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20 Rio Branco - Acre, domingo, 27, e segunda-feira, 28 de maio de 2007 Jornal Página 20

Papo de Índio
Txai Terri Valle de Aquino & Marcelo Piedrafita Iglesias

Um Meteoro a brilhar nas telas do Brasil


Marcelo Piedrafita Iglesias som) por uma ampla rede de profissionais
divulgação

R
do Brasil, Argentina e Venezuela.
espeitável público, leitores do Ainda em produção, Meteoro inte-
Papo de Índio, o verdadeiro: grou a mostra “Cine en construcción”, do
faço uso deste espaço para di- Festival de San Sebastián (2003), no País
vulgar a estréia, em breve, nos cinemas Basco. Finalizado, participou com desta-
de várias cidades brasileiras, do belo que de prestigiados eventos no Brasil e no
filme Meteoro, fruto de vários anos de exterior: o Festival de San Sebastian/2006
um prazeroso e árduo trabalho de um (na mostra Horizontes Latinos), o Fes-
querido grupo de amigos e companhei- tival Internacional de Porto Rico/2006
ros de vida. De especial interesse para (onde foi premiado, pelo público, como
o povo do Acre, o filme traz como ator, melhor filme), o Festival Internacional de
num papel de destaque, José Osair Sa- Manaus (seleção oficial) e o Festival In-
les, mais conhecido entre nós como Siã ternacional de Santo Domingo (onde foi
Kaxinawá. premiado como a melhor trilha sonora,
Produzido pela Cinelândia Brasil Pro- num evento em que a “música no cinema”
duções, filmado em Juazeiro, na Bahia era o tema central avaliado pelo júri).
(junho/agosto de 2002), e nas dunas de Meteoro tem pré-estréias marcadas
Mundaú, no Ceará (outubro/novembro de em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo
2004), Meteoro (115 min.) tem direção e a partir de 18 de junho e estréia oficial-
roteiro de Diego de la Texera, produção mente no circuito a 22 de junho. A Imo-
de Maria Dulce Saldanha, fotografia de vision é responsável por sua distribuição,
Renato Padovani, figurinos de Yamê Reis, no Brasil e no exterior. Após debutar no
direção de arte de Yukio Sato e trilha so- Brasil, Meteoro já tem estréias marcadas
nora original de Lui Coimbra e Marcos em San Juan, terra natal do diretor, e em
Suzano. No espírito de integração latino- Nova Iorque, onde viveu muitos anos e
americana, o filme foi finalizado (monta- goza de grande prestígio como diretor e
gem, pós-produção, mixagem, edição de cineasta.
Já em divulgação em vários cinemas das principais cidades do sudeste, o trailer do
filme pode ser visto em

