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Trabalho: Teorias da Globalização – Octavio Ianni

Matéria: Economia
Prof.: Adaltom
Curso: Direito - 1º Ano - Noturno
Aluno: Ivan Luís Bertevello
RA: 0710528
Sala: 403

Prefácio

A seguir, encontra-se uma mesclagem das principais idéias do livro


juntamente com as pesquisas que obtive referentes ao tema do livro citado acima. No
decorrer do meu trabalho há uma massificação em torno dos dez tópicos apresentados
por Octavio Ianni, contendo também minhas opiniões a partir do entendimento do livro
e das pesquisas.
Antes de falar sobre globalização, o que é globalização?

Globalização é o conjunto de transformações na ordem política e


econômica mundial que vem acontecendo nas últimas décadas. O ponto central da
mudança é a integração dos mercados numa "aldeia-global", explorada pelas grandes
corporações internacionais. Os Estados abandonam gradativamente as barreiras
tarifárias para proteger sua produção da concorrência dos produtos estrangeiros e
abrem-se ao comércio e ao capital internacional. Esse processo tem sido acompanhado
de uma intensa revolução nas tecnologias de informação - telefones, computadores e
televisão.
As fontes de informação também se uniformizam devido ao alcance mundial
e à crescente popularização dos canais de televisão por assinatura e da Internet. Isso faz
com que os desdobramentos da globalização ultrapassem os limites da economia e
comecem a provocar uma certa homogeneização cultural entre os países.
Veja alguns depoimentos de economistas ilustres:

"A Globalização é a revolução do fim do século. Com ela a conjuntura social


e política das nações passa a ser desimportante na definição de investimentos. O
indivíduo torna-se uma peça na engrenagem da corporação. Os países precisam-se
ajustar para permanecer competitivos numa economia global e aí não podem ter mais
impostos, mais encargos ou mais inflação que os outros "

Antônio Delfim Netto-(Veja-3/4/96)

"A Globalização é tão velha como Matusalém. O Brasil é produto do


capitalismo europeu do final do século XV. O que está havendo agora é uma aceleração.
Isso pode ser destrutivo para o Brasil, se o país não administrar sua participação no
processo. A globalização é boa para as classes mais favorecidas. As menos favorecidas
ficam sujeitas a perder o emprego."

Paulo N. Batista Júnior-(Veja-3/4/96)

"A Globalização começou na década de 70, a partir do aumento da


produção das empresas, e foi acelerada porque as empresas precisam estar em vários
países para se aproveitar das variações cambiais. Além disso, a globalização é uma
bolha especulativa, que se expressa no mercado de derivativos. É a jogatina da moeda
diária. Isso afeta empregos. Há uma recessão também globalizada."

Maria da Conceição Tavares-(Veja-3/4/96)

Quando se fala em globalização, tende-se a destacar os aspectos da produção


de riquezas e de consumo. Isso é apenas o primeiro resultado da mudança. Os processo
anteriores de aceleração econômica sempre provocaram alterações em outros setores das
atividades humanas. A Revolução Industrial foi um fator muito importante e que teve
peso no processo de globalização, deslocando o foco da sociedade do campo para a
cidade. Surgiu um novo desenho de classes, como o operariado, os sindicatos, as teorias
socialistas, a demanda de leis refletindo conquistas sociais. Atualmente podemos dizer
que a globalização é a revolução do final do século, e que veio para ficar. Esse processo
está relacionado a uma aceleração do tempo. Tudo está mudando rapidamente, e quem
não acompanhar o rítmico acelerado dessas mudanças, vai perder "o trem" da história e
do desenvolvimento. Em relação às comunicações, as notícias hoje chegam rapidamente
às nossas casas quase ao mesmo tempo em que os fatos estão acontecendo em outras
partes do mundo: a Guerra do Golfo, por exemplo, acontecida em 1990, foi uma "guerra
doméstica ".Entrava em nossa casas, pelo noticiário da televisão, geralmente à hora do
jantar, mostrando toda a dramaticidade do conflito e servindo de "vitrine comercial "
para uma tecnologia bélica, exibindo armas, foguetes, aviões sofisticados, etc. O recente
conflito em países do centro-sul europeu, esteve também nos jornais e na televisão,
trazendo os horrores de uma guerra fratricida e injusta , para o nosso dia a dia as lutas
pela posse da terra, os conflitos e a violência urbana que acontecem a todo o momento
no Brasil, recebem destaque no noticiário internacional. Hoje pode-se constatar que
praticamente não existe mais país isolado. O crescimento da interdependência na
superfície terrestre, está cada vez mais nos transformando numa "aldeia global ."

Críticos da Veja-(Veja-3/4/96)

E o Brasil na globalização, como é que fica?


O ano de alargamento do Mercosul, os tratados formados pelo Chile e Bolívia
com o Mercosul, jornais e televisões noticiaram a adesão dos dois ao bloco sub-regional
liderado pelo Brasil e Argentina. Isso não aconteceu, pelo menos por enquanto. Mas foi
dado o primeiro passo nessa direção: o Chile e a Bolívia firmaram tratados de
associação, o que significa que, sem aderir ao bloco, eles passam a aceitar regras de
tarifas comerciais reduzidas no intercâmbio com os integrantes do tratado de Assunção
de 1991. O passo adiante não aponta para o alargamento do Mercosul por agregações
sucessivas, mas para o desenvolvimento de um processo mais complicado, que os
diplomatas brasileiros apelidaram de estratégia do building blocks.
O Chile esnobou o Mercosul até a pouco. " Adios, Latinoamerica", chegou a
trombetear uma manchete de EL Mercurio, o principal diário de Santiago, resumindo
uma política voltada para a Bacia do Pacífico e uma estratégia de integração do Nafta.
As coisas mudaram. A solicitação de adesão à zona de livre comércio liderada pelos
EUA esbarrou no colapso financeiro mexicano de dezembro de 1994. Escaldados, os
parlamentares americanos negaram a tramitação rápida da solicitação no Congresso e as
negociações continuam a se arrastar. Além disso, a abertura comercial que se espraia
pela América Latina repercutiu sobre o intercâmbio externo chileno, puxando-o devolta
para o subcontinente.
A Bolívia solicitou, em julho de 1992, a adesão gradual ao Mercosul. O
gradualismo boliviano está orientado para controlar um obstáculo político e
diplomático: o país faz parte do Pacto Andino e Tratado de Assunção não permite a
entrada de integrantes de outras zonas de comércio. Mas, no terreno da economia e da
geografia, a Bolívia está cada vez mais colada ao Mercosul. O acordo recente para
fornecimento de gás natural e construção de um gasoduto Brasil-Bolívia vale mais que
as filigranas jurídicas que bloqueiam a adesão imediata. E as perspectivas de
cooperação de todos os países do Cone Sul tendem a abrir duas saídas oceânicas
regulares para a Bolívia, cuja história está marcada pela perda de portos de Atacama, na
Guerra do Pacífico (1879-83). Não é provável que o Chile ingresse plenamente no atual
Mercosul, e Santiago não quer perder suas vantagens comerciais no intercâmbio com o
Nafta e a Bacia do Pacífico. A Bolívia não pretende deixar o Pacto Andino entrar no
Mercosul, e o Chile, com melhores razões não pretende desistir do ingresso no Nafta. O
horizonte com o qual trabalham os diplomatas brasileiros é o da articulação gradual do
Mercosul com os países e blocos comerciais vizinhos, com vistas á formação de uma
Associação de Livre Comércio Sul-Americana(Alcsa).
Essa é a estratégia do buiding-blocks. A sua meta consiste em criar, a partir
de um grande bloco comercial na América do Sul, a plataforma ideal para negociar a
integração pan-americana com a superpotência do Norte. É por isso que o Brasil não
tem pressa nas conversações destinadas a formação de uma super zona de livre
comércio das três Américas, que foram lançadas pelo ex-presidente dos EUA, Geoge
Bush, em 1990.
No caso brasileiro, entenda-se atender aos desafios criados pela globalização
e pelo Plano Real. É o que mostra uma pesquisa do Centro de Gestão de Negócios da
Universidade São Marcos, de São Paulo. Foram consultadas 117 empresas, com capital
na casa dos 500 milhões de dólares. O trabalho mostra que aqueles dois fatores
presidiram a frenética busca da redução de custos e aumento de produtividade,
perseguidos por 80% dos entrevistados. No quesito produtividade, as providências para
a metade delas consistiram em reestruturações, redução de quadro e ampliação da
participação de mercado. Para um número substancial, as mudanças significaram uma
volta ao core business, interrompendo um processo de diversificação vigente na década
passada. Duas constatações dos pesquisadores: a) poucas empresas assumiram uma
atitude pró-ativa, antecipando-se às dificuldades; b) foi mínima a influência dos gurus
da administração. Isso não quer dizer que elas não tenham apelado para a ajuda de fora.
Os consultores externos (12%) foram bem mais acionados que os internos ( 5,5%) pelas
empresas. Há também uma surpresa: a área de RH, com 9%, teve uma participação
pequena nas mudanças. “Isso mostra que elas atacam mais sistemas e processos do que
a formação dos funcionários”, diz Ugo Barbieri, coordenador da pesquisa.
PUBLICAÇÃO: Exame DATA: 04/06/1997 EDIÇÃO: 637 PÁG.: 126
SEÇÃO: Sua Excelência
EDITOR: Clayton Netz
Exame Sua Excelência 04/06/1997 1997

