Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Fabiano Caruso
fabianocaruso.com
(Organizador)
SUMÁRIO
Prefácio
Referências
PREFÁCIO
Quem deseja escrever melhor precisa ler melhor. Não digo que deva ler muito, embora
seja desejável. Não digo que deva ler tudo, o que é obviamente impossível. Prefiro
sugerir que cada um leia bem o que de melhor encontrar. Nesta lista, apresento alguns
títulos que me parecem importantes para a formação de um escritor.
O autor abre nossos olhos para a consciência de que a leitura é uma aventura. Adler
valoriza muitíssimo a leitura dos clássicos, e prega uma visão humanística baseada nas
grandes conquistas dos pensadores e literatos ocidentais. Um livro que inspira seriedade
e serve como trampolim para muitas reflexões.
Um livro que não cai no defeito irritante de expor mandamentos artificiais para
realidades complexas. Escrever é uma arte que exige muito mais do que obediência. A
trans-obediência (algo mais do que a simples desobediência) é ouvir (ob + audire, no
latim, resultou no obedecer) faz-nos escutar essa voz profunda que é a nossa própria
voz.
Um escritor, como dizia Ezra Pound, tem de ler, assim como um pintor tem de ver
muitos quadros e um músico ouvir muitas sinfonias. A história da leitura é a história de
leitores insaciáveis, que, mais do que a quantidade, viam na pluralidade das leituras
uma forma de atingir a qualidade da percepção do mundo e de si mesmos.
Mais do que tudo, o escritor tem de exercitar a coragem. Criar é um ato de solidão, de
sofrimento e de alegria, de descoberta e de comunhão. É preciso ter a coragem de sair
da rotina tranqüilizante, para abrir caminho com os próprios pés, "golpe a golpe, verso a
verso", como escreveu Antonio Machado.
Um dos melhores livros impulsionadores da criatividade que conheço. Simples, mas com
reflexões de índole filosófica que fazem realmente pensar, o livro que recomendo agora
elimina uma série de preconceitos que travam a vida criativa de muitos seres humanos,
uma vez que a vida também é uma arte... também é uma biografia criativa!
Esse livro traz uma série de reflexões dispostas a desmanchar falsos dilemas que
alimentam falsas atitudes. Por que, por exemplo, opor arte individual a arte coletiva, ou
arte engajada a arte alienada? Luigi Pareyson nos ensina a pensar em termos de
contraste e não de oposição, atitude esta que, sem dúvida, facilita uma compreensão
generosa da arte e da vida.
04
Com aquele inconfundível estilo francês que põe a liberdade acima de tudo e valoriza ao
máximo os comportamentos inovadores, esse livro é um formador de leitores que, volto
a insistir, é condição básica para que uma pessoa se sinta à vontade na escrita criativa.
"Como um Romance" é um livro didático que nada tem de didático e, por isso, penso eu,
ensina mesmo!
Clássico da literatura "inspiradora", vamos chamar assim, que nos mostra o que é o
processo interno da criação poética e da criação artística, em geral, se tivermos o bom
senso de ler essas cartas como uma confidência pública de um artista em carne viva.
Estas cartas foram dirigidas a todos os poetas, quer escrevam em versos, ou em prosa.
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880-81) não é apenas, como ensinam os livros
escolares, o romance que marcou o início da chamada "fase madura" do carioca Joaquim
Maria Machado de Assis (1839-1908). Ele representa o amadurecimento da própria
literatura brasileira. Isso porque, ao mesmo tempo que a coloca em sintonia com o que
de mais avançado havia sido produzido até então nas letras mundiais - o Tristram
Shandy, por exemplo, do irlandês Laurence Sterne (1760-67) -, faz com que ela adquira
personalidade própria. "Foi nesse livro surpreendente que Machado descobriu, antes de
Pirandello e de Proust, que o estatuto da personagem na ficção não depende, para
sustentar-se, de sua fixidez psicológica nem da sua conversão em tipo", escreveu o
crítico Alfredo Bosi. Assim, para além do inusitado de seu irônico ponto de partida - um
morto escrevendo sua autobiografia - e de algumas passagens extraordinárias (caso do
capítulo O Velho Diálogo de Adão e Eva, composto de pontinhos, exclamações e
interrogações), Memórias Póstumas... põe em cena autênticos heróis trágicos, que,
como ensinou o velho Aristóteles, não devem ser nem inteiramente bons nem
inteiramente maus; noutras palavras, apenas homens e mulheres comuns, reais.
A prosa ficcional brasileira só chegou ao século 20 em 1924, ano em que o paulista José
Oswald de Sousa Andrade (1890-1954) publicou, às próprias expensas, o romance
Memórias Sentimentais de João Miramar. Foram sete anos de trabalho, o mesmo tempo
do Ulisses (1922), de James Joyce, que por sua vez trouxera o Novecentos para a ficção
mundial - e com o qual Miramar costuma ser associado. Consciente da originalidade de
sua obra, Oswald de Andrade prepara o leitor para o romance por meio de duas
epígrafes - que falam de "novas asas" (Basílio da Gama) e de uma "fala escura", a exigir
que se "acenda uma candeia no entendimento" (A Arte de Furtar) - e também de um
prefácio irônico, que classifica o livro de "mordaz ensaio satírico". Construído em 163
fragmentos, Memórias Sentimentais de João Miramar surpreende pelos limites que
destrói: mistura prosa e poesia, literatura, cinema e artes plásticas, amor e humor,
telegrama, paródia e fluxo da consciência. (Poderia ter citado o crítico Mário da Silva
Brito, dispensaria tudo o que foi dito até aqui; segundo ele, Miramar simplesmente
preparou o terreno para Macunaíma, de Mário de Andrade, Perto do Coração Selvagem,
de Clarice Lispector, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.)
Poucos romances do século 20, em qualquer um dos grandes idiomas ocidentais, podem
ser comparados a esta que seria a única experiência do mineiro João Guimarães Rosa
(1908-67) no gênero. Não é difícil entender o porquê. Como em qualquer obra-prima,
Grande Sertão: Veredas (1956) faz com que a linguagem, a representação, alcance o
status de seu objeto. É na arena da linguagem, conforme já observou Haroldo de
Campos, que se dá o embate entre o homem e o demônio. Explica-se. Riobaldo é um ex-
jagunço do norte de Minas, que narra sua vida num jorro lingüístico extremamente
original e cercado de preocupações de ordem metafísica, sobretudo acerca da existência
ou não do diabo - com quem teria feito um fáustico acordo na juventude para poder
derrotar seu inimigo Hermógenes. Em meio a essas questões, imiscui-se o plano
amoroso: a paixão de Riobaldo por Diadorim, que ele supunha ser o corajoso Reinaldo,
mas, após sua morte, descobre que era, na verdade, uma mulher. Painel do Brasil
sertanejo, reflexão sobre o destino humano, luta entre forças espirituais e da natureza,
oralidade, neologismos, arcaísmos, destruição do tempo e do espaço, libido - Grande
sertão... é um romance que cumpre à risca o que o alemão Thomas Mann acreditava ser
o único caminho de sua sobrevivência: mostrar-se como uma sinfonia de gêneros e
temas.
Nascida na Ucrânia, Clarice Lispector (1926-77) demorou oito anos e três romances para
se lançar como contista. Em compensação, as seis histórias de Alguns Contos (1952),
sua estréia no gênero, seriam reaproveitadas no livro seguinte, Laços de Família (1960)
- que, reforçado com sete textos até então inéditos, seguiria sendo sua principal
coletânea de narrativas curtas. Compreende-se. Amor, por exemplo, já presente no livro
de 52, está num degrau muito próximo de Missa do Galo, de Machado de Assis, e A
Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, obras-primas do conto brasileiro. Além
disso, sua protagonista, Ana - uma mulher comum, que no início da história está
voltando das compras para casa -, experimenta uma epifania que, de certa maneira,
seria um paradigma de toda a ficção de Clarice. Ana e o cego "que mascava chicles",
visto por ela num ponto de bonde, antecipam a narradora e a célebre barata, objeto de
"manducação", do romance A Paixão Segundo GH (1964), outro livro extraordinário de
Clarice Lispector.
