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Tratamento documental: possibilidades de preservação da memória histórica regional – relato de experiência

MAIA, C.J.; CORDEIRO, F.L.

Tratamento documental: possibilidades de preservação da memória histórica regional –


relato de experiência1

Documental treatment: possibilities of preservation of the regional historical memory -


report of experience

Cláudia Jesus Maia2


Filomena Luciene Cordeiro3

Resumo: Resgatar documentos do seu estado de degradação constitui possibilidades de preservar informações
para a posteridade. Este artigo visa relatar a experiência do projeto “Tratamento documental do acervo do
Fórum Gonçalves Chaves”, desenvolvido na Divisão de Pesquisa e Documentação Regional da Unimontes,
com apoio financeiro da FAPEMIG.

Palavras-chave: Memória. Tratamento Documental. Preservação da Informação.

Abstract: To rescue documents from their degradation condition constitute possibilities to preserve informa-
tion for the posterity. This article seeks to mention the experience of the project "Documental treatment of the
collection of the Fórum Gonçalves Chaves ", developed in the Division of Research and Regional Documenta-
tion of Unimontes, with the financial support of FAPEMIG.

Key words: Memory. Documental Treatment. Preservation of Information.

1 Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG – pelo apoio
financeiro; aos bolsistas de Iniciação Científica Voluntária, Aparecido Pereira Cardoso, Elaine dos Santos Coel-
ho, Luciene Cordeiro dos Santos e Naasson Ribeiro Santos; e a bolsista de Iniciação Científica-Junior (PRO-
BIC-JR) Kamila Rodrigues Silva pela dedicação e trabalho desempenhado.

2 Doutora em História pela UnB. Professora do Departamento de História e do Programa de Pós-gradu-


ação em História da Unimontes.
3 Doutoranda em História pela Universidade Federal de Uberlândia. Professora do Departamento De
História da Unimontes.
UNIMONTES CIENTÍFICA
Montes Claros, v.10, n.1/2 – jan./dez. 2008

