Вы находитесь на странице: 1из 5

Entrevista: David Ben-Gurion

VEJA, maio de 1948

O fundador de Israel não se empolga com o sucesso dos


primeiros dias de combate e prevê que muitas tormentas aguardam
seu povo. Mas o teimoso líder avisa: Israel triunfará

Uma vida nas trincheiras: o líder pioneiro da nação israelita acompanha de perto os combates travados com as forças árabes

oldado das hostes judaicas, Ben-Gurion sucumbiu no malfadado combate contra a legião
romana em Jerusalém, no ano de 70 d.C., derrota militar que significou o fim da soberania
de seu povo na Terra Santa. À luz dos recentes acontecimentos no Oriente Médio, fica
difícil imaginar uma escolha mais propícia de pseudônimo hebraico do que aquela adotada
pelo jornalista David Gryn nos idos de 1910. Dos editoriais do periódico Ahdout
("Unidade") às árduas batalhas contra os árabes, o recém-nomeado primeiro-ministro de
Israel, agora atendendo apenas como David Ben-Gurion, tem dedicado sua vida a completar
a tarefa inacabada de seu antecessor de restabelecer a Palestina aos judeus. Baixinho,
teimoso, carrancudo, desprovido de qualquer vaidade, o líder sionista nasceu em Plonsk –
hoje território polonês, à época parte do império czarista russo – a 16 de outubro de 1886 e
está no Oriente Médio desde os 19 anos, trabalhando pela construção do lar nacional
judaico. Um dos idealizadores da Hashomer, força de defesa rudimentar dos pioneiros que
deu origem à Haganá, Ben-Gurion guia com mãos resolutas a nova nação nesta época de
guerra. Nesta entrevista a VEJA, o comandante não esconde a preocupação com a provação
a ser enfrentada por Israel, mas se mostra confiante na vitória militar de suas tropas. Mais
que isso: aposta na consolidação do país como um próspero centro de desenvolvimento no
Oriente Médio.
VEJA - Depois de quase dois milênios, os judeus
voltam a ter soberania na Palestina. O que significa,
para o senhor, estar à frente do recém-criado estado
de Israel, com toda a importância que isso representa
para os sionistas no mundo inteiro?
Ben-Gurion - Sem dúvida, algo único aconteceu em
Israel, mas somente as gerações futuras poderão avaliar
o completo significado histórico deste acontecimento.
Por enquanto, posso dizer que temos um caminho
tortuoso pela frente. Não devemos nos enganar e
pensar que o reconhecimento diplomático de outras
nações resolverá nossos problemas. No dia em que
proclamamos o estado de Israel, Tel-Aviv foi
bombardeada por aviões egípcios. Nosso país foi Combate na Galiléia: caminho é
tortuoso
invadido pelo norte, leste e sul pelos exércitos
regulares dos países árabes vizinhos. O governo provisório já fez uma reclamação formal ao
Conselho de Segurança a respeito da agressão cometida por membros das Nações Unidas, e
pela aliada da Grã-Bretanha, a Transjordânia. É inconcebível que o Conselho de Segurança
ignore atos que violam a paz, as leis internacionais e as decisões da ONU. Mas nunca
devemos nos esquecer que nossa segurança, no final das contas, depende de nossas próprias
forças.

VEJA - A Liga Árabe justificou a invasão com o argumento de que os árabes têm o direito
legítimo sobre a Palestina, que era parte do Império Otomano e contava com uma maioria
expressiva de população árabe. Como os judeus vêem essa questão?
Ben-Gurion - Já em 1917, a Declaração de Balfour reconheceu internacionalmente o
direito de Israel existir. Nosso considerável progresso em cultivar essa terra tornara nossa
reivindicação óbvia desde aquela época. O reconhecimento de nosso direito de estar aqui foi
confirmado diversas vezes ao longo dos anos e finalmente pela determinação das Nações
Unidas, em 1947, de que a Grã-Bretanha tomasse ações efetivas para o estabelecimento de
um estado judeu na Palestina. Tudo isso não nega o direito de qualquer outro povo ter um
estado. Longe de nós fazer algo assim. Resignamos-nos, em 1947, em receber a pior parte
da Palestina, conforme estabelecido pelas Nações Unidas. Não considerávamos a
determinação muito justa, pois sabíamos que nosso trabalho aqui merecia uma porção maior
de terra. Entretanto, não discutimos a questão e nos preparamos para acatar com zelo as
determinações internacionais quando chegado o dia de nossa independência. Também
estávamos prontos para fazer de Jerusalém uma cidade internacional, desde que respeitadas
as garantias dadas pelas Nações Unidas à população judaica de seu direito permanente de
viver ali de forma pacífica e de participar da administração democrática da cidade. Não
tínhamos, portanto, nenhum interesse nas regiões designadas aos árabes.

