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Capítulo 40

***

A Estratégia do Caos
P. H. Liotta

O estrategista do caos tem como objetivo atacar o processo de tomada de decisões em


matéria de segurança nacional estadounidense, em lugar de suas forças militares, para
poder prevalecer. O objetivo do estrategista é provocar a paralisia das decisões e
convencer os líderes políticos de que não existe nenhuma solução, estado final nem
objetivo político claro. A estratégia caótica, que foi utilizada por todos o envolvidos na
guerra da ex-Iugoslávia e por Saddam Hussein no Iraque, inicialmente serve para
desencorajar a intervenção estadounidense, mas em última instância pode provocá-la. Os
adversários futuros, no entanto, provavelmente utilizarão o poder do caos como estratégia
para vencer.

É assim que os estrategistas do caos, como por exemplo Mohamed Farah Aidid da
Somália, Slobodan Miloševik da Sérvia ou Hussein do Iraque podem atingir seus
objetivos com êxito inclusive frente à ameaça direta da força por parte dos EUA. Qual é a
importância do argumento de Liotta –a respeito do exemplo específico dos Bálcãs neste
caso—na seleção e emprego das forças armadas do futuro? Se alguns aspectos de sua
argumentação parecem verdadeiros, deveriam ser enfatizadas as operações especiais e as
ações encobertas a expensas do emprego tradicional das forças militares?

Antes de conseguir uma mudança brilhante, deve reinar o Caos.

I Ching

Soltaram-se os demônios e andam por toda parte simulando grotescamente que são
homens honoráveis do século vinte que não acreditam nos espíritos malignos.1

Václav Havel

Pelo menos na teoria, a tomada de decisões sobre segurança nacional nos EUA é um
processo racional. Neste processo, o responsável pelas decisões estabelece as metas
desejadas da política e desenvolve uma estratégia para empregar os freqüentemente
escassos recursos para atingir essas metas. Este cálculo racional busca equilibrar os fins e
os meios.

Mas outra característica deste processo de tomada de decisões é que é vulnerável; e o


estrategista do caos aproveitará esta vulnerabilidade para "apoderar-se dos Estados
Unidos". Colocar uma estratégia de empenhamento direto contra as forças armadas
estadunidenses, como comprovou o Iraque durante a operação Tormenta do Deserto, é
uma loucura. Os estrategistas do caos, pelo contrário, manipulam os cenários em seu
benefício enquanto lutam por evitar que as forças armadas estadunidenses tomem parte.
O objetivo do estrategista do caos é a decisão de empenhar forças, não a resposta ao uso
da força.

Os adversários que não desenvolvem um processo de tomada de decisões similar ao dos


EUA –balanceando recursos e limitações, meios e fins—buscarão cada vez mais
maneiras inovadoras para "atacar", sem atacar diretamente a muralha do predomínio
militar estadunidense. O estrategista do caos, portanto, aponta contra o processo de
tomada de decisões da segurança nacional dos Estados Unidos, em lugar de ir contra a
força militar estadunidense, para poder prevalecer. O estrategista pertencente a esta
corrente que busca induzir a paralisia das decisões.

Na estratégia do caos, o objetivo chave é convencer os líderes políticos de que não existe
nenhuma solução, estado final nem objetivo político claro. A estratégia caótica
empregada por todos os envolvidos na guerra da ex-Iugoslávia e por Saddam Hussein no
Iraque, inicialmente serve para desencorajar a intervenção dos EUA, mas em última
instância pode provocá-la. Os adversários futuros, no entanto, quase com certeza
utilizarão o poder do caos como estratégia para obter lucros. Os estrategistas do caos,
como por exemplo Mohamed Farah Aidid da Somália, Slobodan Miloševik da Sérvia ou
Hussein do Iraque podem atingir o êxito de seus objetivos estratégicos ainda frente à
ameaça direta, e até a intervenção, com o uso da coerção por parte da força militar
estadunidense. Nos últimos tempos, a coerção dos EUA assumiu cinco características
gerais em qualquer crise:2

− uma aparente preferência dos EUA pelo multilateralismo (quer seja através de alianças
como a OTAN ou de organizações supranacionais como a ONU);

− a intolerância à perda de vidas do lado estadunidense;

− a aversão ao sofrimento dos civis e a sensibilidade ao "dano colateral";

− uma tendência a basear-se em munições de alta tecnologia com guia de precisão;

− o compromisso de respeitar as normas internacionais.

Admitido, sempre há exceções aos fatores mencionados. A intervenção no Kosovo em


1999, na guerra que com justiça pode ser chamada de primeira guerra humanitária, não
obteve um "resultado de êxito" até depois que se produziram muitas mortes de civis,
danos colaterais significativos e um ataque aéreo em massa sobre a infra-estrutura civil
na própria Sérvia.

Mesmo assim, ao passar de um estilo de guerra que se pode denominar Guerra de Estilo
Americano –essencialmente, o aniquilamento do inimigo—os EUA parecem haver
desenvolvido uma preferência pela coerção antes que o aniquilamento. À diferença do
aniquilamento, a coerção é um processo dinâmico de movimento e contra-movimento no
qual os adversários modelam suas estratégias para explorar as aparentes fraquezas
estadunidenses –ou sua previsibilidade. Esta é a nova era da guerra da coerção.
Se os formuladores de política não reconhecem ou aprendem a adaptar-se às evidentes
vulnerabilidades que implicam as cinco características mencionadas acima, diretamente
devem questionar o uso da força. Embora desagradável, talvez seja preferível este curso
de ação (ou inação, mais exatamente) antes que erodir a efetividade militar. Aliás, desta
maneira não serão encorajadas estratégias contra o caos que poderiam provocar a classe
de sofrimento que os formuladores de política buscam evitar desde o início.

O "êxito" do poder aéreo que fez com que Miloševik se sentasse na mesa para negociar
sua capitulação 77 dias depois de que a OTAN começou sua campanha de bombardeio
em massa em 24 de março de 1999 não nega o fato da igualmente maciça expulsão de
mais de um milhão de refugiados do Kosovo –a pior crise humanitária na Europa desde a
Segunda Guerra Mundial. Apesar de que a Operação Ferradura –a expulsão planejada e a
"limpeza" dos Kosovares Albaneses— poderia haver ocorrido mesmo se não tivesse
havido uma campanha contra a Iugoslávia em 1999, o assunto em questão não é se a
OTAN causou ou não o êxodo em massa de refugiados. Mas há uma diferença entre
destruir a capacidade de contra-ataque do inimigo e proteger a população civil, e essa é a
diferença que distingue a guerra humanitária da guerra mais tradicional.

