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Acadêmico de Letras bolsista do Programa de Educação Tutorial PET-Letras e aluno ICV.
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Doutor em Letras, professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste
da leitura com a biblioteca escolar. As reflexões partem de relatórios das atividades das
bibliotecas escolares de 21 escolas públicas e estaduais de Ensino Fundamental e Médio da
cidade de Guarapuava/PR. Estes relatórios foram encaminhados ao Núcleo Regional de
Educação pelas escolas em quantidade considerada significativa, tendo em vista o universo de
26 escolas.
Os relatórios foram elaborados no ano de 2007 e procuraram expor os métodos de
funcionamento, dados com relação ao material, acervo disponível e ainda, se houvesse, o
relato de algum projeto de incentivo à leitura desenvolvido pela/na biblioteca da escola. Este
texto inicia com uma visão da situação das bibliotecas escolares no Brasil, e depois analisa os
relatórios das escolas, procurando situar esta experiência específica no quadro mais geral.
Para ter uma idéia da gravidade da situação, em 1975 menos de 30% dos municípios
brasileiros possuíam bibliotecas. A situação atual mudou significativamente, hoje há
bibliotecas públicas municipais, estaduais, universitárias, mas, bibliotecas escolares são de
difícil caracterização. As estatísticas são imprecisas pelas variações de informações e dados
que definem a existência ou não de bibliotecas nas escolas públicas do Brasil.
Consequentemente (mas não só por isso), no plano teórico as BEs deixam de ser estudadas.
No plano pedagógico, reforça-se a idéia do professor como única fonte transmissora do
conhecimento, o que submete o aluno ao discurso docente ou ao livro didático. No plano
cultural, as bibliotecas são cada vez menos procuradas e o espírito de análise crítica menos
exercitado (SILVA, 2003).
Ao pensar a BE em sua dimensão institucional dentro da comunidade escolar, é natural
que ela seja circunscrita por problemas que tradicionalmente afetam as instituições públicas
de ensino. No entanto, o trabalho do bibliotecário e suas ações pró-leitura não devem
submeter-se a estes problemas institucionais.
Outro aspecto a ser apontado sobre os profissionais que atuam nestes espaços são suas
diferentes formações e condições. Eles podem ser professores de diversas disciplinas,
afastados das salas de aula, técnicos-adminitrativos ou bibliotecários. Os cursos de
Biblioteconomia têm discutido nestes últimos anos a formação do bibliotecário para atuar
especificamente na biblioteca escolar e a consciência pedagógica para o desenvolvimento de
seu trabalho, que vai além do mero tecnicismo. Nos cursos de formação de professores, como
nos cursos de Letras, a discussão sobre o uso efetivo e a importância da BE para formação de
leitores está praticamente ausente. A presença de profissionais com formação específica para
a BE e de professores parceiros na atuação bibliotecária ainda é um ideal a ser atingido. Por
isso, a realidade é conflitante. Como bem conclui Ezequiel Theodoro da Silva, “aos olhos dos
bibliotecários, a figura do professor assemelha-se muita à de um sujeito acostumado a ‘passar
a peteca pra frente’ [e] na mente dos professores a imagem do bibliotecário é uma mistura de
almoxarife, escrevente e policial [...]” (SILVA apud SILVA, 2006, p.13).
Sob os novos paradigmas aqui apresentados, o bibliotecário deve ser visto como
mediador, ou seja, alguém que está no meio do processo entre a escola e a biblioteca, entre
alunos, pais e o acesso à leitura. Sua formação e sua prática devem equilibrar procedimentos
pedagógicos, culturais e informativos.
“sem formação que atente para a complexidade nas relações da criança com a leitura, sem clareza
quanto ao seu papel, ao lugar da leitura na vida social, aos vínculos profundos existentes nas
práticas de leitura, cultura e sociedade, sem conhecimento profundo dos materiais de leitura,
cultura e sociedade, sem conhecimento profundo dos materiais de leitura a serem oferecidos, é
difícil imaginar uma situação decisiva de agentes diversos na busca de reversão do quadro atual
(PERROTI, 1990, p. 81)
Dessa forma, acredita-se numa escola que possa formar cidadãos críticos, capazes de
utilizar o conhecimento construído dentro da escola para analisar a realidade e, diante dela,
fazerem as suas opções profissionais, culturais e políticas, de forma consciente, livre e
autônoma. A promoção da leitura e a formação de leitores só fazem sentido se pensar que o
exercício da leitura durante os anos escolares do aluno é para a vida toda, a formação de
leitores da palavra na escola é para formar cidadãos leitores.
