de que a influência das frequências harmônicas misturadas e
com magnitude decrescente com a ordem harmônica no comportamento dos relés de
proteção em regime permanente foi insignificante, porém alguns tipos de relés
mostraram uma mudança distinta na operação quando foram testados com apenas uma
frequência acima da fundamental, especialmente os eletromecânicos. Já o IEEE STD
519 (1992) diz “Fatores de distorção da ordem de 10-20% geralmente causam
problemas na operação de relés.”
4

No trabalho apresentado pelo POWER QUALITY LAB (1994) da Wichita State


University, patrocinado pelo Kansas Electric Utilities Research Program, foram
analisados 29 relés de diferentes tipos e tecnologias. Para tal, foi desenvolvido um
sistema composto por um computador de modo a gerar a forma de onda, amplificadores
de corrente e tensão e um computador para coletar dados. O trabalho mostrou que todos
os relés apresentaram erros positivos, negativos ou ambos, dependendo da frequência e
da magnitude da distorção, e ainda, que poderiam ocorrer falhas em ações de trip ou
trips espúrios, caso não se levasse em conta as distorções harmônicas para relés
aplicados em sistemas com sua presença.
ZOCHOLL & BENMOUYAL (1998) apresentam as respostas de relés micro
processados usando um algorítimo baseado no filtro cosseno para formas de ondas com
conteúdos harmônicos de 3ª ordem em neutros de sistemas de distribuição, correntes de
retificadores de seis pulsos com ressonância, corrente de magnetização na energização
de transformadores e correntes diferenciais falsas em transformadores de corrente em
barras em anel causadas por remanência desigual. Eles concluem que a informação está
na componente fundamental e que as frequências harmônicas apenas interferem no
resultado.
O relatório do IEEE PSRC WORKING GROUP (2005) faz uma consideração
sobre a influência das distorções harmônicas em relés de proteção digital. Os autores
afirmam que os harmônicos que mudam rapidamente são os que têm o pior efeito sobre
relés de proteção e mais que níveis altos de harmônicos podem causar operações
indevidas de relés por causa do erro de medição dos valores de pico e/ou ângulo da
forma de onda. Assim para evitar este problema os relés devem medir a componente
fundamental do sinal e para isso deve ser usado um algorítimo que use a transformada
de Fourier para filtrar a distorção harmônica e obter o valor da componente de
frequência fundamental.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Em continuação ao trabalho, o Capítulo 2 faz uma revisão sobre os conceitos de


proteção de sistemas de potência, discutindo os objetivos do sistema de proteção,
mostrando seus componentes, apresentando a maneira como a confiabilidade se aplica a
sistemas de proteção, além de mostrar os princípios fundamentais da proteção por relés.
5

O Capítulo 3 faz um histórico do problema de harmônicos em sistemas de


potência, apresenta algumas definições, identifica as cargas geradoras de harmônicos
normalmente presentes em sistemas industriais, mostra quais são as perturbações
causadas pela presença de harmônicos no sistema elétrico e como é feita a modelagem
da propagação de harmônicos no sistema de potência. Por fim, discute-se o efeito das
distorções harmônicas em sistema de proteção.
O Capítulo 4 é dedicado à apresentação dos transformadores de corrente através
do seu comportamento em regime permanente e transitório, a sua modelagem em
sistemas contendo harmônicos e análise do comportamento do erro do TC sob a
presença de harmônicos.
O Capítulo 5 é dedicado aos relés de proteção digitais e contempla: um breve
histórico sobre a evolução da tecnologia aplicada aos relés de proteção, a vantagem do
uso dos relés digitais em relação aos eletromecânicos e de estado sólidos, e por fim, os
algoritmos usados em relés de proteção.
Alguns resultados obtidos por meio de simulação são apresentados e comentados
no Capítulo 6. No Capítulo 7 são apresentadas as conclusões mais relevantes obtidas ao
longo do andamento do trabalho.
6

2 PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

2.1 O QUE É PROTEÇÃO DE SISTEMAS DE POTÊNCIA?

A eletricidade é para a sociedade atual, um de seus principais recursos. Com esta


fonte de energia somos capazes de alimentar: indústrias, hospitais, centrais de
abastecimento de água entre tantas aplicações importantes. Podemos dizer que a falta da
energia elétrica é um grande transtorno para nossa vida.
A energia elétrica é produzida em usinas afastadas dos grandes centros urbanos.
Para que esta chegue às cidades deve-se transmiti-la através de linhas de transmissão e
distribuí-la pelo sistema de distribuição. A geração, transmissão e distribuição formam
o sistema elétrico de potência, que é cuidadosamente planejado, projetado, instalado e
operado para que a energia elétrica seja entregue aos consumidores, considerando os
perfis de tensão e frequência especificados.
Os sistemas de distribuição, transmissão e geração são formados por uma rede
complexa de geradores, transformadores e linhas, que estão sujeitos a distúrbios
oriundos de causas naturais, falhas em equipamentos ou erro humano.
A proteção é a parte da engenharia elétrica que se preocupa com os princípios do
projeto e operação dos equipamentos que detectam condições anormais de
funcionamento dos mesmos e iniciam ações corretivas o mais rápido possível para que o
sistema volte ao seu estado normal (HOROWITZ, 1995).

2.2 OBJETIVO DA PROTEÇÃO

O objetivo principal da proteção é, como exposto em MASON (1956), remover


imediatamente de serviço qualquer elemento do sistema de potência sujeito a um curto-
circuito ou comece a operar em alguma condição anormal que possa causar dano ou
interferir com a operação efetiva do sistema. Além deste outros objetivos são expostos
em WALL (20__):
a) Continuidade no fornecimento de energia elétrica - Os sistemas de potência
evoluíram no século 20 para grandes conglomerados de geradores, linhas de
transmissão e distribuição, transformadores e cargas de consumidores interconectados
por redes bastante complexas. O sistema brasileiro, em sua maior parte, é interligado o
que provê uma maior confiabilidade ao mesmo, pois a perda de geração em um dos
subsistemas interligados pode ser suprida pelos outros. Apesar disto a interconexão de
7

subsistemas aumenta a complexidade, e a confiabilidade total do sistema interligado


passará a depender da confiabilidade de cada subsistema participante. Assim um sistema
de proteção seguro e confiável terá um papel importante tanto na determinação da
confiabilidade do sistema interligado como de cada subsistema.
b) Segurança Pública - Os relés são projetados para desenergizar equipamentos
com defeito o mais rápido possível, de modo a minimizar os impactos do defeito sobre
os outros equipamentos e as pessoas que trabalham nas proximidades destes.
c) Integridade do sistema de potência - Os relés que operam de maneira
apropriada isolam apenas as partes da rede afetadas pela falta. Se os relés falham em sua
operação a área afetada pela falta se expandirá e outros circuitos poderão ser
desenergizados. Partes do sistema de potência poderão ficar isoladas ou ilhadas do resto
da rede. Uma grande diferença entre geração e carga pode deixar uma rede isolada na
eminência de perder o controle da geração que mantêm a tensão e a frequência dentro
dos limites aceitáveis. Sem o controle da geração os sistemas isolados poderão sofrer
desligamentos devido ao disparo de outros relés. Grandes desligamentos causados por
operação em cascata de relés devido a variações de tensão e frequência requerem muitas
horas de trabalho para restabelecer o fluxo de potência, o que é oneroso tanto com
relação ao custo da mão-de-obra envolvida como com relação a perda de receita.
d) Qualidade de Energia - Os fatores medidos para determinar a qualidade de
energia são as amplitudes de tensão, frequência e pureza das formas de onda. A
qualidade da amplitude de tensão leva em consideração o valor RMS, flicker,
afundamentos e swells intermitentes, bem como desligamentos de longa e curta duração.
As variações de frequência são da ordem de alguns centésimos de Hertz, a menos que o
sistema tenha perdido o controle da geração. A pureza das formas de onda é função do
conteúdo harmônico, que por sua vez sofre a influência das cargas que são alimentadas.

A qualidade da energia elétrica é preocupante para cargas sensíveis a desligamentos


momentâneos e harmônicos. No passado quando as cargas eram predominantemente
resistivas e indutivas, os harmônicos eram praticamente inexistentes. As VTCDs
(Variações de Tensão de Curta Duração) tinham pouca influência em consumidores
8

residenciais. Consumidores industriais e comerciais compensavam os desligamentos


através de alimentadores múltiplos das concessionárias ou geração local.
Hoje em dia cada consumidor residencial sabe que houve um desligamento mesmo
que estivesse fora de casa no momento da ocorrência. Desligamentos afetam
computadores pessoais, relógios digitais, fornos de micro ondas e outros tantos
aparelhos residenciais. Nas indústrias CLP (controlador lógico programável) e
computadores de processo, ASD (Adjustable Speed Drives) também são afetados. Uma
boa seletividade entre relés evita desligamentos e relés rápidos minimizam
afundamentos de tensão. Estas práticas podem melhorar os índices de qualidade de
energia do sistema em questão.

2.3 ELEMENTOS DE UM SISTEMA DE PROTEÇÃO

O sistema de proteção é composto por equipamentos que têm por função


detectar, decidir e operar o sistema de potência. Os equipamentos que compõe o sistema
de proteção são os transdutores, os relés e os disjuntores. Os transdutores, que são os
transformadores de corrente (TC) e transformadores de tensão (TP), têm por função
reduzir valores de correntes e tensões do sistema e passá-las aos relés, este por sua vez
devem decidir se estas grandezas estão dentro dos limites toleráveis ou não para então
enviar um sinal de disparo aos disjuntores que irão abrir os circuitos das linhas de
transmissão ou distribuição com defeito, isolando-os do sistema, evitando danos a
pessoas e bens. Além destes equipamentos ainda existe o sistema de suprimento de
tensão contínua, que é composto pelos retificadores e bancos de baterias. Sua função é
suprir uma tensão de alimentação estável e confiável para os demais dispositivos que
compõe o sistema de proteção. A Figura 2.1 mostra o sistema de proteção com os seus
principais componentes. Nesta seção serão considerados o disjuntor e o sistema de
suprimento de tensão contínua. Os relés e os transformadores de corrente serão
abordados nos Capítulos 4 e 5, respectivamente.
9

Disjuntor Transdutor

Relé

Sistema
C.C

Figura 2.1 – Elementos de um sistema de proteção.

