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The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem

(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)


Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 1 de 62
ISBN 0-8010-2081-6

OBSERVAÇÕES DO TRADUTOR
Esta obra busca promover a Escola de Abordagem Histórico – Redentora. O leitor
irá encontrar referencias a teólogos como Walter Eichrodt (Escola da Alta Crítica), Von Rad
(Escola da Alta Crítica), Brevard S. Childs (Escola da Alta Crítica – Crítica Canônica) e
outros. Estes citados pelo nome pertencem a outra escola de abordagem das Escrituras.
Especialmente a Escola da Alta Crítica, historicamente, se mostrou prejudicial ao
desenvolvimento da Teologia genuinamente bíblica. Não há espaço aqui fazer uma
exposição detalhada de outras escolas de abordagens no estudo das Sagradas Escrituras; mas
o tradutor Almir Macário Barros assume e adota a Abordagem Histórico-Redentiva (ou
Histórico-Redentora) a qual tem os pressupostos listados nesta obra de VanGemeren. Porém,
é necessário ter cautela com as citações sobre teólogos de outra escola de abordagem à
Bíblia. Visto que esta observação está sendo feita antes da conclusão de leitura e análise
desta obra de VanGemeren, fica apenas o alerta ao leitor de que é necessário ler e analisar
esta obra, pois podem haver posições do autor que não sejam de totalmente aprovadas, e
quanto a citações de teólogos de outras escolas, para o leitor leigo, não é bom que este
busque consultar tais teólogos, pois estes têm pressupostos diferentes da Escola de
abordagem histórico-redentora. Tais pressupostos, conforme se pode constatar neste livro
traduzido, são essencialmente bíblicos e fundamentais para o estudo das Escrituras, e
nenhum teólogo que se diz cristão evangélico reformado pode fugir dos mesmos. No
momento (12/abril/2010) em que escrevo estas anotações, traduzi apenas o índice (detalhado
e ampliado), introdução, e estou iniciando com as figuras e tabelas (o que considero que dá
uma idéia do que a obra propõe). Não observei de que maneira, ou até que ponto, ou porque
VanGemeren usa informações de teólogos (da Escola Crítica) como Walter Eichrodt, Von
Rad, Brevard Childs (Crítica Canônica) ainda não pesquisei as escolas a que pertencem os
teólogos citados na obra. Qualquer informação ou dúvida escrever para: Almir Macário
Barros: endereço eletrônico: macariobarros@gmail.com )
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 2 de 62
ISBN 0-8010-2081-6

PREFÁCIO

É com prazer que apresento um estudo do Trabalho de Deus na Redenção,


iniciando na Criação, e progredindo até seu pleno e completo desenvolvimento final na
Nova Jerusalém. Na narrativa da História da Redenção, a Bíblia revela a progressão do
Plano de Deus para seu povo. Tanto Antigo Testamento (AT) como Novo Testamento (NT)
testemunham a glória preparada para o povo de Deus em Jesus Cristo. Examinaremos:
1. A Bíblia como o Livro de Deus e o livro do homem.
2. Cada fase no desdobramento da história da Redenção
3. A forma literária correspondente à cada fase.
4. A função canônica, ou significado da passagem como mensagem divina para a
comunidade para a qual foi entregue.
5. A relevância histórico – redentiva ou significância de cada fase à luz dos
propósitos de Deus em todos os estágios da Redenção.
Desta maneira, este livro introduz o leitor:
1. No AT.
2. No Período Intertestamental.
3. No Futuro Profético (Escatologia).
O desenvolvimento da História da Redenção testemunha:
1. Da diversidade na Revelação de Deus.
2. Da unidade do seu Plano Redentor (e Criador1).
Conforma George Ladd,

As Escrituras como um todo (AT e NT) encontram sua unidade naquilo que pode ser mais
adequadamente denominada como História Sagrada (Heilsgeschichte). Ela é o registro e
interpretação dos eventos nos quais Deus visita os homens na história com o fim de redimi-los como
pessoas e ainda redimi-los também na sociedade – na história. No final de tudo, isto significa a
Redenção da própria história.
A diversidade ocorre devido aos estágios distintos ao longo do curso da Redenção e também por
causa das diferentes maneiras pelas quais o evento redentivo pode ser interpretado. Os profetas
percebem este evento a partir da perspectiva da Promessa, com uma forte ênfase sobre o significado
histórico e secular daquela visitação divina2.

Neste livro eu exploro uma ampla gama de tópicos e percebo profundamente


minhas próprias limitações em tratar adequadamente com cada um deles.
ENTRETANTO, EXISTE UMA GRANDE LACUNA NA LITERATURA
EVANGÉLICA ATUAL, POIS POUCOS ESCRITOS INVESTIGAM O
DESENVOLVIMENTO PROGRESSIVO DA HISTÓRIA DA REDENÇÃO.
Devo grandemente ao escritos de Geerhardus Vos3 , cuja obra célebre “Biblical
Theology of Old and New Testaments” (Teologia Bíblica do Antigo e Novo Testamentos)

1
Acréscimo do tradutor Almir Macário Barros: quando falamos do Plano de Deus, precisamos perceber que
este tem dois aspectos, ou apresenta-se em dois “Sub-Planos”: 1) O Plano Criador com a Primeiro Criação,
quando foram criadas todas as coisas coisas: Gn. 1-2, e 2) O Plano Redentor quando em Cristo temos a Nova
Criação, ou seja, a Criação Redimida com a Restauração de todas as coisas. Em resumo, a Primeira Criação
com o Primeiro Adão é restaurada em Cristo, o Último Adão (Nova Criação, Criação Redimida, ou Segunda
Criação como alguns chamam).
2
Eldon Ladd: The Patterno of New Testament Truth (O Padrão da verdade do N.T.) Grand Rapids: Eerdemans,
1968, p. 110-111.
3
Obs. Do tradutor, Almir M. Barros: Geerhardus Vos (1862-1948), naturalizado americano, foi professor de
Teologia Bíblica no Seminário de Princeton durante cerca de 39 anos; Benjamin Warfield o chamou de “o
Pai da Teologia Bíblica Reformada”. Com relação à abordagem e construção da Teologia Bíblica, G. Vos é
considerado como um dos principais teólogos representantes da “escola histórico – redentora”. Os
principais pontos desta Escola constituem o pressuposto de todo e qualquer Teólogo histórico-redentor, e
estes são: 1. Existe apenas um único Plano Redentor de Deus apenas um povo de Deus, constituído por
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 3 de 62
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foi impressa há cerca de quarenta anos, e também a Edmund P. Clowney e Richard B.


Gaffin, Jr, por me introduzirem na abordagem Histórico – Redentiva durante meus
estudos no Westminster Theological Seminary (Seminário Teológico de Westminster).
Apesar dos erros e omissões neste livro, acredito que a presente obra ajudará o
cristão a se alicerçar na história do povo de Deus, servir melhor a Cristo, e se tornar pleno
do Espírito de restauração, da mesma maneira que nós olhamos em direção à gloriosa
Redenção preparada para o povo de Deus na sua Nova Jerusalém.
Sou muito agradecido aos meus alunos, no Geneva College (1974-78) (Faculdade
de Geneva) pelo seu encorajamento; também ao Reformed Theological Seminary em
Jackson (1978-92); e ainda à Trinity Evangelical Divinity School (Escola Trinitariana
Evangélica de Divindade), ambas no Cumpus de Deerfield e ainda muitas extensões do
Campus (1922 até atualmente). Sou, também, agradecido a Jim Weaver of Baker Book
House (Empresa Baker Book) pelo seu suporte em permitir a publicação deste livro sob os
auspícios da Baker Book House. Sou ainda profundamente agradecido a Deus pela minha
família, a quem dedico esta obra. Seu sacrifício, amor constante, e laços espirituais que nos
une têm me compreensão da benção de Deus que renova e refresca. Eu oro ao Senhor pelo
amor de minha esposa, Evona por cerca destes últimos trinta anos, e pelo seu interesse em
nossa comunidade internacional no seminário. Oro ainda pelo crescimento espiritual e boa

judeus e gentios eleitos em Cristo; 2. Este plano Redentor, projetado antes dos tempos eternos, no seio do
Deus Triúno, é materializado e desenvolvido progressivamente na História humana pelo Deus que se revela
através dos seus atos sobrenaturais, constituindo com isto o que chamamos de História da Redenção, que
visa: a. Redimir o povo de Deus, os eleitos antes da fundação do mundo, em Cristo e b. Restauração de
todas coisas. 3. Estes atos sobrenaturais pelos quais Deus se revelou na história foram de forma inerrante e
infalível, fielmente registrados por escrito por homens inspirados pelo Espírito de Deus, resultando daí no
registro escrito das Sagradas Escrituras, AT e NT, a Bíblia Sagrada (Revelação Especial) que Deus nos
entregou, a nós seu povo. Esta Escola histórico-redentiva se opõe frontalmente à escola da Alta-Crítica
(Escola Crítica: Crítica da Forma, Crítica Canônica, Crítica das Fontes, etc). Alguns dos principais pressupostos
da Escola Crítica são (Paulo Anglada: Introdução à Hermenêutica Reformada, Ed. Cultura Cristã, p. 54): 1.
(Pretensão de) Objetividade ou isenção (suposição de que o pesquisador é uma “tabula rasa”) e pressupõe
que a Bíblia deve ser estudada como um livro qualquer, negando o seu caráter sobrenatural de Revelação
Sobrenatural de Deus ao seu povo; 2. Racionalismo: a Razão substitui a Revelação passando a ser o critério
supremo da verdade, julgando todas as coisas; 3. Historicismo: As Escrituras não são a Revelação Divina, mas
o registro histórico das aspirações religiosas de um povo (Israel e a Igreja); com isto, a Escola Crítica nega
muitos milagres das Escrituras. Os pressupostos da Escola histórico – redentora, já referidos, são
primariamente aceitos e cridos só e somente pela fé. Nesta Escola, a exposição do Plano Redentor de Deus é
exposto como um todo, com uma estrutura única, orientada pelas próprias Escrituras, podendo suas fases ser
listados da seguinte maneira: FASE I. Antes dos Tempos Eternos: o Deus Triúno, e Seu Eterno Conselho:
Criação, Providência e Redenção; Aliança da Redenção entre O Pai e O Filho; FASE II. Tempo histórico da
Criação: TEMPO DA PALAVRA PROFÉTICA: 2.1. Revelação pré-Redentiva Gn. 1-2- antes da Queda; 2.2.
Revelação Redentiva – Gn. 3-Ap. Período do Pós-Queda (principal profecia: Messias iria executar 3 tarefas:
a. Encarnação Sobrenatural (ES); b. Expiação Vicária (Ex. V), e c. Ressurreição dentre os mortos (Res.M ):
temos neste tempo o Pacto da Graça (PG) sendo administrado na Antiga Dispensação por sombras, figuras,
tipos e promessas (AT) que apontam para o Jesus Cristo. Temos nesta fase as seguintes Eras: 2.1.1. Era dos
começos: Gn. 1-11; 2.1.2. Era dos Patriarcas; 2.1.3. Era Mosaica; 2.1.4. Era da Conquista de Canaan; 2.1..5.
Era da Monarquia: Reino Unido e Reino Dividido; 2.1.6. Era profética – profetas (Canônicos) escritores. 2.2.
TEMPO DA CONCRETIZAÇÃO DA PALAVRA PROFÉTICA: ERA MESSIÂNICA: Jesus, o Cristo, o Messias realiza a
Palavra (Promessa Messiânica) Profética (AT): 1. ES, 2. Ex.V. e 3. Res.M. (Redenção Objetiva: realizada pelo
Filho Encarnado, Jesus, sem nenhuma participação do homem, irrepetível, de uma vez por todas, cobrindo
todos os santos, AT e NT) estando estes atos registrados e descritos nos evangelhos, Mt, Mc, Lc e Jo. 2.3. ERA
APOSTÓLICA: TEMPO DE INTERPRETAÇÃO À LUZ PALAVRA PROFÉTICA (AT) DA MISSÃO REALIZADA POR
JESUS, O MESSIAS (ES, Ex.V. e Res.M) (At, cartas e Apocalipse), com encerramento da Revelação Especial em
Ap; 2.4. ERA DA HISTÓRIA DA IGREJA: Pós-apostólica, Pais da Igreja, Reforma, Ortodoxia,....até a Segunda
Vinda; construção da herança da Igreja, sob a iluminação do E. Santo, homens de Deus, através das gerações
de crentes, constroem as doutrinas básicas do Cristianismo alicerçadas nas Escrituras; 2.5. SEGUNDA VINDA:
Juízo Final, Restauração de todas as coisas; Consumação da Redenção dos santos; 2.6. ESTADO ETERNO:
Novo Ceús e Nova Terra, Nova Jerusalém.
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vontade do nosso seminário irmão, Nurit; pelo desenvolvimento social de nossa faculdade
irmã, Tamara, a qual está empenhada por Bryan Betts; e ainda pelo desabrochar de nossa
escola superior irmã, Shoshanna. Deus seja louvado!
Neste momento, eu oro para que o leitor perceber reflexos do Deus único nestas
páginas e que também encontre abrigo sob as asas do Todo – Poderoso, aquele tem revelado
a Si próprio em Seu Filho e quem, através do Espírito Santo, nos assegura a certeza de um
futuro.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
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Índice da Introdução

