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FÍSICA E MUSICOLOGIA
O violino é considerado o mais sofisticado dos instrumen- nhecido como ‘del Gesù’, neto de Andrea
tos de cordas. É uma obra de arte refinada Guarneri.
em suas linhas, de inspirada beleza plástica, Guarneri del Gesù e Antonio Stradivari
e uma invenção de grande complexidade em são universalmente considerados os maiores
termos acústicos. Faz parte de uma ‘família’ fabricantes de instrumentos de corda de
de instrumentos tradicionais que inclui ain- todos os tempos. Hoje, os instrumentos ain-
da a viola e o violoncelo. O violino surgiu da existentes são altamente valorizados: em
na Itália no começo do século 16, como uma 2006, um comprador anônimo pagou US$
evolução de instrumentos de cordas fric- 3,5 milhões por um violino Stradivarius de
cionadas como o rebec, a vielle e a lira da 1707 leiloado na casa Christie’s, nos Estados
braccio, usados popularmente em festas Unidos. O fato de o violino praticamente não
com danças, segundo historiadores. ter sofrido modificações nos últimos 250 anos
Os primeiros violinos foram criados por ilustra o extraordinário nível artístico e
duas célebres escolas italianas de luteria, tecnológico alcançado pelos luthiers italia-
como é chamada a fabricação de instrumen- nos daquela época.
tos musicais de cordas e com caixa de A compreensão da acústica do violino é
ressonância: a escola de Brescia, com Gas- um desafio até os dias de hoje. Os físicos
paro Bertolotti, conhecido como Gasparo sempre se sentiram cativados por esse instru-
Da Salò (1540-1609), e a de Cremona, com mento. O alemão Albert Einstein (1879-1955),
Andrea Amati (c.1505-c.1578). Em Brescia, talvez o mais famoso físico do mundo, era
Giovanni Maggini (1580-1630) foi além dos violinista e participou de grupos de música
passos de Da Salò, seu mestre, produzindo de câmara em Berlim (Alemanha) e em Prin-
as formas atuais do violino e construindo ceton (Estados Unidos). Muitos físicos contri-
os primeiros violoncelos. Em Cremona, a buíram com pesquisas para a compreensão
Foto BrandX-pICtures/Kanguru Images
dinastia dos Amati atingiu sua supremacia das propriedades físicas e acústicas do ins-
com Nicola Amati (1596-1684), neto de An- trumento. Entre eles estão o francês Félix
drea Amati e mestre de Andrea Guarneri Savart (1791-1841), o alemão Hermann von
(1626-1698) e Antonio Stradivari (c.1644- Helmholtz (1821-1894), o norte-americano
1737). Outro renomado luthier foi Barto- Frederick Saunders (1875-1963) e o indiano
lomeo Giuseppe Guarneri (1698-1744), co- Chandrasekhara V. Raman (1888-1970).
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As cordas e os sons
FÍSICA E MUSICOLOGIA
além da disposição das ção de uma corda tangida (de uma guitarra, por
quatro cordas e dos orifícios
exemplo). Quando uma corda é ‘beliscada’, os parciais
na forma de “f” estilizado
no tampo superior gerados decaem rapidamente e são ligeiramente
e das notas usadas anarmônicos. Se a corda é friccionada por um arco,
na afinação das cordas porém, a oscilação é mantida e a onda sonora resul-
Figura 2. O arco
de violino é feito
de fios de crina de cavalo
presos às extremidades
Foto CedIda pelos autores
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tante assume uma forma denominada ‘dente de
adaptado de l. HenrIQue, ACÚSTICA MUSICAL
Figura 4. O movimento
serra’, composta pela repetição e superposição de transversal de uma
harmônicos. 4 corda excitada por
Assim, o espectro sonoro do violino tem a frequ- um arco (feito de fios
ência da nota executada (a frequência fundamental) de crina de cavalo)
e também um grande número de harmônicos de é formado por dois
5 segmentos retos
amplitudes decrescentes, todos eles múltiplos intei- unidos em um ponto
ros da frequência daquela nota. Espectros de som de dobra, o qual
ricos em harmônicos são muito apreciados em mú- percorre toda a corda
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sica porque a qualidade do som de uma nota tocada e sofre reflexão
por um instrumento é determinada pelo número de em suas extremidades.
A velocidade em que
harmônicos presentes e suas amplitudes. Daí vem a isso ocorre não permite
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riqueza sonora do violino. que vejamos esse
Embora a amplitude da vibração das cordas do movimento da corda.
violino seja considerável (cerca de 1 mm), o som Assim, vemos apenas
liberado para o ar é muito fraco. As cordas são mui- 8 os dois arcos
parabólicos resultantes
to finas e, ao vibrar, deslocam pequena quantidade do movimento completo
de ar. Portanto, é necessário transferir essa vibração
para uma superfície bem grande, de forma que esta,
ao vibrar, desloque um volume apreciável de ar e deira tradicionalmente empregada no tampo, por
aumente a intensidade do som. No violino, a peça ser muito elástica, firme e resistente. Para o fundo
que transfere as vibrações das cordas para a caixa (tampo inferior), são usadas as madeiras de duas es-
acústica é o cavalete, e os grandes tampos dessa pécies de aceráceas, Acer campestris e Acer platanoi-
caixa são bastante eficientes para movimentar o ar des, que apresentam densidade e rigidez maiores que
das vizinhanças e aumentar a radiação do som, atuan- a do abeto. É importante salientar que os tampos dos
do da mesma forma que o cone de um alto-falante. violinos não são meras peças de madeira: elas pre-
Madeiras especiais
cisam se comportar como ‘tábuas harmônicas’, com
modos normais de vibração cujas frequências
sigam um padrão aproximadamente harmônico.
Os luthiers fazem um cuidadoso trabalho de desbas-
te nas madeiras dos tampos e testam seus modos de
A qualidade de um violino depende das proprieda- vibração dando batidinhas com os dedos em lugares
des físicas – densidade, dureza, elasticidade e velo- determinados até alcançar o resultado pretendido.
cidade de propagação do som – das madeiras utili- No tampo superior da caixa acústica do violino
zadas em sua construção. O tampo superior e o existem dois orifícios, dispostos simetricamente
fundo dos instrumentos de corda são feitos com nos dois lados do cavalete, ambos com a forma de
madeiras diferentes. O abeto (Picea abies) é a ma- um ‘f ’ estilizado. Além de conferir um certo charme
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FÍSICA E MUSICOLOGIA
A
Figura 6. O som que ouvimos quando um violino é tocado é a soma
de várias componentes. O arco faz a corda vibrar, produzindo uma
onda do tipo ‘dente de serra’ e um espectro de som rico em
harmônicos (A). As vibrações e ressonâncias do corpo do
instrumento (B) e do cavalete (C) reforçam os harmônicos do
espectro cujas frequências coincidam com as dos modos normais
dessas vibrações. O resultado é um espectro de som com B
componentes de diferentes intensidades (D), em função da
influência de todas essas multirressonâncias. A forma de onda de
saída foi obtida tocando a nota Ré de um instrumento real
Riqueza harmônica
C
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