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DESCORTINANDO O GRUPO GALPÃO: a construção de uma ideologia a partir da


História Oral

Natália Cristina Batista1

Resumo
Essa pesquisa propõe analisar a trajetória artística do Grupo Galpão e identificar a ideologia
construída ao longo de seu processo histórico. Amparados por uma ideologia teatral, o grupo
conseguiu estabelecer grande comunicação com seu público, seja em seus espetáculos, seja
com seu discurso engajado ou mesmo em suas ações sociais. Visando identificar qual é a
ideologia construída durante a trajetória do grupo, utilizo como metodologia a história oral,
onde a ênfase foi dada as entrevistas com os atores do Grupo. A partir delas, buscou-se
apreender suas histórias de vida, suas aproximações com o teatro e, por último, a criação e
manutenção do próprio grupo. Desvelar ou descortinar, a partir do uso da história oral, a
ideologia que sustenta a concepção de arte defendida pelo grupo, constitui uma importante
estratégia de aproximação do teatro com a história.

Palavras-chave: Grupo Galpão; História Oral; Ideologia.

Abstract
This research proposes to examine the artistic trajectory of the "Grupo Galpão" (Galpao
Group) and identify the ideology built along its historical process. Supported by a theatrical
ideology, the group managed to establish great communication with its audience, wether in
their spectacles, or their political discourse, or even in their social actions. Aiming to identify
which ideology was built during the course of the Group, using the methodology of oral
history, where the emphasis was given to the interviews of the actors of the Group. From
them, we attempted to understand their life stories, their approaches to theater and finally the
creation and maintenance of the Group itself. To unveil or uncover - through oral history - the
ideology that sustains the conception of art postulated by the Group, is an important strategy
of rapprochement of Theater and History.
1
Graduando em História pela PUC-MG, pesquisa financiada pela FAPEMIG-PUC.
2

Key-Words: Galpao Group, Oral History, Ideology.

INTRODUÇÃO

A História Cultural consolidou-se a partir da década de setenta, abrindo assim um


novo campo de pesquisa para os historiadores. A crise dos paradigmas instalada dentro das
ciências humanas, possibilitou pensar a cultura como um emaranhado de significados
construído pelos homens, com potencial de explicar questões pungentes dentro de nossa
sociedade.

A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da realidade que se faz de


forma simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos ás palavras, ás coisas,
ás ações e aos atores sociais se apresentem de forma cifrada, portanto já um
significado e uma apreciação valorativa. (PESAVENTO, 2008,p.15)

A partir desse alargamento do campo de pesquisa do historiador, e da necessidade de


desvelar os significados ainda ocultos, proponho investigar a ideologia de um grupo de teatro,
buscando embasamento nas amplas possibilidades que a história oral pode nos oferecer.
O Grupo Galpão de teatro é uma referência na cena teatral brasileira. Com sua
irreverência tem conquistado platéias do mundo inteiro. Ao longo de seus 27 anos de
existência o grupo experimentou as mais diversas linguagens, fazendo o seu público rir e
chorar. Seu trabalho sempre foi pautado com objetivos de popularização do teatro, buscando
não os espectadores das salas de espetáculos, mas sim os transeuntes que circulam pela
cidade.
Amparados por uma ideologia teatral2 - entendida como a maneira particular de
enxergar o mundo e consequentemente o próprio teatro -, o grupo conseguiu estabelecer
grande comunicação com seu público, seja em seus espetáculos, seja com seu discurso
engajado ou mesmo em suas ações sociais.
Sediado em Belo Horizonte, o grupo tem hoje 27 anos de existência, com 18
espetáculos já representados. Seu corpo de atores é composto por 13 integrantes, que

2
O conceito de ideologia foi pensado a partir dos textos “A interpretação das Culturas” de Clifford Geertz e
“Marxismo e filosofia da linguagem” de Mikhail Bakhtin. Nessa pesquisa a ideologia teatral está sendo pensada
como uma forma de interpretação da realidade. Como um conjunto de valores, pensamentos, que indicam uma
forma particular de perceber a vida, a arte e o mundo, conceitos esses, que propõe a reflexão do público ainda
que de forma inconsciente, já que não tem a intenção de doutrinar.
3

desenvolvem seu trabalho sempre com diretores convidados, como Paulo José, Gabriel Vilela,
Cacá Carvalho e mais recentemente o cineasta Eduardo Coutinho, no documentário “Moscou”.
O grupo demonstra ter consciência da importância de seu público e da necessidade de
inseri-lo no processo de desenvolvimento social que o teatro pode proporcionar. Tendo em
vista que, quase mais importante que a representação de um trabalho de qualidade é a sua
repercussão social, a sua contribuição para a mudança da sociedade.
Conforme explica Touchard essa é a principal missão do artista.