Talvez como nenhum outro, 1997 pode ser descrito como o ano da
globalização. Dois fatos deixaram às claras, nos últimos 12 meses, a mudança de
patamar em curso na atual fase de internacionalização: a “megavideomorte” da princesa
Diana e o crash das Bolsas.
No acidente de Diana, a mídia também foi protagonista. Começou como vilã,
mas acabou, afinal, faturando com a surpreendente reação popular britânica e
internacional.
Um jornalista do ''Independent'' disse numa palestra aos jornalistas da Folha
que jamais a Inglaterra assistira a uma reação daquelas. Foi um fato novo na história do
recato saxão.
Mas não só no Reino a turba foi às ruas expressar sentimentos. Do Alasca à
Patagônia, de Tóquio a Berlim, Diana catalisou as atenções, levando jornais, revistas e
TVs a uma massacrante maratona, freqüentemente hipócrita e melodramática, mas que
deixou, afinal, alguma reflexão.
Jornalistas velha-guarda pensam que tudo foi uma enorme bobagem e que a
imprensa de prestígio acabou sendo atraída pelo estilo paparazzi dos tablóides. Não
acham Diana importante.
Não perceberam que ocorreu um fenômeno sociológico com dimensões
globais. Diante da novidade, preferiram a velha ladainha: tudo é ''manipulação'' ou
''invasão de privacidade''. A mídia séria deveria estar preocupada com coisas mais
''importantes'' _como se a morte de uma pessoa que mobiliza multidões em todo o
planeta não fosse importante. Como se não fosse importante perguntar por que isso
aconteceu.
Se no caso Diana a globalização revelou-se na propagação planetária do
sentimentalismo, pelos meios de comunicação, no caso do crash ela evidenciou-se na
propagação do pânico e da especulação, pelos meios eletrônicos que movimentam
on-line o megacapital financeiro mundial.
Pela primeira vez, o chamado cidadão comum pôde perceber como sua vida
não depende mais do universo local. O mundo é ele mesmo, cada vez mais, o seu local.
Um terremoto em Hong Kong provoca abalos em Nova York e São Paulo. Uma falência
em Tóquio já não é mais um problema japonês.
Ainda que autoridades nacionais tenham reagido e conseguido, em alguns
casos, afugentar a catástrofe de seus quintais, o crash deixou claro que a instância do
Estado-nação vai perdendo autonomia. Torna-se cada vez mais refém de um sistema
que cruza fronteiras sem passaporte, podendo aniquilar um país num teclar de
computador.
Autor: MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Editoria: BRASIL Página: 1-11 12/12755
Edição: Nacional Dec 28, 1997
Arte: ILUSTRAÇÃO: KIPPER

