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A triste comédia acadêmica

Por: Ivani de Araujo Medina

Quando na minha adolescência eu me perguntava sobre a estranha


existência das igrejas e as incríveis histórias que um pastor norte-americano
nos contava nas aulas de religião, no colégio Batista. Essas coisas eram as
que eu mais estranhava no mundo, pois nada disso existia na minha família
núcleo. Todos nascem ateus e só depois deixam ou não de ser. Aos dezoito
anos de idade eu me encontrava envolvido por uma curiosidade que só se
avolumava.

Mas, foi somente depois dos trinta anos de idade que resolvi entrar de
cabeça na questão, inclusive porque os crentes não desistiam. Parecia que
eu tinha um imã para missionários. Volta e meia batiam na minha porta ou
me abordavam na rua. Fora aqueles outros particulares que gostavam de
puxar o assunto. No entanto, o que mais me confundia era ver tanta gente
inteligente e famosa envolvida pela religião. Por outro lado, havia também
outros igualmente inteligentes e famosos que não eram religiosos e
criticavam a religião. Para não permanecer eternamente na dúvida, o jeito
foi fazer por mim.

Estive bastante confuso no início da minha pesquisa porque todos os livros


de todos os historiadores, famosos ou não, confirmavam a história mais
absurda que tomei conhecimento na minha vida ─ a história de Jesus de
Nazaré. Curiosamente não encontrei nenhum outro historiador a prestigiar a
oposição, senão um judeu de origem russa, chamado Jacob Lentsman, que
por sua vez não esclarecia muito. Aí vão apenas cinco exemplos como
ilustração daquilo que os crentes se agarram para afirmarem a historicidade
de Jesus, e um exemplo do ponto de vista de Lentsman.

1. E eu próprio, numa polêmica contra um desses amadores que contestam,


com uma certa facilidade, a existência de Jesus, me tinha proposto
demonstrar que Descartes era também um mito todo ele criado pelos
jesuítas de La Flèche, preocupados em fazer reclamo do seu colégio.
(MARROU, 2 ed., s/d, p. 124)

2. Como o dedicado rei mártir espartano Agis, e o aristocrata mártir romano


Tibério Graco, Jesus dedicara sua vida ao povo sem recorrer à força, nem
mesmo para sua autodefesa. Mas ao contrário desses dois grandes espíritos
representativos da ascendência helênica, Jesus era filho do proletariado –
filho de um carpinteiro da aldeia do distrito da Galiléia, na Celessíria – e seu
povo era a humanidade toda. (TOYNBEE, 1983, p. 200)

3. O principal alicerce da nova cultura foi a religião cristã, cujo fundador,


Jesus de Nazaré, nasceu numa cidadezinha da Judéia por volta do começo
da era cristã e foi executado cerca de trinta anos depois, no reinado de
Tibério [...] Enquanto grande parte das outras religiões giravam em torno de
figuras imaginárias, criaturas de lendas grotescas, o cristianismo possuía
como fundador um indivíduo histórico, de personalidade bem definida.
(BURNS, 1979, v1, p. 256-259)
4. Jesus, cuja religião deveria revolucionar o mundo, viveu ignorado de
quase todos os seus contemporâneos. A sua história é apenas conhecida
através da segunda parte da Bíblia, o Novo Testamento, isto é, a “Nova
Aliança”; nele se encontram, em particular, quatro narrações da vida de
Jesus, chamadas Evangelhos: segundo São Mateus, São Marcos, São Lucas e
São João. (ALBA, 1964, p. 185)

5. [...] Contudo, há poucos historiadores modernos que discordam da


afirmação de que Jesus de fato existiu. Histórias que foram escritas após a
morte de Jesus (como as do historiador judeu Flávio Josefo, e dos
historiadores romanos Tácito e Suetônio) contêm breves comentários sobre
ele. Jesus não é um personagem de ficção. (GAARD, HELLERN, NOTAKER,
2000, p. 153-154)

6. Enquanto alguns cristãos admitiam que Jesus era um ser celeste, outros
insistiam na sua origem terrestre, e os grupos intermediários bastante
numerosos, procurando conciliar os extremos, falavam da dupla natureza,
divina e humana, de Jesus. Havia mesmo seitas, como os docetos (do
grego doquein, aparecer), que em geral, negavam a existência terrestre de
Jesus, afirmando que ele tinha sido apenas uma visão. (LENTSMAN, 1963,
p.125)

