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Período Regencial e Segundo Reinado

 Um período conturbado

O período da história brasileira iniciada em 1831 caracterizou-se por dois aspectos principais: as rebeliões nas
províncias, que quase levaram à quebra da unidade nacional; e a efervescência política, da qual surgiriam os
primeiros ensaios de organização partidária no decorrer do Segundo Reinado.
Herdeiro do trono aos 5 anos de idade, dom Pedro de Alcântara só poderia assumir o governo ao completar 18
anos, como mandava a lei. Até lá, o poder seria exercido por um conselho de três regentes, eleitos pela Câmara
dos Deputados.

 As Regências

À época em que dom Pedro I abdicou, a Assembléia Geral (Câmara e Senado) estava em recesso. Ficou
decidido então que, enquanto este durasse, assumiria o poder um conselho de transição: seria a Regência Trina
Provisória. Uma vez empossada, ela expulsou os estrangeiros do Exército, anistiou os acusados de crimes
políticos e reintegrou o ministério de 20 de março, cuja demissão havia provocado a queda de dom Pedro I. Visava
com isso satisfazer os descontentes e acalmar o país.
Terminado o recesso, o Parlamento elegeu, em 17 de junho de 1831, a Regência Trina Permanente, mas
decidiu que ela não poderia exercer o Poder Moderador nem dissolver a Câmara. Ao formar o ministério, o novo
governo escolheu para a pasta da justiça o padre
Diogo António Feijó.
A essa altura, a corrente liberal estava dividida em duas facções: a dos liberais moderados e a dos liberais
exaltados, ou farroupilhas. Liberal moderado, Feijó era partidário de uma reforma na Constituição. No início,
reprimiu duramente os liberais exaltados. Depois, voltou-se contra os conservadores ou restauradores. Em
meados de 1832, afastou-se do governo.

 As facções políticas

Na ausência de partidos, três grupos lutavam para conquistar influência nos centros políticos de decisão:

 Restauradores ou caramurus — apoiados por comerciantes portugueses e militares que queriam a volta de
dom Pedro I ao poder; defendiam um regime autoritário, absolutista. Esse grupo se dissolveu com a morte de dom
Pedro I, em 1834, em Portugal;

 Liberais moderados ou chimangos — contrários ao absolutismo; defendiam a ordem estabelecida, a monarquia


constitucional e o voto censitário (baseado nos recursos econômicos); sua base de apoio eram os grandes
proprietários rurais (essa corrente era ao padre Feijó);

 Liberais exaltados, farroupilhas ou jurujubas — reivindicavam autonomia para as províncias, menos


centralização política e extensão do direito de voto a setores mais amplos da população; eram apoiados por
proprietários rurais e pelas camadas médias urbanas.

Com o tempo, os moderados se dividiram em dois grupos: progressistas e regressistas. Os regressistas mais
conservadores. Os progressistas eram favoráveis a que se fizessem concessões aos exaltados, como permitir
maior autonomia às províncias, o que de fato aconteceu com o Ato Adicional de 1834, como veremos.
Findo o período regencial, os progressistas formariam o Partido Liberal e os regressistas, o Partido
Conservador. Os dois grupos se revezariam no poder até a proclamação da República. As diferenças entre eles,
contudo, não eram essenciais.

 O Ato Adicional

Em 12 de agosto de 1834, a Câmara dos Deputados aprovou o Ato Adicional, um conjunto de mudanças que
reformava a Constituição. Entre as medidas de
constava:

 A criação das Assembléias Legislativas provinciais, com competência para legislar sobre assuntos de interesse
de províncias e municípios;
 O estabelecimento da Regência Una, determinando a eleição do regente por voto popular para quatro anos de
mandato;
 A extinção do Conselho de Estado, cujos membros vinham da época de dom Pedro I.
Para alguns historiadores, a eleição para regente significou breve experiência republicana ainda em pleno
Brasil monárquico. A primeira eleição para a Regência Una realizou-se em 7 de abril de 1835. O vencedor foi o
padre Feijó, que recebeu 2.826 votos.
O Ato Adicional representou um compromisso entre conservadores, moderado e exaltado. Os conservadores,
entretanto, não ficaram satisfeitos, pois os mais favorecidos pelo Ato foram os moderados. Em colisão com os
primeiros, Feijó deixou o poder em setembro de 1837. A Regência foi então assumida pelo conservador Araújo
Lima, em cujo governo entrou em vigora Lei Interpretativa do Ato Adicional, em maio de 1840.
A nova lei representava um retrocesso em muitos aspectos, marcando o retorno a uma política centralizadora.
De fato, ela restringiu os poderes das Assembléias Legislativas e colocou a Polícia judiciária sob o controle do
Poder Executivo central.
Os liberais dariam o troco em julho de 1840, quando conseguiram antecipar a maioridade do jovem Pedro de
18 para 15 anos de idade. A manobra, que ficou conhecida como Golpe da Maioridade, levou à queda dos
conservadores e à volta ao poder dos liberais moderados. Nesse momento, o país atravessava turbulências, com
revoltas separatistas em várias províncias, que o governo não conseguia controlar.

 Rebelião nas províncias

O período regencial foi marcado por diversas revoltas. Em geral, elas foram provocadas pelo conflito de idéias
entre grupos da camada dominante, dividida entre liberais e conservadores. Essas revoltas, contudo, serviram de
estímulo à deflagração de movimentos de origem social, que chegaram até mesmo a ameaçar, em algumas
regiões do país, a ordem escravocrata.
Por meio desses conflitos, os trabalhadores livres pobres e os escravos integravam-se à luta contra formas
opressivas de exercício do poder. Mas, com frequência, serviram apenas de massa de manobra nas disputas
entre as correntes oriundas das elites; e poucos conseguiram no que se refere a romper os privilégios da
aristocracia rural e melhorar as próprias condições de vida.
As mais importantes dessas revoltas ocorreram no Pará (Cabanagem), na Bahia (Sabinada), no Maranhão
(Balaiada) e no Rio Grande do Sul (Guerra dos Farrapos).