Para aproximar-se de uma concepção de BE, a leitura dos relatos permitiu formular
uma visão geral sobre os objetivos da presença ou da atuação da biblioteca na escola, são eles:
2 - Projetos de Leitura:
3 - Acervo:
4 - Estrutura e funcionamento:
Nº de BEs
Manhã e tarde - 6
Turnos de funcionamento
Manhã, tarde e noite - 15
Catalogação dos livros informatizada 7
Registro de empréstimos informatizado 3
Abertas à comunidade 21
Permissão de acesso ao aluno em qualquer 21
horário, inclusive contra-turno.
Cobrança de multa por atrasos 9
Estes dados mostram uma biblioteca escolar que, mesmo com barreiras tecnológicas
dificultando a praticidade em algumas áreas, está a caminho da democratização. Isto pode ser
observado pelo fato de grande parte das 21 BEs funcionarem nos 3 turnos, todas elas estarem
abertas à comunidade e permitirem o acesso do aluno em qualquer horário, e apenas 9
cobrarem multas sobre os atrasos nas devoluções dos livros.
Os relatórios foram unânimes na exposição de seus métodos de funcionamento. A
regra do silêncio na BE apareceu em todos. Alguns na tentativa de tornar o trabalho mais
prático excedem-se na criação de regras, eliminando o caráter pedagógico do espaço e
ofuscando a imagem da biblioteca como um lugar acolhedor, democratizado e de liberdade.
Entretanto, a simplificação do facilitação no funcionamento não se comprova
inteiramente no dia-a-dia das escolas. Ainda existem pequenas regras, às vezes até ocultas,
que a tradição escolar brasileira não permite que sejam rompidas, por exemplo, analisando a
relação que a escola estabelece com a comunidade na qual está incluída: até que ponto há
realmente abertura?
Organização do acervo;
Manutenção do acervo;
Controle de registros;
Cobrança das penalidades (multas, livros rasurados, etc.);
Catalogação do material disponível para pesquisa;
Gravação de programas pedagógicos;
Controle da ordem, organização e disciplina do ambiente;
Registro para controle do recebimento das eventuais multas e/ou livros extraviados;
Visita semanal às salas de aula para cientificar alunos em débito com a biblioteca;
Elaborar um controle quinzenal das pendências para que a Equipe Pedagógica tomem
conhecimento;
Permanência constante do responsável na biblioteca que na necessidade de ausentar-
se, deverá deixar outra pessoa responsável em seu lugar.
De acordo com a tradição, o tecnicismo impera nas atribuições ao responsável pela
biblioteca. Mas, além disso, percebe-se uma concepção de fiscalizador do andamento das
atividades, cobrando penalidades, controlando a disciplina do ambiente e passando nas salas
de aula lembrando das situações em débito. Este trabalho fiscal é prejudicial para a relação
com os alunos, produzindo na imagem do bibliotecário o autoritarismo, a constante cobrança
e a antipatia. Isso facilmente se estende para a relação com os demais membros da
comunidade escolar, principalmente porque a forma como o bibliotecário estabelece relações
com os professores e a equipe pedagógica é gravando programas pedagógicos e prestando
contas de pendências com a BE, atribuições que negam o valor e a autonomia do seu trabalho.
A omissão em 20 relatórios de informações e de suas atribuições sobre este
responsável revela a concepção tradicional que não o enxerga como profissional para além do
cumprimento de funções técnicas. Tendo em vista que os responsáveis pela BE são os autores
destes relatos, percebe-se falta de consciência e a auto-desvalorização de seu próprio trabalho,
tornando verdade na prática que “quanto mais maquinizado se torna o trabalho, menor valor
ele tem” (HEGEL, apud SILVA, 2003, p. 79).
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
PERROTI, Edmir. Confinamento cultural, infância e leitura. São Paulo: Summus, 1990.
SILVA, Rovilson José da. Reflexões sobre a leitura e a biblioteca escolar. In. Fazeres
cotidianos na biblioteca escolar. Org. Rovilson José da Silva; Sueli Bortolin. São Paulo:
Polis, 2006, p. 11 – 20.
SILVA, Waldeck Carneiro da. Miséria da biblioteca escolar. São Paulo: Cortez, 2003.