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João S. Furtado
Consultor para empresas
com responsabilidade sócio-ambiental
jsfurtado@terra.com.br
Consultor colaborador
PROGESA FIA-FEA-USP
Gestão Estratégica Sócio-Ambiental Responsável
Abordagem
1. Questões ambientais contemporâneas
2. Desenvolvimento sustentável e os assentamentos humanos:
conceitos, compromissos e realidades
3. Indicadores sócio-econômicos e ambientais gerais – para medição da
sustentabilidade – e específicos – para caracterizar e avaliar
impactos, danos ou progressos alcançados nos assentamentos
humanos
4. Construção civil com responsabilidade ambiental (ecobuilding) –
conceitos e oportunidades
5. Produção Limpa como tecnologia de gestão na construção civil –
tendências internacionais e recursos disponíveis no Brasil
6. Ecodesign como instrumento prático para inovação tecnológica e
ferramenta para a produção de bens e serviços no setor
7. As partes interessadas
O grande equívoco da teoria econômica prevalente foi ter achado que o homem era o centro do
universo e poderia alterar e dominar os demais ecossistemas.
É impossível negar que o modelo antropocêntrico foi responsável pela fantástica diversidade de
novos materiais, principalmente derivados da química, e de tecnologias, nos mais diversos
setores ou campos de atividades.
2
Com isso, o ecossistema humano (a economia) foi invadido por bens e serviços, envolvendo
incontáveis produtos têxteis, agrotóxicos, sanitários, farmacêuticos, alimentícios, plásticos, etc..
Os reflexos foram representados por centenas de novidades para utilização nos lares, transporte,
lazer, esportes, de modo sem precedentes na história da sociedade humana.
O homem econômico diz que as tecnologias não são boas, nem ruins. E, por extensão, nem
limpas, nem sujas. Para o homem de negócios, são reflexos dos valores culturais e éticos da
sociedade.
O fato é que a sociedade passou a conviver com poluição, desastres e danos aos ambientes
naturais e urbano. Intencionalmente ou não, o homem econômico passou a jogar roleta russa com
a natureza e arrastou consigo, a sociedade de consumo, fruto do modelo de desenvolvimento das
últimas décadas.
Os problemas ambientais - causados pela poluição de origem industrial - começaram a ficar fora
de controle e tornaram-se alvo de alertas e reclamações.
Poluição deixou de ser mera questão relacionada às emissões de resíduos capazes de causar
danos à saúde humana e ambiental. O âmbito de seus efeitos também foi alargado.
O conceito de mercado também foi modificado. Antes, representava o espaço para a realização
de negócios. Hoje, inclui (i) o ambiente de negócios, (ii) as necessidades sociais, inclusive das
classes economicamente excluídas, (iii) as necessidades ambientais e (iv) os paradigmas da
globalização da economia.
Para o biólogo, é um alento ver que a sociedade humana está assimilando lições da natureza,
mesmo de modo não intencional. Termos científicos - até então de uso restrito - são reproduzidos
pela mídia popular e entram no jargão de marketeiros e de outros profissionais.
A partir do início dos anos 90, surgiu a onda de bionegócios e uma série de termos relacionados
ao verde e à ecologia. Rapidamente, a questão ambiental passou a ser usada como ferramenta de
mercado. Muitas empresas exageraram na dose e foram acusadas de prática de maquiagem verde
(greenwashing).
3
Os ativismo ambiental foi responsável por inúmeros protestos internacionais, muitas vezes de
maneira radical, a fim de chamar a atenção dos riscos para a sociedade humana.
O epicentro dos movimentos sociais contra os impactos ambientais, ocorreu nos países onde as
necessidades básicas da sociedade haviam sido atendidas.
O texto a seguir trata das transformações no setor da construção civil, sob o estímulo das
questões ambientais. O leitor está convidado a refletir sobre tendências e conceitos; os novos
papéis dos profissionais que atuam no segmento; as ferramentas e as estratégias para as
empresas.
Entre as inúmeras críticas feitas pelos ambientalistas, encontra-se, por exemplo, a falta de
estudos toxicológicos para os produtos químicos. A situação nos EUA não deve ser
diferente dos demais países desenvolvidos, onde centenas de milhares de instalações
industriais utilizam cerca de 70.000 produtos químicos. A cada ano, outros 1.000 são
introduzidos no mercado. O problema é que os riscos ambientais e para saúde humana
nunca foram determinados para mais de 90% deles.
Cenário de mudanças
Parece que os atributos racionalidade e consciência - que diferenciam o homem dos demais
animais - não foram suficientes para evitar os problemas ambientais.
A esperança é de que a corrente que reivindica maior responsabilidade ambiental das empresas
seja vencedora. Se não pela racionalidade e raciocínio, pelo menos pelo atributo que caracteriza
as espécies animais, em geral. Os antigos zoólogos chamaram de extra-territorialidade causal a
manifestação da capacidade instintiva do animal para usar os últimos resquícios de energia, a
fim de escapar de situações que ameaçam a sobrevivência individual.
Nos países onde a legislação obriga e a fiscalização funciona, a atitude usual da indústria é de
conformidade à legislação ambiental. Entretanto, entidades de classes industriais e organizações
de profissionais criaram códigos voluntários de ética e conduta ambiental.
Outros estatutos surgiram a partir de acordos entre governos e setor produtivo, como o Princípio
do Poluidor Pagador, Responsabilidade Continuada do Produtor (Extended Producer
Responsibility), Devolução Garantida (Buy Back e Take Back), Princípio da Precaução
5
(Precautionary Principle), Direito Público de Acesso à Informação (Right-to-Know), entre
outros.
Outras iniciativas, mais recentes, nasceram do próprio setor industrial. O Sistema de Gestão
Ambiental foi oficializado pela Norma Técnica ISO14001. A Série ISO 14000 deverá ser
completada por normas para Selo Ambiental (ou Selo Verde), Autodeclaração Ambiental,
Desempenho Ambiental, Avaliação do Ciclo de Vida ((Life-Cycle Assessment) do produto, entre
outras.
