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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

FRANCISCO ANTÔNIO MACHADO DA SILVA

O PAPEL DO TWITTER NO JORNALISMO BRASILEIRO

Itajaí
2009
FRANCISCO ANTÔNIO MACHADO DA SILVA

O PAPEL DO TWITTER NO JORNALISMO BRASILEIRO

Monografia apresentada à disciplina


Projetos Experimentais, sob a
responsabilidade da Prof.ª MSc. Vera
Lucia Sommer, como requisito parcial
para a obtenção do título de Bacharel
em Comunicação Social, Habilitação em
Jornalismo pela Universidade do Vale
de Itajaí, Centro de Ciências Sociais
Aplicadas – Comunicação, Turismo e
Lazer de Itajaí.

Orientador: Prof. Dr. Rogério Christofoletti

Itajaí
2009

1
FRANCISCO ANTÔNIO MACHADO DA SILVA

O PAPEL DO TWITTER NO JORNALISMO BRASILEIRO

Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e


aprovada pelo curso de Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, da
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais Aplicadas –
Comunicação, Turismo e Lazer de Itajaí.

Itajaí, 13 de julho de 2009

__________________________________
Prof. Dr Rogério Christofoletti
Univali – CE de Itajaí
Orientador

__________________________________
Profª Msc. Vera Lucia Sommer
Univali – CE de Itajaí
Membro do Corpo Docente

_________________________________
Carlos Castilho
Jornalista
Membro Convidado

2
Communication is the art of being understood

Peter Ustinov

3
RESUMO

Microblogs são serviços baseados na web que mesclam características de blog,


mensageiro instantâneo e rede social. Os usuários escrevem postagens de até 200
caracteres e podem exibi-las publicamente ou para um grupo restrito. O mais
popular dos microblogs é o Twitter. Criado nos Estados Unidos, em 2006,
arrebanhou mais de sete milhões de usuários em menos de três anos. Graças às
suas características comunicacionais únicas, que aliam ubiqüidade, instantaneidade
e mobilidade, o Twitter e outros microblogs são cada vez mais utilizados com
finalidades informativas e noticiosas. Este trabalho teve como objetivo analisar,
cientificamente, a contribuição desses serviços para o jornalismo brasileiro
contemporâneo. Com o auxílio de pesquisa bibliográfica, os microblogs foram
descritos e contextualizados. A seguir, apontaram-se as características peculiares do
Twitter, que o diferenciam de outros canais de comunicação. Em um último
momento, foram investigados três perfis de veículos de imprensa mantidos por
jornalistas no Twitter. A análise das páginas, escolhidas pelo seu caráter
experimentalista e informacional, buscou analisar o processo de manutenção dos
microblogs pelos agentes jornalísticos. A investigação adotou métodos de pesquisa
qualitativos: análise de conteúdo e entrevistas com os mantenedores das três contas
ajudaram a visualizar a contribuição do Twitter para os processos de redação, edição
e publicação de notícias. O resultado é um panorama geral da utilização do Twitter
pela imprensa brasileira, acompanhado de algumas das principais apropriações
feitas pela mídia a partir do microblog.

Palavras-chave:
Webjornalismo – Microblog – Twitter – Multimidialidade – Mobilidade

4
ABSTRACT

Microblogging services are web-based tools that merge features of blogs, instant
messengers and social networks. Users write posts up to 200 characters and can
display it publicly or to a restricted group. Twitter is the most popular microblogging
service. Created in the United States in 2006, it gathered more than seven million
users in less than three years. Due to their unique communication features that
combine ubiquity, instantaneity and mobility, Twitter and other microblogging services
are being increasingly used for informational and journalistic purposes. This study
aims to examine, scientifically, the contribution of these services to current Brazilian
journalism. With the help of literature search, microblogging services are described
and contextualized. Then, the peculiar features of Twitter that differentiate it from
other media are presented. Finally, three profiles maintained by journalists in Twitter
are investigated. The analysis of these pages, chosen for its experimental and
informational nature, aimed to investigate the process of journalist microblogging
maintenance. The investigation adopted qualitative research methods: content
analysis and interviews with the maintainers of the three accounts helped to discover
the contribution of Twitter to process of writing, editing and publication of news. The
result is an overview of Twitter by the Brazilian press and the main apropriations
made by the media from the microblogging service.

Keywords:
Online Journalism – Microblogging Service – Twitter – Multimediality – Mobility

5
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Gráfico no Alexa...........................................................................................14


Figura 2: Caixa de inserção de texto no Jaiku............................................................17
Figura 3: Aplicativos de acesso ao Twitter..................................................................18
Figura 4: Lista de amigos no Orkut e Twitter..............................................................21
Figura 5: Página inicial de um usuário do Twitter.......................................................23
Figura 6: Comparação entre micropostagens e manchetes.......................................31
Figura 7: Twitter do Diário do Litoral...........................................................................35
Figura 8: Twiterfall.......................................................................................................36
Figura 9: Avatares dos três perfis analisados.............................................................42
Figura 10: Site da Bandeirantes..................................................................................45
Figura 11: Micropostagens do @bandjornalismo........................................................48
Figura 12: Micropostagens do @rodaviva..................................................................52
Figura 13: Comentários dos internautas sobre o Roda Viva......................................54
Figura 14: Blog da Trip................................................................................................56
Figura 15: Micropostagens da @revista_trip..............................................................59

6
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................9
1 MICROBLOG – CONCEITO E CONTEXTO............................................................12
2 O JORNALISMO DESCOBRE O TWITTER............................................................27
3 O TWITTER APLICADO AO JORNALISMO............................................................40
3.1 Aspectos Metodológicos........................................................................................41
3.2 Análise das contas jornalísticas no Twitter............................................................45
3.2.1 Band Trânsito SP................................................................................................45
3.2.2 Roda Viva...........................................................................................................50
3.2.3 Trip......................................................................................................................55
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................64

7
INTRODUÇÃO

Você foi escolhido como personalidade do ano pela revista Time em 2006.
Não é brincadeira: a tradicional publicação americana, que já estampou líderes
como Franklin Roosevelt e Charles de Gaulle na edição especial de fim de ano1,
elegeu You como Person of the Year. A capa de dezembro de 2006 destacava uma
tela de computador exibindo o YouTube2. Logo abaixo, a manchete: “Sim, você. Você
controla a Era da Informação. Bem-vindo ao seu mundo”3.
Terceiro site mais popular do planeta4, o YouTube era, e talvez ainda seja, o
maior símbolo da web 2.0. Apesar dos conceitos difusos, convencionou-se que uma
das principais características da web 2.0 ou de seus sinônimos web colaborativa e
web comunitária é a intensa participação de usuários comuns na construção de
conteúdo. E o YouTube, portal onde qualquer internauta pode hospedar vídeos e
divulgá-los ao mundo é um dos principais tentáculos da nova web, onde você se
torna protagonista. Primo (2007, p. 2) diz que “a web 2.0 tem repercussões sociais
importantes, que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de
produção e circulação de informações de construção social de conhecimento
apoiada pela informática”.
Sites como o YouTube representam uma novidade em relação aos portais
quase estáticos da web 1.0, mantidos por apenas uma pessoa ou organização.
Atualmente, quase todos os grandes portais – mesmo os que surgiram durante o
ápice da velha web – abraçaram recursos colaborativos, como sistema de
comentários ou de envio de conteúdo por leitores. Quem resistiu, como a
conservadora Enciclopédia Britânica Online5, ficou para trás: hoje a Wikipedia6,
compêndio onde os artigos são redigidos e editados por anônimos, lidera o
segmento.
Com a ajuda da tecnologia, a web comunitária tornou antes passivos
internautas em protagonistas ativos e produtores de conteúdo. Transformada em
1 TIME. New York: Time Warner, v. 168, 25 dec. 2006.
2 <http://www.youtube.com/>
3 “Yes, you. You control the Information Age. Welcome to your world”.
4 De acordo com a Alexa, companhia que calcula o tráfego na internet, Yahoo e Google são os dois
sites mais populares. <http://www.alexa.com/site/ds/top_sites?ts_mode=global&lang=none>
5 <http://www.britannica.com/>
6 <http://wikipedia.org/>

8
uma imensa rede social, inaugurou mudanças na comunicação. Graças a ela
podemos visualizar, no Flickr7, fotos tiradas do outro lado do mundo por fotógrafos
amadores, ou escutar músicas compostas por jovens irlandeses independentes no
MySpace8, bem como ler e escrever textos sobre qualquer assunto em plataformas
de criação de blogs como o Wordpress9.
Por falar em blogs, é possível dizer que eles são um dos mais velhos filhos
da web 2.0. Em 1992, quando a internet ainda não cruzara as fronteiras dos Estados
Unidos e os futuros criadores do YouTube estudavam em high schools, Tim-Berners
Lee já publicava, em postagens sucessivas e periódicas, as novidades de seu mais
famoso projeto: a world wide web10. No entanto, o blog de Lee, bem como todos os
outros blogs do início dos anos 90, eram manuseados através do código-fonte, algo
pouco amigável para usuários comuns.
O número de blogueiros cresceu exponencialmente na virada do século,
quando surgiram as primeiras ferramentas intuitivas de criação de páginas
eletrônicas, como o Open Diary11 e o LiveJournal12. Os “diários virtuais” (o nome blog
deriva da expressão web log – “registro na rede” – que também sugere o trocadilho
we blog, ou seja, “nós blogamos”) popularizaram-se a ponto de englobar mais de
133 milhões de endereços eletrônicos em 2008. O Technorati, rastreador de blogs
cuja pesquisa chegou ao número citado, considera a blogosfera – neologismo
referente à comunidade composta pelos blogs – “um verdadeiro fenômeno
mundial”13.
É impossível deixar de notar as peculiaridades dos blogs como meios de
comunicação, seja quando editados por jornalistas, especialistas em tecnologia ou
simples entusiastas. Pinho (apud Dreves, 2004, p. 33-35) cita algumas das
qualidades das postagens nos blogs: elas são instantâneas, interativas, não-lineares
e gozam da multimidialidade. Essas características chamam a atenção tanto das
universidades, que não param de publicar páginas e mais páginas de artigos sobre a

7 <http://www.flickr.com/>
8 <http://www.myspace.com/>
9 <http://www.wordpress.com/
10 Parte do conteúdo do mais antigo blog do mundo está salvo e pode ser acessado em
<http://www.w3.org/History/19921103-hypertext/hypertext/www/news/9201.html>.
11 <http://www.opendiary.com/>
12 <http://www.livejournal.com/>
13 Mais detalhes da pesquisa State of the Blogosphere / 2008 podem ser encontrados em
<http://technorati.com/blogging/state-of-the-blogosphere/>.

9
”nova” mídia; quanto dos veículos tradicionais de comunicação, eufóricos com as
possibilidades fornecidas pela rede, e ao mesmo tempo temerosos do que isso
representa para o futuro da indústria da informação. O início do século XXI foi um
período especialmente difícil para os velhos periódicos impressos: vários deles
encolheram e demitiram funcionários por conta das novas tecnologias de
comunicação na internet. Exemplo simbólico é o jornal sueco Post-och Inrikes
Tidningar, publicado desde 1645 e reconhecido pela Associação Mundial dos Jornais
como o mais antigo título em atividade. Todavia, a publicação deixou de ser
impressa em 2007. Hoje o jornal é, ironicamente, restrito à rede14.
Efeitos colaterais da web 2.0 à parte, os blogs e outros serviços derrubaram
o monopólio que a mídia tradicional detinha sobre a notícia, dividindo-a entre
milhares de internautas anônimos. Mais do que isso: eles deram voz aos que não
tinham voz. Temas renegados anteriormente ganharam endereços e autores
próprios na rede. O irlandês Tim O’Reilly, um dos principais teóricos da internet
contemporânea, acredita que os blogs são fios vitais na teia da web comunitária.

Se uma qualidade essencial da web 2.0 é aproveitar a inteligência coletiva,


transformando a web em uma espécie de cérebro global, a blogosfera equivale
a uma conversa mental no prosencéfalo, a voz que todos nós ouvimos em
nossas mentes15. [tradução livre do autor] (2005, p. 3)

As vozes dos blogs não trafegam em mão única. Algumas páginas pessoais
são coletivas, editadas por múltiplos blogueiros. A maioria permite comentários ou
réplicas. Todas essas qualidades são típicas da web 2.0, e demonstram que bem
antes de surgirem Flickr e Wikipedia, os blogs eram um dos principais laboratórios
para experimentalismos. Quase quinze anos após o surgimento das primeiras
páginas pessoais, a idéia de que cada pessoa pode ter um espaço virtual para
escrever e comentar continua inspirando idéias. Uma das novidades mais bem
sucedidas será apresentada no capítulo a seguir.

14 <http://www.pointlex.se/>
15 If an essential part of web 2.0 is harnessing collective intelligence, turning the web into a kind of
global brain, the blogosphere is the equivalent of constant mental chatter in the forebrain, the voice
we hear in all of our heads.
<http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html?page=3>

10
1 MICROBLOG – CONCEITO E CONTEXTO

Microblog é uma espécie de blog que pode ser atualizado através de


postagens curtas e freqüentes. Normalmente as postagens contém apenas texto e
obedecem a um limite de caracteres. Os microblogs são uma das mais recentes e
populares ferramentas de comunicação da internet.
O dicionário online Webopedia dedica-se a conceituar palavras, frases e
abreviações relacionadas ao mundo da tecnologia. Todo ano são selecionados dez
termos que deverão tornar-se mais comuns no futuro. Microblog foi um dos
vocábulos selecionados entre os technology terms to know for 2009 (termos
tecnológicos para conhecer em 2009), e é definido como

um tipo de blog que permite aos usuários publicar atualizações em pequenos


textos. [...] Os blogueiros podem utilizar uma série de de serviços diferentes
para atualizar, incluindo comunicadores instantâneos, e-mail ou o Twitter16.
[tradução livre do autor]

Assim como muitos outros termos da indústria da informática e tecnologia, a


palavra microblog é um neologismo originário da língua inglesa que acabou
consolidando-se no nosso idioma. A etimologia do vocábulo ajuda e entendê-lo:
micro significa pequeno, minúsculo; enquanto blog vem de web log (registro na
rede), que também sugere o trocadilho we blog (nós blogamos). Ou seja, os
microblogs são uma forma de registrar (escrever) informações online em textos
curtos. As atualizações dos microblogueiros são exibidas em computadores com
acesso à internet no mundo inteiro. Nesse sentido, a microblogagem (e a própria
blogagem) diferem dos velhos diários pessoais, sigilosos por natureza. Os
microblogueiros não escrevem apenas para si mesmos, mas pra o mundo. E alguns
fazem questão de de serem notados.
Os microblogs surgiram no mesmo ano em que Time apontou You como
Person of the Year. Março de 2006 é o mês de nascimento do mais antigo deles, o
Twitter17, lançado pela empresa americana Obvious. Um dos quatro criadores, Jack

16 A type of blog that lets users publish short text updates. Bloggers can usually use a number of
service for the updates including instant messaging, e-mail, or Twitter. <http://www.webopedia.com/
TERM/m/microblog.html>
17 <http://www.twitter.com>

