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Itajaí
2009
FRANCISCO ANTÔNIO MACHADO DA SILVA
Itajaí
2009
1
FRANCISCO ANTÔNIO MACHADO DA SILVA
__________________________________
Prof. Dr Rogério Christofoletti
Univali – CE de Itajaí
Orientador
__________________________________
Profª Msc. Vera Lucia Sommer
Univali – CE de Itajaí
Membro do Corpo Docente
_________________________________
Carlos Castilho
Jornalista
Membro Convidado
2
Communication is the art of being understood
Peter Ustinov
3
RESUMO
Palavras-chave:
Webjornalismo – Microblog – Twitter – Multimidialidade – Mobilidade
4
ABSTRACT
Microblogging services are web-based tools that merge features of blogs, instant
messengers and social networks. Users write posts up to 200 characters and can
display it publicly or to a restricted group. Twitter is the most popular microblogging
service. Created in the United States in 2006, it gathered more than seven million
users in less than three years. Due to their unique communication features that
combine ubiquity, instantaneity and mobility, Twitter and other microblogging services
are being increasingly used for informational and journalistic purposes. This study
aims to examine, scientifically, the contribution of these services to current Brazilian
journalism. With the help of literature search, microblogging services are described
and contextualized. Then, the peculiar features of Twitter that differentiate it from
other media are presented. Finally, three profiles maintained by journalists in Twitter
are investigated. The analysis of these pages, chosen for its experimental and
informational nature, aimed to investigate the process of journalist microblogging
maintenance. The investigation adopted qualitative research methods: content
analysis and interviews with the maintainers of the three accounts helped to discover
the contribution of Twitter to process of writing, editing and publication of news. The
result is an overview of Twitter by the Brazilian press and the main apropriations
made by the media from the microblogging service.
Keywords:
Online Journalism – Microblogging Service – Twitter – Multimediality – Mobility
5
LISTA DE FIGURAS
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................9
1 MICROBLOG – CONCEITO E CONTEXTO............................................................12
2 O JORNALISMO DESCOBRE O TWITTER............................................................27
3 O TWITTER APLICADO AO JORNALISMO............................................................40
3.1 Aspectos Metodológicos........................................................................................41
3.2 Análise das contas jornalísticas no Twitter............................................................45
3.2.1 Band Trânsito SP................................................................................................45
3.2.2 Roda Viva...........................................................................................................50
3.2.3 Trip......................................................................................................................55
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................64
7
INTRODUÇÃO
Você foi escolhido como personalidade do ano pela revista Time em 2006.
Não é brincadeira: a tradicional publicação americana, que já estampou líderes
como Franklin Roosevelt e Charles de Gaulle na edição especial de fim de ano1,
elegeu You como Person of the Year. A capa de dezembro de 2006 destacava uma
tela de computador exibindo o YouTube2. Logo abaixo, a manchete: “Sim, você. Você
controla a Era da Informação. Bem-vindo ao seu mundo”3.
Terceiro site mais popular do planeta4, o YouTube era, e talvez ainda seja, o
maior símbolo da web 2.0. Apesar dos conceitos difusos, convencionou-se que uma
das principais características da web 2.0 ou de seus sinônimos web colaborativa e
web comunitária é a intensa participação de usuários comuns na construção de
conteúdo. E o YouTube, portal onde qualquer internauta pode hospedar vídeos e
divulgá-los ao mundo é um dos principais tentáculos da nova web, onde você se
torna protagonista. Primo (2007, p. 2) diz que “a web 2.0 tem repercussões sociais
importantes, que potencializam processos de trabalho coletivo, de troca afetiva, de
produção e circulação de informações de construção social de conhecimento
apoiada pela informática”.
Sites como o YouTube representam uma novidade em relação aos portais
quase estáticos da web 1.0, mantidos por apenas uma pessoa ou organização.
Atualmente, quase todos os grandes portais – mesmo os que surgiram durante o
ápice da velha web – abraçaram recursos colaborativos, como sistema de
comentários ou de envio de conteúdo por leitores. Quem resistiu, como a
conservadora Enciclopédia Britânica Online5, ficou para trás: hoje a Wikipedia6,
compêndio onde os artigos são redigidos e editados por anônimos, lidera o
segmento.
Com a ajuda da tecnologia, a web comunitária tornou antes passivos
internautas em protagonistas ativos e produtores de conteúdo. Transformada em
1 TIME. New York: Time Warner, v. 168, 25 dec. 2006.
2 <http://www.youtube.com/>
3 “Yes, you. You control the Information Age. Welcome to your world”.
4 De acordo com a Alexa, companhia que calcula o tráfego na internet, Yahoo e Google são os dois
sites mais populares. <http://www.alexa.com/site/ds/top_sites?ts_mode=global&lang=none>
5 <http://www.britannica.com/>
6 <http://wikipedia.org/>
8
uma imensa rede social, inaugurou mudanças na comunicação. Graças a ela
podemos visualizar, no Flickr7, fotos tiradas do outro lado do mundo por fotógrafos
amadores, ou escutar músicas compostas por jovens irlandeses independentes no
MySpace8, bem como ler e escrever textos sobre qualquer assunto em plataformas
de criação de blogs como o Wordpress9.
Por falar em blogs, é possível dizer que eles são um dos mais velhos filhos
da web 2.0. Em 1992, quando a internet ainda não cruzara as fronteiras dos Estados
Unidos e os futuros criadores do YouTube estudavam em high schools, Tim-Berners
Lee já publicava, em postagens sucessivas e periódicas, as novidades de seu mais
famoso projeto: a world wide web10. No entanto, o blog de Lee, bem como todos os
outros blogs do início dos anos 90, eram manuseados através do código-fonte, algo
pouco amigável para usuários comuns.
O número de blogueiros cresceu exponencialmente na virada do século,
quando surgiram as primeiras ferramentas intuitivas de criação de páginas
eletrônicas, como o Open Diary11 e o LiveJournal12. Os “diários virtuais” (o nome blog
deriva da expressão web log – “registro na rede” – que também sugere o trocadilho
we blog, ou seja, “nós blogamos”) popularizaram-se a ponto de englobar mais de
133 milhões de endereços eletrônicos em 2008. O Technorati, rastreador de blogs
cuja pesquisa chegou ao número citado, considera a blogosfera – neologismo
referente à comunidade composta pelos blogs – “um verdadeiro fenômeno
mundial”13.
É impossível deixar de notar as peculiaridades dos blogs como meios de
comunicação, seja quando editados por jornalistas, especialistas em tecnologia ou
simples entusiastas. Pinho (apud Dreves, 2004, p. 33-35) cita algumas das
qualidades das postagens nos blogs: elas são instantâneas, interativas, não-lineares
e gozam da multimidialidade. Essas características chamam a atenção tanto das
universidades, que não param de publicar páginas e mais páginas de artigos sobre a
7 <http://www.flickr.com/>
8 <http://www.myspace.com/>
9 <http://www.wordpress.com/
10 Parte do conteúdo do mais antigo blog do mundo está salvo e pode ser acessado em
<http://www.w3.org/History/19921103-hypertext/hypertext/www/news/9201.html>.
11 <http://www.opendiary.com/>
12 <http://www.livejournal.com/>
13 Mais detalhes da pesquisa State of the Blogosphere / 2008 podem ser encontrados em
<http://technorati.com/blogging/state-of-the-blogosphere/>.
9
”nova” mídia; quanto dos veículos tradicionais de comunicação, eufóricos com as
possibilidades fornecidas pela rede, e ao mesmo tempo temerosos do que isso
representa para o futuro da indústria da informação. O início do século XXI foi um
período especialmente difícil para os velhos periódicos impressos: vários deles
encolheram e demitiram funcionários por conta das novas tecnologias de
comunicação na internet. Exemplo simbólico é o jornal sueco Post-och Inrikes
Tidningar, publicado desde 1645 e reconhecido pela Associação Mundial dos Jornais
como o mais antigo título em atividade. Todavia, a publicação deixou de ser
impressa em 2007. Hoje o jornal é, ironicamente, restrito à rede14.
