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Luís Faria
Contraditório
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e-mail: info@contraditorio.pt
As opiniões expressas no artigo são da inteira responsabilidade do(s) autor(es) e não coincidem
necessariamente com a posição do Contraditório.
O Contraditório é uma associação sem fins lucrativos, independente e sem qualquer vínculo
político-partidário, que tem como missão divulgar boas práticas e propor soluções inovadoras.
Acreditamos que a liberdade cria espaço para a criatividade, o mérito e a responsabilidade. O
Contraditório assume a sua missão com coragem e confiança, sem medo e sem favor.
RESUMO
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
Índice
Introdução ............................................................................................................... 5
1. Breve análise histórica ........................................................................................ 7
1.1. Portugal e o euro: A última década (perdida) .............................................. 7
1.2. Esqueçam a ciência, sintam a dor .............................................................. 13
2. Estratégia de saída............................................................................................. 14
2.1. A vitória da crença sobre a evidência: O estímulo à loucura..................... 14
2.2. À mesa do Orçamento de Estado ............................................................... 18
2.3. Outras estratégias, sem saída...................................................................... 20
2.3.1. A desvalorização do euro e a perda de independência do Banco Central
Europeu ......................................................................................................... 20
2.3.2. Os resgates recorrentes e a insignificância dos Tratados .................... 23
2.3.3. Culpar o canário ou disparar sobre o emissário? ................................ 25
3. “Alguma coisa” ou o futuro da zona euro......................................................... 26
3.1. Das sanções inócuas aos planos dirigistas: O “governo económico
europeu” ............................................................................................................ 27
3.2. Cenários possíveis...................................................................................... 34
4. Recomendações de Política............................................................................... 37
4.1. Os desafios do crescimento: o longo prazo existe ..................................... 42
Conclusão.............................................................................................................. 46
Referências............................................................................................................ 48
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“Read not to contradict and confute, nor to believe and take for granted, nor to find talk
and discourse, but to weigh and consider”,
Sir Francis Bacon
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Introdução
"We chose to focus on growth because we think that it is a necessary condition for the
achievement of a wide range of objectives that people and societies care about. One of
them is obviously poverty reduction, but there are even deeper ones. Health, productive
employment, the opportunity to be creative, all kinds of things that really matter to people
seem to depend heavily on the availability of resources and income, so that they don’t
spend most of their time desperately trying to keep their families alive."1
A história pode não repetir-se, mas rima. Esta frase de Mark Twain podia ter
sido escrita a pensar na actual crise da zona euro. Taxas de juro baixas,
alavancagem excessiva, má gestão e supervisão ineficaz, relembram-nos a bolha
do mercado imobiliário norte-americano e a consequente crise financeira. A
história da crise da zona euro não é muito diferente: as baixas taxas de juro de que
os países do Club Med2 beneficiaram com a adesão ao euro permitiu-lhes contrair
crédito barato e muito para além da sua capacidade económica. O Programa de
Estabilidade e Crescimento (PEC) foi continuamente violado e a sua anódina
supervisão e os “estímulos orçamentais oportunos, centrados em objectivos
específicos e de carácter temporário” tiveram como resultado as dívidas públicas e
os défices orçamentais com que hoje nos confrontamos.
São muitas as semelhanças entre a crise de dívida e défice públicos que
atravessamos e a mais recente crise de subprime: os excessos, públicos e privados,
provocaram bolhas prontas a rebentar.
1
Commission on Growth and Development, The Growth Report Strategies for Sustained Growth
and Inclusive Development, The International Bank for Reconstruction and Development/The
World Bank, 2008
2
Portugal, Espanha e Grécia
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
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Gráfico I
Crescimento PIB - Portugal
1
% PIB
-2
-3
-4
-5
Gráfico II
Taxas de Juro e Dívida Pública - Portugal
30 100
90
Taxas de Juro Nominais de Longo Prazo
25
80
70
20
Dívida Pública
(percentagem)
60
(% PIB)
15 50
40
10
30
20
5
10
0 0
1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013
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Gráfico III
Necessidade líquida de financiamento de Portugal
em relação ao resto do mundo (% do PIB)
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
0
-2
-4
-6
-8
-10
-12
O potencial impacte positivo que a redução das taxas de juro poderia ter tido
sobre o serviço da dívida pública foi desperdiçado com o aumento da dívida (v.
Gráfico II). Nos últimos 10 anos assistiu-se a uma divergência de Portugal em
relação à riqueza média dos 27 países da UE (v. Gráfico IV).