Não serão decisões fáceis, nem rápidas. Todavia, independente das ações no âmbito da ISO
(International Standard Organization) e sob estímulo governamental, o sistema industrial nos
países desenvolvidos já pratica o Design para o Ambiente (Design for the Environment),
Desempenho Ambiental Responsável, Responsabilidade e Confiabilidade Total (Total
Accountability) e outros princípios.
O recente estatuto dos Crimes Ambientais foi considerado passo importante para inibir as
atitudes ambientais danosas com rigor, mas entrou em moratória até o ano 2.005. No Estado de
São Paulo, espera-se que haja progressos, com a legislação sobre os resíduos sólidos.
Há e continuará havendo forte reação do setor produtivo, contra a atual legislação nacional.
Maior resistência deverá acontecer, a partir do momento em que o Governo do Brasil
implementar os acordos internacionais dos quais é signatário.
A indústria mundial ainda tem muito o que aprender. Entretanto, já descobriu que as questões
ambientais não são, necessariamente, prejudiciais do ponto de vista econômico. Muitas
transnacionais já identificaram, reduziram ou eliminaram custos ambientais não contabilizados,
decorrentes de suas atividades.
Custos ambientais não contabilizados
As questões básicas envolvem: que tipos de materiais devem ser escolhidos; como construir; o
que planejar em função das pessoas que irão habitar; quais problemas deixar; o que irá acontecer
depois que a obra estiver pronta; como serão as áreas de circulação; qual a infra-estrutura de
serviços.
Não importa se se trata de projeto de uma casa na área urbana ou rural, uma escola, clube,
edifício ou conjunto residencial. O cenário de mudanças é um convite à reflexão. É a
oportunidade para a abordagem de questões sensíveis e complexas, por pessoas com formação
heterogênea, mas com interesse comum, focado na responsabilidade ambiental e social da
empresa. Uma ocasião excelente, mesmo para o educador que não esteja atuando no setor da
construção civil - como também é o meu caso.
As relações entre a indústria e o ambiente tornaram-se tema de interesse das Nações Unidas e
passaram por amplo debate na ECO-92, quando surgiu a expressão Desenvolvimento Sustentável.
Hoje, a expressão corre solta na mídia e nos discursos políticos. Entretanto, é necessário evitar a
vulgarização semântica, quando políticos e empresários falam em desenvolvimento econômico
sustentável, ignorando os princípios éticos e ambientais envolvidos.
7
Empresários aumentaram seu vocabulário e falam, sem embaraço, em faturamento sustentável,
no mero sentido de vendas contínuas, resultantes da capacidade de compra dos consumidores de
seus produtos.
Não houve suficiente percepção ou preocupação com os custos sociais ao gastar mais recursos
do que seria necessário. Não houve, também, preocupação com o desenvolvimento de
tecnologias ambientalmente adequadas.
Os malefícios dos modelos tecnológicos estão evidentes na exploração de jazidas, nos projetos
de urbanização, nos projetos de construção civil em regiões de viveiros naturais, e tantas outras
atividades desenvolvidas sob a justificativa do progresso.
Acima de tudo, o homem econômico passou a tratar a natureza como se tudo girasse ao redor de
si próprio. É duvidoso que o movimento social em defesa das algas, dos micróbios, macacos,
árvores e outras formas de vida tivesse sido um ato consciente para auto-sustentabilidade dos
ecossistemas. É mais provável que tivesse traduzido a manifestação de poder e domínio do
homem sobre as demais espécies, para ratificar sua posição como centro do universo.
Hoje, o paradigma econômico passa por questionamentos, com disputa de duas correntes. Uma
8
corrente propõe a “transformação da ecologia em economia”, enquanto outra defende a
“transformação da economia em ecologia”.
Os economistas ortodoxos acham que “o ecologista sabe o valor de tudo, mas não sabe o preço
de nada”, enquanto este responde que “o economista sabe o preço de tudo, mas não sabe o valor
de nada”. O comportamento ambiental responsável busca eliminar o conflito de opiniões, na
certeza de que ambos estão focados em interpretações equivocadas.
Começa com a formação de novo perfil de arquitetos, designers e engenheiros, para a concepção
de novo modelo de projeto.
Entretanto, as propostas de mudanças ficarão no campo das boas idéias e o sucesso econômico
do novo design não ocorrerá, a menos que o empresário - dirigente e tomador de decisões na
empresa - não se for capaz de transformar as políticas, regulamentos, acordos voluntários e
demais questões ambientais em estratégias competitivas para seus negócios.
Portanto, este é o momento de alertar a empresa sobre as dificuldades que poderá enfrentar, no
caso de tomar a decisão de introduzir mudanças, diante das pressões e motivações de mercado.
De modo geral e por diferentes razões, muitas políticas ou tendências internacionais continuarão
sendo ignoradas, tanto pelos governos, como pelas empresas locais. Outras, negligenciadas.
Parte delas poderá ser simbolicamente reconhecida, mas, nunca cumprida.
O âmbito das questões ambientais é amplo e vem sendo consolidado, rapidamente. Portanto, é
oportuno relembrar que a indústria dos países retardatários - especialmente a exportadora - terá
que ficar atenta, a fim de não sofrer as conseqüências de barreiras não tarifárias, baseadas em
9
critérios ambientais. Como, a propósito, já acontece em diversos países. É também oportuno
repetir o que já foi dito: o conceito ambiental ultrapassa questões relativas à poluição. Na
realidade, alcança pobreza, miséria, falta de acesso à saúde e alimentação, comprometimento da
cultura local e do direito de escolha das gerações futuras. Nas disputa de mercado, os
concorrentes irão se valer de todos os critérios ambientais institucionalizados e em debate.
Tendências ambientais internacionais
1
Conjunto de todas as condições e influências externas circundantes, que interagem com um organismo, uma
população, ou uma comunidade. Glossário de ecologia. Acad. Ciên. Est.S.Paulo, 1987. 271pp. Publ. ACIESP nr. 57.
2
Bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (Const. Fed Br, art. 225). Conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas (Leg. Br Lei 6938 de 31/8/81, art. 3º I. Dicionário de Direito Ambiental. Terminologia das leis
do meio ambiente. Krieger, Maria da Graça et col. 511 pp. Edit. UFRS e Min. Púb. Fed.
