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ASPECTOS PRELIMINARES SOBRE A LEITURA NA BIBLIOTECA ESCOLAR

Lucas Santos Macedo1


Cláudio José de Almeida Mello2

RESUMO: Diante da realidade problemática no âmbito da leitura em nosso país, o presente


trabalho analisa questões pertinentes à biblioteca escolar e sua atividade na formação de
leitores. Dialogando com bibliografia especializada objetiva-se a análise de relatórios das
atividades de 21 bibliotecas escolares durante o ano de 2007 em Guarapuava/Pr. As reflexões
permitiram diagnosticar uma concepção de biblioteca escolar ainda tradicional e carente de
projetos que revitalizem o espaço promovendo a leitura.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura, Biblioteca escolar, formação de leitores.

Movimentações políticas e científicas envolvendo pesquisas, avaliações do governo e


o grande número de campanhas governamentais e não governamentais pró-leitura mostram
que este é um campo problemático na realidade brasileira. Veículos de informação reforçam o
estereótipo de um brasileiro não-leitor, valorizador demasiado de aspectos culturais como o
carnaval, o samba e a moda e que, em se tratando de questões sociais, apenas enxerga mais
explicitamente a corrupção dos líderes políticos, a fome, a miséria e o tráfico de drogas. De
maneira nenhuma, as discussões nestes outros campos devem ser ignoradas, afinal, eles fazem
parte da realidade do cidadão brasileiro. Porém, não se pode compreender uma geração sem
que se retome e valorize o seu processo de formação. Estudar questões pertinentes à Educação
é uma tentativa de compreender a sociedade extrapolando os limites das gerações, pois, numa
instituição educacional, o processo é conduzido por um grupo já formado que age na
formação de uma geração futura dentro de um determinado tempo.
Com base neste quadro, que cita a ação da Educação na sociedade, o objetivo deste
trabalho é examinar em que medida um determinado conjunto de bibliotecas escolares de um
município está realizando sua obrigação de contribuir para a formação de leitores, visando à
consciência e interação com a realidade social mais ampla.
Para tanto, o trabalho aborda o processo de formação de leitores e, com base em
bibliografia especializada, procura apresentar aspectos introdutórios relacionando a promoção

1
Acadêmico de Letras bolsista do Programa de Educação Tutorial PET-Letras e aluno ICV.
2
Doutor em Letras, professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste
da leitura com a biblioteca escolar. As reflexões partem de relatórios das atividades das
bibliotecas escolares de 21 escolas públicas e estaduais de Ensino Fundamental e Médio da
cidade de Guarapuava/PR. Estes relatórios foram encaminhados ao Núcleo Regional de
Educação pelas escolas em quantidade considerada significativa, tendo em vista o universo de
26 escolas.
Os relatórios foram elaborados no ano de 2007 e procuraram expor os métodos de
funcionamento, dados com relação ao material, acervo disponível e ainda, se houvesse, o
relato de algum projeto de incentivo à leitura desenvolvido pela/na biblioteca da escola. Este
texto inicia com uma visão da situação das bibliotecas escolares no Brasil, e depois analisa os
relatórios das escolas, procurando situar esta experiência específica no quadro mais geral.

LEITURA E BIBLIOTECA ESCOLAR

A concepção de leitura que fundamenta a pesquisa segue a linha político-diagnóstica,