Isto é a globalização, esta formação da chamada “aldeia global” que massifica


os meios de comunicação, tornando o mundo inteiro como se fosse uma cidade do
interior, que todos já sabem de tudo, conhecem cada um muito bem, sabem quem são os
“chefões” da cidade, se acontece alguma coisa, é só ir para o vizinho, pedir emprestado
ou ir na esquina pedir fiado, sempre com aquela vida pacata e inerte.
A Terra mundializou-se, de tal maneira que o globo deixou de ser uma figura
astronômica para adquirir mais plenamente sua significação histórica.
Desde que o capitalismo desenvolveu-se na Europa, apresentou sempre
conotações internacionais, multinacionais, transnacionais e mundiais, desenvolvidas no
interior da acumulação originária, do mercantilismo, do colonialismo, do imperialismo,
da dependência e da interdependência. E isso está evidente nos pensamentos de Adam
Smith, David Ricardo, Herbert Spencer, Karl Marx, Max Weber e muitos outros.
É claro que falar em metáfora pode envolver não só imagens e figuras, signos
e símbolos, mas também parábolas e alegorias. São múltiplas as possibilidades abertas
ao imaginário científico, filosófico e artístico, quando se descortinam os horizontes da
globalização do mundo, envolvendo coisas, gentes e idéias, interrogações e respostas,
explicações e intuições, interpretações e previsões, nostalgias e utopias.
Na época da globalização, o mundo começou a ser taquigrafado como “aldeia
global”, “fábrica global”, “terra-pátria”, “nave espacial”, “nova babel” e outras
expressões. Há metáforas, bem como expressões descritivas e interpretativas
fundamentadas: “economia-mundo”, “sistema-mundo”, “shopping center global”,
“Disneylândia global”, “nova visão internacional do trabalho”, “moeda global”, “cidade
global”, “capitalismo global”, “mundo sem fronteiras”, “tecnocosmo”, “planeta Terra”,
“desterritorialização”, “minituarização”, “hegemonia global”, “fim da geografia”, “fim
da história” e outras mais.
São emblemáticas, formuladas precisamente no clima mental aberto pela
globalização. Dizem respeito às distintas possibilidades de prosseguimento de
conquistas e dilemas da modernidade. “aldeia global” sugere que, afinal, formou-se a
comunidade mundial, sugere que estão em curso a harmonização e a homogeneização
progressivas.
Nesse sentido é que a aldeia global envolve a idéia de comunidade mundial,
mundo sem fronteiras, shopping center global, Disneylândia universal; em todos os
lugares, tudo se parece cada vez mais com tudo o mais. A fábrica global instala-se além
de toda e qualquer fronteira, articulando capital, tecnologia, força de trabalho, divisão
do trabalho social e outras forças produtivas. Provoca a desterritorialização das coisas,
gentes e idéias. Promove o redimensionamento de espaços e tempos, logo se vê que a
fábrica global é tanto metáfora como realidade. A metáfora da nave espacial pode muito
bem ser o emblema de como a modernidade se desenvolve no século XX, prenunciando
o XXI.
Se coloca uma questão surpreendente da modernidade, na época da
globalização: o declínio do indivíduo. A máquina expeliu o maquinista; está correndo
cegamente pelo espaço, nascendo o tema da autopreservação - embora como afirma
Max Horkheimer em Eclipse Da Razão – não existe mais um eu a ser preservado,
revelando o indivíduo adjetivo, subalterno.
A metáfora combina reflexão e imaginação, desvenda o real de forma poética,
mágica. Faz tempo que a reflexão e a imaginação sentem-se desafiadas para taquigrafar
o que poderia ser a globalização do mundo. São muitas as expressões que denotam essa
busca permanente, reiterada e obsessiva, em diferentes épocas, em distintos lugares, em
diversas linguagens: civilizados e bárbaros, nativos e estrangeiros, Ocidente e Oriente,
capitalismo e socialismo. São emblemas de alegorias de todo o mundo. Assinalam
ideais, horizontes, possibilidades, ilusões, utopias, nostalgias.
A história moderna e contemporânea pode ser vista como uma história de
sistemas coloniais, sistemas imperialistas. Cenário da formação e expansão dos
mercados, da industrialização, da urbanização e da ocidentalização, envolvendo nações
e nacionalidades, culturas e civilizações. Ao longo da história, conforme ocorre depois
da Segunda Guerra Mundial, a maioria dos povos de todos os continentes, ilhas e
arquipélagos está filiada a estados nacionais independentes.
Muitos pesquisadores empenham-se em desvendar os nexos políticos,
econômicos, geoeconômicos, geopolíticos, culturais, religiosos, lingüísticos, éticos,
raciais e todos os que articulam e tensionam as sociedades nacionais, em âmbito
internacional, regional, multinacional, transnacional ou mundial. A idéia de
“economia-mundo” emerge nesse horizonte, diante dos desafios das atividades,
produções e transações que ocorrem tanto entre as nações como por sobre elas. O
conceito de “economia mundo” está no sentido de que transcendem a localidade e a
província, o feudo e a cidade, a nação e a nacionalidade, criando e recriando fronteiras,
assim como fragmentando-as ou dissolvendo-as. Vejamos duas opiniões de dois
pesquisadores, Braudel E Wallerstein: Braudel propõe uma espécie de teoria geral
geo-histórica, contemplando as mais diversas configurações de economias-mundo;
Wallerstein debruça-se sobre o capitalismo moderno, apoiando-se em recursos
metodológicos muitas vezes semelhantes aos do estruturalismo marxista.
Com o término da guerra fria, quando se desagrega a economia-mundo
socialista, o mundo como um todo deixou de estar rigidamente polarizado entre bloco
soviético ou comunista, por um lado, e bloco norte-americano, por outro. A
economia-mundo capitalista, seja de alcance regional, seja de alcance global, continua a
articular-se com base no Estado-nação. Cabe reconhecer, no entanto, que a soberania do
Estado-nação não está sendo simplesmente limitada, mas abalada pela base.
As contribuições de Wallerstein e Braudel, citados pelo autor, conferem
importância especial à economia política da mundialização. A articulação
principalmente econômica do conceito de economia- mundo está presente inclusive em
boa parte dos comentadores, seguidores e críticos de Wallerstein e Braudel. Note-se que
o conceito de economia-mundo está sempre relacionado com o emblema Estado-nação,
aparecendo todo o tempo como agente, realidade, parâmetro ou ilusão. Braudel está
fascinado pelo lugar que a França pode ocupar no mundo; Wallerstein está empenhado
em esclarecer o segredo da primazia dos EUA no mundo capitalista, conforme ela se
manifesta ao longo do século XX, particularmente desde a Segunda Guerra Mundial. As
contribuições desses autores são fundamentais para o mapeamento das novas
características da economia e política mundiais.
Sob vários aspectos, as interpretações de Braudel e Wallerstein contribuem
decisivamente para o conhecimento das configurações e movimentos da sociedade
global em formação no final do século XX.
Em síntese, é na própria dinâmica das economias-mundo que as forças
produtivas, as lutas pelos mercados, o empenho de inovar tecnologias e mercadorias,
isso tudo constitui o fundamento da dinâmica progressiva e errática que se tornam nos
ciclos de longa duração, assinalando o nascimento, a transformação, o declínio e a
sucessão das economias-mundo.
Desde que o capitalismo retomou sua expansão pelo mundo, em seguida à
Segunda Guerra Mundial, começou o processo de internacionalização do capital. O
capital perdia parcialmente sua característica nacional, tais como a inglesa,
norte-americana, alemã, japonesa, francesa ou outra, e adquiria uma conotação
internacional. Essa internacionalização se tornará mais intensa e generalizada, ou
propriamente mundial, com o fim da Guerra Fria, a desagregação do bloco soviético e
as mudanças de políticas econômicas nas nações de regimes socialistas. Na base da
internacionalização do capital estão a formação, o desenvolvimento e a diversificação
do que se pode denominar “fabrica global”. O mundo transformou-se na prática em uma
imensa e complexa fábrica, que se desenvolve conjungadamente com o que se pode
denominar “shopping center global”.
Globalizam-se as instituições, os princípios jurídicos-políticos, os padrões
socioculturais e os ideais que constituem as condições e os produtos civilizatórios do
capitalismo. O capitalismo continua a Ter bases nacionais, mas estas já não são
determinantes, já é possível reconhecer que o significado do Estado-nação tem sido
alterado drasticamente.
A moeda nacional torna-se reflexa da moeda mundial, abstrata e ubíqua,
universal e efetiva. Os fatores da produção, ou as forças produtivas, tais como o capital,
a tecnologia, a força de trabalho e a divisão do trabalho social, entre outras, passa, a ser
organizadas e dizimadas em escala bem mais acentuada que antes, pela sua reprodução
em âmbito mundial.
A internacionalização do capital está evidente na contínua e agressiva
penetração que esse capital realiza em cada una e em todas as economias socialistas. A
aliança de fato e de direito entre os EUA e a União soviética na luta contra o
nazi-fascismo alemão, italiano e japonês beneficiou muito as forças produtivas
organizadas com base nos capitalismos norte-americano e inglês.
A rigor, a intensa e generalizada internacionalização do capital ocorre no
âmbito da intensa e generalizada internacionalização do processo produtivo. Os
“milagres econômicos” que se sucedem ao longo da Guerra Fria e depois dela são
também momentos mais ou menos notáveis dessa internacionalização.
Quando se mundializa o capital produtivo, mundializam-se as forças
produtivas e as relações de produção. Esse é o contexto em que se dá a mundialização
das classes sociais. Esse contexto em que o capital se torna ubíquo, em uma escala
jamais alcançada anteriormente. Em instantes, ele se move pelos mais diversos e
distantes lugares do planeta, atravessando fronteiras e regimes políticos.
O capital em geral, cada vez mais não só internacional mas propriamente
global, passa a ser um parâmetro decisivo no modo pelo qual este mesmo capital se
produz e reproduz, em âmbito nacional, regional, setorial e mundial.
Uma ótima entrevista foi dada à revista Exame data: 21/05/1997 edição: 636
pág.: 117-118 - seção: sua excelência por Roland Berger, nascido em Berlim, em 1937,
às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o alemão Roland Berger estudou economia e
administração de empresas em Hamburgo e Munique. Em 1962, emigrou para os
Estados Unidos, onde trabalhou para a Boston Consulting Group. Cinco anos depois,
abriu sua própria empresa, a Roland Berger & Partners. Atualmente, a Roland Berger é
uma das maiores consultorias européias de gestão empresarial, com filiais em 24 países.
Um estudioso do impacto da globalização sobre as empresas, Berger esteve
recentemente no Brasil. Ele fala sobre a globalização e seus principais pontos,
economia, capital, atuação, estratégias, confira:

EXAME — Como devem atuar as empresas numa economia globalizada?