3
Modelo de desenvolvimento que leva em conta fatores econômicos, sociais e ecológicos, resultando na utilização
equilibrada e auto-sustentável de recursos naturais, nos limites das necessidades reais das necessidades e do bem-
estar da presente geração, com medidas de conservação para permitir o direito das gerações futuras.
10
O hábitat humano - em particular os assentamentos humanos – não ficou fora do âmbito das
preocupações de organizações governamentais e não-governamentais com responsabilidade sócio-
ambiental, nos planos nacionais e internacionais, como ilustrado, de maneira, certamente, incompleta:
• Centro das Nações Unidas para Assentamentos Humanos
www.undep.org/un/habitat
• Divisão de Ambiente e Assentamentos Humanos da União Européia
www.unece.org/env_h.htm
• Dubai International Award for Best Practices to Improve the Living Environment
http://dubai-award.dm.ae
• IIEDs Work in Urban Areas
www.iied.org/human/idex.html
• Ecouncil – Human Settlements
www.ecouncil.ac.cr/abrout/contrib/habitat/human.htm
• Gaia Eco-Village Information Concepts
www.gaia.org
• Ecocity Living Planet Network
www.ecocity.com
• Assentamentos humanos na Ásia
www.hsd.ait.ac.th/hsd1.htm e www.unescap.org/huset/index.html
• Best Practices for Human Settlements
http://mirror-us.unesco.org/most/bpunchs.htm - www.dsidata.com/products/hs.htm -
www.unesco.org/most/pbcomm.htm –
www.netstoreusa.com/mabooks/o19/0198233469.shtml -
www.reliefweb.int/training/ti227.html –
http://w3g.gkss.de/lotse/out/one/menu/topics/1891.html -
www.neap.com.eg/workplant.html
• ONGs (coalizão)
http://hom.mweb.com/za/hi/hic
• GIS Database
www.jhabua.org/index6.htm
• Índices de habitats
www.habitat-lac.org
• Centro de referências para gestão ambiental para assentamentos humanos
www.bsi.com.br/unilivre/centro
• Curso internacional – Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo
www.ipt.br/dec/mejhab/mejhab2.htm
• Promoção de desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos
www.undp.org.br/ag21pt07.txt
• Universidade Federal Fluminense – Núcleo de Estudos
www.uff.br/nephu
4
Ambiente, lugar ou tipo de local onde um organismo ou população encontra um conjunto de condições s para
sobreviver, desenvolver-se e reproduzir-se, naturalmente.
5
Microhabitat ou conjunto total de condições particulares, onde vive um indivíduo ou determinada população em
especial.
11
• Qualidade ambiental urbana – clube das idéias
www.idea.org.br/programas/02.htm
• Boas práticas e experiências
www.ibam.org.br/bestpract/bp.htm – www.arquitetofna.org.br/sobrasse.htm –
www.ibase.org.br/paginas/habitat.html – www.unilivre.org.br/centro/default.htm -
http://juno.ibam.org.br/urbanos/assunto3/hlt2_2.htm –
www.crdi.ca/cfp/facts39_e.html - www.infohab.org.br – www.finep.br/prosab –
www.entulhobom.org
• Promoção de desenvolvimento sustentável nos assentamentos humanos
www.ambiente.sp.gov.br/agenda21/ag07.htm – www.mma.gov.br/corpo.cfm –
www.ocara.org.br/servicos/entidades/ong00476.htm –
www.oab-df.com.br/html/oabdihu1.htm –
www.mma.gov.br/port/SE/agen21/perg.html
Desenvolvimento sustentável
6
www.rprogress.org
12
A construção de base de dados ambientais para sustentabilidade, a partir de linguagem compatibilizada e
a agregação de informações produzidas pelas nações, tem sido objeto de apreciável o trabalho da Divisão
de Estatística da Organização das Nações Unidas.
Textos técnicos, manuais, software específico7, planilhas e outros materiais já estão disponíveis,
juntamente com base de dados Regionais e Nacionais, para consulta em linha. O quadro de
.
referência dos indicadores de sustentabilidade proposto pela ONU8 serviu de base para o
arcabouço recém-criado pelo IBGE, para o Brasil.
Os indicadores de eco-eficiência – de sua parte – têm recebido crescente atenção de indústrias e
organizações representativas de segmentos de negócios. Nesta vertente, surgem duas importantes
categorias de uso nas operações das organizações governamentais, não-governamentais e produtoras de
bens e serviços:
i. integração dos custos ambientais nos dispêndios totais – contabilização ambiental
ii. divulgação do desempenho ambiental – relatório de desempenho ambiental
Conceito de indicador
Cerca de 500 indicadores de sustentabilidade já foram identificados, a partir de busca e seleção feitas em
textos, consultas, levantamentos, questionários, em inúmeros tipos de fontes. A Agência Ambiental da
Austrália9 identificou os principais critérios para seleção de indicadores, distribuídos em cinco grandes
categorias.
7
http://www.un.org/Depts/unsd/enviro/software.htm
8
http://www.un.org/depts/unsd/enviro/environment.htm
13
• monitoração regular e relativamente fácil
• custo-efetividade
• provimento de meios para relatos obrigatórios, determinados por acordos internacionais
• consistência e compatibilidade a outros indicadores no País e a recomendações
internacionais
iii. crível
• credibilidade científica
• quando apropriado e possível, usado em relatos comerciais e gerenciais
iv. compreensível
• facilidade de compreensão
• relevância para políticas e necessidades de gestão
v. útil
• robustez na indicação de mudança ambiental
• indicação prematura de alerta para problemas potenciais
• monitoração de progresso na implementação de compromissos em políticas ambientais
nacionais significativas
Representação do indicador
• Visão fotográfica instantânea de uma situação
• Documentação de mudanças, ao longo do tempo
• Percepção prospectiva de progressos, aprimoramentos, ineficiência, impactos ou danos,
atuais, possíveis ou potenciais
• Estabelecimento de prioridades futuras
• Avaliação da efetividade de medidas para aprimoramento
• Informação para o público ou para grupo selecionado de agentes (stakeholders)
Pré-requisitos essenciais
• Disponibilidade de dados de emissões industriais e de outras fontes importantes, de natureza
temporal e espacial
• Abrangência de aspectos sociais (inclusive institucionais), econômicos e ambientais (inclusive
multi-meios: ar-água-solo)
Arcabouço de indicadores
Vários países forneceram informações para a base de dados da Divisão de Estatísticas da ONU10 ,
inclusive o Brasil. Mas, tanto as informações que aparecem na página na Divisão de Estatística, como em
outras páginas acessadas através da Internet, os dados sobre o Brasil não atendem, satisfatoriamente, a
9
Environment Australia. Dept. of 5he Environment. Environment Indicators for National State of the Environment
Reporting. Human settlements. 1998. 184 pp. www.environment.gov.au/soe/indicators
10
http://www.un.org/esa/agenda21/natlinfo/countr/brazil/index.htm
14
condição de indicador e, portanto, não permitem que o Brasil possa figurar, adequadamente, nas
estatísticas internacionais.
