Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
BATATAIS
2008
KÊNIA GABIATTI
Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado ao Centro
Universitário Claretiano para
obtenção do título de graduado
em Letras .
Orientador: Prof. Ms. Renato
Alessandro dos Santos.
BATATAIS
2008
KÊNIA GABIATTI
Examinador: ___________________________________________________
literário. Utilizamos o livro do professor Ozíris Borges Filho, Literatura e Espaço para
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 11
1.1 Contextos.................................................................................................. 12
2. O TALISMÃ....................................................................................................... 18
3. A TOPOANÁLISE............................................................................................. 27
3.1 Conceituando............................................................................................. 27
3.4 A Espacialização....................................................................................... 39
3.5.1 Os Sentidos..................................................................................... 42
3.5.2 A Visão............................................................................................. 43
3.5.4 A Audição........................................................................................ 47
3.5.5 Olfato............................................................................................... 48
3.6 Fronteira..................................................................................................... 49
3.7.2 Advérbios........................................................................................ 52
3.7.4.1 Direcionalidade.................................................................. 55
3.7.4.2 Englobamento.................................................................... 56
3.7.5 Adjetivos.......................................................................................... 56
3.7.6 Afixos............................................................................................... 57
3.7.7 Substantivos.................................................................................... 57
3.10 Topopatia.................................................................................................. 59
3.11 Toponímia................................................................................................. 59
4. A TOPOANÁLISE DE O TALISMÃ................................................................... 60
4.3 Espacialização........................................................................................... 70
4.4 Gradientes Sensoriais............................................................................... 70
4.4.1 Visão................................................................................................ 70
4.4.2 Audição............................................................................................ 71
4.4.3 Olfato................................................................................................ 72
4.4.4 Paladar............................................................................................. 72
4.4.5 Tato................................................................................................... 73
4.5 Fronteira...................................................................................................... 74
4.6 Topopatia.................................................................................................... 74
CONCLUSÃO ......................................................................................................... 76
romance O Talismã.
CAPÍTULO 1
Neste capítulo, para contextualizar o período em a obra foi recebida, veremos alguns
fatos que foram de grande importância para os Estados Unidos e, também, para o
1.1 Contextos
No ano de 1981, Ronald Reagan foi eleito em seu primeiro mandato como
presidente dos EUA, optando por praticar uma política externa agressiva, investindo
juntos, colocaram fim à chamada Guerra Fria, o que fez com que a corrida
Reagan criou uma doutrina que reduziu tributos, combateu a inflação com a
„Guerra nas Estrelas‟, com o intuito de criar um escudo para mísseis nucleares,
política externa, mas o país mais influenciado foi a Rússia, na época URSS. Os
russos não conseguiram acompanhar a corrida armamentista o que fez com que o
formando imensas filas no McDonald‟s, já que a cultura do fast-food era o que mais
todo.
Entretanto, nesse mesmo período, a Bolsa de Nova York teve uma queda, no
ano de 1987 que foi comparada àquela ocorrida no ano de 1929. A causa da queda
é incerta, muitos culpam os alemães por terem feito rebentar a bolha especulativa ao
de uma ação perder metade do seu valor de um dia para o outro. Para não
entrou em depressão.
Pode-se dizer que ao mesmo tempo em que os Estados Unidos viviam seus
momentos de glória perante o resto do mundo, internamente as coisas não iam tão
bem.
A concentração de riqueza nas mãos de pequeno número de pessoas juntou-
ensino, que teve um efeito de imbecilização dos estudantes, pois retirou deles a
interesse em questões políticas e tendendo aceitar tudo que lhes fossem imposto de
importantes para a arte em geral nos Estados Unidos. Acompanhemos agora alguns
1980. Suas obras abordam a vida burguesa oprimida por um lado pelas próprias
amplos, solidificando dessa forma o enredo. Entre suas obras, temos a tetralogia da
Outro nome de sucesso na época, e até hoje, é Philip Roth, de 74 anos, que
usa o moralismo ianque em suas obras, observando a força que a hipocrisia tem em
Gore Vidal pode ser considerado o escritor mais versátil da década de 1980,
pois seu trabalho trafega por diversos gêneros, como o romance, o teatro, o cinema,
sua escrita, pois recusa-se à verdade da ciência, freqüentemente, para isso, vale-se
não-conscientes. Kalki (1978), Duluth (1983), Império (1987), A era dourada (2000),
Outra forma de arte que repercutiu muito nos anos 1980 foi a música. Houve
renovação com o punk, que apareceu mais acelerado e intenso – como no hardcore;
o hard rock também sofreu alterações e dividiu-se em trash metal, speed metal,
black metal, dentre outros. Foi criada a MTV, o primeiro canal de televisão voltado à
música; surgiu o hip hop, as primeiras raves e a musica eletrônica ganha espaço nas
pistas de dança.
temos Madonna e Cyndi Lauper, que foram os principais ícones da década e Tina
Turner, que lançou um novo álbum que a consagrou como rainha do rock. Outros
cantores de sucesso foram Janet Jackson, Lionel Richie, David Bowie, Whitney
interfaces gráficas (XFree 86, Windows e Maços), o CD e, além disso, houve grande
Por outro lado, foi também na década de 1980 que os Países Baixos
ecstasy ganhou as ruas com seu uso recreativo, mas foi logo proibido nos EUA,
também foi disseminado, já que o preço do quilo da droga caiu pela metade.