BERGER — A economia global é algo que trará grandes benefícios para a humanidade,
principalmente para os países pobres, que irão receber a maior parte dos investimentos
geradores de novos empregos. Nesse novo contexto, a empresa global tem de ter noção
de que as pessoas e as culturas são diferentes em cada parte do mundo, que cada
governo tem diferentes interesses. Ou seja, uma organização global não pode ter sua
administração centralizada em Chicago, Paris ou São Paulo. Ela deve ser organizada em
redes de trabalho, com gerenciamento regional, com pessoal e cultura locais. Fazer um
marketing globalizado é muito difícil. Pode até funcionar para autopeças e componentes
técnicos. Mas no setor de alimentos, de produtos de consumo em geral, é mais
complicado.

Significa que apenas o mercado será global, enquanto os produtos continuarão


regionais?

Isso depende do tipo de produto. Os aparelhos de CD serão os mesmos em qualquer


lugar do mundo. Os produtos de moda de alta classe, como Cartier, Gucci, Yves Saint
Laurent, também serão. Agora, para produtos de consumo diário, fica mais difícil ser
global. Nossos clientes estão sempre nos perguntando sobre como organizar uma
companhia global. Nossa resposta é que não acreditamos em organizações globais com
um quartel-general central e uma série de subsidiárias. Nós defendemos uma
organização transnacional que mantém uma rede de trabalho com muitos centros de
competência regionais. O papel da sede é entender essas competências regionais e ser
uma espécie de corretor e orientador das operações regionais.

Nessa economia cada vez mais globalizada, qual é o caminho para as empresas de um
país emergente como o Brasil? Associar-se com empresas estrangeiras ou tentar seguir
sozinhas?

Depende do setor da economia. Se você atua em nichos de mercado muito fortes, não há
motivos para associar-se com um parceiro estrangeiro. Se você tem marcas que
correspondam a sabores regionais, também não precisa se associar. Em setores que
envolvem tecnologia, deve-se considerar parcerias com firmas estrangeiras. Mas não
seria o caso da empresa nacional ser adquirida pela empresa de fora. Poderia ser feita
uma aliança na área de pesquisa e desenvolvimento ou de produção, marketing ou de
distribuição, por exemplo.

O capital não é um fator limitante para as empresas menores?