A. Eventos antigos e a fé do cristão moderno


B. Exegese bíblica e Tradições teológicas
C. O lugar da fé na interpretação da Escritura
D. A relação entre os dois testamentos
d.1. Lei e Evangelho
d.2.Promessa e Cumprimento
d.3. Figura e realidade
E. O centro teológico da Escritura
F. A interpretação da Bíblia
f.1. A arte do estudo da Bíblia
f.2.. Análise e síntese: Uma abordagem trifocal ao Texto bíblico
f.3. Estilo literário
f.4. Função canônica
f.5. Relevância Histórico – Redentiva
Tabela 1: Doze períodos da História Redentiva
G. Interpretação bíblica e transformação
g.1. Interpretação na comunidade
g.2. Interpretação em diálogo
Conclusão
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(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
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INTRODUÇÃO

A Bíblia é o livro de Deus e do homem. Deus fala através das bocas de homens e
homens e mulheres ouvem a voz de Deus. Apesar do homem, Deus falou intensamente
através de milênios atrás e a Igreja ainda ouve a sua voz. Sua maneira de ouvir, entretanto,
depende da sua própria situação histórica. Desde o século dezenove, sérios desafios à
inspiração, canonicidade e inerrância da Bíblia têm surgido. Estudiosos olham para o
surgimento da abordagem crítica como um divisor de águas e se referem à literatura anterior
e posterior a tal desenvolvimento como pré e pós crítica. A abordagem crítica tem afetado
profundamente a maneira de estudo da Bíblia nas universidades, bem como sua exposição
nas igrejas. Críticos bíblicos têm sido acusados de levarem a igreja a um “exílio babilônico”
– a erudição que pratica exegese debate pontos sutis de interpretação, enquanto o povo de
Deus permanece sedento da Palavra de Deus.
Evangélicos têm respondido gradualmente a tais desafios. Ainda que eles tenham
sido acusados de elevar a Palavra de Deus ao status de oráculos de Deus, e de mostrar pouca
consideração pelos aspectos: histórico, literário, e cultural, no qual a Bíblia veio até nós, os
mesmos têm cuidadosa preocupação com relação aos aspectos referidos. Neste livro, além
de eu explicar a Bíblia tanto de uma maneira realística como relevante, eu apresento neste
livro a ABORDAGEM HISTÓRICO – REDENTIVA. Esta abordagem à Bíblia:
1. Mostra uma apreciação da Palavra de Deus tal como ela veio a nós no
tempo e no espaço.
2. É feita dando devida atenção à análise histórica e gramatical.
3. Também dá a devida atenção às funções canônica e literária.
Este método de interpretação da Bíblia inicia com a pressuposição de que a Bíblia é
tanto Palavra de Deus como palavra do homem. Como Palavra de Deus a Bíblia revela o
Deus Triúno e seu Plano de Salvação e vida para os seres humanos relacionados ao seu
grande desígnio de renovação de céus e terra.
Como palavra do homem, a Bíblia é a coleção de trabalhos literários escritos pelos
homens de Deus inspirados pelo Espírito de Deus. Estes tesouros literários foram escritos
em linguagens humanas através de muitos séculos, refletindo diferentes convenções
literárias e culturas. Semelhantemente, as Escrituras estão relacionadas a culturas
específicas. Deus falou a escritores na linguagem de acomodação ou ajustamento, e ele
ainda nos fala de uma maneira que podemos entender. A CONFISSÃO DE UM
COMPROMETIMENTO TEOLÓGICO COM A BÍBLIA COMO ESCRITURA NÃO
CONSTITUI IMPEDIMENTO PARA SUA COMPREENSÃO, MAS SIM UM
AUXÍLIO NA COMPREENSÃO DAS ESCRITURAS, ASSIM COMO
CONSTITUEM TAMBÉM AUXÍLIOS AS ÊNFASES:
1. No estilo literário.
2. Na função canônica da Escritura.
3. Na sucessão de continuidade e descontinuidade através da história da Redenção.
A preocupação com ambos os aspectos divino e humano da Escritura cria tensões
que se relacionam mais basicamente à questão de interpretação: “Entendemos realmente o
que lemos?” A resposta a tal questão conduz a sete questões adicionais, a saber:

A. Como pode um evento descrito na Bíblia ser relevante para o cristão do


século vinte?
B. Qual a relação entre uma tradição teológica ou declaração confessional e
a necessidade contínua de uma leitura e estudo atuais (contextualização)
da Bíblia?
C. Qual o lugar da “fé” na leitura e estudo das Escrituras, incluindo o AT?
D. De que maneira estão AT e NT relacionados entre si?
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E. Qual é o centro teológico ou o tema dominante da Bíblia?


F. Quais elementos de uma interpretação que de forma vital envolvem o
intérprete?
G. Como fazer exegese bíblica ser aplicada à vida prática? Como a Bíblia
conduz a uma transformação contínua?

Apresentamos a seguir, ainda nesta introdução, um breve sumário sobre os sete


itens acima citados a serem explorados mais detalhadamente no corpo deste livro4.

A. Eventos antigos e a fé do cristão moderno

Como fazer o texto bíblico, estabelecido em seu antigo contexto, ter relação
conosco atualmente?
A questão da relevância é tão antiga quanto a Bíblia, porém foi levantada mais
explicitamente por Hegel, um filósofo alemão de história do século XIX. Ele postulou o
conceito de espírito na história com o elo que liga presente e passado. Para Hegel, o evento
em si é insignificante; somente sua conexão com outros eventos assume relevância. Somente
o processo é relevador. A relevância do passado depende de sua relação com o presente. Por
conseguinte, na perspectiva de Hegel, eventos bíblicos e história são relevantes somente na
medida da sua relação com o presente.
A separação de fé da história resultou numa postura negativa com relação à história
do AT e subseqüente erosão da autoridade do AT5. Estudiosos do NT extraíram o Jesus
Histórico da interpretação teológica do Jesus na Igreja Primitiva. A questão para o Jesus
Histórico levou Bultmann a introduzir o conceito de demitologização, em um esforço para
separar Jesus de Nazaré, ou o núcleo histórico, do Jesus da Fé. O método crítico dissecou
cada livro da Bíblia individualmente segundo fragmentos literários produzidos por uma
multiplicidade de tradições. Klug expressou apropriadamente a reação dos evangélicos ao
dilema crítico: “Os práticos da abordagem histórico – crítica tornaram-se a si mesmos
agentes do funeral e sepultamento da Palavra de Deus”6.
O processo de interpretação nunca deve produzir uma separação entre o intérprete e
o texto, entre o evento antigo e o século XX. O hegelianismo cria semelhante separação. O
Alto Criticismo acentua tal diferença. É certo que existem diferenças, mas o processo de
interpretação envolve o leitor moderno da Bíblia. A interpretação genuína reflete a
mensagem antiga para cada leitor da Bíblia em uma maneira similar, porém não idêntica.
Deus tem falado e ainda fala a homens e mulheres pela operação do Espírito Santo. A
revelação de Deus por Moisés, os Profetas, Nosso Senhor e os Apóstolos ainda testemunha
no contexto moderno cada um que abre seus ouvidos à voz de Deus. Jesus disse que suas
ovelhas ouvem sua voz (Jo. 10.1-5), e que tal voz vem a nós pelas Sagradas Escrituras. Os
que crêem no Cristo de Deus são inseridos na história dos atos de Deus, assim eles podem
exclamar com o salmista:

Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado; a sua grandeza e insondável.


Uma geração louvará a outra geração as tuas obras e anunciará os teus poderosos feitos.
Meditarei no glorioso esplendor da tua majestade e nas tuas maravilhas.
Falar-se-á do poder dos teus feitos tremendos, e contarei a tua grandeza.
Divulgarão a memória de tua muita bondade e com júbilo celebrarão a tua justiça (Sl. 145.3-7).

B. Exegese bíblica e Tradições teológicas

4
Frase indicativa do conteúdo da introdução inserida pelo tradutor Almir Macario Barros para melhor
compreensão do leitor.
5
Para uma visão geral, ver: Alan R. Millard, “Approaching the Old Testament” Themelios 2 (1977): 34-39.
6
Eugene F. Klug, Prefácio de The End of the Historical Critical Method (A Extinção do Método historico –
crítico) por Gerhard Maier, St. Louis, Concordia. 1977, p. 9.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
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Ao longo da história da Igreja, a Bíblia tem estado solidamente conectada à vida e


ensino da mesma. A prática e ensino atuais podem ter-se desviado em um ou outro ponto,
mas em nenhum tempo a Bíblia foi completamente substituída. O lugar da Bíblia, entretanto,
está em contínua tensão com as tradições da Igreja ou denominação. Esta tensão foi
aumentada durante a Reforma, e desde aquele momento suas deliberações têm dado origem
a muitas denominações7. A tradição tem uma função na vida da igreja porque cada geração
não pode reviver as tensões, questões teológicas e problemas práticos das gerações
anteriores. Nós somos herdeiros dos Pais da Igreja, quem trabalhou as fórmulas doutrinárias
da Trindade. Somos herdeiros da Reforma, com suas ênfases sobre Cristo (versus a igreja),
justificação pela Fé, salvação pela graça, o sacerdócio de todos os crentes, e a primazia da
Escritura (versus a igreja). Além disso, muitas igrejas evangélicas um credo, confissão,
pacto, ou declaração de crença pela qual os crentes estão ligados uns aos outros. A tradição
dá um sentimento de continuidade histórica, identidade e solidariedade. Além disso, a de um
pré-entendimento (isto é, uma abordagem condicionada culturalmente) em uma
interpretação bíblica ajuda o leitor da Bíblia a se guardar contra erros e equívocos8.
Por outro lado, tradição é perigosa quanto ela é independente do princípio da
Reforma de primazia da Escritura (Sola Scriptura). Os Solas da Reforma (somente Cristo,
somente a Fé, somente a Graça, e somente a Escritura) foram estabelecidos em contraste às
tradições teológica e eclesiástica. Os Reformadores adotaram de todo coração o princípio da
primazia da Escritura. A partir da Escritura eles sustentavam suas posições – a suficiência de
Cristo para salvação e a apropriação imediata dos seus benefícios através da fé e da graça –
contra as autoridades eclesiásticas. A despeito da força da tradição e do poder de Roma,os
Reformadores retornaram á Palavra de Deus como principal fonte de sua fé. O perigo existe
continuadamente, em uma vida de comodismo, com nossas formulações teológicas, sem
conhecimento de um estímulo ou desafio de uma interpretação atualizada. Por conseguinte,
Barr encoraja a um retorno à interpretação bíblica como uma maneira de apropriação
daquela herança. “Com respeito a grande parte do trabalho interpretativo, a qualidade de ser
recente não significará ruptura com tradição...mas reapropriação da mesma com maior
profundidade de compreensão”9.
Nossa situação atual não é muito diferente do período antes da Reforma. A Idade
Média foi unida pela aceitação das “Regras de Fé”, tais como ensinadas e transmitidas pela
igreja. A Escritura era de importância secundária em relação à igreja. Os modos de
interpretação eram irrelevantes para o ensino da igreja. O perigo para o Cristianismo
evangélico moderno está na extração de valores da Bíblia sem um devido cuidado de ouvi-la
e atendê-la cuidadosamente. Emil Brunner lamenta o fato de que muitos não atendem o texto
bíblico, nem o aplicam apropriadamente, e outros buscam um “significado espiritual”
escondido. Ele adequadamente argumenta que o caos resultante de um manuseio equivocado
da Bíblia não tem alicerces na Reforma, mas é reminiscência do Período pré-Reforma: “Nós
podemos apenas alertar o povo mais urgentemente contra esta confusão de pensamento, o
qual inevitavelmente nos faz regredir a uma postura religiosa que os Reformadores tinham
superado; verdadeiramente, tal vitória constituía a própria Reforma”10.