A presença dos dados sócio-econômico-ambientais do Brasil, no ISA Índice de Sustentabilidade
Ambiental11 também não tem característica de indicadores. A pontuação e classificação do Índice de
Sustentabilidade do Brasil foram – em parte – baseadas em simulação e modelagem, pela inexistência de
informações e indicadores temporais e espaciais efetivos.
11
http://www.ciesin.columbia.edu/indicators/ESI
16
• maximizar a longevidade da obra e dos equipamentos
• minimizar e administrar o descarte de resíduos e lixo de maneira integrada nos projetos de
desenvolvimento urbano, criando condições ambientais satisfatórios para o homem e o
entorno
A empresa da construção civil com responsabilidade ambiental deve atuar de acordo com o
modelo “do berço à cova”, ou, segundo outros, “do berço ao berço”.
Neste contexto, estão incluídos: a auto-sustentabilidade das fontes de matérias primas, o uso de
materiais renováveis; o emprego de sistemas de produção atóxicos e com redução de consumo de
água e energia; a reutilização ou reciclagem de resíduos e subprodutos; a destinação ambiental
responsável de embalagens e dos materiais ao final da vida útil.
Abrangência do projeto de
construção civil com responsabilidade ambiental
A construção civil com responsabilidade ambiental envolve questões de fácil formulação, mas
de respostas complexas.
Outros atores importantes são as organizações como SINDUSCON, Sindicato dos Trabalhadores
na Construção Civil, Associações de Engenheiros e Arquitetos, Institutos especializados e
Organizações Não-Governamentais com atuação ou interesses na construção civil ou nos
impactos desta.
Empresas como a CDHU têm condições para assumir a liderança na conduta ambiental
responsável para o setor, definir diretrizes, acumular capacitação técnico-científica para estudos
e criar ferramentas importantes para que os projetos tratem as questões ambientais com
objetividade.
Os projetos da CDHU poderão ser marcos de referência em logística reversa, avaliação de ciclo-
de-vida, produção limpa, stewardiship e benchmarking ambientalmente adequados,
contabilização total de custos, atuação empresarial com responsabilidade e confiabilidade total,
etc..
Não se trata, portanto, de atitude romântica para proteger as espécies ameaçadas, garantir
a exuberância das bromélias, debater a questão dos golfinhos, das tartarugas e das baleias.
Questões como poluição transfronteiriça, transporte de lixo perigoso, aquecimento global devem
ser abordadas com a mesma preocupação sócio-política, pelos atores e agentes da construção
civil.
É lamentável que ocupantes de cargos de Governos façam de conta que tais compromissos não
existam e que outras pessoas, em especial os profissionais, nem saibam que existem e deveriam
estar sendo cumpridos.
12
Parte deste texto foi usada em palestra na CDHU Companhia Estadual de Desenvolvimento Habitacional e
Urbano, Governo do Estado de S. Paulo. 1999.
18
Impactos ambientais da construção civil
A construção civil tem papel dualístico. É um dos campos de maior capilaridade nas atividades
sócio-econômicas, mas contribui com importante parcela para a deterioração ambiental.
Danos ambientais
Os exemplos mais comuns compreendem: envenenamento por amianto, intoxicações por tintas e
solventes e outros produtos químicos, PVC e outros produtos liberadores de dioxinas.
A esse propósito, os Governos de vários países estão impondo restrições para o uso de
PVC. Recentemente, o Governo do Japão proibiu a incineração de produtos à base de
PVC, devido à liberação de dioxinas.
Há produtos cujo vazamento causa danos ao lençol freático. A contaminação microbiana não
pode ser negligenciada. Legislação recente, no Brasil, obriga a manutenção dos sistemas de ar
condicionado, a fim de evitar danos à saúde provocados por agentes microbianos. Economia de
água e de energia são citados com freqüência.
O mau uso de materiais não pode ser ignorado. Há denúncias, no Brasil, do emprego de madeiras
de lei, transportadas de regiões distantes, para uso em andaimes.
Dados dos EUA foram considerados válidos para a construção civil nos demais países industrializados e
19
apontam para os seguintes indicadores: utilização de 30% das matérias primas, 42% do consumo de
energia e 25% para o de água e 16% para o de terra.
O segmento contribui com 40% da emissão atmosférica, 20% dos efluentes líquidos, 25% dos sólidos e
13% de outras liberações.
Não há dados sistematizados sobre o impacto da construção civil no Brasil. Isto aumenta o
desafio, amplia as dificuldades para empresas locais, mas eleva o nível de contribuição a ser
dado pelas organizações pioneiras.
Informações pessoais (Diretor da Greenpeace, em São Paulo) dão conta que os prédios
residenciais em São Paulo são responsáveis por 15% do consumo de energia elétrica,
principalmente para aquecimento de água. A demanda anual, pelo segmento, é da ordem de
2,6%. Também ocorrem problemas com o aumento do consumo de água.
O segmento da construção civil nacional poderá dar um salto qualitativo espetacular, a partir do
momento em que as questões de qualidade ficarem atreladas às variáveis ambientais. Nisto, o
papel da CDHU também será notável.