Sistema de suprimento de tensão contínua

Como a função primária de um sistema de proteção é remover uma falta, a


habilidade do relé fazer atuar um disjuntor não deve ser comprometida durante a
ocorrência desta. Durante a falta, a tensão AC (alternate current) disponível na
subestação pode ser afetada e sua magnitude pode ser insuficiente para operar o
disjuntor. O banco de baterias é conectado continuamente através de um carregador à
tensão de serviço AC, e fica em flutuação em condições normais. Em caso de falta de
tensão AC o banco de baterias passa a suprir energia para o sistema de proteção. O
banco de baterias possui, normalmente, uma autonomia de 8 à 12h. Mesmo sendo um
equipamento bastante confiável, algumas subestações possuem dois bancos de baterias
para aumentar a confiabilidade do sistema. A Figura 2.2 ilustra a configuração do banco
de baterias e do sistema de proteção.

Tensão de
Carregador Sistema de
Serviço AC
Proteção

Banco de
Baterias

FIGURA 2.2 – Sistema de Fornecimento de Tensão CC.


10

Disjuntores

O disjuntor é o dispositivo de controle final da malha de proteção. Sua função é


interromper a corrente de falta do circuito que protege e sob condições normais de
operação, uma grande variedade de outros tipos de corrente na tensão nominal do
sistema, tais como: correntes capacitivas, pequenas correntes indutivas e correntes de
carga (VAN DER SLUIS, 2001). Para um disjuntor, é requerido que:

• Seja um bom condutor quando fechado;


• Isole bem as partes do sistema, quando aberto;
• Passe da posição aberta para a fechada em no menor período de
tempo possível;
• Não cause sobretensões durante o chaveamento;
• Tenha operação confiável.

A ação coordenada dos relés e disjuntores resulta em um desligamento de


sucesso. Para isolar a falta o disjuntor deve interroper a corrente quando esta estiver
com seu valor bem próximo a zero. Um disjuntor típico de uma subestação de EAT
(Extra Alta Tensão) pode interromper correntes da ordem de 100.000 A na tensão de
800 kV.
Normalmente o disjuntor leva três ciclos para abrir o circuito defeituoso. Logo
que abrem, os contatos movem-se para interromper a corrente de falta, e aí começa uma
corrida entre o estabelecimento da rigidez dielétrica do meio que separa os contatos e a
taxa da tensão de restabelecimento que aparece entre os contatos do disjuntor para que o
arco voltaico seja formado. Para evitar que o arco reacenda durante a interrupção da
corrente, o plasma do arco é resfriado através de óleo isolante, sopro de ar, SF6 ou vácuo
(VAN DER SLUIS, 2001). Estas formas de extinção também servem para classificar os
diversos tipos de disjuntores. Além da função de eliminar o arco elétrico estes meios
servem para isolar as partes vivas do disjuntor das partes desenergizadas.
Um dos parâmetros mais importantes na especificação de um disjuntor é o seu
meio de interrupção do arco (HOROWITZ & PHADKE, 1995). Por isso, descreve-se a
seguir o princípio de funcionamento dos tipos de disjuntores citados no parágrafo
anterior.
11

Disjuntores a óleo

Foram os primeiros disjuntores a serem fabricados, já no início do século XX.


Naquela época a capacidade de interrupção do óleo era suficiente para o nível de curto-
circuito do sistema de potência existente (VAN DER SLUIS, 2001). Estes primeiros
disjuntores eram simplesmente uma chave imersa em tanque de óleo, desprovida de
meio de extinção. Em 1901 J. N. Kelman construiu nos EUA um disjuntor que usava
uma mistura de água e óleo para extinguir o arco.
Em 1930 surge a câmara de extinção de arco. Nesta câmara, cheia de óleo
isolante, o arco era contido e o aumento da pressão interna melhorou o efeito de
resfriamento do arco. Mais tarde, outra melhoria no sistema de resfriamento do arco na
câmara de extinção foi feita. Foram adicionados mecanismos de bombeamento, criando
um fluxo de óleo através da câmara, conforme mostra a Figura 2.3.
12

Figura 2.3 – Seção transversal do disjuntor a óleo.

O próximo passo no desenvolvimento dos disjuntores a óleo foi a redução do


volume do óleo colocando os contatos e a câmara de extinção do arco dentro de um
isolador de porcelana ao invés de um grande tanque metálico.
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Disjuntores a sopro de ar

O ar é usado como isolante nas subestações desabrigadas e linhas de transmissão


de alta tensão. O ar também pode ser usado como meio para interrupção da corrente,
entretanto à pressão atmosférica, a capacidade de interrupção fica limitada a aplicações
de média tensão e baixa tensão (VAN DER SLUIS, 2001). Nas aplicações em média
tensão acima de 50 kV, os disjuntores são normalmente de sopro magnético de ar. O ar
é injetado para dentro de um compartimento segmentado pela ação do campo magnético
gerado pela corrente de falta. Desta maneira o comprimento, a tensão e a superfície da
coluna do arco são aumentados. A tensão do arco reduz a corrente de falta e o aumento
na superfície da coluna do arco melhora o resfriamento do canal do arco. Quanto maior
a pressão do ar, maior é a capacidade de resfriamento. Logo os disjuntores a sopro de ar
operando com ar comprimido podem interroper correntes maiores em níveis de tensão
maiores.

Disjuntores a SF6
As propriedades dielétricas do SF6 foram descobertas por volta de 1920,
mas somente em 1940 os primeiros disjuntores a SF6 começaram a ser
desenvolvidos. Apenas em 1959 eles passaram a ser comercializados (VAN
DER SLUIS, 2001). Estes disjuntores foram produzidos a partir dos disjuntores
a sopro de ar axial. Os contatos foram montados em tanque cheio de SF 6 e
durante a interrupção da corrente o arco era resfriado pelo gás SF 6 que estava
comprimido em um reservatório separado. Este projeto apresentava o seguinte
inconveniente: a liquefação do gás SF6 depende da pressão, mas a
temperatura para que o fenômeno ocorra fica em torno da temperatura
ambiente do disjuntor. Para evitar este problema era usado um elemento de
aquecimento no reservatório de SF6, entretanto este era mais um componente
no disjuntor que poderia falhar ocasionando a não operação do mesmo.
Para solucionar este problema foi desenvolvido o disjuntor a sopro de
SF6. Neste equipamento a descarga de abertura causada pelos contatos
móveis, movimenta um pistão, que comprime o gás na câmara de sopro
ocasionando então um fluxo axial do gás ao longo do canal do arco. O bocal
deve ser capaz de resistir a altas temperaturas, sendo fabricado em teflon.
14

Atualmente os disjuntores a sopro de SF6 são capazes de interromper


grandes potências de curto-circuito, da ordem de 63 kA em 550 kV. A Figura
2.4 mostra o princípio de operação do disjuntor a sopro de SF6.

Figura 2.4 – Princípio de operação do disjuntor a SF6.


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2.4 CONFIABILIDADE E SISTEMAS DE PROTEÇÃO

Pode-se definir confiabilidade como sendo a probabilidade de que um


determinado equipamento funcione com sucesso por certo período de tempo e sob
condições específicas. Outra definição é apresentada em HOROWITZ (1995):
Confiabilidade é geralmente entendida como medir o grau de certeza com que uma
peça do equipamento irá funcionar como esperado. O conceito de confiabilidade está
ligado com o conceito de falha funcional que significa que um determinado dispositivo
encontra-se sem condições de atender uma função esperada pelo seu usuário
(MOUBRAY, 2001).
Fica claro, do parágrafo anterior, que caso um equipamento falhe, seu grau de
confiabilidade fica abalado. Então para garantir que este equipamento seja confiável
deve-se evitar que ele falhe, ou seja, que ele sempre cumpra a função para a qual foi
projetado. Para evitarmos as falhas devemos conhecê-las. Conhecendo as falhas
podemos determinar os modos de falha do sistema em análise que segundo MOUBRAY
(2001) são eventos que podem causar um estado faltoso. Para determinarmos os modos
de falha existem técnicas tais como a FMEA – Failure Modes and Efects Analisys e
analise da Árvore de Falhas. O detalhamento destas técnicas está fora do escopo deste
trabalho, entretanto maiores informações podem ser encontradas em MOUBRAY
(2001) e WALL (2004).
A função de um relé de proteção é retirar rapidamente de serviço, qualquer
elemento de um sistema de potência que venha a sofrer um curto-circuito ou comece a
operar de maneira anormal, por meio da atuação do disjuntor (MASON, 1956). Uma
função secundária do relé é não atuar para situações de operação normal do sistema. Do
que foi descrito, pode-se concluir que um relé pode possuir pelo menos dois modos de
falha: o primeiro é não operar quando solicitado; e o segundo, é operar quando o
sistema estiver em condição normal.
Estes modos de falha levam a uma definição particular de confiabilidade para
sistemas de proteção: “um sistema de proteção será confiável se for fidedigno e seguro”
(HOROWITZ, 1995). Esta definição de confiabilidade possui objetivos que conflitam e
que não podem ser maximizados mutuamente (MASON, 1956). O conceito de
fidedignidade para relés inclui operação oportuna, o que significa rapidez na detecção e
na decisão. Isso nos leva a um impasse, pois quanto mais tempo se levar para medir
16

uma grandeza, maior será precisão da medida. Entretanto, os relés devem medir e
decidir pela operação ou não do disjuntor o mais rápido possível a fim de reduzir os
danos aos equipamentos protegidos. Assim, em função desta rapidez de atuação a
maioria dos sistemas de proteção é projetada para ser mais fidedigna a custa de sua
segurança, ou seja, haverá sempre um relé no sistema que atuará para uma falha.
MASON (1956) cita que é essencial para um dispositivo de proteção ser
inerentemente confiável e que sua instalação, aplicação e manutenção sejam tais que
garantam que suas funções sejam realizadas. A confiabilidade inerente é uma questão de
um projeto baseado em longa experiência. Outros pontos também influenciam na
confiabilidade inerente tais como: simplicidade, robustez, pressão dos contatos, mão de
obra, os materiais usados nos contatos e como estes podem ser protegidos para evitar
contaminações.
O fato do sistema de proteção ficar, constantemente, em estado de espera,
podendo alguns relés operar apenas uma vez em muitos anos (MASON, 1956), torna
necessário estabelecer programas de manutenção que garantam que as funções dos relés
sejam cumpridas, de modo a manter a sua confiabilidade.