Efeitos colaterais da web 2.0 à parte, os blogs e outros serviços derrubaram
o monopólio que a mídia tradicional detinha sobre a notícia, dividindo-a entre
milhares de internautas anônimos. Mais do que isso: eles deram voz aos que não
tinham voz. Temas renegados anteriormente ganharam endereços e autores
próprios na rede. O irlandês Tim O’Reilly, um dos principais teóricos da internet
contemporânea, acredita que os blogs são fios vitais na teia da web comunitária.
As vozes dos blogs não trafegam em mão única. Algumas páginas pessoais
são coletivas, editadas por múltiplos blogueiros. A maioria permite comentários ou
réplicas. Todas essas qualidades são típicas da web 2.0, e demonstram que bem
antes de surgirem Flickr e Wikipedia, os blogs eram um dos principais laboratórios
para experimentalismos. Quase quinze anos após o surgimento das primeiras
páginas pessoais, a idéia de que cada pessoa pode ter um espaço virtual para
escrever e comentar continua inspirando idéias. Uma das novidades mais bem
sucedidas será apresentada no capítulo a seguir.
14 <http://www.pointlex.se/>
15 If an essential part of web 2.0 is harnessing collective intelligence, turning the web into a kind of
global brain, the blogosphere is the equivalent of constant mental chatter in the forebrain, the voice
we hear in all of our heads.
<http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html?page=3>
10
1 MICROBLOG – CONCEITO E CONTEXTO
16 A type of blog that lets users publish short text updates. Bloggers can usually use a number of
service for the updates including instant messaging, e-mail, or Twitter. <http://www.webopedia.com/
TERM/m/microblog.html>
17 <http://www.twitter.com>
11
Dorsey, conta que estava interessado em criar uma ferramenta de interface simples
e intuitiva em que seus amigos pudessem lhe contar o que estavam fazendo18. O
nome do serviço origina-se de twit, que se refere, em inglês, aos sons agudos e
entrecortados produzidos pelas aves que normalmente podem ser escutados de
longe. Twit acabou virando um dos vários sinônimos de postagem no Twitter. No
Brasil, a tradução mais próxima de twit seria algo como pio, piada; mas
consagraram–se apelidos como microposts, micropostagens e até tuitadas. Quem
utiliza o Twitter é twitter (em minúsculo mesmo) ou tuiteiro. Aliás, twitter significa algo
como piador. O mascote do Twitter, um pássaro azul de espécie indefinida, remete à
expressão popular “um passarinho azul me contou” (em inglês, a little bluebird told
me), dito comumente usado antes de contar uma novidade ou algo inesperado.
Hoje existem mais de 200 “clones” do Twitter19, entre eles o Jaiku20
(adquirido pelo Google em 2007); o Plurk21, do A-Team e o brasileiro Gozub22. Sites
baseados na web 2.0 que já existiam antes do Twitter, como o Orkut23 e o
MySpace24, também implantaram extensões, normalmente chamadas de status
updates (atualizações de estado), que simulam os microblogs. Há “twitters”
baseados em voz, em vídeo, com ou sem limite de caracteres. Apesar da
concorrência, o pioneiro dos microblogs se mantém como o mais popular: a Nielsen
NetView25 estima que o Twitter contava, em fevereiro de 2009, com mais de sete
milhões de usuários (a Obvious não divulga publicamente esse dado), número
equivalente à população da Suíça. É um crescimento de 1382% em relação ao
mesmo mês do ano anterior. Para comparar, o Facebook, o mais popular site de
relacionamentos do mundo, cresceu “apenas” 220% no mesmo período. Outro
resultado da pesquisa: 61,3% dos tuiteiros tem entre 25 e 49 anos. O site
especializado em tecnologia TechCrunch26 estima o valor do Twitter em US$ 250
milhões.
18 <http://twitter.com/about#idea>
19 De acordo com o blog chinês Thws, que acompanha serviços desenvolvidos para a web 2.0.
<http://www.thws.cn/articles/twitter-clones.html>
20 <http://www.jaiku.com/>
21 <http://www.plurk.com/>
22 <http://www.gozub.com/>
23 <http://www.orkut.com/>
24 <http://www.myspace.com/>
25 Além do Twitter, a Nielsen NetView estimou dados de outros quatro serviços da web 2.0. A
pesquisa pode ser vista em <http://blog.nielsen.com/nielsenwire/online_mobile/twitters-tweet-smell-
of-success/>.
26 <http://www.techcrunch.com/2009/01/24/twitter-raising-new-cash-at-250-million-valuation/>
12
Figura 1: O gráfico mostra as estimativas de tráfego de três dos serviços de microblogging mais
populares do planeta.
Fonte: <http://www.alexa.com/siteinfo/twitter.com+jaiku.com+plurk.com>.
Esse último dado desmistifica a crença de que os blogs (ou microblogs) são
simples brincadeiras de adolescentes. Na verdade, é equivocado tratar os
microblogs como mera versão diminuta dos tradicionais blogs. Características
absorvidas de outros serviços, além de qualidades inéditas, demostram que os
microblogs tem particularidades o suficiente para ingressar em uma categoria à
parte na imensa nuvem de serviços da rede. Para Orihuela (2007, p. 1), o Twitter é
uma aplicação baseada na web, uma mescla de blog, rede social e mensageiro
instantâneo. Mandic (2009), por sua vez, sugere que aplicativos como o Twitter
funcionam como um aprimoramento do e-mail.
Podemos dizer que, com a chegada desse filho caçula da comunicação digital,
o e-mail está ganhando uma nova forma, assim como a TV ganhou, e sem
extrair a importância do Twitter ou outras ferramentas de comunicação
instantânea, afinal, são soluções diferentes, cada qual com a sua função, e
cada uma tem a sua relevância. (p. 2)
27 <http://twitter.com/about>
28 <http://www.jaiku.com/about>
13
verdade, o vocábulo é mais antigo do que o próprio serviço: o site Word Spy29 data
uma ocorrência de 2002, quando a blogueira Natalie Solent avisa na primeira linha
de uma postagem curta que “por hoje, apenas micro-blogging”30.
Essa menção pioneira distancia-se um pouco do significado atual do termo,
que sempre ganha uma nova definição. A jornalista Gabriela Zago, que tem vários
trabalhos publicados a respeito do Twitter, classificou de “limitado” e “simplório” seu
conceito escrito em 2007: “um microblog é uma ferramenta que permite atualizações
rápidas e curtas e, se possível, a partir de uma multiplicidade de suportes
diferentes”31. Um ano depois, ao referir-se ao Twitter, brincou com as tentativas de
qualificá-lo, comparando-o a um “bebedouro virtual” e “bate-papo pós-moderno”. No
entanto, Zago acabou influenciada pela descrição de Orihuela, que trata os
microblogs como um mix de ferramentas que já existiam na internet:
29 <http://www.wordspy.com/words/microblogging.asp>
30 <http://nataliesolent.blogspot.com/2002_07_14_nataliesolent_archive.html>
31 <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=452ENO001>
32 Mais significados de termos relacionados à internet podem ser vistos em
<http://www.paraibaonline.com.br/dicionario.htm>.
14
manutenção de blogs. Naquela época, havia normas rígidas quanto ao tamanho (em
bytes) das páginas, o que tornava a publicação de imagens ou arquivos bem
limitada. Hoje, serviços que facilitam o trabalho de blogar continuam populares, mas
são bem mais generosos em relação ao espaço cedido. As limitações passaram a
ser majoritariamente locais (poder do hardware, velocidade de conexão com a
internet), e não mais virtuais. O Blogger, mais popular serviço de publicação de
blogs, permite ao usuário postar o quanto quiser, sem se importar com a quantidade
de caracteres ou multimídia33. O usuário tem a chance de postar páginas e mais
páginas de texto e dezenas de imagens diariamente e mesmo assim não terá
problemas.