11
Dorsey, conta que estava interessado em criar uma ferramenta de interface simples
e intuitiva em que seus amigos pudessem lhe contar o que estavam fazendo18. O
nome do serviço origina-se de twit, que se refere, em inglês, aos sons agudos e
entrecortados produzidos pelas aves que normalmente podem ser escutados de
longe. Twit acabou virando um dos vários sinônimos de postagem no Twitter. No
Brasil, a tradução mais próxima de twit seria algo como pio, piada; mas
consagraram–se apelidos como microposts, micropostagens e até tuitadas. Quem
utiliza o Twitter é twitter (em minúsculo mesmo) ou tuiteiro. Aliás, twitter significa algo
como piador. O mascote do Twitter, um pássaro azul de espécie indefinida, remete à
expressão popular “um passarinho azul me contou” (em inglês, a little bluebird told
me), dito comumente usado antes de contar uma novidade ou algo inesperado.
Hoje existem mais de 200 “clones” do Twitter19, entre eles o Jaiku20
(adquirido pelo Google em 2007); o Plurk21, do A-Team e o brasileiro Gozub22. Sites
baseados na web 2.0 que já existiam antes do Twitter, como o Orkut23 e o
MySpace24, também implantaram extensões, normalmente chamadas de status
updates (atualizações de estado), que simulam os microblogs. Há “twitters”
baseados em voz, em vídeo, com ou sem limite de caracteres. Apesar da
concorrência, o pioneiro dos microblogs se mantém como o mais popular: a Nielsen
NetView25 estima que o Twitter contava, em fevereiro de 2009, com mais de sete
milhões de usuários (a Obvious não divulga publicamente esse dado), número
equivalente à população da Suíça. É um crescimento de 1382% em relação ao
mesmo mês do ano anterior. Para comparar, o Facebook, o mais popular site de
relacionamentos do mundo, cresceu “apenas” 220% no mesmo período. Outro
resultado da pesquisa: 61,3% dos tuiteiros tem entre 25 e 49 anos. O site
especializado em tecnologia TechCrunch26 estima o valor do Twitter em US$ 250
milhões.
18 <http://twitter.com/about#idea>
19 De acordo com o blog chinês Thws, que acompanha serviços desenvolvidos para a web 2.0.
<http://www.thws.cn/articles/twitter-clones.html>
20 <http://www.jaiku.com/>
21 <http://www.plurk.com/>
22 <http://www.gozub.com/>
23 <http://www.orkut.com/>
24 <http://www.myspace.com/>
25 Além do Twitter, a Nielsen NetView estimou dados de outros quatro serviços da web 2.0. A
pesquisa pode ser vista em <http://blog.nielsen.com/nielsenwire/online_mobile/twitters-tweet-smell-
of-success/>.
26 <http://www.techcrunch.com/2009/01/24/twitter-raising-new-cash-at-250-million-valuation/>

12
Figura 1: O gráfico mostra as estimativas de tráfego de três dos serviços de microblogging mais
populares do planeta.
Fonte: <http://www.alexa.com/siteinfo/twitter.com+jaiku.com+plurk.com>.

Esse último dado desmistifica a crença de que os blogs (ou microblogs) são
simples brincadeiras de adolescentes. Na verdade, é equivocado tratar os
microblogs como mera versão diminuta dos tradicionais blogs. Características
absorvidas de outros serviços, além de qualidades inéditas, demostram que os
microblogs tem particularidades o suficiente para ingressar em uma categoria à
parte na imensa nuvem de serviços da rede. Para Orihuela (2007, p. 1), o Twitter é
uma aplicação baseada na web, uma mescla de blog, rede social e mensageiro
instantâneo. Mandic (2009), por sua vez, sugere que aplicativos como o Twitter
funcionam como um aprimoramento do e-mail.

Podemos dizer que, com a chegada desse filho caçula da comunicação digital,
o e-mail está ganhando uma nova forma, assim como a TV ganhou, e sem
extrair a importância do Twitter ou outras ferramentas de comunicação
instantânea, afinal, são soluções diferentes, cada qual com a sua função, e
cada uma tem a sua relevância. (p. 2)

Apesar da nomenclatura “microblog” estar consagrada, esses serviços


evitam definir-se dessa forma. Não há qualquer menção aos termos “blog” e
“microblog” nas páginas oficiais de apresentação de Twitter27 e Jaiku28, o que leva a
crer que a definição “microblog” foi popularizada pelos próprios usuários. Na

27 <http://twitter.com/about>
28 <http://www.jaiku.com/about>

13
verdade, o vocábulo é mais antigo do que o próprio serviço: o site Word Spy29 data
uma ocorrência de 2002, quando a blogueira Natalie Solent avisa na primeira linha
de uma postagem curta que “por hoje, apenas micro-blogging”30.
Essa menção pioneira distancia-se um pouco do significado atual do termo,
que sempre ganha uma nova definição. A jornalista Gabriela Zago, que tem vários
trabalhos publicados a respeito do Twitter, classificou de “limitado” e “simplório” seu
conceito escrito em 2007: “um microblog é uma ferramenta que permite atualizações
rápidas e curtas e, se possível, a partir de uma multiplicidade de suportes
diferentes”31. Um ano depois, ao referir-se ao Twitter, brincou com as tentativas de
qualificá-lo, comparando-o a um “bebedouro virtual” e “bate-papo pós-moderno”. No
entanto, Zago acabou influenciada pela descrição de Orihuela, que trata os
microblogs como um mix de ferramentas que já existiam na internet:

O Twitter seria blog na medida em que envolve a publicação de conteúdo em


ordem cronológica inversa. Seria rede social porque nele cada pessoa é
representada por um perfil, há uma lista de contatos, e pode-se interagir uns
com os outros. Já o caráter de mensageiro instantâneo decorreria da limitação
de tamanho a cada atualização, e do fato de que as pessoas costumam ficar
bastante tempo online nele, o que faz com que se possa estabelecer
conversações síncronas – como numa espécie bizarra de MSN coletivo.
(ZAGO, 2008)

Em comum, blogs e microblogs são serviços que permitem ao usuário


publicar conteúdo online. Eles podem ser acessados a partir de qualquer lugar que
tenha conexão à internet, e o usuário é livre para postar o que bem entender. Uma
das definições correntes, usada inclusive pela imprensa32, trata os blogs como
“diários pessoais e públicos”. No entanto, mesmo essa qualificação genérica não é
ampla o suficiente para abranger todos os blogs e microblogs existentes e suas
respectivas formas de publicação de conteúdo online. E é justamente aí que reside a
principal diferença entre os dois serviços.
Na década de 1990, quando memória virtual e espaço em servidor era mais
escasso e caro, a maior parte dos blogueiros não tinha condições de comprar seu
próprio domínio, precisando contentar-se com serviços online de publicação e

29 <http://www.wordspy.com/words/microblogging.asp>
30 <http://nataliesolent.blogspot.com/2002_07_14_nataliesolent_archive.html>
31 <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=452ENO001>
32 Mais significados de termos relacionados à internet podem ser vistos em
<http://www.paraibaonline.com.br/dicionario.htm>.

14
manutenção de blogs. Naquela época, havia normas rígidas quanto ao tamanho (em
bytes) das páginas, o que tornava a publicação de imagens ou arquivos bem
limitada. Hoje, serviços que facilitam o trabalho de blogar continuam populares, mas
são bem mais generosos em relação ao espaço cedido. As limitações passaram a
ser majoritariamente locais (poder do hardware, velocidade de conexão com a
internet), e não mais virtuais. O Blogger, mais popular serviço de publicação de
blogs, permite ao usuário postar o quanto quiser, sem se importar com a quantidade
de caracteres ou multimídia33. O usuário tem a chance de postar páginas e mais
páginas de texto e dezenas de imagens diariamente e mesmo assim não terá
problemas.
Nos microblogs ocorre o contrário: os limites são bem definidos e os
internautas precisam adaptar-se a eles. Usuários do Twitter, Jaiku, Plurk, Bleeper 34 e
Identi.ca35 podem escrever, no máximo, 140 caracteres em uma postagem (contando
os espaços). A Wikipedia36 define como microblog os blogs cujo limite de caracteres
por postagem é inferior a 200 toques. Nesses serviços, o utilizador não tem a
mesma liberdade dos blogs, e tem de sintetizar uma idéia completa em poucas
palavras. Quem ultrapassa o máximo é alertado pelo serviço e só poderá enviar a
mensagem caso a mesma seja editada e reduzida.
140 caracteres equivalem ao tamanho de uma linha e meia de texto no
Microsoft Word, ou de uma linha de apoio na manchete da Folha Online 37. O
tamanho reduzido força os blogueiros a, por vezes, abandonar preposições,
conjunções e artigos e a adotar abreviações. As frases são escritas de maneira mais
curta e sucinta. Quando o espaço aperta, “você” se transforma em “vc”, “novidades”
se torna “9dades” e em último caso até o ponto final é descartado. O conteúdo se
sobrepõe à forma. As postagens transformam-se em autênticos telegramas virtuais.
Mesmo os serviços de microblog colaboram nessa transformação: não é possível
anexar imagens ou vídeos diretamente ao serviço, e caso o usuário copie e cole o
link de um site, ele é automaticamente reduzido através de ferramentas como o
TinyURL38. Carlos Castilho (2007), ao analisar a simplicidade do Twitter para
33 <http://help.blogger.com/bin/answer.py?hl=br&answer=42348>
34 <http://bleeper.de/>
35 <http://identi.ca/>
36 <http://pt.wikipedia.org/wiki/microblogging>
37 <http://www.folha.uol.com.br/>
38 O TinyURL é um aplicativo online que reduz o número de caracteres do endereço eletrônico
(URL). <http://tinyurl.com>

15
escrever e replicar, conclui:

O Twitter é na verdade um blog instantâneo, com um design minimalista e uma


programação igualmente espartana, onde as pessoas dizem o que estão
fazendo no momento. [...] o procedimento de postagem é extremamente rápido
e simples, permitindo que os autores disparem muitas mensagens em poucos
minutos39.

Figura 2: Caixa de inserção de texto no Jaiku em três momentos diferentes. No canto inferior direito,
um contador marca quantos caracteres ainda podem ser escritos. O botão “Post”, à direita,
responsável por publicar a postagem, só pode ser acionado enquanto o limite de 140 caracteres é
obedecido. Outros serviços de microblog tem dispositivos semelhantes.

Por que as micropostagens suportam tão poucos caracteres, e apenas em


formato texto? Para responder a essa questão, é necessário esclarecer mais uma
diferença entre os blogs tradicionais e os microblogs. Serviços como o Twitter e o
Jaiku foram criados com a preocupação de interagir com um número variado de
aparelhos (telefones celulares, palmtops, videogames) e softwares (mensageiros
instantâneos como o Google Talk, clientes de e-mail como o Microsoft Outlook). Ou
seja, é possível acessar e atualizar o microblog de várias maneiras, não apenas
através da página principal da ferramenta no navegador do desktop. Um dos fatores
que tornam os microblogs serviços tão versáteis é a publicação do código – ou parte

39 <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={EDA992F7-2AE4-4184-
A32B-AF60B17D85C0}>

16
do código – necessário para executá-lo. O Jaiku, por exemplo, é um serviço de
código aberto (open-source), o que permite a qualquer usuário estudar os processos
e rotinas necessárias para o seu funcionamento. Já o Twitter libera a API
(Application Programming Interface, ou Interface de Programação de Aplicativos),
parte da codificação responsável especialmente pela interação entre software e
usuário. Dessa forma, esses serviços ganham outras versões e plugins não
necessariamente programados pela equipe oficial, inclusive para celulares. O
resultado dessa variedade de aplicativos e aparelhos utilizados para acessar o
Twitter pode ser visto na pesquisa da Nielsen NetView: estima-se que 10% dos
visitantes acessam o serviço a partir de telefones portáteis.

Atualizar o Twitter pelo celular sem dificuldades técnicas, ter acesso a


estatísticas de usuários de followers e followings, descobrir quais são as
palavras e sites mais citados em conversas feitas através do microblog: tudo
isso passou a ser possível através de criações feitas com a API do Twitter.
(CAMARGO, 2008, p. 25)

Figura 3: Aplicativos de acesso ao Twitter.


Fontes: <http://www.32hours.com/betwitteredinfo/> e <http://twitterforiphone.com/>.

Há outro motivo, além do código aberto (ou semi-aberto), que evidencia que
a simbiose com toda essa parafernália digital não é mera coincidência. A imposição
dos 140 caracteres máximos foi pensada para que o Twitter e outros microblogs
possam interagir eficientemente com telefones celulares e outros aparelhos.
17
Recados em SMS (Short Message Service, ou Serviço de Mensagens Curtas; os
“torpedos” dos celulares) suportam no máximo 255 caracteres (160 na maior parte
dos modelos). Isso sem falar nos mensageiros instantâneos, que não raro também
limitam a quantidade de toques. Paga-se o preço em tamanho dos textos, mas
ganha-se mobilidade: para Zago (2008, p. 3), “as atualizações curtas permitem uma
maior portabilidade das informações”. Existem mais de 150 milhões de celulares no
Brasil40, todos emissores de tuitadas em potencial. Para Pellanda, a percepção de
que a internet só pode ser acessada entre quatro paredes através de um PC vem
desmoronando pouco a pouco, graças à ascensão dos aparelhos portáteis:

estes meios portáteis de computação conectados à rede proporcionam o


deslocamento do acesso à internet para qualquer lugar do globo. Esta nova
configuração não representa somente uma facilidade de conexão, mas toda
uma potencialidade de novos usos, bem como a transformação dos existentes.
A questão inclui não só o lugar (espaço) mas também a quantidade (tempo) de
exposição à conexão na qual indivíduos passam a estar inseridos. (2008, p. 2)

Os microblogs estão bem adaptados à rotina do internauta distante do


desktop, o que gera uma série de diferenciais em relação aos outros serviços da
web. É mais confortável e intimista para o usuário interagir com um serviço que o
acompanha desde a cama até a fila do banco. O resultado é uma rede social em que
as pessoas têm acesso às outras mais freqüentemente do que o normal e hesitam
menos em postar e conversar umas com as outras. Consta em uma das páginas de
apresentação do microblog Jaiku, e pode ser estendido aos demais serviços:

O principal objetivo do Jaiku é aproximar as pessoas, permitindo a elas


compartilhar as suas atividades correntes. Nós oferecemos uma maneira de
conectar-se com as pessoas que você gosta ao compartilhar suas atividades
pela web, IM, e SMS41. [tradução livre do autor]

Por falar em aproximar as pessoas, essa é, possivelmente, a principal razão


do sucesso dos microblogs. Apostar na interação humana e nas redes sociais
costuma dar certo: dos cinco sites mais visitados do Brasil, três contam com
comunidades de relacionamento42. Cerca de 57% dos internautas visitam alguma
40 <http://www.anatel.gov.br/portal/exibirportalnoticias.do?acao=carreganoticia&codigo=17841>
41 Jaiku's main goal is to bring people closer together by enabling them to share their activity streams.
[...] We offer a way to connect with the people you care about by sharing your activities with them on
the web, IM, and SMS. <http://jaiku.com/about>
42 O ranking dos cem sites mais acessados do país pode ser visto em
<http://www.alexa.com/site/ds/top_sites?cc=BR&lang=none&ts_mode=country>

18
rede social43. O filósofo Pierre Lèvy (1999) chama de inteligência coletiva o que
ocorre nessas comunidades, em que os relatos e conhecimentos das pessoas são
compartilhados e confrontados. Para Levy, a comunicação interativa e coletiva é a
principal atração do ciberespaço. É o que acontece no Jaiku, onde os usuários
podem listar e conversar com os amigos, bem como no Orkut. No Twitter, dá para
bater papo sobre vários assuntos – ou apenas sobre um – como no MySpace. As
semelhanças entre microblogs e as tradicionais comunidades de relacionamento são
numerosas o suficiente a ponto da sua nomenclatura causar polêmica. Raquel
Recuero (2008, p.16) compara os microblogs a um “broadcast na rede” e defende
que eles “não são microblogs. São serviços de mensagens curtas (micro-
messengers).” Da mesma maneira, é possível alegar que os microblogs são
comunidades de relacionamento, dada a grande quantidade de elementos em
comum, como listagem de amigos e a possibilidade de convidar conhecidos, por e-
mail, para participar da “microblogosfera”. Não é à toa que até o momento em que
foi adquirido pelo Google, só era possível ingressar no Jaiku a partir do convite de
um amigo já cadastrado. Ou seja, todos os usuários estavam – e na verdade a
maioria ainda está – ligados entre si. Na figura a seguir, é possível visualizar como a
listagem de amigos do Orkut e do Twitter é semelhante.