Estes foram alguns dos fatos que tiveram maior destaque na década de 1980.
O TALISMÃ
Jack Sawyer, 12 anos, e sua mãe, Lily Cavanaugh, que está doente, chegam
ao hotel Alhambra em New Hampshire, após vários dias fugindo de Morgan Sloat,
sócio do falecido pai de Jack, que quer se apoderar de todos os bens da família.
normalmente o chama de “Jack Viajante” e que conta a Jack que ele pode salvar
sua mãe, bastando para isso encontrar um talismã. Speedy também dá ao menino
uma bebida que o leva direto para os “Territórios”, um mundo de estilo medieval
paralelo ao nosso e onde Jack deverá ingressar para sua jornada em busca do
Talismã.
pelos territórios, o menino descobre que a rainha Laura DeLossian também esta
doente e leva um choque ao perceber que ela é “uma gêmea”, ou seja, o duplo de
Durante a jornada, Jack conhece vários lugares, tanto na terra como nos
Territórios, faz novos amigos e reencontra outros e, também, passa por várias
situações perigosas que, depois, serão lembradas com carinho por ele, mas nunca
Apesar do romance ter sido lançado no ano de 1984, a idéia surgiu mais ou
menos dois anos antes, quando Stephen King e Peter Straub se encontraram em
Cada autor tem seu estilo próprio de escrever, mas mesmo assim, poucas
Uma revista da época, quando comentou trechos típicos de King e de Straub, optou
por não transcrever esses trechos, o que nos leva a crer que não tinham tanta
para enganar o leitor, levando-o a crer que foi tal autor que as escreveu. Ambos são
reconhecidos por suas obras de terror e suspense, mas O Talismã não se encaixa
nesses termos.
afetando um pouco a personalidade de cada um: Straub disse ter melhorado sua
inspiração para contar histórias e King diz que aprendeu muito em relação ao seu
próprio estilo e que isso fez com que se tornasse mais consciente de seu trabalho.
sucesso que rendeu uma seqüência chamada A Casa Negra, que foi lançada em
2001. Segundo informações no site oficial de King, ele e Straub estão planejando
King, que alguns anos mais tarde viria a ser conhecido apenas como Stephen King.
King e seu irmão mais velho foram criados apenas pela mãe, passando
King sempre foi leitor assíduo de quadrinhos, principalmente “Tales from the
Crypt” (Contos da Cripta), o que provavelmente estimulou seu gosto pelo terror. Ele
começou a escrever quando ainda era criança. Assistia a filmes de terror e depois
escrevia histórias com a ajuda de David, seu irmão. Ele fazia cópias que vendia para
os colegas de sala, até que seus professores o forçaram a parar com isso.
seguinte, publicou The Star Invaders, de forma amadora. Seu primeiro trabalho
publicado em revista foi o conto “I was a teenage Grave Robber”, na Comics Review,
e a primeira história vendida foi “The Glass floor” para a Startling Mystery Stories.
foi se aprofundando na arte da escrita. Era responsável pela coluna semanal “King‟s
usando uma velha máquina de escrever e vendendo suas histórias para revistas
masculinas.
pareça, Carrie: a estranha foi uma história que Tabitha retirou da lixeira, forçando o
escreveu O Iluminado e também começou a escrever The Stand, que tem a cidade
como cenário principal. Passaram três meses na Inglaterra e voltaram para o Maine,
primeiro para Center Lovell e depois para o norte de Orrington, para que King
O autor assumiu que teve na sua vida um período de vícios, mas que estes
A resposta é simples: não fui feito para outra coisa. Fui feito para escrever
histórias e amo escrevê-las, essa é a razão de fazê-lo. Eu realmente não
consigo me imaginar não fazendo o que eu faço. Eu tenho idéias em
qualquer lugar. Mas tudo o que tenho de idéias talvez se resuma a uma
única coisa, mas em muitos casos é ver duas coisas e ter elas juntas em
um novo e interessante ponto de vista e depois adicioná-las a uma questão
“E se?” “E se” é sempre a questão.(Disponívl em
<http://www.stephenking.com>. Acesso em 12 de setembro de 2008.
Tradução nossa)
Uma curiosidade sobre King é que ele publicou vários livros com o
cinema, além de contribuir nos roteiros de muitos filmes baseados em suas obras e
melhor nas obras de King não são os monstros, mas sim as pessoas e a forma como
ponto que os roteiristas e cineastas falham ao adaptarem suas obras para o cinema,
mansão Marsten”;
Morta;
Vingança;
Maldito;
mesmo nome;
nome;
nome;
Assassino;
Essas são algumas das obras de King adaptadas para o cinema, entretanto,
mais velho de três irmãos. Seus pais, um vendedor e uma enfermeira, queriam que
ele fosse um atleta, um médico ou um ministro luterano, mas o que o garoto queria
decepcionado, pois tudo que fazia era recortar formas em papéis coloridos, então,
por conta própria, passou a memorizar seus quadrinhos e, depois, a contar para as
outras crianças da vizinhança, até que ele pôde reconhecer todas as palavras.
outras crianças liam aventuras mais leves, ele revirava a biblioteca em busca de
ganhando assim grande fama como contador de histórias e sendo convidado para
Aos sete anos de idade, Straub foi atropelado por um carro e quase morreu.