O capital não está escasso no mundo de hoje. Se você tem uma boa idéia, tecnologia,
produto, clientes e quiser produzir, você consegue capital. Para mim, o fator limitador
para o crescimento das empresas é, em primeiro lugar, o gerenciamento. Depois, a
criatividade e a tecnologia. E, por fim, o know-how para a internacionalização. Se você
tiver essas três vantagens, então você vai ao mercado de ações e consegue todo o capital
de que precisa.
A noção de sistema mundial contempla a presença e a vigência das empresas,
corporações e conglomerados transnacionais. Nesse contexto, os meios de comunicação
revelam-se particularmente eficazes para desenhar e tecer o imaginário de todo o
mundo. A mídia impressa e eletrônica, cada vez mais acoplada em redes multimídias
universais, constituem a realidade e a ilusão da aldeia global
Na base da idéia de que a sociedade mundial pode ser vista como um sistema
coloca-se a tese de que o mundo se constitui de um sistema de atores, ou um cenário no
qual movimentam-se e predominam atores. São de todos os tipos: estados nacionais,
empresas transnacionais, organizações bilaterais e multilaterais, narco tráfico,
terrorismo, Grupo dos 7, ONU, FMI, BIRD, FAO, OIT, AIEA e muitos outros. Mas no
sistema mundial assim concebido, os Estados nacionais continuam a desempenhar os
papéis de atores privilegiados, ainda que freqüentemente desafiados pelas corporações,
empresas ou conglomerados. Polarizam muitas das relações, reivindicações,
negociações, associações, tensões e integrações que articulam o sistema mundial. Daí a
tese da interdependência das nações. Muito do que ocorre e pode ocorrer no âmbito da
globalização sintetiza-se em noções produzidas no jogo das relações entre países:
diplomacia, aliança, pacto, paz, bloco, bilateralismo, multilateralismo, integração
regional, cláusula de nação mais favorecida, bloqueio, espionagem, dumping,
desestabilização de governos, beligerância, guerra, invasão, ocupação, terrorismo de
Estado. Todas essas e outras noções dizem respeito à interdependência das nações.
Aliás, interdependência é uma idéia muito comum em análises e fantasias produzidas
acerca de configurações e movimentos da sociedade global. Essa interdependência
focaliza as relações exteriores, diplomáticas, internacionais.
A tese da interdependência das nações que tanto expõe o autor é bem uma
elaboração sistêmica de como se desenvolve a problemática mundial. Diz respeito a um
cenário em que a maior parte dos problemas aparece nas razões, estratégias, táticas e
atividades de atores principais e secundários, todos jogando com as possibilidades da
escolha racional. Os estudos realizados na ótica da teoria sistêmica estão dedicados a
esclarecer problemas tais como os seguintes: interdependência e dependência, alianças e
blocos, bilateralismo e multilateralismo, integração nacional e regional.
No âmbito do sistema mundial, coloca-se também o problema da hegemonia,
isto é, do Estado-nação mais forte e influente, monopolizando técnicas de poder e
oferecendo ou impondo diretrizes aos outros. Em dada época, o mundo pode estar
polarizado em torno dos Estados Unidos e da União Soviética, ao passo que em outra
polariza-se em torno dos Estados Unidos, Japão e Alemanha, ou Europa Ocidental.
Há um evidente ocidentalismo, juntamente com o capitalismo, quando as
interpretações esclarecem o modo pelo qual as partes, as unidades, os segmentos ou os
atores menos desenvolvidos, isto é, arcaicos, periféricos ou marginais são contemplados
na organização e dinâmica da sociedade mundial. Também a teoria sistêmica do mundo
compreende as noções de ocidentalismo e capitalismo. São os padrões, os ideais e as
instituições do capitalismo e ocidentalismo, ou vice-versa, que comandam a organização
e dinâmica da mundialização. E mundialização é também e sempre modernização, mas
modernização nos moldes dos capitalismo ocidental. É possível dizer que a teoria da
modernização mundial adquire mais consistência quando se complementa, ou sofistica,
com a teoria sistêmica do mundo.
A interpretação sistêmica das relações internacionais já está bastante
desenvolvida em estudos e controvérsias sobre a problemática da mundialização. A
teoria sistêmica parece oferecer quadros de referência consistentes, de modo a
taquigrafar aspectos importantes da organização e dinâmica da sociedade mundial.
Sob vários aspectos, as interpretações sistêmicas do mundo constituem-se em
ingredientes não só ativos, mas fundamentais, do modo pelo qual está ocorrendo a
globalização. Constituem um vasto e complexo tecido de interpretações, orientando as
atividades e os ideários de muitos atores e elites presentes e atuantes nos mais diversos
lugares. Ajudam a organizar o mapa do mundo em conformidade com a perspectiva e os
interesses daqueles que predominam no jogo das forças presentes e atuantes nas
configurações e nos movimentos da sociedade global.
Desde que a civilização ocidental passou a predominar nos quatro cantos do
mundo, a idéia de modernização passou a ser o emblema do desenvolvimento,
crescimento, evolução ou progresso. As noções de metrópole e colônia, império e
imperialismo, interdependência e dependência, entre outras, expressam também o
vaivém do processo histórico-social de ocidentalização ou modernização do mundo. A
própria atuação da Organização das Nações Unidas (ONU), por suas diversas
organizações filiadas, no que se refere à economia, política, cultura, educação e outras
esferas da vida social, tem sido uma atuação destinada a apoiar, incentivar, orientar ou
induzir à modernização, nos moldes do ocidentalismo. A modernização do mundo
implica a difusão e sedimentação dos padrões e valores socioculturais predominantes na
Europa Ocidental e nos Estados Unidos. A tese da modernização do mundo sempre leva
consigo a tese de sua ocidentalização, compreendendo principalmente na Europa
Ocidental e nos Estados Unidos.
Ponto vital da competição, pátria dos bem-sucedidos, os Estados Unidos
abrigam boa parte dos inventores da globalização. Lá, o espírito internacionalista é tão
arraigado que a decisão do campeonato nacional de beisebol, tradicionalmente o esporte
da massa operária, foi batizada há mais de um século como a World Series. A
Coca-Cola, o automóvel, o basquete, o par de jeans, Madonna e o hambúrguer parecem
confirmar plenamente essa impressão.
O jornalista William Greider ( publicação: exame data: 12/03/1997 edição:
631 pág.: 25) acaba de conquistar atenção e alguma fama com sua volumosa pesquisa
sobre os males da diáspora fabril, One World, Ready or Not (Simon & Schuster, 528
páginas). Para o hiperativo Greider, antigo repórter do Village Voice que rodou o
mundo em busca de provas para o vaticínio de que sociedades e mercados não podem
conviver em paz, o freio à globalização está no simples fato de que mercadorias e
tecnologias necessárias à sua produção conseguem viajar livremente, enquanto as
pessoas estão presas ao microcosmo onde nasceram. Seu corolário, imaginativo, sugere
que os Estados Unidos ganhariam muito mais exportando a sua democracia do que
capitais: pessoas livres dariam confiabilidade e perenidade a uma integração econômica
que estaria resvalando para uma recessão pavorosa.
A leitura fornecerá casos interessantes, num périplo montado sob medida para
retratar a exploração humana. Mas o essencial está na alma do pesquisador: para
desmontar uma idéia querida e acalentada pelos americanos, um jornalista americano
usa o melhor pensamento americano e constata, desolado, que o mundo não tem energia
para funcionar como desejariam esses mesmos americanos. Quase tudo certo, com
exceção de um detalhe: o pensamento americano desta segunda metade do século XX
padece de esquizofrenia, resultado do encolhimento acelerado da fatia que os Estados
Unidos chegaram a deter no conjunto da riqueza mundial. Essa dieta não aparece ao
primeiro olhar, mas é dramática — dos quase 50% do PIB planetário na segunda metade
da década de 40, a participação caiu para menos de 23% pelo último relatório do Banco
Mundial. Com responsabilidade militar sensivelmente parecida, a primeira potência está
cada vez mais curta de bolso. A globalização é vital para os Estados Unidos por uma
questão de sobrevivência— e nunca de afirmação da supremacia consolidada duas
gerações atrás. Aqui parece que há um confronto de opiniões comparando com o livro:
para Octavio Ianni isso já vinha desde a época que o jornalista diz que não, ou seja, até
mesmo um pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial, particularmente concordo
com Octavio. Ele expõe seus depoimentos de como o inglês é evidentemente de
soberania mundial. O inglês começou a mundializar-se como idioma do imperialismo
britânico; em seguida, desde o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e, mais
ainda, desde o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), difundiu-se também
como idioma oficial do imperialismo norte-americano. Na época da globalização do
mundo, quando se intensificam e generalizam as relações, os processos e as estruturas
do capitalismo, o inglês com o qual se fala, escreve e pensa adquire novos significados,
transforma-se na bíblia para os religiosos, o idioma da “aldeia global”. Grande parte da
produção científica, filosófica e artística está formulada nessa língua, por suas versões
originais ou por suas traduções. A universalização do inglês, portanto, não significa
automaticamente a homogeneização dos modos de falar, escrever e pensar, ou ser, agir,
sentir, imaginar e fabular. É inegável que as mais diversas modalidades de organizar a
vida e o trabalho continuarão a produzir e a desenvolver as diferenças e diversidades.
A dependência econômica dos Estados Unidos tornou-se progressivamente
óbvia com a ascensão dos Tigres Asiáticos, diz o jornalista William Greider . Depois de
quatro séculos seguidos de unidade absoluta entre o núcleo gerador de capitais
excedentes e o epicentro político-militar, o capitalismo entrou numa fase algo estranha,
em que a força bruta continuou monopolizada na América, enquanto o espaço asiático
passou a irradiar eficiência econômica. Esse fato, incompreensível e inaceitável para um
americano criado depois da II Grande Guerra, não significa decadência da primeira
potência. É provável que o mundo esteja tateando formas de governo federativo, com
uma distribuição de poder ao menos bicéfala, numa espécie de simbiose entre a espada e
o talão de cheques. Quem deu a primeira explicação lógica para esse movimento foi, por
sinal, um italiano, Giovanni Arrighi, que trabalha numa universidade pública de Nova
York e escreveu, em 1994, The Long Twentieth Century (Verso, Londres, 380 páginas).
Essa repartição do poder, mesmo que circunstanciada e ancorada nas paragens distantes
do Nascente, materializaria o desejo obsessivo dos pequenos povos europeus durante
todo este milênio.
A chave para uma descentralização surpreendente e inesperada está na ampla
supremacia militar americana. Os tigres emergentes formam nada mais que um
arquipélago. Coréia, Japão, Shangai, Hong-Kong, Cingapura, pequenas ilhas de
prosperidade sem a menor possibilidade de cristalizar um espaço contínuo que, algum