43 Mais detalhes da pesquisa da empresa especializada em publicidade Interpublic Group of


Companies podem ser vistos em <http://www.universalmccann.com/>.

19
Figura 4: Lista de amigos no Orkut e Twitter.

O procedimento necessário para criar uma conta em um microblog não é


muito diferente do que ocorre nas comunidades de relacionamento, com a vantagem
de ser mais simples, obedecendo o minimalismo indicado por Castilho. Twitter, Jaiku
e outros serviços exigem informações básicas como o nome do usuário, um
endereço de e-mail, um nickname (apelido pelo qual o usuário será reconhecido) e
um avatar (opcional, é uma imagem que serve para identificar o internauta, podendo
ou não ser uma foto). Após efetuado o registro, é possível começar a escrever
imediatamente. Para isso, basta acessar a página inicial do serviço, digitar até 140
caracteres no box da parte superior e clicar em update. A blogosfera tradicional
permite a um usuário ter vários blogs, assim como vários usuários diferentes podem
compartilhar um único blog. Não é o que acontece nos serviços de microblogging,
onde o número de endereços é igual ao número de usuários.
As novas mensagens são depositadas logo abaixo do box onde são escritas,
de maneira cronológica, assim como nos blogs. A diferença é que, além dos próprios
textos, é possível acompanhar – no mesmo espaço – os updates de outros usuários.
Para fazer isso no Twitter, basta acessar a página de outro utilizador (a URL sempre
é http://twitter.com/nomedousuário) e clicar em follow (siga). O Twitter chama quem
acompanha os updates de outra pessoa de follower (seguidor). Os utilizadores
20
sempre podem optar em remover um follower ou mesmo transformar a conta pública
em privada, o que a torna acompanhável apenas por convidados. De qualquer
forma, as conta públicas são padrão e maioria, e quase todos os usuários seguem
ao mesmo tempo em que são seguidos (no entanto, não é obrigatório um usuário
seguido retribuir a ação). Assim, cada utilizador têm uma página principal única,
onde estão reunidas as próprias atualizações e as de quem você está seguindo.
Uma analogia: acessar o Twitter é como ser convidado para uma festa com milhares
de pessoas conversando. Você pode ficar no canto, quieto ou falando sozinho sem
escutar ninguém. Pode sentar em uma das mesas com os amigos, interagindo
apenas com um grupo restrito. Ou pode ficar no meio do salão, tentando escutar o
que todos falam.
De acordo com a pesquisa State of Twittersphere44, os tuiteiros seguem, em
média, outras 70 pessoas. No entanto, 76% dos usuários acompanham no máximo
outros 50. A média é puxada para cima por alguns poucos perfis (especialmente
spammers) que seguem o máximo possível de páginas com o objetivo de serem
correspondidos. No entanto, o comportamento padrão dos microblogueiros é mesmo
seguir um número limitado de perfis, possivelmente pelo fato de que é muito difícil
acompanhar muitos usuários simultaneamente.
A seguir, uma figura exibe os elementos mais importantes da página
principal do Twitter. Abaixo da caixa de inserção de texto consta a última (latest)
postagem do usuário. Em seguida são listadas as últimas postagens dos amigos,
seguidas da data de envio. Apesar da figura mostrar apenas quatro mensagens,
cada página suporta até 20.

44 A pesquisa, feita em 2008 pela companhia de marketing online Hubspot, pode ser encontrada em
<http://cdnqa.hubteam.com/State_of_the_Twittersphere_by_HubSpot_Q4-2008.pdf>.

21
Figura 5: Página inicial de um usuário do Twitter.

O sistema de comentários dos microblogs é diferenciado. Não existem


páginas individuais para cada postagem, nem para seus respectivos comentários.
Dessa forma, as réplicas parecem genéricas aos olhos de terceiros, dirigidas à
pessoa e não especificamente a um texto dela. O Jaiku, que adota um sistema de
comentários semelhante ao dos blogs tradicionais, é uma exceção. Já no Twitter, por
exemplo, é necessário clicar em um ícone ao lado da postagem de um usuário para
respondê-lo. Feito o procedimento, no final da postagem-resposta constará o texto in
reply to fulano, sendo fulano o nickname do usuário a quem se dirige. As postagens-
respostas do Twitter são públicas por padrão, acessíveis na página de quem
respondeu e também na home page dos usuários que acompanham, ao mesmo
tempo, o autor da postagem inicial e da réplica.
Um recurso existente nos microblogs e normalmente ausente nos serviços
de blogs é a mensagem privada. No Twitter, para tornar uma postagem particular
basta escrever o nickname do destinatário precedido pela letra “d”. Caso o “d” seja
substituído por uma “@”, a postagem torna-se pública. Esse último recurso costuma
ser usado para citar, perguntar algo ou mesmo iniciar uma conversa com alguém. É
possível responder ou referir-se a outros usuários indefinidamente, o que transforma

22
a sucessão de mensagens em um verdadeiro chat, e também assemelha-se
bastante aos mensageiros instantâneos. Aliás, a impressão de mensageiro
instantâneo dos microblogs é intensificada pela atualização automática das páginas
do serviço. Não é necessário clicar no botão “atualizar” do navegador ou pressionar
F5: periodicamente as novas postagens são exibidas, sem qualquer comando por
parte do usuário. Existem também ferramentas desenvolvidas por terceiros que
diminuem ainda mais esse tempo de espera, aproximando muito o Twitter de um
comunicador em tempo real. No entanto, os diálogos virtuais nos microblogs têm
como característica serem espaçados – os usuários não esperam receber uma
resposta de imediato, ainda que isso possa acontecer caso emissor e receptor
estejam simultaneamente online. Zago (2008) classifica a comunicação nos
microblogs como majoritariamente “assíncrona”, enquanto nos mensageiros
instantâneos ela é “síncrona”.
O Twitter usa como lema a frase What are you doing? (O que você está
fazendo). No entanto, nem todos os usuários utilizam o serviço para responder à
pergunta. A popularidade desvirtuou o Twitter a ponto de criar classes informais de
usuários. Java et al. (2008, p. 8) dividem os tuiteiros em três categorias básicas: a
primeira é composta pelos information sources (fontes de informação), perfis com
grande quantidade de seguidores. Em geral postam notícias ou links, e podem
inclusive serem robôs45. A segunda categoria é formada pelos information seekers
(caçadores de informações), gente que posta pouco, mas segue outros utilizadores
regularmente. Por último estão os friends (amigos), a figura mais comum do Twitter.
Estão divididos em várias sub-categorias, mas possuem algo em comum: postam e
seguem outros usuários na mesma proporção.
Java (2008, p. 7-8) também classifica os tipos de postagem no Twitter em
quatro categorias:

● Relatos do cotidiano. A maior parte das postagens obedece ao lema


do serviço e descreve o cotidiano dos usuários, desde detalhes banais como
a compra de um produto até acontecimentos particularmente importantes,
como o nascimento de um filho.

45 Usuários automatizados. Normalmente são programados para reproduzir e compartilhar links de


postagens em blogs ou notícias em portais.

23
● Conversação. É o uso alternativo mais popular do Twitter. Java
rastreou o símbolo da @, normalmente usada para se dirigir ou responder
alguém, para chegar a essa conclusão. As conversas no Twitter podem se dar
entre duas ou mais pessoas e assemelham-se aos papos em mensageiros
instantâneos, como o Windows Live Messenger ou o Google Talk. Java
estima que mais de um quinto das postagens envolve interação direta entre
os usuários.
● Compartilhamento de URL. Fazem parte desta categoria as
postagens que contém links para sites externos. O usuário pode indicar o
endereço eletrônico do próprio blog, de portais de entretenimento ou de
notícias, entre outros. Devido ao limite de 140 caracters, o Twitter comprime
as URLs automaticamente com a ajuda do site TinyURL.
● Notícias. De acordo com Java, é o quarto uso mais comum do
Twitter. Nesta categoria ingressam desde os repórteres amadores que
relatam minuto a minuto os lances do jogo de seu time do coração até
profissionais que postam diariamente os destaques da edição de um jornal.
Também existem usuários que utilizam programas para automatizar a
postagem de informações.

É claro que a lista acima é questionável, ainda que tenha sido formulada de
maneira criteriosa. Mas há quem amplie ainda mais o leque de funções do Twitter: o
blog Dosh Dosh, especializado em tecnologia, lista 17 formas de utilizar o serviço 46,
como marcar reuniões, fazer novas amizades, gerir equipes ou mesmo criar
lembretes (como no Microsoft Outlook). De qualquer forma, apesar do “what are you
doing?” ser respondido freqüentemente de um jeito ou de outro, essas postagens
não representam maioria absoluta. Mischaud (2007) analisou 5.767 atualizações de
60 usuários escolhidos aleatoriamente e constatou que mais da metade (58,5%, ou
3.371 micropostagens) tratam de assuntos variados. Assim como Java, conclui que
a conversação é a segunda função mais popular do Twitter (presente em 19% das
atualizações). O “compartilhamento de informações” é o quarto colocado (está em
6% das postagens). Mischaud descreve essa categoria de forma similar a Java, com
o acréscimo das postagens que compartilham links de notícias.

46 <http://www.doshdosh.com/ways-you-can-use-twitter/>

24
Essas postagens representam o esforço dos usuários para disseminar
informações que eles julgam importantes o suficiente para dividir, de
manchetes a opiniões sobre textos noticiosos. Embora esses exemplos variem
em importância, eles representam uma discussão comum entre os usuários
para apropriar o Twitter como um mecanismo de compartilhamento de
informações, mesmo sendo um serviço não centrado nessa função47. [tradução
livre do autor] (p. 31-32)

Curiosamente, apesar dos usuários postarem relativamente poucas notícias,


eles se interessem em lê-las. O Twitterholic48, portal que lista os usuários com mais
seguidores do Twitter, dá pistas de que essa é a utilização passiva favorita. Dos dez
utilizadores mais populares, dois pertencem a redes de comunicação (The New York
Times49 e CNN Breaking News50, o mais popular, com mais de um milhão de
seguidores). A quarta página predileta é do próprio Twitter51, onde são postadas
notícias acerca do serviço. Todos os outros sete twitters entre os dez mais são
comandados por celebridades, de Barack Obama52 (4°) a Shaquille O’Neal53 (8°).
Mas será que uma página onde o presidente americano detalha a sua rotina também
não pode ser considerada noticiosa? E o jornalismo, é exercido de fato na
plataforma criada pela empresa americana Obvious? Essas e outras questões serão
abordadas no capítulo que segue.

47 These postings represented efforts by users to disseminate information they felt was important
enough to share, from headlines to viewpoints on newsworthy items. [...] Although these examples
vary in importance, they represent a common thread among users to appropriate Twitter as an
information-sharing mechanism, a platform that is not solely centred on them.
48 <http://twitterholic.com/>
49 <http://twitter.com/nytimes>
50 <http://twitter.com/cnnbrk>
51 <http://twitter.com/twitter>
52 <http://twitter.com/barackobama>
53 <http://twitter.com/the_real_shaq>

25
2 O JORNALISMO DESCOBRE O TWITTER

Publicar notícias através da internet não é algo novo: mesmo


desconsiderando os primeiros blogueiros, as empresas da área jornalística estão
presentes na rede desde meados da década de 90. Os primeiros portais noticiosos
online foram os americanos The NandO Times (de 1994, hoje extinto) e o The San
Jose Mercury News54 (de 1995). No Brasil, a primazia coube ao Jornal do Brasil 55, no
ar desde maio de 1995. Desde então, todos os grandes periódicos nacionais criaram
suas versões virtuais.
A novidade é que os métodos de produção e a linguagem dos sites de
notícias e de outros webserviços voltados ao jornalismo são cada vez mais
singulares em comparação aos seus equivalentes impressos. Esse processo pôde
ser observado no decorrer dos anos 90, quando os primeiros portais jornalísticos
apenas replicavam o conteúdo reportado no jornal da manhã. É claro que diferentes
periódicos estão adaptados de diferentes formas à web: até hoje vários deles,
especialmente os locais, mantém a edição virtual idêntica ao jornal de papel. Essa
transposição é um processo lento, em que os veículos jornalísticos primeiro
exportam seu conteúdo, para depois produzir material original e enfim adaptar a
linguagem.
A ascensão da web 2.0 e das ferramentas colaborativas de produção de
conteúdo geraram uma série de serviços variados de difusão de notícias diferentes
de tudo o que se conhecia. Alguns permanecem até hoje, como os blogs, presentes
na maioria dos portais noticiosos, ainda que normalmente voltados a nichos. Outros
não corresponderam às expectativas de seus criadores e usuários, como as redes
de relacionamento tridimensionais, que mesmo com a abertura de filiais virtuais de
veículos de imprensa56, acabaram tendo seu público esvaziado57.
A rede mundial de computadores é palco de numerosos sucessos e

54 <http://www.mercurynews.com/>
55 <http://jbonline.terra.com.br/>
56 A rede de relacionamento tridimensional mais conhecida é o Second Life. Entre os veículos
presentes estão a revista Vip, o Jornal do Brasil e o Estado de S. Paulo, que deslocou repórteres
para trabalhar exclusivamente no ambiente virtual. <www.secondlife.com/>
57 De acordo com o Google, a procura por “Second Life” em abril de 2009 representa menos de um
terço do que no auge, em fevereiro de 2007. <www.google.com/trends?q=%22second+life%22>

26
fracassos, devido à sua dinâmica particular58. Nem o estouro da bolha da internet, no
início do século XXI, foi capaz de deter o otimismo exagerado da imprensa em
relação aos novos canais de comunicação. É o chamado hype, termo em inglês que
designa a promoção extrema de uma idéia ou produto. Para Castilho (2008), “a
mídia alimenta expectativas, surgem os mitos, em seguida multiplicam-se as
decepções e o modismo agoniza, num ciclo cada vez mais curto.”
O caso do Twitter e dos microblogs é emblemático, visto serem ferramentas
que remetem automaticamente a um canal de comunicação consolidado (os blogs),
mas sem perder a aura de novidade graças às suas peculiares características
(multimidialidade, postagens curtas, interface minimalista etc). O fenômeno agravou-
se no Brasil, onde o Twitter foi particularmente bem recebido pelo público59.
Popularizou-se o termo twitosfera para referir-se ao conjunto de usuários e
postagens escritas pelos tuiteiros, substantivo ainda mais específico que os ainda
recentes blogosfera e microblogosfera. A recente profusão de reportagens a respeito
do serviço (inclusive uma capa na Revista Época60) fez com que Castilho (2009)
mais uma vez se pronunciasse sobre os modismos:

O modismo Twitter vai passar como passaram todos os anteriores, mas o


programa continuará como mais uma forma de comunicação criada pela web.
Ele se integra e complementa todos os demais — como os blogs, comunidades
sociais online, páginas web, RSS, YouTube etc. O Twitter, como todos os
outros, tem vantagens e limitações, cabendo ao usuário identificar o quanto ele
é mais adequado ou não.