Nos microblogs ocorre o contrário: os limites são bem definidos e os
internautas precisam adaptar-se a eles. Usuários do Twitter, Jaiku, Plurk, Bleeper 34 e
Identi.ca35 podem escrever, no máximo, 140 caracteres em uma postagem (contando
os espaços). A Wikipedia36 define como microblog os blogs cujo limite de caracteres
por postagem é inferior a 200 toques. Nesses serviços, o utilizador não tem a
mesma liberdade dos blogs, e tem de sintetizar uma idéia completa em poucas
palavras. Quem ultrapassa o máximo é alertado pelo serviço e só poderá enviar a
mensagem caso a mesma seja editada e reduzida.
140 caracteres equivalem ao tamanho de uma linha e meia de texto no
Microsoft Word, ou de uma linha de apoio na manchete da Folha Online 37. O
tamanho reduzido força os blogueiros a, por vezes, abandonar preposições,
conjunções e artigos e a adotar abreviações. As frases são escritas de maneira mais
curta e sucinta. Quando o espaço aperta, “você” se transforma em “vc”, “novidades”
se torna “9dades” e em último caso até o ponto final é descartado. O conteúdo se
sobrepõe à forma. As postagens transformam-se em autênticos telegramas virtuais.
Mesmo os serviços de microblog colaboram nessa transformação: não é possível
anexar imagens ou vídeos diretamente ao serviço, e caso o usuário copie e cole o
link de um site, ele é automaticamente reduzido através de ferramentas como o
TinyURL38. Carlos Castilho (2007), ao analisar a simplicidade do Twitter para
33 <http://help.blogger.com/bin/answer.py?hl=br&answer=42348>
34 <http://bleeper.de/>
35 <http://identi.ca/>
36 <http://pt.wikipedia.org/wiki/microblogging>
37 <http://www.folha.uol.com.br/>
38 O TinyURL é um aplicativo online que reduz o número de caracteres do endereço eletrônico
(URL). <http://tinyurl.com>
15
escrever e replicar, conclui:
Figura 2: Caixa de inserção de texto no Jaiku em três momentos diferentes. No canto inferior direito,
um contador marca quantos caracteres ainda podem ser escritos. O botão “Post”, à direita,
responsável por publicar a postagem, só pode ser acionado enquanto o limite de 140 caracteres é
obedecido. Outros serviços de microblog tem dispositivos semelhantes.
39 <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={EDA992F7-2AE4-4184-
A32B-AF60B17D85C0}>
16
do código – necessário para executá-lo. O Jaiku, por exemplo, é um serviço de
código aberto (open-source), o que permite a qualquer usuário estudar os processos
e rotinas necessárias para o seu funcionamento. Já o Twitter libera a API
(Application Programming Interface, ou Interface de Programação de Aplicativos),
parte da codificação responsável especialmente pela interação entre software e
usuário. Dessa forma, esses serviços ganham outras versões e plugins não
necessariamente programados pela equipe oficial, inclusive para celulares. O
resultado dessa variedade de aplicativos e aparelhos utilizados para acessar o
Twitter pode ser visto na pesquisa da Nielsen NetView: estima-se que 10% dos
visitantes acessam o serviço a partir de telefones portáteis.
Há outro motivo, além do código aberto (ou semi-aberto), que evidencia que
a simbiose com toda essa parafernália digital não é mera coincidência. A imposição
dos 140 caracteres máximos foi pensada para que o Twitter e outros microblogs
possam interagir eficientemente com telefones celulares e outros aparelhos.
17
Recados em SMS (Short Message Service, ou Serviço de Mensagens Curtas; os
“torpedos” dos celulares) suportam no máximo 255 caracteres (160 na maior parte
dos modelos). Isso sem falar nos mensageiros instantâneos, que não raro também
limitam a quantidade de toques. Paga-se o preço em tamanho dos textos, mas
ganha-se mobilidade: para Zago (2008, p. 3), “as atualizações curtas permitem uma
maior portabilidade das informações”. Existem mais de 150 milhões de celulares no
Brasil40, todos emissores de tuitadas em potencial. Para Pellanda, a percepção de
que a internet só pode ser acessada entre quatro paredes através de um PC vem
desmoronando pouco a pouco, graças à ascensão dos aparelhos portáteis:
18
rede social43. O filósofo Pierre Lèvy (1999) chama de inteligência coletiva o que
ocorre nessas comunidades, em que os relatos e conhecimentos das pessoas são
compartilhados e confrontados. Para Levy, a comunicação interativa e coletiva é a
principal atração do ciberespaço. É o que acontece no Jaiku, onde os usuários
podem listar e conversar com os amigos, bem como no Orkut. No Twitter, dá para
bater papo sobre vários assuntos – ou apenas sobre um – como no MySpace. As
semelhanças entre microblogs e as tradicionais comunidades de relacionamento são
numerosas o suficiente a ponto da sua nomenclatura causar polêmica. Raquel
Recuero (2008, p.16) compara os microblogs a um “broadcast na rede” e defende
que eles “não são microblogs. São serviços de mensagens curtas (micro-
messengers).” Da mesma maneira, é possível alegar que os microblogs são
comunidades de relacionamento, dada a grande quantidade de elementos em
comum, como listagem de amigos e a possibilidade de convidar conhecidos, por e-
mail, para participar da “microblogosfera”. Não é à toa que até o momento em que
foi adquirido pelo Google, só era possível ingressar no Jaiku a partir do convite de
um amigo já cadastrado. Ou seja, todos os usuários estavam – e na verdade a
maioria ainda está – ligados entre si. Na figura a seguir, é possível visualizar como a
listagem de amigos do Orkut e do Twitter é semelhante.
19
Figura 4: Lista de amigos no Orkut e Twitter.
44 A pesquisa, feita em 2008 pela companhia de marketing online Hubspot, pode ser encontrada em
<http://cdnqa.hubteam.com/State_of_the_Twittersphere_by_HubSpot_Q4-2008.pdf>.
21
Figura 5: Página inicial de um usuário do Twitter.
22
a sucessão de mensagens em um verdadeiro chat, e também assemelha-se
bastante aos mensageiros instantâneos. Aliás, a impressão de mensageiro
instantâneo dos microblogs é intensificada pela atualização automática das páginas
do serviço. Não é necessário clicar no botão “atualizar” do navegador ou pressionar
F5: periodicamente as novas postagens são exibidas, sem qualquer comando por
parte do usuário. Existem também ferramentas desenvolvidas por terceiros que
diminuem ainda mais esse tempo de espera, aproximando muito o Twitter de um
comunicador em tempo real. No entanto, os diálogos virtuais nos microblogs têm
como característica serem espaçados – os usuários não esperam receber uma
resposta de imediato, ainda que isso possa acontecer caso emissor e receptor
estejam simultaneamente online. Zago (2008) classifica a comunicação nos
microblogs como majoritariamente “assíncrona”, enquanto nos mensageiros
instantâneos ela é “síncrona”.
O Twitter usa como lema a frase What are you doing? (O que você está
fazendo). No entanto, nem todos os usuários utilizam o serviço para responder à
pergunta. A popularidade desvirtuou o Twitter a ponto de criar classes informais de
usuários. Java et al. (2008, p. 8) dividem os tuiteiros em três categorias básicas: a
primeira é composta pelos information sources (fontes de informação), perfis com
grande quantidade de seguidores. Em geral postam notícias ou links, e podem
inclusive serem robôs45. A segunda categoria é formada pelos information seekers
(caçadores de informações), gente que posta pouco, mas segue outros utilizadores
regularmente. Por último estão os friends (amigos), a figura mais comum do Twitter.