Tecnologias limpas já disponíveis, não são incorporadas com facilidade nos produtos, serviços e
processos construtivos. É o caso, por exemplo, do uso de biodigestores em conjuntos
residenciais, sistemas de coleta de água de chuva para reaproveitamento, aquecimento solar
(principalmente em chuveiros), tratamento de água com ozônio (em substituição ao uso de
cloro), novos polímeros para substituição de PVC, materiais de acabamento à base de aparas de
madeira.
A falta de articulação do setor de produção com o de ciência e tecnologia faz com que muitas
possibilidades sejam descartadas. Contribuem para isso: a cultura predominante nos processos
construtivos, o poder de influência dos segmentos fornecedores, a falta de apoio para novos
estudos de viabilidade técnico-econômica ou falta de pesquisas mais objetivas, por universidades
e institutos de pesquisa.
A deficiência do setor acadêmico também aparece, pela falta de experiência em RIMA, REIA e
outros tipos de relatórios de impacto ambiental. No geral, os problemas acontecem por
deficiência de metodologia e insuficiência na definição dos ecoindicadores, entre outras razões.
Embora incompletos, os estudos de impacto oferecem subsídios importantes.
• demografia
21
• análise de produtividade
• estudos comportamentais
• zoneamentos e restrições ambientais
• inventários e estudos equivalentes ao de balanço de materiais e de Avaliação do Ciclo
de Vida
• estudos de impacto e gestão ambiental
(1) Atuar nos limites da conformidade à legislação ambiental. Entretanto, a ação da empresa
poderá ser anulada, pela fraqueza ou inexistência de legislações ou, na existência destas,
pela inoperância da fiscalização.
(2) Adotar postura pró-ativa, ultrapassando os limites da legislação nacional. O maior
estímulo será causado pela existência de legislação mais rígida e pressão dos
consumidores e demais agentes sócio-econômicos, como bancos, seguradoras, ONGs,
trabalhadores, etc.
(3) Orientar-se para a sustentabilidade, levando em conta os critérios internacionais e
exigências globais. Neste caso, as maiores dificuldades consistem na disponibilidade de
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tecnologias apropriadas, consenso social e novo sistema de valores baseado em critérios
de qualidade que sejam ambientalmente sustentáveis, socialmente aceitáveis e
culturalmente valorizados.
Ecodesign
Ecodesign – também referido como design para o ambiente, design verde e design com maior
responsabilidade ambiental, aparece, literatura internacional, como Pollution Prevention by
Design (P2D), Environmentally Sound Manufacture, Design for the Environment (DfE),
Environmentally Conscious Design and Manufacturing, Green Design, Design for
Environmentability, etc.
Associada ao foco do ecodesign (design para sustentabilidade e design para saúde, como
exemplos), há necessidade de eleger o modelo de gestão das operações, no nível do processo de
produção de bens e serviços. As ilustrações incluídas mostram parte das diversas opções de foco
para o ecodesign e uma das estratégias de procedimento. Outras estão disponíveis na crescente
23
literatura sob o assunto 13
O nicho de mercado para a construção civil com responsabilidade ambiental começa a ser
configurado. Entretanto, as empresas devem evitar a prática de maquiagem verde, para evitar
ações civis, previstas na legislação do país.
13
Fiksel, J. 1996. Design for the environment. McGraw-Hill, 513 pp. Czaja, Maurício C. 2001. Formação de equipe
para o projeto de produto sustentável. Revista Meio Ambiente Industrial, Ano VI, ed. 31, nr. 30, Maio-Junho, 64-74.
14
Este e outros temas correlatos, inclusive sites que tratam de ecodesign e ecobuilding, estão disponíveis no site da
Fundação Vanzolini www.vanzolini.org.br/areas/desenvolvimento/producaolimpa.
15
www.sustainable.doe.gov/articles/ptipub.htm
16
www.usgbc.org/resource/resource.htm
24
que enfrentar ações civis, inclusive as movidas pelos próprios concorrentes.
Entretanto, as coisas não são bem assim e os problemas já não podem ser colocados debaixo do
tapete. Agentes financeiros, investidores e seguradoras estão mais exigentes quanto aos riscos
ambientais das atividades produtivas. Bancos e corporações transnacionais descobriram que a
atitude ambiental responsável é um bom negócio.
Para tanto, será preciso contar com profissionais criativos, capazes de moldar o novo paradigma
econômico. Neste sentido, o setor de construção civil se vale das vantagens dos princípios da
Produção Limpa.
Os princípios da Produção Limpa (Clean Production) surgiram nos anos 80, como proposta da
organização ambientalista internacional Greenpeace, na campanha para mudança mais profunda
do comportamento industrial.
A boa idéia ganhou maior visibilidade, a partir de 1989, quando a agência da ONU, dedicada ao
meio-ambiente - PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente criou o
programa de Produção Mais Limpa (Cleaner Production).
Produção Mais Limpa fala em prevenção de resíduos, mas aceita, com liberalidade, a redução ou
a minimização. Insiste na visão holítisca e recomenda a avaliação do ciclo-de-vida. Promove a
reciclagem e a reutilização de materiais.
É muito provável que Produção Limpa - da mesma forma como tecnologia limpa - sejam
terminologias utilizadas por muitos agentes sócio-econômicos, mas aplicadas no contexto de
Produção Mais Limpa.
Estrategicamente, Produção Mais Limpa atende à missão do PNUMA, como órgão multi-
governamental. Do ponto de vista acadêmico e social, Produção Limpa coloca a empresa em
padrão mais elevado de excelência.
Afirma que é preciso levar em conta os custos resultantes de resultados falso-negativos (quando
algo que é seguro poderá tornar-se não-seguro) e os falso-positivos (algo que for
presumidamente danoso, mas que poderá não agir como tal). Os custos de falso-positivos podem
representar alocações menores, enquanto os falso-negativos podem ser catastróficos, como os
casos de envenenamento por amianto (atualmente, 3.000 mortes por ano no Reino Unido e
custos de remediação de bilhões de dólares), vazamento nuclear em Chernobyl, destruição da
camada de ozônio por CFC, a ‘engenharia segura’ de Bhopal, dentre outros.
