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Aniversário do 25 de Abril

O movimento dos capitães

Os capitães foram os principais impulsionadores da revolução que teve lugar a 25 de Abril de


1974, mas as razões que estiveram por detrás da força desses homens não começaram por ser
contestações de ordem política. A necessidade de mais homens para o combate em África
forçou o Governo de Marcelo Caetano a abrir as portas da Academia Militar a um vasto leque
de pessoas, o que originou um movimento interno contra essa abertura.

Com o agravar das condições de guerra em África e com a consequente necessidade de colocar
mais homens no terreno, era essencial que o número de graduados aumentasse. Contudo, em
1973 as vagas na Academia Militar continuavam por preencher, o que estava a colocar em
dificuldades o esforço de guerra. Para resolver esse problema, o então Ministro da Defesa, Sá
Viana Rebelo, publica o Decreto-Lei n.º 353/73, de 13 Julho, permitindo, deste modo, que os
oficiais possam transitar para os quadros permanentes das armas de infantaria, artilharia e

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cavalaria mediante a frequência de um curso intensivo na Academia Militar, apenas com a
duração de dois semestres lectivos, seguidos de seis meses de serviço nas respectivas escolas
práticas. O preâmbulo do Decreto-lei fundamenta a decisão tomada com base de necessidade
do Exército alargar as suas possibilidades de preenchimento dos quadros em oficiais do quadro
permanente, e de justiça para aqueles que, como militares do complemento melhores provas
têm dado no ultramar no desempenho de funções militares.

Esta situação vem alargar consideravelmente a base social de recrutamento para a Academia
Militar. José Filipe Pinto refere que “os novos elemento provenientes da sociedade civil
traziam consigo as marcas de uma sociedade que estava a viver, apesar do conservadorismo
imposto pela pouca abertura nacional, um processo de mudança, motivado pela conjuntura
internacional”1. Salgueiro Maia, um dos relevantes capitães de Abril assume esta abertura
daquela instituição. “Filho de uma família de ferroviários, é a situação de guerra na colónias
que me permite o acesso à Academia Militar, pois o conflito fez perder as vocações habituais,
e assim a instituição foi obrigada a abrir as portas”2, refere o capitão.

Contestação ao Ministro da Defesa

Esta situação não foi do agrado dos oficiais do quadro permanente de oficiais das forças
armadas que, começaram de imediato a contestar a posição do Ministro da Defesa. Otelo
Saraiva de Carvalho considera que “com a publicação do Decreto-lei n.º 353/73, o Governo
não só tinha lançado à terra as sementes do vento de mudança, das quais iria colher a
tempestade, mas abrira uma brecha no corpo de oficiais do Exército, estabelecendo a
dicotomia entre aqueles que da carreira militar tinham feito desde sempre a sua profissão e
aqueles que as necessidades de guerra haviam chamado às fileiras e que, por um ou outro
motivo, nelas tinham continuado”3. Com esta situação o conflito com a chefia militar estava
aberto, o que iria provocar sérios problemas no governo.

O historiador espanhol Josep Sánchez Cervelló, alega que “a contestação a estes decretos
acabou por ser a base de aglutinação necessária para que os oficiais de carreira contestassem
o regime primeiro, e a fatigante e interminável guerra depois, sem o complexo de serem
considerados cobardes”. Com determinação, os capitães começam a reunir para tomar
medidas concretas contra a legislação, tendo a primeira reunião do então denominado
Movimento dos Capitães tido lugar a 9 de Setembro de 1973, em Alcáçovas. Os militares
elaboraram um documento assinado por cento e trinta e seis capitães onde expunham as suas
razões contra a situação provocada pela decisão do Ministro da Guerra. Cervelló defende que
é nessa assembleia que se deram “os passos necessários para criar uma organização
clandestina”.

É interessante verificar que mesmo um governo totalitário como se caracterizava o de Marcelo


Caetano acabou por ceder às pressões vindas dos militares, tendo o Decreto-Lei sido suspenso
em Outubro e o Ministro da Defesa acabou por ser exonerado das suas funções a 7 de

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Novembro de 1973. No final de Dezembro o Diploma era revogado, o que deu um forte alento
ao Movimento dos Capitães.

A necessidade de intervenção política

A investigadora Maria Inácia Rezola salienta que “sem querer entrar em detalhes sobre a
forma como o movimento se «politiza» não podemos deixar de referir que os sinais dessa
crescente consciência política se denotam no teor dos debates e propostas que surgem ao
longo das sucessivas reuniões de capitães, cujo ritmo, longe de abrandar, é cada vez maior, e
na sua progressiva estrutura como movimento”4.

Face ao estado em que o país se encontrava, as preocupações dos capitães começaram a ser
cada vez mais de ordem política, uma vez que tinham plena consciência que a solução militar
não levava a o país a lado nenhum. Maria Inácia Rezola sublinha que “não podemos deixar de
acrescentar duas outras observações fundamentais para a evolução do processo, ainda que de
carácter mais genérico. Em primeiro lugar, que a conspiração dos capitães corre em paralelo
com outros «fenómenos» conspirativos cuja face visível são o complô direitista de Kaúlza de
Arriaga. Em segundo lugar, uma nota sobre a fraqueza e desorientação reveladas pelo regime
ao longo dos meses em que decorre a conspiração dos capitães”.

Com a situação legal resolvida, o alargamento da base de apoio ao Movimento dos Capitães
começa a tomar forma junto das outras estrutura militares. Embora tenha nascido no Exército,
o Movimento começa, a partir do início de 1974, a contar com a colaboração de elementos dos
outros ramos das forças armadas, em primeiro lugar com a Força Aérea e mais tarde com a
Marinha.

Contudo, é o Exército que parte para a tentativa falhada de 16 de Março a partir da Caldas da
Rainha, e que coloca o regime em sobressalto, e é igualmente dos capitães do Exército que a
revolução nasce na madrugada de 25 de Abril de 1974.

A.M. Santos Nabo

Abril 2011

1
PINTO, José Filipe, “Do Império Colonial à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: Continuidades
e Descontinuidades”, s/l, 2005, Instituto Diplomático
2
MAIA, Salgueiro, “Capitão de Abril – Histórias da Guerra do Ultramar e do 25 de Abril”, Lisboa, 1994,
Editorial Notícias.
3
CARVALHO, Otelo Saraiva de, “Alvorada em Abril”, Lisboa, 1991, Alfa
4
REZOLA, Maria Inácia e outros, “A Transição Falhada”, s/l, 2004, Círculo de Leitores

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