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Desempenho funcional de crianças com mielomeningocele

Functional performance of children with myelomeningocele


Luanda André Collange1, Renata Calhes Franco2, Roberta Nunes Esteves3, Nelci Zanon-Collange4

1
Fisioterapeuta; Especialista em RESUMO: Este trabalho visou analisar o impacto dos níveis de lesão, deambulação e
Fisioterapia Hospitalar alterações neurológicas associadas ao quadro clínico da mielomeningocele sobre o
2
Fisioterapeuta; Profa. Ms. do desempenho funcional de seus portadores. Neste estudo transversal prospectivo foram
Curso de Fisioterapia do examinadas 40 crianças com mielomeningocele, avaliando-se nível de lesão,
Uninove (Centro Universitário deambulação, malformação de Arnold-Chiari, hidrocefalia, hidromielia, medula
Nove de Julho, São Paulo, SP) ancorada e incontinência esfincteriana. O desempenho funcional foi avaliado pelo
3 Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI), para um registro quantitativo da
Fisioterapeuta; mestranda em
Ensino em Ciências da Saúde capacidade funcional e autonomia nas atividades cotidianas, nas áreas de
na Unifesp (Universidade autocuidado, mobilidade e função social. Os dados coletados foram analisados
Federal de São Paulo); estatisticamente, estabelecendo-se o nível de significância em p<0,05. Os níveis
Supervisora do módulo de de lesão e a deambulação influenciaram significativamente (p<0,01) os escores das
Enfermaria Neurológica e três áreas do PEDI. Os graus de limitação foram diretamente proporcionais ao nível
Neurocirúrgica do Curso de
Especialização em Fisioterapia de lesão. O maior acometimento foi verificado no autocuidado e na mobilidade,
Hospitalar do Hospital Santa tendo as crianças obtido melhor pontuação na área de função social. Nos pacientes
Marcelina, São Paulo, SP com nível de lesão torácico, a hidromielia sintomática mostrou-se fator significativo
4 na área de autocuidado (p<0,01). Conclui-se que os níveis de lesão e a deambulação
Neurocirurgiã pediátrica; Dra.
no Setor de Neurocirurgia influenciam, com impactos diferenciados, cada área do desempenho funcional. Em
Pediátrica da EPM/Unifesp pacientes com lesão torácica, a hidromielia sintomática pode ser apontada como
(Escola Paulista de Medicina fator limitante do autocuidado.
da Universidade Federal de DESCRITORES: Autocuidado; Criança; Desempenho psicomotor; Locomoção;
São Paulo, São Paulo, SP) Meningomielocele
ENDEREÇO PARA
CORRESPONDÊNCIA ABSTRACT: This study aimed at analysing the impact of level of lesion, locomotion,
Luanda A. Collange and neurological changes associated to meningomyelocele clinical framework
Av . Eulina 217 Bairro do Limão concerning functional performance. For this prospective cross-sectional study 40
02755-140 São Paulo SP children with meningomyelocele were assessed as to level of lesion, ambulatory
e-mail: ability, Arnold-Chiari malformation, hydrocephalus, hydromyelia, tethered cord,
luandacollange@terra.com.br and sphincter incontinence. Functional performance was evaluated by the
Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI) which quantitatively assesses
Uma versão deste texto foi functional performance and independence in daily activities in the areas of self-
apresentada ao I Inter-Cobraf,
Santos SP, 2006, e ao 11o care, mobility, and social functioning. Collected data were statistically analysed
Congresso Paulista de and the significance level set at p<0.05. Lesion levels and ambulatory ability
Pediatria, São Paulo SP, 2007. had a significant (p<0.01) impact on scores of all three PEDI areas. Limitation
degree was found to be directly proportional to level of lesion. Functional
performance was more severely affected in self-care and mobility activities,
and the best functional scores being obtained in social functioning. In patients
with thoracic lesion level, symptomatic hydromyelia proved to be a significant
factor for self-care (p<0.01). Lesion level and ambulatory ability thus may be
said to influence, at different levels of impact, each area of functional
performance. For patients with thoracic lesion level, symptomatic hydromyelia
APRESENTAÇÃO may be pointed out as a self-care limiting factor.
jun. 2007
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO KEY WORDS: Child; Locomotion; Meningomyelocele; Psychomotor performance;
dez. 2007 Self care