que tem sua base nas reflexões de Paulo Freire e nos estudos mais recentes de Ezequiel
Theodoro da Silva. Esta linha de investigações é pioneira por seu caráter detector e
denunciador e marca a integração da temática da leitura nos círculos acadêmicos na década de
1980. Trata-se de uma concepção que “pressupõe a inserção de sua prática [da leitura] na
esfera social, histórica e ideológica, pois argumenta a favor da luta pela competência do leitor
não só em termos dos conteúdos referenciais, mas, e, sobretudo, da sua competência enquanto
leitor das relações sociais que permeiam seu meio sócio-histórico” (ZAPPONE, 2008, p.135).
A aproximação de questões sobre leitura com a tradição política de nosso país é
reveladora. A ausência de uma tradição leitora vem sendo reforçada historicamente, há mais
de meio milênio, por uma política cultural que se caracteriza pelos entraves à popularização
da leitura, do livro e da biblioteca, pela reprodução do analfabetismo, da evasão e da
repetência escolar. Ezequiel Theodoro da Silva afirma que qualquer retrospectiva histórica
voltada para a análise da presença da leitura na sociedade brasileira aponta para aspectos de
injustiça social e que a crise da leitura vem sendo reproduzida desde o período colonial
(SILVA, 1986).
Esse quadro provoca, como conseqüência, uma relação de estranhamento entre grande
parte da população e a prática leitora. Talvez esta distância, enraizada na cultura brasileira,
seja o fator de maior relevância para as dificuldades encontradas nas atividades de promoção
da leitura em diversos segmentos da sociedade. Entretanto, além de justificar os resultados
apresentados em pesquisas especializadas, o estranhamento revela outro problema relacionado
à leitura: a conturbada relação entre escola (incluindo aqui toda comunidade escolar),
incumbida da formação de leitores, e a biblioteca escolar. O que é uma biblioteca escolar para
uma escola que não tem formado leitores?
Alguns dados da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação
(ANPED) esclarecem melhor essa situação. Entre os anos de 1983 a 1989, de 1.595
monografias apenas 3 voltavam-se para a biblioteca escolar. Tomada como objeto de estudos,
a biblioteca escolar (BE) não possui tradição nas investigações no campo da Educação, Letras
ou Biblioteconomia. Apenas nos últimos anos é que, com a mobilização do Estado para
fornecer recursos à BE (Programa Nacional Biblioteca na Escola – PNBE, por exemplo), este
espaço tem sido estudado, com atenção especial voltada à área da Biblioteconomia e a
formação de bibliotecários.
A concepção de biblioteca escolar veiculada neste estudo está fundamentada numa
corrente da Biblioteconomia denominada “biblioteconomia histórico-crítica” (SILVA, 2003),
cujo princípio base é o entendimento das crises de leitura e da biblioteca como contradições
inerentes à forma de organização de nossa sociedade, excludente e dificultadora do acesso aos
bens educacionais de direito de todos. A “biblioteconomia histórico-crítica” apoia-se em três
pilares: 1. Problemas na leitura e na biblioteca como resultados da luta pela hegemonia numa
sociedade de classes como a brasileira. 2. Impossibilidade de analisar crises da leitura, no
Brasil, sem contextualizá-las histórica, social e politicamente. 3. A concepção de que a
popularização da leitura e da biblioteca, no Brasil, devem ser conquistas daqueles
comprometidos com a democratização plena da sociedade brasileira (SILVA, 2003).
Estudos com esta proposta rompem com a visão da biblioteca como local de
organização e manutenção de livros e do bibliotecário como técnico conhecedor do sistema de
catalogação dos livros e inspetor do comportamento adequado para o ambiente. Propõem, em
lugar disso, uma BE dinâmica, promotora da leitura por meio de ações de caráter pedagógico
e concebem o bibliotecário como um educador. A BE para de ser vista como apoio, suporte,
estática e passiva no processo ensino/aprendizagem e passa a ser um recurso dinâmico e ativo,
em sintonia com os objetivos educacionais dos professores e da comunidade escolar e, ainda
assim, autônoma no desenvolvimento de suas atividades. Waldeck Carneiro da Silva cita
Lourenço Filho que, em 1944, já refletia que “ensino e biblioteca são instrumentos
complementares (...), ensino e biblioteca não se excluem, completam-se. Uma escola sem
biblioteca é um instrumento imperfeito. A biblioteca sem ensino, ou seja, sem a tentativa de
estimular, coordenar e organizar a leitura, será, por seu lado, instrumento vago e incerto”
(FILHO apud SILVA, 2003, p. 67).
Porém, contra tamanha mudança de paradigma levantam-se alguns obstáculos. A
biblioteca escolar possui suas peculiaridades e enfrenta problemas também bastante
específicos. Dessa forma, a conceituação de uma biblioteca escolar e o julgamento de sua
existência ou não na esfera escolar torna-se difícil devido às inúmeras variações encontradas
em cada caso, tais como:

 Acervo antiquado e desinteressante;


 Despreparo dos profissionais que atuam na biblioteca;
 Descompasso entre sala de aula e biblioteca;
 Falta de verba para melhora do acervo;
 Falta de autonomia para a biblioteca adquirir livros;
 Imposição de leituras obrigatórias e uniformes para a turma;
 Espaço inadequado para leitura: mesas, estantes, catalogação, iluminação, circulação
de ar.