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Gráfico IV
PIB per capita (UE27=100)
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Fonte: Eurostat
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muitos consideram ser a “liturgia da UE”, não foi mais do que um processo de
supervisão, com recomendações claras, que não teve em Portugal a
implementação necessária.
“Quando foi atingida pela crise mundial, a economia portuguesa vivia há quase uma
década num clima de fraco crescimento económico, reflectindo a existência de
deficiências estruturais, nomeadamente uma baixa produtividade e um reduzido
crescimento potencial do PIB”
4
Comissão Europeia, Commission assesses the Portuguese stability programme, 3 Fevereiro 1999,
Bruxelas
5
Jornal Oficial da União Europeia, Parecer do Conselho sobre o Programa de Estabilidade
actualizado de Portugal para 2009-2013 (2010/C 144/02), 3 Junho 2010
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“ (…) será essencial acelerar o ritmo das reformas estruturais, com vista a aumentar o
crescimento potencial. Em especial no caso de Portugal, é importante empreender
reformas adicionais nos domínios da educação e da formação, da concorrência nos
sectores dos serviços e das redes, assim como obviar às deficiências do mercado do
trabalho”
-1
-2
-3
-4
-5
-6
-7
-8
-9
-10
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Depois de uma crise financeira que deu a justificação moral para uma política
de estímulos discricionária, inconsequente e ineficiente, implementada através de
um processo político6, Portugal segue novamente o mesmo caminho, ao tentar
reduzir o défice sem qualquer reforma estrutural que permita tirar o país do torpor
em que se encontra. Também em 1999-2000, em 2002-2003 e 2007-2008,
Portugal reduziu o défice para valores abaixo do limite máximo estabelecido no
PEC (3%), mas sem as necessárias reformas estruturais. Hoje, como ontem, a
necessidade de consolidação mantém-se. Nos dias de céu limpo os nossos
decisores políticos não vêem para além do seu nariz.
2. Estratégia de saída
6
Abram Bergson, antigo académico da Universidade de Harvard, concluiu através de uma aturada
investigação que o investimento de capital na antiga URSS tinha metade da eficiência encontrada
nos EUA. Esta foi uma das razões que levou ao colapso económico da URSS. Mas ainda há quem
insista em pensar que é o Estado que deve, discricionariamente, distribuir o dinheiro dos
contribuintes por grupos de interesse. Em 2009, por exemplo, o governo português distribuiu
apoios por determinados sectores da economia portuguesa no valor de, pelo menos, 1300 milhões
de euros e, em Março de 2010, foram concedidos apoios de mais 400 milhões de euros só para as
energias renováveis. Encher o salva-vidas com moribundos pode levar ao afogamento dos que têm
mais vitalidade e, no longo prazo, os custos são incalculáveis.
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7
Blanchard (1998)
8
Alesina e Ardagna (2010)
9
James M. Buchanan (1986)
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"High debt/GDP levels (90 percent and above) are associated with notably lower
growth” (…) “Over the past two centuries, debt in excess of 90 percent has typically been
associated with mean growth of 1.7 percent versus 3.7 percent when debt is low (under
30 percent of GDP)”15
10
Blanchard e Perotti (2002); Ramey (2009); Romer e Romer (2007); Alesina e Ardagna (1998);
Alesina e Ardagna (2010)
11
Relatório “Iniciativa para o Investimento e o Emprego”, Ministério das Finanças e da
Administração Pública, Janeiro 2009
12
Cálculos do autor
13
Saha e von Weizsäcker, Bruegel (2008)
14
Cogan, Cwik, Taylor, Wieland (2009)
15
Rogoff e Reinhart (2010)
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
Tabela I
Crescimento real do PIB de acordo com a variação da dívida pública
1851-2009
(variação percentual anual)
Dívida pública em percentagem do PIB
Abaixo de Entre 30% Entre 60% Acima de
30% e 60% e 90% 90%
Portugal 4.8 2.5 1.4 n.d.
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de Alesina e Ardagna (2010) demonstra que uma redução bem sucedida do défice
não deve limitar o crescimento económico. Esta “receita mágica” obtém-se
através da redução da despesa acompanhada de moderados cortes na carga fiscal e
menos regulação.
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deve ser “salva”? O Estado só deve intervir quando há uma clara falha de
mercado, devidamente identificada e sempre com um custo mínimo para os
contribuintes. Mas o que normalmente vemos é que as ajudas são distribuídas
selectivamente por determinados sectores, quase sempre os que têm mais “energia
política”16 ou os que são mais “audíveis”. Verifica-se então uma dispersão de
benefícios (por sectores, corporações…) e de custos concentrados (nos
contribuintes). Noutro contexto, obviamente, mas as palavras de Henry James
depois de ler algumas das descrições que recheavam as cartas de Lord Byron
adaptam-se perfeitamente a esta situação: "Nauseating perhaps, but how quite
inexpressibly significant".