Pelo Princípio da Precaução, é o produtor - e não o governo, nem a comunidade - que deverá
assumir a responsabilidade e o ônus da prova de que determinado produto, processo ou material
não irá causar danos ao homem e ao ambiente.
Portanto, os objetivos do Princípio da Prevenção são: (i) eliminar ou reduzir a geração das
emissões potencialmente poluidoras , (ii) criar medidas para reorientação do design (elaboração
de projeto) para produtos, (iii) reorientar a demanda pelos consumidores e (iv)estimular mudança
de padrões de uso ou consumo de materiais.
Princípio da Integração
O conceito abrange dois tópicos: (i) a aplicação dos princípios de prevenção e precaução em
todos os fluxos do sistema de produção e (ii) a Avaliação do Ciclo-de-Vida do produto.
A ACV surgiu nos anos 70 e ganhou maior impulso na década de 90, com o objetivo garantir a
segurança de produtos e processos para o ambiente e saúde humana. As propostas mais
avançadas incluem a necessidade da participação social na elaboração da ACV.
Basicamente, o modelo de ACV reflete a política ambiental da empresa. Será limitado, para a
indústria que adotar o sistema end-of-pipe ou tornar-se-á mais amplo, nos casos das organizações
que adotarem a prevenção de resíduos na fonte e, em especial, as que seguirem os demais
princípios da Produção Limpa.
Produção Limpa
Estratégias ambientais competitivas
• Precaução
• Prevenção
• Visão holística - Avaliação do Ciclo de Vida
• Participação democrática • Ecomateriais
• Direito público de acesso à informação • Tecnologia limpa
• Ecomarketing
• Políticas e regulamentos
• Conformidade ambiental
• Transição
• Atitude pró-ativa
• Desenvolvimento sustentável
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Czaja, Maurício C. 2000. O ecomarketing para produtos no emergente mercado ambiental. Revista Meio
Ambiente Industrial. Ano V, ed. 28 nr. 97, Nov-Dez, p.90-97.
30
• emprego de materiais duráveis, de maior qualidade, durabilidade, montagem,
desmontagem e fácil reparo e reutilização
• especificação de equipamentos inteligentes e de vida útil mais longa
• aproveitamento de materiais renováveis, procedentes e processados de maneira
sustentável, com baixo consumo energético e outros reciclados de maneira atóxica e
energeticamente eficiente
• reaproveitamento de materiais por reciclagem ou doação para grupos selecionados que
possam reutilizá-los
• instalação de facilidades para reciclagem local
• utilização de energia limpa e renovável e instalação de equipamentos e acessórios
inteligentes
• de instalação de unidade de tratamento local de água servida e outros resíduos
• manejo adequado de materiais perigosos, para prevenção de resíduos e lixo, para
proteção das pessoas que irão lidar com a produção, instalação, uso, manutenção,
remoção e descarte, bem como para a proteção e preservação do ambiente,
relacionadas à produção e transporte
• atendimento das necessidades da comunidade em transporte e circulação menos
agressivo e sustentável, criando condições para caminhadas, bicicletas e trânsito
público
• fortalecimento da comunidade com ligações locais independentes e auto-suficientes,
tanto quanto possível
• apoio aos produtores locais, artesãos e comerciantes
• gestão das fontes de materiais, alimentos, água e energia de modo compreensível e
controlável e transparência dos processos e ciclos de produção, consumo e manejo dos
resíduos
• promoção da qualidade do ambiente, quanto à diversidade biológica, fontes hídricas e
lençol freático
• avaliação de políticas de zoneamento, permitindo aproximar locais de trabalho e
residência
• escritório no lar (home office), acompanhando as tendências do mercado de trabalho
através das tecnologias de telecomunicações
• aperfeiçoamento de plantas e ocupação de espaços mais eficiente
• simplificação da geometria das obras, para economia de utilidades e materiais
• integração do projeto construtivo à paisagem e às necessidades de aprimoramento das
condições ambientais do entorno
• aperfeiçoamento do projeto de captura, armazenagem, distribuição e consumo de água,
envolvendo tubulação, equipamentos e acessórios
• desenho aprimorado do sistema de ventilação, evitando umidade ou dissipação de calor
excessivas
• otimização da iluminação natural no maior espaço possível
• desmontes e demolições que levem conta os princípios da construção civil com
responsabilidade ambiental.
• A adoção do modelo de Produção Limpa permite que a empresa possa adotar o eco-
gerenciamento, para atuação ambiental e socialmente responsável.
• Princípios do eco-gerenciamento
• Prioridade organizacional
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• Gestão integrada (eco-gestão)
• Compromisso com a melhoria dos processos
• Educação de recursos humanos
• Prioridade de enfoque
• Produtos e serviços não-agressivos
• Orientação do consumidor
• Equipamentos e operações para eficiência ambiental
• Pesquisa sobre impactos ambientais
• Enfoque preventivo
• Orientação de fornecedores e subcontratados
• Planos de emergência
• Transferência de tecnologia limpa
• Contribuição ao esforço comum
• Transparência de atitudes
• Atendimento ao público e comunicação ambiental
•
• A natureza do desafio institucional e multi-setorial, que afeta a construção civil, é
excelente oportunidade para ação político-estratégica das empresas.
• Estratégia operacional
• Definir que a política ambiental da empresa seja conduzida no nível superior de
negócios.
• Preparar o quadro técnico e praticar os princípios já discutidos.
• Levantar informações sobre os resultados já alcançados nos países que tomaram a
dianteira em construção civil com responsabilidade ambiental e Produção Limpa.
• Levantar as características da realidade local, acompanhadas da identificação de
especialistas, núcleos de especialistas - nacionais e internacionais - e outros recursos que
possam contribuir para a capacitação interna e estabelecimento de projetos
cooperativos e de parceria.
O plano diretor da Vila Olímpica, para os jogos do ano 2000, é um bom exemplo.
Hotel com custo da ordem de U$62 milhões, será construído na área da Vila, dentro
dos conceitos de construção civil com responsabilidade ambiental, com perspectivas
do modelo vir a ser usado pela cadeia hoteleira em outros países.
Concluída a Vila Olímpica, a Austrália terá dado notável exemplo de determinação política e
competência tecnológica.