dia, poderia se contrapor ao monopólio da força. Os Estados Unidos garantem o
bem-estar de sua população num ambiente tranqüilo, onde seu déficit público crônico
será coberto com parte do excedente controlado do arquipélago. A Organização
Mundial do Comércio tem um papel de intermediário privilegiado nesse arranjo de
conveniência, onde a grande questão aberta é estimar corretamente o papel de alguns
outros grandes contínuos, sobretudo a Rússia e a América do Sul.
Para o cidadão americano que raramente se lembra do resto do mundo, a
normalidade chama-se globalização, no que está absolutamente certo. Vaticinar o
fracasso desse grande movimento é tão estúpido quanto foi a resistência às viagens dos
descobridores no início da Era Moderna. Mas vale a pena perceber que, numa trajetória
lenta e inexorável, os Estados Unidos refluem. Sua gritaria para acelerar
desregulamentação e abertura de mercados é defensiva e um espaço contínuo e
populoso como é o Brasil terá máxima vantagem se esgrimir com o tempo a seu favor.
Difícil é administrar essa oportunidade sem recuar no esforço de impor competição e
eficiência aos produtores locais. Pois autarquias isoladas e altaneiras só costumam
produzir gritaria e muita gente infeliz.
Na época da globalização do capitalismo, entra em cena a ideologia
neoliberal, como seu ingrediente, produto e condição. O neoliberalismo retoma e
desenvolve os princípios que se haviam formulado e posto em prática com o liberalismo
ou a doutrina da mão invisível, a partir do século XVIII. Na época da globalização,
mundializam-se as instituições mais típicas e sedimentadas das sociedades capitalistas
dominantes.
Na medida em que se desenvolvem e generalizam, os processos envolvidos
na modernização ultrapassam ou dissolvem fronteiras de todo o tipo, locais, nacionais,
regionais, continentais; ultrapassam ou dissolvem as barreiras culturais, lingüísticas,
religiosas ou civilizatórias. Esse é o reino da razão instrumental, técnica ou subjetiva,
permeando progressivamente todas as esferas da vida social, em âmbito local, nacional,
regional e mundial.
Há 49 anos, no mês de dezembro, era aprovada a Declaração Universal de
Direitos Humanos, mediante o consenso de 48 Estados, com oito abstenções. A
declaração de 1948 nasce como a referência ética de uma nova ordem contemporânea.
Afirma a universalidade dos direitos humanos, que decorrem da própria condição da
pessoa. Afirma também a indivisibilidade desses direitos, conjugando direitos civis e
políticos com os econômicos, sociais e culturais.
A partir da declaração universal, deflagram-se os processos de
internacionalização e globalização dos direitos humanos, na medida em que a forma
pela qual um Estado trata seus nacionais interessa ao mundo. Por sua vez, os indivíduos
convertem-se em sujeitos de direitos consagrados em tratados internacionais de
proteção.
Passados 49 anos, da era da globalização dos direitos transita-se para a da
globalização econômica. A ordem internacional passa a se orientar fundamentalmente
pelo paradigma econômico, que estimula a competitividade internacional e a formação
de um mercado sem fronteiras, sob a inspiração do neoliberalismo econômico. Se, por
um lado, esse processo é capaz de reforçar a idéia de ''internacionalização'' e da
conseqüente ''relativização'' da noção tradicional de soberania estatal (que sempre foi
um obstáculo à globalização dos direitos humanos), por outro, contudo, tem produzido
dramáticos efeitos no que se refere à universalidade e indivisibilidade dos direitos
humanos.
A criação do mercado global tem gerado um imenso exército de excluídos,
destituídos de direitos básicos. O paradigma econômico tem implicado a violação
sistemática à universalidade e indivisibilidade de direitos.
Juntamente com a modernização em marcha com o capitalismo e o
ocidentalismo, generaliza-se o predomínio das mais diversas tecnologias de produção e
controle sociais. Ainda que a modernização tenda a impor-se às mais diversas formas de
organização social da vida e trabalho, isto não se dá de modo abrupto, inexorável,
monolítico. Enquanto processo civilizatórios abrangente, tem convivido com os mais
diferentes padrões, valores e instituições. São múltiplas e diferenciadas as formas
sociais e culturais, ou civilizatórias, com as quais se defrontam os padrões, valores e
instituições modernos ou modernizantes.
Ainda que os processos de globalização e modernização desenvolvam-se e
reciprocamente pelo mundo afora, também produzem desenvolvimentos desiguais,
desencontrados, contraditórios. O que cria a ilusão da integração, ou homogeneização, é
o fato indiscutível da força do ocidentalismo, conjugado com o capitalismo. Fala-se de
pós-modernidade tanto em Paris como na cidade do México, em Nova York como na
cidade do Cabo, em Moscou como em Nova Delhi, em Tóquio como em Pequim, em
Hong Kong como em Porto Príncipe. Quando se confundem modernização e
modernidade, logo fica fácil falar em pós-modernidade, esquecendo que ainda não é
possível falar-se em pós-modernização. A modernidade pode ser algo que subsiste e
desenvolve-se de permeio às mais diversas modalidades de modernização. Mas a
modernização está predominante determinada pela racionalidade do capitalismo,
enquanto racionalidade pragmática, técnica, automática.
A noção de aldeia global é bem uma expressão da globalidade das idéias,
padrões e valores socioculturais, imaginários. Pode ser vista como uma teoria da cultura
mundial, entendida como cultura de massa, mercado de bens culturais, universo de
signos e símbolos, linguagens e significados que povoam o modo pelo qual uns e outros
situam-se no mundo, ou pensam, imaginam, sentem e agem.
Os meios de comunicação de massa rompem ou ultrapassam fronteiras,
culturas, idiomas, religiões, regimes políticos, diversidades e desigualdades
sócio-econômicas e hierarquias raciais, de sexo e idade. No âmbito da aldeia global,
prevalece a mídia eletrônica como um poderoso instrumento de comunicação,
informação, compreensão, explicação e imaginação sobre o que vai pelo mundo. A
mídia global não é monolítica, com certeza, e verdade também que a indústria também
adquiriu alcance global.
No âmbito da sociedade mundial em formação, quando se revelam cada vez
mais numerosos e generalizados os sinais da globalização, também multiplicam-se os
pastiches, os simulacros e as virtualidades. A aldeia global pode ser uma metáfora e
uma realidade, uma configuração histórica e uma utopia. Em um nível mais do que
evidente, o principal tecido da aldeia global tem sido o mercado, a mercantilização
universal, no sentido de que tudo tende a ser mercantilizado, produzido e consumido
como mercadoria. Ela seria ininteligível, como realidade ou imaginação, sem a
colaboração ativa de toda uma multidão de intelectuais trabalhando em todo o mundo,
nas mais diversas organizações e corporações públicas e privadas, nacionais, regionais,
transnacionais e propriamente globais. Estes intelectuais representam uma argamassa
importante, muitas vezes não só indispensável, mas decisiva para a operação das
organizações e corporações, em escala local, nacional, regional e mundial. É como se
todo o mundo, em sua organização e dinâmica, em suas articulações, tensões e
fragmentações, fosse continuamente, minuto a minuto, descrito e interpretado,
fotogrado e divulgado, taquigrafado e codificado ou representado e imaginado por uma
coletividade de intelectuais especializados em traduzir fatos, acontecimentos, crises,
impasses, realizações, façanhas, revoluções e guerras.
Aquele que trabalha com os meios de representação, principalmente quando
pode manipular as mais diversas linguagens e as mais diferentes técnicas, pode levar as
representações a extremos de paroxismos. Como cita Tzvetan Todorov “A linguagem
sempre foi a companheira do império”, formando-se neste contexto as hegemonias de
alcance mundial, os projetos de gestão dos problemas e orientações de âmbito mundial.
Na época da Guerra Fria, ao longo dos anos 1946 a 1989, já em franco
processo de globalização, a mídia construía uma visão do mundo bipolarizada,
maniqueísta. O capitalismo e o socialismo eram contrapostos em termos de “mundo
livre e mundo totalitário”, “democracia e comunismo”, “sociedade aberta e fechada”,
“reino do bem e mal”. Depois, a partir de 1989, quando a mídia impressa e eletrônica
globalizada invade ainda mais todas as esferas da vida social, em todo o mundo, nessa
época o que prevalece é a idéia de “nova ordem econômica mundial”, “fim da história”,
“fim da geografia”. Há sempre alguma influência, mais ou menos decisiva, no modo
pelo qual a mídia registra, seleciona, interpreta e difunde o que vai pelo mundo.
Pode-se equiparar o capitalismo em desenvolvimento com a palavra
racionalização, ocorre o desenvolvimento de formas racionais de organização das
atividades sociais em geral, compreendendo as políticas, as econômicas, as jurídicas, as
religiosas, as educacionais e outras. A rigor, os desenvolvimentos das ciências ditas
naturais e sociais, traduzidos em tecnologias de todos os tipos, revelam-se
simultaneamente condições e produtos de um vasto complexo processo de
racionalização do mundo. Desde que se formou o moderno capitalismo, o mundo passou
a ser influenciado pelo padrão de racionalidade gerado com cultura desse mesmo
capitalismo.
Se é verdade que o capitalismo nasceu na Europa Ocidental, ambientando no
protestantismo, desenvolvendo-se inclusive nos Estados Unidos impregnados desse
mesmo protestantismo, é também verdade que o capitalismo tem se expandido
progressivamente por outras nações e nacionalidades. O que parecia característico e
peculiar do Ocidente, logo se revela compatível e até próspero no Oriente; parecendo
característico do hemisfério norte, também expande-se pelo hemisfério sul. Em certos
casos, como no do Japão, o capitalismo tanto floresce, que até mesmo inova e desafia as
próprias matrizes originais desse modo de produção.
Note-se que o contraponto “religião-capitalismo”, envolvendo ética religiosa
e comportamento econômico, ou visão religiosa do mundo e racionalização do trabalho
e da produção, não se desenvolvem em abstrato, mas mo âmbito do jogo das relações,
processos e estruturas sociais, culturais e outras que constituem a sociedade.
Cabe sempre reconhecer e reiterar que a sociologia das religiões mundiais
desenvolvida por Weber é também e principalmente uma sociologia da cultura, uma
sociologia de estilos de vida e visões do mundo constituídos culturalmente e
sintetizados nas religiões.
De fato, o capitalismo pode ser visto como um processo de amplas
proporções e acentuadamente expansivo, inaugurando e desenvolvendo uma época
excepcionalmente singular da história européia e mundial. O capitalismo, como produto
e condição da ampla e generalizada racionalização do mundo, logo se impõe ou
sobrepõe às mais diversas formas de organização da vida social. Tanto pode conviver
como absorver, tanto pode modificar como recriar, as mais diferentes modalidades de
organização social do trabalho e da produção.
As tecno-estruturas podem ser vistas como organizações sistêmicas,
expressando muito do que é a racionalidade instrumental ou técnica predominante no
capitalismo. Elas podem ser locais, nacionais, regionais e mundiais, operando em