 A Cabanagem (1835-1840)

Calcula-se que as lutas desencadeadas durante a Cabanagem provocaram a morte de 30 mil pessoas no Pará
(a província tinha 80 mil habitantes em 1819). Dois fatos associaram-se para dar início aos cinco anos de conflitos:
o inconformismo de fazendeiros e comerciantes contra o presidente nomeado pelo poder central e a miséria da
população.
A maioria dos paraenses vivia em cabanas perto dos rios, daí o nome de cabanos dado aos revoltosos. Na
verdade, os cabanos foram além do que pretendiam alguns de seus líderes, pois transformaram a rebeldia das
elites contra o poder central numa luta sem tréguas por melhores condições de vida.
Em 1835, os cabanos depuseram o presidente da província e ocuparam Belém. Três presidentes rebeldes se
sucederam no poder. O primeiro foi o fazendeiro-comerciante Féiix Malcher. Acusado de traição e de jurar
fidelidade ao imperador, Malcher foi deposto pelo
chefe militar dos cabanos, Pedro Vinagre, que assumiu o poder. Pouco tempo depois, Vinagre abandonou o posto
ante os ataques das forças do governo central, apoiadas pelo mercenário inglês John Taylor.
Eduardo Angelim tornou-se o terceiro presidente rebelde. Entretanto, pouco mais de um ano depois de tomar
Belém, os cabanos tiveram de se retirar para o interior. Os últimos rebeldes, mais de 1.000, só se entregaram no
início de 1840, o ano da maioridade.
A guerra civil no Pará deu lugar a incríveis atrocidades. Arthur Reis, citado por Sérgio Buarque de Holanda em
História geral da civilização brasileira, relata que mesmo os suspeitos de rebeldia eram caçados como animais
ferozes e sofriam suplícios bárbaros, que às vezes provocavam a morte.

 A Guerra dos Farrapos (1835-1845)

Causas económicas, políticas e ideológicas levaram os gaúchos a pegar em armas para tentar separar-se do
Império, naquela que ficou conhecida como Guerra dos Farrapos por causa dos precários trajes dos rebeldes.
Pesados impostos oneravam os produtos gaúchos vendidos em outras províncias: charque, couro, muares
(tropas de burros). Esses impostos diminuíam a capacidade de concorrência com mercadorias uruguaias,
argentinas e paraguaias. Além disso, às vezes, os impostos eram cobrados no lugar de venda, ou seja,
beneficiavam outras províncias.
O cenário político no Rio Grande do Sul estava dividido entre os farroupilhas, que queriam mudanças e
autonomia, e os chimangos, favoráveis à situação. Na região havia também forte influência das idéias
republicanas, já que os gaúchos eram vizinhos das jovens repúblicas do Prata: Uruguai, Argentina e Paraguai.
A revolta começou quando um grupo liderado pelo farroupilha Bento Gonçalves exigiu a renúncia do presidente
da província. A cidade de Porto Alegre foi ocupada e a Assembléia teve de nomear novo presidente. Em 1836, os
revoltosos proclamaram a República Rio-Grandense, com sede em Piratini. Três anos depois, em 1839,
conquistaram Laguna, em Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana (era mês de julho).
Para a conquista de Santa Catarina, os gaúchos contaram com a decisiva colaboração do italiano Giuseppe
Garibaldi, que se destacaria mais tarde na luta pela unificação da Itália. Por terra, sobre carretas, Garibaldi
conduziu duas embarcações da lagoa dos Patos até Tramandaí, a 60 quilômetros de distância, atacando de
surpresa as forças imperiais.
Somente em 1845, já no reinado de dom Pedro II, a paz voltaria a reinar na região. O movimento foi sufocado
por Luís Alves de Lima e Silva, futuro duque de Caxias, que já havia atuado em outros conflitos regionais. Lima e
Silva foi nomeado presidente da província em 1842 e fez ofertas irrecusáveis aos farroupilhas: anistia para todos,
incorporação dos oficiais revoltosos ao exército imperial no mesmo posto, devolução de toda propriedade ocupada
ou confiscada durante a guerra, libertação dos escravos que haviam lutado ao lado dos rebeldes. Com uma
duração de dez anos, a Guerra dos Farrapos, ou Rebelião Farroupilha, foi a mais longa guerra civil da nossa
história.
 A Sabinada (1837-1838)

A Sabinada foi o momento culminante de vários movimentos rebeldes na Bahia contra a política imposta pelas
regências. Um desses movimentos foi a revolta dos
escravos males em 1835. O principal líder da Sabinada foi o médico e jornalista Francisco Sabino Álvares da
Rocha Vieira (daí o nome da revolta). A rebelião
começou em novembro de 1837, com a sublevação das tropas e a fuga do governador.
Os rebeldes formaram seu
próprio governo e divulgaram um programa em que defendiam a proclamação da República Baiense, a separação
da província até a maioridade de dom Pedro e a convocação de uma Assembléia Constituinte.
Apesar desse programa moderado, a repressão das forças do governo central se abateu sobre os revoltosos
com requintes de crueldade. Os soldados imperiais chegaram a incendiaras casas e a lançar prisioneiros vivos ao
fogo. Houve cerca de 600 mortos entre os legalistas e pouco mais de 1.000 entre os rebeldes.

 A Balaiada: escravos, artesãos e bem-te-vis

No início do século XIX, quase a metade dos 200 mil maranhenses eram escravos. Grande parte do restante
compunha-se de sertanejos miseráveis. Proprietários rurais e comerciantes controlavam o poder. A insatisfação
social era antiga. Aumentou ainda mais quando os políticos conservadores tentaram aumentar os poderes dos
prefeitos, causando protestos entre os liberais. A insatisfação popular transformou-se então em revolta e a revolta
em movimento capaz de mobilizar os setores marginalizados da população.
O movimento revoltoso passou a exigir a demissão dos portugueses incrustados no Exército e na
administração. Recebeu o nome de Balaiada porque um de seus líderes se chamava Manuel Balaio. Vivia ele de
fazer balaios, como milhares de artesãos que o seguiram.
A rebelião começou em 1838, quando um grupo liderado pelo vaqueiro Raimundo Gomes, o Cara Preta, tomou
de assalto uma cadeia. A esse ataque seguiram-se outras ações armadas promovidas por Manuel Balaio e seus
homens. Algumas fazendas foram atacadas. Escravos aproveitaram-se da confusão para fugir e formar quilombos.
Um deles chegou a reunir 3 mil escravos
comandados pelo preto Cosme.
Os rebeldes recebiam apoio político dos liberais, apelidados de bem-te-vis. Estes usavam o movimento popular
para tentar a conquista do poder. Numa importante vitória, os balaios tomaram a vila de Caxias em 1839. No ano
seguinte, o governo central nomeou presidente da província o coronel Luís Alves de Lima e Silva.
A anistia decretada em agosto de 1840 provocou a rendição imediata de 2.500 balaios. Quem resistiu foi
derrotado a seguir. Raimundo Gomes, o Cara Preta, entregou-se. Enviado preso para São Paulo, morreu no
caminho. Cosme, chefe de um quilombo, não se entregou. Caçado sem trégua, foi preso e enforcado em
1841. Rebelião das camadas pobres, a Balaiada foi expressão da resistência popular contra as desigualdades e
injustiças da sociedade escravista.