C. O lugar da Fé na interpretação da Escritura


7
G. Ebeling, Word and Faith, trans. James W. Leitch, (Philadelphia: Fortress, 1963), p. 308.
8
Para discussões complementares ver: Anthony C. Thiselton, “Hermeneutics and Theology: The legitimacy
and necessity of Hermeneutics”, in The two Horizons: New Testament Hermeneutics and Philosophical
Description (Grand Rapids: Eerdmans, 1980), p. 85-114; Roger Lundin, AnthonyC. Thiselton, e Clarence
Walhout, The Responsibility of Hermeneutics (Grand Rapids: Eerdemans, 1985).
9
James Barr: Old and New in Interpretation (Antigo e Novo na interpretação), New York: Harper & Row, 1966,
p. 190.
10
Emil Brunner, The Christian Doctrine of Creation and Redemtion (A Doutrina Cristã de: Criação e Redenção)
vol. 2 de Dogmatics, Philadelphia: Westminster, 1952, p. 213.
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Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 9 de 62
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O mundo da erudição bíblica está em contraste com o tradicionalismo. A erudição


bíblica moderna tem apenas cerca de cem anos de idade, mas seu impacto sobre a
abordagem, profundidade e amplitude dos estudos é inegável. Um dos fascinantes resultados
da erudição do AT no último século foi a proliferação de artigos, monografias e comentários
integrando os resultados de estudos amplos do Antigo Oriente Próximo e o texto do AT. A
comparação de um comentário do início do século XIX de qualquer livro do AT com um
comentário do mesmo, datado da metade do século XX mostrará estas diferenças (impacto)
acima referido. Comentários do período do Cristianismo primitivo, a era Medieval e da
Reforma eram estabelecidos com sustentação de ensaios de Filosofia, Filologia, Religião
comparada, arqueologia e História. Unido à rejeição do passado, estava a incessante busca
por novidades.
A Comunidade erudita não pretendia necessariamente retirar a Bíblia da igreja. A
erudição crítica objetivava a reconstrução dos contextos originais nos quais os livros
bíblicos surgiram e assumiam que mais informações resultariam numa mensagem mais
clara. O resultado, entretanto, foi diverso, conforme Childs observa: “A simples aquisição de
mais conhecimento histórico e literário não resulta em maior habilidade para compreensão
do texto bíblico”11.
O estudo da Bíblia é diferente do estudo de qualquer texto literário ou religioso. Ele
pressupõe uma fé pessoal e uma chamada a um comprometimento total do ser. Sem
preocupação com a reivindicação autoritativa (canônica) da Bíblia e sob a luz das tradições
judeu-cristãs através dos séculos, o estudante da Bíblia pode e deve se da Bíblia com um
compromisso de fé.
Esta pressuposição tem duas implicações: Primeira: Ninguém pode desprezar
arbitrariamente o testemunho dos Pais, dos Reformadores, dos Puritanos ou de quaisquer
outros leitores retos e honestos do texto bíblico. leitor consciente do texto bíblico. Nós
somos parte de uma continuidade histórica. O conhecimento não começou conosco, nem
cessará conosco. Conforme Childs observa: “O termo `pré-crítico` é tanto ingênuo quanto
arrogante”12.
Segundo: estudantes cristãos do AT devem passar obrigatoriamente pela cruz de
Jesus Cristo nas suas abordagens ao AT de tal maneira que nunca percam suas identidades
como Cristãos. A chamada de Childs a um retorno à uma compreensão teológica do AT, tem
alertado a comunidade erudita. Em seu artigo “Interpretação na Fé”, ele mostrou que o erro
fundamental da erudição crítica foi era encontrar em sua pressuposição comum que o fim da
exegese era objetividade. Ao invés, ele argumentava por uma maneira razoável de um
retorno ao modelo da Reforma:

Os Reformadores liam o AT no propósito de ouvir a Palavra de Deus. Eles iniciavam com a


pressuposição da Fé Cristã que AT e NT testemunham de um único propósito de Deus para com o seu
povo...Eles liam as Escrituras com fé de que este testemunho era direcionado a todo aquele que tinha
feito semelhante coisa.

Childs, desta maneira, propõe um retorno a exegese segundo o contexto teológico.


Ele sustenta que se pode obter compreensão teológica somente se “entrarmos no ciclo
hermenêutico da exegese genuína”13.
O método de Childs provê um modo de proclamação da mensagem bíblica na igreja
moderna. A hermenêutica afirma que:

11
B. S. Childs, “On reading the Elijah narratives,” Interpretation 34 (1980) p. 128.
12
B. S. Childs, The Book of Exodus, OTL, x.
13
B.S. Childs, “Interpretation in Faith”, Interpretation 18 (1964), p. 437, 438. A teoria hermeneutica cada vez
mais reconhece o lugar do individual na interpretação.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 10 de 62
ISBN 0-8010-2081-6
1. O contexto do texto isolado é o AT como um todo, este todo do AT deve ser entendido à luz do
texto isolado;
2. O Antigo é interpretado à luz do Novo, e o Novo sob a luz do Antigo, em harmonia com o
“propósito divino único”;
3. O exegeta se move do AT e NT para a própria realidade teológica (e vice-versa); “O texto bíblico
não é um vestígio morto de uma era do passado, mas um veículo vivo para uma ação divina que
clama após seu leitor”14.

D. A relação entre os dois testamentos

A QUESTÃO DE COMO OS DOIS TESTAMENTOS SE RELACIONAM


ENTRE SI É DETERMINANTE E ESSENCIAL PARA A INTERPRETAÇÃO NA
FÉ15. Esta questão surgiu quando o NT tomou seu lugar ao lado do AT, como parte do
Cânon. Marcião, um teólogo do segundo século, baseado em pretextos filosóficos e
teológicos, argumentava contra a aceitação do AT na Igreja. Para ele o AT era judaico,
terreno, cheio da ira de Deus e não espiritual (natural). A posição de Marcião tem tido seus
advogados ao longo da história da igreja. A defesa do Marcionismo por Von Harnack,
representou a base ideológica do anti-semitismo que ultimamente conduziu ao holocausto.
Da mesma maneira Friedrich Delitzsch argumentava:

O AT está repleto de engodos de toda espécie: uma verdadeira confusão de erros, fantasias,
inseguranças, imagens duvidosas...em resumo, uma livro repleto de enganos intencionais e não
intencionais...um livro muito perigoso, cujo uso necessita de muito cuidado16.

Este problema foi examinado na Reforma. As diferentes abordagens do AT de


Calvino e Lutero se originam de diferentes concepções do relacionamento entre os dois
testamentos. Lutero abordava as Sagradas Escrituras com o padrão de julgamento do que
estava de acordo com Cristo, e assim submetia o AT a esta perspectiva. Segundo Lutero,
“Evangelho”, como definido no NT, se tornou um padrão para análise que determinava a
relevância do AT17. Lutero, por um lado, encontrava seções do AT que claramente
antecipavam a proclamação do evangelho cristão. Por outro lado, ele encontrava no AT,
partes legalistas e judaicas. Assim, Lutero considerava “Lei” em oposição ao “Evangelho”, e
concluía que muito do AT tinha pouca relevância: “Deixemos Moisés e seu povo juntos.
Eles são coisa do passado e nada têm com o meu ministério. Eu atendo a palavra que diz
respeito a mim. Nós temos o evangelho...E nada tenho com Moisés, ele não me diz
respeito”18.
A posição de Calvino com relação ao AT, a qual se reflete nas Confissões
Reformadas, nasceu da sua confrontação com Roma e com os Anabatistas. Roma usava o
AT para argumentar em favor da missa, da liturgia, do lugar e função das boas obras, do
sacerdócio e variadas leis, enquanto que todas as Confissões Reformadas argumentavam em
favor do aspecto da conclusão ou cumprimento introduzido pela vinda de Jesus Cristo. Nelas

14
Ibid, 444.
15
Ver W.VanGemeren, “IHCIP”, PT. 1; IDEM, “Perspectives on Continuity” in Continuity and Discontinuity:
Perspectives on the Relationship between the Old an New Testaments in Honor of S. Lewis Johnson, Jr., ed.
John S. Feinberg (Westchester: Crossway, 1988); W.C. Kaiser, Jr, Toward Rediscovering the Old Testament
(Grand Rapids: Zondervan, 1987), p. 35-46. Kaiser aborda o assunto das promessas do AT e conclui: “Havia
somente um povo de Deus e um único programa de Deus, ainda que haja vários aspectos para aquele povo
único e para o programa único referido” (TOTT, p. 269).
16
Friedrich Delitzsch, Die grosse Tauschung (Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstalt, 1920-21), 2:52, citato em
E.G. Kraeling, The Old Testament since the Reformation (O AT desde a Reforma) (New York: Harper & Row,
1955), p. 158. Para discussão ver A. C. Cochrane, The Church´s Confusion Under Hitler (A Conflito na Igreja sob
Hitler) (Philadelphia: Westminster, 1962).
17
David W. Lotz, “Sola Scriptura: Luther on Biblical Authority,” (Somente a Escritura: Lutero sobre autoridade
bíblica) Interpretation 35 (1981): 258-73.
18
Citado em Emil G. Kraeling, The Old Testament since the Reformation, p. 16 (O AT desde a Reforma).
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(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
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a igreja não era uma mera continuação de Israel com seus rituais cúlticos e exigências civis.
Mas a igreja é uma comunidade espiritual composta por todo o povo de Deus que professa a
fé em Jesus Cristo. O ensino bíblico enfatiza a novidade da nova era (uma melhor aliança), o
cumprimento e consumação na obra de Jesus; deste modo, era provido sólidas razões para se
rejeitar as reivindicações de Roma de continuidade entre AT e NT. Os Reformadores
corretamente as distintas diferenças entre as comunidades da Antiga Aliança e aquelas da
Nova Aliança. Cristãos eram encorajados a lançar fora a servidão de Roma e desfrutarem “a
liberdade do homem cristão”.
Os Anabatistas negavam completamente o AT e o consideravam inferior à revelação
do NT. Contra eles, Calvino manteve com limitações, uma tolerância relativa à relevância da
Lei do AT. Ele teve prestimosa consideração à função de Israel e do AT na sua exegese. Na
compreensão de Calvino, Deus fez uma aliança com Abraão e sua semente, tendo esta uma
natureza redentiva peculiar.O AT e NT são duas formas de uma única administração da
graça, a qual inclui todas as alianças específicas (descritas no AT)19. AS ALIANÇAS E
AMBOS OS TESTAMENTOS ESTÃO DE MANEIRA SIGNIFICATIVA,
ALICERÇADAS SOBRE UM FUNDAMENTO: CRISTO, O MEDIADOR DA
ALIANÇA (I Tm. 2.5. Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, homem), quem cumpre as promessas do AT ao mesmo tempo em que
assegura completo cumprimento na sua vinda gloriosa. Calvino sustentava tanto a imutável
natureza de Deus como a descrição do que a Escritura fornece de vários estágios redentivos
como sendo algo “complementar”. Desta maneira, Calvino percebia o equilíbrio entre o
aspecto estático (isto é, o aspecto eterno da Redenção) e o aspecto dinâmico (a dimensão
histórica da Redenção) na sua compreensão da Revelação.
A posição de Calvino, relativamente branda, tornou-se mais solidamente estabelecida
nas abordagens específicas de dois teólogos do século XVII: Cocceius e Voetius20. Os
discípulos de Cocceius enfatizavam o apego de Calvino pela teologia bíblica e exegética. Os
discípulos de Voetius enfatizavam a habilidade de Calvino na sistematização. Os pontos de
tensão de Calvino têm se tornado polarizados até os dias de hoje. Tais tensões podem ser
mais bem representadas igualmente por lei e evangelho, promessa e cumprimento, figura e
realidade.

