IMPLICAÇÕES DA OCORRÊNCIA DE HELMINTOS EM CÃES DOMÉSTICOS
PARA A CONSERVAÇÃO DE MAMÍFEROS SILVESTRES EM UNA-BA
Suzane Dias de Sousa1; Camila Righetto Cassano2,3; Dunezeu Alves Campos
Junior4; Lílian Silva Catenacci2,5
1 Centro de Tecnologia em Aqüicultura e Meio Ambiente (CTA-ES); 2 Ong Instituto
de Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia-IESB; 3 Depto. de Ecologia IB/USP; 4 Depto. de Ciências Agrárias e Ambientais, UESC; 5 Centro de Pesquisa e Conservação Zoológico da Antuérpia, Bélgica. E-mail: suzane.sousa@cta-es.com.br
A Mata Atlântica do Sul da Bahia é um bioma que abriga uma quantidade
significativa de espécies raras e endêmicas. Nesta região o cultivo de cacau, no sistema de cabruca, é a principal atividade econômica desde o século XIX. Cabruca é um raleamento da mata que permite o sombreamento do cacau por árvores nativas e contribui para a conservação da fauna no local. Entretanto, esse sistema agroflorestal proporciona maior contato entre as espécies da fauna nativa e os cães domésticos freqüentemente levados para as roças pelos trabalhadores rurais. Objetivou-se com este trabalho pesquisar a prevalência de helmintos em cães domésticos que vivem na Zona de Amortecimento da Reserva Biológica de Una-BA para avaliar os riscos da circulação e permanência destes parasitas entre as espécies silvestres registradas nessas áreas. Armadilhas fotográficas foram dispostas em oito fazendas com áreas de cabruca e três fragmentos de mata localizados no entorno da REBIO-Una. Registrou-se 539 fotos de mamíferos, sendo 461 fotos (85%) de mamíferos silvestres e 78 fotos (15%) de cães. A pesquisa parasitológica foi realizada com amostras fecais de 82% (32/39) dos cães que viviam nas fazendas. As fezes foram coletadas pelos proprietários dos animais e processadas no Laboratório de Parasitologia da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA. Foram encontrados os helmintos Ancylostoma sp. (65,6%), Strongyloides sp. (31,3%), Toxocara sp. (25%), Spirocerca sp (12,5%), Trichuris sp. (9,4%) e Dipylidium sp. (6,3%). Além disso, foram realizadas entrevistas com os proprietários dos cães que relataram que 48,8% (19/39) dos animais eram alimentados duas vezes ao dia, 89,7% (35/39) defecam na mata ou área de cacau, apenas 33,3% (13/39) foram vermifugados periodicamente e 64,0% (25/39) vacinados contra raiva em período inferior a 12 meses. Destes, apenas um foi vacinado contra outras viroses. Os resultados demonstraram que uma quantidade considerável de cães domésticos compartilha o mesmo ambiente dos animais selvagens, aumentando a possibilidade do trânsito de parasitas entre as espécies a partir da contaminação do ambiente. Este trabalho mostra a importância da manutenção da saúde dos animais domésticos que vivem ao redor de fragmentos de mata, além da necessidade do controle reprodutivo destes animais. O acelerado desmatamento da Mata Atlântica enfatiza a necessidade de mais trabalhos científicos que visem aspectos sanitários aliado aos estudos de levantamento de fauna, de forma que estes possam auxiliar nas estratégias de conservação, manejo e uso das zonas de amortecimento das reservas florestais.
Agradecimentos aos proprietários das fazendas que permitiram este estudo, a
Universidade Estadual de Santa Cruz, ao Instituto de Estudos Sócio-ambientais do Sul da Bahia (IESB), pelo apoio logístico e à Conservação Internacional pelo apoio financeiro.