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A DIMENSÃO LÚDICA NOS PROCESSOS

DE APRENDIZAGEM
Lino de Macedo

Instituto de Psicologia, USP

2009

Agora, quando voltam às aulas, esperamos que os alunos tragam


consigo e também encontrem a alegria do aprender em uma
escola pública. Esperamos, igualmente, que o mesmo ocorra com
professores, funcionários e gestores. É que, sem a alegria, o
aprender pode ficar privado de uma de suas melhores
significações. E, sem essa significação, a escola tende a ficar
reduzida a algo “chato” e obrigatório, ainda que valioso. A que
aprendizagem estamos nos referindo? Por que nela a dimensão
lúdica, o prazer funcional do aprender, é um componente
fundamental? Como buscar e encontrar a alegria nas situações de
aprendizagem? Como geri-la em favor do que julgamos melhor
para nós e para os outros?

É bom sair de férias, depois de um ano de estudos. É bom ficar


mais tempo com a família e os amigos, fazer viagens, alterar o
ritmo da semana – acordar, quem sabe, mais tarde, passear, não
fazer nada, ou mesmo realizar algum trabalho. Férias escolares
são isto mesmo: tempo de descanso, de divertimento e,
esperamos, de renovação do lugar e do valor desta instituição
para todos nós. Renovação, pelas saudades do que aconteceu no
ano que passou, dos amigos que “lá deixamos”, do que se fazia
no horário ou no intervalo entre as aulas, dos projetos realizados
em comum, das brincadeiras e conversas com os colegas, dos
sonhos que se teceram ou se desfizeram. Renovação também
pelas esperanças, às vezes ansiedade, com relação ao ano escolar
que se inicia: os novos colegas de classe, as aulas e os novos
desafios a enfrentar. Renovação, enfim, pela alegria de voltar à
escola e poder continuar aprendendo, o que de melhor nela se
pode aprender e que vale a pena!

Se a alegria justifica o ir e o voltar, é também uma condição


“durante”, que mobiliza e se relaciona com o aprender em si
mesmo. Observem que nas propostas de situações de
aprendizagem apresentadas nos Cadernos do Professor pela
   

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, em 2008, a


dimensão lúdica é sempre uma condição fundamental. Trata-se ali
de usar jogos, brincadeiras ou desafios como meios ou recursos
didáticos. Implica também propor projetos ou atividades
quaisquer, mas que façam sentido aos alunos pelo prazer
funcional que desencadeiam. A alegria se refere, pois, a uma
atitude, a um modo de aprender, que supõe uma relação ativa,
interessada e inteligente, reunida nas competências de saber ler e
escrever, compreender, resolver problemas, argumentar e
compartilhar. Convenhamos, seria pretensioso esperar no ensino
básico que os estudos se justificassem de imediato, aos alunos,
por seu valor futuro, pelo que, mais tarde, os habilitarão a um
desempenho profissional. Para os adultos – pais, educadores,
políticos –, isso pode ser o melhor argumento, mas não para eles.
Como criar situações de aprendizagem nas quais o que se ensina
em Matemática ou Língua Portuguesa, por exemplo, tenha valor
de vida, mas que interesse aos alunos por seu presente, por
aquilo que agora evoca ou desafia neles? Como criar um
ambiente de escola no qual esta seja mais do que um tempo em
que se é obrigado a ficar (mesmo que em segurança e boa
companhia)? Uma escola com ambientes de aprendizagem,
geridos por profissionais qualificados para isso? A presença do
lúdico, já o dissemos, é uma de suas garantias.

Nas situações de aprendizagem propostas nos Cadernos do


Professor temos muitos exemplos de como jogos, brincadeiras e
desafios podem se articular com o ensino de conteúdos
disciplinares. É que essas atividades (jogos, brincadeiras e
desafios) combinam com duas necessidades fundamentais do ser
humano, ao menos em suas primeiras etapas da vida: a
aprendizagem e o prazer funcional nas ações que a possibilitam.
Nós adultos compreendemos o valor das aquisições, quaisquer
que sejam, por sua transcendência, isto é, por seu passado (por
aquilo que não se deve esquecer) ou futuro (por aquilo que se
deve preparar). As crianças valorizam as mesmas aquisições, por
sua imanência, pela alegria ou esforço que requerem no presente.
Para aqueles, a aprendizagem é um meio, para estes, o próprio
fim.