d.1. Lei e Evangelho

Na Teologia de Calvino, a diferença entre os dois Testamentos repousa na distinção


entre lei e evangelho, a qual reflete no período histórico respectivo de cada um: a lei foi dada
no AT, e o evangelho no NT. Calvino entende por “Lei” muito mais do que os aspectos
legais e demandas dadas na lei de Deus – é a administração da Aliança no AT. O AT não é
meramente preparatório para a vinda de Cristo. É uma revelação da Redenção cuja
essência é a promessa do Messias, o centro da Aliança. O AT também é o período da Lei
como uma expressão do Pacto da Graça, estendida ao perdão, adoção e privilégios da
Aliança sobre a base da obra consumada de Cristo. Em outras palavras, “O Evangelho
aponta com o dedo o que a Lei prefigura através de tipos”21.
A Lei contrasta com o Evangelho no aspecto em que a primeira, na melhor das
hipóteses, constitui um guia para Cristo. A Lei, com suas exigências e código penal, prega a
condenação em oposição ao Evangelho que traz a liberdade pelo Espírito. A Lei prepara
para a vinda de Cristo, que é o objetivo da Lei. Desta maneira, a Lei, com Cristo como sua
essência, tem um lugar próprio na administração da Aliança da Graça. As exigências da Lei

19
Calvino: Institutes 2.9.11; Anthony Hoekema, “The Covenant of Grace in Calvin’s Teaching,” Calvin
Theological Journal 2 (1967): p. 133-61.
20
Ver: VanGemeren: “Perspectives on Continuity” (Perspectivas sobre Continuidade).
21
Calvin, Institutes 2.9.3.
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mudam na experiência da libertação, conforme cós crentes que voluntariamente obedecem a


seu Pai celestial.

d.2. Promessa e Cumprimento

Outra maneira de distinção entre os dois testamentos no pensamento de Calvino é a


de Promessa e Cumprimento. Em ambos os casos, salvação é o ponto de contato. Assim
sendo, a revelação do NT não é simplesmente “cumprimento” e o AT, também não é
simplesmente “Promessa”; os dois Testamentos são complementares. Os santos do AT já
tinham experimentado a salvação, à despeito de esperarem uma salvação plena por vir.
Calvino, de maneira moderada, nos relembra que em nossa era, nossa posição atual é similar
aos santos do AT na época deles:

Logo, ainda que no evangelho Cristo nos ofereça a atual plenitude de bênçãos espirituais, contudo a
concretização jaz sempre sob a custódia da esperança, até que, despojados da carne corruptível,
sejamos transfigurados na glória daquele que via à nossa frente22.

A natureza da Revelação bíblica como um todo é:


1. A proclamação e experiência da Redenção prometida no presente e
2. A antecipação de um grande cumprimento no futuro. Esta verdade é refletida na
imagem de “figura” no AT e “realidade” no NT. Esta última realidade,
entretanto, por sua vez, é apequenada pela promessa do grande cumprimento
reservado para os filhos de Deus em sua glorificação final.
d.3. Figura e realidade
Até este ponto, temos observado que a compreensão de Calvino não era de uma
distinção radical entre AT e NT; ao invés disto, são mostradas diferentes ênfases. Calvino
postulava a experiência de Israel como a infância da Igreja:

A mesma igreja havia entre eles, porém até ali na sua infância; por essa razão, o Senhor os manteve
sob esta tutela, de sorte que não lhes deu as promessas espirituais, e explícitas, mas prefiguradas em
certa medida, por promessas terrenas. Por essa razão, Quando o Senhor introduziu Abraão, Isaac ,
Jacó e seus descendentes à esperança da imortalidade, ele lhes prometeu a terra de Canaan como
uma herança. Esta promessa terrena não era para ser objeto final de suas esperanças, mas um
exercício e confirmação deles na contemplação em esperança, de suas verdadeiras heranças, uma
herança não ainda manifesta a eles23.

Há, pois, neste caso, uma natureza espiritual vinculada às bênçãos terrenas. O
crente do AT recebeu os benefícios de Deus como uma figura de sua shalom ou paz, com
Deus: “Então, ele adicionou a promessa da terra, somente como símbolo de sua
benevolência e como um tipo da herança celestial”. Esta exposição explica a linguagem
profética, com seus quadros e representações das bem-aventuranças terrenas no estágio de
complementação:

Ainda que os profetas representem com mais freqüência as bem-aventuranças da era porvir através
de tipos que eles recebiam do Senhor...Nós percebemos que todas estas coisas não podem se
aplicadas de modo apropriado à Terra da nossa peregrinação, ou a Jerusalém terrena, mas à
verdadeira pátria dos crentes, aquela cidade celestial na qual “O Senhor tem ordenado sua benção e
vida para todo sempre” (Sl. 133.3)24.

22
Calvino, Institutas, 2.9.3.
23
Calvino, Institutas 2.11.1.
24
Calvino, Institutas 2.11.2.
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E. O Centro Teológico das Escrituras

Haverá alguma unidade literária e histórica nas tradições de Israel e da Igreja? As


ênfases e temas da Bíblia estão de tal modo entrelaçadas mostrando uma variação
significativa de época para época e de livro para livro, especialmente do AT para o NT, que
é difícil perceber qualquer unidade. O amor de Deus pela diversidade é evidenciado na
Criação e na sua Revelação. Não obstante, nós achamos conveniente mostrar preferência por
harmonia, integração e direção tanto no mundo da natureza (ciência) quanto no estudo da
Palavra de Deus. Surge daí a indagação por um tema unificador ou centro.
A história da Teologia Bíblica fornece poucas possibilidades a estudantes que
venham a concordar com um centro único25.
1. Eichrodt26 postulou a Aliança como conceito unificador.
2. Sellin propôs a santidade de Deus como centro do AT.
3. Kolher propôs a soberania do Deus de Israel. Outros têm sugerido igualmente as
mais variadas possibilidades, tais como:
4. Reino de Deus.
5. O Povo de Yahweh
6. A relação de Yahweh com seu povo.
Von Rad27 rejeitou sumariamente quaisquer construções simplistas de Teologia do
AT em prol de uma variedade de ênfases que venham se expressar na história de Israel.
Definição e acordo em torno de um centro preocupam igualmente estudiosos
evangélicos28. O interesse de Kaiser com um centro surge de sua convicção que a Escritura
revela o Plano de Deus. Além desta sua preocupação, ele desenvolveu uma Teologia do AT
em torno do tema “promessa”:

A promessa divina aponta para uma semente, uma raça, uma família, um homem, uma terra, e uma
benção de proporções universais – tudo garantido, segundo Gn. 17, como sendo eterno. Neste
propósito reside o plano único de Deus. Também neste plano singular, repousa capacidade de
abraçar diversidade e variedade tal como o progresso da Revelação e da história podem produzir.
Nesta unidade de propósito e método desdobrou-se uma seqüência de eventos, os quais os escritores
descrevem, e numa serie de interpretações interconectadas, eles do mesmo modo e ousadamente,
anunciaram perspectivas normativas de Deus sobre aqueles eventos para aquelas gerações e para as
que haveriam de vir29.
Centros teológicos tais como promessa (Kaiser), Aliança (Robertson;
McCommiskey), e Reino (Van Ruler) têm a vantagem de servirem como princípios
organizadores a partir dos quais a revelação bíblica pode ser abordada. O reconhecimento de
um centro teológico destaca um aspecto do plano de Deus em relação aos outros. Deus é um

25
Para uma discussão relativo ao centro bíblico na Teologia Bíblica, consultar: Kaiser, TOTT, (Toward Old
Testament Theology, Sobre Teologia do AT), p. 20-32. Gerhard Hasel, Old Testament Theology (Teologia do
AT) (Grand Rapids: Eerdmans, 1972), p. 123-30. Sobre o problema da Teologia Bíblica, ver: Brevard S. Childs,
Bíblical Theology in Crisis (Philadelphia: Westminster, 1970). Para uma reavaliação e contribuição, ver idem,
Old Testament Theology in a Canonical Context (Teologia do AT num contexto canônico) (Philadelphia:
Fortress, 1986), p. 1-17.
26
Eichrodt pertence à Escola Crítica (Alta Crítica, séc. XVIII), a qual adota pressupostos de certa maneira, que
estão em conflito com os pressupostos da Escola Histórico – Redentiva. fica o alerta ao leitor: Não significa
que todos os autores citados nesta obra estejam em harmonia com a Abordagem Histórico – Redentora,
portanto, é necessário que o leitor permaneça atento às referencias, teólogos citados, etc feitas nesta obra,
no sentido de não aderir a idéias que não façam jus às Escrituras.
27
Observação do Tradutor: Observe-se que Von Rad pertence à Escola Crítica. Portanto, o leitor desta obra
deve estar atento a referências às suas obras, caso estas estejam em conflito com a Escola de Abordagem
Histórico – Redentiva.
28
Bruce C. Birch, “Biblical Hermeneutics in Recent Discussion: Old Testament,” (Hermeneuticas bíblicas em
debates recentes: AT) Religious Studies Review 10 (1984): p. 1-7.
29
Kaiser, TOTT (Toward Old Testament Theology), p. 39; ver também p. 32-40.
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Deus de ordem. Ele tem um propósito para todas as coisas. Além desta convicção, eu
proponho focalizar sobre Jesus como o centro. Jesus é a revelação da salvação de Deus.
A história da Redenção mostra progressão (ao longo da história) no trabalho do
Plano de Deus de Redenção que se mostrará completamente desenvolvido na restauração de
todas as coisas. Todas as bênçãos, promessas, alianças e expressões do Reino são reflexos
ou sombras da grande salvação em Cristo Jesus que virá no fim dos tempos. Em outras
palavras, o AT e NT, juntos, testemunham da grande salvação como restauração. Santos do
AT e Cristãos compartilham a experiência comum de recebimento da graça de Deus em
Cristo Jesus. O desfrutar da experiência da salvação aumenta tal qual a revelação de Deus
ilumina a natureza do Messias e a era messiânica.
Os intérpretes cristãos do AT não podem limitar seus focos a um único dos muitos
temas referidos30; também não podem isolar o AT do NT. Nas suas abordagens do AT, eles
devem ter em mente que eles mesmos permanecem numa tradição que regride ao ponto
médio da história da Redenção, especificamente, a Encarnação, Morte e Ressurreição de
Cristo, o Messias:

A Igreja Cristã confessa encontrar testemunho acerca de Jesus Cristo tanto no AT como no NT...A
constituição da Bíblia cristã...reivindica toda Escritura como testemunho autoritativo do propósito de
Deus em Jesus Cristo para Igreja e para o mundo...O AT é interpretado pelo NT e o NT é entendido
através do AT, mas a unidade de seu testemunho é alicerçada num único Senhor31.