Princípios fundamentais da proteção por relés


Nesta seção são discutidos alguns conceitos fundamentais da proteção por relés,
tais como: proteção primária, proteção de retaguarda, zonas de proteção, seletividade e
velocidade dos relés. A princípio, esta seção limita-se a analisar a proteção contra
curtos-circuitos.

Proteção primária

A proteção primária é a primeira linha de defesa contra a ocorrência de uma


falta ( ver Figura 1.5). Observa-se primeiramente que em cada conexão de um elemento
existe um disjuntor, isto garante que seja possível desconectar apenas o elemento com
defeito.

Outra observação com relação a Figura 2.5 é que uma zona de proteção separada
é estabelecida em torno de cada elemento. O que significa que a ocorrência de uma
falha dentro de uma zona de proteção causará o trip de todos os disjuntores dentro
daquela zona. Falhas que ocorrem em locais onde duas zonas se sobrepõem
(overlaping), causam a atuação de mais disjuntores do que o necessário para
desconectar o elemento faltoso. A sobreposição de zonas de proteção se faz necessária
17

pois caso contrário haveriam porções do sistema de potência que não seriam protegidas
por zona nenhuma e a ocorrência de faltas nestes locais não causariam a atuação de
disjuntores e os danos causados ao sistema seriam maiores do que o inconveniente pela
a atuação de mais disjuntores que o necessário. Como a extensão da sobreposição de
zonas é pequena, em relação ao sistema de potência como um todo a probabilidade de
ocorrência de falhas nesta região é pequena.

Figura 2.5 – Diagrama unifilar de parte de um sistema de potência que ilustra a proteção
primária.
18

Proteção de retaguarda ou backup

A proteção de retaguarda é empregada apenas para proteger o sistema contra


curto-circuito, pois este tipo de falta é a preponderante em sistemas de potência
(MASON, 1956). A função deste tipo de proteção é atuar no caso de falha da proteção
primária. A falha de um relé integrante do esquema de proteção pode ser causada por
um grande número de motivos, a saber:

1. Falha no suprimento de corrente ou tensão;


2. Trip no sistema de fornecimento de tensão CC;
3. Falha nos relés;
4. Falha no circuito de trip ou no mecanismo do disjuntor;
5. Falha no disjuntor.

Outro ponto importante na proteção de retaguarda é que ela seja montada de tal
forma que a causa da falha que impediu a ação da proteção primária não afete sua ação.
Este objetivo só poderá ser atingido se os relés da proteção de retaguarda não estiverem
localizados no mesmo ponto da proteção primária, ou seja, não compartilhem o mesmo
circuito de controle ou qualquer outra facilidade utilizada pelos relés primários. Na
Figura 2.6 é demonstrado um exemplo de uma linha de transmissão onde aparece a
proteção primária e a de retaguarda.

Figura 2.6 – Ilustração da proteção de retaguarda da linha de transmissão sessão EF.

A proteção de retaguarda para linha EF é feita de tal maneira que os relés


responsáveis por ela irão atuar os disjuntores A, B, I ou J. Na ocorrência de uma falta no
trecho EF a proteção primária atua os disjuntores E e F. Porém se por algum motivo a
proteção primária não atuar, a de retaguarda remota fará com que os disjuntores A ou B
para o disjuntor E, e I ou J para o disjuntor F atuem eliminando a falta do sistema. Os
19

relés dos disjuntores A, B e F propiciam proteção de retaguarda remota para faltas na


subestação K, da mesma forma os relés em A e F fazem a proteção de retaguarda
remota, para faltas na linha DB. Logo a zona de proteção de retaguarda remota se
estende desde o local onde se encontra o relé de proteção back up até sobrepor-se a cada
elemento adjacente do sistema. Além desta função, a proteção de retaguarda pode ser
usada como proteção primária quando o equipamento original estiver fora de serviço
para manutenção.

Seletividade de relés e zonas de proteção

O conceito de zona de proteção está ligado com o requisito de segurança de


relés. No sistema de potência, são definidas regiões para as quais um dado relé ou
sistema de proteção é responsável. O relé é considerado seguro se operar para faltas que
ocorram dentro de sua zona de proteção. Para analisarem as correntes de falta, os relés
recebem sinais de diversos transformadores de corrente (TC), onde cada TC determina
uma zona de proteção. O disjuntor fornece o meio para desconectar os equipamentos
dentro de uma zona de proteção. Um disjuntor e um TC definem uma zona de proteção.
Existem alguns requisitos que uma zona de proteção deve obedecer para cobrir todos os
equipamentos de potência inseridos nela:

a) Todos os elementos do sistema de potência devem ser abrangidos


por pelo menos uma zona de proteção. Uma boa prática de proteção é certificar-
se de que os equipamentos mais importantes estejam incluídos em pelo menos
duas zonas de proteção.
b) As zonas de proteção devem se sobrepor para prevenir que
nenhum equipamento do sistema fique sem proteção.

As zonas de proteção podem ser classificadas como abertas ou fechadas. Uma


zona de proteção fechada é aquela em que os dispositivos são monitorados no ponto de
entrada da mesma. Neste caso os limites da zona são claramente definidos, tal como
ocorre na proteção diferencial de transformadores. Cada TC da proteção diferencial
define um limite (ver Figura 2.7).
20

A zona de proteção aberta tem o seu limite variável de acordo com a corrente de
falta, assim para este tipo de zona de proteção sempre haverá uma incerteza quanto aos
seus limites.

Velocidade do relé.

Conforme mencionado anteriormente, do ponto de vista da segurança de pessoas


e de preservação dos ativos, o sistema de proteção deve ser capaz de retirar o circuito
faltoso o mais rápido possível, mas do ponto de vista da confiabilidade o relé só deve
operar para situações de falta e dentro da sua zona de proteção.
Normalmente, os relés tomam decisões com base em informações obtidas
através das formas de onda de tensão e corrente, que muitas vezes estão corrompidas
devido aos fenômenos transitórios originados pelas faltas ou outras formas de distorção
de ondas. Isto exige do relé certo tempo para chegar a uma decisão segura, sendo a
relação entre a certeza da operação e o tempo de resposta, inversamente proporcional.
Com relação a velocidade de operação, os relés podem ser classificados em:
21

a) Instantâneo: Não existe um atraso intencional, o relé atua assim que uma decisão segura é
feita.
b) Temporizado: Um atraso intencional é inserido entre a decisão de operar e o início da ação
de trip.
c) Alta Velocidade: Um relé que opera em um tempo menor que 50 ms.
d) Ultra Alta Velocidade: Este termo não está incluído em padrões de relé, mas considera-se
um relé que opere em 4 ms ou menos.

2.5 CONCLUSÕES

Este capítulo teve por objetivo apresentar os conceitos básicos de proteção de


sistemas elétricos de potência, delineando seus objetivos e partindo para estratificação e
descrição de seus componentes. Discutiu-se sobre a filosofia de proteção proteção por
relés e mostrou-se como a confiabilidade do sistema pode ser afetada. As principais
características inerentes ao problema foram ressaltadas com o objetivo de fornecer
conhecimentos básicos a quem por ventura venha atuar nesta área.
22

3 HARMÔNICOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS INDUSTRIAIS

3.1 INTRODUÇÃO

No passado, os sistemas de potência eram bastante simples, compostos por um


gerador próximo à carga, por um sistema de distribuição em baixa tensão, e as pequenas
cargas eram basicamente compostas por iluminação e alguns motores elétricos.
À medida que o uso da energia elétrica foi se afirmando, mais e mais
consumidores começaram a se ligar aos sistemas existentes. Logo, os pequenos sistemas
de geração não eram mais suficientes para suprir a energia demandada. Assim, as usinas
geradoras precisaram ser aumentadas. Concomitante com este aumento de carga, as
cidades começaram a crescer e os terrenos disponíveis para construção de usinas
geradoras foram se tornando escassos, o que levou estas a serem construídas cada vez
mais distantes dos centros urbanos. Outro motivo que levou a construção de usinas mais
afastadas das cidades foi uso de aproveitamentos hidroelétricos, que normalmente não
eram encontrados próximos a estas. Este distanciamento das cargas trouxe a necessidade
da construção de linhas de transmissão para levar a energia das usinas geradoras aos
centros de consumo de energia para lá serem distribuídas aos consumidores. De modo a
aumentar a confiabilidade e a capacidade do sistema elétrico, diversos geradores
passaram a ser interligados garantindo assim um fornecimento de energia elétrica firme
e estável.
Com a melhoria do sistema elétrico, os consumidores passaram a depender ainda
mais da energia elétrica, e novos equipamentos passaram a ser desenvolvidos para as
indústrias. As máquinas ficaram cada vez mais complexas e a exigir uma energia de
melhor qualidade. Nos últimos anos do século XX foi presenciado um aumento no uso
de dispositivos baseados em micro processadores. Os computadores passaram a
controlar os processos industriais, bancários, comerciais, entre outros. Neste mesmo
período, começaram a surgir os dispositivos de eletrônica de potência tais como as UPS
(Uninterruptible Power Supply) e ASD (Adjustable Speed Drives ou inversores de
freqüência). As fontes chaveadas se espalharam de tal maneira que hoje em dia são
encontradas em cargas industriais, comerciais e residenciais.
Os dispositivos baseados em tecnologia de eletrônica de potência levaram a um
aumento do conteúdo harmônico nas ondas de tensão e corrente dos sistemas elétricos
23

das concessionárias (FULLER, 1998). Entretanto, os sistemas elétricos convencionais


são projetados para operar com formas de onda senoidais puras. Porém, os harmônicos
produzidos pelas cargas não lineares ou que possuem dispositivos eletrônicos
chaveados, distorcem estas formas de onda. À medida que os harmônicos se propagam
no sistema elétrico, aumentam as perdas nos condutores, transformadores e motores
elétricos, além de diminuírem a tempo de vida útil de equipamentos, e interferirem na
operação de sistemas de controle, comunicação e equipamentos de proteção (BONNER,
1996).