Quebrou muitos ossos, sendo necessário passar por várias cirurgias, o que o deixou
mais ou menos um ano longe da escola e também em uma cadeira de rodas e com
alguns tiques emocionais. Apesar disso, ele continuou uma criança sociável
Country Day School e era o aluno mais querido pelos professores de inglês. Foi
nesse período que Straub conheceu o jazz, que o influenciou muito, principalmente o
Straub foi para a Universidade de Wisconsin e lá, após conhecer vários bons
com poucas mudanças do que era antes de entrar na universidade. Um ano depois,
Quando ainda contava histórias nas rodas para crianças, Straub pensou que
traumas do acidente ao alcance das mãos, outros, que essa é uma forma de manter-
se longe da impiedade.
Irlanda, fazer PhD e escrever seriamente. Foi em Dublin que ele publicou dois
pequenos livros de poesia com a ajuda de Thomas Tessier, seu amigo, e escreveu
uma novela, que apesar de não ter sido muito boa foi aceita pelo primeiro editor a
medos para criar uma ficção. Com a ajuda de seus amigos Thomas Tessier e Ann
1979, mantendo contato com seus velhos amigos escritores e também com grandes
músicos de jazz. Apesar de dizer que não possui hobbies, Straub dedica bastante
Concluindo, o que vimos neste capítulo foi como a obra surgiu e as biografias
A TOPOANÁLISE
Em uma obra literária, todos os itens utilizados pelo autor são de grande
importância, mas existem aqueles que recebem maior atenção dos estudiosos,
termos usados podem receber definições variadas. Apesar disso, a teoria literária
não tem por obrigação repetir esses conceitos, podendo criar novos de acordo com
3.1 Conceituando
Abbagnano (1998) nos diz que a concepção de espaço sofreu três tipos de
abordagem:
Sobre a natureza do espaço, em que pode ser:
média;
espaço não é real nem irreal. Essa idéia foi desenvolvida com o aparecimento da
perceber que quando falamos de espaço, referimo-nos tanto aos objetos e suas
relações como ao recipiente (localização dos mesmos). Não podemos nos esquecer
topoanálise, continente, conteúdo e observador são partes integrantes, pois são eles
que formam o que se entende por espaço. Assim, a noção de espaço é dada pela
O lugar tem, pela filosofia, duas definições básicas. A primeira afirma que
lugar é o limite que contorna qualquer corpo. A segunda, mais moderna, acredita
A partir dessas definições podemos perceber, então, que espaço e lugar são
com o outro.
Por outro lado, Milton Santos (2004) diz que lugar é a existência que se
define que nossa relação com o mundo acontece em nível local-global. Santos
acredita também que noções de ação, técnica e tempo são ligados ao conceito de
tempo.
lugar.
Alguns autores dizem que a paisagem está ligada à forma; outros, como
Sanderville (2000), explicam o termo como elaboração cultural, pois sua definição
espaço físico.
Dessa forma, podemos dizer que a paisagem é o resultado da forma e mais
no século XVI com o sentido de “grande área ou extensão de terra delimitada, parte
da terra ou de uma terra jurisdição”. É o espaço dominado por algum tipo de poder,
tempos diferentes.
isto é, da vontade de um sobre o outro, podendo ser exercido pela coerção – uso de
pela sedução, maneira sutil de levar alguém a agir de determinada maneira, por
estudo psicológico e sistemático dos locais de nossa vida íntima (1989, p. 28).
dentro do texto literário serve a variados propósitos, entre essas funções do espaço
destacaremos:
foram indicadas no espaço em que ela ocupa. Esses espaços são fixos
momentâneo.
factual, pobre, por assim dizer, na medida em que não possibilita uma
de espaço heterólogo.
o próprio tempo é usado como função espacial. Osman Lins (1976) diz
que temos de estar atentos pois alguma alusão ao tempo pode ser na
Enredo é a totalidade dos fatos e das ações que ocorrem dentro da narrativa
etapas.
narrativa.
haver mais de uma complicação dentro de uma narrativa, pode-se também ter mais
chamado clímax: este será o ponto mais próximo do desfecho. Deve-se, nesse
que se desenvolve num texto. O tema está continuamente presente, porém, nem
Duas ressalvas são muito importantes nessa etapa. Primeiro, às vezes, não é
possível segmentar o texto, pois ele forma um todo indivisível. Por outro lado,
devemos ter cuidado para não dividirmos demasiadamente um texto, caindo num
macro e microespaços.
onde o ser humano vive. O homem, por meio de sua cultura, modifica o espaço e o
destacar o homem como sujeito que modifica sem, entretanto, negar as tensões
ambiente está mais ligado ao olhar do narrador, enquanto a paisagem pode ligar-se
vertical as coordenadas alto X médio X baixo. Em muitos casos, esse eixo é bipolar,
tendo sua oposição resumida pelos extremos alto X baixo. Na obra, se esse eixo for
devendo estar atentos aos valores que essas duas coordenadas podem assumir
exterior).
outro lado, o que está abaixo do solo ou atrás é invisível e, portanto, negativo.
Movimentos para cima e em frente são positivos, para baixo e para trás, negativo.