 A economia no Período Regencial

Durante o Período Regencial, o comércio exterior brasileiro foi quase o tempo todo deficitário. O Brasil
importava mais do que exportava e, por isso, estava sempre devendo a credores internacionais. Essa situação
começou já no Primeiro Reinado e se prolongou
até 1860.
Para pagar as dívidas, o país contraía empréstimos externos, solução que ia transferindo o problema para o
futuro. Novos pagamentos eram acrescidos a título de juros e amortizações da dívida externa. O resultado foi o
contínuo aumento do desequilíbrio nas contas com o exterior.
Os principais artigos brasileiros de exportação na época eram:
 Açúcar — principal produto durante o Primeiro Reinado, era vendido por preços baixos, por causa da
concorrência das Antilhas e do açúcar de beterraba europeu;
 Café — sem expressão no Primeiro Reinado, começou a se transformar no principal produto de exportação
durante o período regencial;
 Algodão — enfrentava a concorrência norte-americana;
 Fumo, cacau, arroz e couro — tinham pouca expressão e sofriam a concorrência norte-americana (arroz) e
platina (couro).

As importações incluíam manufaturados da Inglaterra, beneficiada ainda pelas tarifas privilegiadas de 1810;
trigo dos Estados Unidos e da Europa; produtos alimentícios da Europa; escravos da África.
O Brasil enfrentava também escassez de dinheiro, por causa do esvaziamento dos cofres pela família real em
sua volta a Portugal em 1821, da indenização paga a Lisboa pelo reconhecimento da independência e dos gastos
com a Guerra da Cisplatina e com as revoltas internas.
Por falta de recursos e máquinas, as indústrias não puderam desenvolver-se. Além disso, os produtos ingleses
exerciam concorrência desigual. O caso da indústria
têxtil é um exemplo típico. Os ingleses, favorecidos pelas baixas taxas alfandegárias, colocavam seus tecidos no
mercado brasileiro em melhores condições que o produto nacional. Como se não bastasse, existiam obstáculos
para a importação de máquinas por brasileiros. Em 1840, mais da metade dos gastos com importação de
manufaturados referia-se a tecidos e peças de vestuário. Essas condições acabaram por sufocar todas as
tentativas de industrialização no Brasil durante esse período.
O setor de mineração, entretanto, alcançou alguns progressos graças ã ajuda de capitais ingleses.

 O Segundo Reinado

Como vimos no capítulo anterior, a declaração de maioridade de Pedro de Alcântara três anos antes do
previsto foi um golpe bem dado pêlos liberais, oposicionistas da Regência de Araújo Lima. Sabe-se que o novo
imperador deu apoio tácito à campanha liberal, diante da qual o governo conservador não teve como reagir,
desgastado pêlos movimentos revolucionários em todo o país.
Declarada a maioridade em 23 de julho de 1840, o jovem de 15 anos seria sagrado imperador no mesmo dia,
com o título de dom Pedro II. Seu governo duraria 49 anos. Seria o último imperador do Brasil e o dirigente que
mais tempo permaneceu no comando do país.
Em linhas gerais, pode-se dividir o Segundo Reinado em dois momentos fundamentais:

 1840-1870 — Marcado inicialmente por lutas civis e pela pacificação interna, foi um período de consolidação do
Estado nacional e de relativa prosperidade econômica. Termina com o fim da Guerra do Paraguai.
 1870-1889 — Momento de declínio no qual se fizeram sentir as consequências da Guerra do Paraguai. Sofreu
os abalos das campanhas abolicionista e republicana.

OBS: A seguir estudaremos o primeiro desses períodos.

 Liberais e conservadores se alternam no poder

A administração do Segundo Reinado


organizou-se segundo os moldes do Primeiro, com a volta do Poder Moderador e do Conselho de Estado, abolido
pelo Ato Adicional de 1834.
Investido no poder, o jovem imperador
montou seu ministério com políticos liberais, a quem devia a maioridade antecipada. Mas o ministério durou
apenas oito meses, pois não conseguiu pacificar as províncias e foi responsável por grandes escândalos, como as
eleições do cacete.
Realizadas ainda em 1840, as eleições
do cacete receberam essa denominação porque os liberais organizaram grupos de arruaceiros para dissolver a
cacetadas as reuniões dos conservadores, que também agiam da mesma forma sempre que estavam no poder.
Além da intimidação física, os governistas lançaram mão de diversos tipos de fraude, como urnas trocadas e
resultados alterados.
O escândalo provocado por esse procedimento foi tão grande que dom Pedro demitiu o gabinete e dissolveu a
Câmara, convocando novas eleições. Em março de 1841, tomou posse um ministério conservador. A reação dos
liberais foi promover pequenas rebeliões armadas em 1842, logo debeladas nas províncias de São Paulo e Minas.
A partir de 1844, sucederam-se vários governos liberais. Em 1848, os conservadores voltaram ao poder com
um ministério chefiado por Araújo Lima, que fora titular da Regência Una. A alternância entre conservadores e
liberais no governo seria uma das principais características políticas do Segundo Reinado.
Até 1847, o imperador — chefe do poder Executivo — nomeava diretamente o ministério. Naquele ano, um
decreto do governo criou o cargo de presidente do Conselho de Ministros. O imperador passou então a nomear
apenas o presidente do Conselho, que por sua vez escolhia os demais ministros.
Esse mecanismo levou alguns estudiosos a comparar o sistema de governo assim criado com o regime
parlamentar, ou parlamentarismo, praticado em países como a Inglaterra. No boxe da página 284 o historiador
Boris Fausto discute as semelhanças e diferenças entre os dois sistemas.
Outra característica da política brasileira por essa época era a quase inexistência de diferenças entre os
partidos dominantes. Liberal e Conservador. Era corrente o dito popular de que não havia nada mais parecido com
um conservador do que um liberal no poder. As eleições não representavam a vontade de toda a população, mas
a dos grandes proprietários rurais. Eles dominavam as províncias, controlavam o número de eleitores, fraudavam
as eleições. Exerciam, enfim, o poder diretamente ou por meio de apadrinhados.

Charge de Faria na revista O Mequetrefe, 19.1.1878, satirizando o sistema político brasileiro durante o Segundo
Reinado. Funcionando como fiel da balança, dom Pedro II equilibra os partidos Conservador (à esquerda) e
Liberal (à direita, representado por uma mulher, provável alusão às idéias republicanas de muitos de seus
membros).

Essa identidade de interesses deu origem ao chamado Ministério da Conciliação, de 1853, com a participação
dos dois partidos. Ela também ajuda a explicar como foi que a abolição da escravatura, resultado de ampla
campanha liberal, transformou-se em lei graças a um gabinete conservador.