58 FISIOTERAPIA
FISIOTERAPIAEEPESQUISA
PESQUISA2008;
2008;15(1):
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Collange et al. Desempenho funcional em mielomeningocele

INTRODUÇÃO METODOLOGIA que possa informar sobre seu desem-


penho em atividades e tarefas típicas
Mielomeningocele (MMC) é uma Este estudo, de caráter transversal da rotina diária11-13.
malformação do sistema nervoso prospectivo, foi realizado com crian- O teste é composto de três partes:
central comum ao nascimento1, sendo ças portadoras de MMC que compare-
a primeira avalia habilidades do reper-
considerada um complexo defeito do ceram ao ambulatório de Neurocirurgia
tório da criança agrupadas segundo três
fechamento do tubo neural2. Está as- Pediátrica do Hospital Santa Marcelina
áreas funcionais: autocuidado (73
sociada a freqüentes e severas seqüe- - Itaquera (em São Paulo) durante 2006.
itens), mobilidade (59 itens) e função
las neurológicas3, que podem causar Foram selecionadas 40 crianças com
social (65 itens). Cada item dessa parte
significativa morbidade e mortalida- base nos seguintes critérios de inclu-
é pontuado com escore 0 (zero) se a
de4. Prevalências altas em centros de são: portadoras de MMC com hidroce-
criança não é capaz de desempenhar
referência refletem os progressos no falia tratada com derivação ventrículo-
a atividade, ou 1 (um), se a atividade
diagnóstico e a disponibilidade de peritoneal; idade entre 3 e 7,5 anos –
fizer parte de seu repertório de habi-
equipes capacitadas para tratar essa o limite superior da faixa etária foi
lidades. Os 73 itens avaliados na área
malformação e suas conseqüências5. estabelecido para adequar-se ao do
de autocuidado referem-se a: alimen-
instrumento de avaliação do desem-
Os problemas físicos comumente tação (14 itens), higiene pessoal (14
penho funcional utilizado, o PEDI; o
associados à MMC incluem graus itens), banho (10 itens), vestir-se (20
limite inferior foi determinado por ter
variados de défices neurológicos e itens), uso do toalete (5 itens) e con-
sido observado, na pratica clínica, que
sensório-motores, disfunções urogenitais trole esfincteriano (10 itens). Os 59 itens
a maioria das crianças com MMC aos
relativos à mobilidade distribuem-se
e intestinais, malformações esqueléti- três anos já apresenta nível de deam-
em transferências (24 itens), locomo-
cas 6. Somando-se a estes, algumas bulação definido. Os critérios para
ção em ambientes internos (13 itens),
complicações decorrentes da hidro- exclusão do estudo foram: presença de
locomoção em ambientes externos (12
cefalia compõe o quadro clínico instabilidade clínica (por exemplo,
sintomas de disfunção do sistema de itens) e uso de escadas (10 itens).
desses pacientes7.
derivação ventricular); ser acompa- Quanto à função social, os 65 itens
A avaliação do desempenho funcio- nhado por pessoa que não fosse capaz são distribuídos em: compreensão