Ainda antes da grande imprensa reparar no Twitter como um potencial


emissor de notícias, existiam internautas que o utilizavam com essa intenção. São
os chamados early adopters, pessoas que abraçam novos produtos ou tecnologias
muito antes da maioria. Como bem dita a cartilha da web 2.0, qualquer usuário é um
potencial agente noticioso, mesmo que o objetivo primário do Twitter não seja esse.
Em um recente seminário de estudiosos de comunicação na Universidade de
Navarra, Orihuela (2008) comparou um blogueiro a um “DJ de Notícias” em uma

58 Em 2008, a revista Fast Company compilou uma lista com as 50 empresas mais inovadoras do
mundo. As três primeiras (Google, Apple e Facebook) têm fortes vínculos com a rede.
<http://www.fastcompany.com/magazine/123/the-worlds-most-innovative-companies.html>
59 Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Evan Williams (um dos criadores do Twitter) conta que os
brasileiros representam a “segunda ou terceira” maior comunidade do Twitter. Os mais numerosos
são os americanos. <http://www.link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=15014>
60 <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMT504-15210,00.html>

27
apresentação intitulada “Web 2.0: Cuando los usuarios se convirtieron en medios y
los medios no supieron en qué convertirse”61. Durante a exibição, Orihuela destacou
que a mídia tradicional demora para aproveitar ao máximo um novo veículo de
notícias. No caso do Twitter, vários usuários aproveitaram o serviço para fins
informativos antes mesmo da chegada da mídia. É o que Primo e Träsel (2006)
chamam de “webjornalismo participativo”. Os microblogs vêm “furando” os grandes
meios de comunicação graças à abertura do gatekeep e da multiplicação de
potenciais “repórteres”. Até a definição do que é jornalismo e do que é notícia vem
se tornando mais difícil com o sucesso da web 2.0 e de serviços em que jornalistas e
usuários interagem na reportagem de notícias, caso do “vc repórter” 62, do portal
Terra.
É difícil precisar quem e quando foi criada a primeira conta no Twitter
vinculada a uma empresa jornalística. O microblog não publica a data de registro
dos usuários, e é necessário recorrer a portais independentes que rastreiam novas
contas e salvam o momento em que foram criadas. Uma breve pesquisa no
Twitterholic entre as 500 páginas mais populares mostra que o usuário om63,
vinculado à empresa de comunicação GigaOmniMedia e ao site especializado em
notícias sobre tecnologia GigaOM64, existe desde julho de 2006, apenas quatro
meses após a criação do Twitter. As marcas mais conhecidas do jornalismo
americano e britânico criaram contas a partir de 2007: CNN (janeiro), The New York
Times e Fox News65 (março), Wall Street Journal66 (abril) e BBC67 (julho). Todos os
cinco jornais de maior circulação nos Estados Unidos contam com páginas no
Twitter.
No Brasil, a adoção ao Twitter por parte das grandes empresas jornalísticas
é lenta. Das representações online dos dez jornais de maior circulação no país68,
apenas o Zero Hora69 (fevereiro de 2008) e o Estado de S. Paulo 70 (maio) contam
61 “Web 2.0: quando os usuários se tornaram meios de comunicação e os meios de comunicação
não souberam no que se tornar”. [tradução livre do autor]
62 <http://noticias.terra.com.br/vcreporter>
63 <http://twitterholic.com/om/>
64 <http://gigaom.com/>
65 <http://twitter.com/foxnews>
66 <http://twitter.com/WSJ>
67 <http://twitter.com/BBCClick>
68 Segundo a Associação Nacional dos Jornais. <http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornais-
no-brasil/maiores-jornais-do-brasil>
69 <http://twitter.com/zerohora>
70 <http://twitter.com/estadaonews>

28
oficialmente com registro no microblog. Outros quatro dos dez principais jornais
aparentam ter conta no serviço, mas não passam de fakes (usuários que se passam
por outra pessoa ou empresa). O mais popular de todos os twitters diretamente
relacionados ao jornalismo brasileiro é do Fantástico71, programa de jornalismo e
entretenimento da TV Globo. Eram mais de 28 mil seguidores em maio de 2009, o
que garante à página o sexto lugar entre as mais seguidas no Brasil. Apesar de
criada em abril de 2009, mais de um ano após a do Estado de S. Paulo, por
exemplo, o Fantástico conseguiu grande número de seguidores, em parte graças às
reportagens sobre o Twitter – com o anúncio do endereço do programa no serviço –
nos programas veiculados durante o horário nobre.
No entanto, uma rápida comparação sobre essas três contas jornalísticas
mais antigas e populares mostra que todas elas ainda se apóiam em uma mídia
mais antiga (portais) ao aparecerem na mais nova (Twitter). As páginas do Estadão
e do Zero Hora simplesmente reproduzem as manchetes dos portais, e no máximo
são levemente editadas para evitar o estouro dos 140 caracteres, levando a crer que
o processo é semi-automático. Da mesma forma, a maior parte dos fakes também
difunde conteúdo original, com o agravante de que às vezes o processo é totalmente
automático, o que faz com que algumas manchetes (ou linhas de apoio) sejam
cortadas ao meio. O Fantástico, por sua vez, ora reproduz as manchetes do seu
portal (sempre com os links), ora (semanalmente) narra as atrações que aparecerão
no programa televisivo. Raramente as mensagens têm outro formato ou dirigem-se a
outros usuários do Twitter. A figura abaixo compara as micropostagens no twitter do
estadaonews com as manchetes no portal do Estadão.

71 <http://twitter.com/showdavida>

29
Figura 6: Comparação entre micropostagens e manchetes.
Fonte: <http://blog.estadao.com.br/blog/transito/>.

Ribas (2004, p. 8-9) classifica os produtos webjornalísticos em três


momentos, referentes à evolução da utilização do meio em que estão inseridos. São
eles:

● Linear. É o primeiro estágio do webjornalismo, caracterizado pela


mera cópia de conteúdo de um veículo antigo (Ribas usa os jornais impressos
como exemplo) para um novo. A estrutura da notícia é linear, com começo,
meio e fim, sem links disponíveis para o usuário navegar entre notícias
similares.
● Hipertextual Básico. Similar ao linear, com o acréscimo de links
(internos e / ou externos) que auxiliam o internauta a navegar entre as
informações. No entanto, a mídia antiga continua sendo referência. A
interatividade é pouco explorada, ainda que possam existir iniciativas como a
disponibilização de chats e enquetes. Os twitters abordados nos parágrafos
anteriores vagariam entre este e o primeiro estágio.
● Hipertextual Avançado. No último estágio do webjornalismo definido
por Ribas, a nova mídia ganha linguagem e conteúdo específicos, bem como
novos recursos (imagens, áudios, vídeos, caso seja possível). A interação
entre produtores e consumidores de notícias chega ao seu ápice e há
simbiose entre as diferentes mídias. Alguns autores também sugerem uma
quarta fase, a Colaborativa, presente quando os leitores auxiliam

30
diretamente os jornalistas, apurando, editando e redigindo notícias.

Grosso modo, conferir as páginas no Twitter do Estadão, Fantástico e Zero


Hora é semelhante a ler os feeds72 desses portais. Para Zago (2008, p. 83), esses
sites não estão sozinhos. Após analisar os twitters de 566 contas de organizações
midiáticas e de repórteres vinculados a elas, a jornalista verificou que 398 (70,32%)
funcionam predominantemente como feeds de notícias, apresentando-as de forma
cronologicamente inversa, com manchete e link. A seguir, os usos mais freqüentes
do Twitter pelos jornalistas / organizações jornalísticas são reportar os bastidores de
produção da notícia (7,42%); alertar leitores, como no caso de incêndio e mudança
no clima (6,36%) e acompanhar acontecimentos ao vivo, como um julgamento ou
evento esportivo (4,42%). A redação de notícias especificamente para o Twitter, com
a tentativa de passar a informação completa e respeitando os 140 caracteres está
presente em apenas 2,65% das contas. Outros usos somam 8,84%.
Curiosamente, os colunistas, blogueiros e repórteres desses mesmos
veículos de imprensa estão entre os principais usuários de usos alternativos (não-
feed) no Twitter. Um dos mais conhecidos é Diogo Mainardi73, da revista Veja. Claro
que também há quem aproveite o serviço para reproduzir em um meio extra o
conteúdo do blog / coluna virtual. É o caso de Ricardo Noblat 74, autor de um dos
blogs jornalísticos mais antigos do Brasil. Assim como seus colegas do jornal O
Globo, Miriam Leitão75 e Ancelmo Gois76, Noblat utiliza o sistema de feeds para
divulgar as notícias e opiniões de seu blog em uma nova mídia.
Internautas comuns também fazem parte da comunidade que enriquece o
Twitter de informações em tempo real. Um dos casos mais antigos da participação
deles na construção de um verdadeiro noticiário baseado na web data de abril de
2007, quando um terremoto de seis graus na escala Richter atingiu o México.
Dezenas de mexicanos postaram no Twitter sobre o ocorrido logo após o primeiro
tremor. Quem acessava a página do microblog acabou sabendo antes de todo
mundo o destaque do próximo telejornal. Os tremores seguintes também foram

72 Feeds são unidades de conteúdo (reportagens, artigos, vídeos) rastreadas, compiladas e


reproduzidas em um agregador.
73 <http://twitter.com/diogomainardi>
74 <http://twitter.com/blogdonoblat>
75 <http://twitter.com/miriamleitaocom>
76 <http://twitter.com/ancelmocom>

31
noticiados via Twitter, bem como a ação dos bombeiros e das equipes de resgate,
pondo em prática o conceito da web em tempo real. Lemos (2008), lembra que
desde que a web 2.0 se instalou, serviços colaborativos de informação também se
estabeleceram.

No ciberespaço, então, cada sujeito é efetivamente um potencial produtor de


informação: serviços colaborativos de informação, comunidades, blogueiros ou
microblogueiros jornalistas – que vivem o fato e o relatam em suas páginas
pessoais. E, se a velocidade da informação também é um dos resultados da
internet, no caso do Twitter, é possível acompanhar eventos em tempo real.
(LEMOS, 2008, p. 3)

Um segundo caso que expõe a contribuição do Twitter para a difusão de


notícias a partir de não-jornalistas aconteceu em 15 de janeiro de 2009. Uma
aeronave que acabara de decolar do aeroporto de La Guardia, em Nova York, teve
os dois motores danificados após chocar-se contra pássaros. O piloto Chesley
Sullenberger tomou a rápida – e arriscada – decisão de aterrissar sobre o rio, então
congelado, que cruza a mais populosa cidade americana.
A insólita cena do avião e dos 155 passageiros caminhando sobre o gelo
enquanto esperavam o resgate correu o mundo. O curioso é que a primeira imagem
divulgada do incidente não foi captada pelos repórteres da CNN ou da Fox News,
mas sim por um empresário da Flórida chamado Janis Krums. Krums fotografou a
cena com um iPhone e postou no Twitter77, ao lado de uma descrição: "There's a
plane in the Hudson. I'm on the ferry going to pick up the people. Crazy78". Jornais de
todo o mundo replicaram a imagem captada por Krums, e o fotógrafo amador tornou-
se celebridade nacional. É preciso ressaltar que o americano não precisou enviar a
foto para sites de “jornalismo cidadão”, ou sequer contatou a imprensa após
hospedar o arquivo. Não existiram intermediários entre a foto de Krums e o mundo –
a mídia apenas tratou de repercutir o caso.
Os dois casos abordados nos parágrafos anteriores têm algo em comum:
foram desastres observados (ou sentidos) por muita gente. Castilho observa o
pioneirismo de anônimos ao apurar as novidades desde 2004, quando um tsunami
arrasou a Ásia e matou mais de cem mil pessoas. Escrava da rotina e de métodos

77 Na verdade, a foto foi hospedada no Twitpic, serviço que cria links automaticamente no Twitter
para imagens postadas. <http://twitpic.com/>
78 “Há um avião no [rio] Hudson. Estou na balsa indo buscar o pessoal. Louco”. [tradução livre do
autor]

32
rígidos de investigação, a grande mídia demorou a dar-se conta do alcance da
tragédia:

Quase todos os jornais e noticiários demoraram muito para perceber o alcance


e as conseqüências do tsunami que atingiu 10 países asiáticos […], porque
foram traídos pela rotina e não conseguiram descobrir que se tratava de uma
tragédia muito maior do que as que freqüentam, periodicamente, as primeiras
páginas da imprensa mundial.
A rotina da maioria das redações é avaliar as tragédias em função da macabra
contagem de mortos e feridos. As prioridades editoriais são fixadas em função
da contabilidade dos necrotérios. Quanto maior o número de dígitos, maior a
intensidade e a duração da cobertura.
Este procedimento, consolidado pela sucessão quase matemática de tragédias,
anestesiou a maioria dos editores de pauta e, quando surgiu algo fora do
normal, criaram-se as condições para um desastre informativo. (CASTILHO,
2005)

O imediatismo e versatilidade do Twitter podem ser de grande utilidade em


novos casos similares. Durante e enchente que atingiu o Vale do Itajaí, no norte de
Santa Catarina, no final de 2008, Castilho notou que a mídia tradicional preocupava-
se excessivamente com a imagem passada para o espectador e com a obsessão
pelo espetáculo. Os jornalistas sentiam dificuldades em se deslocar e confiavam
quase sempre em fontes oficiais. Em um cenário como esse, os blogueiros e
microblogueiros, especialmente os residentes na região, puderam praticar um
jornalismo mais ágil e especialmente voltado à prestação de serviço. Até mesmo o
jornal diário mais popular da região, o Diário do Litoral, recorreu a um blog79 e ao
Twitter durante o incidente. Em menos de uma semana a página no Twitter do
periódico foi atualizado 138 vezes, apenas com notícias e links sobre a chuva. Os
editores alegaram que as condições da região tornaram impossível a circulação do
periódico impresso.