 A Revolução Praieira

Por volta de 1845, todas as rebeliões provinciais haviam sido sufocadas. Em Pernambuco, porém, continuavam
a fermentar os ideais revolucionários. Por essa época, o descontentamento havia se generalizado entre as
camadas média e baixa da população. O alvo dessa insatisfação era a dominação das famílias oligárquicas de
Pernambuco, que monopolizavam o poder e a propriedade das terras, e o controle do comércio, exercido pêlos
portugueses.
Sediado na rua da Praia (daí o nome do movimento), em Recife, o jornal Diário Novo, de tendência liberal, era
o foco do descontentamento. Em torno dele organizaram-se as correntes de oposição à situação dominante. Os
praieiros defendiam um programa avançado: voto livre e universal; liberdade de imprensa; extinção do poder
Moderador; garantia de trabalho; nacionalização do comércio, que estava nas mãos de portugueses; reformas
económicas e sociais.
Em outubro de 1847, foi nomeado para a presidência da província um político conservador de Minas Gerais,
com a missão de sufocar as manifestações de descontentamento. Indignados com a medida, os praieiros tomaram
as armas em Olinda em 7 de novembro. Rapidamente, a rebelião se estendeu para o interior, mobilizando
boiadeiros, pequenos arrendatários, negros e mulatos, sob a liderança de Pedro Ivo. Em fevereiro de 1849, os
rebeldes entraram em Recife, mas foram repelidos pelas tropas imperiais. Dois meses mais tarde, sem obter ajuda
de outras províncias, Pedro Ivo depôs as armas e a rebelião chegou ao fim. Em 1851, o governo anistiou os
líderes revolucionários presos.

 Uma nova riqueza: o café

No âmbito das atividades produtivas, verificaram-se importantes mudanças durante o Segundo Reinado. Uma
delas foi o deslocamento da primazia econômica
das velhas regiões agrícolas do Nordeste para o Centro-Sul. Outra foi a decadência das lavouras tradicionais
(cana, algodão, fumo), paralelamente ao desenvolvimento do café, que até o Período Regencial tivera pouca
importância.
As lavouras tradicionais enfrentavam condições internacionais desfavoráveis: o açúcar, com a concorrência do
similar de beterraba e as pesadas taxas estabelecidas pêlos países importadores; o algodão, com a perda de
mercado para o norte-americano e o oriental (teria pequeno fôlego apenas com a Guerra de Secessão dos
Estados Unidos; veja o capítulo 66); o fumo, prejudicado com o fim do tráfico de escravos, pêlos quais era trocado.
Em 1850, por imposição da Inglaterra, ocorreu a proibição definitiva do tráfico legal de escravos, questão que
será estudada mais detalhadamente no próximo capítulo. Esse acontecimento causou forte impacto sobre a
economia agrícola tradicional. Para se abastecer de escravos, passou a ser necessário recorrer ao comércio
interno (interprovincial). O preço dos escravos aumentou em mais de 100%. Já em decadência, os senhores de
engenho do Nordeste passaram a "exportar" escravos para as fazendas de café, principalmente do Vale do
Paraíba.
Mesmo para os ricos fazendeiros de café, os preços dos escravos tornaram-se excessivamente altos; sem
contar o fato de que a rebeldia dos cativos aumentava, ao serem separados de familiares e amigos com a venda
para províncias distantes. A necessidade de intensificar o controle fazia o custo dessa mão-de-obra aumentar.
A solução encontrada pêlos cafeicultores do Oeste paulista foi a promoção da imigração de trabalhadores
assalariados de origem européia.

 A marcha dos cafezais

Introduzido no Brasil em 1727, o café só ganhou importância definitiva um século depois. A independência dos
Estados Unidos, em 1776, contribuiu para sua expansão, já que os norte-americanos tornaram-se grandes
consumidores do produto. No século XIX, a exportação de café cresceria sem parar. Entre 1821 e 1830 foram
exportadas pouco mais de 3 mil sacas de 60 quilos. Na década de 1880, essa cifra ultrapassaria o
número de 51 mil sacas.
A cafeicultura exige chuvas regulares e solo especial. Após o plantio, o pé de café leva de quatro a cinco anos
para produzir, o que pressupõe empatar por longo tempo grande soma de capital sem retorno imediato.
No Sudeste do país existiam as condições climáticas e de capital ideais. Por isso, durante o século XIX, as
lavouras de café avançaram em dois sentidos:
 Até 1870, o Vale do Paraíba — situado entre os atuais estados do Rio de janeiro e São Paulo — foi a grande
região produtora. As exportações eram feitas pelo porto do Rio de Janeiro.
 Depois de 1870, a erosão e a exploração sem cuidados esgotaram as terras do Vale do Paraíba. As plantações
de café, a partir de Campinas, passaram então a se expandir pelo oeste paulista. Em fins do século, formou-se em
torno de Ribeirão Preto o núcleo produtor do melhor café brasileiro. Ali abundava a terra roxa, ideal para o cultivo
da planta. A exportação se fazia pelo porto de Santos.
Mais tarde, o café alcançaria o extremo oeste de São Paulo, sudeste de Minas e, já na metade do século XX, o
norte do Paraná.

 O café lidera a economia

Durante o Segundo Reinado, o café manteve a posição alcançada na Regência de mais importante produto de
exportação. Na receita das vendas externas brasileiras, entre 1840 e 1890, enquanto caía a participação do
açúcar (26,7% para 9,9%) e do algodão (7,5% para 4,2%), a do café subia de 41,4% para 61,5%.
A partir de 1860, os tradicionais déficits na balança comercial deram lugar a superávits. Em certas camadas
sociais e regiões melhorou o padrão de vida e a economia sofreu um novo impulso, com o surgimento de fábricas
e de novos meios de transporte.
Além do aumento da produção cafeeira, outros dois fatos contribuiriam para equilibrar econômica e
financeiramente o país:

 A mudança da política alfandegária, em 1844: nesse ano, as Tarifas Alves Branco fixaram os impostos de
importação no valor médio de 30%; com elas, deixou ainda de vigorar a taxa privilegiada de 15% para os produtos
ingleses. Essa mudança acarretou o aumento da receita do governo;
 A abolição do tráfico de escravos, em 1850: a medida diminuiu os gastos com importações e liberou capital
para investimentos em outras atividades produtivas.

Paradoxalmente, a extraordinária importância do café constituiria a riqueza e a fragilidade da economia


brasileira. Sem uma diversificação consistente das atividades produtivas, a economia passou a depender quase
exclusivamente da monocultura cafeeira. Assim, qualquer crise internacional ou problema na produção e no
comércio do café arrastava consigo toda a economia do país. Isso seria mais comum no período republicano.
No início, a expansão cafeeira fundamentou-se na antiga estrutura da economia agrícola brasileira: grande
propriedade, monocultura de exportação e exploração da mão-de-obra escrava. Mais tarde, revelou uma face
dinâmica ao incorporar o trabalho livre de imigrantes europeus.