1. lateralidade: direito/esquerdo
2. frontalidade: diante/atrás
3. verticalidade: alto/baixo
4. prospectividade: perto/longe
5. centralidade: centro/periferia
6. amplitude: vasto/restrito
mas ainda estamos no âmbito dessa construção, pois, afinal, é o narrador que
pessoa opine sobre o espaço construído, afirmando que tal coisa é bela, ou pobre,
escritores têm evitado longas descrições. Elas são mais curtas e entremeadas com
reflexões ou ações da personagem, diminuindo sensivelmente a suspensão da
narrativa.
(narração + descrição).
unidade temática.
literário. Uma espacialização será abundante quando o espaço for descrito com
a espacialização moderada.
se o texto nos der apenas indicações gerais, sem minúcias, teremos uma
espacialização panorâmica.
A espacialização abundante tende a ser minuciosa, mas não o é
ser. Um texto pode apresentar poucas indicações das coordenadas espaciais e dos
minuciosa.
atingir esse efeito de sentido, é comum encontrarmos no texto estruturas com sujeito
olfato, tato, paladar. O ser humano se relaciona com o espaço circundante através
VISÃO
AUDIÇÃO
OLFATO
TATO
1
PALADAR
3.5.1 Os Sentidos
Cada ser percebe diferentemente o mesmo espaço, como vimos. Dois seres
colocados ao mesmo tempo no mesmo espaço terão opiniões diversas sobre ele, e
isso vale igualmente e com mais razão para os grupos sociais. Essas variações
devem-se à formação cultural de cada um que, ao longo dos anos, foi recebendo
1
BORGES FILHO,Ozíris. Espaço & Literatura: Introdução à Topoanálise, p. 70.
genética de cada ser particular. Há limites em nossos sentidos que são comuns por
3.5.2 Visão
sentido por meio do qual o ser humano entra em contato com o mundo. Por ela, o
homem capta o espaço em seu distanciamento máximo; por meio dela inúmeras
informações o atingem, mais que pelos outros sentidos. A visão se destaca como
de discernir cores. Nossa sensibilidade cromática é tão precisa que dificilmente será
vemos, como certos animais, o que ocorre em nossas costas, no entanto temos uma
desconfiança.
Todo espaço está relacionado com a luz, seja na sua forma monocromática (o
branco ou o negro) seja na sua forma cromática (azul, amarelo, vermelho, verde,
etc.). Ao colorir qualquer espaço, o narrador, ou eu-lírico, está dotando-o igualmente
como nos provam os desenhos das cavernas primitivas. O mesmo acontece com as
cores. Essa relação marcante entre ser humano e cores torna necessário perceber
quais são as simbologias básicas das cores para melhor analisar um texto.
análise de uma obra ou conjunto de obras. A preferência por determinada cor será
igualmente significante.
entanto, é possível observar simbologias comuns para as cores nas mais diversas e
entre os símbolos mais antigos do homem, porque existe uma relação importante
regime diurno e ao deus Apolo, os pontos cardeais Leste e Oeste são normalmente
pintados nessa cor, por representarem o nascer e o pôr (morte) do sol, trazendo a
diversos símbolos de diversas sociedades. Não podemos esquecer que cada texto é
único e, portanto, a simbologia das cores poderá ter nele papel peculiar.
Azul: É quase sempre relacionado com o céu, entretanto essa relação não
derradeira das cores primárias a ser nomeada por um termo especial: é uma cor
sugere ter menos peso do que realmente possui e pode simbolizar o céu e o mar,
uma cor expansiva e ardente e seu brilho é associado ao ouro e, portanto, à riqueza,
são amarelas, indicando sua casta social. Esse exemplo mostra a ambigüidade do
Verde: Sua relação mais evidente é com a natureza e, portanto, grande parte
de sua simbologia derivará disso, tanto que em muitas línguas, como inglês, o termo
para verde está inclusive relacionado com as idéias de crescimento e planta. Daí
vem a ligação da cor verde com a primavera e a vida que germina; é também a cor
mediador entre calor e frio, alto e baixo. É uma cor refrescante, humana e, em
do branco e, foi talvez a primeira a adquirir um sentido simbólico, tendo por esse
vermelho sugere ser mais pesado do que é, e também conota o sentido “para baixo”,
quando ligado à extensão. É por isso que, nos elevadores, a seta que indica o
vida, energia, fogo e poder. Sua tonalidade também tem significados diferentes,
regeneração.
3.5.3 O Tato
imaginação.
sobre o espaço e os objetos que o ocupam e que também são espaço. Qualidades
espaciais táteis como liso, crespo, fino, grosso são valorizadas de diversas maneiras
em um texto literário.
3.5.4 Audição
percepção se mostrou menos útil para os primatas que para os carnívoros que
tinham que rastrear sua presa. Os olhos captam informações do espaço de maneira
mais abundante e precisa que os ouvidos, mas, no entanto, muitas vezes, somos
são possibilidades que excitam o ser humano e que estarão presentes no texto
axiológica nessa divisão. O silêncio, por exemplo, tanto pode ter uma conotação
3.5.5 Olfato
modernos, parece que o espaço ideal seria aquele em que houvesse uma ausência
emocionalmente.
apesar de que a sociedade moderna vem se tornando cada vez mais visual.