Em termos simples, estamos planejando para as guerras que gostaríamos de enfrentar em


vez de planejar para as guerras que temos que livrar. Em 1988, o Secretário da Defesa
William Cohen, em relação ao futuro planejamento e a futura "transformação" das forças
armadas estadunidenses, declarou em várias ocasiões que "Não estamos buscando uma
guerra justa." Na verdade, tampouco os estrategistas do caos estão buscando uma guerra
justa.

O Caos Tem Algum Valor?

Qualquer adversário que se arriscar ao empenhamento das forças militares estadunidenses


deve empregar um método que aproveite as dimensões sociais dessa estratégia para
compensar as desvantagens da dimensão técnica.3 Esse adversário faria melhor se
tomasse como objetivo o processo de tomada de decisões em lugar de, como primeiro
passo, planejar de que maneira empenhar as forças (na sua dimensão técnica) quando já
foi tomada a decisão de fazer uso das mesmas. Ao buscar criar o caos para seu próprio
benefício estratégico em seu âmbito de influência, o estrategista do caos deve evitar pisar
o campo dos interesses "vitais" estadunidenses. O estrategista do caos trabalha melhor
nas sombras, por trás do pano de boca, fora da cena.

Dados os exemplos da intervenção na Bósnia-Herzegovina em 1995 e no Kosovo em


1999, o "êxito" das facções em guerra freqüentemente esteve do lado dos que podiam
aplicar uma força feroz, mas não foi suficiente para obter a grotesca provocação dos
estados não balcânicos. Em ambas as instâncias, a intervenção da OTAN foi um elemento
crítico de diplomacia coercitiva que forçou os Sérvios a suspenderem suas operações
ofensivas.

A força militar da OTAN buscava uma paralisia na resposta. O poder aéreo da OTAN
infligiu danos reais e simbólicos sobre as capacidades militares dos Sérvios enquanto as
forças terrestres dos Bósnios Muçulmanos-Croatas ou dos Kosovares Albaneses
simultaneamente tomavam vantagem para apoderar-se de tanto território como lhes fosse
possível num limitado período de tempo. O resultado destes dois golpes de graça por
terra e por ar, foi que a condução sérvia não teve outra opção senão capitular.

Esta aplicação das forças é um símbolo de duas idéias não necessariamente


contraditórias: primeiro, a noção sustentada pelos oficiais de nível médio e superior de
que "o [estrategista militar] pode ingressar no ciclo de decisão [de seu inimigo]
(freqüentemente chamado ‘a onda’), neutralizá-lo e matá-lo"; segundo, o uso da
tecnologia e o fato de que os EUA descansem no poder do fogo (há quem falaria em
obsessão com ele), dá lugar ao colapso do inimigo com poucas baixas "dos amigos".
Edward Luttwak disseminou parcialmente esta segunda idéia sob a denominação de
"Guerra Pós-Heróica."4

De uma maneira semelhante, Phillip S. Meilinger sugeriu que podem ser considerados
quatro tipos de guerra: do esgotamento, do desgaste, do aniquilamento e da paralização. 5
O conflito do Sudeste Asiático, uma guerra prolongada da qual os EUA tentaram de sair
depois de três décadas de envolvimento sem que se obtivesse nenhum resultado
duradouro, é um exemplo de guerra de esgotamento; Tormenta do Deserto, onde a
coalição empregou ataques de alta densidade, armas de alta tecnologia e alvos de
precisão, é um exemplo de guerra por paralização. O instrumento por excelência que
permite ao estrategista passar de um tipo de guerra ao seguinte é o poder. O que o
estrategista (estadunidense) busca através da paralisia de resposta é induzir o caos.

Mas, o estrategista do caos oponente está totalmente consciente do poder assimétrico e


inigualável dos Estados Unidos. O "objetivo" correto, por dizê-lo de alguma maneira, é a
"dimensão social" da tomada de decisões políticas a nível nacional. O estrategista do caos
busca induzir a paralisia de resposta antes de que se aplique a força. Na sua expressão de
maior êxito, este estrategista poderia convencer os mais importantes líderes políticos
estadunidenses de que a situação na esfera de dominação do estrategista é demasiado
caótica. Assim, apesar da nobre idéia dos princípios, introduzir as forças armadas não
seria em benefício de nenhum interesse dos EUA. Mais ainda, o envolvimento das forças
armadas estadunidenses abre a possibilidade de que se produzam baixas norte-americanas
numa operação que não chega a ser uma guerra e não parece ter uma solução clara, um
resultado final, nem sequer um objetivo político (que não seja a dominação do caos).

O estrategista do caos deseja evitar o empenhamento das forças. Ainda introduzindo as


forças e desdobrando tropas em terra, como na Bósnia ou no Kosovo, o estrategista do
caos deseja prolongar a ambigüidade. O resultado desejado é ainda a paralisia das
decisões. Aquilo que uma vez foi a I-FOR da OTAN, e depois se converteu em S-FOR
(Forças de Estabilização, sigla em inglês) e em 1999 foi complementado com a K-FOR
(Força no Kosovo) traz a possibilidade de que finalmente retorne a estabilidade e até o
progresso nos Bálcãs. Mas quando se alcançará este resultado é um fato sobre o qual não
há certeza alguma.
O problema do predomínio militar é que, ironicamente, é uma fraqueza que a maioria dos
planejadores da defesa consideram uma fortaleza importante. A imensa vantagem do
poder do fogo, a tecnologia e as forças disponíveis nos EUA requerem a aplicação clara e
diferenciada dos meios para alcançar os fins. As doutrinas de Weinberger e Powell, que
requeriam definições claras das metas políticas e os interesses norte-americanos em jogo
antes de uma intervenção, funcionaram em Tormenta do Deserto porque os mesmos
"eram adequados" para Tormenta do Deserto. Estas mesmas doutrinas de defesa teriam
impedido que os EUA interviessem no Sudeste Asiático e até um certo ponto, impediram
a intervenção estadunidense na Bósnia bem como a introdução de forças de combate
terrestre no Kosovo.6

Durante o debate na Casa Branca sobre a questão da intervenção na Bósnia-Herzegovina


em 1993, a então Embaixadora perante a ONU Madeleine Albright mostrou sua
frustração ao General Powell, nesse momento Chefe do Estado-Maior Conjunto dos
EUA, perguntando-lhe "Qual é o sentido de ter estas magníficas forças armadas se não as
podemos usar?"7 Entretanto, Sun Tzu escreveu uma vez "Se não é possível vencer, não se
devem empregar tropas."