Estão divididos em várias sub-categorias, mas possuem algo em comum: postam e
seguem outros usuários na mesma proporção.
Java (2008, p. 7-8) também classifica os tipos de postagem no Twitter em
quatro categorias:
23
● Conversação. É o uso alternativo mais popular do Twitter. Java
rastreou o símbolo da @, normalmente usada para se dirigir ou responder
alguém, para chegar a essa conclusão. As conversas no Twitter podem se dar
entre duas ou mais pessoas e assemelham-se aos papos em mensageiros
instantâneos, como o Windows Live Messenger ou o Google Talk. Java
estima que mais de um quinto das postagens envolve interação direta entre
os usuários.
● Compartilhamento de URL. Fazem parte desta categoria as
postagens que contém links para sites externos. O usuário pode indicar o
endereço eletrônico do próprio blog, de portais de entretenimento ou de
notícias, entre outros. Devido ao limite de 140 caracters, o Twitter comprime
as URLs automaticamente com a ajuda do site TinyURL.
● Notícias. De acordo com Java, é o quarto uso mais comum do
Twitter. Nesta categoria ingressam desde os repórteres amadores que
relatam minuto a minuto os lances do jogo de seu time do coração até
profissionais que postam diariamente os destaques da edição de um jornal.
Também existem usuários que utilizam programas para automatizar a
postagem de informações.
É claro que a lista acima é questionável, ainda que tenha sido formulada de
maneira criteriosa. Mas há quem amplie ainda mais o leque de funções do Twitter: o
blog Dosh Dosh, especializado em tecnologia, lista 17 formas de utilizar o serviço 46,
como marcar reuniões, fazer novas amizades, gerir equipes ou mesmo criar
lembretes (como no Microsoft Outlook). De qualquer forma, apesar do “what are you
doing?” ser respondido freqüentemente de um jeito ou de outro, essas postagens
não representam maioria absoluta. Mischaud (2007) analisou 5.767 atualizações de
60 usuários escolhidos aleatoriamente e constatou que mais da metade (58,5%, ou
3.371 micropostagens) tratam de assuntos variados. Assim como Java, conclui que
a conversação é a segunda função mais popular do Twitter (presente em 19% das
atualizações). O “compartilhamento de informações” é o quarto colocado (está em
6% das postagens). Mischaud descreve essa categoria de forma similar a Java, com
o acréscimo das postagens que compartilham links de notícias.
46 <http://www.doshdosh.com/ways-you-can-use-twitter/>
24
Essas postagens representam o esforço dos usuários para disseminar
informações que eles julgam importantes o suficiente para dividir, de
manchetes a opiniões sobre textos noticiosos. Embora esses exemplos variem
em importância, eles representam uma discussão comum entre os usuários
para apropriar o Twitter como um mecanismo de compartilhamento de
informações, mesmo sendo um serviço não centrado nessa função47. [tradução
livre do autor] (p. 31-32)
47 These postings represented efforts by users to disseminate information they felt was important
enough to share, from headlines to viewpoints on newsworthy items. [...] Although these examples
vary in importance, they represent a common thread among users to appropriate Twitter as an
information-sharing mechanism, a platform that is not solely centred on them.
48 <http://twitterholic.com/>
49 <http://twitter.com/nytimes>
50 <http://twitter.com/cnnbrk>
51 <http://twitter.com/twitter>
52 <http://twitter.com/barackobama>
53 <http://twitter.com/the_real_shaq>
25
2 O JORNALISMO DESCOBRE O TWITTER
54 <http://www.mercurynews.com/>
55 <http://jbonline.terra.com.br/>
56 A rede de relacionamento tridimensional mais conhecida é o Second Life. Entre os veículos
presentes estão a revista Vip, o Jornal do Brasil e o Estado de S. Paulo, que deslocou repórteres
para trabalhar exclusivamente no ambiente virtual. <www.secondlife.com/>
57 De acordo com o Google, a procura por “Second Life” em abril de 2009 representa menos de um
terço do que no auge, em fevereiro de 2007. <www.google.com/trends?q=%22second+life%22>
26
fracassos, devido à sua dinâmica particular58. Nem o estouro da bolha da internet, no
início do século XXI, foi capaz de deter o otimismo exagerado da imprensa em
relação aos novos canais de comunicação. É o chamado hype, termo em inglês que
designa a promoção extrema de uma idéia ou produto. Para Castilho (2008), “a
mídia alimenta expectativas, surgem os mitos, em seguida multiplicam-se as
decepções e o modismo agoniza, num ciclo cada vez mais curto.”
O caso do Twitter e dos microblogs é emblemático, visto serem ferramentas
que remetem automaticamente a um canal de comunicação consolidado (os blogs),
mas sem perder a aura de novidade graças às suas peculiares características
(multimidialidade, postagens curtas, interface minimalista etc). O fenômeno agravou-
se no Brasil, onde o Twitter foi particularmente bem recebido pelo público59.
Popularizou-se o termo twitosfera para referir-se ao conjunto de usuários e
postagens escritas pelos tuiteiros, substantivo ainda mais específico que os ainda
recentes blogosfera e microblogosfera. A recente profusão de reportagens a respeito
do serviço (inclusive uma capa na Revista Época60) fez com que Castilho (2009)
mais uma vez se pronunciasse sobre os modismos:
58 Em 2008, a revista Fast Company compilou uma lista com as 50 empresas mais inovadoras do
mundo. As três primeiras (Google, Apple e Facebook) têm fortes vínculos com a rede.
<http://www.fastcompany.com/magazine/123/the-worlds-most-innovative-companies.html>
59 Em entrevista ao Estado de S. Paulo, Evan Williams (um dos criadores do Twitter) conta que os
brasileiros representam a “segunda ou terceira” maior comunidade do Twitter. Os mais numerosos
são os americanos. <http://www.link.estadao.com.br/index.cfm?id_conteudo=15014>
60 <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMT504-15210,00.html>
27
apresentação intitulada “Web 2.0: Cuando los usuarios se convirtieron en medios y
los medios no supieron en qué convertirse”61. Durante a exibição, Orihuela destacou
que a mídia tradicional demora para aproveitar ao máximo um novo veículo de
notícias. No caso do Twitter, vários usuários aproveitaram o serviço para fins
informativos antes mesmo da chegada da mídia. É o que Primo e Träsel (2006)
chamam de “webjornalismo participativo”. Os microblogs vêm “furando” os grandes
meios de comunicação graças à abertura do gatekeep e da multiplicação de
potenciais “repórteres”. Até a definição do que é jornalismo e do que é notícia vem
se tornando mais difícil com o sucesso da web 2.0 e de serviços em que jornalistas e
usuários interagem na reportagem de notícias, caso do “vc repórter” 62, do portal
Terra.
É difícil precisar quem e quando foi criada a primeira conta no Twitter
vinculada a uma empresa jornalística. O microblog não publica a data de registro
dos usuários, e é necessário recorrer a portais independentes que rastreiam novas
contas e salvam o momento em que foram criadas. Uma breve pesquisa no
Twitterholic entre as 500 páginas mais populares mostra que o usuário om63,
vinculado à empresa de comunicação GigaOmniMedia e ao site especializado em
notícias sobre tecnologia GigaOM64, existe desde julho de 2006, apenas quatro
meses após a criação do Twitter. As marcas mais conhecidas do jornalismo
americano e britânico criaram contas a partir de 2007: CNN (janeiro), The New York
Times e Fox News65 (março), Wall Street Journal66 (abril) e BBC67 (julho). Todos os
cinco jornais de maior circulação nos Estados Unidos contam com páginas no
Twitter.