No texto literário, essa conjunção de sentidos também ocorre. Teoricamente,
ela perceba esse espaço. Isso ocorrerá pela movimentação, contato e manipulação
3.6 Fronteira
Segundo Iuri Lotman (1978), a fronteira divide todo o espaço do texto em dois
subespaços, que não se tornam a dividir mutuamente, ou seja, ela dividirá o espaço
lá.
subespaços, pois estes são diferentes. Essas diferenças podem ser social,
espaço.
geográficas).
penetrabilidade ou impenetrabilidade.
fronteiras, podendo ser móveis, que transitam livremente pela fronteira, ou imóveis,
que não atravessam fronteiras. No entanto, o conceito de imóvel traz consigo a idéia
a heterotópica.
Para a personagem que não tem fronteira, chamaremos politópica. Existe
chamado de utópica.
mensagem.
expressão espacial disponível ao falante da língua, pode ser uma posição fixa ou um
discurso e estabelece as noções do eu-aqui, sendo que aqui indica a posição que o
retomam o que já foi dito e aquele o que foi dito há mais tempo ou em outro contexto
lingüístico.
gramaticais podem ser quebradas para que o texto torne-se mais interessante.
Sendo assim, “este” pode referir-se a algo distante espacialmente, mas próximo
3.7.2 Advérbios
1 – frente: adiante (de), diante de, defronte (de), defronte (a), em frente (de),
em frente(a), em face de, em face a, frente a, à frente (de), de frente para, perante,
2 – atrás: atrás (de), detrás (de), de costas para, depois de, após.
entre objeto e ponto de referência, por exemplo, em cima (de)/debaixo (de), embaixo
2
Tabela retirada da obra Espaço & Literatura: Introdução à Topoanálise, p. 129
1 – Posição interna no espaço englobado: dentro (de), em, no interior (de),
(de), em roda (d), ao derredor (de), em derredor (de), fora (de), exteriormente,
externamente.
lados.
englobamento.
3.7.4.1 Direcionalidade
a) orientação horizontal
verbo.
Outros verbos nessa categoria são trazer e levar, que salientam o ponto de
que indica. Partir e chegar são diferenciados por enfatizar ponto inicial (partir de,
b) orientação vertical
subir/descer. Esses verbos são acompanhados das preposições de, a, para, até e
outros.
3.7.4.2 Englobamento
juntar-se.
3.7.5 Adjetivos
espaciais como alto e baixo, largo, estreito, comprido, curto, entre outros.
além de tamanho.
3.7.7 Substantivos
orientalmente e ocidentalmente.
3.8 As Figuras de Retórica
sempre terá sentido positivo e a segunda, negativo. Isso fica claro quando
usamos expressões metafóricas do cotidiano como uma pessoa está “para cima” ou
“para baixo”.
Por outro lado, uma personagem pode selecionar espaços e omitir outros,
algum lugar.
3.10 Topopatia
espaço maléfico, negativo, disfórico, onde o personagem não se sente bem, temos a
topofobia.
3.11 Toponímia
Consiste no estudo dos nomes, próprios ou não, dos espaços que aparecem
real, ele deixa o texto mais verossímil e, ao criar um, ele usa um efeito de
no romance O Talismã.
CAPÍTULO 4
A TOPOANÁLISE DE O TALISMÃ
Como mencionado no capítulo dois, Jack Sawyer faz uma grande viagem
atravessando os Estados Unidos de costa a costa. Nessa viagem ele passa por
a) Hotel Alhambra: É o lugar onde Jack e sua mãe, Lily, refugiam-se, fugindo
de Morgan Sloat, sócio de seu falecido pai. Apesar de ser um hotel grande, no
período em que as personagens se encontram lá, ele parece mais com um hotel mal
principalmente, o quarto de Lily. Ela está doente, sente-se muito cansada, abatida e
depois que Jack parte, deixa de se preocupar em manter uma boa aparência para
que Jack conhece Speedy Parker e também recebe a notícia de que pode salvar sua
mãe, sendo preciso para isso fazer uma viagem de volta à Califórnia para pegar um
talismã.
O parque propiciou a Jack sua primeira passagem aos Territórios, para tomar
um suco mágico que Speedy oferece para ele. De certa forma, Jack já conhecia
esse mundo, pois havia ouvido seu pai e Morgan Sloat falarem sobre o assunto, mas
o considerava como sonho de olhos abertos, pois era um lugar muito diferente do
por uma rainha, por outro lado, existem muitas coisas diferentes por lá, como lobos
que são pastores e os animais do rebanho não se parecem com os animais que
conhecemos.
[...] O oceano é de um azul mais exuberante, o azul mais autêntico que Jack
já vira. Por um instante, ficou paralisado, a brisa do mar lhe agitando o
cabelo, os olhos fixos na linha do horizonte, onde aquele oceano índigo se
unia ao algodão desbotado do céu. A linha do horizonte mostrava uma
débil, mas inequívoca curvatura. Ele balançou a cabeça, franzindo a testa, e
virou-se para outro lado. Plantas marinhas, altas, selvagens, emaranhadas,
espalhavam-se pelo promontório onde, um minuto antes, erguia-se o
cercado do carrossel. O píer também desaparecera; em seu lugar, uma
série de rochas de granito corriam para o oceano. As ondas atingiam a base
das rochas e penetravam em fendas e grutas circulares com um enorme e
cavernoso estrondo. Espuma branca como claras de ovos batidas erguiam-
se no ar e eram sopradas pelo vento. (...) Um rústico caminho de carro de
bois descia do topo do promontório (do ponto em que, na sua mente insistia
chamar de “mundo real”, se situava um galpão do parque). (...) Parou um
pouco à frente das amoras silvestres para olhar o sol, que parecia um tanto
menor, ainda que mais ardente que no outro mundo, e não tinha uma
aparência ligeiramente alaranjada, como naquelas velhas gravuras
medievais? Jack pensou que sim.[...] (KING, 2000, p. 46)
estrada para oeste, caminhando ou de carona em algum carro. Quando seguia para
a cidade de Oatley pela estrada da Moenda, Jack se deparou com um trecho mais
escuro e úmido, que era um túnel formado por árvores inclinadas na sua abertura e
era cercado por uma esteira de hera. Enquanto atravessava esse trecho, ouviu
passos, mas não conseguiu descobrir se era uma pessoa ou algum animal que
medo que Jack ainda estava sentindo com sua viagem e também a preocupação
com sua mãe, pois além de ele tê-la deixado doente no hotel Alhambra, sempre
ouvia vozes dizendo que ela estava morta. Esse medo também era proveniente da
falta de conhecimento que o menino tinha do que ia encontrar pelo caminho, afinal
de contas, a única coisa que ele sabia era que precisava do talismã e que devia ter
cuidado no caminho.