Esta primeira grande experiência de uso de blogs e do Twitter em situações de


emergência no Brasil deixa uma lição. Em matéria de noticiário local e hiper-
local (cobertura de bairros, ruas e condomínios), os blogs são imbatíveis pela
sua agilidade, capilaridade e ubiqüidade, embora a credibilidade deva ser
avaliada com cuidado. (CASTILHO, 2008)

79 <http://diarinhonachuva.blogspot.com/>

33
Figura 7: Twitter do Diário do Litoral.
Fonte: <http://twitter.com/diarinho>.

Ainda que seja questionável classificar como jornalísticos os depoimentos


dos internautas via Twitter, é inegável que tratam-se de fontes extras de informação,
inclusive para a imprensa. O periódico britânico The Daily Telegraph, o mais vendido
jornal standard do Reino Unido, acompanha micropostagens no Twitter através de
um telão na redação ligado no Twitterfall80. O serviço começou a ser usado após a
queda de um avião na Holanda que ocasionou a morte de oito pessoas – o veículo
estava interessado em coletar informações e opiniões sobre o acidente no
microblog. Dória (2009) chama o acompanhamento de informações em tempo real
na rede de livestreaming, e afirma que alguns veículos fazem uma espécie de “rádio-
escuta” não apenas do Twitter, mas de outros serviços da web 2.0.

Isso tem uma importância grande no “atual ciclo de produção da notícia“. Os


primeiros relatos e a primeira foto sobre o acidente aéreo na Holanda
apareceram antes no Twitter [...]. O que não é nenhuma novidade. Há bastante
tempo a ferramenta de microblogging agrega as primeiras informações sobre
algo. [...] Portanto, a notícia é outra. Não é que “tudo aparece primeiro no
Twitter”. É que os sites de notícias estão abrindo o olho para o Twitter como
fonte de informação e pautas, vide o que o Telegraph está fazendo.

80 O Twitterfall é um serviço que rastreia palavras escolhidas pelo usuário no Twitter e lista em tempo
real micropostagens que contenham o termo.

34
Figura 8: Twiterfall coleta as últimas micropostagens com o termo “Obama” no Twitter.
Fonte: <http://twitterfall.com/>

A busca por informações em tempo real não vêm atraindo apenas os


veículos de imprensa, mas as próprias empresas da web. O blog de tecnologia
TechCrunch81 apurou, no início de 2009, que o Google tem interesse em fazer uma
parceria com o Twitter para indexar as micropostagens em seu motor de busca. Há
um dito popular na internet que defende que se algo não está no Google, não existe.
Mas a verdade é que o conteúdo dinâmico dos microblogs (as micropostagens
desaparecem da web após um certo tempo) quase nunca é captado pelos
buscadores. Ao procurar uma parceria com o Twitter, o Google dá o mesmo recado
ao público geral que a direção do The Daily Telegraph deu aos jornalistas: é
relevante armazenar e organizar as informações oriundas do Twitter.
Fenômenos como esses estão longe de serem novos: já existiam nos blogs
e até no YouTube. Os casos anteriores despertam várias questões, e uma das mais
intrigantes é: por que o Twitter foi mais rápido que os meios de comunicação
tradicionais? Além da questão do webjornalismo participativo citada por Primo e
Träsel, deve-se ressalvar a tecnologia requerida pelo microblog para a divulgação
de notícias. Os jornalistas têm consciência de que prazos e aparelhagem limitam a
velocidade de publicação da informação. O jornal impresso só pode ser lido depois
de impresso, e essa impressão normalmente acontece após horário pré-
determinado. Televisão e rádio requerem um estúdio disponível, e não raro as
notícias também só podem ser exibidas em horários fixos, especialmente em
81 <http://www.techcrunch.com/2009/04/03/twitter-wouldnt-sell-for-1-billion-says-source/>

35
emissoras pequenas. No caso dos microblogs, os aparatos usados para divulgar as
notícias são múltiplos e relativamente baratos. Computadores com acesso a internet
ainda são os favoritos dos microbloggers. Mas os celulares conectados à rede vem
ganhando espaço.
Aliás, os celulares são responsáveis por mais uma razão pela qual o Twitter
sai na frente dos meios convencionais: esses aparelhos portáteis estão por todos os
lados, nas mãos de gente de todos os lugares e classes sociais. No Brasil, são mais
de 150 milhões de telefones móveis, todos eles potenciais emissores de informação.
Bastam alguns toques com os dedos e pronto – um nova micropostagem estará
mundialmente acessível. A informação difundida nos microblogs através dos
celulares não só é transmissível em qualquer lugar como também pode ser
repassada por qualquer pessoa.
Some-se isso ao fato de que os microblogs permitem – e estimulam – o uso
máximo de 140 caracteres e temos um serviço mais veloz até mesmo do que outras
mídias baseadas na web, como portais noticiosos. Zago (2008) também nota que,
das seis características da produção de notícias para a web82, a mais saliente no
Twitter é a velocidade. Mesmo blogs jornalísticos, que também podem ser
acessados e editados através de aparelhos portáteis, são mais burocráticos que os
microblogs. Twitter e outros são ferramentas em potencial para quem Mark Briggs
(2007) chama de “jornalistas mochileiros”, os profissionais acostumados a publicar
notícias a partir de qualquer ponto. O autor conta que eles “adotam mídias
inovadoras para noticiar facilmente a partir do local dos acontecimentos, como
celular, câmera portátil ou laptop”. Não é mais necessário voltar à redação para dar
início à publicação de notícias. Tampouco é preciso que o jornalista esteja em
horário de trabalho.
A escalada da tecnologia facilitou o trabalho dos repórteres, que carregam
verdadeiras miniplataformas de produção, edição e difusão de notícias. Softwares
portáteis, gravadores e câmeras digitais, acoplados ou não e outros aparelhos
facilitaram um bocado a vida dos jornalistas mochileiros, o que resulta no sucesso
do Twitter e outros webserviços como produtos jornalísticos (alguns casos serão

82 As seis características foram classificadas através de pesquisas, pelo Grupo de Estudos em


Jornalismo Online da Universidade Federal da Bahia. As outras cinco são: interatividade,
hipertextualidade, multimidialidade, personalização e memória.
<http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2001_mielniczuk_caracteristicasimplicacoes.pdf>

36
vistos no próximo capítulo). Silva (2008, p. 9) reforça a afirmação de Castilho de que
o jornalismo participativo, fortalecido pela proliferação de tecnologias móveis,
incrementa a quantidade de relatos de teor jornalístico em acontecimentos de
grande mobilização popular. Ele conclui que essas tecnologias, somadas aos
serviços de difusão acelerada de informações, como o Twitter, são um marco no
jornalismo contemporâneo.

O jornalismo, em particular, sempre nutriu interesse por tecnologias da


mobilidade para fazer frente às suas especificidades de produção e publicação
de notícias baseadas no caráter imediatista. Talvez agora todas as mídias
possam se beneficiar de fato de uma estrutura que permita a proximidade com
este tempo real [...] Possivelmente estamos diante de novos processos de
construção da notícia ou de velhos processos potencializados pelas
tecnologias da mobilidade. [...] Estas novas tecnologias móveis representam
mudanças na sua abrangência e operacionalização por oferecer mobilidade,
portabilidade e ubiqüidade na produção e emissão de conteúdo de uma
maneira nunca dantes verificada. [...] Quando introduzidas ao fazer jornalístico
observa-se que as coberturas de eventos ou a produção da notícia se
reestruturam em torno da instantaneidade e da geração de novos formatos de
produtos jornalísticos. (p. 10)

A combinação de aparatos de comunicação portáteis e Twitter é bastante útil


no que se refere à cobertura de determinados acontecimentos. Apesar dos usuários
regulares do Twitter estarem à frente da imprensa no que diz respeito a incidentes
inesperados de grande mobilização pública, a mídia vira o jogo em eventos
planejados com antecedência. O caráter minimalista e de fácil manuseio do
microblog é ideal para coberturas suficientemente longas e com muitos updates.
Primo (2008, p. 4) relata que o Twitter é cada vez mais utilizado para o
acompanhamento de congressos, jogos e até mesmo propaganda política, tal como
ocorreu durante a campanha para a eleição presidencial americana de 2008-2009.
Ao contrário do que ocorre nos portais e mesmo nos blogs, não há
hierarquia clara no Twitter. Todos os usuários registrados (com exceção dos poucos
administradores) têm os mesmos “direitos” (escrever o que bem entenderem em
suas respectivas páginas, limitar a quantidade de seguidores etc.) e limitações (não
é possível excluir réplicas, por exemplo). A comunicação, seja entre usuários
regulares ou corporações, se dá (ou deveria se dar) de forma planificada. Ocorre o
que Vaz (2008) previra: “eis o sonho: com a internet, enfim, a troca de mensagens
assemelha-se a um diálogo ou ao que ocorre numa praça ou numa festa”.
O sucesso do Twitter gerou uma série de “guias” relatando as melhores

37
formas de usá-lo, levando em conta o sentimento de proximidade causado pelo
serviço. A relações públicas Flávia Paluello (2008), por meio de um guia de uso do
Twitter para empresas, destacou que um dos principais erros das corporações que
têm conta no microblog é dar as costas para os usuários. No jornalismo via Twitter,
isso pode ser visto quando dúvidas e perguntas de leitores não são respondidas.
Quando a mídia não interage com seus leitores no Twitter, deixa de usar o serviço
(que também é rede social) em sua plenitude e corre o risco de causar antipatia. “A
falta de uma resposta adequada é sempre prejudicial para qualquer empresa, seja
em que meio de comunicação for” (p. 4).
A forma mais adequada de usar os microblogs ainda é tema de muita
discussão. Os conceitos que permeiam o Twitter, especialmente no que se refere a
webjornalismo e interação entre emissores e consumidores de notícias são bastante
insipientes. O próximo capítulo mostra algumas iniciativas pioneiras no Twitter –
quase experimentais – e suas conseqüências para a propagação das informações.

38
3 O TWITTER APLICADO AO JORNALISMO

Como foi visto, o Twitter pode ser utilizado para captar e difundir
informações, bem como publicar notícias de diversas maneiras – a mais comum
delas, presente em mais da metade das micropostagens, é a simples replicação de
material original de outras mídias. O serviço também pode ser usado para cobrir
eventos ao vivo, escrever notícias curtas, divulgar informações de bastidores e
interagir com os internautas. Outros recursos e funções poderão surgir conforme o
microblog se torne conhecido e ganhe novas ferramentas.
A terceira parte desta monografia abordará de forma mais específica o uso
do Twitter pelos jornalistas brasileiros. Raquel Recuero (2007, p. 1) defende que “o
jornalismo é uma prática, e não um produto”, mas por outro lado reclama não
encontrar uma definição satisfatória levando em conta toda a sorte de recursos na
web, como os microblogs. Já a Wikipedia conceitua jornalismo de forma genérica o
suficiente para abarcar até mesmo twitters atualizados via feed: “Jornalismo é a
prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais”. 83
Manuel Chaparro (2008) admite que é difícil definir jornalismo: “o jornalismo é difícil
de explicar por conta da sua complexidade”. Recuero respalda essa indefinição:

dá para simplesmente definir o jornalismo pela linguagem, pelo caráter de


novidade, independente de quem escreva, e independente de onde se veicule?
[...] É realmente preciso ser jornalista para fazer jornalismo, ou basta haver
coleta, redação, edição e publicação [...]? Talvez seja mais fácil admitir que a
complexidade e mutabilidade do jornalismo não cabem em uma definição
estática e simplista...

Paradoxalmente, é possível que conceitos mais específicos do jornalismo


sejam mais facilmente definíveis. É o caso dos estágios do webjornalismo,
abordados no capítulo anterior. Ribas (2004, p. 9) lembra que o terceiro estágio
(Hipertextual Avançado) ocorre quando “os recursos multimídia tornam-se parte da
narrativa [...] e são explorados níveis de interatividade como o uso jornalístico do
chat, enquetes e possibilidades do usuário comentar notícias e ler comentários de
outros usuários”. Para Dalmonte (2005, p. 6), a utilização dos webserviços enriquece
a notícia: “o material jornalístico presente na web, passa a ser produzido de acordo
83 <http://pt.wikipedia.org/wiki/jornalismo>

39
com as novas possibilidades tecnológicas, o que caracteriza tanto o produto, quanto
a própria rotina de produção, que agrega à narrativa dos fatos novas perspectivas”.
Para entender o que exatamente o Twitter traz de novo à rotina jornalística, o
terceiro capítulo desta monografia, intitulado O Twitter Aplicado ao Jornalismo,
concentra-se na análise de três contas administradas no Twitter por organizações
jornalistas. Os três casos enquadram-se no terceiro estágio do webjornalismo de
Ribas, ou seja utilizam-se dos recursos fornecidos pelo microblog e adaptam a
linguagem para otimizar a comunicação. Lopes (2001, p. 32) observa que essa
estratégia de pesquisa está entre as mais usadas na pesquisa em Comunicação.
Bressan (2000, p. 3), por sua vez, afirma que é uma estratégia adequada para
pesquisas exploratórias e particularmente útil para a geração de hipóteses. O estudo
de caso visa descrever um fenômeno de forma longitudinal, ou seja, baseando-se
em um ou poucos objetos. Para Yin, o estudo de caso nasce do desejo de entender
um acontecimento social complexo, e uma das suas qualidades é “investigar um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real” (1994, p. 2).

3.1 Aspectos Metodológicos

Durante a pesquisa, cerca de cem páginas jornalísticas no Twitter foram


investigadas, em busca de casos que se adaptassem aos métodos e objetivos da
monografia. A maior parte das contas foi descartada por não se enquadrar no
estágio Hipertextual Avançado no Twitter sugerido por Ribas (2003). Como visto por
Zago (2008, p. 83), 70,32% dos twitters jornalísticos resumem-se a difundir
manchetes de telejornais ou portais de notícias. Há casos, como o do Diário
Catarinense84, em que as postagens foram adaptadas ao serviço, seja em
reportagens ao vivo ou através da interação com os leitores; mas essa utilização se
dá de forma minoritária em meio a várias “micropostagens-feeds”, o que ocasionou a
eliminação dessas contas. Destino semelhante tiveram twitters criados recentemente
(a partir de abril de 2009) ou que não vinham sendo atualizados (perfis cuja última
postagem fora anterior a abril de 2009 foram automaticamente excluídas). Houve

84 <http://twitter.com/dconline>

40
também a preocupação em selecionar casos com características distintas e
complementares, para que a análise se tornasse mais rica e menos redundante. Por
essa razão, foram descartados casos como o do SBT Oficial, 85 que compartilha
muitas semelhanças com uma das escolhidas. Ao fim da seleção restaram as
seguintes páginas (em negrito, o nome dos três perfis).