Em todo o caso, se fatalmente o público do teatro continua limitado seja a uma


nação, seja a uma classe, a missão do artista não deixa de ser um trabalho incessante
para alargar, para quebrar esses limites. É assim, pois, e somente assim, que se pode
considerar que a arte dramática tem uma missão social, não porque procura
convencer ou converter, mas simplesmente porque, sendo essa sua essência, como
toda arte um meio de expressão [...] na medida que estender a significação dessa
linguagem a um número de homens cada vez maior contribuirá para a supressão das
divisões sociais. (TOUCHARD, 1978, p. 69).

Visando compreender como o Galpão realiza a tarefa de contribuir para a sociedade


através do teatro, e utilizando como ferramenta a contribuição da história oral, se faz
necessário o desvendar da trajetória ideológica do Grupo.

DESENVOLVIMENO

Definir o que seria a ideologia do Grupo Galpão não foi uma tarefa simples. A teoria
apresenta múltiplas interpretações para o conceito de “ideologia”, que apesar de toda a carga
negativa atribuída, permite várias possibilidades não associadas somente ao conceito
formulado por Marx e Engels.3
Evitando essa análise ortodoxa do que seria a ideologia, e pensando-a como um
conceito maleável, recorremos a Geertz, que em seu livro “A interpretação das culturas”4 traz
um capítulo dissertando sobre a ideologia como um sistema cultural, onde ele propõe a leitura
do conceito acoplado a certa crítica a neutralidade, como afirma:

3
Marx e Engels definem a ideologia como a "universalização da particularidade”, onde a classe dominante tem
uma visão particular da sociedade, e através da manipulação que toda a sociedade pense como ela.
4
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1978. 323p.
4

Somos livres, naturalmente, para limitarmos o referente do termo “ideologia” a


“algo sombrio” se assim desejarmos, e podemos criar uma espécie de caso histórico
para fazê-lo. Todavia, assim procedendo, não se pode escrever obras sobre as
ideologias dos homens de negócios norte-americanos, dos intelectuais “literários” de
Nova York, dos membros da British Medical Association, dos líderes dos sindicatos
industriais [...] e esperar que tanto os temas dos assuntos quanto os leitores
interessados possam considerá-las neutras. (GEERTZ, 1978, p.111).

Geertz trabalha com a proposta de uma ideologia que pode ser construída por qualquer
grupo social e não só por aquele economicamente privilegiado. A partir disso é possível
propor o que é a ideologia de um grupo teatral, trabalhando com o conceito de ideologia como
um conjunto de idéias e valores, um sistema de pensamento.
A escolha desse conceito se deve ao fato de pensar o Galpão como um grupo que
propõe, a partir de seus espetáculos e ações sociais, uma tentativa de transformação da
sociedade através de uma nova forma de teatro. Com uma relação de responsabilidade com
seu público, de troca entre quem transmite sua ideologia (o grupo) e quem a recebe (o
público). A ideologia do Grupo não se apresenta, assim, como uma forma de manipulação,
mas sim de correlação, uma troca constante de interpretações e significações.
O conceito de ideologia formulado por Bakhtin5, que trabalha a ideologia com uma
interpretação abrangente do tema, associada à palavra e aos signos, ajuda a validar a
concepção desenvolvida na pesquisa. Pois o que é o teatro se não uma arte dotada de palavra e
significado?
Bakhtin propõe que:

A palavra funciona como elemento essencial que acompanha toda a criação


ideológica, seja ela qual for. A palavra acompanha todo o ato ideológico. Os
processos de compreensão de todos os fenômenos ideológicos (um quadro, uma
peça musical, um ritual ou um comportamento humano) não podem operar sem a
participação do discurso interior. Todas as manifestações da criação ideológica –
todos os signos não verbais – banham-se no discurso e não podem ser totalmente
isoladas nem totalmente separadas dele. (BAKHTIN, 1997, p.38)

