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Vivendo de Guitarra Guitar Class - Qual foi o seu primei- Stardust.

Lanny Gordin ro grande show?


Lanny - Foi pra acompanhar a canto-
Lanny - O Hermeto Pascoal, o Heraldo
do Monte, o Jair Rodrigues, já tocaram
ra Vanderléia, que estava começando a lá. O Hermeto tocou no Stardust duran-
fazer sucesso. Eu me lembro de ter li- te 10 anos. Ele veio lá de Canoa da La-
Guitar Class - Lanny, conte-nos como gado o amplificador no volume 10, pois goa, em Alagoas, e o Stardust foi a pri-
foi a sua infância. queria aparecer. Eu sei que toquei mais meira casa a dar emprego a ele. Era uma
Lanny - Eu cheguei ao Brasil com 6 alto que todo mundo. O dono do lugar boate de elite, aonde só iam personali-
anos de idade. Nasci na China, mas tam- chegou e disse: “Pelo amor de Deus, dades. O Bob Kennedy, quando vinha
bém vivi em Telaviv, Israel, até chegar manda o garoto da guitarra abaixar o para o Brasil, freqüentava o Stardust du-
em São Paulo. Quando eu tinha 13 anos volume!” (risos). No dia seguinte, re- rante os períodos de lazer.
de idade, meu pai, que também é músi- cebi meu cachê e o tecladista disse que Guitar Class - Como você entrou no
co, me deu um violão, e comecei a estu- eu estava fora da banda por causa do movimento da Tropicália?
dar. Eu ouvia todos os guitarristas de jazz barulho. Voltei pro Stardust, mas lá Lanny - Foi em 1966. Eu tinha uns
antigo. Mas a minha maior escola mes- meu pai não deixava eu tocar alto, e amigos roqueiros, que me falaram que
mo foi o Stardust, que era a boate do meu tinha que obedecer. havia um guitarrista que morava na
pai, onde eu toquei durante 15 anos. Guitar Class - Fale mais sobre o Pompéia (bairro paulista), e que tinha
uma técnica impressionante. Um dia eu
fui assistir a um show dele. Era o Ser-
gio Dias, que tocava na banda Six Sided
Rockers, com a Rita Lee nos vocais e o
Arnaldo Baptista (irmão de Sergio Dias)
no baixo. Me apresentaram o Serginho,
e ele disse pra eu ir à casa dele. Quan-
do ele me viu tocar, ficou impressiona-
do com os meus acordes. Eu era forte
na harmonia, e ele era forte no solo. De-
pois o Serginho me apresentou o Beat
Boys, que era a banda que acompanha-
va o pessoal da Tropicália, como Cae-
tano, Gal, Gil, etc. O percussionista
deles falou: “Lanny, vamos pra casa do
Gilberto Gil, que ele quer te conhecer”.
Naquela época eu já estava mais
“manero”, menos barulhento (risos).
Ele morava na Av. São Luís (centro de
São Paulo) e tinha um apartamento lin-
do, um cabelo black power e tudo mais.
Ele disse que já tinha ouvido falar de
mim e adorou o meu estilo. Começa-
mos a fazer arranjos juntos e, na hora
de gravar, o Gil falava: “Entra no estú-
dio, se vira lá que o playback já vai es-
tar rolando”. Gravei também com Cae-
tano, mas o Disco Branco foi gravado
na Bahia e o playback veio pra São Pau-
lo, onde eu coloquei as guitarras.
Guitar Class - Com quem mais você
gravou?
Lanny - Com Rita Lee, Tim Maia, Jair
Rodrigues, Hermeto Pascoal, Brazilian
Octopus, Erasmo Carlos, Eduardo Ara-
újo, Gal Costa e Elis Regina - que me cha-
mava de “Lanny Ray-O-Vac”. Na época
eu ganhava uma tabela especial, que era
mais do que os outros músicos. Eu era
muito requisitado por causa do meu jei-
to de tocar, que era muito original. Para
os leigos, o Lanny Gordin era o melhor
guitarrista do Brasil, mas para os músi-
cos acima do meu nível, nem tanto.
Guitar Class - Quem você considerava
Jota Santana

acima do seu nível?