No Brasil, a adoção ao Twitter por parte das grandes empresas jornalísticas
é lenta. Das representações online dos dez jornais de maior circulação no país68,
apenas o Zero Hora69 (fevereiro de 2008) e o Estado de S. Paulo 70 (maio) contam
61 “Web 2.0: quando os usuários se tornaram meios de comunicação e os meios de comunicação
não souberam no que se tornar”. [tradução livre do autor]
62 <http://noticias.terra.com.br/vcreporter>
63 <http://twitterholic.com/om/>
64 <http://gigaom.com/>
65 <http://twitter.com/foxnews>
66 <http://twitter.com/WSJ>
67 <http://twitter.com/BBCClick>
68 Segundo a Associação Nacional dos Jornais. <http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornais-
no-brasil/maiores-jornais-do-brasil>
69 <http://twitter.com/zerohora>
70 <http://twitter.com/estadaonews>
28
oficialmente com registro no microblog. Outros quatro dos dez principais jornais
aparentam ter conta no serviço, mas não passam de fakes (usuários que se passam
por outra pessoa ou empresa). O mais popular de todos os twitters diretamente
relacionados ao jornalismo brasileiro é do Fantástico71, programa de jornalismo e
entretenimento da TV Globo. Eram mais de 28 mil seguidores em maio de 2009, o
que garante à página o sexto lugar entre as mais seguidas no Brasil. Apesar de
criada em abril de 2009, mais de um ano após a do Estado de S. Paulo, por
exemplo, o Fantástico conseguiu grande número de seguidores, em parte graças às
reportagens sobre o Twitter – com o anúncio do endereço do programa no serviço –
nos programas veiculados durante o horário nobre.
No entanto, uma rápida comparação sobre essas três contas jornalísticas
mais antigas e populares mostra que todas elas ainda se apóiam em uma mídia
mais antiga (portais) ao aparecerem na mais nova (Twitter). As páginas do Estadão
e do Zero Hora simplesmente reproduzem as manchetes dos portais, e no máximo
são levemente editadas para evitar o estouro dos 140 caracteres, levando a crer que
o processo é semi-automático. Da mesma forma, a maior parte dos fakes também
difunde conteúdo original, com o agravante de que às vezes o processo é totalmente
automático, o que faz com que algumas manchetes (ou linhas de apoio) sejam
cortadas ao meio. O Fantástico, por sua vez, ora reproduz as manchetes do seu
portal (sempre com os links), ora (semanalmente) narra as atrações que aparecerão
no programa televisivo. Raramente as mensagens têm outro formato ou dirigem-se a
outros usuários do Twitter. A figura abaixo compara as micropostagens no twitter do
estadaonews com as manchetes no portal do Estadão.
71 <http://twitter.com/showdavida>
29
Figura 6: Comparação entre micropostagens e manchetes.
Fonte: <http://blog.estadao.com.br/blog/transito/>.
30
diretamente os jornalistas, apurando, editando e redigindo notícias.
31
noticiados via Twitter, bem como a ação dos bombeiros e das equipes de resgate,
pondo em prática o conceito da web em tempo real. Lemos (2008), lembra que
desde que a web 2.0 se instalou, serviços colaborativos de informação também se
estabeleceram.
77 Na verdade, a foto foi hospedada no Twitpic, serviço que cria links automaticamente no Twitter
para imagens postadas. <http://twitpic.com/>
78 “Há um avião no [rio] Hudson. Estou na balsa indo buscar o pessoal. Louco”. [tradução livre do
autor]
32
rígidos de investigação, a grande mídia demorou a dar-se conta do alcance da
tragédia:
79 <http://diarinhonachuva.blogspot.com/>
33
Figura 7: Twitter do Diário do Litoral.
Fonte: <http://twitter.com/diarinho>.
80 O Twitterfall é um serviço que rastreia palavras escolhidas pelo usuário no Twitter e lista em tempo
real micropostagens que contenham o termo.
34
Figura 8: Twiterfall coleta as últimas micropostagens com o termo “Obama” no Twitter.
Fonte: <http://twitterfall.com/>
35
emissoras pequenas. No caso dos microblogs, os aparatos usados para divulgar as
notícias são múltiplos e relativamente baratos. Computadores com acesso a internet
ainda são os favoritos dos microbloggers. Mas os celulares conectados à rede vem
ganhando espaço.
Aliás, os celulares são responsáveis por mais uma razão pela qual o Twitter
sai na frente dos meios convencionais: esses aparelhos portáteis estão por todos os
lados, nas mãos de gente de todos os lugares e classes sociais. No Brasil, são mais
de 150 milhões de telefones móveis, todos eles potenciais emissores de informação.
Bastam alguns toques com os dedos e pronto – um nova micropostagem estará
mundialmente acessível. A informação difundida nos microblogs através dos
celulares não só é transmissível em qualquer lugar como também pode ser
repassada por qualquer pessoa.
Some-se isso ao fato de que os microblogs permitem – e estimulam – o uso
máximo de 140 caracteres e temos um serviço mais veloz até mesmo do que outras
mídias baseadas na web, como portais noticiosos. Zago (2008) também nota que,
das seis características da produção de notícias para a web82, a mais saliente no
Twitter é a velocidade. Mesmo blogs jornalísticos, que também podem ser
acessados e editados através de aparelhos portáteis, são mais burocráticos que os
microblogs. Twitter e outros são ferramentas em potencial para quem Mark Briggs
(2007) chama de “jornalistas mochileiros”, os profissionais acostumados a publicar
notícias a partir de qualquer ponto. O autor conta que eles “adotam mídias
inovadoras para noticiar facilmente a partir do local dos acontecimentos, como
celular, câmera portátil ou laptop”. Não é mais necessário voltar à redação para dar
início à publicação de notícias. Tampouco é preciso que o jornalista esteja em
horário de trabalho.
A escalada da tecnologia facilitou o trabalho dos repórteres, que carregam
verdadeiras miniplataformas de produção, edição e difusão de notícias. Softwares
portáteis, gravadores e câmeras digitais, acoplados ou não e outros aparelhos
facilitaram um bocado a vida dos jornalistas mochileiros, o que resulta no sucesso
do Twitter e outros webserviços como produtos jornalísticos (alguns casos serão
36
vistos no próximo capítulo). Silva (2008, p. 9) reforça a afirmação de Castilho de que
o jornalismo participativo, fortalecido pela proliferação de tecnologias móveis,
incrementa a quantidade de relatos de teor jornalístico em acontecimentos de
grande mobilização popular. Ele conclui que essas tecnologias, somadas aos
serviços de difusão acelerada de informações, como o Twitter, são um marco no
jornalismo contemporâneo.
37
formas de usá-lo, levando em conta o sentimento de proximidade causado pelo
serviço. A relações públicas Flávia Paluello (2008), por meio de um guia de uso do
Twitter para empresas, destacou que um dos principais erros das corporações que
têm conta no microblog é dar as costas para os usuários. No jornalismo via Twitter,
isso pode ser visto quando dúvidas e perguntas de leitores não são respondidas.
Quando a mídia não interage com seus leitores no Twitter, deixa de usar o serviço
(que também é rede social) em sua plenitude e corre o risco de causar antipatia. “A
falta de uma resposta adequada é sempre prejudicial para qualquer empresa, seja
em que meio de comunicação for” (p. 4).
A forma mais adequada de usar os microblogs ainda é tema de muita
discussão. Os conceitos que permeiam o Twitter, especialmente no que se refere a
webjornalismo e interação entre emissores e consumidores de notícias são bastante
insipientes. O próximo capítulo mostra algumas iniciativas pioneiras no Twitter –
quase experimentais – e suas conseqüências para a propagação das informações.