O anelo pela essência das Escrituras tem aumentado rapidamente desde a vinda de
Jesus. Os autores do NT mostram profundo interesse e ardor em suas pregações e escritos
sobre a nova era que foi introduzida desde a ressurreição de Jesus. Ver Pedro como
exemplo: At. 2.22-24; 4.11-12; 10.42-43; I Pe. 1.12; ou Estevão em At. 7.52; ou Paulo em
At. 13.32-33; 17.30-31; 26.22-24; 28.28; II Co. 1.19-20; Fp. 1.18. O CENTRO DA BÍBLIA
É A ENCARNAÇÃO E GLORIFICAÇÃO DE CRISTO, POR QUEM TODAS AS
COISAS SERÃO RENOVADAS. TODOS OS ATOS DE DEUS, TODA REVELAÇÃO
DE SUAS PROMESSAS E ALIANÇAS, TODA PROGRESSIDADE DO SEU REINO
E TODOS OS BENEFÍCIOS DA SALVAÇÃO ESTÃO EM CRISTO32.
Todos os atos e bênçãos de Deus em qualquer era estão, deste modo, alicerçados na
morte de Cristo em antecipação à nova era. Não sabemos a exata natureza daquela era,
porque os profetas e apóstolos falam em metáforas e parábolas. Nós sabemos que a Era da
salvação estabelecerá completa liberdade a partir da morte, tribulação e julgamento que
caracteriza o mundo presente. Desde então o mundo é estranho para os crentes antes e
depois da primeira vinda de Cristo (e isto é glorioso); portanto, todos os crentes
compartilham em comum esperança e fé (Hb. 11). Pela esperança no mundo de justiça
porvir (Gl. 5.5; II Pe. 3.13), a fé se concentra em Cristo, o Rei da Glória, em que sombra,
figura e promessa se tornarão claros, realidade e cumprimento. Num amplo panorama da
existência de todos os santos de Deus, desde Adão até o presente, seria presunção para nós
reduzir os atos graciosos de Deus, suas revelações, alianças e promessas a “meras sombras”.
Nós, também, estamos vivendo ainda na sombra da grande era porvir.
F. A interpretação da Bíblia

Exegese é a arte e ciência bíblica da interpretação segundo as regras da


hermenêutica. Hermenêutica se refere à maneira pela qual ouvimos o texto, o relacionamos
com outros textos, e o aplicamos. Hermenêutica requer uma disciplina de mente e coração,
pelas qual o estudante da Escritura pode pacientemente estudar o texto bíblico em seus

30
Ver P. D. Hanson, The Divesity of Scripture (A Diversidade da Escritura) (Philadelphia: Fortress, 1982).
31
Brevard S. Childs: IOTS, 671; comparer com Fritz Stolz: Interpreting the Old Testament (London: SCM, 1975),
p. 140-43.
32
Veja: Kaiser: Toward Rediscovering, (Rumo à Redescoberta) p. 101-20.
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vários contextos, incluindo o histórico, gramatical, literário e cultural. Esta abordagem é


mais bem conhecida como análise histórica – gramatical33.
A referida análise, entretanto, não pode ser separada da interpretação “na fé”. A
Bíblia requer contínua submissão do nosso intelecto aquilo que o Espírito de Deus inspirou
(o texto das Sagradas Escrituras), I Co. 2.12-15 e requer também uma transformação
pessoal, aplicação e alteração de nossas pressuposições. Cada intérprete do texto bíblico
aborda o significado do texto bíblico no sentido teológico, e existencial ou psicológico como
um fenômeno literário34. O entendimento anterior, entretanto, deve permanecer
continuamente sob o poder transformador do Espírito de Deus, testemunhando através da
Palavra de Deus. A interpretação da Bíblia exige submissão do espírito da intérprete ao
Espírito Santo, um andar com Deus, um estudo diligente da Palavra e uma sinceridade e
clareza de critério e compreensão dos outros crentes. Deus fala e nós devemos ouvir.

f.1. A arte de estudo da Bíblia


O estudo da Bíblia em muitos aspectos se assemelha ao estudo de um trabalho de
Arte – uma obra prima literária, ou mais adequadamente, uma coleção de obras primas de
literatura. A Arte pode ser inspiradora, mas a Bíblia é inspirada. A Arte pode elevar
intelectualmente, mas a Bíblia pode transformar. Seu poder para transformar não é
independente de disciplina e estudo diligente. Conseqüentemente, o estudo da Bíblia requer
mais, e não menos, do que o estudo de qualquer peça de Arte. Poderíamos afirmar que a
Arte captura o espírito do artista, mas a Bíblia é o trabalho do Espírito Santo. OS
ESTUDANTES DA BÍBLIA DEVEM SE CERCAR COM LIVROS BÍBLICOS DE
REFERÊNCIA E ESTUDAR DILIGENTEMENTE A HISTÓRIA DA REDENÇÃO E
A TEOLOGIA BÍBLICA. Eles podem e devem dominar com maestria a história do Antigo
Oriente Próximo, as linguagens e literaturas semíticas, Porém, se eles não têm o Espírito de
Deus, a Bíblia (para eles35) passa a ser uma mera coleção de livros que podem ou não ser
inspirados. O Espírito Santo é o autor das Escrituras e ensina as profundezas de Deus
àqueles que o buscam (I Co. 2.10-16; II Pe. 1.21). QUANDO O ESTUDANTE DA
BÍBLIA ABORDA AS ESCRITURAS COM UM CORAÇÃO ABERTO AO
ESPÍRITO SANTO, ESTE MESMO ESPÍRITO SANTO TESTEMUNHA DA
AUTORIDADE DA PALAVRA, ILUMINA E TRANSFORMA A SUA VIDA, E LHE
CONCEDE DE MODO CRESCENTE UM APROFUNDAMENTO NA
COMPREENSÃO DAS RELAÇÕES ENTRE OS LIVROS BÍBLICOS, BEM COMO
DESENVOLVIMENTOS TEMÁTICOS E HISTÓRICOS.
A presença do Espírito, entretanto, não é desculpa para qualquer negligencia no
estudo diligente da Bíblia. Freqüentemente, o estudante da Bíblia abre a Palavra de Deus
somente no propósito de encontrar a resposta para um problema imediato. Contexto e
relacionamentos são desprezados. Muitos estudantes da Palavra são semelhantes a pessoas
que conhecem pouco acerca da Arte e que se conduzem através de um museu, reagindo
somente com seus afeições e aversões. AINDA COMPARATIVAMENTE AO ESTUDO
DA ARTE, NO ESTUDO DA BÍBLIA O ESTUDANTE DEVE SE APROFUNDAR NA
ESTRUTURA DO PENSAMENTO BÍBLICO. Uma vez que o estudante possa perceber a
essência dos livros pela compreensão do seu pano de fundo cultural, histórico e literário,
bem como entender como uma porção das Escrituras se relaciona com outras partes da

33
Consultar E. D. Hirsch, Jr., The Aims of Interpretation (O objetivo da interpretação) (Chicago: Imprensa da
Universidade de Chicago, 1976); L. Berkhof, Principles of Biblical Interpretation (Grand Rapids: Baker, 1950);
G. B. Caird, The Language and Imagery of the Bible (Philadelphia: Westminster, 1980). Para um avaliação do
uso e limitações deste método, ver a contribuição de vários pontos positivos em Donald K. McKIm, Ed., A
Guide to Contemporary Hermeneutics: Major Trends in Bíblical Interpretation (Gran Rapids: Eerdmans, 1986).
34
Bernard Ramm, “Who can Best interpret the Bible?” (Quem pode melhor interpreter a Bíblia?) Eternity,
Novembro, 1979, vol. 30, PP. 25,28, 43.
35
Acréscimo do Tradutor Almir Macário Barros.
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mesma, ele poderá melhor compreender e apreciar o livro. Se no estudo das Artes e da
Ciência, a compreensão das relações estruturais tem grande importância, de muito maior
importância será para o estudante da Bíblia aprender a apreciar a Estrutura do pensamento e
expressão bíblicos. Doutra forma, o leitor ocidental da Bíblia pode chegar a conclusões
significativamente diferentes daqueles leitores do Terceiro Mundo. Assim, considerando que
a Bíblia é estudada em diferentes culturas e subculturas, devemos trazer harmonia aos
nossos estudos da Bíblia com pesquisas por aquelas estruturas do pensamento bíblico que
estão inerentes na própria Escritura. De acordo com Torrance:

Há estruturas do pensamento e discursos bíblicos encontrados no AT, os quais têm valor


permanente, tanto para o NT como para a Igreja Cristã. Isto explica porque a Igreja não é edificada
somente sobre o fundamento dos Apóstolos, mas também dos Profetas; além disso, a fim de que, as
Escrituras do AT estejam agora reunidas conjuntamente com o NT (no Cânon). Assim é, pois, para
munir a revelação do NT com as estruturas básicas, as quais são usadas em articulação com o
Evangelho; e uma vez que tais estruturas derivadas de Israel tenham sido tomadas e transformadas
em Cristo36.

f.2. Análise e Síntese: Uma abordagem trifocal ao Texto Bíblico

Para caminharmos em direção ao fechamento da estrutura do pensamento bíblico,


devemos aprender a estudar pacientemente as interrelações (relações mútuas) entre AT e
NT, bem como cada livro da Bíblia, autores, povo, terra, história e geografia. Através do
estudo dos vários componentes do texto (análise) e suas relações mútuas (síntese) as
estruturas do pensamento bíblico se exprimem a nós atualmente de maneira vigorosa ( ver
figura 1 – “Interpretação integral”, no início da Parte I, no parágrafo 1.1. “Uma Perspectiva
Teocêntrica sobre a Criação”).
A Análise é aquela parte da interpretação do texto, em que o estudante se preocupa
com o significado (palavras, frases, gramática, e sintaxe), relações (versos e parágrafos), e a
questão da crítica textual (relativa a Manuscritologia37). Complementarmente à análise de
palavras, frases e versos, o analista também examina o uso do texto em passagens paralelas
ou em citações em outras partes do AT ou NT. Como parte de uma cuidadosa análise, o
estudante da Escritura deve estudar o pano de fundo cultural, sócio-econômico, geográfico e
histórico do texto.
Equipado como enciclopédias e dicionários referentes ao material do referido pano
de fundo e com a semântica lingüística, e informação textual, o estudante da Bíblia é deve
ter um mínimo de conhecimento das partes constituintes do texto. O problema com o
método histórico – gramatical, entretanto, é que estudantes da Palavra podem ser tentados a
pensar que eles têm o controle sobre o texto quando tiverem concluído tais tarefas (examinar
as partes constituintes do texto). Porém, qual realmente será a compreensão que eles têm da
mensagem do texto? Somente depois de ver como as partes se encaixam umas às outras e
como eles mesmos percebem o relacionamento com o resto do livro em questão e com todo
o resto da Escritura, o estudante poderá se apropriar da explicação da mensagem do texto.
Por essa razão, a Teologia Exegética exige uma síntese.
Síntese é a parte da interpretação do texto que considera seus significado e sentido
dentro do contexto do livro e da Escritura como um todo (AT e NT38). O processo de síntese
é o ingrediente mais importante na verdadeira compreensão do texto bíblico. Exegetas,
entretanto, depois do devido reconhecimento da subjetividade envolvida em busca dos
componentes do texto, conjuntamente com um modelo holístico, freqüentemente se
satisfazem em ser meros observadores do texto. O texto está lá, entretanto, não somente para
ser analisado, mas também para ter um impacto no homem e mulher modernos. A conexão

36
Thomas F. Torrance, The Mediation of Christ (Grand Rapids: Eerdmans, 1984) p. 27.
37
Acréscimo do tradutor.
38
Acréscimo do tradutor.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 17 de 62
ISBN 0-8010-2081-6

entre o texto do AT como um evento historicamente condicionado, e o cristão do século XX


é complicada por eventos subseqüentes na História Redentiva, especialmente a vinda de
Jesus Cristo. Existem ainda complicações adicionais que provêm das várias pressuposições
teológicas que nós trazemos para o texto e que formam uma estrutura interpretativa.
Devemos, portanto, fazer esforço para ouvir o texto de uma maneira honesta e metodológica.
Devemos, também, resistir à tentação de desprezar o significado pretendido pelo autor com
o fim de usarmos a passagem como texto-prova. Finalmente, devemos evitar uma leitura
exagerado do NT no AT, quer seja para aplicação do texto no sentido cristológico,
tipológico ou existencial.
Os três aspectos da exegese sintética fornecem uma ligação entre um texto e o
corpo de escritos que o cercam. Todos os elementos trifocais se revestem da importância e
valor do próprio método histórico – gramatical e apontam para o fato de que a revelação
bíblica, enquanto divinamente inspirada, é também historicamente condicionada. A Bíblia
não é um oráculo de Deus, mas a Palavra de Deus mediada no tempo e comunicada em
linguagem humana. A Palavra de Deus é infalível em tudo aquilo que afirma, porém nós
somos limitados em nossa percepção. Por conseguinte, o estudo da Bíblia objetiva refletir os
pensamentos de Deus conforme a constituição de sua boa vontade para determinar
1. O estilo literário (isto é, o estilo humano de comunicação escrita).
2. O Contexto Canônico (isto é, a função do estilo literário dentro da comunidade
que recebeu a Palavra de Deus registrada como tal).
3. A progressividade da História Redentiva (isto é, o fluir metódica e
ordenadamente dos atos e da revelação de Deus na história).
f.3. Estilo Literário

Cada livro da Bíblia tem um propósito, e todo texto deve ser lido à luz do propósito
do livro respectivo a que pertence o texto. No propósito de descobrir como o texto em
consideração contribui para o argumento do livro como um todo, o texto anterior deve ser
lido como uma expressão literária separada dentro do livro em questão. Há um estilo
literário ou gênero, que requer especial atenção, uma vez que o tal estilo está sempre
relacionado com o conteúdo. O leitor deve comparar aquela passagem com outras que têm
um estilo literário similar. Ao permitir que passagens do mesmo gênero interpretem o texto
em questão, o leitor permite que Escritura interprete Escritura39.
f.4. Função Canônica