INTRODUÇÃO necessidade de preservação destes suportes, que são


Mesmo guardados nos arquivos, os docu- ao mesmo tempo matéria-prima do/a historiador/a e
mentos – suporte material da memória – sofrem o memória de um povo.
desgaste do tempo e a ação da poeira, traças, dentre Nesta acepção, a memória não é a História
outros que os deterioram, necessitando a utilização propriamente dita, mas como salienta Bellotto (2004),
de técnicas que lhes possibilitem maior vida útil. um substrato bruto que nos permite recoletar cenas,
Encontra-se aí a importância do tratamento docu- reconformar episódios e construírmos o passado.
mental. Conforme sublinha Ingrid Beck (1985), os Para os historiadores, o documento se constitui em
arquivistas necessitam, por meio de observação e um dos principais suportes materiais da memória,
estudos, identificar de forma precisa danos, causas e pois conforme Lê Goff (2003, p. 536) o documento
meios de prevenção de deterioração de documentos, “não é qualquer coisa que fica por conta do passado,
a fim de estabelecer uma política de preservação do é um produto da sociedade que o fabricou segundo
acervo documental, conservando-o para a posteri- as relações de forças que aí detinham o poder”.
dade. A ampliação da noção de “fonte histórica”,
Em Montes Claros, município localizado na desde os anos de 1930, pelos historiadores dos An-
região Norte de Minas Gerais, são bastante recentes nales, provocou uma grande mudança metodológi-
os esforços de proteção e conservação dos docu- ca na historiografia e rompeu com a idéia de que o
mentos. As poucas iniciativas têm sido levadas adi- documento considerado válido para a História era
ante por pesquisadores da Universidade Estadual somente aquele produzido pelo Estado, como acredi-
de Montes Claros/ Unimontes com financiamentos tavam os positivistas. Nessa perspectiva, a história
da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Ger- era percebida como uma mera transcrição dos docu-
ais/ FAPEMIG. Importa destacar que o tratamento mentos. Desprezava-se o papel essencial das questões
documental objetiva não apenas a preservação e colocadas pelo historiador às suas fontes e louvava-se
conservação de acervos, mas possibilita a produção o apagamento do mesmo historiador por detrás dos
de pesquisas e, por consequência a produção de con- textos, “os vestígios deixados pelos pensamentos e os
hecimentos em várias áreas. O presente trabalho tem atos de outrora são documentos escritos, testemu-
por objetivo apresentar o relato de experiência de um nhos voluntários (...) não pensam nos documentos
dos projetos desenvolvido no âmbito da Divisão de não escritos” (BOURDÉ; MARTIN, 1983, p. 102-
Pesquisa e Documentação Regional (DPDOR). Esse 103).
projeto teve por finalidade a criação de um labo- Fortemente influenciados pelos pressupostos
ratório de tratamento documental e a utilização des- Rankianos, os historiadores metódicos acreditavam
sa técnica como forma de conservação da memória que garantiriam a cientificidade da disciplina históri-
histórica de Montes Claros. Ao mesmo tempo, iniciar ca observando alguns princípios que dizem respeito
novos pesquisadores nessa área, além de oportunizar à concepção do documento, tais como:
aos acadêmicos do Curso de História da Unimontes • a história/passado existiria objetivamente e
a possibilidade de unir teoria e prática por meio do poderia ser captada através dos documentos;
processo ensino-aprendizagem na DPDOR através • ao historiador caberia reunir o maior número
da restauração de documentos. de documentos, atento à sua autenticidade;
• os fatos deveriam ser extraídos desses docu-
REFERENCIAL TEÓRICO mentos, organizados e apresentados numa narrativa
que respeitasse sua sequência cronológica e, não ha-
Memória e documento veria a menor necessidade de qualquer reflexão teóri-
ca, aliás ela deveria mesmo ser evitada se o objetivo
O artefato do trabalho dos/as historiadores/ fosse alcançar o conhecimento científico. (BRITO,
as são os vestígios do passado que, apesar do tempo 2004, p. 2).
e dos danos chegam até nós, seja através de algum Deste modo, a preocupação primeira dos his-
tipo de suporte ou da narrativa oral. Através de tais toriadores deveria ser o documento. O ofício do his-