Livro seguinte a Grande Sertão: Veredas, de 1956, Primeiras Estórias (1962) tinha uma
missão quase impossível - manter seu autor no patamar mais alto da literatura
brasileira, posição que fora consolidada com o lançamento de seu primeiro, e único,
romance. Como que para afirmar seu domínio pleno de todas as instâncias da narrativa
de ficção, Guimarães Rosa escolheu a história curta na hora de reencontrar, em livro, o
público e a crítica - o tradutor e ensaísta Paulo Rónai, por exemplo, à época do
exuberante Sagarana (1946), duvidara dos dotes do autor para o conto breve. Não é
preciso avançar muito na leitura de Primeiras Estórias para que o leitor se curve diante
da excelência da prosa rosiana. Na sexta das 21 narrativas do livro encontra-se aquele
que é o mais extraordinário conto da ficção brasileira desde Missa do Galo, de Machado
de Assis - A Terceira Margem do Rio. A história do pai que um dia larga tudo e embarca
numa canoa, para não ir a parte alguma, mas apenas executar "a invenção de se
permanecer naquele espaço do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela
não saltar, nunca mais", exibe uma estranha beleza: dilacerante. Quando o filho-
narrador, "uns primeiros cabelos brancos", tenta substituí-lo naquele estranho exílio, já
é possível prever o final desesperadamente humano do conto. Em tempo: Rosa teve a
idéia desta história andando na rua; ao chegar em casa, escreveu-a num jato, o que não
era comum. Depois, esfuziante, começou a ligar para os amigos, a fim de dividir com
eles a felicidade de sua desconcertante criação.
A literatura alemã é uma das mais importantes da literatura universal, não só da Europa,
como da História Universal. Ela cobre todas as épocas, da Idade Média à
contemporaneidade. E, embora seja pouco difundida entre nós (com algumas exceções,
evidentemente), oferece acesso em português a suas obras-primas. A lista que se segue
no momento está restrita a suas dez principais obras de ficção narrativa. Não há melhor
indicação no Brasil para conhecimento da literatura alemã, em português, do que a
História da Literatura Alemã escrita pelo crítico austro-brasileiro Otto Maria Carpeaux.
Considerada por Elias Canetti a maior obra de ficção mundial, narra a transformação do
anti-herói Gregor Samsa num inseto monstruoso e os conflitos que passa a enfrentar
com o pai, a mãe e a irmã.
São quatro volumes de contos, dos quais participam obras-primas do grande romântico
alemão que influenciou amplamente a literatura européia, de Gógol a Dostoiévski, de
Balzac a Maupassant e de Baudelaire a Kafka. Qualquer coletânea de contos de
Hoffmann (1776-1822) pode ser lida com o maior proveito artístico por quem se
interessa pelo gênero e pela criação literária em geral.
É uma das mais belas e memoráveis novelas de lingua alemã. O centro de orientação da
narrativa de Moerike (1804-75), poeta de primeira, é a personagem idealizada de
Mozart, cuja ópera Don Giovanni foi apresentada pela primeira vez em Praga.
Kleist (1777-1811) é um dos estilistas exemplares da prosa alemã. Nas oito novelas que
deixou, introduz um narrador original (que depois influenciou o de Kafka), já descrito
como alguém que conta um caso excepcional de costas viradas para o público.
Romance que agora volta à vaga com a energia e a sutileza de Thomas Mann (1875-
1955), um escritor que não recua diante da complexidade, a ponto de transformar idéias
e argumentos em personagens da trama.
Um dos maiores romances do século 20, ao lado de O Castelo. O protagonista, Josef K.,
é detido, julgado e executado sem saber por que nem por quem. O "narrador insciente"
(não-onisciente) de Kafka (1883-1924) dá coerência estética ao relato romanesco e
aponta para um universo em que já se perdeu a noção de totalidade.
Autor Stendhal
Título Crônicas Italianas
Título Original Chroniques Italiennes
Editora EDUSP, 1997, tradução de Sebastião Uchôa Leite
Ano 1855
ISBN 8531404134
Obra tão desconhecida dos leigos quanto, para os especialistas, o topo da progressão do
autor de Madame Bovary e, por isso mesmo, imperdível. Mas o leitor, no fundo, já ouviu
falar deste livro, sem saber. Já que é aí que encontramos, a título de arremate, o célebre
Dictionnaire des Idées Reçues. O romance (melhor seria dizer anti-romance), só
publicado postumamente, em 1881, conta a história de dois hilários aposentados que se
entregam no campo normando a leituras e experiências científicas de toda espécie,
sempre fadadas a dar errado. Outra maneira de dizer isso seria notar que Flaubert
(1821-1880) se põe aí a satirizar genialmente todos os discursos competentes, tudo se
resumindo num Dicionário das Idéias Feitas ou, como o chamou Augusto de Campos,
"Tolicionário". Em português do Brasil, contamos com a excelente tradução de Galeão
Coutinho e Augusto Meyer publicada pela Nova Fronteira em 1981.
16
Bíblia dos decadentistas, o livro já seria obrigatório só pelo fato de sua personagem
central, um certo Des Esseintes, inspirar-se na mesma figura humana que é a melhor
chave para o barão de Charlus de Proust: o poeta menor e dândi enlouquecido Robert de
Montesquiou. Mas, não bastasse isso - e ainda a existência de um poema de Mallarmé
para o mesmo Des Esseintes, o que faz de Montesquiou a obsessão de três grandes ao
mesmo tempo -, ele é ainda importantíssimo porque marca a ruptura de Huysmans
(1848-1907) com o naturalismo de Zola, a cartilha estética da época. Totalmente
revolucionário e surpreendente. A tradução disponível leva a assinatura de um poeta:
José Paulo Paes. Saiu pela Companhia das Letras.
Se é verdade que existe um grande poema universal que está sempre sendo
recomeçado, e se é certo que esse texto infinito é o que seria a literatura, Céline (1894-
1961) continua em Mort à Crédit (Morte a Crédito) a obra-prima de Marcel Proust. Até
porque, confessadamente, é com Proust que queria se medir este médico de dispensário,
na vida real Louis-Ferdinand Destouches, supostamente envolvido com a Colaboração, o
que é um reducionismo, e o melhor autor francês depois de seu mestre. Eis por que o
herói deste romance de 1936, posterior a Voyage au Bout de la Nuit (Viagem ao Fim da
Noite) e bem menos conhecido, é também um Narrador rememorante e sem idade, em
primeira pessoa e preso a um fio de voz. Saído não dos salões belle époque como Proust
mas direto da experiência da guerra, de que fala o título. Há apenas três romances de
Céline traduzidos entre nós, o que é alguma coisa, mas ainda assim muito pouco para
um autor dessa importância e, ainda por cima, torrencial. Sob o título Morte a Crédito,
há uma edição da Nova Fronteira, de 1982, infelizmente com alguns problemas
"tradutórios".
18
Que vem fazer em território francês este irlandês auto-exilado falante do inglês?
Manifestar, como todo grande escritor, seu estranhamento em relação ao próprio idioma.
No caso, de maneira espetacularmente literal, já que Beckett (1906-1989) põe-se a
escrever em outra língua que não a sua, tornando-se nessa outra um dos mais
importantes escritores do século. Munido de seu bizarro estilo coloquial praticamente em
pane, sem afetação nenhuma de elegância ou de modernidade, bem no meio do chique
literário parisiense. L’Innommable, romance de 1953 sobre a necessidade de calar-se, é
um dos pontos altos disso tudo.
Uma viagem através do tempo pela literatura inglesa pode ser uma aventura
intelectualmente enriquecedora e divertida. O roteiro que aqui sugerimos é apenas uma
dentre muitas alternativas. Ele tem por objetivo introduzir o leitor à riqueza de uma
imensa produção literária que reflete os valores sociais, históricos, morais e estéticos de
toda uma nação, ou melhor, de um império.
Toda literatura manifesta-se primeiramente em forma poética. Também na
literatura inglesa o primeiro texto literário documentado é um poema épico, Beowulf,
escrito no período denominado de Old English (450-1100), quando a essa literatura
estava ainda em seu nascedouro. Já o nascimento da narrativa de ficção pode ser
festejado no período romântico.
Vamos navegar através dos séculos pela ficção inglesa. As obras selecionadas
estão apresentadas em ordem cronológica para que o leitor possa acompanhar a
evolução desta literatura. Recomendaremos as obras em sua língua original, mas várias
podem ser lidas em português. Lembramos ainda que várias obras têm sido adaptadas
ao cinema.
Escrita por Geoffrey Chaucer (1340-1400), Canterbury Tales é um primor de obra que
precede o período romântico e foi escrita em versos, segundo o costume da época. Os
Contos de Cantuária são uma interessante coletânea inacabada de contos narrados por
um grupo de peregrinos com destino à Abadia de Canterbury e liderado por um
personagem que muitos críticos identificam com o próprio autor da obra. O modelo
seguido é aquele do Decameron, de Boccacio. Esta obra dá-nos uma boa visão da vida
doméstica medieval, apresentando estereótipos humanos das diferentes camadas sociais
com suas fraquezas e virtudes em tom que varia do humorístico ao irreverente e, muitas
vezes, até ao obsceno. Particularmente interessante é a descrição da esposa cortesã,
casada várias vezes, experiente na arte do amor, com suas ancas amplas e dentes
separados e enormes, que na simbologia medieval significavam sensualidade.