Consideremos, por exemplo, as regras ou normas sociais.


Crianças e jovens descobrem ou constroem, pouco a pouco, o
valor delas em situações do cotidiano, que fazem sentido para
eles. Ouvir, e depois contar, histórias, por exemplo, são ações
que supõem aprender a escutar, a prestar atenção, a aprender a
reunir ou reorganizar, não importa por quais indícios, o que está
sendo narrado. Supõem atribuir consideração ao contador, a ficar
   

em silêncio para desfrutar as delícias do imprevisto, descobrir os


personagens, imaginar ou repetir situações e seus desfechos. Em
um jogo de regras aprendem a aceitar os limites e os marcadores
sociais, que tornam possível e interessante essa atividade: a
alternância entre os oponentes, o ganhar e o perder, os limites de
espaço e do tempo, o fazer escolhas e se submeter a suas
consequências. Conflitos, divergências, dificuldades para
compartilhar um desafio comum e seu incerto desfecho
perturbam, desequilibram, assinalam diferenças. Mas, suas
regulações (o que corrigir, anular, manter ou reforçar) tendem a
transformar as estruturas cognitivas e os esquemas afetivos que
possibilitam essas trocas sociais no plano individual ou grupal.

Os desafios presentes na resolução de um problema, no


cumprimento de um prazo ou limite (de espaço ou de tempo)
para a realização de uma tarefa, na construção de um jogo ou
texto segundo certas condições, na observação e superação de
dificuldades, no estabelecimento de novas relações, na
interpretação de um texto podem encantar crianças e jovens, se
neles a dimensão lúdica, o prazer funcional de enfrentá-los,
estiver presente. Recorrer ao já aprendido, aprender algo novo,
experimentar, imaginar, arriscar-se são consequências positivas
dos desafios, pois – em perturbar – rompem com um equilíbrio
anterior ou com uma resposta, agora insuficiente.

As brincadeiras, por sua inteireza e liberdade, possibilitam que


crianças e jovens se relacionem simbolicamente com aquilo, às
vezes só possível de ser experimentado nesse plano. Ao mesmo
tempo, requerem presença e materialidade de ações,
pensamentos e escolhas que implicam o aprender construir
coerência e coesão, junto com a alegria do que pode ser de
muitos jeitos, desde que os que brincam estejam lá e satisfeitos.
E quando há exageros, violências, agressividades, egocentrismos,
é tempo de marcar, corrigir, compreender, perdoar, esquecer.

Segundo o dicionário, escola, em seus começos, era lugar de


“divertimento, recreio” (versão latina) ou “descanso, repouso,
lazer, tempo livre, hora de estudo, ocupação de um homem com
ócio, livre do trabalho servil” (versão grega). Na escola antiga, os
alunos, através de seus mestres e do que ouviam ou praticavam
com eles, podiam aprender coisas valiosas, podiam se aperfeiçoar
como pessoas ou membros de uma comunidade de iguais. Mas,
essa escola era só para os que tinham fortuna, em todos os seus
significados, para isso. Como recuperar ou construir a dimensão
lúdica na escola, agora para todos?
   

A escola era, e deve ser, um lugar onde se aprende, onde se


aprende coisas que valem a pena repetir. Nela, por exemplo, se
aprende a ler, e ler vale a pena repetir e aperfeiçoar. Quem sabe
ler e descobriu o gosto da leitura pede livros, busca coisas para
ler, aprecia situações em que essa atividade está presente. Ele
não o faz só por obrigação, mas por algo justificado por si
mesmo. Ele lê por deleite, pelo gosto ou prazer funcional da
leitura, lê para ler, lê porque gosta das surpresas ou do
conhecimento que a leitura traz. Lê porque se tornou um leitor.

Saúde e beleza não são privilégios nossos. A alegria, sim. E se ela


comparecer nas situações de aprendizagem escolar, melhor ainda.
Que na volta às aulas os alunos encontrem um ambiente
perfumado por ela; que suas novas e mais difíceis aquisições
tenham o frescor, a leveza e o presente do lúdico.

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