vestígios interpretamos nossa história e nosso próp- toriador consistia em várias etapas que começavam
rio passado, fatos que justificam a importância e a pelo recolhimento, conservação e classificação do
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documento, seguidas de operações analíticas e oper- idade do documento, ou seja, a permanente, consiste
ações sintéticas. na fase em que eles devem ser “recolhidos” para sua
Essa convicção de que encontrávamos o pas- preservação definitiva após seleção e avaliação de
sado simplesmente indo aos arquivos e folheando acordo com a legislação vigente de cada país. Nessa
documentos tem sido abandonada principalmente última idade ou fase, os documentos são usados com
a partir das críticas de Michel Foucault ao mostrar objetivos científico, social e cultural (BELLOTTO,
que o documento não é o reflexo do acontecimen- 2004). Eles se tornam patrimônio cultural e suporte
to, mas, uma materialidade construída por cama- material da memória, por isso necessitam de cuida-
das sedimentares de interpretações: o documento é dos especiais que lhe permitam maior vida útil.
pensando por este autor, assim como para Le Goff, Historiadores e arquivistas de maneira geral
como monumento que tem como característica “o estão convencidos de que os melhores lugares para
ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou in- a preservação da memória, principalmente do docu-
voluntária, das sociedades históricas (é um legado à mento histórico, ou seja, de caráter permanente são
memória coletiva) e o reenviar a testemunhos que só os locais especializados, com arquitetura adequada
numa parcela mínima são testemunhos escritos”. As- e pessoal qualificado, é o caso dos Arquivos, Cen-
sim, os historiadores têm abandonado a crença ino- tros de Documentação, Museus e Bibliotecas. Esses
cente de que o documento é uma mera transparência órgãos denominados de “documentação” possuem
da realidade, uma forma de acesso direto aos acon- papéis e funções diferenciadas e típicas de cada um.
tecimentos e pessoas do passado. Tal como o monu- No Brasil, conforme Fernandes (1993), o dis-
mento, o documento é tudo aquilo que pode evocar curso preservacionista é bastante recente. Só após o
o passado e não o passado propriamente dito, assim período da Ditadura Militar é que surgiram movi-
o documento-monumento, não é o passado, mas um mentos preocupados com a preservação, deixando
vestígio, um rastro do passado, e como tal, necessita de ser esta uma questão de técnicos passando a ser
ser conservado. uma preocupação de toda a sociedade civil e, conse-
Bellotto (2004) sublinha que os documentos quentemente dos setores governamentais – expressa
após o cumprimento das razões pelas quais foram na obrigatoriedade de criação de conselhos munici-
gerados, passam da condição de “arsenal da admin- pais e estaduais de gestão do patrimônio público. A
istração” – neste caso documentos administrativos própria noção de patrimônio, conforme Fernandes
(produzidos e/ou recebidos por órgãos governamen- (1993), se ampliou passando a englobar outros va-
tais, jurídicos, instituições públicas ou privadas, etc.) lores culturais e não apenas aos bens materiais, se-
– para a de “celeiro da história”. Neste sentido, para a lecionadas pelas “autoridades de tutela”, que a antiga
autora, os documentos administrativos têm um ciclo noção de “patrimônio histórico e artístico” restrin-
vital que compreende três idades. A primeira é a dos gia1. Assim, o patrimônio cultural passou a ser en-
arquivos correntes, onde sua utilização está ligada tendido, conforme conceituação de Maria do Carmo
às razões pelas quais foram criados; a segunda, dos Godoy (apud FERNANDES, 1993, p. 268) como
arquivos intermediários, é aquela em que, ultrapas-
sado seu prazo de validade corrente devem ainda toda produção humana de ordem emocional, in-
ser guardados em um arquivo central, pois ainda telectual e bem como a natureza, que propiciem o
conhecimento e a consciência do homem sobre si
podem ser utilizados pelo seu produtor esperando a mesmo e sobre o mundo que o rodeia.
sua eliminação ou a guarda permanente. A terceira

