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REPRESENTAÇÕES DE MEIO AMBIENTE EM UM RADIOJORNAL DIÁRIO:

CONTRIBUIÇÕES PARA UMA COMUNICAÇÃO DIALÓGICA

Tárcio Minto Fabrício (Curso de Especialização em Educação Ambiental e Recursos Hídricos, Centro de
Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada, EESC / USP).
tarciofabricio@uol.com.br

RESUMO
O presente estudo avaliou a inserção das questões ambientais no jornal “Notícias
UFSCar”, veiculado pela Rádio UFSCar, assim como as fontes de informação
utilizadas e a inserção de temas locais. Foram analisadas 495 matérias veiculadas
entre os meses de janeiro e junho de 2009. Esse conteúdo foi submetido a
caracterização por meio da aplicação da tipologia das representações de meio
ambiente proposta por Sauvè & Orellana (2001). O estudo permitiu concluir que as
questões ambientais ocupam um lugar de destaque na pauta da Rádio UFSCar.
Apesar disso, detectou-se uma dificuldade no estabelecimento do diálogo junto ao
público. Outro aspecto evidenciado foi a ausência de abordagens que favoreçam a
interpretação/atuação crítica frente à questão ambiental. Os resultados do
mapeamento das representações também reforçam a necessidade da inserção dos
comunicadores em práticas realmente dialógicas com seu público, com
educadores/militantes ambientais e, principalmente, com a comunidade local.

ABSTRACT
This research evaluated the insertion of environmental issues in the newsprogram
“Notícias UFSCar”, broadcast by Rádio UFSCar, as well as which information sources
were used and the presence of local issues. 495 radioreports were analyzed,
broadcast between January and June of 2009. This content was characterized through
the environment representation typology presented by Sauvè & Orellana (2001). The
research showed that environmental issues have a prominent place among other
themes at Rádio UFSCar. However, the analysis showed also difficulties to establish a
dialogue with the public and the absence of approaches which favor a critical
interpretation/actuation towards environmental issues. Results also suggest that
communicators engage themselves into dialogic practices with public,
educators/activists and, first of all, with local communities.

III Simpósio de Ecologia do PPGERN/UFSCar. 2009. São Carlos.


Anais, 2009
INTRODUÇÃO
A questão ambiental tem, nas últimas décadas, perpassado todas as dimensões
sociais, o que leva à necessidade das discussões sobre o tema serem abordadas a
partir de uma compreensão holística das relações entre Homem e Natureza. O
estímulo ao reatamento de uma relação de interdependência homem-ambiente deve
ser o principal objetivo perseguido na perspectiva de uma atuação crítica dos
profissionais da Comunicação. Ao contrário disso, essas questões têm sido tratadas
pela Imprensa, intencionalmente ou não, com base na reprodução dos discursos
hegemônicos. Assim, a Imprensa tem contribuído ainda mais para que o ambiente seja
tratado meramente de forma utilitária e econômica.

Para Dornelles (2008), a pauta ambiental tem por obrigação desempenhar uma função
pedagógica, favorecendo a compreensão de conceitos, disseminando informações,
conhecimentos e vivências que rompam com as esferas econômica e técnico-
científica. Vale mais uma vez aqui citar a relação entre a Comunicação e a construção
dos saberes. Para Paulo Freire, esses dois campos devem se dar em esferas
democráticas, dialógicas e horizontais. A “comunicação é diálogo na medida em que
não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam
a significação dos significados” (FREIRE apud LIMA 2004, p.53).

Portanto, a comunicação ambiental deve contemplar toda a complexidade que envolve


o tema ao mesmo tempo em que permite a participação do cidadão comum no debate,
estimulando a reflexão, a atuação e a compreensão crítica.

Assim, é importante que se identifiquem as representações individuais ou coletivas


dos atores envolvidos na elaboração dos produtos midiáticos sobre meio ambiente. As
representações sociais podem ser entendidas como as concepções, imagens e visões
da realidade que os atores sociais produzem em suas práticas sociais. Para Reigota
(1998), nessas representações é possível desvelar os valores e conceitos
internalizados pelos atores envolvidos em um grupo social.

Objetivos
O presente trabalho visa refletir sobre as concepções de meio ambiente presentes no
discurso do radiojornal “Notícias UFSCar”, produzido pela equipe de jornalismo da
Rádio UFSCar. Além disso, o trabalho pretende contribuir para uma reflexão crítica
sobre o papel dos comunicadores, em especial os jornalistas, não só como formadores

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de opinião, mas também como responsáveis pela geração e o despertar de
conhecimentos.