nal em atividades do cotidiano pode de informar sobre seu desempenho nas funcional (15 itens), verbalização (10
ser um válido instrumento de análise atividades de vida diária. Todos os pais itens), resolução de problemas (5
para a criança e sua família. Pode ou responsáveis assinaram o termo de itens), brincar (15 itens), auto-
contribuir para diminuir a ansiedade consentimento informado, após informação (5 itens), participação na
dos profissionais envolvidos na reabili- esclarecimento dos objetivos e me- rotina doméstica ou comunidade (10
tação desses pacientes, permitindo todologia do estudo, que foi aprovado itens) e noção de autoproteção (5
predizer alguns desfechos e focalizar pelo Comitê de Ética em Pesquisa do itens) 11-13. Os escores obtidos são
condutas. Pode ainda esclarecer e Hospital. somados por área (autocuidado,
orientar os responsáveis, dirimindo máximo de 73; mobilidade, 59; e fun-
As crianças apresentavam diferen- ção social, 65). Assim, quanto mais
dúvidas sobre as futuras possíveis
tes níveis de lesão, classificados como alto o escore, melhor o desempenho
limitações, sobre o que a criança será
torácico, lombar alto, lombar baixo e funcional da criança na respectiva
apta a realizar de forma independente
sacral 8-9. Quanto à marcha, foram área.
e quais fatores poderão influenciar seu
classificadas como deambuladoras e
desempenho. A segunda parte do PEDI avalia a
não-deambuladoras8, segundo fossem
Frente à escassa literatura nacional capazes ou não de andar. Foi avaliada assistência tipicamente fornecida pelo
a respeito, o objetivo do presente estu- a presença ou ausência das seguintes cuidador no desempenho das tarefas
do foi avaliar o desempenho funcional alterações: malformação de Arnold- funcionais da criança nas mesmas três
de crianças com mielomeningocele. Chiari, hidrocefalia, hidromielia, áreas. A pontuação de cada item é
Analisou-se a influência dos níveis de medula ancorada e incontinência dada em uma escala que varia de zero
lesão, da deambulação e das altera- vesical e/ou intestinal. (se a criança é totalmente dependente
do cuidador para realizar a tarefa) a 5
ções neurológicas sintomáticas O desempenho funcional foi (se a criança é independente no desem-
associadas ao quadro da mielomenin- avaliado por meio do PEDI, questio- penho da tarefa, não necessitando de
gocele sobre o desempenho nas nário norte-americano 11,12 que foi qualquer ajuda do cuidador). Escores
atividades de autocuidado, mobilidade traduzido para o português e adaptado
intermediários indicam formas varia-
e função social propostas pelo para contemplar as especificidades
das de ajuda fornecida (supervisão
Pediatric Evaluation of Disability socioculturais brasileiras13. É aplicado
mínima, moderada ou máxima)11-13.
Inventory (PEDI, Inventário de Avalia- no formato de entrevista estruturada
ção Pediátrica de Disfunções). com um dos cuidadores da criança, A terceira parte destina-se a do-

