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São Paulo, maio de 2008

Um Jornal e a produção da notícia


POR EDUARDO GARCIA C. DO AMARAL também, como em qualquer jornal
moderno que queira de modo
A Secretaria de Educação, diante das
“didático” dar-se credibilidade.
avaliações que fez através do
Enfim, haveria textos de vários
SARESP1 e verificando que em geral
gêneros discursivos (necessários
há um desempenho insatisfatório
para o desenvolvimento da leitura
dos alunos no que se refere às capa-
“competente”, como se diz) e
cidades de ler e escrever, bem como
variados dados estatísticos,
de realizarem raciocínios lógico-
quantitativos ou qualquer coisa
matemáticos, decidiu elaborar um
assim, cuja interpretação mereça
material, em formato de jornal, a ser
ser trabalhada matematicamente.
distribuído para todos os alunos, da
5ª série até o ensino médio, com Poderíamos até imaginar como
várias atividades que, em princípio, lidar com um jornal em sala de
incidiriam sobre tais capacidades, a aula. Ainda que se tratasse de uma
fim de recuperá-las e/ou desen- imitação de jornal, mas que
volvê-las. Como um esforço de “re- mantivesse a linguagem que lhe é
cuperação intensiva”, o jornal traz o própria, essa seria uma importante
conteúdo a ser ministrado em cada iniciativa de incentivo da leitura,
uma das disciplinas, aula por aula, desde que fosse um material
para as primeiras seis semanas do ano letivo. referenciado na experiência real de leitura de um jornal.
Seria, além disso, uma importante experiência educativa
À primeira vista, a iniciativa mereceria aplauso. É o reco-
poder arrancar algum conhecimento partindo de matérias
nhecimento da Secretaria de que as coisas não vão bem na
jornalísticas ou, o que me parece mais importante,
escola pública e que não se pode deixar as coisas como
elaborar com os alunos uma leitura crítica de um jornal,
estão. Além disto, não se trata de uma iniciativa isolada –
compreender a forma em que os textos são escritos, saber
mas faz parte de um conjunto de medidas que a Secretaria
como a informação é produzida e criada, assumindo um
vem anunciando e, com efeito, executando. Pois além do
ponto de vista nem sempre declarado. Saber enfim quais
jornal, a Secretaria também definiu um novo currículo
os critérios que entram em jogo para que um jornal forje
para toda a rede de ensino, de modo a padronizar os con-
para si mesmo sua “credibilidade”.
teúdos e os tempos em que estes conteúdos são ministra-
dos em toda a rede, a fim de garantir a todos os alunos o Portanto, não para tomarmos a informação jornalística de
seu ensino. Mais do que isto, assim definiu também “ex- modo passivo, mas refletindo, analisando, criticando o que
pectativas de aprendizagem”, o que se espera que os está escrito, esse seria um importante meio de educar
alunos assimilem e, portanto, o que os professores para a cidadania, como se costuma apregoar por aí. Por
ensinem. Tudo parece nos conformes do que se espera de que não? Pelo simples motivo de que governos, poderosos
uma gestão eficiente na educação, que zele pela qualidade e a mídia usam de todos recursos “jornalísticos” para
de ensino. São medidas de impacto, se não no dia-a-dia das manter todos sob seu controle, isto é, o controle que
salas de aula e na aprendizagem dos alunos, seguramente exercem sobre a formação da opinião pública. Aprender
impactam sobre a opinião pública de modo positivo, na escola oficial a ler um jornal sem lhe dar credibilidade
sobretudo quando recebem grande apoio da mídia. passiva, mas exercer sua leitura crítica, seria colocar a
educação em marcha contra a ordem vigente, contra uma
“O JORNAL NÃO É UM JORNAL”
das formas em que o exercício de poder se dá.
Antes de prosseguir, porém, quero desfazer aqui um mal Obviamente, não foi esta a opção adotada.
entendido. O jornal não é um jornal. Para que fosse um
MAIS DO MESMO
jornal, não lhe basta ter o tamanho (bastante incômodo,
aliás) de um jornal. Em um jornal, haveria editorial, Se o “jornal” não é um jornal, o que ele é? Nada mais do