Eis o que chamo de uma vergonha institucionalizada que todo mundo acha
normal. Por quê? Ah, essa resposta (segundo a crença) está com um grande
professor da história da educação:

[...] a educação moral sem base religiosa desanda, esvai-se geralmente em


frases de efeito, e não produz resultados práticos, exceto numa ou noutra
pessoa de fina sensibilidade ou de grande força de vontade, capaz de
reconhecer nas regras éticas imposições da própria natureza, que se
precisa aceitar para viver bem. [...] o cerne da sua doutrina é perene e
válido, pois ele se apóia nas regras da reta razão, no acordo com a natureza
intelectual do homem, e nas palavras de Cristo, que não passarão jamais,
conforme a sua divina promessa. (NUNES, 1978, p. 104)
Quando afirmo que o cristianismo nunca foi uma simples religião, isto é,
uma religião como tantas outras que conhecemos e sim uma cultura
religiosa (como o judaísmo e o islamismo) que exerce um poder muito
acima do normal, como o poder civil, a educação e o ensino regulando os
costumes e tudo mais, não é à toa. Esse deboche organizado contra
inteligência alheia, que ainda se escora no cinismo de tantos, continua
constrangendo ao palco a classe acadêmica para avalizar a encenação
bizarra da “história” de Jesus de Nazaré. O professor de história que se
negar e se manifestar publicamente, dificilmente encontrará emprego na
sua área de formação.

A humanidade teria então uma história comum e uma direção única: a


vitória romana e a salvação cristã. A história da salvação romano-cristã
reúne tempo e eternidade, história e Cristo. Foi uma idéia absolutamente
nova, que nem os judeus haviam chegado a formular, obcecados com a
idéia de “um povo eleito”. [...] Os eventos históricos eram manifestação de
Deus, cuja vontade devia ser decifrada. O destino das nações, as lutas
políticas se submetiam à vontade divina. Essa idéia nova criou uma história
nova – a história universal. (REIS, 2003, p. 19)
Ora bolas, é ridículo demais. A própria história oficial do cristianismo acusa
uma disputa nos seus primórdios entre o gnosticismo cristão, para o qual
Jesus Cristo era uma emanação espiritual e não um ser físico, e os seus
adversários, os inventores do “histórico” Jesus de Nazaré. Estes últimos
tinham acentuada ambição política e desejavam derrotar o judaísmo a todo
custo, cujo proselitismo vinha convertendo os gregos menos afortunados.
Havia uma disputa pela hegemonia cultural no mundo antigo entre gregos e
judeus. Disputa que ainda persiste a pesar de aqueles gregos não existirem
mais. Por causa disso as fraudes documentais foram tantas e, hoje, ainda
são apresentadas descaradamente como provas.

“Vamos introduzir nesta história os eventos que podem ser úteis a nós
mesmos primeiro e depois para a posteridade” (Eusébio, História
Eclesiástica, vol. 8, capítulo 2.)

“Você vê vantagem no engano? [...] Porque grande é o valor da fraude,


desde que não seja introduzida com uma intenção maliciosa. Ação desse
tipo não deveria ser chamada de dolo, mas sim de uma espécie de boa
gestão da inteligência e habilidade, capazes de descobrir formas em que os
recursos falham e compensam os defeitos da mente [...] E muitas vezes é
necessário enganar, fazer maiores benefícios por meio deste dispositivo, ao
passo que aquele que passou por uma linha reta fez grande dano a pessoa
que ele não enganou.” (João Crisóstomo, Tratado sobre o sacerdócio, livro 1)

Para alguns, essa idéia de defender com mentiras a verdade da fé é


perfeitamente aceitável, como argumenta João Crisóstomo, uma vez que
isso se aplica em diversas situações da vida prática. Os maus políticos que o
digam. Como o exemplo vem de cima, justamente por este motivo, essa
prática nunca se submeteu a controle algum se disseminando por completo.
Como se esperar indivíduos verdadeiros numa cultura na qual a mentira
tem um papel tão importante que precisa ser resguardado de qualquer
maneira? Impossível. Botar o dedo na cara de alguém é fácil, mas, admitir a
origem desse mal na sociedade é que são elas, porque há muito ele se
apresenta travestido de Bem. Daí o horror dos crentes pelos ateus.