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cumentar as modificações no ambien- Tabela 2 Escores (média±desvio padrão) obtidos pelas crianças nas áreas
te utilizadas para o desempenho funcio- funcionais do PEDI segundo o nível de lesão (N=40)
nal das atividades das mesmas áreas
acima. Nessa parte, as modificações Nível de lesão
do ambiente não são pontuadas com Área funcional* Torácico Lombar alto Lombar baixo Sacral
escore, apenas notadas como “nenhu- Autocuidado (73) 25±6 41±5 48±9 51±11
ma”, “centrada na criança”, “de Mobilidade (59) 2±1 15±4 40±20 47±22
reabilitação” ou “extensiva”11-13. Função social (65) 33±9 41±4 50±10 56±12
Os resultados referentes às * Os números entre parênteses são os escores máximos em cada área.
características das crianças são
apresentados na forma de distribuição
Tabela 3 Relação entre a condição do paciente de deambulador ou não-
numérica segundo o nível de lesão.
deambulador e os escores (média±desvio padrão) obtidos nas áreas
Foi calculada a média e o desvio pa-
funcionais do PEDI
drão dos escores obtidos no PEDI para
cada grupo de pacientes com o mesmo Área funcional Deambulador Não-deambulador
nível de lesão. O efeito dos níveis de Autocuidado p<0,01 53,5±56,9 33,9±36,1
lesão sobre o desempenho funcional Mobilidade p<0,01 54,6±56,7 8,3±10,8
foi verificado por meio da análise de
Função social p<0,01 56,5±58,9 38,1±40,6
variância de um caminho (ANOVA)
com post-hoc de Scheffé, assumindo p: resultado do teste t não-pareado
como nível de significância p<0,05.
e meio. A Tabela 1 resume as caracte- A Tabela 2 apresenta os escores
Na análise da relação entre capaci-
rísticas da amostra, agrupada por nível médios obtidos no PEDI pelas crianças
dade de deambulação e alterações
de lesão. A totalidade dos casos apre- agrupadas segundo o nível de lesão,
neurológicas associadas, foi utilizado
sentava hidrocefalia tratada com nas áreas de autocuidado, mobilidade
o teste t não-pareado com nível de
derivação ventrículo-peritoneal (DVP) e função social. Por meio da análise
significância p<0,05.
e incontinências vesical e intestinal. de variância de um caminho foi verifi-
Quanto à deambulação, todos os cada influência estatisticamente
RESULTADOS pacientes dos níveis torácico e lombar
alto não andavam e, em contrapartida,
significativa do nível de lesão sobre
os resultados nas três áreas propostas
Foram estudadas 40 crianças, sendo a maioria dos pacientes com níveis de pelo instrumento (p<0,01). O nível
22 do sexo feminino e 18 do sexo lesão mais baixos eram deambulado- torácico refletiu-se de forma signifi-
masculino, com idades entre 3 e 7 anos res comunitários. cativa (p<0,01) em pior desempenho
funcional na área de autocuidado. Os
Tabela 1 Idade dos pacientes e freqüência (n) de características segundo o escores dos pacientes com lesão nos
nível de lesão (N=40) níveis torácico e lombar alto não apre-
Nível de lesão sentaram diferença estatisticamente
Torácico Lombar alto Lombar baixo Sacral Total significativa nas áreas de mobilidade e
função social (p=0,30), mas as médias
Idade (anos – média±dp) 4,2±1,5 4,3±1,3 4,1±1,1 4,7±1,7
de seus resultados foram estatistica-
Sexo mente diferentes das dos pacientes
Feminino 6 5 7 4 22
4 5 3 6 18 com níveis de lesão lombar baixo e
Masculino
sacral (p<0,01); não houve diferença
Hidrocefalia tratada (DVP) 10 10 10 10 40 significativa entre os resultados dos
Arnold-Chiari pacientes destes dois últimos níveis
Assintomática 10 10 9 8 37 (p=0,85).
Hidromielia
Sintomática 3 0 0 0 3 Os escores nas áreas de auto-cuida-
Assintomática 0 0 0 1 1 do, mobilidade e função social dos
Medula ancorada pacientes deambuladores (37,5% da
Assintomática 10 10 10 10 40 amostra) foram significantemente
Incontinência superiores aos escores do restante dos
Vesical 10 10 10 10 40 pacientes, não-deambuladores (p<0,01).
Intestinal 10 10 10 10 40 A Tabela 3 apresenta os escores obtidos
Nível de deambulação nas três áreas segundo a condição do
Deambuladores 0 0 7 8 15 paciente, de deambulador ou não-
Não-deambuladores 10 10 3 2 25 deambulador.