A percepção quanto à função canônica inicia com o simples reconhecimento que a


Bíblia como nós a temos agora foi desenvolvida durante um longo período de tempo. O
“Cânon” antigamente era de um conceito dinâmico visto que as várias partes vieram a ser
reunidas juntas sob a inspiração e providencia do Espírito Santo.
Primeiro, é necessário estar atento às relações canônicas. Em outras palavras,
devem-se considerar cada livro dentro do seu respectivo lugar e função no Cânon, quer seja
Pentateuco (Torah), Profetas ou Escritos). A seguir a Cânon Hebraico e seus livros40:
1. Pentateuco (a Torah com Genesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio).
2. Profetas com: Profetas Anteriores: Josué a II Reis; e

39
Ver John Barton, Reading the Old Testament: Method in Biblical Study (Lendo o AT: Método no Estudo
Bíblico) (Philadelphia: Westminster, 1984); Peter W. Macky, “The Coming Revolution: The New Literary
Approach to New Testament Interpretation,” (A Revolução porvir: A Nova abordagem literária à
Interpretação do NT) Theological Educator 9 (1979); p. 32-46; Robert Alter, The Art of Biblical Narrative (New
York: Basic, 1981); idem, The Art of Biblical Poetry (New York: Basic, 1985). Tremper Longman III, Literary
Approaches to Biblical Interpretation (Grand Rapids: Zondervan, 1987).
40
Estes detalhes são acréscimo do tradutor Almir Macário Barros, para melhor compreensão do leitor. O
Cânon apresentado é segundo a ordem e classificação hebraica.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 18 de 62
ISBN 0-8010-2081-6

Profetas Posteriores: Os profetas maiores: de Isaías a Ezequiel


e os doze profetas menores.
3. Escritos: Salmos, Jó, Provérbios, os Cinco Rolos: Ruth, Cantares, Eclesiastes,
Lamentaçoes e Ester; Daniel, Esdras-Neemias (considerado um só livro pelos
judeus), e Crônicas (1 e 2).
4. Evangelhos: Mt, Mc, Lc, Jo.
5. Atos dos Apóstolos.
6. Epistolas
7. Apocalipse.
A sensibilidade às relações canônicas também inclui o tempo no qual o povo de
Deus recebeu aquele escrito específico. Pela relação de um texto com o livro inteiro, pode-se
chegar à compreensão sintética completa da mensagem como um todo.
Segundo: a percepção da função canônica do texto valoriza o contexto histórico no
quão o povo de Deus recebeu originalmente o livro específico. As necessidades do seu povo
variavam de época para; podemos, pois, olhar para o Cânon bíblico como uma coleção de
cânons constituídos por livros individuais dados a um povo específico que recebeu cada um
deles como Palavra de Deus. Brevard S. Childs fez um inestimável contribuição por colocar
em destaque a sensibilidade erudita para a importância da função canônica de cada livro. De
acordo com Childs, “falar de função canônica é olhar o livro à partir da perspectiva de uma
comunidade cujas necessidades religiosas e confissões teológicas estão sendo dirigidas pela
palavra divina”. O intérprete da Bíblia deve perceber com rigor aqueles sinais dentro do
livro bíblico que revelam a função do próprio livro dentro da comunidade de fé. “é nossa
tese...que a diversidade de função tem sido cuidadosamente estruturada dentro do livro no
propósito de estabelecer diretrizes para sua função autoritativa no seio da comunidade da
fé”41.
f.5. Relevância Histórico - Redentiva

A Revelação Bíblica interpreta as atividades de Deus na história humana e revela a


resposta graciosa de Deus às necessidades dos seres humanos. A História do envolvimento
do Próprio Deus através de seus Atos Redentivos e de Revelação, forma a essência do assim
chamado História Redentiva ou História da Redenção. A abordagem histórico – redentiva
assume ou pressupõe que a Bíblia foi primariamente dada não para comunicar histórias ou
lições de moral, mas para registro da fidelidade de Deus às Nações, aos Patriarcas, a Israel e
à Igreja de Jesus Cristo. Através de um estudo da História Redentiva, o propósito de Deus
em Cristo se torna mais evidente. Este método provê uma estrutura para conectar as partes
da Escritura em um todo coerente, mas ela também exibe os muitos temas como um
mosaico. A variedade e harmonia da Escritura são sustentadas em tensão pela pressuposição
de que agora nós conhecemos em parte e pela confiança de que Deus conhece a consumação
desde o início de todas as coisas.

41
Childs, IOTS, 533.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 19 de 62
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A Abordagem Histórico – Redentiva dedica especial atenção:


1. AO TEXTO,
2. AO PERÍODO HISTÓRICO – REDENTIVO42 ESPECÍFICO, E
3. À RELAÇÃO DO REFERIDO PERÍODO COM A VINDA DE JESUS
COMO SALVADOR E RESTAURADOR DOS CÉUS E DA TERRA. Aqueles que
adotam a Abordagem Histórico – Redentiva na sua Exegese, reconhecem que eles mesmos

42
Observação do tradutor: Para melhor compreensão do leitor, a seguir um resumo dos Períodos históricos –
redentivos: resumem-se em 3 períodos: I. CONSELHO ETERNO DO DEUS TRIÚNO (CEDT) E ALIANÇA DA
REDENÇÃO (AR); II. ALIANÇA DAS OBRAS (AO), Gn.1-2; e III. ALIANÇA DA GRAÇA (AG). Gn.3-Ap. Estes estão
distribuídos e subdivididos da seguinte maneira: I. CEDT: Reunião das Pessoas da Trindade (Pai, Filho, E.
Santo, “planejando e decretando”-Doutrina do Eterno Decreto- todas as coisas sobre: 1. Criação; 2.
Providência e Redenção); a seguir, no contexto do CEDT acontece a ALIANÇA DA REDENÇÃO: Realizado
“antes dos tempos eternos” entre Deus O Pai e Deus O Filho (Lc.22.29 –confiou - no grego - pactuou; Ef.1.4,5;
II Ts.2.13; II Tm.1.9; Tt.1.2) - (ler 2 primeiros capítulos de “As duas Naturezas do Redentor, Heber Campos”);
obs: ninguém pode entrar nos “arcanos” do Conselho de Deus; assim, tomando o ensino das Escrituras, o
segmento reformado usa como “recurso didático” a exposição deste primeiro período acima descrito: (Mt.
10.28-30. Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer
perecer no inferno tanto a alma como o corpo. 29. Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles
cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai; 30. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça
estão contados; Am.3.7. Sucederá algum mal à cidade sem que o Senhor o tenha feito? Certamente, o Senhor
Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas. Rugiu o leão,
quem não temerá? Falou o Senhor Deus, quem não profetizará? Jr. 23.18. Porque quem esteve no Conselho
do Senhor, e viu, e ouviu a sua palavra? Quem esteve atento à sua palavra e a ela atendeu? Is. 45.6-7,
12,18,23. Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao poente, que além de mim não há outro; eu sou o
Senhor, e não há outro. 7. Eu formo a luz e Ciro as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas
estas coisas; 12. Eu fiz a terra e criei nela o homem; as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus
exércitos dei as minhas ordens. 18. Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra,
que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há
outro; 23. Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que é justo, e a minha palavra não tornará
atrás. Diante de mim se dobrará todo joelho e jurará toda língua...); II. ALIANÇA DAS OBRAS, entre Deus e o
Primeiro Adão, Gn. 1-2: o Primeiro Adão desobedece a Aliança e traz morte, culpa e pecado à totalidade da
humanidade; III. : ALIANÇA DA GRAÇA (AG) (Período Pós-Queda) entre Deus e o pecador eleito em Cristo
tendo Jesus Cristo homem (O Último Adão, I Co.15.45-49) como Mediador (I Tm. 2.5). Esta AG funciona desde
Gn. 3.15 a Ap. funcionando por toda eternidade. Deus ministra a AG sob dois regimes consecutivos. 1. O
regime da Antiga Dispensação ou Antiga Aliança, período histórico em que são revelados as Escrituras
Hebraicas através dos profetas, conhecidas por nós como Antigo Testamento, AT. e 2. O regime da Nova
Dispensação ou Nova Aliança em que é revelado o Novo Testameto, NT. Vejamos os sub-períodos da AG:
Aliança da Graça (AG) na Antiga Dispensação (Pós-Queda): 3.1.1. 1ª administração da AG: Inauguração da
AG com a introdução da promessa messiânica na história humana em Gn. 3.15, conhecida como Proto-
Evangelho; 3.1.2. 2ª administração da AG: Aliança Noáica, Gn.6-9; 3.1.3. 3ª Administração da AG: Aliança
Abraâmica, Gn.15; 3.1.4. 4ª Administração da AG: Aliança Mosaica: Êx. 24.1-11; 3.1.5. 5ª Administração da
AG: Aliança Davídica, II Sm.7 (encerra-se as ministrações da AG sob regime da Antiga Dispensação ou Antiga
Aliança. Não devemos, porém, esquecer que a Antiga Dispensação só vai findar quando da Ressurreição de
Jesus. com a vinda de Cristo se inicia o período em que a AG é administrada sob a Nova Dispensação ou Nova
Aliança no sangue de Cristo: este segundo período da AG se divide em: 3.2.1. Era Messiânica: Ministério
Terreno de Jesus: Ministração da AG sob o regime da Nova Dispensação: Nova Aliança no sangue de Cristo
com a concretização (de uma vez por todas, de forma irrepetível, sem nenhuma participação do homem
pecador) da Promessa Messiânica pelo Deus e Homem, Jesus, O Cristo, de: Encarnação, Expiação e
Ressurreição (Redenção Objetiva). Mt. 26.26. 3.2.2. Era Apostólica: Ministério de Jesus através do E. Santo,
ou Ministério Terreno do E. Santo com a Inclusão dos gentios na AG no regime da Nova Aliança e
encerramento do período de Revelação com fechamento do Cânon, AT e NT; 3.2.3. Era da Igreja (Pós-
Apostólica): História da Igreja, Iluminação do E. Santo (construção de Doutrinas, Credos, Confissões). 3.2.4.
Segunda Vinda: Vinda gloriosa de Cristo: Consumação da Redenção dos santos; Juízo Final, Restauração de
todas as coisas; 3.2.5. Estado Eterno: Novo Céus e Nova Terra; Nova Jerusalém; Emanuel: Deus habitando
conosco.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 20 de 62
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não têm obtido uma compreensão total das Escrituras (AT e NT), mas eles se esforçam em
busca da mesma como uma comunidade de exegetas em direção à meta final43.
Portanto, a indagação do intérprete deve ser:
1. Qual a relação do texto sagrado em análise com
a. Avinda de Jesus e
b. Com a nossa esperança na Restauração de todas as coisas na sua
Segunda Vinda.
A Abordagem histórico-redentiva demonstra respeito e consideração com os meios
de comunicação e civilização humanas através de seus cuidados no tratar com o texto dado
no seu contexto original de história, cultura, literatura e comunidade de fé. Tal mensagem
resultante é considerada como cristológica no sentido em que toda a Bíblia (AT e NT) se
centraliza sobre Jesus, o Messias, que restaurará todas as coisas para o Deus Triúno, Pai,
Filho e Espírito Santo. Entretanto, enquanto esta restauração ainda não tiver acontecido, a
perspectiva histórico-redentiva contempla o processo à luz da revelação do final ou da
consumação da História da Redenção. A Progressão da Redenção não tem seu clímax44 na
Primeira Vinda de Jesus, mas antecipa a Vinda de Cristo em Glória, quando ele inaugurará a
Era da Consumação no Novo Céus e Nova Terra. Por essa razão, a interpretação é tanto
Cristológica como Escatológica. Se tal interpretação tem seus limites ou referencial no
cumprimento com a Primeira Vinda de Jesus, ela tende a contrastar o AT com o NT. Se,