esferas como as da economia, política, cultura, geopolítica, geoeconomia, indústria
cultural e outras. Juntamente com a racionalização do mercado, da empresa, de cidade,
do Estado, do ensino, da cultura e da religião, desenvolve-se e generaliza-se o direito
racional. Talvez se possa dizer que o direito racional é o coroamento do processo de
racionalização inerente ao desenvolvimento do capitalismo como processo civilizatório.
Esse é o universo que predomina o princípio da quantidade. Aos poucos, o princípio da
qualidade subordina-se ao da quantidade. Ainda que a qualidade jamais seja suprimida,
ela perde prerrogativas na maioria dos espaços públicos, e tende a perdê-las também em
espaços privados.
Sob todos os aspectos, pode-se dizer que o conceito de racionalidade está na
base do pensamento de Weber, tanto no que se refere as suas reflexões teóricas como no
que diz respeito as suas análises históricas. Tudo que é social, em qualquer época ou
lugar, pode ser analisado em termos de formas e gradações de racionalidade das ações
sociais de indivíduos, grupo ou coletividades; para ele o socialismo distingue-se
principalmente como uma forma ou gradação de exercício da racionalidade na
organização das atividades econômicas, políticas, culturais e sociais, caracterizando-se
por criar novas formas e gradações de racionalização das atividades, instituições e
organizações, o que reforça o poder da burocracia e do burocrata, tanto no que se refere
à gestão do aparelho estatal e da empresa como no relativo à estrutura de aço na qual o
trabalhador é inserido.
O que era um processo circunscrito a alguns países da Europa, e transplantado
para os EUA, logo se revela mais ou menos generalizado e, às vezes, avassalador, em
escala mundial. À força de desenvolver-se por todos os cantos e recantos da vida social,
o processo de racionalização passa a submeter o indivíduo, singular e coletivamente, aos
produtos de sua criatividade. À medida que ocorre o século XX, atravessando guerras e
revoluções, nacionalidades e nações, culturas e civilizações, o capitalismo intensifica e
generaliza o desencantamento do mundo.
Desde o princípio, o capitalismo revela-se como um modo de produção
internacional. Ainda que tenha sido sucessiva e simultaneamente nacional, regional e
internacional, juntamente com sua vocação colonialista e imperialista, o capitalismo se
torna no século XX um modo de produção não só internacional, mas propriamente
global. Acontece que o modo capitalista de produção funda-se no jogo das forças
produtivas liberadas com o declínio do feudalismo, a aceleração da acumulação
originária, a reprodução ampliada do capital, o desenvolvimento intensivo e extensivo
da produção, da distribuição, da troca e do consumo. O modo capitalista de produção
está sempre em movimento, no sentido de que se transforma e expande, entra em crise e
retoma sua expansão, de maneira errática mas progressiva, com freqüência inexorável.
É claro que toda essa dinâmica é comandada pelo capital, pelos que detêm a
propriedade e os movimentos do capital, em âmbito nacional e mundial.
O predomínio do modo capitalista de produção traduz-se nos processos de
concentração e centralização do capital. A dinâmica da reprodução ampliada realiza-se
pela contínua concentração e centralização, ou absorção de outros capitais pelo mais
ativo, forte ou inovados. Na medida em que se desenvolve, o capitalismo tanto
revoluciona as outras formas de organização social e técnica do trabalho e da produção
com os quais entra em contato, como transforma reiteradamente as formas de
organização social e técnica do trabalho e da produção já existentes em moldes
capitalistas. O que já se revelava uma característica fundamental de gênese do
capitalismo europeu no século XVI se revela também no século XX, a continuidade
geral e reiterada do divórcio entre a força de trabalho e as condições de trabalho.
No fim do século XX, reabrem-se espaços e fronteiras, inesperados ou
recriados, disponíveis ou forçados. Juntamente com a desagregação do bloco soviético,
com a dissolução do mundo socialista, universalizou-se mais do que nunca o modo
capitalista de produção; e o capitalismo como processo civilizatório. Nota-se a adoção
da economia de mercado por praticamente todas as nações do ex-mundo socialista;
nessa época ocorre uma transformação quantitativa e qualitativa do capitalismo, como
modo de produção e processo civilizatório.
Ocorreu também a diáspora da industrialização pelo mundo, inclusive
provocando uma crescente dissolução do mundo agrário. A nova divisão internacional
do trabalho, agilizada pelos meios de comunicação e transporte, cada vez mais apoiados
em técnicas eletrônicas, transformou o mundo em uma fábrica e um shopping center
globais. São globalismos decisivamente baseados na organização e dinâmica das
corporações transnacionais, que desenvolvem suas geoeconomias e sua geopolíticas em
moldes mais ou menos independentes dos Estados nacionais.
A globalização do capitalismo reaviva a controvérsia mercado ou
planejamento ao nível dos setores produtivos, das economias nacionais, dos blocos
regionais e, obviamente, da economia mundial como um todo. A controvérsia mercado
ou planejamento foi colocada de forma particularmente estridente com a desagregação
do bloco soviético e do conjunto do mundo socialista, quando se colocaram em causa as
economias centralmente planejadas. A globalização do capitalismo contempla, todo o
tempo, o contraponto mercado-planejamento. O pleno predomínio do princípio do
mercado seria o caos. Para evitar que o caos irrompa de modo avassalador, governantes,
proprietário de meios de produção, gerentes técnicos, organizações multilaterais, ou
seja, tecno-estruturas transnacionais ou propriamente mundiais planejam a expansão e a
consolidação dos empreendimentos, a competição e a política anti-cíclica, o certo e o
incerto.
Esta pode ser considerada uma das características mais notáveis da
globalização do capitalismo: as técnicas eletrônicas, compreendendo a micro-eletrônica,
a automação, a robótica e a informática, em suas redes e vias de alcance global,
intensificam e generalizam as capacidades dos processos de trabalho e produção.
Observa-se que as maravilhas da ciência e da técnica não se traduzem necessariamente
na redução ou eliminação das desigualdades sociais entre grupos, classes, coletividades
ou povos.
Fechando a dialética sobre o tema globalização, o autor encerra com os
pensamentos de Marx: O capitalismo para ele é um processo civilizatório mundial.
Ainda que desenvolva pólos mais ou menos poderosos, esses mesmos pólos formam-se
e desenvolvem-se com base em um vasto sistema de relações com povos, tribos, etc.
Trata-se de um processo civilizatório que “invade todo o globo”, destruindo ou
recriando outras formas sociais de trabalho e vida, outras formas culturais e
civilizatórias.
Não se trata de pensar que a sociedade global já estava em Marx. Trata-se
apenas de reconhecer que algumas das instituições e interpretações marxistas
contemplam as dimensões mundiais do capitalismo, como modo de produção e processo
civilizatório. Este é o horizonte a partir do qual se pode reler o passado, interpretar o
presente e imaginar o futuro.
As relações, os processos e as estruturas característicos da globalização
incutem em praticamente todas as realidades preexistentes novos significados, outras
conotações. Na medida em que se dá a globalização do capitalismo, como modo de
produção e processo civilizatório, desenvolveu-se simultaneamente a sociedade global,
uma espécie de sociedade civil global em que se constituem as condições e as
possibilidades de contratos sociais, formas de cidadania e estruturas de poder de alcance
global. Desde que se acelerou o processo de globalização do mundo, modificaram-se as
noções de espaço e tempo. A crescente agilização das comunicações, mercados, fluxos
de capitais e tecnologias, intercâmbios de idéias e imagens, modifica os parâmetros
herdados sobre a realidade social, o modo de ser das coisas, o andamento do devir. As
fronteiras parecem dissolver-se, obliteraram-se as barreiras, equalizaram os pontos dos
territórios, harmonizaram os momentos da velocidade, modificaram os tempos da
duração, dissolveram os espaços e tempos conhecidos e codificados; o mundo
transforma-se em território de todo o mundo.
Esse é o clima da pós-modernidade: a história substituída pelo efêmero, pela
imagem do instante, pelo lugar fugidio. Privilegia-se o dado imediato, evidente,
cotidiano, inesperado, prosaico, surpreendente, fugaz. Quando o mundo não se
conforma com a pós-modernidade imaginária ou sonhada, o mundo articula-se cada vez
mais de acordo com as exigências da razão instrumental. Aos poucos, a razão
instrumental articula os espaços e tempos, modos de produzir e consumir, ser e viver,
pensar e imaginar. No mesmo ambiente em que se solta a pós-modernidade, solta-se a
racionalidade.
Nesse universo de coisas, gentes, idéias, realizações, possibilidades e ilusões,
o autor frisa mais uma vez que o mercado global é tecido principalmente pelo idioma
inglês. Em geral, ele diz, o inglês traduz o pensamento e o pensado, a informação e a
decisão, a compra e a venda, a possibilidade e a intenção. O inglês pode ser o idioma da
globalização. A maior parte dos acontecimentos, relações, atividades e decisões
expressa-se nesse idioma, ou nele se traduz.
Quando se globaliza o mundo, quando a máquina do mundo passa a funcionar
em sua globalidade, o andamento de cosas, gentes e idéias, províncias e nações, culturas
e civilizações adquire outras realidades, diferentes possibilidades. Pode-se pensar tudo
novamente.
Finalizando seu livro, Octavio Ianni fala sobre as ciências sociais, afirmado
até que a sociedade global é o novo objeto destas ciências, no tocante de serem pela
primeira vez desafiadas a pensar o mundo como uma sociedade global. A sociedade
global apresenta desafios empíricos e metodológicos, ou históricos e teóricos, que
exigem novos conceitos, outras categorias, diferentes interpretações. É um grande
momento em que o conhecimento sobre a sociedade nacional não é suficiente para
esclarecer as configurações e os movimentos de uma realidade que já é sempre
internacional, multinacional, transnacional, mundial ou propriamente global.
Como integrantes de um mesmo todo e por si só, facilitando um prévio
entendimento, o autor registra cinco características provenientes do estudo da sociedade
global, são elas:
1. Baseiam-se principalmente nos ensinamentos das seguintes teorias, muito
correntes nas ciências sociais: evolucionismo, funcionalismo, sistêmica,
estruturalista, weberiana e marxista.
2. Priorizam determinados aspectos da sociedade global: econômicos,
financeiros, tecnológicos, informáticos, culturais, etc.
3. A maioria situa-se em perspectiva que se pode denominar de
convencional
4. O método comparativo evidentemente está na base de praticamente todos
os estudos e interpretações.
5. São poucos, muitos poucos, os que se posicionam nos horizontes da
desterritorialização, uma perspectiva que pode passar pelas
convencionais, mas não se fixa em nenhuma, como a que seria prioritária,
privilegiada ou mais avançada.