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Collange et al. Desempenho funcional em mielomeningocele

A hidromielia sintomática foi iden- cotidianas14. Neste estudo, o recurso No presente estudo os pacientes de
tificada em três pacientes (7,5%), ao PEDI foi importante para permitir nível torácico apresentaram os piores
todos apresentando nível de lesão torá- análise funcional do desempenho resultados funcionais em cuidados
cico. Ao se compararem os escores diário da criança com MMC, visto que pessoais, sendo que, na presença de
desses pacientes com os demais que a funcionalidade é o foco primordial hidromielia sintomática, a limitação
apresentavam lesão no nível torácico, na intervenção multidisciplinar para foi ainda mais acentuada.
foi verificada diferença significativa na a reabilitação.
A hidromielia está presente nas
área de autocuidado (p=0,01), porém
Estudos prévios com crianças crianças com MMC em 40 a 80% dos
não houve diferença estatisticamente
portadoras de disrafismo espinhal casos 19 ; no entanto, na presente
relevante nas áreas de mobilidade
aberto encontraram baixos escores no amostra esse percentual foi de apenas
(p=0,83) e função social (p=0,30).
PEDI, ou seja, limitações funcionais 10%. Em geral, acarreta acometimen-
A medula ancorada estava presente em atividades referentes ao autocui- to dos membros superiores e desen-
em todos os casos e a malformação dado, mobilidade e função social14-16. volvimento de deformidades, como a
de Arnold-Chiari, em 37 (92,5%), mas Trata-se porém de estudos de outros escoliose20-21. A variável deformidade
ambas de forma assintomática, ou paises e não foram encontrados estudos não foi analisada neste estudo,
seja, sem repercussões clínicas. publicados sobre o desempenho limitação que deve ser ressaltada. A
Assim, não foram analisados seus funcional de crianças brasileiras com hidromielia afeta o autocuidado (neste
impactos no desempenho funcional. A MMC. Este estudo propiciou informa- estudo foi encontrada relação signi-
hidrocefalia e incontinência esfinc- ções relevantes sobre esses pacientes, ficativa), na medida em que este requer
teriana estavam presentes na totalidade seguindo a tendência de publicações controle de tronco e integridade das
dos casos, o que impediu a análise de recentes voltadas para a análise de funções de membros superiores, as
seus impactos no desempenho. padrões funcionais17. quais podem ser prejudicadas por de-
formidades da coluna vertebral e alte-
Como esperado, a capacidade de As crianças acometidas pela mal-
rações do tônus e força das extremi-
deambulação refletiu-se na necessida- formação apresentam lento desenvol-
dades. Estudo anterior apontou que a
de de assistência do cuidador (p<0,01). vimento da independência nas
integridade das funções motoras acima
Os pacientes não-deambuladores atividades de autocuidado, sendo que
do nível de lesão é determinante no
necessitam de assistência máxima nas cerca de 60 a 69% dos casos necessi-
autocuidado14.
atividades relacionadas à locomoção tam de assistência entre máxima e
e transferência. Na totalidade dos ca- moderada14,18. Na área de autocuidado A necessidade de assistência máxi-
sos houve necessidade de assistência proposta pelo PEDI, são quantificadas ma dos cuidadores nas atividades refe-
máxima nas atividades referentes ao atividades que requerem graus varia- rentes ao uso do toalete e controle uri-
uso de toaletes e controle urinário e dos de mobilidade e controle corporal, nário e intestinal foi relatada na tota-
intestinal. como as atividades de lavar-se, vestir- lidade dos 40 casos. Para Tsai et al.15,
Nas respostas à terceira parte do se e pentear os cabelos. De forma que investigaram crianças com espi-
PEDI, sobre as modificações neces- geral a MMC gera limitações nesses nha bífida, o auxílio do cuidador para
sárias para realização das atividades graus motores, conseqüentes à paralisia a gerência da bexiga era necessário
funcionais, foram relatados apenas sensório-motora, que é diretamente por um período prolongado.
equipamentos de reabilitação. As mo- proporcional ao nível da malformação.
Mobilidade é a capacidade de o
dificações citadas foram uso de órteses Além do nível de lesão, alguns fatores
indivíduo de mover-se eficientemente
de membros inferiores (60% dos foram apontados como limitadores da
no ambiente. Em geral, as crianças
pacientes) e recursos auxiliares de habilidade nos cuidados pessoais,
com MMC apresentam limitação na
marcha por 57,5% (n=23). como os défices intelectuais e a não-
mobilidade, o que pode influenciar sua
deambulação14.
participação em diferentes atividades21.
DISCUSSÃO A lesão no nível torácico acarreta
o comprometimento mais complexo
No presente estudo, os escores dos
pacientes com lesão torácica e lombar
Em pacientes com MMC, tradicio- desse tipo de disrafismo. Caracteriza- alta não apresentaram diferença
nalmente a terapia física focaliza se freqüentemente por paralisia estatística entre si quanto à mobili-
melhora da força muscular, adequação flácida nos quadris e abaixo deles e, dade, assim como os dos grupos com
de tônus e prevenção de contraturas, dependendo do segmento torácico lesão nos níveis lombar baixo e sacral.
assim como a otimização do desenvol- acometido, em parte da musculatura Deve-se ressaltar que os pacientes
vimento infantil e funcionalidade. No do tronco. É esperado que esses com os dois primeiros níveis de lesão
entanto, é pouco estudada a forma pacientes alcancem a postura sentada, eram não-deambuladores e os com
como os danos secundários à MMC o que proporcionaria certo grau de lesão lombar baixo e sacral, na maioria
influenciam a independência e o independência nas atividades avalia- dos casos, eram deambuladores comu-
desempenho funcional nas atividades das pelo PEDI, na área de autocuidado. nitários. Estudos prévios descrevem