No verão de 1995 o General Charles Boyd apontou, em referência especificamente à


Bosnia, que "afinal, os EUA devem enfrentar a realidade de que não podem obter uma
solução durável com a força militar –de ar ou de terra—mas apenas soluções que duram
até que parte."8 E, na seqüela do conflito da Bósnia em 1995, e no Kosovo em 1999, não
há soluções duráveis.

A estratégia do caos não é um conceito novo. Dentro de certos contextos culturais é o


enfoque filosófico que prevalece para conduzir a guerra. Entre certos teóricos militares
estadunidenses, este é um conceito estratégico que se adaptou para a prática de
estabelecer a dimensão das forças de um inimigo e não um conceito para pensar sobre a
guerra, nem no sentido físico nem no sentido metafórico. (O estado final, tanto para Tzu
como para Clausewitz é a busca da mesma "vantagem comparativa" –em Chinês, shih.)
Assim, embora os teóricos em geral possam referir-se a Tzu e a Clausewitz com a mesma
classe de reverência, para os teóricos militares o Deus da Guerra continua sendo
Clausewitz. Nas instâncias em que Sun Tzu apresenta conceitos diferentes das
construções de Clausewitz, Tzu perde para a mentalidae destes pensadores.9 As máximas
de Sun Tzu que promovem "submeter o inimigo sem luta" e "tomar o estado intato" são
noções que os teóricos estadunidenses rejeitam por idealistas; os estrategistas do caos,
pelo contrário, reconhecerão o conselho de Tzu como um estratagema para paralisar os
responsáveis pelas decisões.10

Sun Tzu, entretanto, não era o único estrategista militar da antiguidade que reconhecia o
valor do caos. O uso do caos, como instrumento de poder e ao mesmo tempo, como uma
estratégia, aparece em todas partes como a melhor obra destes "teóricos", The Seven
Military Classics of Ancient China (Os Sete Clássicos Militares da China Antiga). E
ainda que se haja estendido a idéia de que estes textos militares da antiguidade influíram
sobre o pensamento militar do século vinte, continua sendo verdade, em geral, que
"Ocidente" empregou o caos só como instrumento de poder e não como o princípio
diretor de nenhuma estratégia. A China, pelo contrário, representa hoje um duplo desafio
para "Ocidente" com sua economia em franca expansão e seu crescente arsenal militar; é
possível que o trabalho dos estrategistas antigos esteja "adquirindo um renovado vigor".11

Vamos considerar, a modo de prova, estas expressões tomadas do trabalho "Essential


Principles of War" (Princípios Essenciais da Guerra), que enfatizam a importância do
caos como um enfoque para o empenhamento: "Ser enganoso", "confundir o inimigo",
"dividir o inimigo", "evitar os inimigos fortes", "evitar o substancial", "calcular as
chances", "manipular o inimigo", "reunir inteligência", "empregar a surpresa", "evitar as
campanhas prolongadas", "variar as táticas", "agir inesperadamente", "empregar o não
ortodoxo".12 Enquanto os combatentes das forças armadas estadunidenses lutam por
conseguir muitos destes princípios no ideal, os problemas de predomínio de forças
impedem seu exercício na realidade. A questão não é apenas a dimensão da força militar,
mas também a filosofia que inspira a prática e a aplicação dos princípios da guerra.

Na terminologia militar dos EUA, "engano" e "surpresa" são termos que aparecem em
forma regular na lista de controle quando se pensa na guerra. Mas, são estes dois
elementos mais indefinidos e menos precisos?, são elementos que mudam
constantemente devido precisamente à sua própria complexidade sutil, mas na verdade
caótica,? Ainda os ativos de inteligência dos EUA --que em termos de capacidades e
tecnologia são os maiores na história-- são insuficientes quando devem enfrentar a incerta
arte da inteligência e a imprevisibilidade humanas. Na verdade, apesar de todos os
avanços na guerra convencional e não convencional experimentados pelos estadunidenses
depois da intervenção no Sudeste Asiático, em muitos aspectos a débâcle da Somália não
foi diferente da débâcle do Vietnã: "Se estes desgraçados ao menos saíssem e lutassem
como homens... os esmagaríamos."13 Estes são os comentários que fazem com que os
estrategistas do caos se deliciem .

Um especialista asiático diz que a guerra ideal se coloca em três fases: empenhamento;
caos; decapitação [jiaofeng; luan; zhan]. O mestre deste enfoque "Intelectual" sobre a
guerra é, logicamente, Sun Tzu. Esta mesma autoridade se refere à teoria da vitória na
guerra de Clausewitz como um enfoque de "Engenharia" que também tem três fases bem
definidas: batalha; campanha; final da guerra –todas se produzem em etapas integrais,
acumulativas.14 É assim que quando os guerreiros estadunidenses falam de "neutralizar e
matar" o inimigo, estão dizendo, em forma metafórica, "decapitar" o inimigo. Quando o
guerreiro do caos fala de zhan, ou seu equivalente lingüístico numa cultura diferente, o
sentido é literal. O estrategista do caos e o guerreiro do caos preferem a eliminação do
inimigo na sua forma mais pura. Em idioma Sérvio isto se chamaria etni…ko …iš…enje:
"limpeza étnica".

Trocando os nomes e a geografia, não seria difícil sugerir que cada uma das facções em
luta na ex-Iugoslávia nutria-se, sem sabê-lo, nas construções de diferentes estrategistas
antigos. The Six Secret Teachings of T’ai Kung (As Seis Lições Secretas de T’ai Kung)
sugere "utilizar subornos, presentes e outros métodos para induzir a deslealdade entre os
oficiais do inimigo e causar consternação nas filas... fornecer as ferramentas da auto-
destruição"; "não é possível falar com quem não tem uma compreensão profunda da
ordem e do caos..."15 De igual modo, podem ser aplicados The Methods of the Ssu-ma
(Os Métodos do Ssu-ma): é necessário ser "capaz de ser grande ou pequeno, firme ou
fraco, mudar as formações e usar grupos de muitos ou poucos –sendo em todos os
aspectos um par [do inimigo]—[explorando] o balanço de poder [ch’üan] na guerra."16
Sun Tzu admite que as combinações criativas podem ao mesmo tempo desestabilizar o
oponente "convencional" e obter os melhores resultados: "O que permite às massas dos
Três Exércitos resistir invariavelmente o inimigo sem ser derrotados é o não ortodoxo
[ch’i] e o ortodoxo [cheng]."17