www.youtube.com/results?search_query=Trailer+de+Meteoro.
divulgação

Uma meteórica sipnose


No princípio dos anos 60, em plena e mal-humorados, o grupo presencia
euforia desenvolvimentista do gover- o impacto de um meteoro próximo
no Juscelino Kubitschek, uma equipe ao acampamento, fazendo jorrar uma
encarregada de construir a radial Bra- fonte de água. Com o fenômeno, che-
sília-Fortaleza enfrenta dificuldades ga também o sábio índio Julião (Siã
quando estranhas rochas impedem a Kaxinawá), para quem a benção das
construção da estrada. Entre os técni- águas tem um claro significado: é ali
cos estão o geólogo italiano Raffaldi que aquelas pessoas devem perma-
(Pietro Mario), o jovem topógrafo necer, após cavar um lago artificial e
Aloísio (Lucci Ferreira) e seu gran- semear uma vida melhor.
de amigo Gordo (Leandro Hassum), Batizado de Meteoro, o vilarejo se
o ex-garimpeiro e dono da cantina desenvolve em uma absoluta e bem-hu-
Meirelles (Cláudio Marzo), o opera- morada anarquia: no grupo tão hetero-
dor de rádio, o alemão Hans (Felipe gêneo, tudo é permitido, desde que seja
Kannenberg). para o bem comum. A paisagem muda,
Os mantimentos chegam periodi- a aridez é substituída por um oásis e pe-
camente de caminhão pelo leito da es- las dunas, cinco anos depois, chega um
trada já construída e as longas noites novo personagem: o turco Ibrahim (Da-
encontram um alívio mensal com a niel Lugo), um entusiasmado mascate.
chegada de um alegre grupo de “vi- Ninguém mais pensa em abandonar
sitadoras”, comandadas por uma es- Meteoro. Famílias se formam, crianças
fuziante Madame (Daisy Granados). nascem e crescem, brigas de casais são
Dentre as muitas moças, destacam-se resolvidas por consenso, os mais velhos
a doce Nova (Maria Dulce Saldanha) morrem.
e as exuberantes Eva (Paula Burlama- Treze anos depois, um novo obje-
qui) e Iracema (Iracema Starling). to luminoso aproxima-se de Meteoro
Após mais uma visita das “meni- – desta vez é um helicóptero da For-
nas”, chega pelo rádio a notícia so- ça Aérea Brasileira. Os militares são
bre o Golpe Militar. Logo depois, as recebidos com uma alegria que dura
chuvas destruem o leito da estrada e pouco: logo começam sessões de in-
o ônibus das “meninas” não regres- terrogatório e tortura, em busca de
sa para buscá-las. Um avião solta os ligações com guerrilheiros comunis-
mantimentos de pára-quedas, até que tas, embora um dos militares, o Major
um dia não retorna mais. Não restam Arruda (Marcos Weinberg), discorde
dúvidas: aquelas 40 pessoas foram de tais métodos. Suspeito de ser o elo
abandonadas pelo governo, entre o com a guerrilha, Julião convence a
deserto e a caatinga, e entregues à comunidade que é chegada a hora da
própria sorte. partida. A bandeira do Brasil erguida
Alguns partem em busca de ajuda por Meirelles é dobrada. O grupo,
e não retornam. Para piorar a situa- triste mas esperançoso, deixa Mete-
ção, o rádio emudece. Tempos depois, oro em busca de um novo local para
isolados, esfomeados, sedentos, sujos fincar a bandeira.
Diego de la Texera e Siã Kaxinawá durante as filmages nas dunas de Mundaú
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Papo de Índio
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Siã é o auspicioso
Julião em Meteoro

