Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Mas não se alvoroce, caro leitor. Os nossos oligarcas têm uma longa experiência para
enfrentar situações como essa. No Brasil, o país legal é sempre muito diferente do país real.
Durante quase meio século, mantivemos a ilegalidade oficial do tráfico negreiro (“para inglês
ver”) e a sua cruel efetividade no dia-a-dia, com o beneplácito das autoridades
governamentais, dos legisladores e dos magistrados. Até hoje, como todos sabem, inclusive os
figurões de Brasília, ainda há trabalho escravo em nosso país (até mesmo dentro de bancos e
Ministérios Públicos).
Acontece que, como diz o ditado, “a morte liquida todas as contas”. Vamos obviamente
esperar que os últimos assassinos, torturadores e estupradores, sobreviventes do regime
militar, entreguem suas almas a Deus (ou ao demônio), para informarmos a Corte
Interamericana de Direitos Humanos de que sua decisão (é bem o caso de dizer) foi
religiosamente cumprida.
1.O Estado brasileiro não pode se eximir de cumprir nenhuma das obrigações fixadas na
sentença. O País, no exercício de sua soberania, aderiu voluntariamente à Convenção Americana
sobre Direitos Humanos e reconheceu como obrigatória a jurisdição da Corte Interamericana de
Direitos Humanos. Tais atos foram praticados com estrita observância da Constituição Federal e
são decorrência das normas constantes dos seus artigos 4º, inciso II; 5º, §§ 2º e 3º; bem como do
artigo 7º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
2.Ora, conforme disposto no art. 68 da Convenção Americana de Direitos Humanos, “os Estados-
Partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem
partes”. O Brasil figurou como réu no processo supramencionado, foi condenado pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos, e deve, portanto, cumprir integralmente essa decisão. Para
deixar de cumpri-la, deverá denunciar a Convenção, protagonizando com isso o mais grave
retrocesso do Continente em matéria de direitos humanos.