Este romance de Thomas Hardy (1840-1928) oferece uma trágica e bela história de
amor, de diferença de classes sociais, do papel inferior da mulher. Seu tom é pessimista
e raro são os momentos de descontração nessa trama bem feita. Hardy é um
regionalista que sabe explorar em detalhe a magnífica região de Dorset como local de
ação e pano de fundo para essa história. A base de sua filosofia é determinista passando
uma mensagem de que o homem não é livre, mas vive sempre oprimido pelo tempo e
controlado por misteriosas forças superiores.
Ulysses, de James Joyce (1882-1941), é considerada uma das obras mais importantes
do período moderno da literatura inglesa, com inovações de estilo e elaborada sob a
lenda do herói grego do mesmo nome. Os incidentes da trama acontecem em um único
dia da vida de Leopold Bloom na cidade de Dublin, Irlanda. Cada capítulo corresponde a
um episódio da Odisséia de Homero. Infelizmente, para o público em geral, Ulisses é um
romance hermético de difícil leitura. Seria conveniente ler um dos guias de leitura da
obra para facilitar a sua compreensão. Há excelente versão em português do Ulisses
[traduzida pelo filólogo Antônio Houaiss, que criou em português neologismos
correspondentes aos do original em inglês].
Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf (1882-1963), é obra que deve ser lida não só por seu
conteúdo mas também pelas inovações de técnica narrativa que coloca em segundo
plano a trama e a caracterização das personagens. O livro explora detalhes de
pensamento ou estado de espírito da protagonista, usando a técnica do monólogo
interior para expressar o fluxo da consciência de sua personagem reconstruindo seu
passado através de lembranças.
Brave New World, de Aldous Huxley (1894-1963), se ainda não é pura ficção científica
certamente é precursor dela. A ação se desenvolve no ano 162 AF (After Ford, ou depois
de Ford*) onde predomina o poder científico totalitário que tudo governa desde as
incubadoras de bebês em garrafas ("Mãe" é um palavrão") até o pre-condicionamento de
cada pessoa para sua designada função social. A cultura é suprimida e o lazer é
padronizado e difundido pela mídia. A higiene é o princípio fundamental. Huxley satiriza
a condição do homem moderno que cada vez mais se automatiza, mostrando as
conseqüências de deixar em segundo plano seus sentimentos e emoções.
[N. do S.: O norte-americano Henry Ford foi um dos pioneiros da indústria
automobilística mundial e criador do sistema de produção em série.]
Lord of The Flies, de William Golding (1911), conta a história de um grupo de meninos
entre 6 e 10 anos, que, após a queda do avião que os transportava, passam a viver em
uma ilha deserta onde pouco a pouco regridem a um estado de selvageria. É notável
como o autor subverte o modelo comum de história de aventura infantil e constrói em
torno da perversidade da criança. Esta obra tem uma primorosa versão cinematográfica
que data do início dos anos 60.
Esse troço de lista é fogo. Você fica pensando em todos os autores que excluiu.
Onde está Ariosto? Como é possível ignorar Machiavelli? Desde quando Aretino é melhor
do que Goldoni? Não sobrou uma vaguinha para Leopardi ou Buzzati? E Gadda? Onde
Gadda foi parar? Vou avisando: a minha é uma lista incompleta, parcial, com os autores
italianos que mais me influenciaram, que exploraram caminhos que eu gostaria de ter
explorado. Alguns deles, como Svevo, fazem parte da minha adolescência, e souberam
despertar em mim o amor pela leitura. Outros, como Boccaccio, apareceram mais tarde
e foram fundamentais para a minha formação como escritor. Outros, como Dante,
descobri meio tarde, quando já tinha uma certa bagagem. Que me perdoem os
excluídos. E aqueles que ainda não li. Por sorte, ainda há o que ler
Todo mundo conhece a história: um poeta visita Inferno, Purgatório e Paraíso. Claro que
o Inferno é mais divertido, com seus luxuriosos, gulosos, heréticos, suicidas, aduladores,
ladrões, falsários e traidores que sofrem as mais terríveis penas. Há aqueles que correm
nus, picados por vespas. Há aqueles que jazem em covas ardentes. Há aqueles que
viram plantas. Há aqueles que são postos num espetinho sobre as chamas. Tudo isso
pela eternidade. Mas o livro de Dante (1265-1321) não vale apenas pela força de suas
imagens. Ele consegue combinar impulsos aparentemente inconciliáveis: fantasia
popular com alta cultura, experimentação linguística com rigor matemático. Talvez seja
a obra literária mais importante da história.
Durante a epidemia de peste de 1348, em Florença, sete moças e três rapazes buscam
refúgio numa casa de campo. Para matar o tempo, decidem contar histórias. Cada um
conta uma história por dia, por um período de dez dias. O resultado é o Decameron: cem
histórias de adultérios, enganos, tramóias, patifarias, cinismos, astúcias. Enquanto a
peste corre solta na cidade, dizimando a população, os dez jovens tratam de contrastá-la
exaltando o sexo e a razão. É uma homenagem à inteligência humana, à capacidade de
alguns de contrariar as normas e as convenções e, dessa forma, resistir a tudo.
[N. do S.: Bocaccio nasceu em 1313 e morreu em 1375]
Com um pouco de má vontade, Pietro Aretino (1492-1556) pode até ser considerado um
escritor menor, indevidamente inserido nessa lista dos dez melhores. Mas ele representa
um ideal literário: o escritor como figura perigosa e temida, cujo talento verbal pode
destruir as mais sólidas reputações. Era isso que Aretino fazia: ridicularizava o próximo
por um punhado de cobres. Tornou-se riquíssimo graças a essa habilidade. Aretino nos
interessa porque era um escritor mercenário, que usava a literatura como mercadoria. E
se a literatura pode ser vendida como mercadoria, é porque tem algum valor.
Nossa vida é um aborrecimento atroz. Mas não é necessário que seja assim. É o que
mostra a autobiografia do ourives florentino Benvenuto Cellini (1500-71). Ele não se
conforma com o próprio destino, transformando-o continuamente, moldando seus
códigos de valor de acordo com as exigências do momento, ainda que isso o leve a
mentir, difamar, roubar, matar. É a desordenada afirmação do indivíduo contra a
sociedade, o triunfo da subjetividade.
Zibaldone é a confusa tentativa de colocar um pouco de ordem nas idéias. Aquilo que
deveria constituir um sistema filosófico, porém, fragmenta-se diante das próprias
dúvidas do autor. Leopardi (1798-1837) não acredita no poder da razão, da virtude, da
poesia, do amor. Todas as ilusões relativas à nossa capacidade de compreender o mundo
racionalmente naufragam de modo irremediável. Restam apenas as dúvidas, as
contradições, o desespero. É a isso que os homens de gênio devem aspirar.
Como diz o próprio Pirandello (1867-1936) no prefácio a essa peça teatral, sua literatura
não é simbólica. Em vez de tentar construir uma simples representação alegórica da
realidade, ele prefere demolir todas as certezas acerca do trabalho artístico. Os
personagens já não sabem o que pensar, o que dizer ou como se comportar. É a reflexão
de um autor que renunciou às fórmulas consolidadas e agora se encontra perdido, sem
saber qual direção tomar. Uma peça teatral que deve ser lida como um romance.
A única razão de vida do [personagem] Zeno Cosini é seu patológico imobilismo. Ele é
um atento observador de sua condição: reflete a respeito de si com um distanciamento
científico. Esse romance de Svevo (1861-1928) constitui uma das mais divertidas sátiras
ao homem contemporâneo, consciente de sua impotência, de sua insignificância e, ao
mesmo tempo, desprovido de outras fontes de interesse que não sejam ele próprio.
Primo Levi (1919-87) foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz durante
a Segunda Guerra Mundial. É Isto um Homem? é o relato dessa terrível experiência. Mais
do que por seu valor documental, porém, o livro importa por sua linguagem. Numa
situação extrema, em que cada esforço desperdiçado tem o efeito de aproximá-lo da
morte, Levi economiza as palavras, medindo-as, controlando seu peso, dizendo apenas o
que pode ser dito, eliminando toda a retórica dos sentimentos.
As Cidades Invisíveis talvez seja o romance que melhor sintetize a produção literária de
Calvino (1923-85). Marco Polo descreve ao conquistador Kublai Khan as cidades que
visitou. Ele não se limita a assumir uma posição passiva diante da realidade. Pelo
contrário: transforma radicalmente tudo o que vê, buscando a essência das coisas, o seu
significado simbólico. Em Calvino, a fantasia se torna um elemento fundamental para a
compreensão do mundo, pois permite tentar criar parábolas a partir dos acontecimentos
mais prosaicos.