Para ter uma idéia da gravidade da situação, em 1975 menos de 30% dos municípios
brasileiros possuíam bibliotecas. A situação atual mudou significativamente, hoje há
bibliotecas públicas municipais, estaduais, universitárias, mas, bibliotecas escolares são de
difícil caracterização. As estatísticas são imprecisas pelas variações de informações e dados
que definem a existência ou não de bibliotecas nas escolas públicas do Brasil.
Consequentemente (mas não só por isso), no plano teórico as BEs deixam de ser estudadas.
No plano pedagógico, reforça-se a idéia do professor como única fonte transmissora do
conhecimento, o que submete o aluno ao discurso docente ou ao livro didático. No plano
cultural, as bibliotecas são cada vez menos procuradas e o espírito de análise crítica menos
exercitado (SILVA, 2003).
Ao pensar a BE em sua dimensão institucional dentro da comunidade escolar, é natural
que ela seja circunscrita por problemas que tradicionalmente afetam as instituições públicas
de ensino. No entanto, o trabalho do bibliotecário e suas ações pró-leitura não devem
submeter-se a estes problemas institucionais.
Outro aspecto a ser apontado sobre os profissionais que atuam nestes espaços são suas
diferentes formações e condições. Eles podem ser professores de diversas disciplinas,
afastados das salas de aula, técnicos-adminitrativos ou bibliotecários. Os cursos de
Biblioteconomia têm discutido nestes últimos anos a formação do bibliotecário para atuar
especificamente na biblioteca escolar e a consciência pedagógica para o desenvolvimento de
seu trabalho, que vai além do mero tecnicismo. Nos cursos de formação de professores, como
nos cursos de Letras, a discussão sobre o uso efetivo e a importância da BE para formação de
leitores está praticamente ausente. A presença de profissionais com formação específica para
a BE e de professores parceiros na atuação bibliotecária ainda é um ideal a ser atingido. Por
isso, a realidade é conflitante. Como bem conclui Ezequiel Theodoro da Silva, “aos olhos dos
bibliotecários, a figura do professor assemelha-se muita à de um sujeito acostumado a ‘passar
a peteca pra frente’ [e] na mente dos professores a imagem do bibliotecário é uma mistura de
almoxarife, escrevente e policial [...]” (SILVA apud SILVA, 2006, p.13).
Sob os novos paradigmas aqui apresentados, o bibliotecário deve ser visto como
mediador, ou seja, alguém que está no meio do processo entre a escola e a biblioteca, entre
alunos, pais e o acesso à leitura. Sua formação e sua prática devem equilibrar procedimentos
pedagógicos, culturais e informativos.

“sem formação que atente para a complexidade nas relações da criança com a leitura, sem clareza
quanto ao seu papel, ao lugar da leitura na vida social, aos vínculos profundos existentes nas
práticas de leitura, cultura e sociedade, sem conhecimento profundo dos materiais de leitura,
cultura e sociedade, sem conhecimento profundo dos materiais de leitura a serem oferecidos, é
difícil imaginar uma situação decisiva de agentes diversos na busca de reversão do quadro atual
(PERROTI, 1990, p. 81)

Dessa forma, acredita-se numa escola que possa formar cidadãos críticos, capazes de
utilizar o conhecimento construído dentro da escola para analisar a realidade e, diante dela,
fazerem as suas opções profissionais, culturais e políticas, de forma consciente, livre e
autônoma. A promoção da leitura e a formação de leitores só fazem sentido se pensar que o
exercício da leitura durante os anos escolares do aluno é para a vida toda, a formação de
leitores da palavra na escola é para formar cidadãos leitores.