● Band Trânsito SP86 (do programa TV Trânsito, da Rede Bandeirantes


de Televisão);
● Revista TRIP87 (da revista Trip, da editora de mesmo nome) e
● rodaviva88 (do programa Roda Viva, da TV Cultura).

Os nicknames dos três perfis são, respectivamente, @bandtransitosp,


@revista_trip e @rodaviva. Essas são as alcunhas que aparecem ao lado das
atualizações. A arroba não está originalmente presente, mas será adotada durante o
atual capítulo para se referir, sem risco de ambigüidade, às versões tuiteiras da
revista e dos programas de TV.

Figura 9: Avatares dos três perfis analisados.

Em comum, os três registros são razoavelmente antigos para os padrões do


Twitter, contam com atualizações freqüentes, estão em português, adaptaram a
linguagem e aproveitam os recursos próprios do microblog. Todos eles são
supervisionados por jornalistas e contêm postagens noticiosas, cada um à sua
maneira. O @bandtransitosp, por exemplo, preza pela cobertura do tráfego ao vivo;
enquanto o @rodaviva tem entre seus principais atrativos a reportagem dos
bastidores do programa.

85 <http://twitter.com/sbtonline>
86 <http://twitter.com/bandtransitosp>
87 <http://twitter.com/revista_trip>
88 <http://twitter.com/rodaviva>

41
As páginas foram analisadas a partir de uma abordagem qualitativa. Para
Neves (1996, p. 1), a pesquisa qualitativa “compreende um conjunto de diferentes
técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de
um sistema complexo de significados”. Günther (2006, p. 3) descreve as diferenças
entre pesquisa quantitativa e qualitativa, e diz que a interação entre pesquisador e
objeto de estudo é maior no segundo caso, inclusive após a coleta de dados. Já
Goldenberg (1997, p. 51) diz que “os dados qualitativos consistem em descrições
detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus
próprios termos”.
As três páginas foram analisadas durante um mês. Como a mais nova das
três contas foi criada em março de 2009, escolheu-se os 30 dias seguintes (de 1° a
30 de abril) como período de análise, para que todos os perfis tivessem a data da
primeira e última postagem analisada semelhantes. Além disso, deve-se frisar que a
twitosfera é um ambiente dinâmico, e a escolha de um mês próximo ao prazo final
de entrega dos resultados tornam as conclusões mais atuais, estendendo a validade
da pesquisa.
Para facilitar a análise das atualizações enviadas pelas páginas
monitoradas, foi criada uma conta89 exclusiva para acompanhá-las. Afinal, o Twitter e
a maior parte dos serviços de microblogging são também redes sociais e
mensageiros instantâneos, e para desfrutar ao máximo de todas as ferramentas de
comunicação disponíveis é necessária a integração ao grupo. No entanto, durante o
período de análise não houve interação direta entre o autor da pesquisa e os
administradores das contas analisadas. Travancas (2006, p. 103) intitula esse
método pesquisa participante:

Este termo significa que antes de mais nada o cientista social não se coloca
ingenuamente, ou pelo menos não deve se colocar, em relação a sua presença
no grupo. [...] Deve observar e saber que também está sendo observado e que
o simples fato de estar presente pode alterar a rotina do grupo ou o desenrolar
de um ritual (p. 103).

O conteúdo das atualizações foi analisado tendo em vista a pergunta de


partida e os objetivos da pesquisa, sendo eles:

89 <http://twitter.com/francisco_tcc>

42
● Conceituar e contextualizar os microblogs.
● Comparar os microblogs com as outras formas de comunicação
jornalísticas.
● Verificar como funciona o processo de manutenção dos microblogs
pelos autores.
● Analisar a contribuição do Twitter para o jornalismo brasileiro.

Os objetos de pesquisa foram investigados exclusivamente a partir da web,


usando computadores pessoais. Além da página do Twitter, gadgets do iGoogle90 e
ferramentas como o TwitGraph91 ajudaram a acompanhar e mensurar estatísticas
referentes às postagens. Guerra explica que a análise de conteúdo consiste em
“ordenar os materiais recolhidos, classificá-los segundo critérios pertinentes,
encontrar as dimensões de semelhanças e diferenças, as variáveis mais freqüentes
e as particulares” (2006, p. 78). Quivy e Campenhoudt afirmam que a análise de
conteúdo é adequada para a pesquisa em Comunicação, e especialmente útil para a
análise de processos de difusão e socialização (1992, p 29).
Por fim, entrevistas com os responsáveis pelas atualizações dos twitters
analisados colaboraram com o desenvolvimento da pesquisa. Profissionais que
administram as três contas foram contatados por e-mail e responderam, cada um, de
cinco a sete questões para que dúvidas acerca do uso jornalístico do twitter e dos
métodos de postagem fossem sanados. De acordo com Duarte (apud DUARTE e
BARROS, 2006, p. 63), as entrevistas permitem ao pesquisador identificar diferentes
maneiras de descrever os fenômenos. “A entrevista em profundidade é uma técnica
dinâmica e flexível, útil para apreensão de uma realidade tanto para tratar de
questões relacionadas ao íntimo do entrevistado, como para descrição de processos
complexos nos quais está ou esteve envolvido”. As entrevistas, bem como os outros
métodos de pesquisa, visam atacar o problema por diferentes flancos e,
conseqüentemente, dar consistência e qualidade ao trabalho acadêmico.

90 <http://www.google.com.br/ig/directory?q=twitter>
91 <http://www.twitgraph.com/>

43
3.2 Análise das contas jornalísticas no Twitter

3.2.1 Band Trânsito SP

O TV Trânsito é um telejornal transmitido pela emissora paulistana Rede


Bandeirantes para a região metropolitana de São Paulo. Apresentado pela jornalista
Millena Machado, conta com o piloto e repórter Hamilton Alves da Rocha, que
sobrevoa a metrópole de helicóptero, exibindo em tempo real a condição das
principais estradas. Posteriormente, o programa ganhou equivalentes locais,
transmitidos por emissoras afiliadas. Mas a versão paulista é ainda a de maior
destaque: é exibida desde março de 2009, de segunda à sexta, ao vivo, das 7h às
7h 10min. O site do programa,92 que traz vídeos de acidentes e congestionamentos,
o define como “um jornal dinâmico, em horário oportuno, para você sair de casa bem
informado sobre o seu caminho no trânsito complicado da capital Paulista”.
O @bandtransitosp, criado apenas uma semana após a estréia do TV
Trânsito, é uma espécie de extensão virtual do telejornal. Um jornalista e dois
estagiários mantêm o perfil, atualizado de segunda a sexta, das 8h às 10h e das 18h
às 20h. Em junho de 2009, a página contava com mais de 700 seguidores, e era um
dos três microblogs oficiais da Bandeirantes, ao lado do Band Jornalismo 93 e
Programa Dia a Dia.94 As atualizações dos três perfis também podem ser seguidas,
em tempo real, por quem não tem conta no Twitter, através de uma janela no portal
da emissora.95 Além disso, um trecho de código HTML permite a quem quiser exibir
os twits do @bandtransitosp em uma página alternativa.

92 <http://www.band.com.br/tvtransito/sobre.asp?id=685>
93 <http://twitter.com/bandjornalismo>
94 <http://twitter.com/programadiadia>
95 <http://band.com.br/microblog/>

44
Figura 10: No site da Bandeirantes, uma janela exibe os últimos twits e convida os
internautas a segui-los.

A principal fonte utilizada pela equipe que atualiza a página é a Companhia


de Engenharia de Tráfego, empresa vinculada à Prefeitura de São Paulo
responsável pelo gerenciamento e fiscalização do sistema viário da cidade. O site da
companhia96 contém informações do trânsito paulistano em tempo real. Outra fonte
são as emissoras do próprio Grupo Bandeirantes de Rádio, como a SulAmérica
Trânsito97, que transmite informações sobre a condição das ruas da capital paulista
todo dia, das 6h às 22h. Ricardo Anderáos, diretor de Conteúdo Online da Band,
explica que “uma equipe de redação exclusiva para web dispara as informações
relevantes para os motoristas de São Paulo, como congestionamentos e obstruções
de vias”. (2009, p. 1)
Durante o mês de abril, a página foi atualizada 1195 vezes, mantendo uma
média próxima de 40 tuitadas por dia. É um número bem superior à média global de
4,5 tuitadas por dia por pessoa.98 No entanto, a quantidade de postagens por dia é
variável: em 30 de abril houve apenas sete atualizações, em comparação às 82 no
dia 2 de abril. A distribuição das postagens por horários também é irregular – de
acordo com o TweetStats,99 mais de 50% das atualizações concentraram-se entre as
18h e 20h, justo o horário de pico do tráfego paulistano. A editora executiva do portal

96 <http://www.cetsp.com.br/>
97 <http://www.sulamerica.com.br/radiotransito/>
98 O número é estimado pelo blog Hubspot, após conferir as postagens de mais de 1,5 milhão de
usuários em março de 2009. <http://blog.hubspot.com>
99 <http://tweetstats.com/>

45
da Bandeirantes, Ana Oliveira, confirma que a freqüência de postagens é
proporcional ao volume de informação. Outro fator que influencia a quantidade de
micropostagens é o estado do microblog ou da conexão com a internet – se um
deles está lento ou estático, a produção de conteúdo é afetada.
O jornalismo de revista ou de rádio costuma trazer uma quantidade fixa – ou
quase fixa – de conteúdo noticioso a cada edição, para que todas as páginas ou
minutos no ar sejam ocupados. Essa padronização pode funcionar na maioria das
vezes, mas é desvantajosa quando não há muito conteúdo relevante a ser publicado
ou transmitido. No Twitter, avesso a limites pré-determinados, isso não ocorre.
Oliveira (2009) explica:

As informações são escolhidas com base na relevância delas. No início,


postávamos tudo. Mas os usuários não aprovaram o volume de postagens,
sendo que uma grande quantidade delas eram óbvias. Cortamos essas
obviedades e focamos no factual, o que foi prontamente aprovado pelos
seguidores.

Todas as postagens tem características do que Zago (2008) chamaria de


atualizações de alerta, “situações em que a conta no Twitter é utilizada para alertas
de informações que não necessariamente se caracterizam como notícias, na medida
em que se trata de informações como clima, trânsito, e incêndios” (p. 101). No
entanto, ao contrário da maior parte das atualizações desse tipo, as do
@bandtransitosp não são automáticas. Todas são redigidas manualmente, a partir
de uma extensão do navegador Mozilla Firefox chamada Twitterfox.100 Essa
ferramenta permite ao tuiteiro enviar e receber atualizações a partir do browser, sem
a necessidade de acessar o site do Twitter. O recurso é ágil, ao permitir enviar
mensagens ao mesmo tempo em que confere portais de informação. Oliveira (2009)
constata que o @bandtransitosp utiliza o Twitterfox “por ser a ferramenta mais
prática dentro dos nossos processos”.
A redação das micropostagens segue as diretrizes básicas do Jornalismo:
são objetivas, obedecem a ordem direta e contam com poucos adjetivos. A fórmula
mais comumente adotada pelos repórteres é começar os twits com uma via de
referência (“A Marginal Tietê”, “No Corredor Norte-Sul”, “A Avenida Paulista”) seguida
de uma breve descrição sobre a condição da mesma (“está congestionada em

100<http://twitterfox.net/>

46
direção ao centro”, “tem problemas no sentido Itaquera”). Quase todos os twits são
compostos por apenas uma frase, evitando pronomes relativos e omitindo verbos
quando necessário. As palavras mais repetidas nas tuitadas entre março e junho de
2009 foram avenida (799 vezes), sentido (782 vezes) e direção (590 vezes). Em
certa medida, os textos são repetitivos, o que é evitado nos jornais impressos. Por
outro lado, isso facilita o entendimento rápido das informações. Anderáos compara
os twits aos telegramas, e vê boas aplicações no exercício do jornalismo: “os
jornalistas estão acostumados a ter que sintetizar as informações nos títulos das
reportagens, tem tudo a ver com a profissão”. (2009, p. 2)
O poder de síntese celebrado por Anderáos constata-se na prática no
@bandjornalismosp. Nas mais de 2500 atualizações entre março e junho, o limite de
140 caracteres foi atingido em apenas 38 ocasiões. “Não há necessidade de mais do
que 140 caracteres para dar as informações de trânsito”, afirma Oliveira. Sobre a
repetitividade das atualizações, ela explica:

Em primeiro lugar, não há como comparar twitter com jornal impresso. O que
interessa é o serviço, o usuário conseguir a informação que precisa, na hora
em que precisa, da maneira mais direta possível. Trânsito em até 140
caracteres não precisa de grandes refinamentos de estilo, precisa de agilidade.
(2009)

Figura 11: As micropostagens do @bandjornalismo são simples e objetivas.

Apesar de em alguns momentos serem disparados vários twits em poucos


minutos, existe o cuidado de que cada atualização traga uma informação completa e
auto-suficiente. Ou seja: o internauta nunca precisa ler a próxima micropostagem
para entender a anterior. Esse fator, somado à redação objetiva das postagens e à

47
total ausência de links transforma o @bandtransitosp em uma página amigável aos
telefones celulares e outros dispositivos móveis. Desta forma, o motorista (ou um
dos passageiros) pode conferir na íntegra as últimas informações sobre o tráfego a
partir do próprio veículo. Anderáos lembra que, por não fornecer links para o
aprofundamento da informação, é ainda mais importante a redação de
micropostagens completas. Não apenas o estilo das postagens, mas a própria
escolha do Twitter como vetor de notícias sobre o trânsito paulistano foi planejada
para otimizar a comunicação entre repórteres e motoristas. É o que conta a editora
executiva do portal da Bandeirantes:

o Band Trânsito SP foi criado para ser um serviço. A nossa proposta é apontar
locais críticos no trânsito da cidade nos horários de rush de maneira simples e
eficiente. Consideramos o twitter a ferramenta que melhor nos serve a esse
propósito, principalmente porque os posts podem ser acessados em diversos
devices. (Oliveira, 2009)

Durante o mês de abril, não foi registrada participação do público ou


interação com os internautas a partir do perfil analisado – tanto que o
@bandtransitosp retribuiu apenas dois de seus mais de 700 seguidores (a dupla
seguida é de twitters oficiais de telejornais da Rede Bandeirantes). É o que Java et
al. (2008, p. 8) chamam de information source, páginas que são seguidas com muito
mais freqüência do que seguem, devido ao valor da informação emitido por elas.
Apesar da ausência de interação, Oliveira surpreendeu-se com a recepção
dos internautas ao microblog. De acordo com ela, os seguidores foram atraídos sem
qualquer divulgação formal. Outro ponto destacado pela editora é a quantidade de
RTs alcançados pela conta. “Esse sim é um ótimo parâmetro”, diz. RT é a
abreviatura de Re-Twittered, e se refere às postagens copiadas e reproduzidas por
terceiros, sempre apresentando a fonte. A quantidade de postagens do
@bandtransitosp retuitadas demonstra que as atualizações agradam aos seguidores
a ponto de serem reproduzidas, o que também ajuda ajuda a difundir o endereço.