Por falar em origem, de certo modo, pode-se traçar um paralelo entre o


budismo hinayana, o original, (significa pequeno veículo) e o gnosticismo
cristão; e o budismo mahayana ─ uma derivação (significa grande veículo)
que inventou muitas lendas e fez de Sidarta Gautama, o Buda, um deus ─ e
a ortodoxia cristã. O budismo original era apenas um método de
introspecção e não uma religião a ser difundida. Entretanto, depois que o
budismo se espalhou em outros países asiáticos pela rota da seda, sofreu as
inevitáveis mudanças. Missionários budistas vinham pregando em
Alexandria há várias gerações desde quando surgiu o intercâmbio entre
gregos e hindus, no século III da Era Antiga. Houve uma cultura Greco-
búdica.

A busca pelo conhecimento de si mesmo, tendo em vista a ampliação da


consciência; o batismo (imersão); o hábito de orar com as mãos postas
junto ao peito; a prática missionária e alguns aspectos da história de Jesus
de Nazaré são heranças do budismo. Até os judeus alexandrinos se
impressionaram com os ensinamentos daqueles monges. Filon de
Alexandria descreveu uma irmandade religiosa, chamada de Terapeutas,
que não tinha precedentes na vida judaica e se assemelhava muito aos
monges budistas. A palavra “Terapeutas” é uma helenização do termo
“Thera-Putta”, de origem pali (um dos idiomas hindus) e significa
literalmente “filho do ancião”. (Kennneth Humphreys) Os terapeutas foram
interpretados também como essênios. É provável que João batista devesse
fazer parte desse tipo de seita sincrética.

Enquanto para os gnósticos cristãos, do Jesus Cristo incorpóreo, o deus de


Israel não merecia respeito e nem devia ser considerado, para os seus
adversários, o Jesus de Nazaré precisava além de trazer nas mãos o Antigo
Testamento, trazer também o mesmo execrado deus de Israel reabilitado,
como o seu pai celestial, para criarem um antídoto contra o judaísmo. Eis o
momento histórico em que o grego “Zeus Pai, todo poderoso” muda de
nome, para “Deus Pai, todo poderoso”, o pseudo-judaico. Mudou de nome,
mas não mudou de hábito. Seduziu uma jovem judia na Palestina e deu-lhe
um filho, Jesus de Nazaré. Não foi por acaso que, com a vitória da ortodoxia
cristã sobre o gnosticismo cristão e a chegada da ala vitoriosa do
cristianismo ao poder do Império Romano, o proselitismo judeu tornou-se
crime punido com a morte.

A despeito de tudo isso, o Jesus histórico continua enriquecendo uns poucos,


empregando muitos, constrangendo alguns e enganando a maioria, aos
milhões. Os cínicos e os ingênuos (que declaram a existência de uma
sabedoria tão profunda que ninguém vê) entendem que assim deve ser para
o bem da Humanidade, e não prescindem do apoio dos professores nessa
triste comédia acadêmica. Existe uma grande diferença entre negar valores
sedimentados e denunciar uma antiga e alienante farsa pretensamente
histórica. Um desprezo tão cruel e uma desconfiança tão profunda na
capacidade de entendimento da criatura, não combinam com a inabalável
confiança na onisciência do suposto “Criador”. Se isso não mudar, nada
mudará.

Referências
MARROU, Henri Irénée, Do Conhecimento Histórico, Editorial Áster, Lisboa,
s/d.

TOYNBEE, Arnold J. Helenismo – História de uma Civilização, Zahar Editores,


Rio de Janeiro, 1983.

BURNS, Edward McNall, História da CIVILIZAÇÂO OCIDENTAL, O DRAMA DA


RAÇA HUMANA, Editora Globo, Porto Alegre, 1979, volume1.
ALBA, André, História Universal – ROMA, editora Mestre Jou, São Paulo,
1964.

GAARDER, Jostein, O livro das Religiões / Jostein Gaarder, Victor Hellern,


Henry Notaker, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.

NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na Antigüidade cristã.


São Paulo: Pedagógica Universitária e Editora da Universidade de São Paulo,
1978.

LENTSMAN, Jacó Abramovitch. A origem do cristianismo. São Paulo: Fulgor,


1963.

REIS, José Carlos. História & Teoria: historicismo, modernidade,


temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

Kennneth Humphreys http://www.jesusneverexisted.com/scholars-


portuguese.html

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