ANÁLISE DOS RELATÓRIOS

Esta etapa do estudo expõe um panorama apontando aspectos relevantes de 21


relatórios das atividades desenvolvidas durante o ano de 2007 em bibliotecas escolares de
escolas públicas de Guarapuava/PR. Estes documentos foram encaminhados pelas escolas ao
Núcleo Regional de Educação de Guarapuava com o objetivo de fornecer informações sobre
as ações das bibliotecas nas escolas, a pedido da Secretaria de Estado da Educação do Paraná
(SEED), fato que já mostra um avanço ao possibilitar o relato exclusivo das atividades destes
espaços. Estes relatórios eram a primeira etapa de uma série de treinamentos e capacitações
aos bibliotecários das escolas do estado previsto pela SEED para 2008, porém, o projeto não
teve avanço.
Alguns destes relatos apresentaram caráter bastante informal, como linguagem em
primeira pessoa e impressão em folhas de rascunho. Também observou-se a ausência de
padrão estabelecido pelo órgão recebedor dos textos (NRE).
Mesmo assim, foi possível identificar aspectos comuns, a partir dos quais foram
estabelecidas as seguintes categorias de análise: 1. Objetivos gerais das bibliotecas escolares;
2. Projeto de leitura desenvolvido pela/na BE; 3. Acervo; 4. Estrutura e Funcionamento e
5. Profissional que atua na BE.

1 - Objetivos gerais das bibliotecas escolares:

Para aproximar-se de uma concepção de BE, a leitura dos relatos permitiu formular
uma visão geral sobre os objetivos da presença ou da atuação da biblioteca na escola, são eles:

 Incentivar os alunos à prática da leitura;


 Disseminar a informação;
 Executar de funções técnicas: orientação em pesquisas, xérox, rodagem no extêncil,
controle das fichas dos livros, distribuição dos livros didáticos, gerenciar recursos
audiovisuais, organização do acervo, restauração dos livros e catalogação de DVDs;
 Proporcionar a construção de conhecimentos que serão úteis não só durante a vida
escolar do aluno, mas também em sua vida social e profissional;
 Atuar como instrumento de desenvolvimento intelectual e cultural;
 Agir em prol de uma mudança comportamental nos alunos por meio de normas
comportamentais, cartazes e frases que despertem nos alunos a ética, responsabilidade
e cidadania;
 Processar tecnicamente todo o material bibliográfico.

Diante disso, evidencia-se a identidade heterogênea da BE, não só devido ao fato de


BE ser um local que permite uma multiplicidade de ações, um espaço para leitura, acesso à
internet, pesquisa, etc., e também porque sofre as conseqüências do conflito tradicional versus
inovador, o que estende a discussão para a concepção de biblioteca assumida pela sociedade
em que ela atua.
O caráter tradicional de biblioteca aparece quando estabelece o cumprimento de
funções técnicas, o processamento técnico de todo o material bibliográfico e, principalmente,
a idéia de que a BE deve ser um local para moldar o comportamento dos alunos. O
estabelecimento de normas comportamentais ganha um tom moralizante confirmado pelo
seguinte trecho extraído de um dos relatórios: “(...) a biblioteca do colégio deve ser vista
como um lugar de silêncio”. Se na BE houver esta atmosfera formativa e normativa,
exclusivamente, não há possibilidades de fazer com que a leitura e a informação tornem-se
hábitos familiares na vida dos estudantes.
Por outro lado, a preocupação com o incentivo à prática da leitura, a disseminação de
informação, a produção de conhecimentos relevantes e a atuação no desenvolvimento
intelectual e cultural dos alunos apontam para a natureza educativa da BE. Porém, as ações de
caráter educativo não parecem ser sólidas para atingirem tais objetivos, pois dos 21 relatos,
apenas 7 possuem projetos de promoção da leitura.
Destaca-se a visão de que a biblioteca pode e deve agir não só como recurso para a
vida escolar do aluno, mas também ser relevante para sua vida social, profissional, intelectual
e cultural. Este objetivo harmoniza-se com o trabalho da pesquisadora Cyana Leahy,
intitulado “Dinamização da Leitura na Biblioteca Escolar”, desenvolvido em escolas públicas
bastante carentes do estado do Rio de Janeiro, o qual procurou não apenas promover a leitura
de textos literários, mas também valorizar o trabalho com a leitura na biblioteca escolar e a
produção de efeitos nos planos cognitivo, psicológico e sociológico dos participantes do
projeto (LEAHY, 2006).
A análise da realidade das BE em Guarapuava e as atividades desenvolvidas pela
pesquisadora no Rio de Janeiro, quando relacionadas, afinam-se por abordarem questões
sobre a natureza dos objetivos de uma biblioteca escolar. São realidades sociais específicas
em suas diferenças, mas, que tratam em comum a leitura na biblioteca escolar, e ainda,
permitem concluir que a dimensão dos problemas com as BEs é nacional e que a base para
um trabalho produtivo com a leitura é a familiarização com os objetivos e os seus efeitos.