48
3.2.2 Roda Viva

No ar desde 1986, o Roda Viva é um dos mais antigos e populares


programas de entrevistas da televisão nacional. Exibido pela TV Cultura nas noites
de segunda-feira e retransmitido por outras 289 emissoras em todo o território
nacional, já recebeu centenas de personalidades brasileiras e estrangeiras, de
diversas áreas. A característica mais conhecida do programa é a presença de um
único entrevistado por semana, que responde às perguntas de vários jornalistas e
especialistas convidados, com a supervisão de um mediador, hoje Heródoto
Barbeiro. O Roda Viva é adepto das novas mídias: os internautas podem assistir na
web, com exclusividade, à entrada e recepção dos participantes e, a partir das 18h
30min, acompanhar às entrevistas ao vivo antes mesmo da transmissão televisiva
(que acontece às 22h 10min). O portal IPTV Cultura,101 onde são exibidas as
transmissões (em três câmeras diferentes) também fornece um canal de bate-papo,
onde os espectadores podem conversar.
O Roda Viva está presente no Twitter – desde maio de 2008 tem conta no
serviço. Inicialmente, o cadastro foi criado para evitar que outras pessoas
utilizassem o nome do programa, mas devido ao crescente número de seguidores
que a conta atraiu, passou-se a usá-la (Träsel, 2008, p. 7). No final de maio, quase
três mil pessoas seguiam a página, administrada pelo jornalista Helio Soares, editor
do Roda Viva e responsável pelo site do programa.102
Uma das principais características do @rodaviva é a estreita relação com o
homônimo televisivo. O portal do programa trata essas práticas multimidiais como
“consolidação de um modelo de transmissão que integra TV e internet que vem
sendo desenvolvido no Roda Viva desde setembro de 2008 em caráter
experimental”. Apesar da linguagem e conteúdo adaptados, as postagens sempre
remetem ao correspondente televisivo. Um exemplo são as freqüentes indicações de
links para rever trechos do programa, como nessa micropostagem de 20 de abril:
“melhores momentos da entrevista com o historiador Carlos Guilherme Mota
http://tinyurl.com/d3vv3c”. Por apoiar-se freqüentemente em uma mídia extra-internet

101<http://www.iptvcultura.com.br/>
102<http://www2.tvcultura.com.br/rodaviva/>

49
(televisão), a página acaba remetendo ao estágio Hipertextual Básico de Ribas
(2004). Caso o programa de TV não existisse, o microblog dificilmente existiria. No
entanto, o fato das atualizações terem sido escritas especialmente para o serviço
justifica a definição do twitter do Roda Viva como pertencente ao estágio
Hipertextual Avançado.
De qualquer forma, o Roda Viva televisivo pauta de tal forma o equivalente
virtual a ponto de certas micropostagens se tornarem previsíveis. São mensagens
de rotina, repetidas toda semana com um formato pré-estabelecido. Um exemplo é o
anúncio dos nomes dos entrevistadores convidados para a próxima edição do
programa, feito sempre aos sábados (ou raramente aos domingos) anteriores à
exibição. Antes da transmissão via internet também é enviada uma postagem de
rotina com o link para acompanhá-la. Essas postagens fiéis a um cronograma
acontecem ao menos duas vezes por semana, e facilitam o trabalho dos seguidores
que vasculham o microblog em busca de informações sobre os programas do
passado e do presente. Da mesma forma, micropostagens informativas que
convidam os internautas a assistirem às entrevistas são uma maneira alternativa de
divulgá-las, e funcionam como uma espécie de chamada.
Para Helio Soares (2009), que administra o @rodaviva, o uso do microblog
como ferramenta de propaganda é válido inclusive para canais privados: “o Twitter é
muito novo, ainda, mas está sendo usado, principalmente, como forma de
publicidade e divulgação”. De acordo com Soares, a atração de novos
telespectadores é algo natural, afinal o Twitter é um espaço extra onde está sendo
divulgado o nome do programa, ainda que “só segue o Roda Viva quem gosta das
propostas do programa em apresentar um tema para análise e discussão”. O uso
exclusivo do microblog como um canal para a informação de horários e detalhes de
programas televisivos assemelha-se às páginas de portais noticiosos atualizadas
exclusivamente por manchetes ou títulos de notícias. Essa adoção do Twitter por
organizações jornalísticas motiva uma crítica de Soares:

como forma de interação com os internautas acho que o twitter ainda não é a
melhor ferramenta para isso. O que não significa que possa se transformar em
um ótimo meio de comunicação. Por enquanto, está se transformando apenas
em uma via de mão única. As empresas informam o que querem mas não
existe a interação.

50
A página do Roda Viva contabiliza 23 atualizações entre os dias 1° e 30 de
abril. Utilizando como base os usos jornalísticos apontados por Zago (2008), essas
postagens podem ser divididas nas três categorias seguintes:

● Bastidores (13 ocasiões) – Micropostagens em que são reveladas


informações extras sobre o programa, como os nomes dos entrevistados e
formas de acompanhar os melhores momentos do edição. Também fazem
parte dessa categoria atualizações que convocam os internautas a colaborar
ou visitar páginas eletrônicas.
● Programação (7 ocasiões) – Micropostagens que anunciam data,
horário e / ou forma de veiculação do programa (televisão ou internet). Elas
são periódicas e normalmente contém hiperlinks.
● Misto (3 ocasiões) – Micropostagens com características das duas
categorias anteriores.

Figura 12: Duas postagens de bastidores seguidas por uma de alerta na página do Roda Viva.

A interação com outros twitters não é o forte da conta do Roda Viva. Durante
o mês de abril, em apenas duas ocasiões as micropostagens citaram ou dirigiram-se
a algum seguidor em especial, número bem menor que a quantidade de vezes em
que seguidores utilizaram o comando @rodaviva. Helio Soares (2009), que mantém
a conta, justifica:

51
Eu atualizo o twitter do Roda Viva apenas com informação, pois o programa é
maior do que qualquer opinião. Não posso utilizar o twitter do Roda Viva para
emitir opiniões pois esse não deve ser o seu objetivo. Fico restrito apenas a
informar os nomes dos convidados (quem segue o Roda Viva fica sabendo
primeiro quem será o próximo entrevistado), entrevistadores e datas de
gravação. Informação pura.

Na verdade, a interação entre Roda Viva e telespectadores no Twitter ocorre


com mais freqüência através de outros perfis. Afinal, a presença do programa no
microblog não se dá de forma unipolar: a cada edição, três usuários do serviço – não
necessariamente jornalistas – são escalados para realizar uma cobertura
instantânea das entrevistas a partir de suas contas pessoais. Eles ficam na bancada
do programa, e registram em poucas palavras suas impressões: relatam reações do
entrevistado e dos entrevistadores, indicam links para complementar algo que fora
abordado, e são livres para interagir com os internautas. Nem sempre usam
computadores: alguns digitam atualizações através dos próprios celulares, o que
mostra que aparelhos portáteis de difusão de informações não precisam ser usados
necessariamente fora dos estúdios.
Os tuiteiros na bancada mudam a cada edição, e estão presentes desde
maio de 2008. Pedro Gabriel (2008), blogueiro que participou da primeira
experiência, conta que

o bacana da idéia [...] é o fato de trazer as conversas que aconteceriam em


casa, entre pessoas assistindo juntas, para dentro do programa. [...] A iniciativa
empurrou a interatividade da internet pra mais perto da TV. Simples assim. Não
disse que empurrou pra dentro, só pra mais perto.

As postagens do trio de convidados e da conta @rodaviva costumam ser


acompanhadas da tag #rodaviva, no início ou no fim dos microtextos. Das 23
atualizações veiculadas no mês de abril na página do programa, 14 contém a
palavra. Apesar do Twitter chamar os termos antecedidos pela cerquilha (#) de
Trending Topics, o vocábulo tag, importado da blogosfera,103 se popularizou. No
Twitter, palavras antecedidas por esse símbolo redirecionam automaticamente para
uma página de busca104 onde outras micropostagens com o termo marcado são
exibidas de forma cronológica inversa. De certa forma, a prática acabou se
103Tags são palavras-chaves que normalmente acompanham postagens em blogs. Inseridas em
locais de destaque, são utilizadas para indicar os temas tratados pelo texto e para facilitar a
pesquisa das postagens em motores de busca.
104<http://search.twitter.com/search?q=rodaviva>

52
popularizando também entre os espectadores do Roda Viva: só na primeira semana
de maio, 327 micropostagens foram enviadas contendo a tag #rodaviva,
transformando a página indicada pelo termo em uma espécie de chat temático. A
título de comparação, as expressões “roda viva” e “Roda Viva” somadas apareceram
apenas 98 vezes no mesmo período, mesmo tratando-se do nome oficial do
programa televisivo.
Essas postagens sinalizadas são rastreadas e aparecem no mesmo site
onde o programa é transmitido, em uma janela separada. Dessa forma, é possível
acompanhar a entrevista e os comentários dos espectadores simultaneamente.
Soares (2009) conta que a maior parte dos internautas não está preocupada em
interagir diretamente com os participantes do programa, mas sim emitir opiniões
sobre os convidados e temas discutidos. Diferentemente do que ocorre ao comentar
na maior parte dos blogs tradicionais (inclusive no da própria TV Cultura), 105 as
mensagens no portal do programa são enviadas instantaneamente, sem filtro ou
moderação.

Figura 13: Os comentários dos internautas sobre o Roda Viva aparecem no site que transmite o
programa, em uma janela à parte.

Para Pedro Markun, um dos responsáveis pela implementação do Twitter no


programa, a possibilidade dos espectadores interagirem através do microblog é uma

105<http://www2.tvcultura.com.br/blog/site/>

53
maneira de convidar a platéia,

aquele circulo de fora onde estudantes e interessados geralmente são


chamados para assistir passivamente ao programa e quem sempre me causou
um pouco de desconforto – para twittar comentários e pensamentos sobre a
cena que está se passando logo abaixo na arena. (2008, p. 1)

Markun completa, ao afirmar que a característica mais significativa da


adoção do Twitter pelo Roda Viva é o fato de ninguém precisar de convite para
participar. Ainda que uma parcela ínfima dos usuários seja citada durante o
programa televisivo, eles aparecem livremente na transmissão via web e podem
interagir entre si e com os três twitters da bancada. Nesse ponto, a adoção do
microblog como plataforma de interação entre receptores de informação torna-se
bem diferente do que acontece nas mídias tradicionais, onde os espectadores
precisam aguardar a reabertura do canal de interação (seção de cartas do jornal,
programas de rádio com participação do público) para começar / reiniciar um debate.
Desta forma, os debates na internet dispensam pauta e gatekeepers, e podem
prolongar-se indefinidamente. Mesmo após o fim do programa, os internautas
podem aproveitar as características interativas e de arquivamento do Twitter, que
possibilitam consultar postagens antigas e replicá-las.

3.2.3 Trip

Lançada em 1986, a revista Trip (o nome significa viagem ou jornada, em


inglês) é distribuída mensalmente em todo o país, com uma tiragem de 50 mil
exemplares. É a principal marca da editora independente Trip, que publica sete
títulos e define-se como “uma das maiores intérpretes dos códigos de
comportamento e comunicação de públicos específicos do Brasil”.106 A publicação
caracteriza-se pelas reportagens a respeito da cultura e sociedade e tem como alvo
os jovens de classe média e alta.
A identificação com a juventude contribuiu para que a Trip se tornasse uma
das primeiras revistas a chegar à internet, em 1996. O portal contém reportagens
106<http://revistatrip.uol.com.br/institucional/quemsomos_apresentacao.htm>

54
exclusivas e desde março de 2009 reproduz o conteúdo da revista impressa. O
twitter da Trip, criado em setembro de 2007, conta com mais de 6 mil seguidores. É
uma ferramenta baseada na web que soma às já usadas pela publicação, como
canal no YouTube,107 perfil no Flickr108 e comunidade no Orkut.109 O microblog é
atualizado pelos dez funcionários da equipe de Mídias Eletrônicas da Trip, também
responsáveis pela manutenção do site.
A adoção de todos esses recursos permite questionar como se dá a
interação entre as micropostagens e as outras formas de comunicação com o
público. De fato, o portal da revista menciona o Twitter em mais de 10 mil páginas,
número impulsionado pelo link praticamente fixo do serviço em um box lateral. Por
outro lado, as postagens na página do blog da redação 110 – outro canal de interação
entre repórteres e leitores – mencionam o Twitter sete vezes. Existe até uma tag
específica para textos referentes ao Twitter, evidência de que há preocupação em
divulgar o microblog a partir das mídias antigas. A recíproca também é verdadeira: o
site da Trip é citado diversas vezes entre as atualizações; e o próprio blog da
redação é linkado uma vez.

Figura 14: O diálogo entre o blog e microblog da Trip é constante.

No entanto, nem todas as notícias e reportagens veiculadas são


reproduzidas pelo @revista_trip. De acordo com Flora Paul (2009), repórter do site

107<http://www.youtube.com/user/trip>
108<http://www.flickr.com/groups/revistatrip>
109<http://www.orkut.com.br/main#community.aspx?cmm=73966>
110<http://revistatrip.uol.com.br/blogs/redacao/>

55
da publicação e integrante da equipe que redige as micropostagens, uma das metas
da Trip é justamente difundir todas as novidades escritas no portal. A página não é
capaz de emitir feeds a agregadores como o Google Reader,111 limitando a ação de
serviços capazes de transformá-los em tuitadas automaticamente, como o
Twitterfeed.112 Resultado: as ligações hiper-midiáticas são construídas manualmente,
ao contrário do que acontece no @estadaonews e @zerohora.
Uma das vantagens do conteúdo original não ser copiado à risca é o fato
das atualizações serem redigidas com cuidado, para adaptarem-se bem às
limitações do Twitter, em especial aos 140 caracteres. Conseqüência: algumas
tuitadas tornam-se bem distintas das manchetes originais. Uma reportagem
hospedada no site com o título e linha de apoio “Luiz Felipe Pondé – O filósofo e
professor fala sobre os medos do mundo moderno, igreja e crise mundial” se
transformou, no Twitter, em “Não ouviu ainda o Trip FM com o filósofo e professor
Luiz Felipe Pondé? Clica http://tinyurl.com/cprqtz” [link para a reportagem no site]. A
utilização de verbos no modo imperativo (clique, leia, assista) é constante nos twits
da Trip, e um diferencial em relação às headlines. Outro adendo comum aos títulos
transformados em twits são expressões chamativas como “com exclusividade”. Ou
seja: além de utilizar o Twitter como mídia difusora (o que é comum), a Trip remodela
as micropostagens que contêm hiperlinks, procurando torná-las mais atrativas (o que
é incomum).
Paul (2009) reitera o uso do Twitter como instrumento divulgador:

Não dá para garantir que todo mundo que adiciona nosso twitter compre a
revista, mas dá pra perceber um interesse pelo conteúdo, que fica disponível
integralmente no site. A ideia é divulgar o conteúdo. Acho que o Twitter se
caracterizou, para todo tipo de mídia, como uma forma de divulgar conteúdo. A
pessoa lê em 140 caracteres e se gostar, lê mais. É interessante. Um feed bem
rápido.