38
3 O TWITTER APLICADO AO JORNALISMO
Como foi visto, o Twitter pode ser utilizado para captar e difundir
informações, bem como publicar notícias de diversas maneiras – a mais comum
delas, presente em mais da metade das micropostagens, é a simples replicação de
material original de outras mídias. O serviço também pode ser usado para cobrir
eventos ao vivo, escrever notícias curtas, divulgar informações de bastidores e
interagir com os internautas. Outros recursos e funções poderão surgir conforme o
microblog se torne conhecido e ganhe novas ferramentas.
A terceira parte desta monografia abordará de forma mais específica o uso
do Twitter pelos jornalistas brasileiros. Raquel Recuero (2007, p. 1) defende que “o
jornalismo é uma prática, e não um produto”, mas por outro lado reclama não
encontrar uma definição satisfatória levando em conta toda a sorte de recursos na
web, como os microblogs. Já a Wikipedia conceitua jornalismo de forma genérica o
suficiente para abarcar até mesmo twitters atualizados via feed: “Jornalismo é a
prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais”. 83
Manuel Chaparro (2008) admite que é difícil definir jornalismo: “o jornalismo é difícil
de explicar por conta da sua complexidade”. Recuero respalda essa indefinição:
39
com as novas possibilidades tecnológicas, o que caracteriza tanto o produto, quanto
a própria rotina de produção, que agrega à narrativa dos fatos novas perspectivas”.
Para entender o que exatamente o Twitter traz de novo à rotina jornalística, o
terceiro capítulo desta monografia, intitulado O Twitter Aplicado ao Jornalismo,
concentra-se na análise de três contas administradas no Twitter por organizações
jornalistas. Os três casos enquadram-se no terceiro estágio do webjornalismo de
Ribas, ou seja utilizam-se dos recursos fornecidos pelo microblog e adaptam a
linguagem para otimizar a comunicação. Lopes (2001, p. 32) observa que essa
estratégia de pesquisa está entre as mais usadas na pesquisa em Comunicação.
Bressan (2000, p. 3), por sua vez, afirma que é uma estratégia adequada para
pesquisas exploratórias e particularmente útil para a geração de hipóteses. O estudo
de caso visa descrever um fenômeno de forma longitudinal, ou seja, baseando-se
em um ou poucos objetos. Para Yin, o estudo de caso nasce do desejo de entender
um acontecimento social complexo, e uma das suas qualidades é “investigar um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real” (1994, p. 2).
84 <http://twitter.com/dconline>
40
também a preocupação em selecionar casos com características distintas e
complementares, para que a análise se tornasse mais rica e menos redundante. Por
essa razão, foram descartados casos como o do SBT Oficial, 85 que compartilha
muitas semelhanças com uma das escolhidas. Ao fim da seleção restaram as
seguintes páginas (em negrito, o nome dos três perfis).
85 <http://twitter.com/sbtonline>
86 <http://twitter.com/bandtransitosp>
87 <http://twitter.com/revista_trip>
88 <http://twitter.com/rodaviva>
41
As páginas foram analisadas a partir de uma abordagem qualitativa. Para
Neves (1996, p. 1), a pesquisa qualitativa “compreende um conjunto de diferentes
técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de
um sistema complexo de significados”. Günther (2006, p. 3) descreve as diferenças
entre pesquisa quantitativa e qualitativa, e diz que a interação entre pesquisador e
objeto de estudo é maior no segundo caso, inclusive após a coleta de dados. Já
Goldenberg (1997, p. 51) diz que “os dados qualitativos consistem em descrições
detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus
próprios termos”.
As três páginas foram analisadas durante um mês. Como a mais nova das
três contas foi criada em março de 2009, escolheu-se os 30 dias seguintes (de 1° a
30 de abril) como período de análise, para que todos os perfis tivessem a data da
primeira e última postagem analisada semelhantes. Além disso, deve-se frisar que a
twitosfera é um ambiente dinâmico, e a escolha de um mês próximo ao prazo final
de entrega dos resultados tornam as conclusões mais atuais, estendendo a validade
da pesquisa.
Para facilitar a análise das atualizações enviadas pelas páginas
monitoradas, foi criada uma conta89 exclusiva para acompanhá-las. Afinal, o Twitter e
a maior parte dos serviços de microblogging são também redes sociais e
mensageiros instantâneos, e para desfrutar ao máximo de todas as ferramentas de
comunicação disponíveis é necessária a integração ao grupo. No entanto, durante o
período de análise não houve interação direta entre o autor da pesquisa e os
administradores das contas analisadas. Travancas (2006, p. 103) intitula esse
método pesquisa participante:
Este termo significa que antes de mais nada o cientista social não se coloca
ingenuamente, ou pelo menos não deve se colocar, em relação a sua presença
no grupo. [...] Deve observar e saber que também está sendo observado e que
o simples fato de estar presente pode alterar a rotina do grupo ou o desenrolar
de um ritual (p. 103).
89 <http://twitter.com/francisco_tcc>
42
● Conceituar e contextualizar os microblogs.
● Comparar os microblogs com as outras formas de comunicação
jornalísticas.
● Verificar como funciona o processo de manutenção dos microblogs
pelos autores.
● Analisar a contribuição do Twitter para o jornalismo brasileiro.
90 <http://www.google.com.br/ig/directory?q=twitter>
91 <http://www.twitgraph.com/>
43
3.2 Análise das contas jornalísticas no Twitter
92 <http://www.band.com.br/tvtransito/sobre.asp?id=685>
93 <http://twitter.com/bandjornalismo>
94 <http://twitter.com/programadiadia>
95 <http://band.com.br/microblog/>
44
Figura 10: No site da Bandeirantes, uma janela exibe os últimos twits e convida os
internautas a segui-los.
96 <http://www.cetsp.com.br/>
97 <http://www.sulamerica.com.br/radiotransito/>
98 O número é estimado pelo blog Hubspot, após conferir as postagens de mais de 1,5 milhão de
usuários em março de 2009. <http://blog.hubspot.com>
99 <http://tweetstats.com/>
45
da Bandeirantes, Ana Oliveira, confirma que a freqüência de postagens é
proporcional ao volume de informação. Outro fator que influencia a quantidade de
micropostagens é o estado do microblog ou da conexão com a internet – se um
deles está lento ou estático, a produção de conteúdo é afetada.
O jornalismo de revista ou de rádio costuma trazer uma quantidade fixa – ou
quase fixa – de conteúdo noticioso a cada edição, para que todas as páginas ou
minutos no ar sejam ocupados. Essa padronização pode funcionar na maioria das
vezes, mas é desvantajosa quando não há muito conteúdo relevante a ser publicado
ou transmitido. No Twitter, avesso a limites pré-determinados, isso não ocorre.
Oliveira (2009) explica:
100<http://twitterfox.net/>
46
direção ao centro”, “tem problemas no sentido Itaquera”). Quase todos os twits são
compostos por apenas uma frase, evitando pronomes relativos e omitindo verbos
quando necessário. As palavras mais repetidas nas tuitadas entre março e junho de
2009 foram avenida (799 vezes), sentido (782 vezes) e direção (590 vezes). Em
certa medida, os textos são repetitivos, o que é evitado nos jornais impressos. Por
outro lado, isso facilita o entendimento rápido das informações. Anderáos compara
os twits aos telegramas, e vê boas aplicações no exercício do jornalismo: “os
jornalistas estão acostumados a ter que sintetizar as informações nos títulos das
reportagens, tem tudo a ver com a profissão”. (2009, p. 2)
O poder de síntese celebrado por Anderáos constata-se na prática no
@bandjornalismosp. Nas mais de 2500 atualizações entre março e junho, o limite de
140 caracteres foi atingido em apenas 38 ocasiões. “Não há necessidade de mais do
que 140 caracteres para dar as informações de trânsito”, afirma Oliveira. Sobre a
repetitividade das atualizações, ela explica:
Em primeiro lugar, não há como comparar twitter com jornal impresso. O que
interessa é o serviço, o usuário conseguir a informação que precisa, na hora
em que precisa, da maneira mais direta possível. Trânsito em até 140
caracteres não precisa de grandes refinamentos de estilo, precisa de agilidade.