 O Brasil sob a dependência da Inglaterra

Paralelamente à expansão do café, verificou-se o aumento das aplicações de capitais ingleses na economia
brasileira. Apesar de ampliar a dependência externa, os novos investimentos possibilitaram:
 A construção de ferrovias e indústrias;
 O aparelhamento dos portos;
 O equilíbrio das finanças externas, sem que fossem sacrificadas as importações.
A construção de estradas de ferro e outras obras de infra-estrutura no país ocorreram enquanto foram
favoráveis as perspectivas de lucros ao capital internacional. Os investimentos eram direcionados aos setores
mais lucrativos, como as ferrovias e o comércio de exportação. Em 1840, 50% das exportações de açúcar e café
eram realizadas por firmas inglesas. Serviços urbanos, como a rede de esgotos e de abastecimento de água do
Rio de Janeiro, atraíram igualmente investimentos diretos de empresas de capital estrangeiro, sobretudo britânico.
A maior parte do capital externo, contudo, chegava aqui sob a forma de empréstimos. Assim, de 1852 até o fim
do Império, o Brasil levantou na Inglaterra onze empréstimos públicos, no valor global de 60 milhões de libras,
grande parte usada para pagar dívidas antigas.

Questão Platina

O Brasil tinha interesses platinos (na região platina). Entre seus objetivos estavam:

Garantir o direito de navegação pelo rio Prata, formado pela junção dos rios Paraná e Uruguai (o único acesso
para a província do Mato Grosso, na época);
Impedir que vaqueiros uruguaios atravessassem as fronteiras brasileiras e atacassem as fazendas gaúchas;
Impedir que a Argentina anexasse o Uruguai.

Os interesses na região platina levaram o Brasil a participar de três guerras: contra Oride e Rosas
(presidente do Uruguai) e a Guerra do Paraguai.

Intervenção contra Oribe e Rosas (1851-1852)

Após a formação da Republica Oriental do Uruguai (1828), foram organizados nesse país dois partidos: o
Partido Blanco, liderado por Manuel Oribe, que representava os criadores de gado e era ligado aos argentinos; e o
Partido Colorado, por Frutuoso Rivera, que representava os comerciantes de Montevidéu e era ligado aos
brasileiros.
As primeiras eleições uruguaias foram vencidas por Frutuoso Rivera, em 1828, e seu governo não afetou os
interesses brasileiros. Mas, em 1834, a situação política uruguaia se inverteu. O líder do Partido Blanco venceu as
eleições e, ao assumir o poder, uniu-se ao presidente da Argentina a, Juam Manuel Rosas, que pretendia anexar
o Uruguai ao território argentino.
A união entre Oribe e Rosas prejudicava os interesses brasileiros na região platina. Os brasileiros diziam
que os “Blancos” desrespeitavam as fronteiras do Rio Grande do Sul e provocavam conflitos com os fazendeiros
gaúchos.
O Brasil resolveu intervir militarmente para garantir seus interesses econômicos e políticos.
Aliou-se ao “colorado” Rivera e conseguiu derrubar Oribe do poder em 1851, pela luta armada. O presidente
argentino Rosas, percebendo no conflito uma boa oportunidade para realizar seu plano de anexão do Uruguai
resolveu apoiar Oribe na guerra.
No entanto, algum tempo depois, as províncias argentinas Entre Rios e Corrientes organizaram uma revolta
contra Rosas. Aproveitando-se da situação, o governo brasileiro apoiou a luta dessas províncias, comandada pelo
general argentino Urqiza.
Oribe, presidente do Uruguai, foi derrotado com a ajuda das tropas brasileiras, comandadas por Caxias,
Enquanto isso, na Argentina, Rosas também foi derrotado pelas tropas do general Urqieza, apoiadas pelas tropas
brasileiras (1852). Depois da vitória, Urquiza assumiu o poder em seu país.
Guerra do Paraguai ou da Tríplice Aliança

Guerra que opôs, entre 1864 e 1870, de um lado o Brasil, a Argentina e o Uruguai, formando a Tríplice
Aliança e do outro o Paraguai.
O equilíbrio na região platina sempre foi buscado pelos países que a compunham, de forma a evitar que um
deles detivesse poder acessivo na região.
O conflito teve inicio quando as relações entre o Brasil e o Uruguai chegaram a um ponto critico, devido a
constantes choques fronteiriços entre estancieiros uruguaios e rio-grandenses.
Apoiado pelo presidente paraguaio Francisco Solano López, o presidente uruguaio Atanásio Aguirre recusou
as exigências brasileiras de reparação formuladas pelo enviado especial José Antonio Saraiva.
Quando os brasileiros sentiram Montevidéu, terminado por derrubar Aguirre, Lopez invadiu a província de
Mato Grosso, tornando Nova Coimbra e Dourados e logo depois a província Argentina de Corrientes, visando
chegar a seus aliados uruguaios.
Em conseqüência, foi assinado um 1º de maio de 1865 o Tratado da Tríplice Aliança contra o Paraguai.
Os aliados conseguiram, em 1865, a vitória naval da batalha do Rio Riachuelo e a rendição dos paraguaios
que haviam chegado a Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
Tomando a ofensiva, sob o comando de Bartolomeu Mitre, presidente argentino, os aliados venceram as
batalhas de Passo da Pátria e Tuiuti (1866). Quando o então marquês de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva,
assumiu o comando, a fortaleza de Humaitá foi conquistada (1867).
Lòpez retirou-se para mais próximo de Assunção, onde acabou derrotado nas batalhas da “dezembrada”
(1868): Avaí, Itororó e Lomas Valentinas.
Assunção caiu e a última fase da guerra foi comandada pelo conde d’Eu, encerrando-se com a morte de
Lopes um Cerro Corá (1870).
A guerra acarretou dificuldades para os contendores ,o Paraguai, que teve grandes perdas em vidas e
recursos.
D’Eu, Luis Felipe Gastão de Orléans, conde (1842-1922), príncipe imperial e general do exército brasileiro,
nasceu um Newilli, França, a 28 de abril de 1842, erá neto do rei francês Luís Felipe.
Casado a partir de 1864, com a princesa Isabel, foi comandante-em-chefe do exército aliado na última fase
da Guerra do Paraguai, vencendo as batalhas de Peribibuí Campo Grande.
Em 1889, quando da Proclamação da República, foi banido do País juntamente com a família Imperial.