Em última instância, a melhor garantia de êxito é que o estrategista do caos traga o caos
ao inimigo sem envolvimento no campo de batalha. Como disse L’i Ching ao comentar
as práticas de guerra postuladas por Sun Tzu: "Nunca poderá registrar-se completamente
o número de casos em que, desde a antiguidade, um exército caótico [ou seja, com o caos
provocado em suas filas] conduziu [o inimigo] à vitória." 18

Consciente ou inconscientemente, os estrategistas do caos nos Bálcãs buscavam a


vantagem de atacar as decisões políticas quer para evitar a guerra quer para induzir a
intervenção da força militar em sua ajuda. Assim, sérvios e croatas negavam certos
envolvimentos militares ou violavam acordos prévios de cessar-fogo sempre que lhes
fosse possível enquanto, ao mesmo tempo, buscavam evitar a ira de "Ocidente" durante
as guerras dos Bálcãs entre 1991 e 1995; de igual modo, o governo bósnio (1992-1995) e
os kosovares albaneses (1999) buscavam a intervenção da OTAN por todos os meios
possíveis. Retrospectivamente, todos estes estrategistas reconheciam que podiam utilizar
o caos para obter uma vantagem comparativa individual.

Manipulação do Caos?

Quando os Estados Unidos têm uma política exterior que prevê as contingências e uma
direção clara para conduzir esta política, o processo de tomada de decisões sobre a
segurança nacional se desenvolve numa forma muito direta. O estrategista do caos, que
conhece este processo seqüencial nas decisões estadunidenses, trata de travar sua
evolução, induzir pressão –real ou imaginada—e invocar (ou evitar) a resposta dos meios
de comunicação com sua instantânea acessibilidade global, para benefício dos fins e os
meios dessa estratégia. Como resultado dessas pressões, cronogramas intensificados e
explosões dos meios, o processo de tomada de decisões para a segurança nacional
freqüentemente se torna pouco mais que uma resposta à crise. Robert Gates, um ex-
Diretor da CIA, admitiu que aqueles que desenham as políticas devem "adotar uma
disciplina" para evitar a pressão dos meios, especialmente da CNN, porque "Não se pode
pensar no que te pagam para fazer ...[que é] definir políticas." 19 Stan Schrager, diplomata
de carreira que foi porta-voz da embaixada estadunidense durante a recente crise no Haiti,
comentava que em tempos de tão intensa pressão, "ganha o primeiro rascunho [de
resposta diplomática] que se põe sobre a mesa."20

Apesar das distorções dos meios, a política exterior dos Estados Unidos merece algum
crédito por poder liberar-se, quando o faz, do "cepo da crise" que os meios tratam de
impor sobre o processo de decisão de políticas. No entanto, no exemplo da Bósnia, a
intervenção teve lugar quatro anos depois da primeira explosão do conflito; sua
necessidade tornou-se evidente só depois que foi óbvio que as forças de paz da ONU, não
estando as forças da OTAN, não podiam manter a paz.21 O que pode aprender o
estrategista da manipulação do caos? Talvez que os meios estadunidenses, em geral
histórica e culturalmente desinformados, costumam reagir às crises "instantâneas" (e
ainda as prolongadas) colocando o foco no sensacionalismo e não no substancial. Esta
prática tende a explorar, e também a menosprezar, o sofrimento humano e a dignidade
humana.

A analista dos Bálcãs Susan Woodward reconheceu que os meios são "indiscutivelmente,
uma arma de guerra e todo o mundo o sabe."22 O verdadeiro estrategista do caos também
sabe isso e que este instrumento de poder pode ser manipulado para obter vantagens: para
fazer com que as reclamações contra o adversário pareçam legítimas e que as pretensões
do adversário sejam vistas como bárbaras. No exemplo dos Bálcãs, todos os bandos
cometeram crimes cruéis e horrorosos, freqüentemente contra inocentes. Porém, a
percepção foi que só uma das facções, os sérvios, cometiam atos de brutalidade. E nos
Bálcãs, como se torna evidente em todas partes, as percepções são mais importantes que a
realidade.

Cultura do Caos?

A partir desse momento se disse que os Brankoviches de Erdérly contam em idioma


cigano, mentem em língua valaca, guardam silêncio em grego, cantam hinos em russo,
são mais inteligentes em turco e falam sua língua materna –o idioma sérvio—apenas
quando vão matar.23

Milorad Pavik, The Dictionary of the Khazars (Dicionário dos Khazars)

A violência genocida é um fenômeno natural em harmonia com a natureza divina do


social e do mitológico.24

Franjo Tudjman, primeiro presidente da Croácia.

O presidente Mao criou a odiosa idéia de que para que uma revolução tenha êxito não
deve terminar nunca; isto explica por que muitas revoluções triunfam durante a
insurreição mas fracassam nas sucessivas tentativas de governabilidade. Com uma receita
como essa, o modelo do caos do século vinte seria o Ayatollah Khomeini, que patrocinou
a única revolução recente de que se tenha memória na qual os povos lutavam para
entregar seus direitos individuais, sem importar até que ponto estivessem limitados
muitos deles.23 A revolução de Khomeini se construiu ao redor da cultura do caos:

A disciplina mental de Khomeini era diferente da disciplina de outra gente. Ele era um
homem do povo. Entendia a maioria das pessoas. A maioria não era educada. Não
queriam uma revolução. O que queriam era dinheiro, e Khomeini o sabia ... portanto
trouxe a desordem ao país e lhes permitiu saquear. Ele fez o que eles queriam... Quando
Khomeini dizia "Sigam a lei" não era a lei do país. Era sua lei, a lei de sua própria mente.
Ele queria o caos total. Esse dia na sua casa eu percebi que esse homem não era um
homem de governo. Ele continuava sendo um revolucionário. Não podia controlar-se. Até
o último dia, estava provocando a desordem.26

Isto pode também ajudar a explicar por que o modelo do caos parece haver fracassado na
última guerra dos Bálcãs e por que o arquiteto do caos, o presidente sérvio (e depois
iugoslavo) Slobodan Miloševik desatou as forças do caos, as deixou soltas e finalmente
teve que aniquilar os elementos do caos que havia criado para manter com firmeza o
controle de seu governo autoritário. Miloševik pode ter aprendido o que Tito sabia de
sempre: para manter o controle pode ser usado o caos ou o despotismo mas não as duas
coisas.