Definição de harmônicos
Pode-se definir uma tensão ou corrente harmônica como sendo um sinal senoidal
cuja freqüência é múltiplo inteiro da freqüência fundamental do sinal de alimentação
(MORENO, 2001). A Figura 3.1 mostra o exemplo de uma forma de onda distorcida.

Figura 3.1 – Forma de onda distorcida

A linha verde representa a forma de onda da grandeza na freqüência


fundamental. A forma de onda descrita pela linha preta de amplitude menor é a
harmônica e a de amplitude maior é a forma de onda distorcida.

Representação de harmônicos
Pode-se representar as formas de onda distorcidas de corrente e tensão, sob condições
de regime permanente, através de séries de Fourier conforme descrito na equação 3.1
(BONNER, 1996):


f (t ) = C0 + ∑ Cn ⋅ cos( n ⋅ ω ⋅ t + θ n ) (3.1)
n =1

Onde ω é a frequência fundamental. Os coeficientes Cn e angulos de fase para a

 − Bn 
Cn = An2 + Bn2 θ n = tan −1  
 An  (3.2)
24

Nas equações 3.3, 3.4 e 3.5, T=2π/ω e C0 é a componente DC da função.

T T
2 2
An = ∫ f (t ) cos(n ⋅ ω .t )dt
T ∫0
Bn = f (t ) sen(n ⋅ ω .t )dt
T 0 (3.3)

T
1
C0 = ∫ f (t ).dt (3.4)
T0
O valor RMS da função é definido como:

2 (3.5)
C n 

RMS = C +∑2
0 
1 2 
n=

Ordem
A ordem ou número harmônico é a razão entre a frequência da componente
harmônica (fn) e a frequência fundamental (que no Brasil é 60 Hz).

Espectro
O espectro é a distribuição das amplitudes das várias componentes
harmônicas em função da sua ordem. Normalmente é mostrado na forma de
histograma como mostra a Figura 3.2.
25

Figura 3.2 – Espectro de freqüências.

Sequências de fase de harmônicos


Segundo LU et al. (2000) em sistemas trifásicos equilibrados sob condições não
senoidais, a n-ésima ordem da tensão harmônica de cada fase pode ser expressa por:

v ah = 2 ⋅ Vh ⋅ sen ( h ⋅ϖ ⋅ t ) (3.6)
 2 ⋅ h ⋅π 
vbh = 2 ⋅ Vh ⋅ sen  h ⋅ϖ ⋅ t − + θh  (3.7)
 3 
 2 ⋅ h ⋅π  (3.8)
vch = 2 ⋅ Vh ⋅ sen  h ⋅ϖ ⋅ t + + θh 
 3 

A maioria dos dispositivos encontrados nos sistemas elétricos operam de


maneira idêntica no semi-ciclo positivo e no semi-ciclo negativo. Esta forma de

ω
π
ω
operação elimina os harmônicos de ordem par (COLOMBET et al., 2001).
Sabe-se que:

f(
⋅)
t+
=

f( ⋅
t) (3.9)

Supondo que o sistema possua componentes de segunda harmônica:

ω
I( ⋅
t) =
I1 sen( ⋅
t) +ω
I 2 sen(2 ⋅⋅
t) ω (3.10)

ωπ ω
I( ⋅
t+π
)=
I1 sen( ⋅
t+)+
I 2 sen 2( ⋅
t+) ωπ
ωπ
I( ⋅
t+)=

I1 sen( ⋅
t) + ω
I 2 sen 2( ⋅
t+) ωπ (3.11)

Conforme a equação (3.9) o termo I2 na equação (3.11) deve ser zero para que
I(wt+π )=-I(wt). Esta demonstração pode ser estendida a todas as harmônicas de ordem
26

par. No caso da terceira harmônica as correntes da fase b estão atrasadas 360° em


relação às da fase a e as da fase c adiantadas 360° em relação à fase a (COLOMBET et
al.,2001).

I a3 = ω
I 3 sen(3 ⋅ ⋅
t)

I b3 = (ω
I 3 sen 3 ⋅ ⋅
2⋅
t−)=
πI sen( 3
ω
⋅ 2π
t−)=
I a3
3
3
I c3 = (ω
I 3 sen 3 ⋅ ⋅
4⋅
t+)=
πI sen (3
ω
⋅ 4π
t−)=
I a3
3
3

Portanto pode-se concluir que as componentes de terceira harmônica estão em


fase e se comportam como se fossem componentes de sequência zero. Este raciocínio se
estende aos múltiplos da terceira harmônica. Uma analise similar a exposta acima feita
para a componente de quinta harmônica mostrará que ela tem natureza de componente
de sequência negativa (BONNER, 1996). A Tabela 3.1 mostra a relação entre as
seqüências de fase e as ordens harmônicas.

Tabela 3.1-Relação entre Ordens Harmônicas e Componentes Simétricas

Ordem Sequência de
Harmônica Fase
1 +
2 -
3 0
4 +
5 -
6 0
27

3.2 CARGAS GERADORAS DE HARMÔNICOS

Segundo BONNER (1996) existem basicamente duas fontes de harmônicos


presentes nos sistemas de potência convencionais:

1. Dispositivos que envolvem chaveamentos eletrônicos nos quais se


enquadram, por exemplo, os conversores estáticos de potência. O processo
de chaveamento é geralmente sincronizado a 60 Hz e por isso causa
distorções nas ondas de tensão e corrente.
2. Dispositivos com relação tensão corrente não linear (fornos a arco). Estes
dispositivos quando excitados com uma entrada de tensão periódica
produzem harmônicos.

A seguir são citadas algumas fontes de geração de harmônicos.

Conversores estáticos
Os conversores estáticos mais comuns são formados por pontes retificadoras de seis
pulsos (BONNER, 1996). Este tipo de dispositivo é amplamente usado em terminais
HVDC (High Voltage Direct Current), acionamentos C.C e inversores de freqüência.
Para entregar uma corrente contínua perfeita, a ponte retificadora necessita uma corrente
CA pulsante, conforme mostra a Figura 3.3 (COLOMBET et al., 2001).

Corrente suprida por uma fase do Corrente de fase a montante do retificador


retificador alimentado por um transformador ∆ -Y.

Figura 3.3 – Corrente alternada à montante de um retificador de seis pulsos e carga


indutiva.
28

As componentes harmônicas produzidas pelas correntes pulsantes que


alimentam os retificadores têm ordem harmônica n tal que n=k.p± 1, onde:
k=1, 2, 3, 4, 5...
p é o número de ramos de retificação:

Ponte Graetz p=6


Ponte de 6 pulsos p=6
Ponte de 12 pulsos p=12

Logo, para os retificadores de seis pulsos, surgem as seguintes harmônicas


características: 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 25, entre outros. Para retificadores de doze
pulsos têm-se 11, 13, 23, 25, entre outros, como componentes harmônicas
características. As componentes harmônicas que surgem devido a operação do
retificador de seis e doze pulsos são todas ímpares e sua amplitude pode ser
determinada por meio da equação (3.12 ).

I1
In = (3.12)
n

Onde:
I1 – amplitude da componente fundamental.
n - número de ordem harmônica.

Analisando a equação 3.12 chega-se a conclusão de que as componentes de 5ª e


7ª harmônicas são as de maior valor.
Um caso que merece atenção especial são os conversores estáticos monofásicos,
pois os retificadores monofásicos com filtro capacitivo são a fonte de alimentação
monofásica mais comum e apresentam um espectro que contém todas as componentes
harmônicas impares no qual a componente de 3a harmônica é a principal e pode chegar
a 80% da fundamental (SCHONEK, 2001). A Figura 3.4 mostra o circuito de um
retificador monofásico com filtro capacitivo e o espectro da corrente demandada. A
Tabela 3.2 mostra algumas aplicações envolvendo retificadores monofásicos com filtro
capacitivo.
29

Ordem harmônica
Figura 3.4 – Retificador monofásico com filtro capacitivo e espectro de frequências.

Teoricamente, estes dispositivos podem ser representados individualmente em


estudos de harmônicos envolvendo grandes redes como sendo fontes de corrente.
Porém, por ser difícil quantificar a sua representação individual torna-se impraticável
em programas de fluxo de potência harmônica. Segundo BONNER (1996) o que
realmente interessa em estudos de harmônicos em redes de distribuição é o efeito
coletivo de tais dispositivos.

Tabela 3.2– Aplicações contendo retificador monofásico com filtro capacitivo.

Esfera de atividade Aplicação


Doméstico TV, aparelho de som, vídeo, forno de
micro ondas, lâmpadas fluorescentes
com reatores eletrônicos, etc.
Comercial Micro computadores, impressoras, foto
copiadoras, aparelhos de fax, etc.
Industrial Fontes chaveadas, inversores de
frequência.

Iluminação
Sistemas de iluminação constituídos por lâmpadas de descarga ou fluorescentes
são geradores de correntes harmônicas. No caso de lâmpadas fluorescentes modernas a
relação de harmônicos, expressa na equação (3.12), pode exceder 100% (COLOMBET
et al, 2001).
30

Fornos a arco
Os harmônicos produzidos por estes dispositivos são imprevisíveis em função da
variação do arco de ciclo para ciclo, especialmente quando uma nova carga de metal
está sendo derretida. Segundo o IEEE Std 519-1992 a corrente do arco é não periódica e
a sua análise revela um espectro contínuo de frequências harmônicas de ordem inteira e
não inteira, entretanto através de medições pode-se verificar que os harmônicos de
ordem inteira têm predominância sobre os de ordem não inteira principalmente os de
baixa ordem (2ª a 7ª) com a amplitude decaindo conforme o aumento da ordem. À
medida que a quantidade de metal a ser derretida aumenta, o arco torna-se mais estável
o que resultará em correntes com distorções harmônicas menores.