 A Guerra do Paraguai

A região formada hoje pelo sul do Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai foi cenário de numerosos confrontos
armados ao longo de sua história. Nos séculos XVII e XVIII foi disputada por espanhóis e portugueses, em
conflitos que envolveram principalmente os Sete Povos das Missões e a Colônia do Sacramento.
Após sua independência, em 1828, o Uruguai deveria ser um país neutro entre o Brasil e a Argentina.
Entretanto, em 1839, os presidentes Manuel Oribe, do Uruguai, e Juan Manuel Rosas, da Argentina, firmaram uma
aliança que rompeu esse equilíbrio em favor dos
argentinos. Ora, o Brasil tinha interesses na região, envolvendo investimentos no Uruguai e a navegação pela
bacia dos rios Paraná-Paraguai.
Sentindo-se prejudicado, o governo brasileiro aliou-se ao do Paraguai e aos adversários internos de Rosas, na
Argentina, e de Oribe, no Uruguai, e, em 1851, declarou guerra à Argentina. Depois de derrotar Oribe, forças
brasileiras derrubaram Rosas em 1852. Assim, aliados do Brasil assumiram o poder no Uruguai e na Argentina e a
livre navegação foi estabelecida nos rios Paraná e Paraguai.
Entretanto, o precário equilíbrio da região seria novamente quebrado na segunda metade do século XIX por
uma aventura militar de proporções gigantescas: a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Ao começar o conflito, o Paraguai era o país latino-americano que menos dependia de capitais externos para
se desenvolver. José Gaspar Rodríguez de Francia, seu presidente entre 1813 e 1840, transformou latifúndios em
fazendas do Estado, diversificou a economia, criou indústrias e estabeleceu o monopólio estatal do comércio
exterior. Seus sucessores, como Francisco Solano López, que assumiu a presidência em 1862, mantiveram e
ampliaram essa política.

Surgiam assim, na América do Sul, dois modelos de desenvolvimento bem diferentes. Um deles era o de
nações como o Brasil e a Argentina. Esses dois países não alteraram sua estrutura econômica depois que se
tornaram independentes — o Brasil, por exemplo, não aboliu a escravidão. Já o modelo paraguaio se baseava em
uma política econômica independente e em reformas sociais as terras da Igreja, por exemplo, foram confiscadas;
com elas, o governo criou fazendas estatais.

Até 1862, o Paraguai se manteve mais ou menos alheio às disputas que envolviam a região do Prata. Nesse
ano, Solano López assumiu a Presidência e imprimiu um novo rumo à política externa de seu país. A partir de
então, o Paraguai passou a acompanhar de perto toda mudança ocorrida na região.
Em 1864, o Brasil invadiu o Uruguai
com o objetivo de colocar no poder Venâncio Flores, líder dos colorados, facção política que se opunha ao
governo
do presidente Atanásio Aguirre, do partido blanco.
Indignado com a intervenção, Solano López, que apoiava os blancos, rompeu relações com o Brasil e invadiu
Mato
Grosso e duas províncias argentinas. Era o começo do maior conflito envolvendo
países sul-americanos.

Contra as ações de Solano López, Brasil, Uruguai e Argentina assinaram o Trotado da Tríplice Aliança, em
maio de 1865. O acordo estava pronto meses antes das ações de Solano López e estabelecia a incorporação de
terras paraguaias ao Brasil e à Argentina. A Tríplice Aliança contava com a ajuda militar e financeira da Inglaterra.

A guerra terminou em 1870, com a morte de Solano López e a vitória da Tríplice Aliança. Mas desde janeiro de
1869 o general brasileiro Luís Alves de Lima e Silva, que logo se tornaria duque de Caxias, ocupava Assunção, a
capital paraguaia, à frente das tropas aliadas.

Ao final do conflito, o Paraguai estava arrasado: 96% dos homens e 55% das
mulheres haviam morrido. De seus 800 mil habitantes, restavam apenas 194 mil.
s terras que pertenciam a pequenos produtores foram vendidas a estrangeiros, e passaram a cobrar para que os
antigos nos pudessem trabalhar nelas.

Mas o principal vencedor da guerra


acabou sendo a Inglaterra, que manteve o domínio econômico sobre a região sem se envolver na luta. Brasil e
Argentina conseguiram as terras paraguaias pretendidas - 140 mil km2, mas aumentaram sua dependência em
relação à Inglaterra.

Os empréstimos brasileiros, adquiridos de bancos ingleses, subiram gradativamente, passando de 3 milhões de


libras em 1871 para quase 20 milhões em 1889. Para o governo de dom Pedro II, significaria ainda o declínio de
sua popularidade e o aumento da oposição, com os movimentos abolicionista e republicano ganhando as ruas.

 Decadência e queda da Monarquia

Por volta de 1840, a incipiente indústria brasileira lutava com enormes dificuldades para se afirmar. Entre os
muitos obstáculos, destacava-se a falta de um mercado consumidor para produtos nacionais. Afinal, durante
quase todo o período colonial a indústria fora proibida. Além disso, a partir da abertura dos portos, em 1808, tarifas
alfandegárias privilegiadas passaram a permitir a entrada de produtos estrangeiros a preços baixos, sobretudo os
de origem inglesa. Caros e de baixa qualidade, os artigos brasileiros tinham dificuldades para conquistar a
pequena camada consumidora da população.
Mas existiam também outros obstáculos, entre os quais:

 A deficiência de energia, pela qualidade inferior do carvão nacional e pelas condições precárias de sua
exploração;
 A insuficiência de produtos siderúrgicos, dadas as dificuldades de exploração das reservas de ferro;
 O tamanho e a dispersão do mercado consumidor, já que a população era escassa e mal distribuída pelo
território nacional, com baixo padrão de vida e poder aquisitivo.

 Dois surtos industriais

Apesar de todas essas dificuldades, em meados do século XIX alguns fatos possibilitaram a ocorrência de um
pequeno surto industrial no país. Em primeiro lugar, a industrialização foi favorecida pela dificuldade do país em
pagar importações de manufaturados. Isso propiciou a aprovação das Tarifas Alves Branco, em 1844, que
elevaram as taxas de importação para 30%, e até para 60% no caso de alguns produtos. As novas tarifas
funcionaram como barreira protecionista e tornaram os produtos nacionais mais competitivos no mercado interno.
A existência de mão-de-obra farta e barata contribuiu para que os custos de produção fossem baixos. Além
disso, o aumento da produção de algodão estimulou o desenvolvimento da indústria têxtil, que se tornaria em
pouco tempo a mais significativa do país.
A proibição do tráfico de escravos, em 1850, foi outro fato importante nesse processo. Em torno dessa
atividade, concentravam-se vultosas somas de capitais que, com a proibição, puderam ser redirecionadas para
atividades produtivas. Entretanto, parte desse capital foi também deslocado para a importação de produtos
europeus, aumentando a concorrência.
Na última década do Império ocorreu um surto considerável de industrialização. Ele foi possível porque parte
dos lucros obtidos na produção e, sobretudo, na
comercialização do café passou a ser investida na instalação de fábricas e na importação de trabalhadores
assalariados de origem européia.
Por essa época, o número de estabelecimentos industriais saltou de 200 em 1881 para mais de 600 em 1889.
De cada cinco investimentos no setor, três se orientavam para a indústria têxtil; vinham em seguida os setores da
alimentação e de produtos químicos, além de outros menos importantes.