Os sérvios se adaptam melhor à cultura da guerra e o caos que outros povos eslavos do
sul? A resposta, na realidade, é não; a resposta, a partir da percepção, é sim. Até o próprio
Miloševik pareceu acreditar nesta percepção quando em março de 1991, numa reunião
privada com 200 intendentes sérvios, fez a afirmação (que depois se filtrou ao público) de
que "Se os sérvios não sabemos como trabalhar e fazer negócios, pelo menos sabemos
como lutar."27 Portanto, há esta aparência de que os sérvios têm uma cultura que florece
no caos. A guerra torna-se "uma continuação não da política, mas do esporte."28 Os
guerreiros do caos criam mais desordem no meio do caos e depois se retiram, frente às
forças superiores e mais disciplinadas da OTAN. Estes guerreiros também recorrem ao
tráfico ilegal de tipo mafioso fronteiras para dentro de seus próprios estados ou vendem
seu talento de "escória da humanidade" para provocar derramamentos de sangue e
genocídio mercenário em outros territórios.29

Os estrategistas do caos negam sua culpa ainda frente às provas em sua contra. Mas a
comunidade internacional prefere ignorar as provas para evitar o retorno do caos. Por
exemplo, em 1995, Kedomir Mihailovik, que foi oficial de alto nível das forças de
segurança sérvias, ofereceu ao Tribunal Internacional de Crimes de Guerra da ex-
Iugoslávia provas que ligavam diretamente Slobodan Miloševik ao controle dos "campos
de extermínio" bósnio-sérvio e às ordens escritas impartidas ao comandante paramilitar
Keljko Raknatovik, mais conhecido como Arkan, para executar os líderes muçulmanos "a
fim de atemorizar a população muçulmana."30 Até hoje, apesar das provas, Miloševik não
foi julgado; e provavelmente nunca o será.

O mito cultural do povo sérvio é que os deixarão sozinhos e abandonados e que assim
continuarão sendo os guardiães de seu próprio destino. Mas mesmo assim, Jovan Cvijik
de Belgrado e Vladimir Dvornikovik de Zagreb, destacados etnógrafos e antropólogos,
afirmaram "que há algo inerentemente anárquico e violento no caráter de [todos –sérvios,
croatas, eslovenos, montenegrinos] os povos dinares alpinos."31 No entanto, o "Ocidente"
em geral, marginalizou e caracterizou os sérvios (e os montenegrinos) como os únicos
vilões da última guerra dos Bálcãs. É assim que as contradições dentro de Sérvia –que
dão a impressão de uma cultura do caos—sempre funcionarão em prejuízo da Sérvia.
Inclusive a própria crença cultural dos sérvios de que eles sobreviverão o caos e
triunfarão, serviu apenas para danificá-los durante o processo que levou à morte da
Iugoslávia.
Um exemplo desta crença míope também perseguiu os sérvios. Em 1990, durante a
Rebelião de Knin da Croácia, os MiG do Exército Nacional da Iugoslávia (JNA)
interceptaram os helicópteros do Ministério do Interior (com reservistas da polícia a
bordo) que se dirigiam ao para-estado que havia adoptado a denominação de República
Sérvia de Krajina, para temperar a desordem. Em palavras da Vice-Ministro do Interior
Croata, Perica Jurik, no helicóptero líder:

Os aviões [do JNA] nos lançavam para o chão. Apenas podíamos manter-nos em vôo.
Depois bloquearam nossas conexões radiais e não podíamos comunicar-nos nem sequer
entre nós. Depois de alguns minutos, o piloto do MiG entrou em contato e suas ordens
foram muito simples: ou voltávamos diretamente a Zagreb ou nos faziam cair. Tínhamos
um minuto para fazê-lo.32

A Croácia nunca esqueceu esta humilhação e o caos e o pânico que produziu entre os
funcionários do governo. Ao destruir o encrave sérvio dentro da Croácia, conhecido
como a República de Krajina, com o êxito do blitzkrieg de 1995 da Operação Tormenta,
as forças croatas "queimaram, saquearam e devastaram de tal maneira que poucos sérvios
alguma vez voltarão a seu assentamento histórico. Os sérvios que permanecem na Bósnia,
empobrecidos e abusados, vagam entre as ruínas de seu pequeno para-estado."33 A
Croácia apostou a que o pragmatismo de Miloševik abandonaria os sérvios que estavam
fora da Sérvia ao enfrentar a dominação do poder. A Croácia havia aprendido o valor do
caos.

Esta operação croata se conseguiu, hoje sabemos, com a aprovação tácita dos Estados
Unidos. Planejadores militares retirados dos EUA haviam "aconselhado" ativamente às
forças croatas realizar a Operação Tormenta –denominada assim em clara reminiscência
da Operação Tormenta do Deserto. Mais ainda, os EUA anteriormente haviam
"aprovado" (ao negar-se a censurar) a violação por parte do Irã ao embargo internacional
de armas à Bósnia mediante o transbordo através da Croácia.

A Croácia, penosamente mal preparada em forças de defesa confiáveis no momento da


declaração de sua independência em 1991, procedeu a construir umas formidáveis forças
armadas durante os seguintes quatro anos. A Sérvia, reduzida a estado pária por parte de
"Ocidente", tornou-se cada vez mais dependente do contrabando, o mercado negro, a
violação das sanções, as transações ilegais para adquirir armas e a lavagem de dinheiro
em mercados extraterritoriais para perpetuar a guerra dos Bálcãs. A Sérvia, ao não
aprender os perigos do caos, terminou por depender do caos.

Resposta ao Caos?

O que os diplomatas . . . . não puderam apreciar é que, apesar da aparência do caos, nas
guerras se combateu com uma racionalidade terrorífica..... 34

Laura Silber e Allan Little, Yugoslavia: Death of a Nation (Iugoslávia: A Morte de uma
Nação)
O estrategista do caos pode muito bien extrair das recentes guerras dos Bálcãs a verdade
de que nenhum caso anterior na história –Vietnã, Iraque, Líbano—pode se assemelhar ao
Enigma dos Bálcãs para explicar completamente as causas do conflito. Mas estes
estrategistas poderão, sim, aprender como manipular o caos em seu benefício. Como
escreveu T’ai Kung nas suas lições "secretas": "O êxito e a derrota em todos os casos
provêm do emprego espiritual do poder estratégico [shih]. Os que o conseguiram,
floreceram; os que o perderam, pereceram."35

Para obter a vantagem comparativa do shih, deve-se empregar e deve-se ter o poder do
luan –caos. Talvez não reconhecer esta exploração contínua do caos para gozar de uma
vantagem contínua ajude a explicar por que a Sérvia perdeu mais do que merecia perder
(e por que, em conseqüência, a Croácia pôde "ganhar" mais do que merecia) e também
por que a Bósnia-Herzegovina pôde sustentar-se, por qualquer meio possível em
condições aparentemente impossíveis, para converter-se no para-estado que é hoje. Tal
disparidade também pode explicar por que a guerra retornará aos Bálcãs.