[...] Frio, úmido, com cheiro de barro, o túnel deu-lhe a sensação de ter se
aberto um pouco mais apenas para o devorar. Pois agora a vegetação
parecia fechar-se ao seu redor (...) De repente alguma coisa roço pelo chão
e Jack parou assustado. Bem, podia ser um rato... Ou quem sabe um
coelho cortando caminho por ali! O problema é que a coisa parecia um tanto
maior que um rato ou em coelho. (...) Parou de novo, ouvindo um som
breve, abafado. Como um cacarejo ligeiramente áspero saltando da
escuridão. E logo sentiu um cheiro familiar, mas de difícil identificação: um
cheiro forte, grosseiro, penetrante, que parecia deslizar pelo interior do
túnel. [...] (KING, 2000, p. 104)
e) Taberna Oatley – A taberna era um lugar freqüentado pelos moradores da
expediente.
para o bar, tomando conta da limpeza do lugar e outros serviços pesados para um
adolescente. Em troca, Jack tinha um lugar para dormir, comida e ainda recebia um
pouco de dinheiro e, como ele precisava bastante desse último para poder seguir
acontecer, entre elas, o primeiro encontro de Jack com o mal na forma da “coisa”
Elroy, um lobisomem que trabalhava para Morgan Sloat e tinha como objetivo
[...] A Taberna Oatley parecia escura, sombria, sem vivalma quando Jack
atravessou pela primeira vez o umbral d aporta. Os fios da vitrola
automática, da máquina de fliperama e do jogo dos Invasores do Espaço
estavam fora das tomadas. A única luz que havia no salão vinha do anúncio
da Cerveja Busch sobre o balcão: a marca em néon entre dois picos de
montanha (sob eles havia um relógio digital, parecendo o mais estranho
OVNI jamais imaginado). (...) à meia-noite e meia da madrugada de sábado,
passando um pano de chão no banheiro dos homens, o cabelo suado
caindo nos olhos, Jack achou – isto é, teve certeza – que sem a estúpida
confiança que depositara em si mesmo não teria deixado que o alçapão da
armadilha caísse sobre ele (aquele alçapão que se fechou no momento
exato em que se sentou diante de Smokey Updike). (..) A coisa-Elroy se
aproximava rosnando, um passo oscilante e desajeitado nas patas traseiras,
as roupas escorregando para todos os lugares errados do corpo, a língua
pendendo de uma boca cheia de caninos. [...] (KING, 2000, p. 114, 115,
131)
territórios, como era noite, descansou um pouco e no outro dia, de manhãzinha, saiu
produtos, comidas e também algumas que ofereciam certo tipo de distração para
crianças e adultos. Enquanto estava lá, Jack sentiu-se feliz, mas ao chegar ao fim do
mercado para retomar sua viagem teve uma sensação de melancolia muito grande e
de novo a idéia de ser um estrangeiro naquele lugar caiu sobre ele, deixando-o
desconsolado.
voltou aos Territórios, fugindo de Sloat, ele caiu no meio de um rebanho que era
conduzido por um jovem muito grande, que, para surpresa de Jack, usava um
macacão com uma espécie de babadouro no peito. O rapaz virou-se para Jack, que
levou um enorme susto ao, se deparar com uma figura parecida com Elroy, mas
que, para seu alívio, era muito amigável. Naquele pasto, Jack sentiu-se muito bem,
pois encontrou em Lobo um amigo e ouviu várias coisas relacionadas a seu pai e,
também, à vida nos Territórios, porém, toda essa paz que os novos amigos
acabando com tudo que estava ao seu redor. Para escapar de Sloat, os amigos
pularam na água e mantiveram-se ali até que Sloat resolveu atacá-los e Jack voltou
h) Depósito de lenha: Nos Estados Unidos, Jack e Lobo passaram por vários
lugares e, no período da lua cheia, época em que os lobinos (como era chamado
grupo dos lobos) passavam por transformação tornando-se agressivos, Lobo pediu
para que Jack ficasse trancado dentro de um depósito de lenha, esperando que o
período passasse, pois, do contrário, poderia ser atacado e morto por ele, e isso era
uma coisa que não poderia acontecer, senão Lobo seria amaldiçoado. Lobo explicou
a Jack que isso estava escrito no Livro da boa lavoura, que era uma espécie de
Bíblia dos Territórios, e que, todo mês, nessa época, o rebanho deveria ser trancado
no celeiro para não ser morto por seu pastor, e agora o rebanho de Lobo era Jack.