Reencontro de diretores
Diretor, roteirista, fotógrafo e produ- ção de professores indígenas promovidos dos Povos da Floresta (1989), Povos do dades que enfrentou ao compor o elenco
tor, Diego de la Texera nasceu em Porto pela Comissão Pró-Índio do Acre, Siã es- Tinton René (1991), A estrada da auto- do filme foi escolher aquele que seria
Rico. Formou-se em Cinema e Literatura tabeleceu-se em Rio Branco, onde passou nomia (1992) e Kaxinawá: the real pe- Julião: “Desde o início eu pensava em
pela Universidade Nova Iorque e parti- a exercer a representação política de seu ople (1993). Seus filmes foram exibidos escalar um índio. Por incrível que pare-
cipou do programa de formação do Di- povo e teve participação central na criação e premiados em festivais e mostras etno- ça, o papel de Julião foi inspirado por um
rectors Guild of America, entidade que da União das Nações Indígenas do Acre e gráficas no Brasil e nos EUA. Colaborou índio que eu conhecera há muitos anos,
agrupa os diretores dos EUA, da qual Sul do Amazonas (UNI). Desde 1988, e por também na produção de Sous les Grands Siã, cacique dos Kaxinawá, povo do Acre
permanece como membro ativo. quase 15 anos, foi presidente da Associação Arbres (1991), longa-metragem sobre os ligado ao extrativismo da borracha. Esti-
Ativo militante de causas políticas e ci- dos Seringueiros Kaxinawá do Rio Jordão Kaxinawá do rio Jordão, do diretor cana- ve nas terras indígenas no rio Jordão, em
nematográficas, fundou em 1971 a Sandino (ASKARJ). Seu trabalho, pela preservação dense Michel Régnier. Na edição e mon- 1996, onde fiz um curta (Treetap) sobre
Films, Inc., produtora de documentários da floresta e a organização dos povos que tagem deste longa, Siã teve a oportuni- a produção de couro vegetal, na qual os
para televisão e filmes publicitários nos nela vivem, foi premiado em 1994 com o dade de visitar a Office National du Film seringueiros Kaxinawá estavam envol-
Estados Unidos. No fim dos anos 70, viveu Prêmio Reebok dos Direitos Humanos. do Canadá, onde deu continuidade à sua vidos. Depois, perdi o contato com Siã.
na Nicarágua, onde participou da Segunda Candidato a prefeito de Município de Jor- formação profissional. Para Meteoro, realizei testes com vários
Guerra Sandinista (1959-1979). Foi um dão por duas vezes, e a deputado estadual, Em Meteoro, Siã aparecerá, pela pri- índios atores, mas não fiquei satisfeito.
dos fundadores do Instituto Nicaragüense em outras duas, elegeu-se vice-prefeito em meira vez na condição de ator, como Ju- E foi nesta situação que magicamente
de Cine (Incine), e diretor de El Danto, o 2004, cargo que exerce pelo PV. lião, personagem que surge em tempos reencontrei Siã. Quando o convidei para
primeiro filme rodado no país livre. O interesse de Siã pelo vídeo nasceu de dificuldade, apontando caminhos para o papel, ele disse que primeiro queria fa-
Em 1972 filmou El Salvador: el pue- em 1987, quando começou a documentar tempos de maior fartura, esperança e fe- zer um teste. Fez e, obviamente, passou.
blo vencerá, sua obra mais conhecida, as mobilizações de seu povo Kaxinawá e licidade para o vilarejo, situação esta que Siã não precisou interpretar, porque ele
pela qual recebeu o Gran Coral no Fes- da então nascente Aliança dos Povos da guarda semelhanças com o papel que, na é índio - aprendeu a falar português com
tival de Havana de 1980, o Prêmio de Floresta, primeiro em Rio Branco e de- vida real, muitas vezes exerceu para seu fluência aos 14 anos e preserva grande
Oro no Festival de Moscou de 1981 e o pois no Vale do Juruá, durante a criação povo Kaxinawá. sabedoria e simplicidade”.
prêmio Fipresci (Festival de Lille). Foi e implantação da Reserva Extrativista do Em um trecho da entrevista que inte- Com este singelo Papo de Índio, que-
um dos fundadores do Instituto Cinema- Alto Juruá. Como diretor e câmara, pro- gra o release de Meteoro, Diego de la Te- ro homenagear esse reencontro e alguns
tográfico de El Salvador Revolucio­nário duziu os documentários Fruto da Aliança xera destaca que uma das maiores dificul- personagens queridos, que dele usufru-
(ICSR) e um dos co-fundadores da Esco- joão ripper, 1989
íram para torná-lo mágico também no
la Internacional de Cinema e TV de San cinema. Primeiro, ao meu concunhado
Antonio de los Baños (Cuba), onde diri- Diego e à Maria Dulce, sua mulher, atriz
giu o curso de fotografia até 1987. e produtora do filme, pela árdua batalha
Dentre seus filmes estão Tesoro/1987 de quase dez anos, hoje materializada
(co-produção Cuba, Venezuela e Porto Rico, num filme belíssimo, que, com certeza,
sobre três adolescentes); Treetap/1996 (so- será visto, aplaudido e lembrado por mi-
bre índios e seringueiros no Acre); Flor de lhares de pessoas no Brasil e lá fora. Vida
amor/1999 (sobre a infância abandonada longa a essa dupla, de luz e valor, em no-
em San José, Costa Rica) e Opará/2001, vas empreitadas de vida e labuta. Segun-
sobre o Rio São Francisco, além de vários do, ao meu compadre Siã Kaxinawá, que,
outros documentários. Meteoro é seu pri- com uma segura, alegre e comovente
meiro longa-metragem de ficção realizado atuação como Julião, abrilhanta o filme e
no Brasil, onde vive há dez anos. dá uma relevante contribuição ao cinema
Siã Kaxinawá nasceu em 1964 no serin- nacional. Soube há pouco do nascimento
gal Fortaleza, coração do que depois viria da menina Tamani, fruto da união de Siã
a ser a Terra Indígena Kaxinawá do Rio com minha amiga Andréa Martini. E esta
Jordão, no Acre. Ainda rapaz, acompanhou é mais uma homenagem que, com alegria,
seu pai, Sueiro Cerqueira Sales, seu irmão gostaria de prestar-lhes neste Papo.
Getúlio e outras lideranças Kaxinawá na Por fim, gostaria de sugerir à Fundação
luta pela conquista do “tempo dos direi- Elias Mansour, do Governo do Acre, que
tos”, que ganhou forma no reconhecimento viabilize a vinda e a exibição de Meteoro
oficial e na demarcação daquela terra, na por aqui, para que, na grande tela, os acre-
retirada dos patrões e na criação da pri- anos possam rever Siã, agora como ator,
meira cooperativa indígena no Acre. Após junto com uma bela história, um grande
participar dos primeiros cursos de forma- Siã documentando o I Encontro dos Povos da Floresta, em Rio Branco elenco e uma incrível trilha sonora.

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