43
Sidney Greidanus, Sola Scriptura: Problems and Principles in Preaching Historical Texts (Sola Scriptura:
Problemas e Princípios na Pregação de Textos Históricos) (Kampen: Kok, 1970); Theodore Platininga, Reading
the Bíble as History (Lendo a Bíblia como História) (Burlington, Ont.: Welch, 1980).
44
Obs. Do tradutor Almir Macario Barros: O autor VanGemeren praticamente apresenta uma proposta de
não considerar o clímax da história da Redenção como estando na Primeira Vinda de Cristo. Vejamos que
nesta Primeira Vinda, Jesus homem realizou a Principal Promessa do Pai, ou seja, a Promessa Capital
(Promessa Messiânica) que permeia todo o AT, sendo esta resumida em: 1. Encarnação Sobrenatural, 2.
Expiação Vicária e 3. Ressurreição dentre os mortos seguida de Exaltação e Glorificação à direita do Pai, de
onde ele, Jesus Cristo (verdadeiro Deus e verdadeiro Homem) Governa todas as coisas e voltará em Glória
para buscar a sua Igreja, restaurar todas as coisas, e julgar o mundo. Esta tarefa realizada por Cristo na sua
Primeira Vinda constitui o que conhecemos como Redenção Objetiva (RO) que é a Redenção realizada pelo
Filho, em favor do pecador eleito em Cristo, tendo acontecido a dois mil anos atrás, de uma vez por todas,
de maneira irrepetível, sem absolutamente nenhuma participação do homem pecador e nela Cristo
conquistou todos, absolutamente todos os méritos, galardões, bênçãos, etc a serem aplicados ao pecador
arrependido (o eleito em Cristo) durante o tempo de sua existência terrena pelo Espírito Santo. Jesus, pois,
estava ali na Cruz do Calvário, absolutamente sozinho representando o Remanescente de Israel com os
santos do AT, Hb.11, e os santos do NT; até o Pai, por um breve momento, abandonou o Jesus Homem (Mt.
27.46. meu Deus, meu Deus, porque me desamparaste?). Houve, portanto, um momento em que o povo de
Deus como um todo (AT e NT) estava representado por um homem, e apenas um só homem: Jesus Cristo (O
Último Adão, I Co. 15.45-49, em contraste com o Primeiro Adão, que só trouxe morte, culpa e pecado, I Co.
15.21,22,45) (I Tm. 2.5. Porquanto, há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus
Homem). O começo do final dos tempos estava se iniciando com a Ressurreição de Cristo e o Pentecostes (At.
2) (At.2.17. e acontecerá nos últimos dias que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne...). Daí em
diante, o Espírito Santo, como “o Outro Consolador” (Jo. 14.16) aplica aos pecadores arrependidos os méritos
conquistados por Jesus na Cruz, durante o tempo de existência terrena do pecador. Tal aplicação destes
méritos é conhecida como Redenção Subjetiva. Entre os méritos conquistados por Jesus na cruz, em favor do
pecador estão aqueles conhecidos como ORDO SALUTIS (Regeneração, Arrependimento, Fé, Santificação,
etc...). Observe que a Redenção Objetiva foi decisiva, pois nela ficaram determinadas e garantidas todas as
coisas que haveriam de vir. Considerando estes elementos, o tradutor Almir Macário Barros não concorda
com a proposta de VanGemeren de não colocar a Primeira Vinda como o centro da História da Redenção.
Juntamente com O. Robertson Palmer (Cristo dos Pactos), Gerard Van Groningen (Criação e Consumação, v.
1,2,3 e Revelação Messiânica do AT), Geerhard Vos (Bíblical Theology), e outros teólogos histórico-
redentores, este tradutor considera, pois, o centro da história da Redenção como sendo Cristo Jesus no seu
ministério terreno quando concretizou a Redenção Objetiva (Encarnação, Expiação e Ressurreição). Ao
contrário do que sugere VanGemeren, para estudos escatológicos não é necessário mudar o foco da
centralidade da Primeira Vinda de Cristo, pois ela é o referencial que permeia todo o NT, a Primeira Vinda
determinante para a Segunda.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 21 de 62
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entretanto, ela focalizar na Restauração de todas as coisas como o objetivo da História da


Redenção, então AT e NT são trazidos juntos um do outro como testemunhas da esperança
que este Jesus tem estabelecido de fazer todas as coisas sujeitas ao Deus, O Pai (At. 2.34-36;
I Co. 15.25; Hb. 1.13; 2.8; 10.13; Ap. 2.27; 12.5; 19.15).
Com esta preocupação em mente, eu descrevo neste livro doze períodos da História
da Redenção. Cada período é distinto e se relaciona organicamente com o anterior e épocas
que a sucedem. Cada período revela elementos de continuidade e descontinuidade e
contribui para uma valorização e reflexão sobre o Plano de Deus como um todo (Veja
Tabela 1: Doze Períodos da História da Redenção).
Os doze períodos servem como divisores convenientes ao longo do desenrolar da
História da Redenção. Ao invés de olhar para os atos de Deus de uma maneira genérica, o
leitor da Bíblia pode descobrir certos marcos – pontos relevantes ou divisores de água – na
progressão da Salvação de Deus. O número doze é arbitrário, mas a preocupação pela
continuidade e descontinuidade é relevante para a compreensão de como ler a Bíblia e como
relacionar um texto em particular a todos o movimentos dos atos de Deus. É relativamente
fácil focalizar em apenas um tema ou centro, tais como Aliança ou Pacto, Promessa, mas os
doze períodos juntos provêem muitas avenidas de relacionamentos, todos convergindo para
Jesus.
Da Criação à Nova Criação, o Senhor está realizando o seu propósito de criar uma
humanidade renovada para desfrutar de sua Criação Restaurada. A integração Redenção com
Criação revela uma preocupação superior de Deus como Criador – Redentor – Rei. Cada
estágio da história da Redenção revela os atos graciosos de Deus à despeito do desinteresse,
desobediência e rebelião humanas. O Conselho do Grande Rei permanece, e seu amor não
pode ser frustrado pelo homem. O conflito entre o Reino de Deus e o reino do homem tem
subsistido por milhares de anos, o resultado final já está assegurado. A paciência e amor de
Deus é evidente no seu cuidado e bênçãos com toda a sua Criação. Entretanto, o amor de
Deus é equilibrado com a sua ira. O Deus que redime também vinga e faz justiça. Ao longo
da História da Redenção o Senhor intervém com bênçãos e julgamento e desse modo lembra
a todas as pessoas do Grande Dia quando Ele finalmente e no tempo certo estabelecerá o seu
Reino.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 22 de 62
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TABELA 1: DOZE PERÍODOS DA HISTÓRIA DA REDENÇÃO


Início Período Escritura Temas
aproxim.
--- Criação em Gn.1-2 Yahweh é Criador Rei; homem é vice-
harmonia regente do Grande Rei; Aliança com a
Criação
---- Criação em Gn.3-11 Rebelião contra a Soberania de Deus;
alienação estado de alienação; dois reinos: Reino de
Deus e reino do homem; Aliança Noáica.
2000 A.C. Eleição e Promessa Gn.12-50 Promessa; Aliança Abraâmica e fé.
1400 A.C. Uma Nação Santa Êx – Js Consagração de Israel; Aliança Mosaica;
presença de Yahweh; Reino de Deus em
Israel
1200 A.C. Uma Nação como as Jz1-I Sm.15 Rebelião de Israel e a Soberania de
outras Nações Yahweh; necessidade de um reinado
humano em Israel.
1000 A.C. Uma Nação Real I Sm. 16-I Aliança Davídica; a glória da comunidade
Rs.11 teocrática e a presença de Yahweh no
I Cr.1-II Cr.9 Templo
931 A.C. Uma Nação I Rs.12-II A rebelião de Israel e a indecisão de Judá;
Dividida45 Rs.25 o fracasso da Dinastia Davídica; a
IICr.10-36 mensagem profética: o Remanescente; o
Dia do Senhor; o Exílio; e a Restauração.
538 A.C. Uma Nação Ed; Ne; Restauração: Renovação das Alianças
Restaurada Profetas (pós-
Exílicos46)
4 A.C. Jesus e o Reino Evangelhos Proclamação de Jesus; milagres; Morte e
Ressurreição: Presença do Reino Glorioso
no Filho; renovação das Alianças; novo
povo de Deus; preparação para a Vinda de
Jesus em Glória.
29 A.C. A Era Apostólica Atos; Governo de Jesus; sua presença no Espírito
Epístolas Santo; avanço da Igreja; transmissão
apostólica da Tradição: Escritos do NT.
100 A.C. O Reino e a Igreja ------- Progressão da Igreja: Desafio de ser um
povo santo e real no mundo.
--- A Nova Jerusalém Gen.3.1 – Ap. Transformação e Restauração: um Novo
Ceús e Nova Terra; um povo santo; a
presença benigna e governo de Deus e do
seu Messias.

45
Observação do tradutor Almir Macário Barros: Não foram referidos por VanGemeren: 1. O Período dos
setenta anos do Exílio Babilônico de Judá; 2. O período profético que aconteceu em paralelo com o
desenvolvimento da Monarquia, Exílio, Restauração. Deveriam, pois, ser citados pelos termos tradicionais:
Profetas pré-Exílicos no Reino Dividido; Profetas Exílicos no Exílio Babilônico e pós-Exílicos no Período de
Restauração de Judá. Este último faltou ser citado pelo termo “pós-Exílicos”.
46
O termo “pós-Exílicos” foi acrescentado pelo tradutor Almir Macario Barros, visto que VanGemeren não
referiu os profetas no período pré-Exílico (Reino Dividido), Exílico (Exílio Babilônico) e pós-Exílico
(Restauração de Judá).
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G. Interpretação Bíblica e Transformação


g.1. Interpretação “na Comunidade”
Eruditos bíblicos conservadores e da escola crítica têm igualmente percebido a
necessidade de deixar o testemunho bíblico da antiguidade nos falar atualmente. A primeira
questão não é como as Escrituras podem ser relevantes, mas como nós podemos desenvolver
uma metodologia que nos permita ouvir a voz de Deus e respondê-la. Evangélicos têm
desafiado em suas pregações às suas próprias comunidades a tomarem a Bíblia seriamente47.
Intérpretes da Bíblia estão envolvidos no processo de interpretação como um membro da
comunidade do povo de Deus. Eles podem não se satisfazer em nutrir suas próprias almas,
mas como um cristão, eles valorizam a unidade da Escritura, a orientação pelo testemunho
interno do Espírito Santo e as palavras de Deus em seus corações e vidas.
Não evangélicos, também, desafiam suas comunidades a ouvir o texto. Stuhlmacher
opta por uma “hermenêutica do consentimento”, na qual o exegeta afirma a conexão entre
texto e tradição espiritual. A questão não é primariamente “como nós podemos nos
relacionar com os textos e como os textos...podem ser ordenados segundo um contexto
antigo de eventos”, mas também “qual reivindicação ou verdade sobre o homem, seu
mundo, e transcendência nós ouvimos a partir destes textos”. Pelo exame do texto histórico,
exegetas podem envolver-se com o que Stuhlmacher chama “um diálogo crítico com a
tradição”. As conclusões devem sempre ser passíveis de verificação e confirmação. A
metodologia não deve contradizer a postura do consenso, mas deve permitir aos leitores
modernos “redescobrir e recapturar dimensões da existência as quais tem sido esquecidas e
aceitas para serem extraviadas”. Com esta postura, a exegese permanece comunicável e não
pode “se tornar uma visão intuitiva, limitada a um indivíduo ou grupo”48.
Com respeito a diferenças teológicas, tanto evangélicos (Kaiser e Maier) como
Stuhlmacher, conduzem a exegese com o intento de interpretar o texto bíblico em
comunidade. Ambos desenvolvem uma hermenêutica do consentimento, de ouvir a Palavra
de Deus. Ambos se opõem a exegese individual. Ambos almejam ser fiéis ao Credo dos
Apóstolos (“Eu creio em Jesus Cristo”). A principal diferença está na:
1. Valorização relativa colocada sobre a história,
2. Idem sobre a pesquisa histórica e,
3. Idem na relação entre o passado e o presente.
O isolamento da Bíblia da vida da Igreja tem produzido, nas palavras de
Stuhlmacher, um vácuo que freqüentemente é preenchido com uma interpretação ilegítima.

Entre os antigos e novos teólogos em trabalho na igreja, este efeito de distanciamento é


acompanhado por um enorme e às vezes alarmante incerteza em seus tratamentos com a
Escritura...Para eles o criticismo bíblico tem produzido um vácuo que os leva a desistir das
possibilidades de um interpretação histórico-crítica das Escritura que seja útil, e ainda em parte
deixa os teólogos substitutos assustados49.