1 A definição de Patrimônio Histórico e Artístico


que prevalecia na legislação brasileira era: “Constitui o
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional o conjunto
de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja con-
servação seja de interesse público, quer por sua vincu-
lação a fatos memoráveis da História do Brasil, quer por
seu excepcional valor arquitetônico ou etnográfico, bibli-
ográfico ou artístico” (Fernandes, 1993:267)

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No entanto, Cordeiro (2005) salienta que no Mesmo nos arquivos, os documentos estão
Brasil, ainda não se tem de forma efetiva e eficiente sujeitos a uma série de agentes agressores. Segundo
uma “Política de Gestão de Documentos”, embora a Ingrid Beck (1985), eles podem ser internos – que
Lei Federal no 8.159 de 08/01/1991, disponha sobre abrangem os elementos nocivos provenientes da
a Política Nacional de Arquivos Públicos e Priva- própria matéria-prima e dos métodos de produção,
dos. Para a autora, não bastam os regulamentos para que determinam, muitas vezes, reações físico-quími-
conscientizar a população e a administração pública cas agressivas – ou externos – os que ocorrem a par-
e privada sobre a importância da organização e ma- tir do uso e dependem da tinta, do manuseio e da
nutenção de acervos arquivísticos, sobretudo os de guarda. De modo geral, contribuem para a degra-
domínio público.Entre outros, os problemas mais co- dação dos documentos: as altas temperaturas – é o
muns, apontados por ela, referentes à não preservação caso do Norte de Minas Gerais – a poluição do ar;
de bens culturais, especificamente documentais, são: os produtos químicos, muitas vezes usados sobre os
a inexistência ou ineficiência de Políticas de Gestão acervos como inseticidas e fungicidas que podem ser
de Documentos nas Instituições; falta de recursos bastante prejudiciais pelas reações desenvolvidas so-
materiais e humanos; descaso generalizado com doc- bre os materiais; o acondicionamento inadequado e
umentos de caráter permanente, denominado velho o manuseio incorreto devido à falta de higiene das
ou antigo; falta de espaço físico para armazenar os mãos, sem zelo e postura correta; e, por fim, os aci-
documentos; insuficiência de profissionais qualifica- dentes com água e fogo. Neste sentido, o Tratamento
dos e heterogeneidade de normas e procedimentos Documental é uma etapa importante na preservação
arquivísticos. e conservação dos documentos e consequentemente
Em Montes Claros, tal preocupação parece da memória histórica.
ser ainda mais recente fato que se tornou um grande
entrave ao desenvolvimento da pesquisa histórica RELATO DE EXPERIÊNCIA
não só no município como em toda região. A inicia- O projeto foi desenvolvido em duas fases dis-
tiva mais concreta foi levada adiante somente a partir tintas. A primeira consistiu no treinamento de bol-
de 1994 com a criação da Divisão de Pesquisa e Doc- sistas. A atividade proposta pelo projeto demandava
umentação Regional (DPDOR) pela Universidade treinamento devido a especialidade da área de con-
Estadual de Montes Claros – Unimontes –, com obje- servação e tratamento de documentos. Era necessário
tivo de responsabilizar-se pela guarda e conservação unir teoria e prática. Nesse sentido, os bolsistas par-
de acervos importantes para a história regional. Essa ticiparam do curso de “Introdução à conservação e
Divisão é um dos espaços da cidade onde se desen- restauração de acervos documentais”. O curso e o
volve o trabalho de organização e classificação de trabalho em equipe possibilitaram aos estudantes
forma sistemática de documentos de caráter perma- a apreensão das teorias conceituais que norteiam o
nente. A partir de 2000, alguns pesquisadores/as do tratamento documental, bem como promoção do
Departamento de História, ligados a grupos de pes- crescimento profissional, intelectual e pessoal3.
quisa, passaram a desenvolver projetos com o apoio A segunda fase consistiu no tratamento pro-
financeiro da FAPEMIG, com vistas à organização e priamente dito de documentos pertencentes ao ac-
a preservação dos acervos através da microfilmagem, ervo do Fórum Gonçalves Chaves. O Fundo “Fórum
da digitalização e do tratamento documental2. Gonçalves Chaves” – documentação alvo desse

3 Este projeto possibilitou a criação do Labo-


2 O primeiro destes projetos, intitulado “Uso da ratório de tratamento documental, equipado com
Tecnologia no resgate e preservação do patrimônio mesa de sucção, mesa de higienização, freezer hori-
histórico-cultural do norte de Minas”, desenvolvido zontal, secadora de papéis, mesa de luz. Possibilitou
pelo Grupo de pesquisa História em Cena, sob co- também agilizar as consultas no DPDOR com a
ordenação da professora Márcia Pereira da Silva, or- aquisição de uma leitora de microfilmes e computa-
ganizou e classificou o acervo do Fórum Gonçalves dor; maior seguranda na guarda dos microfilmes
Chaves, microfilmou e digitalizou parte deste acervo. com aquisição de arquivos de aço para preservá-los.
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Projeto – é constituído de processos crime datados retrata os danos mais comuns encontrados no acer-
entre os anos de 1828 a 1997, sob custódia da Divisão vo:
de Pesquisa e Documentação Regional, desde setem-
bro de 1999, e foi organizado de acordo com os có- Gráfico do Diagnóstico de Danos mais Comuns
digos criminais brasileiros dos períodos imperial e
republicano. Devido à forma inadequada da guarda 60
50
anterior, os documentos encontravam-se bastante 40
deteriorados. 30