Mas não tem de ser assim. O mercado tem mecanismos próprios de adaptação a
momentos difíceis, entre os quais a falência. Os privilegiados que sobrevivem
com apoios do Estado têm de aprender a ver a falência como uma oportunidade e
não como um beijo da morte. Alguns estudos académicos17 concluíram que os
subsídios reduzem o ritmo do processo de inovação e que o crescimento da
produtividade surge da destruição criativa, da destruição do antigo e da criação do
novo, tal como escrevera Schumpeter. Facilmente se conclui nestes estudos que,
por exemplo, subsidiar a investigação e o desenvolvimento de empresas
incumbentes não conduz a mais inovação, mas antes a mais lucros para essas
empresas.
Sem princípios de acção claros os governos sucumbem à pressão dos lóbis.
Cortar na despesa pública é retirar privilégios àqueles que habitualmente se
sentam à mesa do Orçamento de Estado. É natural que os ouçamos dizer que a
redução da despesa pública é sinónimo de recessão…
Por outro lado, Alesina e Drazen (1991) sugerem que em alguns casos apenas a
grave deterioração da economia pode levar à adopção de reformas estruturais,
devido aos elevados custos associados à inacção. Apenas quando adiar ou não
tomar a decisão acarreta custos superiores àqueles obtidos com a reforma é que
16
Tempo, organização, recursos financeiros…
17
Alesina e Giavazzi (2006)
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euro, sem que esta tendência criasse qualquer incentivo para que estes países
consumissem mais bens de países com os quais partilham a mesma moeda. É fácil
perceber a contradição.
Qualquer eventual vantagem para os sectores exportadores é eliminada pelo
risco inflacionista, devido ao aumento dos preços dos produtos importados,
sobretudo o petróleo, e as desvantagens que a volatilidade da taxa de câmbio traz
para o planeamento das empresas.
Nem colocaríamos esta hipótese como estratégia, mesmo sem saída, de tão
irrealista que é, não fora a actuação do Banco Central Europeu (BCE) nas últimas
semanas lançar algumas dúvidas sobre o seu comportamento. A compra de títulos
de dívida grega pôs em causa a imagem de independência e credibilidade que
caracterizavam o BCE. Há muito que o BCE é pressionado pelos países menos
competitivos da zona euro para desvalorizar o euro e, dessa forma, “colocar o euro
ao serviço do crescimento e do emprego”. No entanto, o BCE nunca, até hoje,
havia cedido às pressões políticas. O “governo económico europeu”, de que tanto
se fala e tanto se defende, poderia, caso viesse a ser constituído, criar um contra-
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Artigo 123º
1. É proibida a concessão de créditos sob a forma de descobertos ou sob qualquer
outra forma pelo Banco Central Europeu ou pelos bancos centrais nacionais dos Estados-
Membros, adiante designados por «bancos centrais nacionais», em benefício de
instituições, órgãos ou organismos da União, governos centrais, autoridades regionais,
locais, ou outras autoridades públicas, outros organismos do sector público ou empresas
públicas dos Estados-Membros, bem como a compra directa de títulos de dívida a essas
entidades, pelo Banco Central Europeu ou pelos bancos centrais nacionais.
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Jornal Oficial da União Europeia, Versão Consolidada do Tratado sobre o Funcionamento da
União Europeia, 9 Maio 2008
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19
Comissão Europeia, 26 Novembro 2008
20
European Financial Stability Facility, “Terms of reference of the Eurogroup”, 7 Junho 2010,
Luxemburgo
21
Disponibilizados da seguinte forma: 440 mil milhões pelos Estados-membros da zona euro (a
Eslováquia opõe-se ao bail out de qualquer Estado-membro e antes da reunião de ministros das
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Artigo 122º
2. Sempre que um Estado-Membro se encontre em dificuldades ou sob grave ameaça
de dificuldades devidas a calamidades naturais ou ocorrências excepcionais que não possa
controlar, o Conselho, sob proposta da Comissão, pode, sob certas condições, conceder
ajuda financeira da União ao Estado-Membro em questão. O Presidente do Conselho
informará o Parlamento Europeu da decisão tomada.