O que até hoje não se sabe é se as principais facções que desmembraram a ex-Iugoslávia
tinham o conhecimento estratégico como para seguir em forma ativa uma estratégia do
caos deliberada. Cada uma destas facções, no entanto, pôs em prática aspectos
específicos de uma estratégia do caos que visa a aumentar as vantagens comparativas
[shih]. Os que tinham uma vantagem comparativa no nível militar (ou, mais
adequadamente, paramilitar) não foram os estrategistas do caos mais eficazes.

Tanto Alija Izetbegovik, como Franjo Tudjman, e Slobodan Miloševik trataram de


manipular o caos para obter uma vantagem comparativa estratégica, e seus sucessores
poderiam fazer o mesmo no futuro. Portanto, a ex-Iugoslávia parece um exemplo
adequado para considerar o paradigma do caos. Mais ainda, a permanência da S-FOR e a
K-FOR da OTAN na região depois de 1999, serviram para confirmar a intratabilidade do
Enigma dos Bálcãs. E especialmente Miloševik, continuou sendo o estrategista do caos
mais efetivo, em grande medida devido à sua própria sagacidade. Pode-se dizer que
Miloševik, figura política central no que se refere à morte da Iugoslávia, sobreviveu a
todas as predições de seu desaparecimento porque ele se importava menos com o
nacionalismo, a Grande Sérvia, e os direitos étnicos dos Sérvios e mais com controlar a
vantagem comparativa [shih]. À diferença de muitos outros atores na ex-Iugoslávia,
Miloševik conhecia o valor e o perigo do caos.

Se os EUA se arriscarão ou não a embarcar-se no miasma do caos no futuro, é uma


questão totalmente diferente. O século vinte e um pode albergar a evolução de uma nova
ordem ou desordem mundial. Mas no final do século vinte, Henry Kissinger proclamou
que os Estados Unidos não podem nem devem usar sua força militar em áreas que não
são essenciais aos interesses estadunidenses: "Foi precisamente a incapacidade para
diferenciar as ameaças à Europa das ameaças ao Sudeste Asiático o que produziu a
tragédia do Vietnã."36

O Fim do Caos ou o Caos como um Fim em Si Mesmo?


Faz quase quatro décadas, Roger Trinquier dizia em Modern Warfare: A French View of
Counterinsurgency (A Guerra Moderna: A Visão Francesa da Contra Insurgência) que a
guerra atual é um sistema entretecido de ações e conflitos políticos, econômicos,
psicológicos e militares. Trinquier afirmava que os exércitos costumam lutar em guerras
tradicionais e na guerra moderna estão condenados ao fracasso, apesar de um poder de
fogo arrasador.37

Talvez o estrategista do caos tenha aprendido, a partir de observar e enfrentar as últimas


intervenções dos EUA, como fazer com que seja muito doloroso para "Ocidente"
envolver-se –com toda sua dominante força militar e poder diplomático. Com relação ao
exemplo dos Bálcãs, depois do que ocorreu no Kosovo, não se deveria concluir
apressadamente que derrotamos Miloševik e "ganhamos" a guerra. Ainda vamos ver
como se podem atingir no longo prazo nossas metas políticas de estabilidade e integração
regional, ainda que os escassos recursos permaneçam atados à resolução do conflito, a
administração local, o apoio da infra-estrutura e significativas missões de manutenção da
paz.

Este ensaio, entretanto, não sugere que os estrategistas do caos inevitavelmente


derrotarão os Estados Unidos, eles podem –e com freqüência o fazem—estrangular o
processo de tomada de decisões sobre segurança nacional. Mesmo se os EUA têm a
capacidade de empenhar um maciço poder de fogo e, fazendo-o, quase sempre sem a
ameaça de represálias em espécies, algumas das estratégias anti-coercitivas consideradas
rapidamente neste trabalho poderiam muito bem entrar no jogo em empenhamentos
futuros. De igual modo, pode ser problemático pôr a ênfase exclusivamente nas soluções
tecnológicas para a guerra –para determinar os resultados políticos. Ainda que seja um
clichê, continua sendo verdade que devemos preparar-nos para a guerra que devamos
necessariamente lutar e não planejar para as guerras que queremos livrar.

"E nesse dia perguntaremos ao Inferno: ‘Foi suficiente para você?’" escreveu Meša
Selimovik em Derviš i Smrt [Death and the Dervish – Morte e os Dervixes]. "E o Inferno
responderá: ‘Há mais?’"38 Esta imagem arrepiante parece uma maneira adequada de tratar
qualquer consideração sobre a débâcle dos Bálcãs.

Só quem puder resistir no caos, durará o suficiente para aprender esta verdade.

Notas

1. Do ensaio de Havel "Thriller," em Living in Truth, (Vivendo com a Verdade) traduzido


por Jan Vladislav (Londres: Faber and Faber Limited, 1986).

2. Adaptado em parte de Daniel Byman e Mathew Waxman, "Defeating US Coercion,"


(A Derrota da Coerção dos EUA) Survival, Volume 41, Número 2 (Verão 1999): 108.

3. Andrew F. Krepinevich, Jr., "Major Regional Conflicts: The Streetfighter Scenario,"


(Conflitos Regionais Principais: O Cenário da Luta Nas Ruas), The Bottom-Up Review:
An Assessment (A Revisão de Baixo para Cima: Uma Avaliação) (Washington, D.C.:
Projeto de Orçamento de Defesa, Fevereiro 1994), parte V, 42.