Os documentos selecionados para receber o 20


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tratamento já haviam sido microfilmados e digitali- 0
zados – trabalho desenvolvido no projeto anterior – e
isso facilitou a sua disponibilidade para a restauração.
Como a proposta inicial do projeto foi tratar e restau-
rar 50 dossiês , optou-se por priorizar os processos-
Gráfico 1 Diagnóstico de danos mais comuns nos documentos
crime mais antigos, que datam de 1832 a 1853. do acervo do Fórum Gonçalves Chaves de Montes Claros
Fonte: Projeto Tratamento Documental – Unimontes/2004
Etapas do tratamento documental e restauração
A segunda etapa tratou da higienização dos
O papel, segundo Ingrid Beck (1985) envel- documentos. O trabalho de higienização consistiu
hece, tornando-se quebradiço, de acordo com os em limpar os documentos com trincha e/ou pincel
agentes agressores a que esteve exposto. com o objetivo de retirar as sujidades concentradas
Em regiões de clima quente, como é o caso ao longo do tempo em cada página. Utiliza-se a mesa
de Montes Claros, os documentos sofrem gradativa- de higienização para execução dessa tarefa. O bisturi
mente o processo de envelhecimento, principalmente e o estilete foram ferramentas úteis na retirada de ex-
os fabricados com fibras de madeira. As altas tem- crementos de insetos e roedores. Também foram reti-
peraturas e a umidade, se não controladas no ambi- rados materiais metálicos, encontrados como clipes e
ente onde estão guardados os documentos, podem grampos, visando proteger o documento de possíveis
gerar sérios problemas, como a alteração do volume ferrugens. Além da trincha e do pincel usou-se tam-
dos materiais e aumento de microrganismos e inse- bém o pó de borracha para higienizar os documen-
tos, que contribuem ainda mais para a destruição de tos garantindo a retirada de sujidades, sobretudo de
coleções de documentos. A poluição do ar, com seus poeira adquirida com o tempo, gerando um clarea-
componentes químicos associados à poeira, causam mento do papel.
reações que produzem o ácido sulfúrico, que ataca Na sequência, foram detectados os orifícios
fortemente as fibras do papel. minúsculos contidos nas folhas dos documentos por
Nesse sentido, os documentos que foram res- meio da mesa de luz para as intervenções necessári-
taurados durante a execução do projeto passaram as – terceira etapa. Em seguida, passou-se à quarta
por uma triagem, posteriormente foram detectados etapa: a restauração dos papéis.
os diversos tipos de danos existentes e realizou-se Essa etapa demandou tempo e cuidado da
uma avaliação geral do estado de conservação dos pessoa que irá executar a tarefa já detectada na ficha
mesmos. Esta primeira etapa foi de fundamental im- de diagnóstico. Conforme abordagens anteriores,
portância, pois, a partir dela tomou-se conhecimento esse momento consiste na intervenção do técnico e/
dos procedimentos e técnicas que seriam utilizadas ou pessoa treinada para tal trabalho visando recom-
para a reparação de todos os tipos de danos encon- por os danos no papel. Para essa tarefa foi utilizado
trados. o material próprio, entre ele, papel especial e cola
No momento do diagnóstico das danificações metil-celulose . O trabalho realizado dependeu da
dos documentos verificou-se também o Ph das folhas deterioração detectada no documento, sendo utili-
de papéis por meio da fita metanassol visando detec- zadas as técnicas da velatura, obturação, remendo e
tar a sua acidez e alertar para medidas de segurança emenda. Durante o exercício desse tratamento foram
no manuseio, tratamento e guarda. O gráfico abaixo descobertas novas possibilidades para a reconstrução
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das páginas degradadas buscando dar resistência CONCLUSÕES