Obra de plena maturidade, "The Wings of The Dove" (1902) é mais uma abordagem do
famoso "tema continental" de James - o encontro entre ingenuidade americana e
sofisticação européia - e uma sutil análise psicológica do amor e da crueldade
Primeira obra de Stein, esta série de três narrativas sobre as vidas de três mulheres
humildes é, segundo muitos, a obra-prima da autora. Foi publicada em 1909.
Publicado em 1925, este romance é uma pequena jóia. A história do misterioso Gatsby -
efêmero sucesso a partir do nada, seguido de fim ignominioso - assume, nas mãos de
Fitzgerald, uma dimensão trágica
O estilo seco e cru de Hemingway, marcado pelas frases curtas, despidas de adjetivos,
foi dos mais influentes do nosso século. Embora seu prestígio crítico esteja atualmente
em declínio, seus melhores contos continuam a ser considerados exemplares.
O "Som e a Fúria" é uma história densa e sufocante, em que os mesmos episódios são
apresentados dos pontos de vista de vários personagens, sendo um deles um deficiente
mental. Neste romance, lançado em 1929, Faulkner explora com virtuosismo as técnicas
narrativas desenvolvidas por Joyce apenas sete anos antes em "Ulisses".
O estilo descuidado, a falta de uma estrura ficcional sólida e a temática por vezes
obscena não empanam a vitalidade extraordinária de Miller, um escritor que, nos
defeitos e nas virtudes, guarda grandes afinidades com um dos gigantes do século 19, o
poeta Walt Whitman, seu conterrâneo. Foi só em 1964 que a Justiça americana permitiu
que sua obra fosse livremente publicada nos Estados Unidos. "Trópico de Câncer", seu
primeiro livro, é de 1934.
Em sua obra mais conhecida, "Lolita" (1955), Nabokov traça um retrato satírico da
América dos anos 50, ao mesmo tempo que exibe sua excepcional destreza ténica.
Obra de estréia de Roth, esta coletânea de contos de 1959 é uma das grandes estréias
literárias do pós-guerra norte-americano. Cronista da classe média judia
assimilacionista, desde seu primeiro livro o autor revelou-se um dos mais criativos
ficcionistas de língua inglesa de seu tempo.
Updike, um dos ficcionistas mais prolíficos de nosso tempo, tematiza a classe média
norte-americana, a banalidade da vida dos subúrbios, com um toque lírico característico.
Uma de suas principais criações ficcionais é Harry Angstrom, herói de uma tetralogia
cujo primeiro volume é "Coelho Corre" (1960).
Este romance insólito, lançado em 1973, é uma das obras mais desconcertantes de
nosso tempo. Utilizando os recursos da subliteratura, do cinema, do desenho animado,
das revistas em quadrinhos e da música popular, Pynchon compõe um imenso labirinto
de paranóia e humor corrosivo que, embora situado na Europa do final da Segunda
Guerra Mundial, é, na verdade, uma crítica devastadora à sociedade norte-americana de
seu tempo
Os 10 mais da Ciência
por Marcelo Glaiser
Qualquer lista compilada por uma pessoa irá refletir os gostos e idéias desta
pessoa. Minha lista de dez livros sobre ciências não foge a essa regra geral. Meu
primeiro critério foi a acessibilidade do texto: todas as obras listadas, com exceção do
livro de Richard Feynman, que é mais técnico, são obras de divulgação científica,
escritas para o público interessado em ciências e suas repercussões culturais, mas não
especializado no assunto. Tentei, dentro do possível, distribuir o conhecimento em áreas
diferentes da ciência, incluindo biologia, matemática, computação, física e astronomia,
se bem que confesso que a física e a astronomia têm uma representação mais pesada.
Todos os autores (com exceção deste que lhes escreve) são muito bem conhecidos,
vencedores de vários prêmios não só por seu trabalho científico, mas também por seu
trabalho de divulgação. Eles sabem como conversar com o público, como trazer as idéias
da ciência sem o jargão, mas com todo o seu lirismo.
O leitor corajoso que desbravar essa lista irá sem dúvida adquirir uma visão
balanceada das idéias mais importantes da ciência, passado e presente (e futuro...), e
também do que significa fazer ciência. E, claro, se sua curiosidade for aguçada a tal
ponto de querer mais, todos os livros vêm com indicações de leituras adicionais. Esses
dez são apenas os primeiros passos em uma aventura intelectual que, felizmente, jamais
se esgotará: a Natureza é muito mais criativa do que nossa imaginação.
Sagan (1934-1996) apresenta a ciência como a "vela que ilumina a escuridão" causada
pela ignorância e pela superstição. Usando exemplos como a crença em extraterrestres
na Terra, reencarnação, anjos, fadas etc., Sagan, em seu estilo claro e sóbrio, mostra o
quanto essas "visões" são causadas por uma combinação de fatores que vão desde
simples alucinações a um desejo inconsciente de estabelecermos contato com o
desconhecido, o sobrenatural. O livro é uma belíssima defesa da ciência como antídoto
contra essas crenças, o mundo natural e seus mistérios, ultrapassando nossa imaginação
e oferecendo conforto às ansiedades humanas.
O escritor e físico inglês C. P. Snow argumentou nos anos 60 que um dos maiores
problemas da sociedade moderna é sua divisão em duas culturas, a humanista e a
científica. Wilson (1929), um grande biólogo famoso por seu trabalho com formigas e um
dos mais conhecidos divulgadores da ciência (duas vezes vencedor do Prêmio Pulitzer),
tenta construir uma síntese do conhecimento por meio de uma "cientificação" da cultura.
Para ele, a chave do mistério está no funcionamento da mente humana, que fará
necessariamente com que aspectos diferentes do conhecimento sejam tratados de forma
unificada. Ninguém melhor do que ele para embarcar nesta missão tão ambiciosa.
32
Os 10 mais da Ciência
por Marcelo Glaiser
Usando o grande mistério da origem do Universo como ponto de partida, este livro
explora a evolução de nossa concepção do mundo, desde versões religiosas até as
teorias mais modernas da cosmologia. Mais do que apenas um relato da história das
idéias sobre o cosmo, eu exploro também a vida dos personagens principais que
participaram desse drama do conhecimento, buscando compreender as fontes de
inspiração do cientista de forma humanista. O leitor encontrará uma apresentação
acessível das idéias básicas da física e da astronomia, desde Galileu e Newton até
Einstein e Heisenberg, que conclui argumentando que - mesmo que o produto final seja
muito distinto - as fontes de inspiração da ciência e da religião são as mesmas, uma
compreensão do desconhecido.
Os 10 mais da Ciência
por Marcelo Glaiser
Para aqueles leitores que querem uma apresentação mais técnica dos fundamentos da
física, nenhum livro supera esta coleção em três volumes escrita por Richard Feynman
(na verdade, baseada em suas aulas no California Institute of Technology), um dos
grandes físicos do século 20. Feynman (1918-1988) apresenta as idéias da física -
mecânica, eletricidade e magnetismo, gravitação, termodinâmica, ondas, relatividade,
mecânica quântica - apelando sempre para a intuição antes da matemática. O texto
requer um conhecimento do cálculo diferencial e integral.
Os 10 mais da Ciência
por Marcelo Glaiser
1. O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, Carlos Rizzini - 1829. Ed. Imesp. Relato
histórico do surgimento do livro e do jornal nas civilizações antigas e análise de seu
aparecimento no Brasil entre 1500 e 1822. É uma obra-prima, não deixe de ler. Não está
disponível em livrarias da Internet.
6. History of the Book, Svend Dahl. Ed. J. Lamarre - 1933. Um clássico, referência
básica para conhecer com profundidade a história do livro. Não há tradução para o
português.
10. A construção do livro, Emanuel Araújo - 1996. Ed. Nova Fronteira. Livro com perfil
técnico. Centenas de páginas sobre princípios de técnica e editoração. Maior referência
sobre o assunto.
11. Momentos do livro no Brasil - 1998. Ed. Ática. História ilustrada do aparecimento
do livro, das editoras, e de figuras como Monteiro Lobato, Machado de Assis, Euclides da
Cunha, no Brasil. Não deixe de ler.
12. História da Imprensa no Brasil, Nelson Werneck Sodré - 1999. Ed. Mauad. 30
anos de pesquisa formaram este livro que é a maior referência no assunto.