4. Luttwak poderia postular também que a importância da "Guerra Pós-Heróica" reside


numa "paciência voluntária e cuidadosa" para aplicar uma força militar
predominantemente estadunidense ou liderada pelos EUA, bem como um retorno aos
"métodos que evitam as baixas da guerra do século dezoito" –baseado nominalmente na
guerra economicamente consciente dos romanos. Edward N. Luttwak, "Toward Post-
Heroic Warfare" Para uma Guerra Pós-Heróica), Foreign Affairs (Maio-Junho 1995):
109-122. Os embargos e as sanções econômicas contra estados adversários também
podem valer mais a pena que os empenhamentos em campos de batalha tradicionais que
caracterizavam as guerras no passado. Se é assim, continuam sendo instrumentos de
poder muito pouco populares (em contraste com a rápida aplicação do instrumento
militar) para os responsáveis pelas decisões de políticas. Por exemplo, as sanções
econômicas contra Sérvia colocaram de joelhos o regime de Miloševik. Num momento
durante a última guerra dos Bálcãs, a inflação chegou, conforme algumas informações a 9
bilhões por cento. O regime, no entanto, se manteve (do mesmo modo que os regimes de
Irã e Iraque sob a política de "contenção dual" apesar da tentativa de isolá-los
economicamente). Mais ainda, o poder aquisitivo médio do habitante sérvio desabou
enquanto a vitalidade dos elementos da Máfia, o contrabando do mercado negro e as
práticas de "burla de sanções" prosperavam de forma desmesurada. Outro aspecto das
sanções econômicas aponta a seletividade estadunidense: o embargo de 1997 contra a
ditadura de Burma (país que se chama a si mesmo Myanmar) foi menos que efetivo
porque outras nações, particularmente as nações da ASEAN, continuam investindo em
Burma. As normas aplicadas pelos EUA como justificativa para as sanções contra Burma
também poderiam haver sido aplicadas contra a China –que não foi e não será "castigada"
com sanções econômicas. Burma não representa um interesse vital para os EUA, porém a
China, sim.

5. Vide "Air Targeting Strategies: An Overview" (Estratégias de Fixação de Alvos


Aéreos: Panorama) em Airpower Confronts an Unstable World (O Poder Aéreo
Confronta um Mundo Instável), Richard P. Hallion, editor (Washington, D. C.: Brassey’s,
1997), 51-80.

6. Uma das melhores críticas à doutrina de Weinberger, que inclui exemplos de sua
aplicabilidade a diferentes formas de intervenção, pode ser encontrada em Michael I.
Handel, Masters of War: Classical Strategic Thought, (Os Amos da Guerra: Pensamento
Estratégico Tradicional) 2ª. edição (Londres: Frank Cass, 1996), 185-203

7. Colin Powell com Joseph E. Persico, My American Journey (Minha Viagem


Americana) (Nova York: Random House, 1995), 576

8. General (retirado) Charles G. Boyd, "Notary Public" (Fazendo a Paz com os


Culpados: A Verdade sobre a Bósnia), Foreign Affairs (Setembro-Outubro 1995): 38
9. Michael Handel sugere que as diferenças entre Clausewitz e Sun Tzu (que ele admite
serem várias) podem, com freqüência, ser atribuídas a diferenças nos ênfases, não em
substância." Assim, a recomendação de Sun Tzu de fazer as duas coisas: "tomar um
estado intato" e "submeter o inimigo sem lutar" marca uma diferença entre a noção de
guerra ideal e guerra real de Clausewitz. Masters of War: Classical Strategic Thought
(Os Amos da Guerra: Pensamento Estratégico Tradicional) 2ª edição, (Londres: Frank
Cass, 1996), 24. Este estrategista busca transformar a ênfase em substância, para fazer
real o ideal.

10. Sun Tzu, The Art of War (A Arte da Guerra), traduzido pelo General de Brigada
Samuel B. Griffith (Londres: Oxford University Press, 1963), 77

11. The Seven Military Classics of Ancient China (Os Sete Clássicos Militares da China
Antiga), tradução e comentário de Ralph D. Sawyer, com Mei-chün Sawyer (Boulder,
Colorado: Westview Press, 1993), xii.

12. Ibid., 545-546.

13. Comentários realizados por um oficial militar frente a jornalistas; extraído de uma
aula do Profesor William J. Duicker em janeiro de 1996, Pennsylvania State University

14. Baseado nas notas de uma aula e extraído de conversações com o Professor Arthur
Waldron, Universidade de Pennsylvania. O enfoque de "Engenharia" tem uma notável
semelhança com o processo de pensamento e implementação da "Revisão de Baixo para
Cima" bem como a Revisão Quadrienal da Defesa de 1997.

15. The Seven Military Classics of Ancient China, 33; 71.

16. Ibid., 135.

17. Ibid., 326. A obra de Sun Tzu, The Art of War (A Arte da Guerra) era conhecida pelas
gerações anteriores como The Classic of Grasping the Unorthodox (O Clássico na
Percepção do Não Ortodoxo) ou The Classic of Grasping Subtle Change(O Clássico na
Percepção das Mudanças Sutis)

18. Ibid., 333.

19. Johanna Neuman, "Has CNN Replaced Envoys?" (A CNN substituiu os Enviados?),
Foreign Service Journal, Julho de 1995, 30-31

20. Ibid., 31.

21. Bob Nordland e Joel Brand, "Dealing with the Devil," (Tratando com o Diabo),
Newsweek, 24 Abril 1995, 44. O ex-Embaixador perante a Iugoslávia Warren
Zimmermann agora admite: "Eu mesmo não recomendei [o uso da força] [antes]—grave
erro".
22. "Dando Sentido ao Caos: A Informação sobre a Guerra na Bósnia" painel de debate,
Escola de Comunicações, American University, Washington, D.C., 5 Outubro de 1993

23. Franjo Tudjman, Bespuca-Povjesne Zbiljnoti [Wastelands: Historical Truth / Os


Páramos: A Verdade Histórica] (Zagreb: Nakladnizavod Matice Hrvatske, 1989), 152

24. Milorad Pavik, The Dictionary of the Khazars: A Lexicon Novel in 100,000 Words
(Male Edition) (O Dicionário dos Khazars: traduzido do Sérvio-Croata por Christina
Pribikevik Zorik (Nova York: Alfred A. Knopf, 1988), 25.

25. A defenestração do estado que operava como marionete dos soviéticos em Kabul por
parte da milícia talibã (à qual a República Islâmica de Irã se opunha) não foi uma
revolução popular. A maioria dos soldados do governo que se opunham aos talibãs eram
mercenários, Tajiks de raça, muitos dos quais haviam escapado do caos de Tadjiquistão.
Os talibãs impuseram as estritas leis islâmicas apenas sob a ameaça de morte em caso de
sua violação. Inclusive no oeste afegane se mantiveram bolsões de resistência ativa
militar.