O conceito de vácuo descreve a compulsão para satisfazer a sede espiritual


individual sem consideração com os meios. Tanto o subjetivismo como o pragmatismo têm
nos deixado desprovidos de eruditos bíblicos. Desconfiando da orientação dos eruditos,
estudantes da Bíblia têm redescoberto a necessidade do Espírito Santo, o sacerdócio de

47
Walter Kaiser, The Old Testament in Contemporary Preaching (O AT na Pregação Contemporânea) (Grand
Rapids: Baker, 1973); idem, Toward an Exegetical Theology (Sobre uma Teologia Exegética) (Grand Rapids:
Baker, 1981); G. Maier, The End of Historical-Critical Method (O Fim do Método Histórico-Crítico) (St. Louis:
Concordia, 1977).
48
Peter Stuhlmacher, Historical Criticism and Theological Interpretation: Towards a Hermeneutics of Consent
(Criticismo Histórico e Interpretação Teológica: Sobre uma hermenêutica de Consentimento), trad. Roy A.
Harrisville (Philadelphia: Fortress, 1977), p. 85-87. Ver também: James D. Smart, The Strange Silence of the
Bible in the Church (Philadelphia: Westminster, 1970).
49
Stuhlmacher, Historical Criticism, p. 65.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 24 de 62
ISBN 0-8010-2081-6

todos os crentes e a perspicuidade (clareza) das Escrituras, no propósito de entender a


Palavra de Deus. A espiritualidade na interpretação bíblica é muito importante, mas a pressa
por resultados imediatos e pragmáticos tem resultado num impacto prejudicial sobre o
Evangelicalismo, da mesma maneira que o criticismo tem sido prejudicial ao liberalismo.
Os judeus no Exílio, fora de Jerusalém e o Templo foram alienados de Deus; da
mesma forma, os Cristãos hoje em dia podem se sentir igualmente abandonados quando a
Bíblia permanece como um livro fechado a eles, ou quando o seu valor é reduzido a ser um
tesouro de textos-prova ou pensamentos inspirados. O vácuo tem sido preenchido por
ênfases sobre experiências pessoais, práticas devocionais e estudos bíblicos pessoais. A
comunidade adora, mas as pessoas alimentam individualmente suas próprias almas. A
polarização do comunitário e do individual é lamentável e pode conduzir somente a um
empobrecimento da comunidade Cristã. O diálogo real acontece quando igreja como um
todo e a pessoa Cristã se relacionam no mesmo nível do texto bíblico.
g.2. Interpretação “em diálogo”
Richard L. Rohrbaugh apresenta um exemplo de como um pastor pode ser
envolvido exegeticamente. Ele define hermenêutica paroquial como “uma ministração que
tenta tomar a literatura bíblica como um parceiro sério no desenvolvimento do diálogo do
Povo de Deus”. Hermenêutica não é um processo no qual o erudito bíblico toma um texto e
dá a interpretação singular correta do texto, depois do que o pastor transforma a exposição
em proclamação. Rohrbaugh que quebrar a cadeia que liga exegese somente a erudito.

...é o pastor, como aquele que mais regular e freqüentemente interpreta a Escritura na vida da igreja,
quem se torna uma ligação na cadeia hermenêutica que se estende desde a literatura bíblica em si,
passando através do processo variado de eruditos que surgem nas questões citadas acima, e
finalmente ao indivíduo em particular, para quem está sendo feita a interpretação na igreja...O
contexto e a pessoa que está fazendo a interpretação é uma chave de ligação no processo de
recriação do significados das Escrituras na Igreja50.

Gerhard Ebeling, como um representante da nova hermenêutica, complementa com


um valioso ensaio com respeito em como iniciar o processo de diálogo. Para ele, o sermão
não é exatamente uma exposição da experiência de Deus no passado; o evento deve ser
recriado de tal modo que o ministro ajude o povo a experimentar Deus no presente como o
povo de Deus o fez no passado; semelhante a um sermão de proclamação!51. Através do
sermão, o ministro tem como meta ajudar o povo de Deus a experimentar a transformação
pelo poder da Palavra de Deus. O intérprete está envolvido com o contexto do texto, mas
deve mostrar uma igual preocupação pelo povo de Deus num contexto diferente.
Interpretação tem sido comparado a dois horizontes: O passado e o presente; mas
interpretação também funde estes dois horizontes52. Esta fusão deve capturar cuidadosa e
corretamente a clareza do significado da Escritura53.
Um estudo de natureza evangélica da Bíblia deve ser vigoroso e relevante,
refletindo interpretação cuidadosa (análise e síntese). A transformação resultante pelo
Espírito de Deus exalta e glorifica a Deus. A interpretação não é baseada na intenção do
Espírito, mas motivado por uma bem planejada e diligente busca por valores redentivos que
podem conduzir o povo de Deus a declarar:

“Nós não podemos explicar a Bíblia como o nosso Ministro, ele...é bastante habilidoso e capaz,
podendo ‘encontrar Cristo’ em todas as partes da Bíblia!”. Isto significa que o povo provavelmente
fará uma ou outra coisa: em qualquer caso eles se entregarão às suas próprias leituras individuais

50
Richard L. Rohrbaugh, The Biblical Interpreter: An Agrarian Bible in an Industrial Age (O Intérprete Bíblico:
Uma Bíblia Agrária em uma Era Industrial) (Philadelphia: Fortress: 1978), p. 7-9.
51
Ebeling, Word and Faith, p. 311.
52
Thiselton, The Two Horizonts (Os Dois Horizontes).
53
Chicago Statement of Biblical Hermeneutics (Declaração de Chicago sobre Hermenêutica Bíblica).
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 25 de 62
ISBN 0-8010-2081-6
Bíblia de modo geral; ou tentarão imitar seu Ministro; neste caso, eles certamente se inclinarão à
oposição e perder-se-ão em vôos de todo tipo de alegoria54.

Para ser relevante, o estudante da Bíblia deve permanecer com “um pé no mundo”
da Bíblia e com na sociedade de hoje. O estudo da Bíblia é um trabalho que requer um
envolvimento pessoal. Seus ensaios podem lançar nova luz sobre opiniões e convicções55.
Porém, o final, a comunidade do povo de Deus e o crente individualmente se beneficia
grandemente por permitir que o Espírito do Cristo Vivo fale através das Sagradas Escrituras
no nosso contexto moderno.

Conclusão

Para o crente em Cristo, a Bíblia é o Livro de Deus e do homem. O Senhor


adaptou-se aos seres humanos em suas diferentes culturas e épocas históricas remotas,mas
em cada caso, o mesmo Deus falou (Hb. 1.1-3). Tanto no AT como no NT a Bíblia expõe o
Plano de Deus, com seus atos na Criação e na Redenção, testemunhando do seu amor e
determinação. O registro inspirado da fidelidade de Deus desafia a sociedade moderna e a
igreja a olhar para Deus e Pai de Jesus Cristo como Redentor do mundo. Ele completará o
que planejou desde a fundação do mundo.
Como este Plano se desenvolve é objeto de interpretação bíblica – isto é, o processo
de estudo da Bíblia em que são relacionados entre si as várias partes da Bíblia e o texto
antigo em estudo aplicado às circunstâncias modernas. Interpretação é tanto uma arte como
uma disciplina. O intérprete da Escritura estuda o texto bíblico na presença do Cristo Vivo
que opera no crente pelo poder do Espírito de Deus. A interpretação é dinâmica, assim como
a Bíblia convoca a uma transformação contínua. A visão de Deus tem um impacto sobre a
nossa cosmovisão e da criação de Deus. O estudo da Bíblia requer um comprometimento de
fé com o Deus Triúno. Ao invés de abordar qualquer livro da Bíblia somente a partir da
situação histórica daquele livro, os leitores devem admitir explicitamente que eles se
aproximam da leitura do referido livro como que com óculos de várias matizes. Eles vivem
entre o tempo da Ressurreição de Cristo e sua gloriosa aparição na Segunda Vinda, mas
também entre o horizonte de seus tempos e o tempo daqueles livros antigos. Mas Deus lhes
fala dentro de seu próprios ambientes cultuais, incluindo sua própria estrutura confessional.
A Bíblia fala porque Deus fala!
A postura vantajosa a partir da qual o estudante da Bíblia se chega à Escritura
determina o que o texto pode ou não pode falar. História Bíblica e o estudo de eventos
passados parecem não se relacionar com homem e mulher do século XX, mas para o Cristão
eles compõem uma parte da história dos atos especiais de Deus no desenvolvimento do seu
Plano de Redenção. Os Cristãos do século XX não podem se postar a si mesmos, como que
independentes e livres de aproximadamente dois mil anos de história da igreja, tomando
como desculpa as pressões das questões modernas, ou as suas próprias estruturas teológicas
(denominacionais); mas eles podem renovar seu compromisso cristão, auto-compreensão e
convicções teológicas através de um estudo atualizado e contextualizado (exegese) da
Palavra de Deus. A medida que o estudo da Bíblia venha abranger a aquisição de fatos e
análises, o método histórico – gramatical é de grande ajuda na recuperação do significado
das palavras antigas e da condição de vida referente ao texto.
Interpretação não envolve somente a análise do texto, mas também inclui uma
síntese ou integração do texto dentro de seu ambiente literário original, situação canônica

54
Brunner, Doctrine of Creation and Redemption, (Doutrina da Criação e Redenção) p. 212.
55
David J. Hesselgrave, “The Two Horizons: Culture, Integration, and Communication,” (Os Dois Horizontes:
Cultura, Integração e Comunicação) JETS 28 (1985), P. 443-6. Consultar Walter Kaiser, Jr., “Legitimate
Hermeneutics,” (Hermenêutica Autentica) in Inerrancy, (Inerrância) ed. Norman Geisler (Grand Rapids:
Zondervan, 1980), p. 117-47.
The Progress of Redemption: The story of salvation from Creation to the New Jerusalem
(O Progresso da Redenção: A história da Salvação: Da Criação à Nova Jerusalém)
Por Willem VanGemeren, por Baker Books, Grand Rapids, Michigan, USA, 1995
Tradução por Almir Macário Barros: Manaus, AM, 27 de março de 2010 26 de 62
ISBN 0-8010-2081-6

(isto é, a Palavra de Deus como endereçada ao povo de Deus em um contexto específico e


recebida como Cânon), e os desenvolvimentos histórico – redentivo. A interpretação do
texto é como uma fotografia instantânea, enquanto que a hermenêutica da Abordagem
histórico – redentiva pode ser comparada a um filme. Os quadros mais recentes se
relacionam com os quadros individuais entre si e continuam a alterar a percepção desta
relação , assim como permite à Bíblia contar sua própria história do compromisso redentor
de Deus com a história de Israel e com a Igreja. Ademais, o Espírito de Deus requer e
promove transformação, pela qual os horizontes da cultura do passado e aquelas da cultura
do contexto atual são fundidas. Como Ramm escreve: “Exegese sem aplicação é
academicismo”56.
Interpretação também envolve igual interesse pelo AT e NT. Quanto as duas partes
da Bíblia são sustentados com cuidadoso equilíbrio, a contínua tensão entre Lei e
Evangelho, figura e realidade, promessa e cumprimento, era presente e restauração futura,
Israel e Igreja, e dimensão terrena e espiritual somente acentuam a ênfase cristológica e
escatológica. A Revelação de Deus em Cristo Jesus é o divisor de águas – o ponto médio da
História da Redenção57. Jesus é o centro da Escritura. Nós não podemos afirmar, entretanto,
que o AT é cumprido completamente no NT. Nem Jesus cumpriu totalmente de maneira
plena o AT. Num sentido real, as Escrituras têm um centro escatológico, assim como o AT e
NT juntos apontam para a Era da Consumação, quando todas as coisas serão feitas novas.
Jesus, O Messias é deste modo, a esperança dos santos, tanto antes como depois da sua
primeira vinda.

56
Bernard L. Ramm, “Biblical Interpretation,” Baker’s Dictionary of Practical Theology, ed. Ralph G. Turnbull
(Grand Rapids: Baker, 1967), p. 101.
57
H. Berkhof, Christ, the Meaning of the History, trans. L. Buurman (Grand Rapids: Baker, 1979).

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