13. The printing revolution in early modern Europe, Elizabeth L. Eisenstein - 1983.
Ed. Canto Series. Análise original sobre a importância social e histórica do surgimento da
indústria do livro e suas consequências para a Europa medieval e renascentista.
36
14. Books and readers in ancient Greece and Rome, Frederic G. Kenyon - 1932.
Ares Publishers Inc. Da "Ilíada" de Homero, passando pelo pergaminho até os hábitos
romanos de leitura. Não há tradução para o português.
15. A history of reading, Alberto Manguel - 1996. Ed. Viking. Análise erudita dos vários
processos de leitura: desde sinais, livros, imagens, códigos. Abrange arte, cultura,
história, literatura.
16. Uma vida entre livros, José Mindlin. Ed. Cia das letras. Famoso empresário e
bibliófilo paulistano.
19. Fim do livro, fim dos leitores?, Regina Zilberman. Ed. Senac. Análise de clássicos
da literatura - como "Dom Quixote", de Cervantes, "Fedro", de Platão - que fazem a
apologia ou crítica da leitura como atividade intelectual nobre ou subversiva.
20. Fedro, de Platão. Ed. Martin Claret. Obra do mais famoso filósofo grego em que trata
das características nocivas da leitura para a manutenção dos status quo de uma
comunidade. Platão atravessou a fase na qual se deu a consolidação do alfabeto, de
origem fenícia, e, a partir deste, da escrita. O filósofo condena a laicização e o fim da
tradição de transmissão oral da cultura.
21. O iluminismo como negócio, de Robert Darnton. Ed. Cia. das letras. História da
Enciclopédia de Diderot de um ponto de vista insólito: como um empreendimento
intelectual - a difusão do iluminismo - passou a empreendimento comercial. Fala sobre a
vida intelectual e editorial da época.
22. História da leitura no mundo ocidental, Roger Chartier. Ed. Ática. Estudioso
contemporâneo e muito prestigiado. Traça a história da leitura até os nossos dias.
23. Cultura escrita e poder no mundo antigo, Alan, K. Bowman. Ed. Ática. Esta
coletânea tem por objetivo avaliar em que medida a cultura escrita teria ocupado um
papel ativo nas mudanças históricas da Antiguidade no mundo mediterrâneo e na Europa
do norte de 600 a.C. a 800 d.C. O livro como um todo ilustra e explora a diversidade das
práticas escritas e suas relações com a construção do poder na sociedade antiga,
contemplando as exigências da história e da antropologia. Leitura essencial para aqueles
cuja área de interesse é a palavra escrita.
25. Cultura escrita e oralidade, David Olson. Ed. Ática. Trata dos condicionamentos da
cultura escrita pelo discurso oral. Numa perspectiva histórica, aborda desde as
conseqüências do surgimento da escrita até a criação de formas especializadas do
discurso escrito no início da Era Moderna.
26. Os livros nossos amigos, Eduardo Frieiro. Ed. Itatiaia. Mineiro, autodiadata, um
dos mais brilhantes estudiosos do país. De maneira erudita, o livro percorre literatura,
história, educação, bibliofilia, política de livros.
37
28. Leitura, história e história da leitura, Márcia Abreu (org.). Ed. Mercado de Letras,
Fapesp. Pesquisadores brasileiros e estrangeiros examinam questões relativas às
bibliotecas e práticas de leitura, à censura e livros proibidos, ao comércio livreiro e
estratégias editoriais, a produção e circulação de livros escolares, desde o período
colonial até o século XX.
29. A importância do ato de ler, Paulo Freire. Ed. Cortez. Trata da questão da leitura e
da escrita encaradas sob o ângulo da luta política com a compreensão científica do tema.
30. O que é leitura, Maria Helena Martins. Ed. Brasiliense. Delicioso livrinho introdutório
sobre o ato de ler e sua diversas manifestações: políticas, sociais, intelectuais. A Leitura
vista como forma de entender o mundo e de decifrá-lo.
31. Lendo imagens, Alberto Manguel. Cia das Letras. Toda imagem tem uma história
para contar. Todas elas podem ser lidas e traduzidas em palavras, mesmo pelo público
leigo. Neste livro, Manguel passa ao largo do vocabulário árduo da crítica e defende a
idéia de que os não-especialistas têm o direito de ler imagens como quem lê um texto. O
autor narra histórias que se ocultam em pinturas, esculturas, fotografias e projetos
arquitetônicos desde a Roma antiga até as arrojadas experiências da arte do século XX.
32. O ofício de escrever, Ramon Nieto. Ed. Angra. A criação literária, os escritores, o
poder e o êxito, o estilo, a inspiração, luzes e sombras da literatura. Este livro explica os
fundamentos do ofício de escrever, de sua materialidade e transcendência, de seus
aspectos mais luminosos e mais obscuros, enfim, do que é ser escritor. A criação
literária, os escritores, o poder e o êxito, o estilo, a inspiração, luzes e sombras da
literatura. Este livro explica os fundamentos do ofício de escrever, de sua materialidade e
transcendência, de seus aspectos mais luminosos e mais obscuros, enfim, do que é ser
escritor.
33. A arte de ler. José Morais. Ed Unesp. Este livro trata da arte de ler. Embora o seu
núcleo seja o problema da alfabetização, o tratamento vai muito além das questões
exclusivamente técnicas. É notória, hoje, a existência de uma crise da palavra escrita,
pois se observa por toda parte uma regressão dos hábitos da leitura. Por outro lado,
tem-se observado um aumento relativo do analfabetismo e um alarmante crescimento,
mesmo nos países mais desenvolvidos, do contigente de iletrados funcionais. Esses
dados são expostos e analisados neste livro, a partir de estatísticas atualizadas da
UNESCO.
34. Didascalion da arte de ler. Este livro faz um mergulho na cultura da Idade Média,
onde o leitor irá sintonizar-se com o universo dos pensamentos humanos e divinos que
habitavam as escolas e as mentes estudantis do século XII.
35. O preço da leitura. Em 'O preço da leitura' - leis e números por detrás das letras.
Marisa Lajolo e Regina Zilberman abordam a literatura e os escritores de um ângulo
inusitado - esmiuçam leis e contratos de direitos autorais, estatutos de agremiações
literárias (entre elas a Academia Brasileira de Letras) e a correspondência entre autores.
O objetivo é conhecer a condição do escritor, como profissional da escrita, ao longo da
história da sociedade burguesa e capitalista, sobretudo a brasileira.
36. Como ler um livro - um guia clássico para a leitura. Mortimer Jerome Adler. O
guia para leitura inteligente alia praticidade com rigor metodológico. Ajuda o leitor a se
ajudar. Percorre os conceitos centrais do ato de ler, transforma o leitor em interlocutor e
o introduz, como um guia, aos mundos especializados da leitura prática, da leitura
imaginativa, da leitura de histórias, da leitura da História, das ciências exatas, das
ciências sociais e da filosofia.
38
37. Revolução impressa. Roberto Darnton. Edusp. Este livro foi concebido como parte
de um projeto maior promovido pela The New York Public Library com o objetivo de
comemorar o bicentenário da Revolução Francesa. O projeto compreendeu, além da
realização do livro e de uma série de programas públicos, a organização de uma
exposição que tornou conhecido o verdadeiro 'tesouro' encontrado no acervo dessa
biblioteca. Reunindo quatorze textos de estudiosos consagrados, a publicação focaliza o
papel desempenhado pela impressão tipográfica na Revolução Francesa. A palavra
impressa é observada não apenas enquanto registro dos fatos, mas como ingrediente
decisivo dos acontecimentos, de modo a oferecer ao leitor um abrangente panorama da
cultura na França nesse importante momento histórico.
38. O que é editora. Wolfgang Knapp. Ed. Brasiliense. Típico livro da coleção "Primeiros
Passos": rápido de ler, poucas páginas, informativo. Dá um panorama geral do que é e
como funciona uma editora. Traça também uma breve história do livro.
39
10º - Finnegans Wake (1939) - James Joyce. Penguin (EUA). No Brasil, trechos do
livro em "Panaroma do Finnegans Wake" (Ed. Perspectiva). Joyce criou nesta obra, que
radicaliza seu experimentalismo linguístico, provavelmente o mais complexo texto do
século. A narrativa, repleta de referências simbólicas, mitológicas e linguísticas que
tornam a leitura um desafio permanente, gira em torno do personagem Humphrey
Chimpden Earwicker (HCE) e sua mulher Ana Lívia Plurabelle (ALP), que vivem em
Dublin.
12º - Coração das Trevas (1902) - Joseph Conrad (1857-1924). Ediouro. Escritor
ucraniano de língua inglesa. Em busca de um mercador de marfim que desapareceu na
selva africana, o capitão Marlowe o encontra inteiramente louco e cultuado como um
deus pelos nativos.