 A escravidão chega ao fim

A tradição do trabalho servil era tão forte durante o período colonial que a escravidão era considerada
indispensável para a prosperidade do país. Foi principalmente a partir da independência que começou a se
desenvolver uma consciência antiescravista em setores da população. Sob a influência das idéias iluministas,
muitas pessoas pensavam que não era possível construir uma nação verdadeiramente livre conservando a
escravidão. Ao mesmo tempo, na primeira metade do século XIX, cresciam as pressões internacionais pelo fim do
tráfico negreiro.
Ironias da História. A Inglaterra, maior traficante de escravos até fins do século XVIII, aboliu a escravidão em
suas colônias em 1833 e transformou-se em grande defensora do fim do comércio de seres humanos. Suas
razões, além daquelas ditadas pelo processo civilizatório, tinham fundo predominantemente econômico.
Consolidado com a Revolução Industrial, o capitalismo tinha interesse em mercados consumidores sempre mais
amplos. Isso só seria conseguido onde existissem trabalhadores assalariados, já que escravos não recebem por
seu trabalho e, portanto, nada podem comprar.
A pressão inglesa se abateu então sobre o Brasil, maior comprador de escravos da época. Em 1831, a
Assembléia-Geral (o Parlamento brasileiro) aprovou uma lei pela qual os africanos que entrassem no país a partir
daquele ano seriam considerados livres. Mas os proprietários rurais não tomaram conhecimento dela. Sem
aplicação prática, a lei tornou-se, literalmente, "para inglês ver".
A Inglaterra, porém, não se deixou enganar. Em 1845, o Parlamento inglês aprovou o Bill Aberdeen, que
autorizava a esquadra britânica a prender navios negreiros e julgar seus tripulantes como piratas. O Brasil
protestou energicamente, pois se tratava de ato unilateral. Mas em 1850, cedendo às pressões inglesas, a
Asembléia-Geral votou a Lei Eusébio de Queirós, que extinguia o tráfico negreiro. As cifras do vergonhoso
comércio despencaram. Até 1850, o Brasil importava, em média, 50 mil escravos por ano. Era o maior negócio
brasileiro da época, representando metade de todas as importações. Em 1852, os africanos que entraram
legalmente no país não passaram de setecentos.
Entretanto, ainda seria preciso esperar 38 anos pela abolição completa da escravidão. Era forte a resistência
de grande parte dos proprietários rurais, cujas lavouras dependiam do braço escravo. A partir de 1860, a pressão
da opinião pública nas principais cidades brasileiras aumentou com a realização de campanhas e debates na
imprensa. Em 1865, com a abolição nos Estados Unidos, só dois países ocidentais mantinham a escravidão: Cuba
e Brasil.
Depois da Guerra do Paraguai, que terminou em 1870, a emancipação dos escravos virou questão de honra
nacional. Durante o conflito formaram-se corpos de tropas compostos apenas de escravos, mobilizados sob a
promessa de liberdade após a guerra. Esses corpos integravam os Voluntários da Pátria, pelotões criados às
pressas para reforçar as fileiras do exército, inferior em número ao exército paraguaio. Nos campos de batalha, os
escravos mostraram tanto valor e coragem quanto os homens livres, conquistando respeito e admiração.
Com o aumento do movimento abolicionista, começaram a surgir associações que ajudavam os escravos a
fugir das fazendas, quebrando a disciplina nas senzalas. Uma dessas organizações era a Ordem dos Caifazes,
criada em São Paulo em 1882. Constituída por intelectuais, estudantes e advogados, a Ordem dos Caifazes
mantinha uma rede de apoio aos escravos fugitivos, encaminhando-os ao Quilombo do Jabaquara, no litoral da
província.
Em resposta à pressão dos abolicionistas, em 1871 a Assembléia-Geral aprovou a Lei do Ventre Livre,
declarando livres os filhos de escravas nascidos a partir daquela data. Mais de uma década depois, em 1885, foi
aprovada a Lei dos Sexagenários, emancipando os escravos maiores de 60 anos. Os abolicionistas a
consideraram brincadeira de mau gosto, pois a vida útil do escravo adulto era em média de dez anos e, portanto,
haveria muito poucos acima dessa idade.
Em 13 de maio de 1888, finalmente, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão. Comportava
apenas dois artigos:

Art. 1° — É declarada extinta a escravidão no Brasil.


Art. 2° — Revogam-se as disposições em contrário.

Durante muito tempo, a abolição foi apresentada como gesto solitário de uma princesa generosa e humanitária.
Hoje sabemos que ela foi produto da conjugação de vários processos político-sociais, entre eles:

 As rebeldias escravas, manifestas desde o início da escravidão, na forma de fugas ou de movimentos


organizados, como a Rebelião dos Males, em 1835;
 A escassez de escravos após a extinção do tráfico, que fez subir seu preço a tal ponto que só começavam a
dar lucro depois de vários anos de trabalhos prestados;
 As campanhas abolicionistas, que deram lugar ao aparecimento de duas correntes: a moderada, à qual
pertenciam Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, favorável a uma campanha sem muita participação popular, à
base de debates e legislação "emancipadora"; e a radical, do ex-escravo Luís Gama, de Silva jardim e Raul
Pompéia, que chegou a pregar a rebelião dos escravos contra os senhores.

Entretanto, a abolição não foi acompanhada de outras medidas que garantissem aos ex-escravos condições
mínimas de sobrevivência, como uma reforma agrária que lhes permitisse o acesso a terra. Libertos do jugo da
escravidão, mas abandonados à própria sorte, muitos ex-escravos foram forçados a deslocar-se para a periferia
das grandes cidades. Outros continuaram a trabalhar nas fazendas de seus antigos senhores em troca de
baixíssimos salários.

 A situação dos negros após a abolição

Com a abolição, os ex-escravos conquistaram formalmente os direitos concedidos pela Constituição, passando
a ser considerados cidadãos. A Lei Áurea, entretanto, não foi acompanhada de medidas que permitissem a eles
exercer de fato esses direitos.
Entre as medidas que deveriam acompanhar a Lei Áurea, reivindicadas por abolicionistas como André
Rebouças estavam a reforma agrária — que possibilitaria aos ex-escravos o exercício do direito à propriedade,
assegurado pela Constituição — e a reforma do ensino, que garantiria a todos o acesso à instrução primária —
como também prometia a Constituição.
Tais medidas não chegaram sequer a ser cogitadas pelas elites que detinham o controle dos poderes
Executivo, Legislativo e judiciário. Na verdade, a mentalidade escravista continuava viva no interior das
instituições, tanto no Império quanto, mais tarde, na República.
Impregnava também as relações sociais, conservando e reproduzindo a discriminação racial e o desprezo
pelas pessoas de origem negra.
Dessa forma, ao conquistar a liberdade, os ex-escravos não ingressaram em um mundo de igualdade de
oportunidades. Discriminados e relegados, em sua maioria, à exclusão social, eles continuam a lutar ainda hoje
pelo reconhecimento pleno de seus direitos de cidadania.