No período em que esperava por Lobo, Jack ficou ansioso, pensando no que
totalmente diferente daquele que estava acostumado e se fosse visto por alguém
i) Casa do Sol: Jack e Lobo foram pegos pela polícia de Cyuga, Illinois, e
levados até o juiz da cidade, que decretou que eles fossem levados para um lugar
chamado “Casa do Sol”, que abrigava meninos que fugiam de casa e eram pegos
pela policia e, também, alguns que os próprios pais mandavam para lá. Sunlight
Gardener era responsável por essa casa, e ele tinha um duplo, Osmond, nos
Territórios que trabalhava para Sloat. Nessa casa, todos os meninos trabalhavam e
participavam de cultos religiosos, e sempre que alguém fazia alguma coisa errada
era trancado em uma caixa até se arrepender do que havia feito. Jack e Lobo
cada dia passado lá dentro, sendo ele também a levar castigos e ficar confinado na
caixa até que Jack revelasse o que Gardener queria saber. Foram várias semanas
na Casa do Sol, até que os amigos tentaram uma travessia para os Territórios e
conseguiram, mas o lugar para onde foram era pior do que a casa e eles voltaram,
mas foram pegos e Lobo foi mandado de novo para a caixa. Mas a sua
transformação ocorreu e ele conseguiu escapar, indo atrás de Jack que estava
sendo torturado por Gardener, para revelar que já esteve nos Territórios e tudo que
sabia sobre o assunto. Esta é, talvez, a passagem mais triste da viagem de Jack,
pois enquanto Lobo tenta salvar Jack, o amigo acaba sendo morto por um dos
ajudantes de Gardener.
Sloat, seu amigo e filho de Morgan Sloat. Richard recebe Jack e escuta sua história
sem dar credibilidade ao ocorrido, e dizendo a Jack que ele está cansado e
provavelmente isso está afetando sua mente, fazendo-o imaginar que passou por
aquelas situações e que ele deve ir pra casa, mas mesmo assim abriga o amigo e
consegue um pouco de comida para ele, deixando Jack sozinho no quarto para ir a
uma aula. Quando volta, diz a Jack que aconteceram coisas estranhas na aula, mas
colégio atrás de Jack, mandando que Richard o entregue. Os dois ficam escondidos
muito tempo, principalmente porque Richard não quer acreditar que aquilo tudo está
acontecendo, até que eles conseguem atingir um velho depósito do colégio que,
l) Terras Secas: É uma área que faz parte dos Territórios e que guardam
coisas monstruosas como bolas de fogo que rolam pelas colinas e clareiras áridas,
deixando rastros escuros atrás delas, árvores negras, vales escuros, seres
radiação que os deformou. Os dias que Jack e Richard passaram pelas Terras
Secas foram de grande tensão, preocupação e medo, principalmente para Jack que
tinha de tomar conta do trem em que estavam e de Richard, que dizia estar com
algum tipo de doença grave para não presenciar, ou melhor, para fugir daquela
realidade que ele tinha medo e não queria acreditar que estava acontecendo.
[...] O próprio solo tinha se alterado, tornando-se muito mais arenoso. Duas
vezes os paredões dos vales se fecharam sobre os trilhos, e tudo o que
Jack pôde ver de ambos os lados do trem foram penhascos avermelhados,
cobertos de plantas rastejantes. De vez em quando, via algum animal
correndo para se esconder, mas a luz era demasiado fraca, e o animal
demasiado rápido para poder ser identificado. Jack, porém, teve a estranha
sensação de que se o animal ficasse imóvel no meio da Rodeo Drive ao
meio-dia em ponto, ele ainda era seria incapaz de identificá-lo. (...) O odor
de flores há muito apodrecidas impregnava a terra; e, como no caso de
Osmod, havia sob esse cheiro um odor mais forte e denso.[...] (KING, 2000,
p. 364)
coordenadas para a chegada no hotel, dizendo que ele fica em Point Venuti, pois já
esteve lá perto com o pai e lembra que ele tinha muita fascinação e também medo
madeira, mas parecia ter sido feito de pedras negras. Quando entrou no hotel, Jack
teve que passar por vários obstáculos até finalmente chegar ao local onde estava o
também, pela descrição de alguns cômodos do hotel, podemos prever que outra
Nosso herói passou por vários outros lugares como o Palácio da Rainha
Laura DeLossian, onde pôde vê-la e constatar a semelhança entre ela e sua mãe; o
Buckeye mall, shopping, onde um garoto local quis brigar com ele e também
encontrou um negro, cego e que o fez lembrar de Speedy e tudo que ele havia
ensinado; uma rodoviária próxima à fronteira de Ohio e Indiana, onde viu Sloat;
enquanto estava com Lobo, antes de irem para a Casa do Sol, os dois estiveram em
Relacionamos o lado direito com o leste, lado onde o sol nasce, indicando o
A partir dessa relação podemos concluir que Jack tinha que seguir em direção
ao mal (oeste) para buscar um bem que salvaria sua mãe, o duplo dela, e outras
pessoas, mas para isso seria preciso superar todos os obstáculos e malefícios
encontrados no caminho. Depois de cumprido seu objetivo Jack faria uma viagem e
4.3 Espacialização
sentidos das personagens para transmitir ao leitor as sensações que elas têm sobre
o espaço e sobre tudo ao seu redor. Veremos alguns exemplos utilizados pelo
4.4.1 Visão
frente ao hotel Alhambra. E também um pouco mais à frente, quando Jack encontra-
se com uma gaivota e tem a sensação de que ela está olhando pra ele e analisando-
o.
e nos Estados Unidos é diferente. Temos como exemplo desse fato a personagem
Lobo, habitante dos Territórios que, ao passar aos Estados Unidos, aparece usando
óculos, e quando é questionado sobre sua visão por Jack diz que realmente está
enxergando melhor do que nos Territórios sem “olhos de vidro”(KING, 2000, P. 195).