26. V. S. Naipul, "After the Revolution" (Depois da Revolução), The New Yorker, 26 de
Maio de 1997, 52-54.

27. Laura Silber e Allan Little, Iugoslávia: Death of a Nation(Iugoslávia: A Morte de


uma Nação), (New York: TV Books, 1995), 129.

28. Martin van Creveld, The Transformation of War (A Transformação da Guerra), (New
York: The Free Press, 1991), 191. Van Creveld, que publicou seu livro justamente antes
da explosão de Tormenta do Deserto, sugere que a guerra do futuro será radicalmente
diferente do modelo de Clausewitz, que estará caracterizada por diferentes "conflitos de
baixa intensidade" (para usar um eufemismo) entre grupos étnicos e religiosos. O mundo
do futuro estará habitado por patifes, mercenários, revolucionários insurgentes e
guerrilheiros que querem que os homens comuns disponham de armas nucleares. (Seu
editor também oferece um subtítulo para a capa do livro que descreve como "A
Reinterpretação Mais Radical dos Conflitos Armados desde Clausewitz") Não se pode
dizer que The Transformation of War seja um livro radical ainda que seu autor forneça
abundantes doses de opinião e engenho mordaz. Seria lógico projetar que o futuro da
guerra se nutrirá tanto nas teorias de Creveld e Clausewitz –dois tipos radicalmente
diferentes entre si. Pareceria que a guerra será um pesadelo para os estrategistas e
planejadores de forças.

29. A frase "dregs of humanity" (fezes da humanidade) aplicada aos mercenários Sérvios
no Zaire, foi tomada da obra Phil Gourevitch, "Kabila’s March" (O março de Kabila),
The New Yorker, 19 de Maio de 1997, 8. Vide também Chris Hedges, "A War-Bred
Underworld Threatens Bosnia Peace" (Um Submundo Alimentado pela Guerra Ameaça a
Paz Bósnia), New York Times ,1 de Maio de 1996, A8; Cindy Elmore, "Ethnic Hatred
Runs Deep in Battered Town of Brcko [sic]," (O Ódio Étnico Reina na Profundidade do
Castigado Povo de Brcko [sic]), European Stars & Stripes, 1; Jonathan C. Randal, "Serb
Troops Paid to Go to War— in Zaire" (Tropas Sérvias Recebem Pagamento para ir à
Guerra –no Zaire) Washington Post, 18 de Março de 1997, A13; Howard W. French, "In
Zaire’s Unconventional War, Serbs Train Refugees for Combat" (Na Guerra Não
Convencional do Zaire os Sérvios Treinam os Refugiados para o Combate) New York
Times, 2 de Fevereiro de 1997, A1. Enquanto Khomeini pode haver sido o modelo do
líder do caos da última parte do século XX, Zaire pode haver sido o modelo de estado do
caos. O Zaire foi um estado "cliente" dos EUA durante a Guerra Fria e abandonado nos
finais da Guerra Fria, por estranhas razões, se converteu em estado cliente da França até
seu colapso final em maio de 1997. O líder do Zaire, Joseph Mobutu, governou uma vasta
rede de caos, corrupção, voracidade e influência entre 1965 e 1997; quando assumiu o
poder mudou tanto o nome de seu país (anteriormente conhecido como o Congo Belga)
como seu próprio nome Mobutu Sese Seko Kuku Ngbendu Wa Za Banga, que significava
literalmente: "Guerreiro Todopoderoso que por sua resistência e vontade de triunfo, vai
de conquista em conquista deixando fogo em sua esteira." Nem a França nem os EUA
tinham ilusões com Mobutu. No entanto, ao preferir um estado coeso pelo caos,
permitiram um brutal abuso e opressão do povo do Zaire e os refugiados étnicos de
Ruanda –que foram as vítimas. Como diz corretamente Gourevitch, na África "liberação"
significava liberar-se dos imperialismos europeus; no século vinte e um "liberação"
significará escapar das ditaduras clientes que prosperaram durante o neocolonialismo da
Guerra Fria. Ora bem, como funcionarão os estados caóticos, não tendo importante apoio
exterior, deixa um grande ponto de interrogação. O Zaire estava condenado desde o
início, de igual modo, sua enteada, a República Democrática do Congo, poderia estar
também.

30. Facts on File World News Digest (Fatos Registrados no Digesto de Notícias do
Mundo), 20 de Abril de 1995, 278: E3. Outras fontes (Silber e Little, 290) indicam que o
jornalista Bósnio Sérvio Risto Djogo tinha reunido documentos que provam a ativa
cooperação do regime de Miloševik com a liderança Bósnia Sérvia em todos os aspectos
para a continuação da guerra da Bósnia. Em 1994, depois da imposição do bloqueio
contra os Bósnios Sérvios pelo governo de Belgrado, Djogo foi assasinado por membros
das forças paramilitares de Arkan em Zvornik, onde assistia a um concerto de Ceca, a
estrela "turbo-folk" da Sérvia. Ceca, antes conhecida como Svetlana Velikovik, tinha
estado casada com Arkan em 1995

31. Cvijeto Job, "Yugoslavia’s Ethnic Furies" (As Fúrias Étnicas da Iugoslávia), Foreign
Policy, Outono de 1993, 55.

32. Silber e Little, 101.

33. Timothy Garton Ash, "In the Serbian Soup" (Na Sopa Sérvia), New York Review of
Books, Volume XLIV, Número 7, 24 de Abril de 1997, 29

34. Silber e Little, 27.

35. The Seven Military Classics of Ancient China, translation and commentary by Ralph
D. Sawyer, with Mei-chün Sawyer (Boulder, Colorado: Westview Press, 1993), 70.
36. Henry Kissinger, "Towards a Moment of Truth in Bosnia" (Para o Momento da
Verdade na Bósnia), Washington Post, 11 de Junho de 1995, coluna de opinião-editorial.
Logicamente, Kissinger omite reconhecer que ele foi uma peça-chave nessa não-
diferenciação. Kissinger toma distância de seu mentor Hans Morgenthau ao insistir em
que o prestígio estadunidense —em grande medida ao igual que a viabilidade futura da
OTAN bem como a justificativa da intervenção na Bósnia e Kosovo— estava em jogo no
Sudeste Asiático. O prestígio dos EUA era, então um interesse vital estadunidense. Com
toda razão, Morgenthau considerava absurda essa interpretação.

37. Roger Trinquier, Modern Warfare: A French View of Counterinsurgency (A Guerra


Moderna: Uma Visão Francesa da Contra Insurgência), (Nova York: Praeger, 1964).

38. Citado em Silber e Little, 25.

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