Não é suficiente transferir conceitos, categorias e interpretações elaboradas


sobre a sociedade nacional para a global., Quando se trata de movimentos, relações,
processos e estruturas característicos da sociedade global, não basta utilizar ou adaptar o
que se sabe sobre a sociedade nacional. A globalização encontra-se ainda em processo
de equacionamento empírico, metodológico e teórico. Mais que isso, apenas começa a
ser percebida em suas implicações epistemológicas. Como cita Martin Albrow em seu
livro “Globalition, Knowledge and Society” a “globalização diz respeito a todos os
processos por meio dos quais os povos do mundo são incorporados em uma única
sociedade mundial, a sociedade global; globalismo é uma das forças que atuam no
desenvolvimento da globalização”.
A globalização envolve o problema da diversidade. Praticamente todos os
estudos e interpretações sobre a sociedade global colocam esse problema. Seria
impossível imaginar a globalização sem a multiplicidade dos indivíduos, grupos,
classes, tribos, nações, nacionalidades, culturas, etc. São estes que se globalizam, ou
acaso ou por indução, sabendo ou não. Da mesma forma que são estes que vivem,
pensam, protestam, mudam, transformam-se.
A sociedade global se constitui desde o início como uma totalidade
problemática, complexa e contraditórias, aberta e em movimento. É um cenário mais
amplo do desenvolvimento desigual, combinado e contraditório. Há seus pós e contras,
mas o que não se pode negar é que ela está aí e no mundo inteiro, de uma forma ou
outra. A dinâmica do todo não se distribui similarmente pelas partes, própria frase do
autor.

Autor: Ivan Luís Bertevello


e-mail: ilb@sti.com.br

Documento gentilmente cedido pelo próprio autor.

www.sti.com.br

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