13º - O Estrangeiro (1942) - Albert Camus (1913-1960). Record. Obra que consagrou
o autor francês de origem argelina (Nobel de 1957) ao tratar do absurdo da existência.
Aparentemente sem motivação -"por causa do sol"-, Mersault mata um árabe durante
passeio pela praia. Julgado e condenado à morte, resigna-se a seu destino.
15º - Cem Anos de Solidão (1967) - Gabriel García Márquez (1928). Record.
Colombiano, ganhou o Nobel em 1990. A saga de duas famílias no povoado fictício de
Macondo é o pretexto para o autor construir uma alegoria da situação da América Latina.
Obra que projetou internacionalmente o "realismo mágico".
16º - Admirável Mundo Novo (1932) - Aldous Huxley (1894-1963). Globo. Inglês.
Alegoria sobre as sociedades administradas e sem liberdade. Em um futuro indefinido,
todos os nascimentos são "de proveta" e os cidadãos são vigiados. Nascido de uma
mulher, John se torna uma ameaça por sua diferença.
17º - Mrs. Dalloway (1925) - Virginia Woolf (1882-1941). Penguin Books (EUA).
Inglesa. A partir de um fato banal - a compra de flores para uma festa-, Mrs. Dalloway
relembra sua vida - como a relação com a filha e uma antiga paixão.
21º - Lolita (1958) - Vladimir Nabokov (1899-1977). Cia. das Letras. Russo
naturalizado americano. O professor quarentão Humber apaixona-se pela adolescente
Lolita. Para tê-la próxima, casa-se com sua mãe, que morre em um acidente de carro. Os
dois se tornam então amantes.
24º - 1984 (1949) - George Orwell (1903-1950). Companhia Editora Nacional. Inglês.
Nesta sombria alegoria passada em futuro que seria o ano de 1984, cidadãos estão
submetidos à autoridade onipresente do "Big Brother" e proibidos de manifestar sua
individualidade.
25º - A Náusea (1938) - Jean-Paul Sartre (1905-1980). Nova Fronteira. Nesta obra
que tornou o filósofo Sartre mundialmente conhecido, o herói Roquentin, sentado num
banco de praça em uma cidade do interior, subitamente deixa de ver sentido no mundo e
passa a ter consciência do "mal-estar de existir". Francês, Sartre recusou o Nobel em 64.
27º - Os Moedeiros Falsos (1925) - André Gide (1869-1951). Gallimard ("Les Faux-
Monnayeurs", França). Edouard mantém um "diário do romance", a partir do qual
pretende escrever um romance -"Moedeiros Falsos". A obra criou o "mise-en-abîme" -
técnica em que a personagem se duplica dentro do romance. Francês, recebeu o Nobel
em 1947.
28º - Malone Morre (1951) - Samuel Beckett. Edições Dom Quixote (Portugal).
Segundo livro da trilogia do autor. Moribundo em um leito de hospital, Malone reflete
sobre sua vida.
31º - Orlando (1928) - Virginia Woolf. Ediouro. A autora inglesa imagina sua amiga, a
também escritora Vita-Sackville West, vivendo nos três séculos anteriores.
32º - A Peste (1947) - Albert Camus. Record. Epidemia assola Orán, na Argélia. A
cidade é isolada e muitos morrem. Escrita logo após o fim da Segunda Guerra, a obra
reflete sobre como indivíduos reagem à morte iminente, ao isolamento e ao vácuo de
sentido que se abre em suas vidas.
34º - O Tambor (1959) - Günter Grass (1927). Vintage Books ("The Tin Drum", EUA).
Obra em que o autor alemão narra a ascensão do nazismo. Internado em um manicômio,
Oskar relembra sua vida desde os três anos, quando decidiu parar de crescer por ódio
aos pais e ao mundo adulto.
35º - Pedro Páramo (1955) - Juan Rulfo (1918-1986). Paz e Terra. Mexicano. Nesta
obra que prenuncia o "realismo mágico", Juan chega a Comala em busca do paradeiro do
pai, Pedro Páramo. Mas, ao descobrir que o povoado é habitado apenas por mortos, Juan
morre aterrorizado. Enterrado, outros fantasmas irão lhe contar a vida de seu pai.
36º - Viagem ao Fim da Noite (1932) - Louis-Ferdinand Céline (1894-1961). Cia. das
Letras. Francês. Após ser ferido na Primeira Guerra, Bardamu conhece a americana Lola,
com quem viaja para os EUA. Passado na França, África e nos EUA, a obra critica as
guerras e o colonialismo.
38º - Doutor Jivago (1957) - Boris Pasternak (1890-1960). Itatiaia. Um amplo painel
da Rússia nas três primeiras décadas deste século, desde a crise do czarismo até a
implantação do comunismo. O autor foi perseguido pelo regime comunista soviético, que
o forçou a recusar o Prêmio Nobel de 1958.
39º - Molloy (1951) - Samuel Beckett (1906-1989). Nova Fronteira. Primeiro obra da
trilogia. Relembrando suas viagens, os narradores Molloy e Moran revelam-se a mesma
pessoa, e as viagens, a busca da identidade perdida.
42º - Retrato do Artista quando Jovem (1917) - James Joyce. Ediouro. De caráter
autobiográfico, a obra investiga o processo de formação do artista ao longo da infância e
adolescência do personagem Stephen Dedalus, que será um dos personagens centrais de
"Ulisses".
43
44º - Aquela Confusão Louca da Via Merulana (1957) - Carlo Emilio Gadda (1893-
1973). Record. Neste romance "policial" sobre um roubo de jóias, ambientado nos
primeiros anos do fascismo, o autor italiano radicaliza o uso de jargões, gírias e dialetos.
46º - Auto de Fé (1935) - Elias Canetti (1905-1994). Nova Fronteira. Búlgaro de língua
alemã, ganhou o Nobel de 1981. Obcecado desde a infância pela idéia de ler e saber
tudo, o professor Kien acaba por morrer queimado em um incêndio de seus 100 mil
livros.
49º - Macunaíma (1928) - Mário de Andrade (1893-1945). Scipione e Villa Rica. Obra
de ficção mais importante do modernismo brasileiro, "Macunaíma", "o herói sem nenhum
caráter", sincretiza o que Mário de Andrade considerava as características do povo
brasileiro: índio, negro e branco, desleal, ambicioso, coração mole, corajoso, mas
preguiçoso.
50º - O Bosque das Ilusões Perdidas (1913) - Alain Fournier (1886-1914). Relógio
d'Água (Portugal). A partir da paixão de um estudante por uma aldeã, o autor francês
constrói uma fábula poética sobre a passagem da infância à adolescência.
53º - O Século das Luzes (1962) - Alejo Carpentier (1904-1980). Global. Cubano.
Publicada a princípio em francês, essa crônica histórica se passa na ilha antilhana de
Guadalupe, onde comerciante tenta impor os ideais da Revolução Francesa (1789) em
curso na Europa.
55º - América (1927) - Franz Kafka. Livros do Brasil (Portugal). Obra inacabada de
Kafka, publicada três anos após sua morte, conta a história de jovem que é enviado aos
EUA pelos pais depois de engravidar uma empregada.
44
59º - A Vida - Modo de Usar (1978) - Georges Perec (1936-1982). Companhia das
Letras. Partindo da idéia do quebra-cabeças, o livro relaciona as vidas e experiências dos
moradores de um edifício em Paris. Perec participou do grupo de experimentação literária
OuLiPo, de Raymond Queneau.
60º - José e Seus Irmãos (1933-1943) - Thomas Mann. Ed. Nova Fronteira.
Tetralogia baseada na narrativa bíblica de Jacó, vendido pelos irmãos aos israelitas: "A
História de Jacó", "O Jovem José", "José no Egito" e "José, o Provedor".
62º - Cidades Invisíveis (1972) - Italo Calvino (1923-1985). Companhia das Letras. O
viajante veneziano Marco Polo descreve a Kublai Khan, de modo fabular e fantasioso, as
incontáveis cidades do império do conquistador mongol.
63º - Paralelo 42 (1930) - John dos Passos (1896-1970). Ed. Rocco. Inaugurando a
trilogia "USA", formada ainda por "1919" e "Dinheiro Graúdo", a obra do autor americano
descendente de portugueses traça um painel da América nas primeiras décadas do
século.
64º - Memórias de Adriano (1951) - Marguerite Yourcenar (1903-1987). Ed. Nova
Fronteira. Escritora belga. No século 2º d.C., o imperador romano Adriano, próximo da
morte, faz um balanço de sua existência em carta ao jovem Marco Aurélio.