Artigo 125º
1. Sem prejuízo das garantias financeiras mútuas para a execução conjunta de
projectos específicos, a União não é responsável pelos compromissos dos governos
centrais, das autoridades regionais ou locais, ou de outras autoridades públicas, dos outros
organismos do sector público ou das empresas públicas de qualquer Estado-Membro, nem
assumirá esses compromissos. Sem prejuízo das garantias financeiras mútuas para a
execução conjunta de projectos específicos, os Estados-Membros não são responsáveis
pelos compromissos dos governos centrais, das autoridades regionais ou locais, ou de
outras autoridades públicas, dos outros organismos do sector público ou das empresas
públicas de outros Estados-Membros, nem assumirão esses compromissos.
finanças de dia 12 Julho este diferendo não ficará resolvido), a Polónia e a Suécia; 60 mil milhões
pela Comissão Europeia; e 250 mil milhões pelo FMI
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Personagem de “Yes, Prime Minister”
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
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Banco Central Europeu, Reinforcing Economic Governance in the Euro Area, 10 Junho 2010
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
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Comissão Europeia, Enhancing economic policy coordination for stability, growth and jobs –
Tools for stronger EU economic governance, COM(2010) 367/2, 2010
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
Esta crise não deve servir interesses políticos nem ser aproveitada para fazer
passar a ideia de que a UE não supervisionava os Estados-membros em
incumprimento. As sugestões propostas pelas várias instituições da UE não
passam de uma repetição do que já existe na estrutura da UE, o Eurogrupo e o
ECOFIN, e que estão definidas no artigo 136º do TFUE.
Nada do que é sugerido é realmente novo ou representa a solução para a zona
euro. Os pontos 1 e 2 apenas procuram actualizar as funções do Eurogrupo para,
assim, dar-lhe alguma capacidade de resposta que na prática não poderá aplicar. O
ponto 3 é um desincentivo para qualquer Estado-membro adoptar as necessárias
reformas estruturais. Vejamos porquê.
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
pelo Parlamento Europeu e por quem mais quisesse consultar o documento on-
line. A Comissão e o Conselho redigiram as devidas recomendações e os avisos
sobre a sucessiva incapacidade que estes países demonstravam em implementar as
reformas necessárias. O Tratado previa sanções (artigo 126º) para os Estados-
membros delinquentes, mas estas nunca foram accionadas e a “peer pressure”, a
pressão efectuada pelos outros países, também já existia. Apenas faltava a
aplicação de sanções eficazes que não remetessem os Tratados a um simbolismo
inofensivo.
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
caminho a seguir e, talvez por isso, a Eslováquia ainda não tenha aprovado o
mecanismo financeiro de 110 mil milhões de euros para resgatar a Grécia, nem
mostrou o seu apoio à Facilidade Europeia de Estabilidade Financeira.
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
Conclui-se desta análise que a crise da moeda única não passa exclusivamente
pelo carácter figurativo do malfadado PEC, mas igualmente pela Estratégia de
Lisboa de 2000 e a sua pretensão de, em 2010, tornar a UE “na economia do
conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, capaz de um crescimento
económico sustentável, acompanhado da melhoria quantitativa e qualitativa do
emprego e de maior coesão social”25. Os europeus têm de perceber que a
competitividade tem um preço que políticos e cidadãos de muitos países da UE
não estão dispostos a pagar. O sonho de ser a economia mais competitiva e
dinâmica do mundo é contraditório com um mercado laboral rígido, um Estado
social inflado e um sector público intervencionista e ineficiente. Actualmente já
não é o Estado social que nos distingue e provoca a cobiça do resto do mundo.
Hoje em dia os principais traços que distinguem a Europa são taxas de
crescimento insignificantes e uma população cada vez mais envelhecida e são
cada vez menos os que olham para nós com invídia.
A principal causa da crise da zona euro não é a ineficaz aplicação das regras do
Pacto e a concomitante prodigalidade orçamental, mas o crescimento económico
potencial futuro. O sinal mais importante que um país como Portugal deve dar aos
mercados é o de que consegue combinar um processo de consolidação orçamental
e redução credível da dívida com a capacidade de promover o crescimento
económico.
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
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Miguel Poiares Maduro, Legal Education and the Europeanization and Globalisation of Law,
Policy Paper 10/01, February 2010, Contraditório, www.contraditorio.pt
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
A ideia de que a solução para a crise da zona euro passa por um “governo
económico” e uma centralização orçamental é a mais destrutiva que qualquer
político ou burocrata pode encontrar. Bruxelas não deve ter a pretensão de impor
soluções orçamentais aos Estados-membros, sob o risco de acabar, por exemplo,
com a competitividade fiscal entre países da zona euro. É verdade que são muitos
por essa Europa fora os que criticam o excesso de competitividade dos Estados-
membros seus vizinhos, mas seria inimaginável que em nome da austeridade, por
exemplo, a Irlanda tivesse de abdicar do seu imposto de 12,5% sobre os
rendimentos das empresas ou que a Estónia tivesse de alterar a sua “flat-tax”
assim que entrasse na zona euro, em 2011. Os países da zona euro precisam de
disciplina, mas é fundamental que mantenham a liberdade para encontrarem as
soluções mais adequadas ao seu caso. Um “governo económico europeu”
dificilmente representa esta liberdade.