2 - Projetos de Leitura:

A fim de verificar em que medida as concepções das bibliotecas são as mesmas da


escola é interessante analisar em que medida os projetos de leitura apresentados pelas 7
escolas envolvem os profissionais da BE, professores de diversas disciplinas ou demais
membros da comunidade escolar. Os projetos são assim intitulados:

 Projeto Pare, leia... e embarque nesta viajem;


 Projeto Biblioteca escolar: espaço de conhecimento;
 Projeto Gibiteca: (Re)descobrir o prazer da leitura;
 Projeto Cantinho da leitura: ler com prazer;
 Projeto Ciranda da Leitura;
 Projeto de Monografias de Literatura: Vivendo e Aprendendo;
 Projeto Na vanguarda da leitura.

Destes projetos, apenas 1 é de iniciativa autônoma da bibliotecária e apenas 1 envolve


professores de outras disciplinas além da língua portuguesa. Os outros 5 são coordenados e
conduzidos apenas por professores de português. Cada um dos projetos pode ser analisado
detalhadamente, com olhares críticos para o seu embasamento teórico, a metodologia, o
cronograma. Porém, este estudo não prevê tamanha abrangência, ficando restrito aos objetivos
dos projetos citados, por serem estes que permanecem quando alcançados.
Os 7 projetos apresentam objetivos em comum e alguns bastante distintos, são eles:
 Incentivar o gosto pela leitura;
 Oportunizar leituras dinâmicas;
 Enriquecer o vocabulário dos alunos;
 Superar as dificuldades ortográficas;
 Reconhecer a linguagem escrita como meio de comunicação;
 Desenvolver a cultura de solidariedade entre alunos, (entre) a instituição de Ensino e a
comunidade em geral;
 Arrecadar livros/revistas e materiais didáticos para ampliar o desenvolvimento
cognitivo e intelectual dos alunos;
 Incentivar a participação da escola em projetos que visem à promoção da cidadania;
 Possibilitar momentos lúdicos, despertando o interesse do educando em produzir
novas histórias;
 Despertar a criatividade e a desenvoltura para a oratória.
 Desenvolver a pesquisa científica e técnicas de apresentação de monografias literárias
de autores brasileiros de todas as escolas, dentro das normas da ABNT.
Estes objetivos refletem a estreita relação entre os projetos de leitura e a disciplina de
Língua Portuguesa das escolas. Percebe-se o domínio dos interesses dessa área: incentivar o
gosto pela leitura/leituras dinâmicas, vocabulário, dificuldades ortográficas, reconhecimento
da escrita como meio de comunicação, produção de histórias e oralidade. Para a conquista de
tais objetivos nenhum relatório apontou para uma relação de iniciativa conjunta entre
professor e biblioteca/bibliotecário. A BE permanece como recurso adicional, passiva, local
onde se emprestam os livros para leitura, e dessa forma, o projeto volta-se para a sala de aula
e a figura do professor.
Entretanto, a presença de objetivos como a arrecadação de livros e a promoção da
cultura da solidariedade permitem a reflexão sobre possibilidades de ações que integrem o
trabalho do professor (de disciplinas diversas) ao da BE. A arrecadação de livros feita pelos
próprios alunos, além de ser um projeto que mobiliza todas as áreas da escola, pode produzir
uma consciência de valorização e democratização do acervo, o que seria fundamental para
tornar o ambiente da BE prazeroso e educativo.
É importante ter consciência das diferentes áreas em que um projeto de leitura produz
efeitos, mas também, conscientizar-se de que, se o objetivo é promover a leitura, as atividades
devem estar focadas no ato de ler, focadas no texto, de qual natureza for, por isso, a escolha
do material utilizado para leitura é decisiva. Projetos de leitura promovidos por profissionais
da área de Língua Portuguesa geralmente priorizam textos literários, os quais, justamente por
sua natureza literária, suprem as necessidades e convidam o ser humano a se tornar leitor, seja
na ficção, seja na poesia. A interação também é fundamental para ter conhecimento do que
está acontecendo com alunos enquanto leem, para isso o diálogo e o debate são essenciais. É
produtivo que o trabalho com a leitura esteja norteado por uma temática que seja relevante
para a prática social dos participantes.