Reatores saturáveis
A impedância de um reator saturável varia à medida que a corrente
flui através dela, resultando em uma distorção considerável da mesma. Este
é o caso, por exemplo, dos transformadores, à vazio quando submetidos a
sobretensões contínuas.

3.3 DISTÚRBIOS CAUSADOS POR DISTORÇÕES


HARMÔNICAS

Correntes e tensões harmônicas superpostas a frequência fundamental possuem


efeitos combinados em equipamentos e dispositivos ligados à rede de energia. Estes
efeitos dependem da carga e podem ser instantâneos ou de longa duração.
Como efeitos instantâneos pode-se citar as tensões harmônicas que perturbam
controladores usados em sistemas eletrônicos. Estas tensões podem afetar as condições
de chaveamento de tiristores através do deslocamento do ponto de cruzamento do zero
na onda de tensão. Além disto, os harmônicos podem causar erros nos discos de indução
utilizados em medidores de energia elétrica ou relés eletromecânicos. Por exemplo o
erro de um medidor classe 2 será aumentado de 0,3% pelo aumento de 5% na razão da
componente de 5a harmônica na corrente (COLOMBET, 2001).
Vibrações e ruídos são causados pelas forças eletrodinâmicas produzidas pelas
correntes instantâneas associadas às correntes harmônicas, especialmente em
dispositivos eletromecânicos. Torque mecânico pulsante devido a campos girantes
31

harmônicos pode causar vibrações em máquinas girantes. Outro efeito instantâneo é o


causado em circuitos de telecomunicação e controle, quando estes estiverem dispostos
na proximidade de redes de distribuição dotadas de correntes distorcidas.
Como efeito de longo prazo pode-se considerar o aquecimento de capacitores
causado pelas perdas devidas a histerese dielétrica1. Como uma primeira aproximação,
pode-se considerá-las como proporcionais ao quadrado do valor RMS da corrente.
Capacitores são sensíveis a sobrecargas, sejam elas devidas a uma corrente
fundamental alta ou na presença de harmônicos no sistema. Essas perdas são definidas
pelo ângulo δ do capacitor. A tangente deste ângulo define a razão das perdas relativas
a potência reativa produzida (ver Figura 3.5).

Figura 3.5 – Triângulo relacionando as potências de um capacitor: P ativa, Q reattiva, S


aparente.

Outro efeito de longo prazo que surge em instalações elétricas sujeita à presença
de harmônicas é o aquecimento devido a perdas adicionais em máquinas e
transformadores. As diferenças de velocidade entre os campos girantes harmônicos e o
rotor, causam perdas adicionais no estator (cobre e ferro) e principalmente no rotor
(enrolamentos de amortecimento e circuitos magnéticos). Nos transformadores, o efeito
pelicular, a histerese e correntes parasitas causadas pelos harmônicos levam a perdas
suplementares.
Além das máquinas outras partes da instalação sofrem efeitos de longo prazo
provocados pelos harmônicos. Os condutores sofrem aquecimento devido às perdas que
surgem quando estes são percorridos por correntes com componentes harmônicas. As
causas destas perdas são:
• Um aumento no valor RMS da corrente para um mesmo valor de potência ativa
consumido;
• Um aumento na resistência aparente do núcleo em função da frequência devido ao
efeito pelicular;

1
Efeito que ocorre em materiais ferrelétricos nos quais a relação entre os vetores E (campo elétrico) e P
(polarização) é não linear (Hayt, 1983).
32

• Aumento nas perdas dielétricas da isolação com o aumento da frequência, caso o


cabo esteja sujeito a distorções consideráveis na forma de onda da tensão.

De maneira geral, todos os equipamentos elétricos sujeitos aos harmônicos de


tensão e correntes apresentam aumento em perdas de energia. Por exemplo: o cubículo
do alimentador de um banco de capacitores deve ser projetado para uma corrente igual a
1,3 vezes a corrente de compensação reativa. Entretanto este fator de segurança não leva
em conta o efeito pelicular nos condutores.
Além dos efeitos de aquecimento, os harmônicos de corrente e tensão podem
causar aumento na queda de tensão do circuito e redução do fator de potência. Como a
impedância do circuito é proporcional à freqüência, com o aumento desta ocorre um
aumento da impedância o que leva a um aumento na queda de tensão. Outra
conseqüência dos harmônicos é o disparo de dispositivos de proteção. Correntes
harmônicas apesar de apresentarem baixo valor eficaz possuem picos elevados. Isto
ocorre por que estas correntes apresentam campos magnéticos acima daqueles que
haveriam sem a sua presença.

3.4 MODELAGEM DE HARMÔNICOS EM SISTEMAS DE


POTÊNCIA

Cargas não lineares encontradas em sistemas de distribuição consumem potência


elétrica, que por sua vez possui três componentes: potência ativa, potência reativa, e por
último a potência de distorção. As componentes ativa e reativa são geradas pelo sistema
de geração, já a componente de distorção é gerada pelas cargas não lineares presentes
no sistema de potência. Esta componente está sempre associada às cargas que geram
harmônicos (LU et al, 2000).

Modelagem de uma fonte de Tensão senoidal alimentando uma carga


harmônica

O conceito de potência na presença de uma carga geradora de harmônicos está


baseado nas seguintes suposições: (1) fonte de tensão senoidal pura; (2) corrente
harmônica injetada no sistema causando distorção na tensão.
A Figura 3.6 mostra uma carga não linear alimentada por uma fonte de tensão
senoidal pura. Nesta figura é possível observar que nos terminais da carga irá surgir
33

uma tensão, que chamada de tensão transmitida vt(t). Pode-se dividir esta tensão em
duas componentes: uma tensão incidente vi(t) e uma tensão refletida vr(t), de
tal forma a expressar vt(t) de acordo com a equação 3.12.

vt (t ) = vi (t ) + v r (t ) (3.12)

onde:

vi (t ) = 2 ⋅ V1 sen(ω ⋅ t + α 1 )

v r (t ) = ∑ Vn sen(n ⋅ ω ⋅ t + α n )
n =1

Figura 3.6 – Tensão senoidal e carga não linear

Nas equações acima n representa o número de ordem harmônica, Vn representa


o valor RMS da e-nésima tensão harmônica e α n representa o ângulo de fase entre e-
nésima harmônica de tensão e a n-ésima harmônica de corrente. Similarmente, a
corrente de carga ou corrente transmitida também pode ser dividida em duas
componentes, uma incidente e outra refletida.

it (t ) = ii (t ) + i r (t )
ii (t ) = 2 ⋅ I 1 sen(ω ⋅ t + β1 ) (3.13)

i r (t ) = 2 ⋅ ∑ I n sen( n ⋅ ω ⋅ t + β n )
n =1
34

In é o valor RMS da n-ésima corrente harmônica e β n é o ângulo de fase da n-


ésima corrente harmônica. A potência aparente da carga, também chamada de potência
aparente transmitida St, pode ser calculada como:

S t = Vt ⋅ I ∗ t = (V i + Vr ).(I i + I r ) ∗ = S i + S r (3.14)

Si e Sr são as potências aparentes incidente e refletidas entregues à carga não


linear. As potências ativa e reativa são dadas pelas equações (3.15) e (3.16).

1
Vt (t ). I t (t ) dt = ∑Vn .I n cos θ n = Pi + Pr
T ∫
Pt =
n =1

θ n = αn − β n
(3.15)
Pi = V1 I 1 cos θ1

Pr = ∑Vn .I n cos θ n
n =1

Qt = ∑Vn .I n sen θ n = Qi + Qr
n =1 n
(3.16)
Qi = V1 I 1 sen θ1

Qr = ∑Vn .I n sen θ n
n =1

Os termos Qi, Qr e Qt representam as potências reativas incidente, refletida e


transmitida.
35

3.5 EFEITOS DAS DISTORÇÕES HARMÔNICAS EM SISTEMAS


DE PROTEÇÃO

Segundo HENVILLE (2001), a proteção de sistemas de potência está mais


intimamente relacionada à qualidade de energia do que normalmente se considera. O
autor justifica esta afirmativa levando em consideração que a proteção de sistemas de
potência se preocupa com a eliminação dos circuitos defeituosos do sistema enquanto a
qualidade de energia se importa com a entrega confiável da energia dentro de certos
limites estabelecidos. Ele ainda expõe que os curtos-circuitos degradam a tensão o que
pode resultar em sags que irão afetar a qualidade de energia, e que os relés de proteção
devem ser capazes de discernir situações normais de anormais. Problemas de qualidade
de energia podem influenciar nesta decisão, pois os ajustes feitos nos relés levam em
conta que estes parâmetros estarão dentro da fronteira que define um suprimento de
energia de boa qualidade.
As distorções harmônicas em ondas de corrente e tensão fazem parte dos
problemas de qualidade de energia e assim influenciam na operação confiável dos
sistemas de proteção. A norma IEEE 519 define os níveis aceitáveis de distorção
harmônica em ondas de tensão e corrente para se ter um suprimento de energia de boa
qualidade. O problema é que estes limites definidos pela IEEE 519 são excedidos em
diversas situações operacionais e assim podem afetar a operação dos dispositivos de
proteção.
Em alguns casos a distorção harmônica excessiva é inerente à grandeza que está
sendo medida, ou seja, ela faz parte do processo que gerou aquela grandeza. Por
exemplo, as pontes retificadoras monofásicas são comumente utilizadas em diversos
aparelhos elétricos e são cargas geradoras de 3a harmônica. Em um prédio comercial de
escritório estas cargas são bastante comuns (computadores, máquinas foto - copiadoras,
aparelhos de fax, entre outros) que juntas podem gerar uma quantidade significante de
3a harmônica, que conforme visto anteriormente tem característica de correntes de
seqüência zero. Estas correntes de terceira harmônica irão se somar nos condutores de
neutro das instalações e dependendo do seu valor irão causar sobrecarga neste condutor.
Se o alimentador principal do prédio for protegido por um relé 51N e a soma das
correntes de 3a harmônica atingir a corrente de pickup do relé, este operará. Esta
situação é boa se considerarmos o quesito de fidedignidade da proteção, pois o relé
estará protegendo o neutro contra sobrecarga, porém no quesito segurança ele operou
36