Essa “ideologia teatral” seria uma forma de interpretação da realidade a partir do


teatro. Um conjunto de valores, pensamentos, que automaticamente propõe a reflexão de
forma inconsciente, já que a mensagem transmitida é sutil e não tem a pretensão de moralizar

5
BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na
ciência da linguagem. 10. ed. São Paulo: Annablume, Hucitec, 2002. 196p.
5

a platéia que a assiste. É a partir dos signos colocados em cena, e dos textos pronunciados,
que cria-se uma maneira particular de perceber a vida, a arte e mundo.
Tendo em vista a dificuldade de se encontrar essa “ideologia” do Grupo Galpão
apenas trabalhando com um material bibliográfico, a história oral se tornou uma importante
ferramenta. Mas para tanto, foi também necessário fazer uma interface entre a história
documental e a história oral.
O ponto de partida foi a análise da “Proposta de Trabalho”6, tomada como importante
artefato documental na busca por essa ideologia do Grupo Galpão, notada ainda que de forma
subjetiva. Entre os seus objetivos, estavam assinalados:

1. Dar continuidade ao trabalho iniciado em Diamantina;7


2. Tentar desenvolver as técnicas aprendidas e ampliá-las adaptando-as a nossa
realidade cultural.
3. Facilitar o acesso á cultura, ao teatro popularizando-o.
4. Procurar, através do teatro de rua, uma forma mais direta e espontânea de
comunicação com o público.
5. Tentar desenvolver uma estrutura de trabalho na qual exista a possibilidade de
participação do público no espetáculo, criando assim um constante desafio e
uma constante provocação, tanto por parte dos atores quanto do público;
6. “Desinstitucionalizar” o palco;
7. Buscar novas alternativas de espaço teatral, uma vez que nisso consiste em um
dos maiores problemas da nossa realidade cultural regional. (MOREIRA et
al.,1982).

As entrevistas foram feitas com seis atores do grupo. E, por se tratar de um tema
passível de várias interpretações, as perguntas foram relacionadas a história de vida, a história
do Grupo e uma posterior sondagem do que seria a ideologia do grupo.
A partir dos relatos orais conseguimos traçar um paralelo entre os objetivos propostos
no ano de 1982 (ano de fundação do Grupo) e 2009 (ano que foram feitas as entrevistas).
Tornou-se claro que alguns elementos ainda permaneceram como objetivos dentro da
trajetória artística do grupo. Já outros se perderam, como evidenciado nas falas dos atores
quando indagados se os objetivos da “Proposta de Trabalho”, vistos com certa distância
temporal, ainda eram os mesmos pensados naquele período.

6
Essa proposta de trabalho foi escrita pelos atores do Grupo Galpão, em 1982. Tinha como objetivo esboçar o
norte condutor a ser seguido pelo grupo. O primeiro propósito era dar continuidade ao trabalho realizado na
primeira oficina de teatro de rua, feita pelo Grupo Galpão em Diamantina, e que se propunha a trabalhar com
teatro de rua, acrobacias, perna-de-pau, técnicas circenses, entre outras.
7
Oficina realizada em Diamantina e que deu origem ao que viria se tornar o Grupo Galpão.
6

Traçamos, assim, um paralelo entre o que era e o que ainda é concebido como
objetivo. Segundo Beto Franco os objetivos iniciais seguiam na busca por um teatro de caráter
social, como afirma:

Na época era um momento de efervescência política, era época das “diretas”, fim da
ditadura, a maioria das pessoas do grupo tinha militado no movimento estudantil, eu
mesmo tive essa participação contra a ditadura, então a gente tinha uma formação de
pensar as coisas em termos políticos também, né? Em termos de participação porque
aí o teatro na rua, com o público, com o povo, as pessoas, o teatro casava muito bem
com esses ideais da época e era uma maneira de você estar atuando, você não
precisava estar atuando politicamente, dentro dos sindicatos, você estava fazendo
esse papel, mas através da arte.