3 - Acervo:

O acervo que determinada biblioteca disponibiliza para seus freqüentadores é de


fundamental contribuição para moldar a forma como os estudantes se relacionam com o
espaço. O simples fato de lá encontrarem o livro que procuram ou sugestões interessantes de
leitura tornam a BE cativante, simpática aos seus olhos. No entanto, uma BE não trabalha
apenas com livros de literatura, mas também com material bibliográfico útil para pesquisa.
Por isso, manter-se atualizada e a serviço dos interesses dos alunos é uma premissa para o
bom trabalho de uma BE.
Este é um ponto em que as políticas pró-leitura são de extrema relevância, pois há
programas do governo estadual e federal voltados diretamente para renovação e ampliação do
acervo das bibliotecas escolares. É o caso do Programa Nacional Biblioteca na Escola
(PNBE), que, desde 1997, tem como função dotar os acervos das escolas públicas,
especialmente com obras de literatura e que em 2007 investiu R$ 71 milhões. (Discutindo
Literatura, ano 4, nº 19, p. 54). Apesar disso, em nenhum dos relatórios foi citada alguma
relação com o PNBE ou com outro programa governamental com relação à melhorias na
biblioteca.
Apenas 9 relatórios tocaram em questões sobre o acervo. Abordaram o número total
de livros e a média de empréstimos mensais. Estas 9 escolas possuem, em média, um acervo
de 5.000 livros (incluindo literatura e material de pesquisa), com 274 empréstimos por mês.
Nenhum documento fez separação quanto aos tipos de livros componentes do acervo,
portanto, referem-se a livros de literatura, enciclopédias e livros didáticos. Estimando que
30% do acervo seja literatura, apenas para leitura, e sabendo que os livros de pesquisa não são
disponibilizados para empréstimos, temos 1.500 livros de literatura dentro destas 9
bibliotecas, sendo apenas 274 emprestados a cada mês. Ou seja, mais de 1.200 livros ficam
acomodados todo mês dentro das BE.
Conclui-se que, mesmo sem a ligação a programas do governo que fomentam os
acervos, as bibliotecas aqui analisadas possuem um número de livros que supera a demanda
de empréstimos. Porém, isto é só uma aparente coerência no sistema educativo, que, se
tornará clara na prática quando a BE assumir seu papel educativo e ativo na formação de
leitores.

4 - Estrutura e funcionamento:

A formação de bibliotecários (em curso de Biblioteconomia) permite que em seu


currículo seja discutido modelos ideais para bibliotecas e salas de leitura. Muito da
bibliografia ligada a este estudo trazia fragmentos com recomendações, como um guia prático
para montagem de uma sala de leitura. Recomendações que tratam da iluminação, entrada e
saída de ar para conforto do usuário e formas de evitar a umidade dos livros, além da correta
disposição das estantes, como posicionar os livros, as mesas, que cores utilizar nas paredes e
muito mais detalhes.
Infelizmente, não há nenhum profissional de biblioteconomia dentro das bibliotecas
escolares da região. O que não justifica algumas falhas nas organizações das BEs, pois há
disponível nos site do Ministério da Educação e Cultura, no link do PNBE, orientações
básicas para se estruturar um bom espaço para leitura.
No entanto, existem casos específicos em que não há possibilidades de reorganização
das estantes e das mesas para melhoria do espaço. É o caso de 5 escolas que avaliam o seu
espaço como pequeno, dentre elas uma de 15m2, que teve que cessar as pesquisas porque se
tornava complicada a permanência de alunos no espaço, e outra com um espaço
desproporcional de 3m x 12m.
Mesmo assim, é possível uma avaliação positiva a respeito dos materiais disponíveis
na BE. Além dos livros, em todas as bibliotecas se encontram DVDs, televisores,
computadores com a acesso à internet (pelo menos 1 em cada BE), jornais e revistas e ainda,
materiais para recortes ou demais atividades manuais. Sobre isso, existem estudos com duras
críticas sobre o uso da biblioteca como depósito ou como sala de recursos audiovisuais.
Porém, um outro olhar sobre a questão pode mostrar que estes recursos estão também
disponíveis para o uso da própria BE.
Além da estrutura encontrada nas bibliotecas, é de grande relevância algum
apontamento sobre o funcionamento deste espaço. Todos os relatórios continham informações
neste sentido, por isso, foi possível estabelecer 5 tópicos padrões para análise. O quadro a
seguir mostra quantas bibliotecas funcionam apresentando características sobre o turno de
trabalho, informatização, abertura à comunidade, acesso no contra-turno e cobrança de multas
por atrasos.

Nº de BEs
Manhã e tarde - 6
Turnos de funcionamento
Manhã, tarde e noite - 15
Catalogação dos livros informatizada 7
Registro de empréstimos informatizado 3
Abertas à comunidade 21
Permissão de acesso ao aluno em qualquer 21
horário, inclusive contra-turno.
Cobrança de multa por atrasos 9

Estes dados mostram uma biblioteca escolar que, mesmo com barreiras tecnológicas
dificultando a praticidade em algumas áreas, está a caminho da democratização. Isto pode ser
observado pelo fato de grande parte das 21 BEs funcionarem nos 3 turnos, todas elas estarem
abertas à comunidade e permitirem o acesso do aluno em qualquer horário, e apenas 9
cobrarem multas sobre os atrasos nas devoluções dos livros.
Os relatórios foram unânimes na exposição de seus métodos de funcionamento. A
regra do silêncio na BE apareceu em todos. Alguns na tentativa de tornar o trabalho mais
prático excedem-se na criação de regras, eliminando o caráter pedagógico do espaço e
ofuscando a imagem da biblioteca como um lugar acolhedor, democratizado e de liberdade.
Entretanto, a simplificação do facilitação no funcionamento não se comprova
inteiramente no dia-a-dia das escolas. Ainda existem pequenas regras, às vezes até ocultas,
que a tradição escolar brasileira não permite que sejam rompidas, por exemplo, analisando a
relação que a escola estabelece com a comunidade na qual está incluída: até que ponto há
realmente abertura?

5 - Profissional que atua na Biblioteca Escolar:

A concepção do bibliotecário como educador esteve ausente nos relatórios. Quando se


referem ao responsável pela biblioteca, na maioria dos relatos aparecem termos como
“responsável pela biblioteca”, ou ”funcionário da biblioteca”. Apenas 5 usam o termo
“bibliotecário”. E como já foi observado, apenas 1 (referido como bibliotecário) é ativo na
promoção da leitura.
Em apenas 1 dos relatos há exclusividade para exposição de atribuições específicas
para o responsável pela BE. São elas:

