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Dentre as muitas cogitações dos gregos sobre o mundo natural, uma das mais
importantes foi aquela da constituição da matéria, sobre a qual inúmeros filósofos
tiveram algo a dizer, muitos dos quais com profundas implicações sobre a ciência de
nosso tempo. Talvez o mais profundo deles tenha sido Platão de Atenas (428-347 a.C.).
O filósofo grego buscava estabelecer uma cosmologia que partia da distinção entre dois
mundos: o mundo mutável do devir (baseado no vir-a-ser), e as formas que existiriam
de maneira eterna. Reconheceu a mudança constante do mundo sensível em oposição ao
Mundo das Idéias, este estabelecido na permanência e na estabilidade.
Havia um quinto sólido platônico, o dodecaedro, com doze faces pentagonais. Ligava-se
à quintessência, ou elemento celeste(1 e 2). A razão de só existirem cinco poliedros
regulares pode ser vista em várias obras de geometria(3), e esta limitação leva à
chamada Fórmula de Euler(4):
Há uma interessante relação geométrica dual entre os poliedros propostos por Platão, e
a que pode ser verificada na substituição de faces por vértices e de vértices por faces
(como na Tabela 1). Por exemplo, as 12 faces e os 20 vértices do dodecaedro são
transformados nas 20 faces e 12 vértices do icosaedro. O mesmo pode ser verificado nos
outros casos, com exceção do tetraedro, poliedro no qual faces e vértices se mostram de
mesmo número (quatro).
Esta geometrização mais ampla, com todas as suas conseqüências, faz-nos refletir sobre
a profundidade da intuição platônica ao querer descobrir os segredos da estrutura íntima
da matéria a partir da geometria. A abordagem atual leva-nos a considerar todo o
retículo cristalino de um sólido molecular e das celas vizinhas, da mesma maneira como
há muito se procede com os sólidos iônicos, covalentes e metálicos. Em outras palavras,
o conhecimento da estrutura de uma molécula é importante, mas está longe de ser
suficiente para descrever o sólido formado por aquelas moléculas. Quando se estudam
os sólidos iônicos, covalentes e metálicos, isto é, aqueles em que os átomos ou
partículas estão unidos uns aos outros por forças iguais, obtêm-se em geral estruturas
para os conjuntos de partículas que se repetem, correspondendo frequentemente aos
sólidos platônicos, ou a eles relacionados.
Platão, desta maneira, deu um passo a mais no atomismo antigo, introduzindo uma
descrição geométrica precisa dos átomos, descrevendo as mudanças por meio da
geometrização. Tal idéia foi, e permanece, muito importante, pois levou a maior
desenvolvimento do estudo e sistematização do pensamento científico ocidental,
originante das ciências atuais, como a Física e mesmo a Astronomia.
Notas:
1 - Plato, Timaeus and Critias, Penguin Classics, Londres: Penguin Books, 1977.
2 - Marques, A. J. Senra, A. V. D. Ciência em Platão: os sólidos geométricos e o
Timeu. Scientiarum Historia, Livro de Anais. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008, p. 725-730.
3 - Huntley, H. E. The Divine Proportion. N. York: Dover, 1970, p. 31.
4 - Trinastic, N., Nikolic, S., Mihalic, Z., Bull. Chem. and Technol. Macedonia, v. 13,
1994, p. 61-68.
5 - Platão. Timeu e Crítias, ou A Atlântida. São Paulo: Ed. Hemus, 1990, p. 49.
6 - van´t Hoff, J. H. Stéréochimie. Nouvelle édition de dix années dans l’histoire d’une
théorie. Paris: Georges Carré Éditeur, 1892.