65º - Passagem para a Índia (1924) - E.M. Forster (1879-1970). Publicações Europa-
América (Portugal). Inglês. Na Índia sob dominação britânica, um nacionalista hindu é
acusado por uma inglesa de praticar atos imorais. É preso e levado a julgamento.
67º - Enquanto Agonizo (1930) - William Faulkner. Ed. Exped. O périplo da família
Bundren para enterrar a mãe em Jefferson é um pretexto para virem à tona -na
consciência das personagens- as desavenças entre irmãos, pai e tios.
69º - O Jovem Törless (1906) - Robert Musil. Ed. Nova Fronteira. Alemão. Descreve a
vida de adolescentes em um internato alemão, onde a severidade do sistema educacional
conjuga-se à brutalidade do comportamento dos alunos.
70º - A Modificação (1957) - Michel Butor (1926). Minuit ("La Modification", França).
Narrado inteiramente na segunda pessoa do plural, o livro conta a história de homem
que, em um trem, a caminho de encontrar a amante em Roma, divide-se entre o amor
dela e o de sua mulher.
71º - A Colméia (1951) - Camilo José Cela (1916). BCD União de Editoras. Espanhol,
ganhou o Nobel de 1989. Diversos personagens e histórias se cruzam neste livro em que
a verdadeira personagem é a cidade de Madri (Espanha), logo após a Segunda Guerra.
45
72º - A Estrada de Flandres (1960) - Claude Simon (1913). Ed. Nova Fronteira. O
francês Claude Simon, ligado ao movimento do "roman nouveau" (novo romance), evoca
neste livro a derrota da França pelos nazistas em 1940. Ganhou o Prêmio Nobel em
1985.
73º - A Sangue Frio (1966) - Truman Capote (1924-1984). Livros do Brasil (Portugal).
Enviado como jornalista para cobrir um crime real, o autor americano criou um novo
gênero -o romance-documento-, que insere na ficção a investigação sistemática da
reportagem.
77º - Jean Christophe (1904-12) - Romain Rolland (1866-1944). Ed. Globo. Biografia
imaginária de um músico alemão que vai viver na França, mas acaba se decepcionando
com a frivolidade da cultura do país.
78º - Complexo de Portnoy (1969) - Philip Roth (1933). Editora L&PM. Americano.
Conceito da psiquiatria, "Complexo de Portnoy" tem como eixo garoto judeu obcecado
pela mãe e em busca de satisfação sexual, o que acaba por aumentar seu complexo de
culpa.
79º - Nós (1924) - Evgueni Ivanovitch Zamiatin (1884-1937). Ed. Antígona (Portugal).
O escritor russo satiriza o regime comunista soviético por meio de uma cidade imaginária
onde não existem nem individualismo nem liberdade.
80º - O Ciúme (1957) - Allain Robbe-Grillet (1922). Ed. Minuit ("La Jalousie", França).
Francês. Nesta obra-chave do "nouveau roman", um narrador paranóico investiga a
suposta traição da mulher.
83º - O Senhor Presidente (1946) - Miguel Ángel Asturias (1899-1974). Ed. Losada
("El Señor Presidente", Argentina). Ganhador do Nobel de 1967, o guatemalteco se
tornou um dos pioneiros do "realismo mágico" com esta obra que satiriza um ditador sul-
americano.
84º - O Lobo da Estepe (1927) - Herman Hesse (1877-1962). Ed. Record. Escritor
alemão. Solitário e em crise existencial, o escritor Harry Haller acaba por conhecer duas
pessoas que vão incitá-lo a aceitar a vida em toda a sua plenitude.
46
85º - Os Cadernos de Malte Laurids Bridge (1910) - Rainer Maria Rilke (1875-
1926). Editora Siciliano (R$ 15,50). Escritor alemão. Intelectual reflete em seu diário
sobre a morte e a busca de Deus enquanto se recupera de uma doença.
86º - Satã em Gorai (1934) - Isaac B. Singer (1904-1991). Ed. Perspectiva. No século
17, em uma aldeia da Polônia assediada por tropas inimigas, um falso messias anuncia a
redenção próxima. Polonês de língua inglesa, Singer recebeu o Prêmio Nobel em 1978.
87º - Zazie no Metrô (1959) - Raymond Queneau (1903-1976). Ed. Rocco. Francês,
criador nos anos 60 do grupo de experimentação literária OuLiPo. Enquanto o metrô está
em greve, Zazie percorre a cidade de Paris, partilhando a experiência de personagens
como uma viúva, um taxista e um cabeleireiro.
88º - Revolução dos Bichos (1945) - George Orwell. Editora Globo. Animais de uma
fazenda se rebelam contra seus donos e tomam o poder. Ambicionam realizar uma
"sociedade" igualitária, mas logo se instala uma ditadura, a dos porcos, que submete os
demais bichos como faziam os donos humanos.
89º - O Anão - Pär Lagerkvist. Ed. Farrar, Strauss & Giroux ("Dwarf", EUA). No século
15, em Florença, um anão conta em um diário como foi encarcerado na torre do palácio
por Lorenzo de Médici depois de servi-lo por vários anos. O autor sueco ganhou o Nobel
em 1951.
90º - A Tigela Dourada (1904) - Henry James. Oxford University Press ("The Golden
Bowl", EUA). Dividido em duas partes, o livro é um estudo sobre o adultério a partir da
ótica de um aristocrata e de sua mulher.
92º - A Morte de Artemio Cruz (1962) - Carlos Fuentes (1928). Ed. Rocco. Escritor
mexicano. Inválido e à beira da morte, o rico e poderoso Artemio Cruz relembra o seu
passado revolucionário.
93º - Don Segundo Sombra (1926) - Ricardo Güiraldes (1886-1927). Ed. Scipione. De
dimensões míticas, obra narra a formação de um jovem por um dos últimos "gauchos"
dos pampas argentinos. Obra de forte caráter nacionalista.
94º - A Invenção de Morel (1940) - Adolfo Bioy Casares (1914). Ed. Rocco. Neste
clássico da literatura fantástica, o autor argentino cria a história de um homem em fuga
da Justiça que chega a uma ilha deserta, onde pouco a pouco realidade e imaginário
começam a se misturar.
96º - Fogo Pálido (1962) - Vladimir Nabokov (1899-1977). Ed. Teorema (Portugal).
Escritor russo-americano. Após apresentar ao leitor um poema recém-descoberto -"Fogo
Pálido"-, o narrador analisa sua estrutura e investiga as motivações que levaram o autor
-já morto- a escrevê-lo.
47
97º - Herzog (1964) - Saul Bellow (1915). Ed. Relógio d'Àgua (Portugal). Em crise
existencial, intelectual passa a enviar cartas a figuras fictícias, como filósofos, políticos,
além de Deus e a si mesmo. Americano, ganhou o Nobel em 1976.
99º - Judeus sem Dinheiro (1930) - Michael Gold (1893-1967). Editorial Caminho
(Portugal). Membro do Partido Comunista, o escritor americano traça um painel do bairro
do Lower East Side, em Nova York, durante as primeiras décadas do século, quando
começavam a chegar as primeiras levas de imigrantes judeus.
100º - Os Cus de Judas (1980) - Antonio Lobo Antunes (1942). Ed. Marco Zero.
Escritor português. A obra trata de forma sarcástica e irreverente a ditadura salazarista
dos anos 70 e as guerras pela libertação das colônias portuguesas na África.
48
13º - O Processo Civilizador (1939) - Norbert Elias (1897-1990). Jorge Zahar Editor.
O autor traça uma evolução das regras de conduta (as boas maneiras) com o objetivo de
analisar o processo pelo qual os indivíduos apreendem e internalizam essas regras. A
esse processo de aprendizado do autocontrole está ligado o processo de formação dos
Estados nacionais a partir do feudalismo.
14º - O Declínio da Idade Média (1919) - Johann Huizinga (1872-1945). Ed. Ulisseia
(Portugal). O historiador holandês, uma espécie de homem renascentista em pleno
século 20, dedicou sua maior obra às formas de vida e de arte na Flandres e na
Burgúndia dos séculos 14 e 15. Ao tratar modos de devoção religiosa, monumentos
artísticos e hábitos cotidianos com a mesma atenção e respeito, tornou-se um dos
inspiradores da história das mentalidades de Marc Bloch e Lucien Febvre.
15º - História e Consciência de Classe (1923) - Georg Lukács (1885-1971). Ed. Elfos
(Portugal). Principal obra do filósofo húngaro, deu novo impulso à filosofia marxista ao
romper com o materialismo mecanicista e reavaliar a contribuição de Hegel à dialética.
Nela estão elaboradas sua teoria da consciência de classe enquanto oposta à reificação -a
"coisificação" do sujeito.