Eduardo Moreira corrobora:

A gente tinha muito essa coisa do teatro como transformação social, né? O próprio
começo assim, o fato de começar na rua, propor um teatro popular. A gente tinha
esse anseio, essa preocupação, essa característica bem marcante, que era de
transformação política e social. Tanto é que no começo assim, tudo se encaixa muito
nessa... nesse clima de redemocratização, de luta pelas “diretas já”. Acho que tem
um engajamento dentro desse contexto todo. Agora, era uma idéia artística também
essencialmente, no sentido de ser um grupo de pessoas que pudessem estudar,
aprimorar o teatro e num grupo seria um lugar fértil para isso.8

Havia a dificuldade, notada no decorrer das entrevistas, de formular um conceito


fechado do que seria a ideologia do Grupo, já que ele se trata de um coletivo que é movido
por material humano e suscetível a desejos e contradições O termo foi modificado e a busca
ganhou um caráter mais aberto e dinâmico.
A história de vida de cada entrevistado interfere na sua visão de mundo e, em
consequência, na forma como enxerga a ideologia do grupo. Por isso a tamanha distinção na
definição dessa ideologia e na própria compreensão de seu conceito.
Quando indagados se o grupo possuía uma ideologia, e qual era, as respostas foram
percebidas de maneiras distintas pelos atores. Eduardo Moreira, ator fundador do grupo,
formado em filosofia e responsável por ser o porta voz do grupo diante da mídia, afirmou que:

Eu acho que tem ideologia bem clara da questão do grupo, do coletivo, né? Quer
dizer, não é um teatro de elenco, onde as pessoas formam um elenco. Mas é um
conjunto, um grupo, um coletivo, nesse sentido. Onde o coletivo fala mais alto do
que as peças individualmente, nesse sentido. Acho que é um conceito ideológico

8
Eduardo Moreira, ator fundador do Grupo Galpão. Entrevista realizada em 21 de maio de 2009, na sede do
Grupo Galpão, em Belo Horizonte.
7

nesse sentido que está presente no resultado, nos espetáculos, nas cenas. Eu acho
que isso traduz muito a maneira de construir que é uma maneira essencialmente
coletiva, de grupo mesmo,

Em contraposição ao que atesta Fernanda Vianna:

Eu acho que o Galpão é um grupo tão...não sei se é a palavra certa....eclético.


Trabalha com diversos diretores, alguns trabalhos do grupo você sente uma entrega
muito grande, apaixonado, de não saber o que é. Está um pouco nessa relação de
entrega, alguns elementos dizem assim: “parece que a gente está sempre
começando” e na verdade existe isso, você vai muito também da idéia do outro,
muito facilmente, então isso também cria enorme confusão. [...]Mas acho que a
nossa (ideologia) acaba sendo mesmo esse viés popular, desse viés cômico que está
sempre presente. Acho que definitivamente, não tem ideologia. O grupo é muito
eclético, muito eclético.9

Já Beto Franco acredita que o grupo possui uma ideologia, mas de forma sutil:

Essa ideologia do teatro, se eu entendi bem, é uma coisa bem sutil, né? É difícil eu
pensar quais elementos do Galpão, acho que essa busca de uma linguagem popular,
assim....de comunicação bastante direta, eu acho que isso pode ser um elemento, de
tentar abrir a cabeça das pessoas também, para ver algumas coisas, perceber as
próprias mazelas, a ideologia do teatro pode ter um pouco a ver isso. O teatro na
verdade fica mostrando para as pessoas o que elas são, o que elas...o que elas... tem.
De ruim e de bom também, o que o ser humano é.

E Antonio Edson desloca a ideologia do campo estético e atribui ao trabalho a mais


importante característica ideológica do grupo:

Não sei se sei (sobre a ideologia). Eu acho que algumas coisas norteiam a trajetória
do Galpão, eu acho que são algumas questões, uma que é o trabalho, perseverança
no trabalho. Se o Galpão tem alguma lição para ensinar, se as pessoas se espelham
no Galpão e querem tirar alguma coisa do trabalho do Galpão, eu acho que nisso
talvez a gente seja exemplar. Porque afinal de contas, podemos dizer hoje aos 27
anos demos certo, e foi com trabalho, muito trabalho, acho que a gente podia
trabalhar até menos. [...] A gente procura, o grupo procura estar sempre se
aperfeiçoando, buscando aprimoramento daquilo que é instrumento do ator, no que
refere a corpo e voz. E também entendimento do mundo, procurar ler, procurar
fazer públicas e visíveis opiniões que não estão no jornal da noite.