 Organização do acervo;
 Manutenção do acervo;
 Controle de registros;
 Cobrança das penalidades (multas, livros rasurados, etc.);
 Catalogação do material disponível para pesquisa;
 Gravação de programas pedagógicos;
 Controle da ordem, organização e disciplina do ambiente;
 Registro para controle do recebimento das eventuais multas e/ou livros extraviados;
 Visita semanal às salas de aula para cientificar alunos em débito com a biblioteca;
 Elaborar um controle quinzenal das pendências para que a Equipe Pedagógica tomem
conhecimento;
 Permanência constante do responsável na biblioteca que na necessidade de ausentar-
se, deverá deixar outra pessoa responsável em seu lugar.
De acordo com a tradição, o tecnicismo impera nas atribuições ao responsável pela
biblioteca. Mas, além disso, percebe-se uma concepção de fiscalizador do andamento das
atividades, cobrando penalidades, controlando a disciplina do ambiente e passando nas salas
de aula lembrando das situações em débito. Este trabalho fiscal é prejudicial para a relação
com os alunos, produzindo na imagem do bibliotecário o autoritarismo, a constante cobrança
e a antipatia. Isso facilmente se estende para a relação com os demais membros da
comunidade escolar, principalmente porque a forma como o bibliotecário estabelece relações
com os professores e a equipe pedagógica é gravando programas pedagógicos e prestando
contas de pendências com a BE, atribuições que negam o valor e a autonomia do seu trabalho.
A omissão em 20 relatórios de informações e de suas atribuições sobre este
responsável revela a concepção tradicional que não o enxerga como profissional para além do
cumprimento de funções técnicas. Tendo em vista que os responsáveis pela BE são os autores
destes relatos, percebe-se falta de consciência e a auto-desvalorização de seu próprio trabalho,
tornando verdade na prática que “quanto mais maquinizado se torna o trabalho, menor valor
ele tem” (HEGEL, apud SILVA, 2003, p. 79).

CONCLUSÃO

Na realidade local analisada diagnostica-se a concepção tradicional de trabalhos na


biblioteca escolar e observa-se que nas escolas da cidade estão ausentes projetos consistentes
para promoção da leitura e formação de leitores. Falta convicção e clareza para os
profissionais que atuam nestes espaços a respeito da dimensão do poder que a BE possui para
impactar positivamente toda a comunidade escolar e a sociedade.
Conclui-se também que um projeto de leitura será de fato produtivo se estiver ciente
da abrangência de seus efeitos, focado prioritariamente na leitura, no texto e atento aos efeitos
no indivíduo, na sua relação com as pessoas e a visão sobre o mundo que o cerca.
Além disso, três campos do saber se fundem nas investigações sobre leitura e sua
relação com a biblioteca escolar: a Educação, a área de Letras e a Biblioteconomia. As três
áreas estão intimamente ligadas dentro da BE e a valorização e o aproveitamento daquilo que
cada uma tem a oferecer traz consistência à promoção da leitura.
Mas o objetivo central aqui proposto norteava-se pela questão sobre a idéia que se
pode ter de biblioteca escolar numa escola que não tem formado leitores. A BE sofre,
nitidamente, os conflitos existenciais do apego ao tecnicismo sem atentar para o dinamismo e
de sua natureza biblioteconômica com sua natureza educativa. Na prática, por exemplo, pode-
se ter um rico acervo, mas, sem um sistema de organização adequado, dificultando o acesso;
ou então, um ambiente agradável, com boa disposição das mesas e das estantes, cartazes nas
paredes, porém, ser o local de castigo dos alunos ou das aulas de reforço. Estas incoerências
estão presentes em grande parte das BEs analisadas.
Porém, a questão é bastante complexa. Para uma escola que não tem formado leitores
a biblioteca está em coma profundo e, mesmo inconsciente, vivenciando os conflitos dos
tempos modernos com a tradição e as dificuldades para a fusão entre estrutura, funcionamento
e práticas pedagógicas.
A BE tem responsabilidades na atual “não-formação” de leitores, junto da ausência de
uma política de formação de leitores como meta educacional do Estado e da escola, que
deveria fazer parte do planejamento para envolver toda a comunidade escolar. Conseqüência
dessa omissão, é o silêncio sobre as BEs como objeto de estudos, dificultando aos
profissionais da área o conhecimento para fundamentar seu trabalho ou pensar em estratégias
para promoção da leitura.

BIBLIOGRAFIA

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