17º - O Narrador (1936) - Walter Benjamin (1892-1940). Ensaio que consta do vol. 1
das "Obras Escolhidas", Ed. Brasiliense. Um dos maiores ensaios da crítica materialista.
Benjamin liga a figura tradicional do narrador como contador de histórias e transmissor
de tradições a um modo de produção artesanal e relaciona a ascensão do romance ao
surgimento da moderna sociedade urbana e burguesa.
19º - Massa e Poder (1960) - Elias Canetti (1905-1980). Companhia das Letras.
Romancista, dramaturgo e memorialista, Canetti produziu nesse livro híbrido uma análise
ampla do lugar das massas na história humana e especialmente nos totalitarismos
modernos.
22º - Minima Moralia (1951) - Theodor Adorno. Ática. Obra-prima de Adorno, em que
forma ensaística e conteúdo crítico tornam-se inextricáveis. Ao longo de 153 fragmentos,
o autor pratica uma espécie de crônica filosófica da "vida degradada" na sociedade
"administrada", no mundo contemporâneo dominado pela razão instrumental.
25º - Eupalinos ou o Arquiteto (1921) - Paul Valéry (1871-1945). Ed. 34. Prefácio
em forma dialogada: as sombras de Sócrates e Fedro discutem temas estéticos, e o
filósofo grego lamenta ter abandonado suas inclinações artísticas em nome da abstração
filosófica.
26º - Visão a partir de Lugar Nenhum (1986) - Thomas Nagel (1937). Editora
Martins Fontes. Em sua obra mais ambiciosa, o filósofo americano examina a oposição
sujeito-objeto em vários âmbitos -da teoria do conhecimento à ética e à morte.
28º - Eros e Civilização (1955) - Herbert Marcuse (1898-1979). Ed. LTC. Em sua
versão pessoal de um humanismo libidinal, o filósofo alemão, logo adotado pela
contracultura dos anos 60, procura refutar as conclusões pessimistas de Freud em "O
Mal-Estar na Civilização" sem abandonar as intuições psicanalíticas básicas.
37º - Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico (1944) - John von Neumann
e Oscar Morgenstern. Em inglês, "Theory of Games and Economic Behavior" (Princeton
University Press). Depois de fazer contribuições fundamentais à matemática, à física e à
ciência da computação, o húngaro Neumann tenta uma síntese de matemática, teoria
dos jogos, cibernética e economia.
52
40º - O Homem e o Mundo Natural (1983) - Keith Thomas (1933). Companhia das
Letras. Obra historiográfica inovadora quanto ao tema – as mudanças no modo de
conceber as relações entre mundo natural e sociedade humana - e quanto ao método -
Thomas vai de obras filosóficas a tratados de jardinagem. Obra importante da história
das mentalidades.
53º - O Ramo de Ouro (1906-1915) - James George Frazer (1854-1941). Ed. LTC.
Clássico da antropologia inglesa, cuja influência chegou à literatura; trata-se de um
compêndio de crenças mágicas mundiais. Frazer introduziu as noções de tabu, contágio e
magia simpática.
59º - Os Reis Taumaturgos (1924) - Marc Bloch (1886-1944). Companhia das Letras.
Obra fundamental da escola historiográfica francesa reunida em torno da revista
"Annales". Bloch esclarece o poder curativo atribuído aos reis franceses e ingleses,
recorrendo a diversas fontes e disciplinas, numa abordagem que inspiraria toda a história
das mentalidades. 60º - Giordano Bruno e a Tradição Hermética (1964) - Frances Yates.
Cultrix. Ensaio clássico de história das idéias; a autora examina as origens intelectuais do
herege italiano nas tradições filosóficas e ocultistas do Renascimento.
71º - Teoria do Romance (1916) - Georg Lukács. Em inglês, "Theory of the Novel"
(MIT Press). Nesse marco da crítica literária materialista, o autor húngaro contrapõe o
romance à epopéia e vê nele a forma literária por excelência da civilização burguesa.
Influenciado por Hegel, Lukács por sua vez influenciaria autores como Adorno, Benjamin
e Goldmann.
72º - Os Sertões (1902) - Euclides da Cunha (1866-1909). Leia resumo na pág. 5-9. O
livro foi também escolhido como um dos 30 melhores de não-ficção brasileiros.
73º - Montaillou (1975) - Emmanuel Le Roy Ladurie. Companhia das Letras. A partir
da documentação de um processo de heresia em 1320, o historiador francês reconstrói
integralmente a vida numa vila do sudoeste francês no começo do século 14. Um marco
da história antropológica.
77º - Vigiar e Punir (1975) - Michel Foucault. Vozes. Análise das origens da prisão
moderna e das práticas disciplinares associadas a ela. O interesse do autor é revelar a
abrangência e o funcionamento desse poder difuso, diverso em seu "modus operandi" do
poder estatal.
80º - Ritos de Passagem (1909) - Arnold van Gennep (1873-1957). Em inglês, "The
Rites of Passage" (University of Chicago Press). Análise dos ritos que marcam o momento
de transição, social e culturalmente definido, de um indivíduo ou grupo de um estado
para outro. A elaboração dos ritos varia de acordo com a sociedade, mas sua estrutura
envolve sempre três fases: separação, latência e agregação.
84º - O Teatro e Seu Duplo (1938) - Antonin Artaud (1896-1948). Martins Fontes.
Ensaios de crítica ao "teatro psicológico" tradicional, em nome de um "teatro da
crueldade", capaz de lidar com matérias míticas a fim de trazer à tona as forças
inconscientes que ligam o homem ao cosmo.
89º - Palavra e Objeto (1960) - Willard Quine (1908). Em inglês, "Word and Object"
(MIT Press). Fortemente influenciado pelo pragmatismo, o lógico norte-americano propõe
uma teoria radical da linguagem e da ciência: negando a "pureza" dos enunciados lógico-
matemáticos, Quine sugere que todo o conhecimento humano está sujeito à revisão da
experiência.
57
91º - O Gene Egoísta (1976) - Richard Dawkins (1941). Itatiaia. O biólogo reformula o
darwinismo ao sustentar que não é o indivíduo, mas o gene, como unidade hereditária
auto-suficiente e auto-replicativa, que constitui o verdadeiro "alvo" da seleção natural.
92º - Literatura Européia e Idade Média Latina (1948) - Ernst Robert Curtius
(1886-1956). Edusp. Nesse ensaio monumental, que suscitou as críticas de Spitzer e
Auerbach, Curtius mobiliza enorme quantidade de material para traçar a continuidade da
tradição literária européia da Antiguidade ao século 19 por meio do rastreamento de
"lugares-comuns" persistentes.
93º - A Sociedade Feudal (1940) - Marc Bloch (1886-1944). Ed. 70 (Portugal). Última
grande obra do historiador francês, que morreria nas mãos dos nazistas em 1944; Bloch
analisa a formação da sociedade feudal européia a partir do fim do mundo antigo, num
ensaio de história de "longa duração".
96º - Mitologias (1959) - Roland Barthes (1915-1980). Bertrand Brasil. Primeira obra
de impacto do crítico francês, que reformula a noção de ideologia por um viés semiótico
para analisar momentos e imagens da vida cotidiana. Ao longo dos anos 60, com a
ascensão do estruturalismo, Barthes viria a se distanciar do estilo e da liberdade desses
ensaios.
99º - Estrutura da Lírica Moderna - Hugo Friedrich. Duas Cidades. Outro grande
nome dos estudos literários na Alemanha, ao lado de Auerbach, Curtius e Spitzer; o livro
oferece um quadro sinóptico das transformações da lírica entre o final do século 19 e a
primeira metade do século 20.
ARTS & LETTERS DIALY. Ideas, Criticism, Debate. Disponível em: <http://www.aldaily.com/>. Acesso em: 10
mai. 2005.
BLOOM, Harold. O cânone ocidental : os livros e a escola do tempo. 2. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
BRITTO, Paulo Henriques. Os 10 mais da ficção norte-americana do século 20. Disponível em:
<http://www.oespecialista.com.br> Acesso em: 10 jun. 2001.
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
CULTVOX. Bibliografia sobre a história do livro, da imprensa, da tipografia, das bibliotecas e da leitura.
Disponível em: <http://cultvox.locaweb.com.br/bibliografia.asp>. Acesso em: 12 mar. 2003.
FOLHA. 100 mais do século XX – ficção. Fonte: Folha de São Paulo. São Paulo, 3 jan, 1999 - Caderno Folha
Mais!
FOLHA. 100 mais do século XX – não-ficção. Fonte: Folha de São Paulo. São Paulo, 3 jan, 1999 - Caderno
Folha Mais!