Lanny - Na época, quem me criti-
cou foi o João Gilberto, num progra-
16 - Guitar Class - Novembro 2002
ma de televisão, em que ele dizia: teve um efeito contrário dos primeiros, Lanny - Meu próprio pai me internou.
“Esse rapazinho não ouve os outros e foi completamente apavorante. Eu tinha uns 25 anos, e morava com ele.
instrumentos, fica só tocando um Guitar Class - Você poderia descrever Guitar Class - E você parou de tocar?
monte de acordes, tem de aprender como foi essa experiência? Lanny - Depois que voltei pro Brasil,
muito”. Eu abaixei a cabeça e não dis- Lanny - Tive um aspecto de inferno no meio da loucura, gravei o disco Ex-
se nada, pois no fundo eu sabia que do ácido, pois você tem o aspecto de céu presso 2222, do Gilberto Gil, toquei com
era a pura verdade, e pensei: “O João e o de inferno. As visões que eu tive fo- Jards Macalé e com o Eduardo Araújo,
Gilberto fala a minha língua”. ram distorcidas, foi muito ruim, horrí- mas eu não era mais o mesmo. Alguma
Guitar Class - Teve uma fase na sua vel mesmo. Eu estava apavorado. Que- coisa tinha mudado em mim. Era a mi-
vida em que você ficou sumido, e pou- ria entrar no mundo do primeiro ácido, nha alma, que estava em processo de
ca gente ficou sabendo o que aconte- mas em vão. Eu tinha uma guitarra que ativação, de transcendentalismo. Depois
ceu. Você poderia nos contar como foi era de estimação, uma Giannini Super de um tempo fiquei tocando só no
esse período? Sonic 61, e eu queria pegá-la, mas não Stardust, onde trabalhei até o último dia.
Lanny - Em 1970, estava numa tem- conseguia. Um amigo que estava comi- O bar fechou há 10 anos, por problemas
porada com a Gal Gosta, “Gal a todo va- go chorava e fumava um beck , até que financeiros, mas meu pai achou que já
por”, no Rio de Janeiro, e o empresário eu desmaiei. Essa foi a última e pior ex- tinha cumprido a sua missão.
do Jair Rodrigues me chamou pra tocar periência que eu tive. Mas depois de um Guitar Class - Quando você passou
na Europa, em Paris, junto com os Origi- tempo fiquei pensando: “Será que esse por essas dificuldades, teve apoio dos
nais do Samba. Aí eu liguei pro Pepeu mundo existe? Eu quero voltar pra esse artistas?
Gomes e ele terminou a temporada para mundo, mas será que é só através do Lanny - Eles ficaram preocupados.
mim. Fomos para Estocolmo, Amsterdã, ácido? Mas o ácido é uma droga...”. Aí Uma vez roubaram a minha guitarra,
Lisboa e Paris. Depois disso, o Jair e sua eu pensei que de acordo com o conheci- uma Gibson Les Paul preta. O Lulu San-
trupe voltaram pro Brasil, e eu e minha mento divino, tudo tem uma explicação tos ficou sabendo e me deu uma guitar-
namorada fomos pra Londres. Nós fomos verdadeira, clara e simples. Mas esse co- ra de presente, e acabei dando para o
para um apartamento do tio dela. Como nhecimento eu não tenho. Existem livros meu irmão, que mora nos EUA e é fã de
eu tinha 20 anos e não conhecia nada da orientais especializados, de filosofia ori- Lulu. O Chico Cesar fez uma música em
vida, perguntei o que era aquela barra ental, indiana e budista, que explicam minha homenagem. Eu também ganhei
branca. Era ácido lisérgico, ou LSD. Eu isso. Eles conseguem, através de 30, 40 uma guitarra dele, que uso até hoje.
fiquei curioso, pois nunca tinha experi- anos de meditação, o efeito do ácido, mas Guitar Class - Atualmente, o que você
mentado. Quando tomei e bateu o efei- sem a droga. Esse estado nirvânico os está fazendo?
to, ficou tudo colorido, que nem esses budistas e yogas conseguem a hora que Lanny - Depois que o Stardust fechou,
filmes da Branca de Neve. Eu pensei: eles quiserem. Eu entrei em um profun- fiquei na obscuridade por alguns anos,
“Pô, eu morri e estou no paraíso, no do processo espiritual e psicológico, e até que um dia um dos meus empresá-
nirvana”. Aí eu vi meu violão, e me fa- depois em um estado de piração. Anda- rios disse: “Lanny, você tem de voltar.
laram: “Toca Lanny”. Eu peguei o vio- va na rua como se fosse Jesus Cristo, todo Não dá mais pra continuar desse jeito”.
lão e com muita força consegui tocar, e mundo me chamava de louco. Eu quei- Eu também queria cumprir a missão
me lembro perfeitamente do acorde que mava minhas mãos e os pés com o cigar- com o meu público, que deve ser em
toquei (Lanny pega um violão e toca um ro, numa espécie de autoflagelação. torno de 10 mil pessoas ou mais. Aí o
acorde Am7). O som que saiu foi incrí- Guitar Class - Então, na sua concep- Luís Calanca, da Baratos Afins, falou
vel, um som de amor mesmo pela mú- ção, você acha que existe uma linha tê- que eu se não gravasse um CD ele que-
sica, um som purinho. Depois de qua- nue que separa o efeito da droga e o es- brava a minha cara (risos). Nesse meu
tro ou cinco horas, quando estava pas- tado de espírito alcançado pelas medi- primeiro trabalho, toquei todos os ins-
sando o efeito, me deram marijuana tações? trumentos. Ele financiou tudo, e grava-
para acalmar e ter uma viagem perfei- Lanny - Sim, mas o ácido é um aluci- mos no próprio estúdio do Calanca. Es-
ta. Aí eu pensei. “Pô, amanhã, quando nógeno que aflora outras tendências que tou tocando na noite em barzinhos,
eu acordar, eu vou ver o sol do nirvana. podem estar escondidas dentro de você, onde tem todos os tipos de músicos,
Eu vou dormir então, e seja o que Deus e que podem te prejudicar. Desde crian- bons, ruins, e músicos que começaram
quiser”. No dia seguinte, quando acor- ça eu tinha uma tendência a desenvol- na época em que eu estava no auge. Eu
dei, vi que tinha voltado pro mundo ver a esquizofrenia, e a droga colocou também toco no projeto Alpha e dou
real, esse mundo ingrato, coisas de ado- tudo pra fora. Fui internado quatro ve- aulas particulares em domicílio, pelas
lescente... Hoje eu penso o contrário, zes no sanatório Bela Vista, tomei cho- quais cobro R$ 30,00 por aula.
você é que faz a sua própria realidade, que elétrico, insulina e coquetéis de re- Guitar Class - Depois de tudo o que você
que é o universo de cada um. médios. O efeito colateral das drogas passou, qual é a sua opinião em relação
Guitar Class - Quantas vezes você to- colocou meus desejos, anseios e traumas às drogas?
mou essa droga? pra fora, e eu dei muita bandeira, fiquei Lanny - Na verdade, eu não me arre-
Lanny - Eu tomei sete ácidos, só que completamente débil mental, não fala- pendo de nada do que fiz, mas para a
um era falsificado, então na verdade fo- va nada, só queria tocar. Quando meu geração de hoje - afinal, os tempos são
ram seis, todos eles num intervalo de seis pai me visitava lá, ele tirava sarro da outros -, acho que os filhos têm de con-
meses, mas nenhum tinha a mesma qua- minha cara, dizendo: “Há! Olha o Lanny versar com seus pais, perguntar a eles,
lidade do ácido europeu. Mas as viagens amarrado lá. Tá vendo o que você fez? pois eles sabem de tudo. Para quem é
eram diferentes da primeira. Há livros Agora agüenta!” (risos). Hoje meu médi- independente, que cada um assuma
especializados nesse assunto, como As co me proíbe de usar drogas, e a suas próprias responsabilidades. No
Portas da Percepção, Admirável Mundo esquizofrenia está sob controle. meu caso, apesar de tudo, acho que é
Novo, etc. A minha última viagem foi Guitar Class - Mas como você foi pa- uma história diferente, e bem original,
quando eu tomei um ácido preto, que rar lá? você não acha? (risos).
www.revistaguitarclass.com.br Novembro 2002 - Guitar Class - 17
Guitar Standard
Autor: F. Churchil e L. Hairline
Arranjo: Lanny Gordin
Transcrição: Kleber K. Shima