indevidamente, pois o relé só deveria operar para um curto-circuito fase terra que
produziria um fluxo de corrente pelo neutro. Isto pode causar certa dúvida no pessoal de
manutenção do prédio, pois estes irão procurar o curto-circuito ou um desbalanço de
fases e não acharão nem um nem outro, pois eles não ocorreram, o que houve foi a
operação do relé por sobrecarga devida a corrente de 3a harmônica.
Em outras situações, harmônicos presentes em correntes de fase podem ser
danosos a equipamentos, Por exemplo: a “saúde” dos bancos de capacitores pode ser
ameaçada por excesso de harmônicos no sistema de potência. Os harmônicos tendem a
ser absorvidos pelos bancos de capacitores e podem causar eventuais falhas devido a
sobrecarga. Se estes bancos forem protegidos por relés de sobrecorrente de fase
insensíveis a harmônicos estarão, os bancos, correndo sério risco de serem danificados.
Contudo mesmo que os relés sejam capazes de detectar a presença de harmônicos
podem superproteger ou subproteger o banco em função da resposta em relação aos
harmônicos (HENVILLE, 2001).
Ainda, segundo HENVILLE (2001), investigações devem ser conduzidas para
avaliar o desempenho dos relés de proteção sob condições de ondas distorcidas, pois seu
comportamento ainda é desconhecido.

3.6 CONCLUSÕES

Neste capítulo verificou-se que os harmônicos não são uma novidade para os
profissionais que lidam com o sistema elétrico de potência, seu conhecimento data do
início do século XX, porém com o aumento do tamanho e complexidade do sistema de
potência e o surgimento das cargas com dispositivos baseados na tecnologia de
eletrônica de potência sua presença passou a ser sentida devido aos efeitos por eles
causados. Dentre estes efeitos pode-se ressaltar a distorção causada nas formas de onda
de tensão e corrente do sistema elétrico.
No Capítulo 2 foi mostrado que os relés de sobrecorrente respondem ao valor
RMS da onda de corrente, uma vez que a distorção causada pelas componentes
harmônicas altera o valor RMS da onda de corrente. Assim, pode-se concluir que a
operação dos relés será influenciada pela presença das distorções harmônicas no sistema
levando-os a fazer uma leitura errada da situação o que causará uma operação indevida
(falso trip) ou a não operação (falha de operação) dependendo do caso.
37

4 TRANSFORMADORES DE CORRENTE

4.1 INTRODUÇÃO

Embora os transformadores de corrente sejam dispositivos elétricos bastante


simples, eles despertam um grande interesse por serem responsáveis pelo fornecimento
dos valores de corrente proporcionais aos existentes no sistema de potência aos relés de
proteção e medidores de energia elétrica. Outra importante função dos transformadores
de corrente é a de isolar galvanicamente o circuito de proteção das altas tensões
presentes no sistema de potência (HOROWITZ & PHADKE, 1995).
Como os transformadores de corrente são projetados para suportar valores de
corrente de falta que podem chegar a até 50 vezes o valor da sua corrente nominal.
Dentre todas as considerações que envolvem a especificação de um TC, a precisão é a
que mais requer atenção, pois esta afeta diretamente a performance do sistema de
proteção (MASON, 1956). Um erro de precisão na transformação da corrente medida
pode levar a uma falha de atuação do relé fazendo com que o circuito faltoso continue
operando e cause a destruição do equipamento, coloque o operador em risco e aumente
o tempo de parada da planta.
A escolha de um TC depende de sua aplicação. Um TC usado para proteção não
deve saturar para o valor da corrente de falta máxima para que a medida desta corrente
seja o mais precisa possível, possibilitando a operação do dispositivo de proteção
associado a ele. Já um TC usado para medição necessita ser bem preciso em torno do
ponto de corrente nominal e é até desejável que eles tenham pontos de saturação mais
baixos que o TC de proteção para protegerem os medidores de energia (FONTI, 2000).
Conforme visto nos parágrafos anteriores, a principal função do transformador
de corrente é reproduzir fielmente, no secundário, os sinais de corrente presentes em seu
primário para os relés. Embora os TCs modernos sejam capazes de cumprir esta função
de maneira satisfatória, deve-se estar ciente dos erros de transformação, ao se avaliar a
operação dos relés.
38

4.2 COMPORTAMENTO EM REGIME PERMANENTE

Como os transformadores de corrente são transformadores que possuem apenas


um primário e um secundário acoplados magneticamente, sua performance pode ser
analisada através do circuito equivalente de um transformador convencional. Este
circuito é mostrado na Figura 4.1.

Zp Zs

I1 Zm Zb

Figura 4.1 – Circuito Equivalente de um TC

O enrolamento primário está conectado em série com a rede de energia, que na


Figura 4.1 é representada pela fonte de corrente I1. Como esta corrente é produzida pela
rede, a impedância do primário do TC Zp não tem efeito sobre o desempenho do
transformador, podendo então ser omitida (HOROWITZ & PHADKE,1995). Logo o
circuito da Figura 4.1 se reduz ao mostrado na Figura 4.2.

I1 Zs I2

I1 Zm Em Eb Zb

Figura 4.2 – Circuito Equivalente Simplificado de um TC

A impedância de carga Zb é a soma de todas as impedâncias dos dispositivos ligados


ao secundário do TC, juntamente com seus cabos de alimentação. Esta impedância
também é conhecida como burden do TC. O valor do burden deve ser controlado, pois
ele influencia diretamente na precisão do TC. Analisando o circuito da Figura 4.2 tem-
se a tensão no ramo de magnetização, ou seja:

E m = Eb + Z s ⋅ I 2
(4.1)
39

Assim a corrente de magnetização será:

Em (4.2)
Im =
Zm

A corrente primária referida ao secundário I1 é mostrada na equação 4.3:

I1 = I 2 + I m (4.3)

O erro de corrente em pu é definido como:

I1 − I 2 I m
ε= = (4.4)
I1 I1

Se a impedância do burden Zb for alta, tem-se uma redução no valor da corrente I2,
pois a maior parte da corrente suprida pelo primário do TC (I1) irá fluir pelo ramo de
magnetização do TC, fazendo com que este sature. Analisando a equação 4.4 um
aumento na corrente de magnetização fará com que o erro de corrente aumente. Assim
uma baixa impedância de carga ou burden é fundamental para uma boa precisão do TC.

4.3 COMPORTAMENTO EM REGIME TRANSITÓRIO

Quando o TC opera em condições normais, ou seja em regime permanente, seu


funcionamento se dá na região linear de sua curva de excitação, quando ele passa a
operar na região de saturação da curva, a sua saída é impactada drasticamente. A
operação nesta região (saturação) é causada pelos seguintes fatores: valores elevados
de corrente de faltas assimétricas com componente dc, magnetismo residual no
núcleo deixado por faltas anteriores, carga do TC associada a valores elevados de
correntes de falta (TZIOUVARAS, 2001).

O motivo exposto no parágrafo anterior justifica a análise da operação do TC


durante a ocorrência de transitórios, pois as distorções na forma de onda da corrente
secundária podem influenciar na operação dos relés de proteção. A Figura 4.3 mostra
o circuito equivalente do TC já com o valor da impedância do burden composta
pelos valores das impedâncias das cargas dos relés e seus cabos somados ao valor da
impedância secundária do TC.
40

I1 I2
Im
I1 Ic Rc Lm If Em Zb

Figura 4.2 – Circuito Equivalente do TC paraTransitória


Figura 4.3 – Circuito equivalente do TC para análise transitória
O valor de Zb é dado por:

Z b = Rb + jϖLb (4.5)

Aplicando Laplace na eq. (4.5):

Z b = Rb + sL b (4.6)

A impedância de magnetização é formada pela ligação paralela da resistência do


núcleo e da indutância de magnetização. A corrente primária refletida para o
secundário com a componente dc é :

I 1 (t ) = I max [cos( ωt − θ ) − e −t / T cos θ ] para t≥0, e 0 para t<0 (4.7)

Imax é o valor de pico da corrente de falta , T é a constante de tempo do circuito


primário onde ocorreu a falta, θ é o ângulo forma de onda de tensão no ponto onde
ocorre a falta. Foi assumido que não havia corrente primária antes da ocorrência da
falta. A transformada de Laplace da eq. (4.7) é:

 s T   ω  (4.8)
I 1 ( s) = I max cos θ  2 −  + I max sen θ  2 2 
s + ω 1 + sT  s +ω 
2

Do circuito da Figura 4.3 ainda pode-se retirar as seguites relações:


(4.9)
E m ( s ) = Rc ⋅ Ic = s ⋅ Lm ⋅ If = I 2 ⋅ ( Rb + sLb )

O produto Lm.If resulta nos enlaces de fluxo λ do núcleo do TC. Aplicando a lei
de Kirchoff das correntes ao circuito do TC, tem-se:

I 2 = I1 + ( I f + I c ) (4.10)
41

Pode-se, a partir das equações (4.8) e (4.9) chegar aos valores de λ e Em em


função de I1. Considerarando-se um burden puramente resistivo, tem-se um
resultado mais simples como mostraso nas equações abaixo:
(4.11)
R ⋅R s
Em (s) = c b ⋅ ⋅ I1
Rc + Rb s + 1
τ

Rc ⋅ Rb 1 (4.12)
λ ( s) = ⋅ ⋅ I1
Rc + Rb s + 1
τ

e a constante de tempo τ é :

Rc ⋅ Lm + Rb ⋅ Lm (4.13)
τ=
Rc ⋅ Rb

Para encontrar a solução de I2 no domínio do tempo deve-se que substituir o


valor de I1 dado pela equação (4.8) na equação (4.12). Aplicando-se a trasformada
inversa de Laplace e chega-se ao valor do enlace de fluxo do núcleo no tempo.