VEJA - Combates ferozes acontecem por todo o território, e os judeus têm se dado
consideravelmente bem na maioria deles – o que mostra uma preparação prévia para as
batalhas...
Ben-Gurion - Os judeus não pegaram em armas prontamente. Como povo, temos aversão
natural à violência. Nos séculos de exílio, fomos muitas vezes martirizados. Ainda assim,
nos sujeitamos de forma abnegada, raramente resistindo. Pegar em armas parecia anormal.
Mas sabíamos que aqui na Galiléia – e o princípio vale para Israel se quiser sobreviver, e
vai sobreviver – não havia normalidade no sentido comum da palavra. Queríamos criar uma
nova forma de vida, em consonância com nossas mais antigas tradições como povo. Foi
essa a nossa luta. E, para atingir este objetivo, precisamos recriar tudo do começo,
reinventar a sociedade. Portanto, estávamos preparados para ter sangue nas mãos em nome
da autonomia, da autodeterminação e da autodefesa.

VEJA - Como Israel conseguiu montar suas forças de


defesa em meio ao embargo de armas e às restrições
britânicas à imigração?
Ben-Gurion - Enquanto os países árabes vizinhos
organizavam modernos exércitos sob tutela britânica,
as condições do mandato impediam quase todo
desenvolvimento militar de nossa parte. Antes de o
Livro Branco de 1939 restringir severamente nossas
atividades, e em reação aos incessantes motins
provocados pelo Mufti de Jerusalém, a Administração
do Mandato nos permitiu treinar 2.000 homens da
Polícia Judaica dos Assentamentos. O período pós-
guerra começou com uma restrição implacável do
Haganá em ação: 'inimizade' britânica
governo trabalhista britânico à imigração e a toda
iniciativa de defesa judaica. Assim, a Haganá
conquistou a inimizade britânica ao se dedicar à imigração ilegal; sua liderança passou a
operar secretamente, mudando-se de kibutz para kibutz. Enquanto isso, porém, os países
árabes da região continuavam a receber armas, artilharias, blindagens, aviões de combate –
os instrumentos normais de uma guerra. Oficiais britânicos treinavam seus exércitos e, no
caso da Legião Árabe da Transjordânia, os comandavam. A situação era então muito
unilateral, e decididamente não a nosso favor.

VEJA - Os árabes acusam Israel pelo exílio forçado de mais de 200.000 palestinos, ação
amplamente condenada pela comunidade internacional. O que o senhor tem a dizer sobre
isso?
Ben-Gurion - Ora, são os poderes árabes e não judeus que estão exortando a população
muçulmana local a deixar suas casas e sua terra. Pedimos a eles para ficar e nos ajudar a
construir um país moderno. Aqueles que partiram o fizeram muito mais por medo das
ameaças árabes de uma retaliação pela "deslealdade" do que por causa de seus vizinhos
judeus. Na confiança, atravessaram as fronteiras e emigraram para os países árabes que
haviam exigido sua partida. Infelizmente, agora estão em condições infames.