Someday My Prince Will Come /TEMA


Este lindíssimo tema faz parte da tri- vários nomes do jazz, como Miles Davis, posto (possui uma divisão ternária), pos-
lha sonora do desenho animado A Bran- Bill Evans, Dave Brubeck, e por muitos sui uma harmonia bem simples e uma
ca de Neve e os Sete Anões, de Walt cantores, como Barbra Streisand, entre melodia de fácil execução, além de ser
Disney, que também foi regravado por outros. Esse standard de compasso com- facilmente reconhecido.

Someday My Prince Will Come /IMPROVISO


Este solo foi feito “de prima”, ou seja, desenvolvem naturalmente, ficando com passos 3 e 6 o ritmo é mais importante.
Lanny tocou apenas uma vez, improvi- um resultado impressionante. Alguns Tente gravar uma base com a harmonia,
sando tudo, e no primeiro take, já ficou trechos, como os compassos 1, 4, 5 e 8 pois só assim você entenderá o sentido
valendo. É incrível como as idéias se exigem mais técnica, enquanto nos com- desse belíssimo improviso.

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Someday My Prince Will Come /WALKING
Neste arranjo exclusivo que Lanny to mais interessante. Somente no meio do mas dissonâncias e aproximações cromáti-
Gordin nos mostra, percebemos de cara que chorus (compassos 7 ao 12), a divisão rít- cas, fugindo do convencional. Para enten-
a divisão rítmica é bem mais “quebrada” mica dá uma acalmada, ficando mais line- der o raciocínio de Lanny, compare as no-
que o habitual, o que torna o trabalho mui- ar. Podemos notar que Lanny explora algu- tas com a harmonia e analise os intervalos.

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Someday My Prince Will Come /CHORD MELODY
Neste exemplo, Lanny nos mostra um cas extensões, mas com muito bom gos- toca acordes quartais (intervalo de quarta
belo chord melody (melodia e harmo- to. Algumas passagens merecem desta- justa) em blocos tocados nas quatro cor-
nia ao mesmo tempo) usando pratica- que, como as dos compassos 6, 8, 14 e das mais agudas. Esse tipo de
mente só as notas do acorde, com pou- 15. Repare que em muitos casos, Lanny harmonização é muito usado no jazz.

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