A propósito: as diretrizes ambientais foram apresentadas pela Greenpeace, que venceu, em 1992,
a concorrência para apresentar o design e colaborar com o comitê para elaboração das diretrizes
para as concorrências, sob o lema Give the planet a sporting chance.
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Apesar de propagandas dando destaque a condições ambientais diferenciadas, as experiências
locais, com projetos considerados inovadores, do ponto de vista ambiental, ainda estão longe do
fundamento da construção civil com responsabilidade ambiental.
Na grande de São Paulo, por exemplo, poderia ser usado o exemplo do design do Bairro de
Alphaville. Promovido pelas características ambientais, fica a dúvida quando se verifica que
residências com extensa área útil foram construídas em terrenos de 400 a 500 m2. O que dizer
dos desmatamentos recentes, imediatamente após o falecimento do homem que concebeu o
projeto ?
Além de conter o apetite, movido pela filosofia de construir a maior área útil sobre o menor
espaço de terra permitido pela lei, ainda existe o problema da mudança da equação industrial.
Mais do que isso, a tendência do engenheiro atual é praticar a equação industrial linear: buscar
matérias primas baratas, sem questionar o problema ambiental com as fontes de suprimento.
Introduzi-las no processo, sem maiores preocupações com o tipo de geração de resíduos. Obter
produtos, embalá-los e colocá-los no mercado, sem maiores preocupações com a transferência de
custos de destinação, descarte e remediação, a serem arcados pelo setor público.
Tudo isso porque o paradigma econômico atual considera os recursos da terra infinitos e aposta
que a tecnologia é sempre ótima, benéfica e dará conta de resolver os problemas para o solo,
água e ar e todas as formas de vida que existirem.
Prevalece, na teoria econômica atual, que a questão relativa aos resíduos é fácil de resolver:
junta-se tudo no final da linha, manda-se para usinas de tratamento, ou descarta-se na rede de
esgoto, nos aterros ou locais definidos pela legislação.
E se houver problemas ? Bem, neste caso, o governo estará aí para intervir e encontrar soluções.
Neste caso: visão do berço-à-cova, geração zero ou mínima de resíduos; processo atóxico, com
baixo consumo de materiais, de água e energia; reciclagem primária (in site) ou secundária (off
site) atóxica, com baixo consumo energético; reutilização e reaproveitamento de materiais;
avaliação permanente nos fluxos upstream (produção) e downstream (distribuição, consumo,
utilização, descarte, destinação).
Os mentores do Programa de Produção Mais Limpa, do PNUMA, temem que o modelo não
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passe de uma boa idéia. Se isso vier a acontecer, o homem econômico colocará a bala na agulha,
no jogo de roleta russa praticado pela sociedade.
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Os profissionais do setor da construção civil no Brasil poderão usar manual, de natureza multi-
setorial, disponível em língua inglesa, (US Green Building Council, Public Technology Inc.,
U.S. Dept. of Energy & U.S. Environmental Protection Agency, 1996), desde que seja feita a
necessária adequação às condições locais. O texto pode ser obtido diretamente no site do US
Dept. of Energy www.sustainable.doe.gov/articles/ptipub.htm. Além disso, há software
interativo para iniciar bases de dados locais necessárias ao desenvolvimento de Avaliação de
Ciclo-de-Vida para materiais usados na construção civil (software Bees 1.0,
www.usgbc.org/resource/resource.htm ).
A implantação do ecodesign começa com a decisão da alta gerência. A seguir, é preciso criar
capacitação interna nos principais temas mencionados a seguir. (i) Educação ambiental interna,
envolvendo toda a estrutura organizacional, centrada nas questões ambientais que afetam os
negócios da empresa (legislação, pressões dos diferentes agentes sócio-econômicos, mercado,
etc.), local e globalmente e os impactos ambientais provocados pelas atividades e produtos
colocados no mercado. (ii) Estratégias ambientais competitivas e as operações gerenciais
(ecomanagement). (iii) Correlações entre as questões ambientais e qualidade. (iv) Ecobuilding e
ecodesign. (v) Uso de ingredientes adequados para comunicação ambiental da empresa.
A viabilidade de utilização dos fatores ambientais e das etapas do ecodesign na construção civil
foi testada no programa de capacitação em andamento na CDHU (Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do Governo do Estado de São Paulo. O programa foi
iniciado em 1998, com base nas propostas da Agenda 21 da Eco-92. Os temas sobre aspectos
éticos e sociais (Scurzio & Santos, 1999) foram seguidos de abordagem a outros mais específicos
(Scurzio & Santos, no prelo).
A terceira fase foi conduzida em 1999, através de convênio entre a CDHU e a FIA (Fundação
Instituto de Administração, Faculdade de Economia, USP, São Paulo), abrangendo dois grandes
módulos: (i) seminários em gestão empresarial e o ambiente (estágio da maturidade ambiental na
empresa, marketing, produção, suprimentos, finanças, recursos humanos) e (ii) bases para o
desenvolvimento de metodologia para incorporação de fatores ambientais no projeto de
construção civil (Ecodesign e Avaliação do Ciclo-de-vida).
A quarta fase foi iniciada em 2001, para implantação de projeto de construção de conjunto
habitacional segundo o modelo de ecodesign, com o desafio adicional: produzir conjunto
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famílias residentes em lixões e na modalidade de mutirão. As casas são construídas pelos futuros
moradores, predominantemente as mulheres, muitas delas tendo seus filhos pequenos, ao lado. O
resultado do projeto piloto será relatado, oportunamente.18.
A adoção do ecodesign leva empresa para níveis de maior maturidade ambiental, mas requer
alguns passos importantes, a saber: (a) Identificação, seleção, conceituação de fatores, aspectos
ou variáveis ambientais e o estabelecimento dos limites de aplicação desses aos produtos,
serviços e processos produtivos da empresa. (b) Sistematização das etapas ou fases operacionais,
de modo a conciliar procedimentos pertinentes ao âmbito ambiental à organização do projeto
(design) de engenharia convencional ou tradicional. (c) Capacitação técnico-gerencial. (d)
Domínio da metodologia e criação de rotinas do ecodesign na empresa.