VEJA - A revogação do Livro Branco abre as portas de Israel para a imigração de judeus
de todo o mundo...
Ben-Gurion - Para um judeu, a vida aqui traz a esperança de uma rica satisfação moral.
Sempre achei isso, o que moldou minha própria postura em relação a Israel. Vim para cá
muito jovem, quando a idéia de uma nação era considerada pela maioria dos judeus uma
louca fantasia. Eu sabia que tínhamos aqui a oportunidade ideal de provar nosso ímpeto e
nós mesmos como judeus. Não havia nada aqui. Era literalmente um canto esquecido do
Império Turco e do planeta. Ninguém o queria, certamente não os palestinos árabes que
placidamente vegetavam em sua pobreza sob domínio turco. Sua subseqüente indignação à
presença judaica foi artificialmente fomentada por grupos com interesses especiais e pelas
máquinas de propaganda dos países árabes vizinhos. Se os judeus desaparecerem de Israel,
e eles não vão, uma coisa é certa. Os árabes da Palestina não terão a menor chance de
autonomia, considerando o expansionismo de Egito, Síria, Jordânia e, em menor grau,
Líbano. Disso se pode ter certeza.

VEJA - A independência de Israel consuma a jornada


iniciada no século passado pelo pioneiro sionista
Theodor Herzl. Como suas idéias inspiraram os judeus
a seguir buscando tal intento?
Ben-Gurion - Quando eu ainda era criança, Theodor
Herzl veio a nossa pequena cidade. Judeu austríaco e
jornalista, Herzl tinha sido tão afetado pelo anti-
semitismo do caso Dreyfus na França que escrevera
um livro, The Jewish State, no qual clamava pela
fundação de uma nação judaica. Ele devotou o que lhe
restava de vida a começar o movimento sionista
moderno. Quando ele apareceu em Plonsk, as pessoas
o saudaram como um verdadeiro Messias. Todos Herzl, 'Messias' sionista:
passavam dizendo "o Messias chegou", e nós, as 'impressionante'
crianças, ficamos muitíssimo impressionadas. Era fácil
para um garoto pequeno como eu ver em Herzl o Messias. Ele era alto, homem de feições
finas, cuja impressionante barba preta descia-lhe largamente até o peito. Uma olhada nele e
eu já estava pronto para segui-lo até a terra dos meus ancestrais.

VEJA - As terríveis memórias do Holocausto precipitaram, de alguma forma, a criação


desse estado judeu sonhado por Herzl?
Ben-Gurion - Nós, judeus da Palestina, assistimos impotentes e em agonia enquanto nossos
irmãos em terras européias – onde muitos temos nossas origens – eram colocados lado a
lado em confusão e terror, despojados de seus pertences, até da roupa do corpo, para as
jornadas rumo às câmaras de gás, fornos e infernos da fome da "solução final".
Testemunhamos essa renúncia da raça humana e fomos todos marcados por isso. Senão por
nenhuma outra razão que não a de manter a fé pelos que haviam morrido, sabíamos que não
poderíamos caminhar docilmente para o ossuário. Enquanto Israel viver, sim, oferecerá
refúgio de tal atrocidade. Em nome de nossos mortos oprimidos, temos de lutar. Se
necessário, também nós morreremos. Mas como morreram os heróis judeus no gueto de
Varsóvia, na Jerusalém sitiada pelos romanos, em Masada: de costas para o muro, sem dar
espaço ao inimigo.

VEJA - Mas será possível fazer crescer um país em meio a um permanente estado de
beligerância, como o que Israel enfrenta e deve enfrentar daqui para frente? Há futuro em
meio à tormenta da guerra?
Ben-Gurion - Faço questão de frisar: não nos interessa morrer ou nos tornar mártires. Os
judeus já tiveram o suficiente disso em sua longa história. Estamos preocupados com a vida,
em fazer Israel florescer, em mostrar a toda a humanidade como se pode criar uma terra
farta de um pedaço de terra erma. Viemos para cá jubilosos e esperançosos, em devoção a
nosso povo, à nossa herança, à nossa antiqüíssima vocação para contribuir com o bem-estar
das pessoas. Onde houve judeus, a cultura floresceu, a humanidade prosperou. Desejávamos
– e ainda desejamos – contribuir com nossa presença para todo o Oriente Médio. Sei que
um dia nos permitirão fazê-lo.

Вам также может понравиться