(2009)
47
total ausência de links transforma o @bandtransitosp em uma página amigável aos
telefones celulares e outros dispositivos móveis. Desta forma, o motorista (ou um
dos passageiros) pode conferir na íntegra as últimas informações sobre o tráfego a
partir do próprio veículo. Anderáos lembra que, por não fornecer links para o
aprofundamento da informação, é ainda mais importante a redação de
micropostagens completas. Não apenas o estilo das postagens, mas a própria
escolha do Twitter como vetor de notícias sobre o trânsito paulistano foi planejada
para otimizar a comunicação entre repórteres e motoristas. É o que conta a editora
executiva do portal da Bandeirantes:
o Band Trânsito SP foi criado para ser um serviço. A nossa proposta é apontar
locais críticos no trânsito da cidade nos horários de rush de maneira simples e
eficiente. Consideramos o twitter a ferramenta que melhor nos serve a esse
propósito, principalmente porque os posts podem ser acessados em diversos
devices. (Oliveira, 2009)
48
3.2.2 Roda Viva
101<http://www.iptvcultura.com.br/>
102<http://www2.tvcultura.com.br/rodaviva/>
49
(televisão), a página acaba remetendo ao estágio Hipertextual Básico de Ribas
(2004). Caso o programa de TV não existisse, o microblog dificilmente existiria. No
entanto, o fato das atualizações terem sido escritas especialmente para o serviço
justifica a definição do twitter do Roda Viva como pertencente ao estágio
Hipertextual Avançado.
De qualquer forma, o Roda Viva televisivo pauta de tal forma o equivalente
virtual a ponto de certas micropostagens se tornarem previsíveis. São mensagens
de rotina, repetidas toda semana com um formato pré-estabelecido. Um exemplo é o
anúncio dos nomes dos entrevistadores convidados para a próxima edição do
programa, feito sempre aos sábados (ou raramente aos domingos) anteriores à
exibição. Antes da transmissão via internet também é enviada uma postagem de
rotina com o link para acompanhá-la. Essas postagens fiéis a um cronograma
acontecem ao menos duas vezes por semana, e facilitam o trabalho dos seguidores
que vasculham o microblog em busca de informações sobre os programas do
passado e do presente. Da mesma forma, micropostagens informativas que
convidam os internautas a assistirem às entrevistas são uma maneira alternativa de
divulgá-las, e funcionam como uma espécie de chamada.
Para Helio Soares (2009), que administra o @rodaviva, o uso do microblog
como ferramenta de propaganda é válido inclusive para canais privados: “o Twitter é
muito novo, ainda, mas está sendo usado, principalmente, como forma de
publicidade e divulgação”. De acordo com Soares, a atração de novos
telespectadores é algo natural, afinal o Twitter é um espaço extra onde está sendo
divulgado o nome do programa, ainda que “só segue o Roda Viva quem gosta das
propostas do programa em apresentar um tema para análise e discussão”. O uso
exclusivo do microblog como um canal para a informação de horários e detalhes de
programas televisivos assemelha-se às páginas de portais noticiosos atualizadas
exclusivamente por manchetes ou títulos de notícias. Essa adoção do Twitter por
organizações jornalísticas motiva uma crítica de Soares:
como forma de interação com os internautas acho que o twitter ainda não é a
melhor ferramenta para isso. O que não significa que possa se transformar em
um ótimo meio de comunicação. Por enquanto, está se transformando apenas
em uma via de mão única. As empresas informam o que querem mas não
existe a interação.
50
A página do Roda Viva contabiliza 23 atualizações entre os dias 1° e 30 de
abril. Utilizando como base os usos jornalísticos apontados por Zago (2008), essas
postagens podem ser divididas nas três categorias seguintes:
Figura 12: Duas postagens de bastidores seguidas por uma de alerta na página do Roda Viva.
A interação com outros twitters não é o forte da conta do Roda Viva. Durante
o mês de abril, em apenas duas ocasiões as micropostagens citaram ou dirigiram-se
a algum seguidor em especial, número bem menor que a quantidade de vezes em
que seguidores utilizaram o comando @rodaviva. Helio Soares (2009), que mantém
a conta, justifica:
51
Eu atualizo o twitter do Roda Viva apenas com informação, pois o programa é
maior do que qualquer opinião. Não posso utilizar o twitter do Roda Viva para
emitir opiniões pois esse não deve ser o seu objetivo. Fico restrito apenas a
informar os nomes dos convidados (quem segue o Roda Viva fica sabendo
primeiro quem será o próximo entrevistado), entrevistadores e datas de
gravação. Informação pura.
52
popularizando também entre os espectadores do Roda Viva: só na primeira semana
de maio, 327 micropostagens foram enviadas contendo a tag #rodaviva,
transformando a página indicada pelo termo em uma espécie de chat temático. A
título de comparação, as expressões “roda viva” e “Roda Viva” somadas apareceram
apenas 98 vezes no mesmo período, mesmo tratando-se do nome oficial do
programa televisivo.
Essas postagens sinalizadas são rastreadas e aparecem no mesmo site
onde o programa é transmitido, em uma janela separada. Dessa forma, é possível
acompanhar a entrevista e os comentários dos espectadores simultaneamente.
Soares (2009) conta que a maior parte dos internautas não está preocupada em
interagir diretamente com os participantes do programa, mas sim emitir opiniões
sobre os convidados e temas discutidos. Diferentemente do que ocorre ao comentar
na maior parte dos blogs tradicionais (inclusive no da própria TV Cultura), 105 as
mensagens no portal do programa são enviadas instantaneamente, sem filtro ou
moderação.
Figura 13: Os comentários dos internautas sobre o Roda Viva aparecem no site que transmite o
programa, em uma janela à parte.
105<http://www2.tvcultura.com.br/blog/site/>
53
maneira de convidar a platéia,
3.2.3 Trip
54
exclusivas e desde março de 2009 reproduz o conteúdo da revista impressa. O
twitter da Trip, criado em setembro de 2007, conta com mais de 6 mil seguidores. É
uma ferramenta baseada na web que soma às já usadas pela publicação, como
canal no YouTube,107 perfil no Flickr108 e comunidade no Orkut.109 O microblog é
atualizado pelos dez funcionários da equipe de Mídias Eletrônicas da Trip, também
responsáveis pela manutenção do site.
A adoção de todos esses recursos permite questionar como se dá a
interação entre as micropostagens e as outras formas de comunicação com o
público. De fato, o portal da revista menciona o Twitter em mais de 10 mil páginas,
número impulsionado pelo link praticamente fixo do serviço em um box lateral. Por
outro lado, as postagens na página do blog da redação 110 – outro canal de interação
entre repórteres e leitores – mencionam o Twitter sete vezes. Existe até uma tag
específica para textos referentes ao Twitter, evidência de que há preocupação em
divulgar o microblog a partir das mídias antigas. A recíproca também é verdadeira: o
site da Trip é citado diversas vezes entre as atualizações; e o próprio blog da
redação é linkado uma vez.
107<http://www.youtube.com/user/trip>
108<http://www.flickr.com/groups/revistatrip>
109<http://www.orkut.com.br/main#community.aspx?cmm=73966>
110<http://revistatrip.uol.com.br/blogs/redacao/>
55
da publicação e integrante da equipe que redige as micropostagens, uma das metas
da Trip é justamente difundir todas as novidades escritas no portal. A página não é
capaz de emitir feeds a agregadores como o Google Reader,111 limitando a ação de
serviços capazes de transformá-los em tuitadas automaticamente, como o
Twitterfeed.112 Resultado: as ligações hiper-midiáticas são construídas manualmente,
ao contrário do que acontece no @estadaonews e @zerohora.