4.4.2 Audição
desenvolvida. Percebemos esse fato nas passagens em que Jack, pela primeira vez
nos Territórios, ouve a diligência de Sloat chegando, e quando ele e Lobo estão no
lago e Sloat o atravessa para pegá-lo. Durante vários momentos Jack também
escuta sua mãe lhe chamando, Speedy falando com ele e, quando chega em Point
coisas boas e sensações agradáveis, tanto que em uma passagem o narrador cita
cheiro dele. Enquanto no segundo, além da poluição, temos também muito cheiro de
doentes.
[...] Jack sabia que para Lobo os cheiros eram o pior de tudo. Menos de
quatro horas após sua “vinda” dos Territórios, começou a chamar os
Estados Unidos de País do Mau Cheiro. Na primeira noite, vomitou meia
dúzia de vezes, a princípio só a água lamacenta do riacho que existia no
outro universo, depois um vômito seco e escuro. Eram os cheiros, ele
explicou com um ar digno de pena. Não entendia como Jack conseguia
suportá-los, como alguém podia suportá-los.[...] (KING, 2000, p. 196)
4.4.4 Paladar
O paladar é mostrado quando Jack prova o suco mágico que o leva aos
Territórios e também quando ele está lá e prova alimentos nativos, como veremos
4.4.5 Tato
tateando a parede e, também, um trecho em que Jack já está dentro do hotel negro
[...] Clarões vermelhos, como os que vira em muitos outros pontos de Point
Venuti, cintilavam, corriam por entre as partes viscosas. Por um instante os
clarões pareceram assumir estranhas formas geométricas. Jack os
contemplava, quase fascinado, como se assistisse a um espetáculo
pirotécnico. Os clarões pareciam rodopiar pelas maçanetas das portas num
insólito movimento convergente. As maçanetas começaram a brilhar como
vigas de ferro numa forja.(...) Estendeu o braço e agarrou uma das
maçanetas incandescentes. Só que não estava incandescente – tudo não
passara da mais pura ilusão. A maçaneta estava morna, só isso. Quando
Jack a fez rodar, o brilho vermelho desapareceu de todas as maçanetas. E
quando abriu a porta de vidro, o talismã cantou outra vez, fazendo todo o
seu corpo se arrepiar [...] (KING, 2000, p. 434, 435)
vividas pelas personagens, fazendo com que ele sinta-se no mesmo lugar que a
Por outro lado, nos Territórios, temos apenas fronteiras naturais, ou seja, as
Podemos considerar ainda que existe uma fronteira entre os Estados Unidos
fazer essa transposição se estiverem com outra que tem essa capacidade.
4.6 Topopatia
podemos perceber que alguns se sentem bem em determinado e mal em outro. Aqui
a) Jack – em relação aos Estados Unidos, podemos dizer que Jack sente
topofilia, é o lugar onde nasceu e por isso sente-se a vontade ali; aos
estivesse em casa, como se também fosse parte daquele mundo; por outro
lado, a relação de topofobia de Jack pode ser encontrada quando ele está na
qualquer lugar dos Estados Unidos, o mundo que o faz sentir-se mal só pelo
olfato.
c) Richard Sloat – nos Estados Unidos, topofilia, pois é sua terra natal, não
tendo o que temer ali; nos Territórios, topofobia, pois se recusa a acreditar
que aquilo seja real. Então, ele tem medo de tudo que pode acontecer; em
relação ao Hotel Negro Richard também tem topofobia, pois seu pai sempre
d) Morgan Sloat – tem relação de topofilia tanto com os Estados Unidos quanto
fazendo com que fique do jeito que ele quer e com tecnologias equivalentes
tempo em que passou com Jack, pois teve que encarar seus medos de infância e
também aceitar que seu pai nunca foi a boa pessoa que ele sempre imaginou que
fosse.
narrativa, e que essa influência pôde ocorrer, também, em sentido inverso, ou seja,
experiência proveitosa, tanto que alguns anos mais tarde resolveram repeti-la.
O Talismã, dando aos leitores, tanto deste trabalho quanto do romance, informações
detalhadas sobre o que cada local representa e influi nas vidas das personagens,
Jack Sawyer ao longo da sua jornada e descobrir que ele mesmo foi responsável por
talismã para curá-la, mesmo sem saber se chegaria sequer na metade do caminho.
BIBLIOGRAFIA
ARBEX JR., José. A outra América: apogeu, crise e decadência dos Estados
Duetto, 2008.
SPIGNESI, Stephen J. O essencial Stephen King: uma classificação dos seus mais
2008
2008
julho de 2008
de 2008