MATERIAL E MÉTODOS
O “Notícias UFSCar” é produzido e veiculado pela Rádio UFSCar, localizada no
campus da Universidade Federal de São Carlos (SP). Para a análise dos dados foram
utilizadas as matérias jornalísticas produzidas pela equipe do “Notícias UFSCar” entre
os meses de janeiro e junho de 2009. Nesse período, foram veiculadas 495 matérias.
Essa produção foi triada e as reportagens referentes à temática ambiental foram
selecionadas, passando assim a constituir o corpus de análise.
Posteriormente, as matérias selecionadas foram quantificadas e categorizadas
utilizando as representações de meio ambiente propostas por Sauvè (1996) e
ampliadas por Sauvè & Orellanas (2001). As representações são divididas em 9
categorias, considerando o meio ambiente como: Natureza; Recurso; Problema;
Sistema; Território; Paisagem; Lugar onde se vive; Biosfera; Projeto
Comunitário. Outros aspectos analisados no corpus de estudo foram o critério de
seleção das fontes e a inserção de temas locais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na quantificação do total de matérias com conteúdo ambiental na produção jornalística
do “Notícias UFSCar”, foi observada uma grande preocupação com a inserção da
temática na pauta do programa, ocupando 14% (67 matérias) do total de conteúdo
produzido. Esse número alcança um significado importante quando se observa o
espaço destinado ao meio ambiente na grande imprensa. Moraes (2008) acredita que
o jornalismo ambiental encontrado nos veículos brasileiros tem uma lacuna de pautas
relacionadas ao tema, e apesar da existência de vários enfoques possíveis, trata
dessas questões superficialmente. A mera presença desse conteúdo na pauta não
implica, contudo, em resultados satisfatórios no estímulo à reflexão e à emancipação
do público.
A aplicação da tipologia das representações favoreceu uma compreensão mais
apurada das concepções de meio ambiente presentes nas matérias estudadas. Os
resultados da categorização das matérias são expostos na Tabela I:

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Tabela I: Número e Frequência relativa das representações de meio ambiente propostas
por Sauvè & Orellana (2001) no corpus de estudo.
Representações de meio ambiente Número de matérias %
Natureza 1 1,49
Recurso 25 37,31
Problema 15 22,39
Sistema 8 11,49
Território 0 0
Paisagem 3 4,48
Lugar onde se vive 5 7,46
Biosfera 7 10,45
Projeto Comunitário 3 4,48

A alta presença de representações das categorias Recurso e Problema no conteúdo


analisado leva a um questionamento sobre o preparo dos meios de comunicação para
lidarem com a temática ambiental. O tratamento dado às questões ambientais pela
mídia, de maneira geral, tem sido pautado em uma visão utilitarista, fruto de uma
lógica construída pelo discursos do desenvolvimento sustentável e de
responsabilidade ambiental das grandes corporações. O discurso hegemônico acabou
sendo introjetado – inclusive na imprensa exclusivamente ambiental –, reduzindo “o
meio ambiente e sua preservação a uma instância meramente econômica,
desconectada de valores e princípios socioculturais e políticos” (BUENO, 2007, p.20).
É interessante notar que a categoria Sistema alcançou apenas um número
intermediário nas representações encontradas. Pelo fato do veículo estudado ter uma
linha editorial dedicada em grande parte à divulgação científica, seria esperada uma
maior presença desse tipo de representação, uma vez que, pelas suas características,
ela teria uma maior afinidade com o universo acadêmico e científico.
Em relação ao baixo número de reportagens encontradas na categoria Natureza, é
possível notar um pequeno amadurecimento do tema na pauta do jornal, uma vez que
essa concepção de meio ambiente acaba por ampliar o distanciamento do homem de
seu meio. Esse distanciamento, de acordo com Lestige e Sorrentino (2008), é um dos
principais fatores que tem levado a sociedade ao que esses autores chamam de “crise
de percepção”. A ausência total de matérias referentes à categoria Território, por
outro lado, revela uma inabilidade em “enxergar” o outro, o diferente. Essa
representação de meio ambiente é considerada característica de populações
tradicionais e grupos indígenas; portanto, o conteúdo elaborado a partir da lógica
“urbana” dos comunicadores dificilmente a contemplaria.
O aspecto mais preocupante revelado foi a baixa representatividade de conteúdo nas
categorias Paisagem, Lugar onde se vive, Biosfera e Projeto Comunitário. Essas