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que, nos casos de lesão nos níveis lom- res resultados diferenciando-se da das crianças com mielomeningocele
bares, a aquisição da marcha é inversa- literatura em questão. nas atividades diárias de autocuidado,
mente proporcional à altura da mobilidade e função social avaliadas
O acometimento cognitivo é fre- pelo PEDI. Os resultados mostram que
malformação congênita e todos os qüentemente atribuído à hidrocefalia25.
pacientes com lesão sacral se apre- os níveis de lesão apresentam uma
O percentual de hidrocefalia associa- relação diretamente proporcional à
sentam deambuladores 22-24. Embora da à MMC na literatura varia de 15 a
não tendo evidenciado exatamente limitação no desempenho funcional,
25% ao nascimento26 até mais de 85% sendo maior quanto mais alta for a
essa situação, o presente estudo dos pacientes3. Em decorrência do malformação. A não-deambulação
encontrou correlação direta entre a local de seleção dos participantes e refletiu-se em pior desempenho global.
deambulação e a área de mobilidade, dos critérios de inclusão, a totalidade Na função social, os pacientes de-
não apenas no que se refere à dos casos analisados apresentava monstraram os melhores resultados
locomoção, mas também com relação associação de hidrocefalia tratada. funcionais. A hidromielia pode ser
às transferências. Uma das limitações deste estudo identificada como fator limitante no
A MMC representa a mais grave relaciona-se à não-aplicação de um desempenho, na área de auto cuidado,
forma de disrafismo espinhal. Ao teste cognitivo. Observamos que os dos pacientes com lesão no nível
pacientes foram capazes de realizar torácico. O claro conhecimento da
comparar-se MMC com lipomielome-
itens que requeriam componentes influência do quadro clínico secun-
ningocele, foi identificada pior habili-
cognitivos, mas essa análise sobre a dário à MMC e das alterações associa-
dade de locomoção, controle vesical
função cognitiva poderia ser feita de das à mesma, na funcionalidade dos
e desempenho funcional16; e os pacien- seus portadores, permitirá uma inter-
tes obtiveram escores mais baixos nas forma especifica.
venção terapêutica específica e
áreas de mobilidade e função social. eficiente. Novas análises deverão ser
No presente estudo observou-se
comprometimento funcional na área
CONCLUSÃO efetuadas para confirmar os achados
no presente estudo, principalmente
de mobilidade, em concordância com Os níveis de lesão e a aquisição da considerando a limitação desta amos-
a literatura. Porém, a área de função deambulação influenciam, com im- tra, com acometimentos neurológicos
social foi a que representou os melho- pactos diferenciados, o desempenho sintomáticos associados.

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