à folha restaurada. O papel cuja borda se mostrava O projeto possibilitou a concretização do
carcomida por sinistros foram tratadas no topo da processo ensino-aprendizagem, bem como a ini-
deterioração com pequenas faixas de papel japonês ciação científica de estudantes por meio da identifi-
de menor gramatura. Esse faixa acompanhava o de- cação do estado de degradação e tipo de tratamento
senho da degradação e com gramatura menor pos- demandado pelos documentos do acervo do Fórum
sibilitava a leitura do texto contido no documento. Gonçalves Chaves e, assim, torná-los disponíveis, a
Abaixo dessa faixa de papel era colada outra de maior fim de conservar a história e a memória regional.
gramatura com o objetivo de assegurar a resistência O referido projeto conseguiu alcançar as me-
do documento, sobretudo no momento de manusear. tas propostas, cujos resultados finais foram:
Após a restauração, o documento foi acondicionado
em caixas confeccionadas para esse fim. • Conservou a documentação, evitando a sua
deteriorização a partir da destruição de sinistros
(fungos, bactérias, traças, etc.) por meio da técnica
de refrigeração;
• Cinquenta e cinco documentos (processos
criminais), inicialmente, tratados e restaurados;
• Capacitação de estudantes para trabalhar
com tratamento e restauração de documentos, uma
vez que na região não existem profissionais qualifica-
dos para estas atividades.
• Aperfeiçoamento do processo de higieni-
zação e restauração dos documentos por meio da
utilização de técnicas aprimoradas pelo grupo de tra-
balho.
Figura 1 Documentos restaurados
Além do tratamento dos documentos, o pro-
FONTE: Projeto Tratamento Documental – Unimontes/2004. jeto também contribuiu com a aquisição de equipa-
mentos como leitora de microfilmes e cofres para
Findado a restauração, os processos ficaram guarda de microfilmes com recursos destinados para
ondulados devido a utilização de material líquido esse fim e possibilitou a criação de um laboratório de
como a cola, por isso foram encaminhados a secado- tratamento documental. Por fim, o desenvolvimento
ra de papel e, posteriormente, a mesa de sucção para do projeto contribuiu não apenas do ponto de vista
eliminação de manchas, planificação e desacidifi- da preservação dos registros da história local e re-
cação - quinta etapa do processo. Após a planificação, gional, mas também e principalmente foi uma forma
os processos receberam novos folderes, pacotilhas e de viabilizar as pesquisas de pós-graduação e, espe-
permaneceram com seus antigos endereços topográ- cialmente as de Trabalho de Conclusão de Curso e de
ficos e notação de arranjo. Nesse processo do trata- Iniciação Científica.
mento documental havia papéis que apresentavam
infestações de fungos e mofos. Para esses casos, os
documentos passaram pela refrigeração. Essa etapa REFERÊNCIAS
consistiu em colocar em um saco plástico o docu-
mento, de onde foi retirado todo o ar para acondi- BECK, I. Manual de conservação de documentos. Rio
cioná-los vedados no freezer. de Janeiro: Ministério da Justiça – Arquivo Nacional,
Enfim, todas essas fases e etapas possibilita- 1985.
ram resgatar o documento da possibilidade de perda
dando-lhe maior tempo de vida e, consequentemente BELLOTTO, H. L. Arquivos permanentes: tratamento
garantindo a preservação da história e da memória documental. 2 ed. Rev. e ampl. Rio de Janeiro: FGV,
local e regional. 2004.
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UNIMONTES CIENTÍFICA
Montes Claros, v.10, n.1/2 – jan./dez. 2008

BOURDÉ, G.; MARTIN, H. As escolas históricas. estudo de caso. Vassouras, 2005, 197f. Dissertação
Portugal: Publicações Europa-América, 1983. 219 p. (Mestrado em História) - Faculdade Severino Som-
bra.
BRITO, E. Z. C. Em torno da complexidade do campo
historiográfico. Nethistória. Disponível em: <www. FOUCAUT, M. A arqueologia do saber. 7 ed. Rio de
nethistoria.com/impressaotexto.pnp?tituloid=97>. Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 1-20.
Acesso em: 14 fev.2004.
LE GOFF, J. Documento/monumento. Campinas:
CORDEIRO, F. L. A cidade sem passado: políticas Unicamp, 2003, p.525-541.
públicas e bens culturais de Montes Claros/MG. Um

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