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representações – em uma situação ideal que leve em conta o papel educacional da
comunicação – deveriam ser contempladas de forma prioritária, por permitirem uma
compreensão maior da complexidade que envolve as questões ambientais.
A análise das reportagens mostrou uma predominância de fontes originárias do
universo acadêmico. Do total de entrevistados, 97,01% eram pesquisadores e,
predominantemente, com formação nas Ciências Naturais e Exatas. Esse cenário tem
sido uma constante na produção jornalística, e a priorização do discurso do
especialista tem perpetuado o que Tozzoni-Reis (2001) chama de uma razão entre
imposição/adesão das informações. Nesse processo, cabe à Ciência autorizar e
legitimar os rumos da sociedade. A homogeneização das fontes, dessa forma, acaba
por estimular o desaparecimento uma enorme quantidade de “saberes” ambientais
localizados no lado de fora dos muros das universidades.
O corpus do estudo revelou também uma baixa abordagem de temas locais,
observados em apenas 22% das matérias. A ausência do universo local na discussão
favorece um distanciamento ainda maior do público, uma vez que é na escala local
que são travados os embates políticos, e as articulações sociais acontecem visando a
adoção de atitudes pró-ambiente. Santos Jr. & Nunes (2007) abordam a necessidade
da construção de vínculos comunitários na emancipação do Sujeito e na reflexão
sobre seu papel frente ao seu meio.

CONCLUSÕES
O estudo permitiu compreender que a questão ambiental encontra espaço privilegiado
no jornalismo da Rádio UFSCar. No entanto, notou-se que existe no conteúdo
produzido uma dificuldade no estabelecimento de um diálogo participativo junto ao
público. Outro aspecto evidenciado foi a ausência de abordagens que favoreçam a
interpretação/atuação crítica da sociedade. A ausência desse tipo de abordagem
parece estar relacionada com os valores e representações de meio ambiente dos
componentes da equipe de reportagem/redação do veículo. A predominância de
representações de meio ambiente como “Recurso” e como “Problema” parece estar
vinculada a uma dimensão economicista da realidade. Contudo, uma avaliação direta
das representações individuais dos comunicadores deve revelar como o discurso
presente nas matérias é influenciado também pelas fontes consultadas. Outro aspecto
demonstrado pelo mapeamento das representações é a necessidade da inserção dos

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comunicadores em práticas dialógicas com seu público, educadores/militantes
ambientais e, principalmente, com a sua comunidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, W.C. Comunicação, Jornalismo e Meio Ambiente: teoria e pesquisa. São
Paulo: Mojoara, 2007, 200p.
DORNELLES, B. C. P. O fim da objetividade e da neutralidade no jornalismo cívico e
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desafios e reflexões. 1 ed. Porto Alegre: Dom Quixote e NEJ/RS, 2008, p. 43-55.
LESTINGE, S. ; SORRENTINO, M. As contribuições de um olhar atento: estudos do
meio e a educação para a vida. Ciência e Educação, v. 14, 2008, p. 601-619.
LIMA, V. A. de. Mídia: Teoria e Política. – 2 ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,
2004. 368 p.
MORAES, C. H. O impacto, o significado e a repercussão na prática do jornalismo
ambiental. In: XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Natal: Anais,
2008, p. 1- 12.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1998,
88p.
SANTOS JR., S.J.; NUNES, A.M. Comunidades educadoras: a Terra como casa, a
casa aberta à terra. In: FERRARO JR., L.A. (Org.). Encontros e Caminhos: formação
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SAUVÈ, L. Environmental education and sustainable development: a further appraisal.
In Canadian Journal of Environmental Education, v. 1, n. 1, 1996, p.7 – 34.

SAUVÈ, L; ORELLANA, I. A formação continuada de professores em Educação


Ambiental: A proposta do EDAMAZ In: SANTOS, J. e SATO, M. (Orgs.) A contribuição
da Educação Ambiental à esperança de Pandora. São Carlos (SP): Rima, 2001, p.273
-287.
TOZZONI-REIS, M. F. C. Environmental education: theoretical references in higher
education. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v.5, n.9, 2001, p.33-50.

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