Mesmo diante de opiniões tão diversas, mas que se perpassam, podemos perceber que
a ideologia do grupo se faz presente. Até a atriz Fernanda Vianna, que afirma que o grupo não

9
Fernanda Vianna, atriz do Grupo Galpão. Entrevista realizada em 28 de maio de 2009, na sede do Grupo
Galpão, em Belo Horizonte.
8

possui ideologia, afirma quais seriam as características ideológicas segundo a sua visão de
ideologia. Retornamos a Geertz, que qualifica a idéia de ideologia como sistema cultural,
onde a cultura é uma teia de significados, que é tecida de acordo com as experiências
adquiridas ao longo da vida.
Cada ator fez sua interpretação de ideologia a partir da sua interpretação de mundo,
baseado na sua trajetória de vida. Eduardo Moreira e Beto Franco, que participaram do
movimento estudantil, possuem um discurso mais engajado, concebendo a ideologia como
algo claro e voltado para uma arte que tem como objetivo a transformação social.
Já Antonio Edson e Fernanda Vianna possuem uma visão de ideologia mais
relacionada a estética e ao trabalho do grupo. Enquanto Fernanda trabalha com a relação de
entrega do grupo em seus processos criativos, Antonio propõe que a determinação no trabalho
do grupo e o aprimoramento da técnica teatral podem representar a ideologia desse coletivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os depoimentos orais dos atores demonstraram o quanto o conceito de ideologia é


complexo. Observamos uma imensa gama de informações retiradas desses relatos, onde todos
possuíam verdades nas suas afirmações, já que cada entrevistado focou um ponto principal do
que seria a ideologia.
A utilização da história oral foi muito importante nessa pesquisa, sem seu uso não
seria possível identificar os elementos alcançados. Na medida em que os entrevistados foram
traçando uma linha cronológica, que passava por sua história de vida e sua relação com o
teatro, e culminava na sua interpretação de ideologia, foi possível propor uma concepção mais
ampla. Chega-se, no processo da pesquisa, a um conceito plural, o de “ideologias” – em
substituição a “ideologia”, primeiramente sugerido.
A pesquisa apresentou a clareza de que um coletivo formado por treze atores jamais
teria uma opinião unificada sobre essa questão, justamente pelo sujeito histórico que cada um
representa dentro do conjunto.
9

Conclui-se então que as “ideologias” do grupo são definidas por um conjunto de


valores entendidos como: a força do coletivo, em contraponto ao individualismo; a entrega ao
processo criativo e a necessidade de se estar constantemente começando; a questão da
seriedade no trabalho e o aprimoramento de seu ofício; a busca por um teatro popular e de
forte comunicação com o seu público; e o desejo de promover a reflexão no público que o
assiste.
Até que ponto é possível nominar esse conjunto de valores como ideologia do Galpão
é uma incógnita. Mas é certo que um grupo não permanece por mais de vinte e sete anos por
acaso. Ele está cercado de princípios nos quais se guiam. Acredito que essa permanência só
foi possível porque esse coletivo possuía objetivos em comum. A eles denominei
“ideologias”. E ainda que vistas de diversas maneiras, contribuíam para convergir em um
ponto comum: pensar o teatro como elemento transformador de uma sociedade.

REFERÊNCIAS

ALVES, Junia de Castro Magalhães; NOE, Marcia. O Palco e a rua: a trajetória do teatro do
Grupo Galpão. Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 2006. 308p.

BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método


sociológico na ciência da linguagem. 10. ed. São Paulo: Annablume, Hucitec, 2002. 196p.

BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2006, 577p.

BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Grupo Galpão: 15 anos de risco e rito. Belo Horizonte:
Grupo Galpão, 1999. 176p.
10

DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo
Horizonte: Autêntica, 2006. 135p.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1978. 323p.

GUINSBURG, J. Dicionário do Teatro Brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 2006, 360p.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São
Paulo: Brasiliense, 1984. 198p.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004. 130p.

RAMOS, Alcides Freire; PEIXOTO, Fernando; PATRIOTA, Rosangela. A história invade a


cena. São Paulo: Editora Hucitec, 2008. 361 p.

TOUCHARD, Pierre-Aime. Dionisio : apologia do teatro: seguido de O amador de teatro,


ou A regra do jogo. São Paulo: Cultrix: Ed. da Universidade de São Paulo, 1978. 231p.

VERENA,Alberti. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. 236 p.

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