Mais de 50 fatores ambientais já foram considerados para serem utilizados na construção civil,
agrupados em grandes categorias.
1. Aspectos intangíveis - 1.1.ciclos sazonais e outros ritmos naturais;
1.2.diversidade; 1.3.qualidades naturais, históricas e culturais de cada local,
região ou clima; 1.4.vínculos comunitários existentes, novos e futuros;
1.5.compreensão, valorização e controle sobre o uso de fontes de materiais;
1.6.utilização racional de recursos; 1.7.redução de custos materiais e energéticos
na produção, consumo e destinação; 1.8.valor cênico, como preservação da
imagem na passagem do tempo; 1.9.valores na vida do dia-a-dia;
1.10.modificação da conduta de outros agentes sócio-econômicos e políticos.
2. Ecologia uso da terra e economia - 2.1.coleta e análises de dados ambientais,
como água, clima, topografia, ecossistemas naturais; 2.2.manejo das áreas
agrícolas, do hábitat natural, nascentes e lençol subterrâneo; 2.3.prevenção ou
minimização de distúrbios ambientais; 2.4.práticas integradas para controle de
pragas e doenças; 2.5.integridade do local e da vegetação durante a construção;
2.6.uso de espécies de plantas nativas, perenes, resistentes a intempéries e
reciclagem de nutrientes; 2.7.apoio à manufatura local, produtores de alimentos,
artesanato; 2.8.ocupação domiciliar e mista, conjuntos residenciais, condomínios
e outras formas de co-habitação.
3. Vida comunitária saudável - 3.1.acesso ao local por transporte de massa, com o
uso de energia não poluente; 3.2.vias de trânsito de pedestres e com bicicletas;
3.3.respeito às tradições históricas e culturais da comunidade; 3.4.efeitos para a
saúde pública e individual; 3.5.qualidade da circulação de ar, ventilação e
aquecimento internos; 3.6.ruídos; 3.7.Síndrome do Edifício Doente.
18
Projeto em andamento, na época da redação do presente texto.
37
4. Seleção e especificação de materiais - 4.1.quantificação e identificação de fontes
de materiais; 4.2.alternativas para iluminação, ventilação, emissão de resíduos,
acústica, demanda de energia, estética, custo, manutenção; 4.3.efeitos para a
saúde dos trabalhadores, moradores e população do entorno; 4.4.informações
sobre a segurança de produtos químicos - Material Safety Data Sheet ;
4.5.descarte e destinação; 4.6.manutenção, reposição, desmontagem, reutilização.
5. Conservação de recursos - 5.1.escala de uso de recursos; 5.2.durabilidade dos
materiais; 5.3.materiais reciclados e reutilizados; 5.4.desmontagem e
recuperação; 5.5.reutilização e reaproveitamento; 5.6.equipamentos e instalações
inteligentes e de baixo consumo; 5.7.fácil acesso a unidades de reciclagem;
5.8.reutilização de água de chuva para irrigação.
6. Conservação de água - 6.1.otimização de encanamentos; 6.2.equipamentos de
baixo consumo; 6.3.tratamento e recuperação no local - on site; 6.4.reutilização
de água de chuva).
7. Conservação e eficiência de energia - 7.1.orientação do edifício: iluminação
natural, sombreamento; 7.2.efeitos micro-climáticos sobre o edifício;
7.3.eficiência térmica do revestimento e dos vãos; 7.4.otimização e minimização
das cargas elétricas; 7.5.materiais e equipamentos apropriados para redução de
consumo de energia; 7.6.uso de materiais locais, com baixo conteúdo e consumo
energético; 7.7.fontes alternativas de energia: biogás, aquecedores solares;
7.8.aproveitamento da iluminação natural.
8. Operações - 8.1.design e manuais de operações, para controle das utilidades e
funcionamento; 8.2.materiais que requerem limpeza com produtos de menores
riscos para a saúde; 8.3.eliminação de resíduos sólidos, líquidos e gasosos
durante a construção e da acumulação destes nas superfícies; 8.4.previsão de
adaptações e modificações pós-reforma ou para reutilização.
9. Manutenção e cuidados - 9.1.facilidade de acesso às instalações; 9.2.materiais
com facilidade para remoção periódica de resíduos.
Segundo o manual de construção civil sustentável, já mencionado, o ecodesign pode ser
conduzido por etapas.
10. Design preliminar (pré-design)- 1.1.Definir critérios ambientais; 1.2. Definir
objetivos ambientais; 1.3. Definir prioridades ambientais; 1.4. Constituir a equipe
técnica multi-setorial; 1.5. Identificar a fonte de recursos financeiros; 1.6. Definir
do modelo de gestão do ecodesign; 1.7. Levantar a legislação pertinente; 1.8.
Levantar os padrões e normas técnicas aplicáveis
11. Design - 2.1.Revisar e confirmar critérios ambientais estabelecidos; 2.2.
Especificar as soluções ambientais prováveis; 2.3. Testar as soluções propostas;
2.4. Selecionar as opções ambientais mais apropriadas; 2.5. Refinar as soluções
ambientais escolhidas; 2.6. Testar e selecionar os sistemas ambientais para serem
utilizados
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12. Contratação - 3.1. Orientar e treinar os contratados; 3.2. Fornecer manuais; 3.3.
Firmar contratos e definir responsabilidade civil
13. Construção - 4.1 Organizar equipe de monitoramento; 4.2. Programar
treinamento para a construtora; 4.3. Rever os critérios ambientais, alternativas e
soluções; 4.4. Revisar a documentação de produtos ambientalmente adequados;
4.5. Revisar o projeto construtivo; 4.6. Revisar os manuais de operação e
manutenção; 4.7. Comissionar os sistemas ambientais; 4.8. Monitorar o processo
de construção
14. Ocupação e pós ocupação - 5.1. Estabelecer o plano anual e plurianual de
monitoramento; 5.2. Orientar os ocupantes sobre os critérios e sistemas
ambientais; 5.3. Treinar as equipes de operação e manutenção; 5.4. Revisar o
funcionamento dos sistemas; 5.5. Acompanhar e avaliar o desempenho dos
materiais; 5.6. Acompanhar e avaliar o desempenho do edifício.