 O começo da imigração

A abolição colocou em xeque a estrutura social do Império, baseada no trabalho escravo. Prevendo esse
desfecho, alguns cafeicultores do Noroeste e do Oeste da província de São Paulo procuraram reorganizar a
atividade produtiva em suas fazendas por meio da substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado de
imigrantes europeus. O pioneiro nessa prática foi o senador Nicolau de Campos Vergueiro. Entre 1847 e 1857,
Vergueiro organizou a vinda de 177 famílias alemãs, suíças, portuguesas e belgas para sua fazenda de Ibicaba,
no interior de São Paulo (veja boxe a seguir).
Coincidentemente, no ano da abolição o número de imigrantes no Brasil deu um salto, passando de 55 mil em
1887 para 133 mil em 1888, estimulado pelo aumento da produção cafeeira. A partir da abolição, e até o fim do
século, o número anual de imigrantes que entraram no Brasil, em sua maioria italianos e portugueses, seria
sempre superior a 100 mil. Metade deles se fixaria no estado de São Paulo.

 Os últimos dias do Império

A chegada dos imigrantes, o desenvolvimento das cidades e o surto industrial estimularam o surgimento de
uma classe média constituída de profissionais liberais, pequenos comerciantes e industriais, militares e
funcionários públicos civis. A Guerra do Paraguai fez crescer a presença política dos militares, influenciados por
idéias republicanas e abolicionistas. Os novos grupos sociais teriam influência decisiva no movimento pela
mudança do regime político.
A partir do século XVIII, as idéias republicanas sempre foram bem recebidas no Brasil. Elas apareceram já
durante a Guerra dos Mascates (Pernambuco, 1710). Ganharam vigor na Inconfidência Mineira (1789) e na
Conjuração Baiana (1798). Afirmaram-se na Revolução Pernambucana (1817) e na Confederação do Equador
(Pernambuco e outras províncias nordestinas, 1824). Voltaram a florescer no período regencial com a Guerra dos
Farrapos (Rio Grande do Sul, 1835-1845). Mas foi na fase final do Segundo Reinado que a tese de um governo
republicano passou a ser defendida de forma sistemática em quase todo o país, principalmente a partir da
publicação do Manifesto Republicano, em 1870.
Alguns fatos e processos sociais minaram as bases de sustentação do Império e estimularam a propagação do
ideal republicano depois da Guerra do Paraguai. Entre eles:

 A Questão Religiosa — disputas entre a Igreja e o Estado;


 A Questão Militar — conflito entre a oficialidade do Exército e o governo imperial;
 Aa abolição do trabalho escravo e o desenvolvimento econômico.

 Questão Religiosa

A Constituição de 1824 assegurava a união entre Igreja e Estado. Por ela, o imperador era quem nomeava os
bispos, com aprovação posterior do Vaticano. O Estado era também responsável pelo pagamento de salários aos
padres. Esse sistema era conhecido como padroado.
Em 1872, os bispos de Olinda e Belém determinaram que as irmandades religiosas expulsassem de suas
fileiras pessoas ligadas à maçonaria. O imperador
ordenou o cancelamento da medida. Os bispos se recusaram a cumprir a ordem, foram presos e condenados a
trabalhos forçados. Apesar da anistia decretada
em 1875, as relações Igreja-Império se deterioraram, e alguns padres passaram a apoiar a causa da República.

 Questão Militar

Entre os militares, o ideal republicano se propagou graças a Benjamin Constant, seguidor do filósofo francês
Auguste Comte. Comte foi o fundador do positivismo, doutrina que, em política, defendia a instalação de uma
República centralizada e forte. Ao mesmo tempo, muitos oficiais também passaram a acusar o governo de dar
pouca importância aos militares.
Em 1883, alguns oficiais do exército, liderados no Rio de janeiro pelo tenente-coronel Sena Madureira,
atacaram pela imprensa um projeto de reforma do montepio militar em tramitação na Assembléia-Geral. O projeto
foi arquivado, mas o governo proibiu manifestações de militares pela imprensa.
No ano seguinte, Sena Madureira manifestou apoio a um jangadeiro cearense que se recusou a transportar em
sua jangada escravos para um navio negreiro. Como punição, o governo o transferiu para o Rio Grande do Sul.
Em 1886, Sena Madureira publicou um artigo sobre o episódio no jornal republicano A Federação. O ministro da
Guerra exigiu sua punição.
Em Porto Alegre, o marechal Deodoro da Fonseca, presidente e comandante militar do Rio Grande do Sul,
recusou-se a punir Sena Madureira. A resposta do governo foi destituí-lo da presidência e do comando militar da
província. Deodoro voltou ao Rio, onde foi recebido em triunfo por militares e republicanos. Assinou então violento
manifesto escrito por Rui Barbosa em defesa do Exército. Para contornar a crise, o governo cancelou as punições.

 A proclamação da República

A grande base de sustentação do Império eram os donos de terras e escravos. Com a abolição, a monarquia
perdeu essa força de sustentação. A campanha abolicionista havia agitado o país de norte a sul e, interligando-se
com a campanha republicana, desmoralizou as autoridades imperiais, cujo poder desmoronava.
Ao lado disso, a industrialização e a expansão do café produziram novos grupos sociais desejosos de
participação política. Um desses grupos eram os novos cafeicultores do noroeste e do oeste paulista, que lutavam
por maior autonomia para as províncias. Afirmavam que somente com a República isso seria possível. Havia ainda
os empresários e as classes médias urbanas, que também queriam a República.
Após o lançamento do Manifesto Republicano, surgiram clubes e jornais antimonarquistas em todo o país.
Em 1873, os republicanos de São Paulo realizaram a Convenção de Itu. Da reunião surgiu o Partido
Republicano Paulista (PRP).
A partir de então, a campanha contra a monarquia cresceu rapidamente, ganhando força irresistível depois de
1880, quando já existiam mais de 180 clubes republicanos no país. Faltava o empurrão final. Esse seria dado
pêlos militares. Em 11 de novembro de 1889, diversos republicanos, entre os quais Rui Barbosa, Benjamin
Constant e Quintino Bocaiúva, reuniram-se com o marechal Deodoro da Fonseca para tentar convencê-lo a liderar
o golpe final contra a monarquia. Deodoro hesitava, jovens oficiais, entretanto, espalharam boatos sobre uma
suposta ordem de prisão contra o próprio Deodoro e líderes republicanos.
A falsa informação acabou por influenciar a decisão do marechal que, em 15 de novembro, assumiu o comando
das tropas do Rio de janeiro e ocupou o Ministério da Guerra. Algumas versões afirmam que, nesse momento,
Deodoro proclamou a República. Outras asseguram que apenas destituiu o ministério. Seja qual for a versão
verdadeira, o certo é que a monarquia já não existia mais. A República era agora um fato consumado.

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