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A Cubana dos Olhos Verdes.

Ele não entendia o que ela falava, ela só gemia e gritava o nome dele, nos pequenos
momentos em que ela não estava resfolegando, suspirando, respirando, vivendo aquele
momento casual. Ela gritava com a sua doce voz cubana:
— GEEERÁÁÁÁÁLDO!!
Até isso acontecer aconteceram umas coisas antes que talvez seja importante você
saber.
Geraldo era professor de matemática que dava aulas de manhã numa escola particular
pela Tijuca, pela tarde numa do município em Vila Isabel e a noite num pré-vestibular
na Tijuca. E quando terminava tudo isso voltava pra sua casa no Andaraí. Nos tempos
vagos, ele tentava ser humano. Ele até que na alienação dele conseguia se manter
informado das coisas e conseguia nos fins de semana curtir um som em algum canto.
Durante o ensino médio ele tinha sido roqueiro, metaleiro, punk e maluco. Quando
entrou pra faculdade começou a freqüentar umas escolas de samba, uns bares com mpb
e a falar sobre world music. Hoje em dia, já com seu mestrado, seus três empregos, com
mais de 15 anos de formado, tira uma onda de eclético e acha interessante falar sobre a
influência do jazz na música latina. Como professor ele tinha falar sobre tudo, não era
um cara chato, às vezes meio burro, mas consciente e fiel a sua asneira.
Contudo, sua vida era bem pacata. Em certos momentos do ano, períodos de prova
acabavam de vez com a sua “vida”, deixava as vezes de sair pra corrigir aquele
montante. Nessas épocas umas das melhores coisas que lhe aconteciam eram as
reuniões de professores, a única coisa de emocionante que acontecia. Mas sempre que
podia, saia às sextas. Varava noite adentro vagando de ambientes para outros ambientes,
tudo para se livrar, mesmo que conscientemente, do peso e da responsabilidade de sua
carreira.
Um dia desses, no final do primeiro trimestre, ficou sabendo de um show com uma
cubana que iria acontecer, numa casa ali pela Lapa. Ele ficou empolgado com a ideia e
mesmo sendo numa quarta-feira, tendo que aplicar prova no dia seguinte no município,
conselho de classe na particular e aula de trigonometria para a turma especial no pré!
Mesmo com tudo isso, ele resolveu ir. Botou pra foder, ele, que sempre seguiu essa
mesma rotina massacrante de abstinência a diversão, resolveu esquecer tudo e prestigiar
aquela linda cubana. Qualquer coisa ele ligaria pra escola falando que estaria doente,
resfriado ou qualquer coisa que o valha, e não poderia participar do conselho. Pro
município: tanto faz, como tanto fez, ele até já tinha deixado a prova lá, ligaria falando
pro estagiário aplicar a prova. E pro pré, bem, foda-se aqueles nerds precisam de um
descanso, até porque o ano mal começou e eles já estão quase explodindo! Mas coitados
deles, eles com certeza iriam acabar tento aula com outro professor, como os prés são
previsíveis.
Enfim ele chegou ao local, após ter ido ao bar errado e conseguiu pegar um táxi pra
chegar à casa certa, lá em Santa Teresa. Porque esse show era meio que restrito ou
exclusivo e o lance do endereço errado foi só para despistar e só quem estaria realmente
interessado, e com uma onça no bolso para conseguir a informação com o gerente do
bar da Lapa, conseguiria ver o show. Entrou no local, passou pelo bar da casa, e logo se
deparou com o palco ao ar livre, o que o deixou um tanto bolado por não ter comprado
um bom charuto para acompanhar o show, pensando que veria a cubana num local
fechado onde não poderia se fumar. E logo começou a apresentação de Martha Orestes
Ferrer. Uma linda morena cubana, de cabelos grandes, cacheados e negros, com olhos
verdes profundos, lábios carnudos pintados de vermelho. Seu corpo poderia ser descrito,
em detalhes, por mais de dois longos parágrafos, mas para ser breve pode-se dizer que
ela tinha um belo de um corpo de violão. E sua voz! Era algo incrível, uma potência,
uma profundidade, uma sensualidade sem igual!
Geraldo ficou terrivelmente hipnotizado por Martha, que cantava belamente,
acompanhada pelas congas, pelo bongo, pelo contrabaixo e pelo piano. Ele não
pestanejava, talvez não respirasse, apenas suspirasse a cada palavra entoada pela
cantora. Geraldo ficou sem palavras e quase sem dinheiro, consumiu quase metade do
chope da casa. Quando terminou o show, às duas da manhã (ele já estava sem condições
de levantar cedo, e quisá de viver), ele decidiu que precisava falar com ela. E conseguiu,
ele disse que sabia um pouco de espanhol e pediu pra ela falar devagar, e ela disse que
entendia um pouco de português e que ele falasse algo inteligível. E começaram a
conversar, ele falou sobre a vida dele, como adorou ela, como ela era linda, como
adorava música cubana. Ela escutou, entendeu metade das coisas, e falou que gostava
quando as pessoas gostavam da música dela, falou da infância dela, da vida dela em
Miami, de seus avós, de suas experiências com alucinógenos e seu envolvimento com
um movimento revolucionário de libertação da América do imperialismo Norte
Americano. Ele escutou, entendeu menos que a metade das coisas que ela disse,
entendeu que ela gostava do Che, e disse que morava sozinho e que adoraria passar
aquela noite com ela e talvez o resto de suas vidas. Ela parou, sorriu, envergonhada,
chegou perto dele, beijou a boca e disse em seu ouvido direito, que estava louca pra
conhecer a cama dele.
Pagou a conta. Pegou o táxi, se pegou no táxi. Pagou o taxista. Pegou o elevador, se
pegou no elevador. Abriu a porta de casa, jogou ela na parede e ficaram se pegando por
um tempo. Depois mostrou a cama dele, ela disse que tinha que tomar um banho, ele
mostrou o banheiro a ela. Ele foi até a sala pegou um uísque, e foi tomar banho com ela
e o uísque. Findado o banho caíram na cama e de lá não saíram. Rolaram para todos os
lados possíveis, suspiraram, gritaram, rimaram, se amaram, por uma noite inteira de
amor e selvageria interamericana.
O sol batia na sua cara, ele estava deitado, do seu lado, aquela linda cubana. Devia ser
perto do meio dia, pouco importava, ele estava feliz, muito feliz. Levantou pra buscar
uma água. Voltou e viu aquela doce criatura despertando, com seus lindos olhos verdes
fitando-o. Ela linda, sorria pra ele. Ele disse a ela que estava disposto a largar toda a
vida dele pra viver com ela. Ela disse “bueno”, levantou (nua, linda), buscou seu
celular, ligou pra alguém, com quem falou meia dúzia de coisas e depois disse a ele pra
se arrumar que ela queria ir a praia. Ele se arrumou sem piscar. Afinal, como ele
conseguiria dizer não a ela? Quando estava dobrando a esquina pra tomar o ônibus, uma
van parou na frente deles, ela saiu correndo, quatro caras mascarados saíram de dentro
dela e bateram nele.
O sol batia em sua cara, mas era um sol diferente, parecia ter outra intensidade, parecia
mais forte. Ele levantou a cabeça e lá estava a sua cubana, vestida com roupas militares,
dentro de um jipe, dizendo que hoje era o dia da revolução, que ainda bem que ele
estava com ela, que ela queria dividir aquele momento com alguém especial no meio de
uma floresta da Colômbia!

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