Uma das vantagens do conteúdo original não ser copiado à risca é o fato
das atualizações serem redigidas com cuidado, para adaptarem-se bem às
limitações do Twitter, em especial aos 140 caracteres. Conseqüência: algumas
tuitadas tornam-se bem distintas das manchetes originais. Uma reportagem
hospedada no site com o título e linha de apoio “Luiz Felipe Pondé – O filósofo e
professor fala sobre os medos do mundo moderno, igreja e crise mundial” se
transformou, no Twitter, em “Não ouviu ainda o Trip FM com o filósofo e professor
Luiz Felipe Pondé? Clica http://tinyurl.com/cprqtz” [link para a reportagem no site]. A
utilização de verbos no modo imperativo (clique, leia, assista) é constante nos twits
da Trip, e um diferencial em relação às headlines. Outro adendo comum aos títulos
transformados em twits são expressões chamativas como “com exclusividade”. Ou
seja: além de utilizar o Twitter como mídia difusora (o que é comum), a Trip remodela
as micropostagens que contêm hiperlinks, procurando torná-las mais atrativas (o que
é incomum).
Paul (2009) reitera o uso do Twitter como instrumento divulgador:
Não dá para garantir que todo mundo que adiciona nosso twitter compre a
revista, mas dá pra perceber um interesse pelo conteúdo, que fica disponível
integralmente no site. A ideia é divulgar o conteúdo. Acho que o Twitter se
caracterizou, para todo tipo de mídia, como uma forma de divulgar conteúdo. A
pessoa lê em 140 caracteres e se gostar, lê mais. É interessante. Um feed bem
rápido.
56
atualizações tenham caráter meramente comercial:
Existe um diálogo entre os twitters da Trip e da TPM, porque são públicos muito
parecidos e as revistas não se limitam, por exemplo, na divisão "pra homem" e
"pra mulher", então é uma forma de divulgar uma nota que pode estar num site,
mas ser interessante para os público das duas revistas. (2009)
57
@revista_trip. Para Tiago Dória (2007, p. 1), a utilização do Twitter como divulgador
da rotina dos jornalistas, “foge daquele esquema burocrático de utilizar a ferramenta
de microblogging como um publicador de feed RSS”. Cirilo Dias, repórter da Trip,
conta outra modalidade de postagem que tem espaço no microblog: “o que é o
Twitter? É basicamente a volta do post descompromissado. Sabe aquele assunto,
link interessante, um comentário que surge do nada, que você não mandaria por e-
mail ou sms? Então, você 'twitta' ele.” Para Paul (2009), esta é razão pela qual não
há redundância no caso de um veículo de comunicação, como a Trip, ter
simultaneamente blog e microblog: “lendo 140 caracteres você não consegue ter o
mesmo nível de informação do que tem em uma postagem de blog”.
Atualizações do tipo pessoal são raras em twitters jornalísticos. Mesmo as
páginas não impulsionadas por feeds costumam adotar uma postura corporativa,
distante do seguidor. O twitter da Trip desafia essa estratégia: como pôde ser visto
na figura anterior, algumas atualizações utilizam a primeira pessoa. Outras duas
marcas no discurso que constatam a informalidade do discurso é a utilização de
expressões populares, como “massa” e “legal”, e a adoção de frases de apelo
intimista, seja com perguntas – “Vocês já conhecem o Blip.fm da revista Trip?” – ou
dirigindo-se diretamente a um seguidor – “@bandaquiker pode mandar email para
web@trip.com.br ou cartas@trip.com.br”. Paul (2009) explica que as postagens em
primeira pessoa são raras, mas usadas algumas vezes para responder aos usuários.
Para ela, o Twitter é um ambiente adequado para a adoção de uma linguagem
coloquial. “É uma forma de criar um diálogo com o público. [...] O Twitter é uma rede
social, no fim das contas. Não existiria motivo para ser superformal”.
Outra estratégia para chamar a atenção dos seguidores é o anúncio de
promoções exclusivas para os twitters. Em duas ocasiões a Trip desafiou os leitores
a responder uma questão relacionada a uma das reportagens da Trip daquele mês,
como “Por que ir ao show do Curumin [artista entrevistado na última edição da
revista] não é programa de índio?”. Os concorrentes precisavam enviar a resposta
ao twitter @revista_trip, marcada com a tag #PromoTrip. Ao vencedor foram
concedidas assinaturas e camisetas.
58
Figura 15: Em seqüência: micropostagens do tipo Pessoal, Feed, Misto (Bastidores e Programação) e
Bastidores.
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
60
veículos conservadores renderam-se ao serviço. O movimento não é unilateral – os
informative source do Twitter têm cada vez mais seguidores. Dois dos dez perfis
mais populares são mantidas por redes de comunicação, número relevante frente a
um site originalmente projetado para saber apenas “what are you doing”.
Aliás, se uma quantidade considerável de pessoas sente-se bem informada
ao acompanhar micropostagens, isso se deve também à qualidade original e jamais
perdida de rede social característica do Twitter. Afinal, se há alguém com alta
probabilidade de repassar links ou retwittar micropostagens relevantes, são os
próprios amigos e conhecidos. Recursos como os trending topics e o search, que
permitem aos usuários vagar entre temas que lhes interessam, pesam bastante para
o sucesso do serviço como agregador de informações, mesmo que boa parte delas
tenham sido originalmente apuradas por veículos tradicionais.
É verdade que casos como o da queda de um avião em um rio novaiorquino
ou do terremoto no México demonstram que os tuiteiros podem ocasionalmente sair
na frente da imprensa. A otimização do reporte de tragédias e acontecimentos
hiperlocais através dos “jornalistas cidadãos” é, de fato, uma das principais, senão a
principal, contribuição do Twitter à comunicação. Mas se os usuários regulares do
Twitter tem o benefício do anonimato, quantidade e instantaneidade; o capricho nas
apurações e cuidado com os dados ainda é trabalho da imprensa. Feitas as devidas
ressalvas, os “tuiteiros-repórteres” estão mais para fonte do que concorrentes dos
jornalistas.
De qualquer forma, as experimentações passivas (uso como fonte) e ativas
(uso como mídia-suporte) por parte da imprensa com o Twitter ainda são insipientes,
concentradas quase que integralmente na difusão de feeds. Acostumada aos velhos
padrões, a mídia ainda não se deu conta do poder do microblog como agente em
coberturas extraordinárias, ao vivo e através de dispositivos portáteis. A interação
com leitores, mais direta e menos burocrática do que em outros webserviços
também é um terreno a ser explorado.
Claro que há exceções para a regra que rege os perfis da imprensa, em sua
maioria pouco criativos. A pesquisa constatou que há contas mantidas por
organizações de mídia – ainda que poucas – que exploram e aproveitam ao máximo
os recursos e peculiaridades do Twitter. Essas páginas, modernas e
experimentalistas, adotam o microblog como serviço integrante da rotina produtiva,
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simultaneamente aos outros meios digitais e analógicos. Quando todos os veículos
agem em simbiose e a estratégia multimídia é bem sucedida, os espectadores ficam
melhor informados e satisfeitos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
63
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serviço e a mídia convencional na perfomance. Observatório da Imprensa. São
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Olinda. Olinda, 1994. Disponível em
<http://www.focca.com.br/cac/textocac/Estudo_Caso.htm>. Acesso em 11 maio
2009.
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APÊNDICE A – ENTREVISTA COM ANA OLIVEIRA
70
APÊNDICE B – ENTREVISTA COM FLORA PAUL
71
APÊNDICE C – ENTREVISTA COM HELIO SOARES
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AUTORIZAÇÃO
___________________________
Francisco Antônio Machado da Silva
Autor da Monografia
Itajaí,
2009/1
73
ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS
____________________________
Francisco Antônio Machado da Silva
Acadêmico
____________________________
Rogério Christofoletti
Orientador
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