Apesar do nome da página, o twitter da @revista_trip não cita apenas os


produtos da marca, mas também outros títulos da mesma editora e mesmo um
programa de rádio do grupo. O Trip FM, transmitido pela rádio Eldorado, é abordado
em algumas atualizações. A revista TPM,113 a segunda principal publicação da
editora Trip, é citada duas vezes durante o mês de abril. Paul nega que as
111<http://www.google.com.br/reader/>
112<http://twitterfeed.com/>
113“Trip Para Mulheres”, revista lançada em 2001. <http://revistatpm.uol.com.br/>

56
atualizações tenham caráter meramente comercial:

Existe um diálogo entre os twitters da Trip e da TPM, porque são públicos muito
parecidos e as revistas não se limitam, por exemplo, na divisão "pra homem" e
"pra mulher", então é uma forma de divulgar uma nota que pode estar num site,
mas ser interessante para os público das duas revistas. (2009)

Entre os dias 1° e 30 de abril, houve 38 atualizações. As postagens,


bastante heterogêneas, podem ser enquadradas em categorias diversas. A seguir,
as modalidades exploradas pela página @revista_trip, utilizando como base os usos
do Twitter apontados por Zago (2008).

● Feed (18 ocasiões) – Micropostagens que adotam estilo semelhante


ao de um feed: apresentam resumos de matérias (retiradas normalmente do
site da Trip) acompanhados de um link que redireciona para os textos
completos. Como foi visto, a revista dá tratamento especial às atualizações
que direcionam a outras páginas.
● Pessoal (6 ocasiões) – Micropostagens que apesar de normalmente
vinculadas ao veículo jornalístico, são redigidas em um tom mais informal e
menos institucional.
● Bastidores (5 ocasiões) – Micropostagens com detalhes sobre a
rotina da redação, bem como informações extras sobre a produção das
reportagens veiculadas na revista e no site. Atualizações que respondem a
perguntas de seguidores costumam integrar essa categoria.
● Programação (3 ocasiões) – Micropostagens que divulgam data e /
ou horário do lançamento da revista ou da veiculação de um programa de
rádio vinculado à publicação. Normalmente são acompanhadas por links.
● Misto (3 ocasiões) – Micropostagens com características de duas ou
mais categorias anteriores.

As postagens de bastidores da Trip costumam antecipar entrevistas ou


reportagens, vez ou outra requerendo a participação do público. Um exemplo:
“Gravação com Wanderléa amanhã pro TRIP FM. Sugestões de perguntas?”.
Informações sobre o deslocamento de repórteres também são comuns no

57
@revista_trip. Para Tiago Dória (2007, p. 1), a utilização do Twitter como divulgador
da rotina dos jornalistas, “foge daquele esquema burocrático de utilizar a ferramenta
de microblogging como um publicador de feed RSS”. Cirilo Dias, repórter da Trip,
conta outra modalidade de postagem que tem espaço no microblog: “o que é o
Twitter? É basicamente a volta do post descompromissado. Sabe aquele assunto,
link interessante, um comentário que surge do nada, que você não mandaria por e-
mail ou sms? Então, você 'twitta' ele.” Para Paul (2009), esta é razão pela qual não
há redundância no caso de um veículo de comunicação, como a Trip, ter
simultaneamente blog e microblog: “lendo 140 caracteres você não consegue ter o
mesmo nível de informação do que tem em uma postagem de blog”.
Atualizações do tipo pessoal são raras em twitters jornalísticos. Mesmo as
páginas não impulsionadas por feeds costumam adotar uma postura corporativa,
distante do seguidor. O twitter da Trip desafia essa estratégia: como pôde ser visto
na figura anterior, algumas atualizações utilizam a primeira pessoa. Outras duas
marcas no discurso que constatam a informalidade do discurso é a utilização de
expressões populares, como “massa” e “legal”, e a adoção de frases de apelo
intimista, seja com perguntas – “Vocês já conhecem o Blip.fm da revista Trip?” – ou
dirigindo-se diretamente a um seguidor – “@bandaquiker pode mandar email para
web@trip.com.br ou cartas@trip.com.br”. Paul (2009) explica que as postagens em
primeira pessoa são raras, mas usadas algumas vezes para responder aos usuários.
Para ela, o Twitter é um ambiente adequado para a adoção de uma linguagem
coloquial. “É uma forma de criar um diálogo com o público. [...] O Twitter é uma rede
social, no fim das contas. Não existiria motivo para ser superformal”.
Outra estratégia para chamar a atenção dos seguidores é o anúncio de
promoções exclusivas para os twitters. Em duas ocasiões a Trip desafiou os leitores
a responder uma questão relacionada a uma das reportagens da Trip daquele mês,
como “Por que ir ao show do Curumin [artista entrevistado na última edição da
revista] não é programa de índio?”. Os concorrentes precisavam enviar a resposta
ao twitter @revista_trip, marcada com a tag #PromoTrip. Ao vencedor foram
concedidas assinaturas e camisetas.

58
Figura 15: Em seqüência: micropostagens do tipo Pessoal, Feed, Misto (Bastidores e Programação) e
Bastidores.

As promoções que contam com a participação de twitters são apenas um


dos exemplos de como o microblog pode ser utilizado para interagir com os leitores.
No mês de abril, houve cinco ocasiões em que a página da revista respondeu a
internautas (utilizando o @). As dúvidas solucionadas referiam-se a como fazer
assinatura, ao endereço da publicação, sugestões de reportagens etc,
transformando o twitter da Trip em um misto de Cartas dos Leitores e SAC. Pacuello
(2008, p. 6) só vê vantagens na utilização do microblog como canal empresa-leitor:

A possibilidade de usar o Twitter como meio de comunicação direta é infinita.


Pode-se chegar ao cliente final e a todos os interessados por meio de uma
única mensagem. [...] É o meio mais rápido para que a empresa publique uma
resposta a qualquer situação, seja uma crítica ou apenas um elogio. Pode ser
considerado como primeiro passo para qualquer resposta.

Através dessa estratégia de comunicação no Twitter, a revista não agrada


apenas aos leitores ávidos por notícias e links de reportagens, mas também aos
internautas que buscam informações sobre a revista ou editora. A presença da
empresa no microblog e a conseqüente sensação de proximidade por parte dos
leitores / consumidores gera credibilidade, sentimento igualmente desejável por
jornalistas e executivos.

59
CONSIDERAÇÕES FINAIS

É difícil estimar em que medida o sucesso do Twitter em arregimentar


usuários se deve às suas características inatas como propagador de notícias.
Certamente é um fator que deve ser levado em consideração, devido ao crescimento
e interesse contínuos por perfis especializados em difundir informações. Na verdade,
79% dos usuários alegam terem tido conhecimento de uma notícia através do
Twitter.114
Por outro lado, é precipitado dizer que o serviço vêm “furando” a imprensa.
Em muitas das ocasiões em que um tuiteiro descobriu uma notícia pelo microblog,
esta foi apurada e redigida por jornalistas de veículos tradicionais, e posteriormente
replicada. Assim, o Twitter não deve ser imaginado como potencial substituto dos
jornais e revistas, ou mesmo dos blogs e portais. O microblog é uma mídia-suporte,
uma plataforma de informação – e ainda que o conteúdo noticioso veiculado no
Twitter aproveite-se de recursos exclusivos, ele é intensamente baseado em meios
antigos. É um intermediador extra entre emissores e receptores de notícias,
moderno, portátil, ágil e gratuito.
Vantagens à parte, o Twitter também tem limitações como mídia-suporte.
Algumas delas implacáveis (limite de 140 caracteres, ênfase no formato texto).
Outras contextuais: o Twitter não tem uma quantidade de usuários suficientemente
massiva. Mesmo com o crescimento surpreendente dos últimos anos, o público é
homogêneo. Mais de 80% dos tuiteiros tem menos de 30 anos, e 77% possuem
blogs. Esse último dado demonstra que a maior parte dos atuais usuários do Twitter
são os heavy-users, internautas acostumados a experimentar os serviços da web.
Ou seja, o Twitter sequer funciona como porta de entrada para a internet, como
acontece com o Orkut.
Assim mesmo, a diversidade de páginas criadas por profissionais e veículos
de imprensa demonstra que a relação entre mídia e Twitter não é temporária. A cada
semana, mais jornais, revistas, rádios e portais estréiam no microblog, o que
evidencia que as velhas mídias apostam no crescimento da twitosfera. Até mesmo
114Os dados foram retirados de pesquisa feita por Racuel Recuero e Gabriela Zago com 903 twitters.
A pesquisa ainda não foi divulgada, mas alguns dados foram expostos gradualmente no blog de
uma das autoras. <http://www.raquelrecuero.com/>

60
veículos conservadores renderam-se ao serviço. O movimento não é unilateral – os
informative source do Twitter têm cada vez mais seguidores. Dois dos dez perfis
mais populares são mantidas por redes de comunicação, número relevante frente a
um site originalmente projetado para saber apenas “what are you doing”.
Aliás, se uma quantidade considerável de pessoas sente-se bem informada
ao acompanhar micropostagens, isso se deve também à qualidade original e jamais
perdida de rede social característica do Twitter. Afinal, se há alguém com alta
probabilidade de repassar links ou retwittar micropostagens relevantes, são os
próprios amigos e conhecidos. Recursos como os trending topics e o search, que
permitem aos usuários vagar entre temas que lhes interessam, pesam bastante para
o sucesso do serviço como agregador de informações, mesmo que boa parte delas
tenham sido originalmente apuradas por veículos tradicionais.
É verdade que casos como o da queda de um avião em um rio novaiorquino
ou do terremoto no México demonstram que os tuiteiros podem ocasionalmente sair
na frente da imprensa. A otimização do reporte de tragédias e acontecimentos
hiperlocais através dos “jornalistas cidadãos” é, de fato, uma das principais, senão a
principal, contribuição do Twitter à comunicação. Mas se os usuários regulares do
Twitter tem o benefício do anonimato, quantidade e instantaneidade; o capricho nas
apurações e cuidado com os dados ainda é trabalho da imprensa. Feitas as devidas
ressalvas, os “tuiteiros-repórteres” estão mais para fonte do que concorrentes dos
jornalistas.
De qualquer forma, as experimentações passivas (uso como fonte) e ativas
(uso como mídia-suporte) por parte da imprensa com o Twitter ainda são insipientes,
concentradas quase que integralmente na difusão de feeds. Acostumada aos velhos
padrões, a mídia ainda não se deu conta do poder do microblog como agente em
coberturas extraordinárias, ao vivo e através de dispositivos portáteis. A interação
com leitores, mais direta e menos burocrática do que em outros webserviços
também é um terreno a ser explorado.
Claro que há exceções para a regra que rege os perfis da imprensa, em sua
maioria pouco criativos. A pesquisa constatou que há contas mantidas por
organizações de mídia – ainda que poucas – que exploram e aproveitam ao máximo
os recursos e peculiaridades do Twitter. Essas páginas, modernas e
experimentalistas, adotam o microblog como serviço integrante da rotina produtiva,

61
simultaneamente aos outros meios digitais e analógicos. Quando todos os veículos
agem em simbiose e a estratégia multimídia é bem sucedida, os espectadores ficam
melhor informados e satisfeitos.

62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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63
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apropriações jornalísticas do Twitter. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por
<franciscomachado@univali.br> em 6 abril 2009.

69
APÊNDICE A – ENTREVISTA COM ANA OLIVEIRA

1. Quem são as pessoas responsáveis em atualizar o @bandtransitosp?


2. Por que razão a freqüência de postagens no twitter do Band Trânsito
SP é irregular? Em 30 de abril houve 7 atualizações, em comparação às 82
no dia 2 de abril.
3. Como vocês selecionam as notícias que aparecerão no Twitter? As
principais fontes (CET e rádios da Rede Bandeirantes) disparam mais
informações do que é veiculado no microblog.
4. Por que o Twitterfox (extensão do navegador Firefox) é tão utilizado
para escrever as atualizações?
5. Todas as postagens que analisei são independentes, ou seja, o
internauta não precisa ler a postagem anterior ou a seguinte para entender a
informação. É difícil concentrar tantos dados em apenas 140 caracteres?
6. Em certa medida, as postagens são repetitivas, seguindo a fórmula
lugar + verbo de ligação + o que está acontecendo no local. Essa repetição
não é comum no jornal impresso. No Twitter, isso é intencional?
7. Qual o retorno que o Band Trânsito SP está recebendo? É possível
viabilizá-lo comercialmente?

70
APÊNDICE B – ENTREVISTA COM FLORA PAUL

1. Quem são as pessoas responsáveis pelo twitter da Trip, e por que


elas foram escolhidas?
2. A adesão ao Twitter pela Revista Trip é uma forma de atrair e interagir
com os leitores atuais, ou também serve, de alguma forma, para atrair novos
leitores?
3. Por que razão o perfil da Trip no Twitter não trata apenas da revista,
mas também de outras publicações da mesma editora e mesmo de outros
sites?
4. A revista Trip possui blog. Qual a diferença entre os textos escritos no
blog e no microblog, e como fazer com que as postagens e micropostagens
não se tornem redundantes?
5. Qual o critério usado pela revista para selecionar os links postados no
Twitter direcionados ao site da revista, visto que não é um processo
automático (feed), e desta forma nem todos são escolhidos?
6. Se o perfil da revista é atualizado de forma coletiva, por que algumas
postagens usam uma linguagem intimista, até mesmo adotando a primeira
pessoa do singular?

71
APÊNDICE C – ENTREVISTA COM HELIO SOARES

1. Quem são e de que forma foram escolhidos os responsáveis em


atualizar o twitter do Roda Viva?
2. De acordo com o site do programa, não há filtros ou censura na janela
que exibe os tuiteiros que escrevem a “tag” #rodaviva nas postagens. Vocês
não temem ser atacados por spammers ou usuários inconvenientes?
3. A adesão ao Twitter pelo Roda Viva é uma forma de agradar e
interagir com os telespectadores atuais, ou também serve, de alguma forma,
para atrair novos receptores?
4. No momento, o perfil do programa reserva-se quase que
integralmente ao anúncio de transmissões e detalhes sobre os convidados.
Mesmo com 2.800 seguidores, há pouca interação. Vocês pretendem ampliar
a possibilidade de interação entre Roda Viva e usuários através do Twitter?
5. Os três convidados que twittam na bancada utilizam-se
exclusivamente de computadores, ou podem usar celulares?

72
AUTORIZAÇÃO

Autorizo a Universidade do Vale do Itajaí (Univali) a utilizar esta monografia com


objetivos didático-pedagógicos e de divulgação, sem fins lucrativos e comerciais.

___________________________
Francisco Antônio Machado da Silva
Autor da Monografia

Itajaí,
2009/1

73
ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS

____________________________
Francisco Antônio Machado da Silva
Acadêmico

____________________________
Rogério Christofoletti
Orientador

74

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