Rc ⋅ Rb  −t  τ ⋅ T
+ τ ⋅ ( sen ϕ ⋅ cos ϕ ⋅ tan θ − cos 2 ϕ ) 

λ (t ) = I max ⋅ cosθ ⋅ ⋅ e τ −
Rc + Rb   T −τ 
(4.14)
T  τ ⋅T  cos ϕ 
+ e −t   +τ ⋅ ⋅ cos( ω ⋅ t − θ − ϕ ) 
τ − T  cosθ 

Em dλ
Pela lei de Ohm sabe-se que I 2 = e da lei de Lenz E m = , então I2
Rb dt

será dado pela equação (4.15):

Rc  − t τ  T
i(t) = I m a⋅ xc oθ ⋅s ⋅  e  − − ( s e ϕ n⋅ c oϕ s⋅ t a θ n− c o2 ϕs) 
 (4.15)

Rc + Rb   T − τ 
 τ⋅  c oϕ s 
− e   − ω ⋅ τ ⋅ ⋅ s e ( ωn ⋅ t − θ − ϕ ) 
−t T

τ − T c oθ s 
42

O resultado das equações acima, no tempo, é mostrado nas Figura 4.4. e 4.5.

300
271.567498

200

100
I1( t )

I2( t )
0

100

144.528735 200
0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2
0 t 0.2
Tempo

Corrente Primária
Fluxo no Núcleo

Figura 4.4 – Correntes primária e secundária de um TC com influência da componente


DC.
1
0.883871
Fluxo Magnético (Wb)

0.5

λ
( t)

0.0688 0.5
0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18 0.2
0 t 0.2
Tempo (s)

Figura 4.5 - Curva do fluxo magnético no núcleo do TC.

Se o valor da componente dc for capaz de elevar o enlace de fluxo do núcleo


acima do seu valor em regime permanente, a saturação poderá ocorrer. Quando o núcleo
do TC satura, a curva de magnetização passa a ser aproximadamente horizontal e a
indutância do núcleo passa a ser nula. Com isto a impedância de carga (burden) é curto-
circuitada, tornando nula a corrente secundária no TC durante o período de saturação
conforme mostrado na Figura 4.4 (HOROWITZ & PHADKE, 1995). O aumento da
corrente de magnetização aumenta o erro do TC o que leva a concluir que a análise da
resposta transitória do TC é de suma importância para seu dimensionamento, pois
43

quanto menor for a chance deste operar na região de saturação maior será a
confiabilidade da operação dos relés alimentados por ele.

4.4 MODELAGEM DE TC EM UM SISTEMA COM


HARMÔNICOS

Uma fonte senoidal alimentando uma carga não linear pode ser representada pelo
conjunto de equações abaixo:

vt (t ) = vi (t ) + v r (t )

vi (t ) = 2 ⋅ V1 sen(ω ⋅ t + α 1 )

v r (t ) = ∑ Vn sen(n ⋅ ω ⋅ t + α n )
n =1
(4.16)

it (t ) = ii (t ) + ir (t )

ii (t ) = 2 ⋅ I 1 sen(ω ⋅ t + β 1 )

i r (t ) = 2 ⋅ ∑ I n sen(n ⋅ ω ⋅ t + β n )
n =1

Suponha agora que o circuito na Figura 4.6 represente um alimentador de


distribuição saindo de um subestação industrial e alimentando uma carga não linear.
Este alimentador terá uma malha de proteção composta por um disjuntor, um
transformador de corrente e o relé de proteção. O circuito equivalente do TC foi
mostrado na Figura 4.2. Pode-se modelar um TC como sendo um fonte de corrente
constante em paralelo com as impedâncias do burden e de magnetização (ZOCHOLL,
1992). Então se este TC está instalado no alimentador com uma carga não linear ou em
um sistema que contenha cargas não lineares alimentadas por outros alimentadores que
saem do mesmo barramento da subestação, pode-se modelar o TC com tantas fontes de
corrente, quantas forem as componentes harmônicas presentes no sistema. A Figura 4.6
mostra o circuito equivalente do TC na presença de correntes harmônicas.
44

Zp Zs

Zm Zb
In . . . I2 I1

Figura 4.6 – Circuito equivalente de um TC em um sistema com presença de correntes


harmônicas

4.5 CONCLUSÕES

Neste capítulo foi apresentado o comportamento em regime permanente e em


regime transitório do TC. Durante o regime transitório, o TC pode operar na região de
saturação da sua curva, fenômeno conhecido como saturação do TC. Esta saturação,
causada por valores elevados da componente DC, entre outros, destorce a forma de onda
da corrente secundária conforme é mostrado na Figura 4.4. Esta distorção deve ser
levada em consideração quando do dimensionamento do TC para garantir que este não
sature durante a falta, influenciando na operação dos relés ligados ao seu secundário.
Além da distorção causada pela componente DC, outras componentes harmônicas
podem estar presentes na corrente primária do TC durante a ocorrência de faltas ou na
operação normal do sistema, o que pode levá-lo a saturação. Para verificar como estas
componentes harmônicas afetam a saturação do TC foi apresentado o modelo do TC
que será usado nas simulações.
45

5 RELÉS DE PROTEÇÃO

5.1 INTRODUÇÃO

Inicialmente, os reles eletromecânicos utilizavam o fluxo magnético para produzir


um torque proporcional às grandezas do circuito elétrico protegido, no caso tensões e
correntes. Com o surgimento dos transistores e circuitos integrados na década de 60,
apareceram os relés de estado sólido e, no início dos anos 80 os microprocessadores
deram origem aos relés digitais que são capazes de implementar várias funções de
proteção (WALL, 200X). O que diferencia as tecnologias aplicadas na construção de
relés é o seu princípio de operação. O IEEE standard 242-2001 Buff Book cita que
existem dois princípios de operação para os relés eletromecânicos: atração
eletromagnética e indução eletromagnética. Os relés eletromecânicos baseados em
atração eletromagnética funcionam através de um pistão acionado por um solenóide ou
por uma armadura acionada pelo pólo de um eletro-imã. A força eletromagnética, que se
opõe a força da mola mantém o pistão preso, é criada tanto por uma tensão ac ou dc. O
princípio da indução eletromagnética é o mesmo dos motores elétricos: um fluxo
magnético é passado através de um disco metálico produzindo um torque que faz com
que o disco se mova.

A força eletromagnética exercida sobre o elemento móvel é proporcional ao


quadrado do fluxo no entreferrro. Despresando o efeito da saturação, pode-se expressar
a força total que atua no elemento como (MASON, 1956):
(5.1)
F = K1 ⋅ I − K 2
2

Onde :

F- Força resultante;

K1 – Constante de conversão da força;

I – Valor RMS da magnitude da corrente atuando sobre a bobina;

K2 – Força de restrição

Quando o relé está na eminência de operar a força resultante é nula e a equação 5.1
fica:
46

K2 (5.2)
I= = CTE
K1

Esta equação é derivada de uma equação mais geral proposta por MASON (1956):

T = K 1 ⋅ I 2 + K 2 ⋅ V 2 + K 3 ⋅ I ⋅ V ⋅ sen(θ + ϕ ) − τ s (5.3)

A equação acima descreve o funcionamento de todos os tipos de relés


eletromecânicos independente da sua função e grandeza de atuação, bastando apenas
selecionar de maneira apropriada as constantes da equação (HOROWITZ & PHADKE,
1995).

A expansão dos sistemas de potência e sua complexidade levaram a busca de relés de


proteção com um nível de performance mais elevado e características mais sofisticadas.
Os primeiros relés estáticos eram baseados em eletrônica analógica e simplesmente
emulavam o funcionamento dos relés eletromecânicos, entretanto o surgimento dos
microprocessadores fez com que os relés estáticos passassem a disponibilizar novas
características que os relés eletromecânicos não eram capazes de produzir. Os relés
estáticos medem valores da grandeza e convertem os sinais de entrada para magnitudes
apropriadas a serem usadas pelos circuitos do relé. O valor medido é comparado a um
ajuste predeterminado. Os ajustes de tempo e outras características são obtidos através
dos circuitos analógicos (relés a estado sólido) ou algorítimos (relés digitais).

5.2 RELÉS DIGITAIS

O relé digital pode ser definido como sendo um dispositivo baseado em


microprocessador que utilizam técnicas numéricas de software baseadas em medição
(SACHDEV, 2004). O diagrama funcional de um relé digital é mostrado na Figura 5.1.
Este relé faz amostragem de tensões e correntes. Estas grandezas possuem valores
elevados sendo da ordem de kV e algumas centenas de amperes. Estes sinais são
reduzidos por TCs e TPs para valores típicos de 5 A e 120 V, respectivamente.

Do subsistema de entradas analógicas o sinal vai para a interface analógica onde


será feita a conversão do sinal analógico em digital. Neste subsistema estão presentes os
amplificadores, multiplexadores e conversores analógico-digitais que são responsáveis
por amostrar os sinais de nível mais baixo convertendo-os em números que são
guardados na memória.
47

Sistema de Potência

Transdutores

Subsistema Subsistema de Subsistema de


Analógico Entradas Digitais Saídas Digitais

Interface
Microprocessador RAM ROM
Analógica

Controle Comunicação
Micro Computador

Fonte de
Alimentação

Relé

Figura 5.1 – Diagrama de blocos de um relé digital

O estados dos disjuntores, seccionadoras e outros dispositivos presentes no sistema


de potência são aquisitados através do subsistema de entradas digitais. O algorítmo do
relé roda no microprocessador e é responsável por processar as informações através de
técnicas de processamento de sinais que estimam as magnitudes e ângulos dos fasores
de tensão e corrente.

