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Quer um pedacinho?
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garantia de uma vida digna e “A luta democrática em malmente constatado em pes-
saudável para toda a população quisas sociais.
busca de uma melhor
está longe de acontecer: aproxi- No Sul, onde essa diferença é
madamente 14 milhões de pes- distribuição de renda, mais evidente, a fome fez parte
soas passaram fome no país de terras, e do poder da vida de 3,9% das pessoas que
naquele ano. A desigualdade fazem parte da história moravam em ambiente urbano,
regional ficou confirmada com a enquanto que 2,6% da popu-
recente do país
análise da situação de residência lação do campo relataram algu-
da população, se urbana ou para a superação ma situação de falta de comida.
rural. Nas regiões Norte e das desigualdades A razão disso seria a boa estrutu-
Nordeste a insegurança alimen- ra agrícola nas regiões rurais do
e pela conquista
tar grave apresentou proporções Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e a
mais elevadas na área rural, da justiça social” pobreza concentrada em locais
enquanto que no Sul e Centro- sem serviços adequados nas
Edmar Gadelha,
Oeste ocorreu o inverso. coordenador do Ibase áreas urbanas.
Segundo Gadelha, isso acon- Em um país de abundância de
tece, porque, historicamente, o Os índices de insegurança ali- riquezas naturais e de grande
modelo de desenvolvimento que mentar também reforçam a produção de alimentos, a de-
foi se implantando no Brasil teve desigualdade econômica entre as sigualdade e a exclusão social
sua concentração industrial-ur- raças, já que em 2004, 11,5% da são apontadas como as princi-
bana localizada na região Su- população negra ou parda vivia pais causas da situação de inse-
deste, mais especificamente em em situação de insegurança ali- gurança alimentar e nutricional.
São Paulo e no Rio de Janeiro. “A mentar, enquanto os brancos Segundo Gadelha, essa desigual-
região Norte e Nordeste ficou re- representavam 4,1%. Para Edmar dade é fruto do modelo econômi-
legada a regiões fornecedoras de Gadelha isso é fruto do processo co que privilegia determinados
mão-de-obra barata para o mer- histórico de discriminação e de interesses de uma minoria em
cado de trabalho. Além disso, a preconceito arraigado desde o detrimento da grande maioria
concentração da terra nas mãos período colonial, que acaba que fica à margem do processo de
de poucos (latifúndios) acaba excluindo socialmente os negros. desenvolvimento da nação.
inviabilizando o desenvolvimen- Uma novidade foi encontrada Mas, ele acredita que o país
to e reproduzindo os ciclos de pela pesquisa em relação ao está no caminho para mudar
pobreza”, afirma o coordenador senso comum no que diz respeito essa situação: “A luta democráti-
do Ibase. às relações entre as áreas ca em busca de uma melhor dis-
urbanas e rurais nas diferentes tribuição de renda, de terras, e do
regiões do país. Nacionalmente, poder fazem parte da história
a segurança alimentar continua recente do país para a superação
sendo maior nas cidades do que das desigualdades e pela con-
no campo, e a fome ainda quista da justiça social”. Mesmo
a p a rece com maior fre q ü ê n c i a assim, ainda não é possível dizer
nas áreas rurais (11,1% contra quando os brasileiros estarão
6,9% na área urbana). Por outro livres da fome, mas, nesse ce-
lado, as cidades das regiões nário, a pesquisa do IBGE serve
Sudeste, Sul e Centro-Oeste têm como base para a criação de pro-
índices maiores de insegurança jetos e implementação de políti-
alimentar quando comparadas cas públicas que garantam a
ao seu interior, o que representa transformação da realidade do
uma mudança ao padrão nor- povo brasileiro.
Janeiro/Junho 2006
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