editorias, reportagens, artigos de opinião e até mesmo que uma mera apostila, um “recurso didático” que nada
crônicas e curtos ensaios. Haveria gráficos e tabelas tem de novo, como se quer fazer crer. Entretanto, a adoção
de outro material já previamente existente (uma apostila
1 ou um livro didático, por ótimos que fossem) não teria a
SARESP, Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo. Os resultados a que fazem menção são referentes à prova realizada mesma repercussão “publicitária” como a que foi
em 2005.
alcançada pela iniciativa. O que se quer é ter impacto Secretaria conseguiu melhorar a qualidade da educação,
positivo na opinião pública, de uma gestão eficiente, sem precisar tomar nenhuma medida que resultasse em
competente e inovadora, que produziu ela mesma um melhoria salarial, melhores condições de ensino, nem
material excelente para alcançar os resultados que se nada disso.
esperam.
Como fazer? Ora, se os alunos têm um certo desempenho
Grosseiramente falando, desde que tudo dê certo, eis uma no SARESP quando as provas são feitas sem que os alunos
estratégia de campanha publicitária, que visa desde já tomem conhecimento prévio do que será pedido a eles,
alguma vantagem eleitoral nas próximas eleições, para os uma prova sobre o Jornal já deixa claro qual o conteúdo
correligionários do governo estadual, ou para as eleições que lhes será solicitado. Estatisticamente, é certo que o
que virão depois, para o próprio governador José Serra desempenho médio dos alunos tende a melhorar – ainda
que não esconde de ninguém seu desejo de tornar-se que por mera repetição do que eles viram em sala de aula
presidente da República. Não é ao acaso que, sem (ainda que não tenham aprendido); parece bastante
nenhuma necessidade pedagógica, o Jornal traga provável que possam demonstrar os efeitos positivos de
estampado na capa o nome governador e da Secretária da tão genial iniciativa. Onde estaria o problema, se não na
Educação. incapacidade dos professores de planejarem suas aulas?
AFINIDADE DE DISCURSOS Adotar uma política de avaliação, tal como foi
implementada – com imposição de conteúdos, seqüências
Por outro lado, este discurso vem acompanhado de outro,
didáticas preestabelecidas e uma “prova” como
que já vem de há algum tempo e com jeito de campanha
coroamento do processo, aferindo os resultados – faz das
sistemática e contínua contra os professores, também com
aulas um processo de adestramento dos alunos para este
grande eco na mídia, que é o discurso da “desmoralização
tipo de prova; adestrando-os, seguramente melhorarão
do magistério”: é veiculado que o grande problema da
seu desempenho. Isto certamente provarão as estatísticas.
educação nacional é a má formação dos professores,
individuando as responsabilidades pelo “fracasso Certamente, também, os resultados positivos ganharão as
educacional brasileiro”. Quando não é a má formação a manchetes dos jornais, revistas, mídia. A produção da
única responsável, querem fazem crer que os professores notícia, dela fazemos parte todos. Também os alunos. Os
agem também de má-fé: são faltosos, irresponsáveis, dados serão produzidos para confirmar nossa
descompromissados. incapacidade docente (ou a superação dessa incapacidade,
a título de “colaboracionistas”) e a eficácia dos gestores, da
Ocorre que, entre o discurso da gestão eficiente e o
Secretária, do governador.
discurso da má formação e má-fé dos professores, há uma
afinidade que poderia passar desapercebida. Um discurso Caso contrário, se tudo der errado e os dados produzidos
reafirma ou confirma os termos em que o outro se dá. – permanecerem sofríveis, a campanha de desmoralização
Não será necessário, portanto, examinar o conteúdo do dos professores será intensificada. E em ambos os casos,
jornal em detalhe para a crítica. quem perde é a educação pública paulista.
Trata-se de demonstrar que os professores são
incompetentes e que, com a iniciativa do tal jornal, a

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