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
os países mais ricos por retirarem vantagens via mercado; os mais pobres pelas
transferências que lhes permitem realizar as necessárias reformas e reduzir os seus
efeitos negativos, se forem realizadas.
4. Recomendações de Política
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
competitiveness remains the key to dynamic GDP growth and requires strict control of
labour costs and productivity enhancing structural reforms”27.
27
OECD, Portugal - Economic Outlook No. 87, Maio 2010
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
28
Comissão Europeia, Sustainability Report, 2009
29
Washington Post, Europe rewrites its rule book in creating fund to contain financial crisis, 11
Maio 2010
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
30
Veja-se o exemplo das palavras do ministro das finanças, Fernando Teixeira dos Santos, sobre a
constitucionalidade do princípio da retroactividade: “A retroactividade é um princípio protegido na
Constituição mas não é um princípio absoluto que se sobreponha ao bem público e ao carácter
imprescindível e de emergência”. ““Não é um princípio absoluto”, apesar de estar “protegido pela
Constituição”. Há outros que se sobrepõem porque está “em causa a economia, o emprego e o
futuro de todos nós””, in jornal “Público”, 3 Junho 2010.
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
Portugal deve olhar para a Alemanha como um exemplo e não como o país de
“Frau Nein” que teve provavelmente em Helmut Kohl o último governante
alemão que olhou para a Europa com o peso da II Guerra Mundial nos ombros.
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
Vários estudos33 confirmam que Portugal tem que melhorar a concorrência nos
seus mercados de trabalho e de bens, nomeadamente através de uma maior
flexibilidade, redução dos obstáculos administrativos e melhorias na política de
concorrência e na aplicação da lei. Para além destes estudos referirem a falta de
concorrência em sectores específicos de bens não transaccionáveis, como as
indústrias de “network” e de distribuição a retalho, Portugal é referido como um
dos países com maior abrangência de preços definidos administrativamente nos
serviços. No mercado de trabalho, fortemente segmentado, a falta de mobilidade
laboral e de flexibilidade salarial, uma legislação laboral demasiado protectora do
emprego implica custos maiores, menor procura de trabalho e de criação de
emprego. Uma política de generosos e prolongados subsídios incentiva também o
desemprego de longa duração. E se alguns dos nossos problemas, como a
31
A Quick Guide To ‘Agenda 2010’, 17 Outubro 2003
32
Die Bundesregierung, Agenda 2010, Novembro 2003
33
Conway e Nicoletti (2006); Høj et al. (2007); IMF Country Report No. 10/18 (2010)
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
educação ou a justiça, só se resolvem no longo prazo, estes não devem ser adiados
mas antes enfrentados resoluta e imediatamente. Entretanto, a liberalização dos
mercados de trabalho e de bens e serviços criaria os incentivos necessários para
que aumentassem o investimento e a inovação.
34
Aghion, Askenazy, Bouelès, Cette e Dromel (2007); Blanchard e Giavazzi (2003); Mourinho
Félix, Almeida, e Castro (2008)
35
Bayoumi, Laxton e Pesenti (2004)
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
Portugal deve assumir junto de Bruxelas que em 2013 não terá um défice
abaixo de 3% do PIB, mas que o faria, por exemplo, até 2020 - aquela que seria a
Estratégia 2020 de Portugal -, de uma forma decisiva e consistente, através de um
crescimento económico sustentado. Devia assumir este compromisso e apresentar
um plano de reformas convincente que faça os mercados e sobretudo os
portugueses acreditarem nelas e definir um orçamento estratégico que preveja o
impacte intergeracional das medidas adoptadas. Perante este cenário, Bruxelas não
ficaria com muita margem para criticar uma dívida pública e défices orçamentais
temporários e decrescentes. Também os mercados interpretariam estas reformas
de uma forma positiva.
Portugal e os países da zona euro têm de reformar o Estado social antes que
este acentue o inexorável declínio da Europa. A competitividade e o crescimento
são fundamentais para o futuro da UE. A imperiosa necessidade de implementar
estas políticas numa conjuntura de consolidação orçamental como aquela que
vivemos faz-nos perceber que a verdadeira prova de fogo de Portugal, e da zona
euro, está ainda para vir.
Conclusão
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
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Referências
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Policy Paper 10/05 | Julho 2010
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