Caso o sistema estiver sob condição de curto-circuito o relé enviará o sinal de trip
para os disjuntores via subsistema de saídas digitais. A memória RAM é usada para
armazenar dados temporários e a ROM armazena os valores de ajustes e outras
informações vitais.
48

5.3 VANTAGENS DO USO DE RELÉS DIGITAIS

Os relés digitais oferecem muitas funções que não estão disponíveis nos relés
eletromecânicos e a estado sólido. Algumas destas funções são: grupos de múltiplos
ajustes, lógica programável, lógica adaptativa, auto monitoração, auto teste, registro de
sequência de eventos, oscilografia e habilidade de se comunicar com outros relés e
computadores. O custo por função dos relés digitais é menor se comparado aos
eletromecânicos e a estado sólido. Esta redução de custo se deve ao menor custo dos
componentes e de produção.

Além das vantagens que surgem com o relé existem aquelas advindas do seu uso, tais
como: a redução do burden dos TC e TP, pois além de possuirem uma carga menor eles
ainda podem ser programados para detectar a saturação do TC e TP afim de minimizar
operações incorretas, redução de espaço em painéis em função do alto nível de
integração do hardware e da habilidade de se usar um único dispositivo para executar
diversas funções de proteção, conforme a Figura 5.2.

Figura 5.2 – Evolução das tecnologias de relés de proteção.


49

5.4 ALGORÍTIMOS DE PROTEÇÃO

Os algorítimos usados em proteção geralmente estão de acordo com uma das formas
mostradas na Figura 5.3. A Figura 5.3a baseia-se no fato de que os valores das variáveis
medidas e suas relações múltiplas (amplitudes, freqüência e potências reais e aparentes)
são determinadas numericamente, estes sinais são processados e através de um critério e
uma relação lógica é verificado se os valores das variáveis de entrada atinjam o limite
de pickup. Assim é tomada a decisão de efetuar ou não o trip.

Xa (n)
Determinação dos
Xb (n) Valores das Critério Relação Lógica Decisão
Variáveis de Entrada

(a)

Xa (n)
Critério Relação Lógica Decisão
Xb (n)

(b)

Figura 5.3 – Estruturas de medição típicas de algorítimos de proteção

A segunda estrutura mostrada na Figura 5.3b é usada normalmente em relés


analógicos ou de estado sólido. Este tipo não estabelece valores numéricos das
variáveis de entrada, nem calcula suas relações. Eles apenas comparam as
amplitudes com relação a uma referência para tomar a decisão de desligar ou não o
disjuntor (JAKOVLJEVSK, 2000).

Algorítimos baseados em equações diferenciais


Este tipo de algorítimo é baseado na descrição do sistema de potência em falta. Ele é
modelado como o circuito de uma linha R-L em série conforme mostrado na equação
5.4.

di (t ) (5.4)
v(t ) = R ⋅ i (t ) + L ⋅
dt

Os valores de v(t) e i(t) são medidos a partir do sistema de potência e ao se integrar a


equação 5.4 em dois períodos sucessivos de tempo obtem-se as equações abaixo:
50

t1 t1

∫ v(t ) ⋅ dt = R ⋅ ∫ i(t )dt + L ⋅[i(t ) − i(t


t0 t0
1 0 )] (5.5)

t2 t2
(5.6)
∫ v(t ) ⋅ dt = R ⋅ ∫ i(t )dt + L ⋅ [i(t ) − i(t
t1 t1
1 0 )]

Desenvolvendo as integrais acima usando a regra trapezoidal, pode-se criar uma


infinidade de algorítimos apenas variando o número de amostras nos dois intervalos. Se
por exemplo, for usado um mínimo de três amostras:

∆t  (i + ik −1 )( v k −1 + v k −2 ) − (ik −1 + i k −2 )( v k + v k −1 )  (5.7)
L= ⋅ k 
2  (ik + ik −1 )(ik −1 − ik −2 ) + (ik −1 + i k −2 )(ik − ik −1 ) 

 (i + i k −1 )( v k −1 + v k −2 ) − (i k −1 + ik −2 )( v k + v k −1 ) 
R= k  (5.8)
 (i k + i k −1 )( i k −1 − i k −2 ) + (i k −1 + ik −2 )( i k − ik −1 ) 

Existe uma outra maneira de se eliminar o termo diferencial da equação (5.4) que é a
aproximação das derivadas usando amostras. Para isso precisa-se representar a equação
(5.4) em sua forma discreta:
(5.9)
v(t k ) = R ⋅ i (t k ) + L ⋅ i ' (t k ) + e(t k )

onde:

tk – tempo de amostragem.

i’(tk) – aproximação da derivada.

As aproximações abaixo podem ser utilizadas para a derivada:

i (t k ) − i (t k −1 ) (5.10)
Aproximação backward
∆t

i (t k +1 ) − i (t k ) (5.11)
Aproximação forward
∆t

i (t k +1 ) − i (t k −1 ) (5.12)
Aproximação middle
∆t

O termo residual e(t) deve ser tratado e para isto existem duas maneiras: resolver
duas equações para R e L assumindo que o termo residual é zero e a outra maneira é
51

usar mais de duas equações para calcular R e L usando, por exemplo, o método do
mínimo erro mínimo quadrático (KEZUNOVIC, 2004).

Algorítimos baseados em técnicas de estimação de fasores ou formas de


ondas
Existem diversos algorítimos baseados em técnicas de estimação de fasores que
foram desenvolvidos ao longo dos últimos anos. Estas técnicas podem ser classificadas
nas categorias abaixo:

• Transformada discreta de Fourier;


• RMS
• Algorítimo Cosseno;
• Algorítimo dos mínimos quadrados;
• Filtros de Kalman;
• Transformada wavelet.

Nesta seção são discutidos os algorítimo baseados em transformada de Fourier, por


ser um dos mais usados nos relés comercializados atualmente Sachdev (2004) e o RMS
por ser capaz de simular o funcionamento dos relés eletromecânicos. A transformada
discreta de Fourier (DFT) é uma variação reduzida da transformada de Fourier

Algorítimo DFT
Como na transformada de Fourier, a DFT assume que um sinal é composto por uma
componente de freqüência fundamental e por componentes harmônicas desta
freqüência. A diferença entre a transformada de Fourier e a DFT é que a TF é aplicada a
sinais contínuos no domínio do tempo e a DFT se aplica a sinais temporais
representados por seqüências de números. Outra grande diferença é que para a
transformada de Fourier o sinal existe para um período compreendido entre -∞ e ∞, mas
para a DFT o sinal existe para pequenos intervalos de tempo, que são chamados de
janelas. O resultado deste algorítimo é um fasor que pode ser obtido pela equação
(5.14):

2 N −1  2π 2π 
I ( n) = ⋅ ∑  I k ⋅ cos( n ⋅ k ) + jI k ⋅ sin (n ⋅ k ) (5.14)
N k =0  N N 

Onde:
52

k- amostra
n-componente harmônica
N-número de amostras por ciclo
O módulo da resposta do algorítimo é dada pela equação (5.15)

I = 2
I real + I imag
2
(5.15)

Onde:

Ireal – Componente real do fasor I


Iimag – Componente imaginária do fasor I

O algorítimo DFT é um filtro passa banda em torno da freqüência que está sendo
medida e por isso pode extrair qualquer freqüência de um sinal. No caso de proteção de
sistemas de potência ele pode ser usado para extrair o sinal de freqüência fundamental
da onda de corrente e usa-lo na lógica de decisão de trip. Outra aplicação é extrair sinais
de corrente de 2ª e 5ª harmônicas para restrição de relés diferenciais usados na proteção
de transformadores. A resposta em frequência de um sinal com 16 amostras é mostrada
na Figura 5.4. Da figura pode-ses fazer as seguintes observações: As respostas em
freqüência são nulas para as freqüências de 2ª até 8ª harmônicas; a resposta em
freqüência é maior para o sinal de 60 Hz e atenua para as frequências maiores.

Figura 5.4 – Resposta em freqüência do algorítimo DFT com 16 amostras


53

Algorítimo RMS

O algorítimo RMS calcula o conteúdo de energia total de uma forma de onda,


entretanto ele não leva em consideração a frequência do sinal medido o que leva a
incluir todas as frequências presentes no sinal. A equação deste algorítimo para sistemas
contínuos é:

T
1
I RMS = ⋅ ∫ I 2 dt (5.16)
T 0

Para sistemas digitais a equação (5.16) passa a ser uma equação discreta no tempo:

1 N −1 2
I RMS = ⋅ ∑Ik (5.17)
N k =0

Ao se considerar um sinal sem distorções a resposta deste algorítimo será identica à


do algorítimo DFT (RENSICK, 1998). Este algorítmo é útil em aplicações onde a
medição do conteúdo de energia é desejável. Pode-se ainda usar este algorítimo para
simular relés eletromecânicos, uma vez que estes respondem ao valor RMS da grandeza
que medem.

5.5 CONCLUSÕES

Neste capítulo foram apresentados os relés de proteção mostrando a sua


evolução desde os relés eletromecânicos até chegar aos relés digitais, mostrou-se a
vantagem do uso dos relés digitais e os algorítimos de proteção usados nestes.
Os algoritmos baseados em equações diferenciais não possuem bom
desempenho frente a sinais distorcidos, necessitando de uma pré-filtragem do sinal
aquisitado, logo verifica-se que os algorítimos baseados em estimação de fasores, em
particular o algoritmo DFT, são os mais adequados por filtrar o sinal de corrente em
torno da freqüência medida extraindo o sinal que será usado na lógica de trip para
desligar o disjuntor. Este capítulo também serve de base para a implementação do
algoritmo dos relés usados nas simulações do Capítulo 6.
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6 COMPORTAMENTO DOS RELÉS FRENTE A PRESENÇA DE


COMPONENTES HARMÔNICAS EM SISTEMAS
INDUSTRIAIS

6.1 INTRODUÇÃO

6.2 RESPOSTA DE UM RELÉ DE SOBRECORRENTE NA


PRESENÇA DE COMPONENTES DE 5ª E 7ª HARMÔNICAS

6.3 COMPORTAMENTO DE UM RELÉ DE SOBRECORRENTE


NA PRESENÇA DE COMPONENTES DE 3ª HARMÔNICA

6.4 CONCLUSÕES

7 CONCLUSÃO

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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