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Jean Vigo e o Cinema Social Momento Histórico

Jean Vigo, cineasta francês (1905 – 1934), teve Os anos de pós-Primeira Guerra Mundial foram
a vida profundamente marcada pela morte do pai, marcados pela multiplicidade de movimentos
Miguel Almereyda – anarquista francês morto de vanguardistas na arte e no cinema. A arte estava
forma duvidosa na cadeia, quando Jean tinha ape- em fase de grande renovação e em busca de novas
nas doze anos –, pelo abandono de sua mãe e pela linguagens, novos meios de composição e config-
grande fragilidade de sua saúde. Aos vinte e três uração, novas formas de expressão e novas for-
anos começou a freqüentar o meio do cinema e mas de lidar com a realidade. Os cubistas, dada-
apesar de ter realizado apenas três curtas-metra- ístas, futuristas e surrealistas propunham novos
gens e um longa-metragem, sua contribuição foi rumos estéticos para a arte. O cinema, ainda re-
de extrema importância para o futuro do cinema cente, procurava se legitimar como linguagem
francês (Nouvelle Vague) devido à sua poesia e e explorar e experimentar suas possibilidades
espírito de revolta. visuais. Essa necessidade de achar novos para-
Em seu manifesto “Vers un Cinéma Social”, digmas estéticos permitiu um diálogo constante
apresentado pela primeira vez após a segunda entre esses movimentos de vanguarda na arte e
exibição de seu curta-metragem “A Propos de no cinema francês.
Nice”, Vigo adianta o que pretende explorar em A obra de Jean Vigo é compreendida na tran-
seus próximos trabalhos: um novo campo de ação sição entre a Vanguarda Francesa e o Realismo
pouco abordado no cinema francês. Segundo o Poético. Sua obra é influenciada mais pelos ide-
diretor “vai ser preciso ver com outros olhos a ias surrealistas de liberdade, anti-autoritarismo
sociedade francesa, não sonhá-la, mas mostrá-la, e repúdio ao academicismo, do que pela sua esté-
capturá-la crua como num sonho acordado que tica, como é possível observar em “Zéro de Con-
a trabalha e aguça a percepção”. Com esse mani- duite”. O Realismo Poético inicia-se na transição
festo, Jean Vigo tece o que será o embrião para o entre o cinema mudo e o sonoro, e a poesia, o
Jean Vigo. Cinema Social. lirismo e a melancolia são os instrumentos uti-
lizados para tratar uma imagem naturalista de
Filmografia crítica à realidade social. O filme “L’Atalante”, de
Jean Vigo, é a obra que melhor reflete todo o sig-
1930 “A Propos de Nice” nificado do Realismo Poético.
1931 “Taris” ou “La Natation”
1933 “Zero de Conduta” (“Zéro de Conduite”)
1934 “O Atalante” (“L’Atalante”)
“A Propos de Nice” (1930)

“Desejaria conversar convosco sobre um cine-


ma social mais definido, e do qual estou mais próx-
imo: o documentário social ou, mais exatamente,
o ponto de vista documentado. Neste domínio a
explorar, afirmo que a câmara de filmar é o rei,
ou pelo menos o presidente da república. Não
sei se o resultado será uma obra de arte, mas do
que tenho a certeza, é que será cinema. Cinema,
no sentido em que nenhuma arte ou ciência pode
substituir a sua função. (...) Este documentário
social distingue-se do documentário tout court e
das atualidades da semana, pelo ponto de vista
a c
que nele o autor claramente defende. Este docu-
mentário exige que se tome posição, porque põe
os pontos nos is. Se este cinema não compromete
um artista, pelo menos compromete um homem.
Isto vale bem aquilo.” (Jean Vigo)
“A Propos de Nice”, primeiro curta-metragem
de Jean Vigo, é, segundo ele mesmo, um “ponto
de vista documentado” e não um documentário.
É uma grande sátira social, mostrando a clara
diferença entre a vida dos pobres e ricos de Nice
através de metáforas e imagens extremamente
fortes. Assume a estética do movimento van-
guardista da época através de um discurso sob o
b d
signo do grotesco, carnal e da morte.
imagens a e b. o discurso baseado no grotesco e na morte. imagens c e d. as imagens evidenciam a diferença entre
Ricos dançando e estátuas em um cemitério se intercalam no a vida de pobre e ricos. Enquanto crianças pobres estão
curta de Jean Vigo. sofrendo de doenças e fome, os ricos dançam, como se não
se importassem.
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e f g

h i j

imagens e, f e g. Vigo assume a estética vanguardista imagens h, i e j. A sequência evidencia o espírito satírico
através de um discurso carnal. Sequência em que a mulher do curta, mostrando a futilidade dos ricos e os comparando
aparece com diversas roupas e, no fim, nua. a animais selvagens.
“Taris” ou “La Natation” (1931) “Zéro de Conduite” (1933)

“Taris”, segundo curta-metragem de Jean Vigo, “Zéro de Conduite”, terceiro filme de Jean Vigo, Ainda que o filme não tenha alcançado êxito
é quase experimental, tanto pelo ritmo, quanto conta uma rebelião de alunos em um colégio in- imediato, ele demonstrou possuir uma influência
pelos efeitos (tomadas lentas, com tempo inver- terno da França. Vigo descreve, na verdade, as duradora. François Truffaut rendeu uma home-
tido) e tomadas sub-aquáticas inovadoras, que suas próprias angústias de infância e é um dis- nagem à “Zéro de Conduite” em seu filme “Os 400
serão reutilizadas em “L’Atalante”. curso provocatório, subversivo, real (em termos Golpes” copiando, praticamente quadro a quadro,
do discurso inspirado na experiência), tocando o a cena em que um grupo de meninos que correm
surreal e mesmo o fantástico que influenciou di- pelas ruas de Paris.
retamente muitos diretores da Nouvelle Vague. O “Zéro de Conduite” representa o casamento
filme foi altamente criticado pela sociedade à ép- perfeito entre a forma e o discurso, que consegue
oca de seu lançamento e esteve banido até 1945. ao mesmo tempo transmitir um encanto quase
“Enfim autorizaram a exibição pública de ‘Zéro ingênuo e impressionar pela força de seu argu-
de Conduite’. Já não era sem tempo. Talvez até mento. E é também um dos maiores exemplos de
já seja tarde demais. Os anos passaram. O filme cinema anárquico e libertário já produzido.
envelheceu e a dinamite que ele continha não
explode mais. Não, a esperada revanche não
acontecerá. Não sei mesmo se, para a memória
do querido e saudoso Jean Vigo, morto antes de
poder realizar uma obra que se prenunciava no-
tável, não teria sido melhor guardar apenas na
tomadas sub-aquáticas utilizadas novamente em
lembrança este filme que, na época, fez estrem-
“L’Atalante”, de 1934.
ecer a boa educação da Senhora Censura (...)”
“Zéro de Conduite” possui um espírito profun-
damente libertário. Foi realizado no contexto da
Vanguarda Francesa e é uma clara crítica à ordem
social vigente nos moldes do ideal surrealista. “É
um grito contra o autoritarismo, envolto numa
simbologia lírica e satírica”.
O discurso aparentemente desgastado impres-
siona justamente pela maneira como Vigo dá for-
ma ao seu radicalismo, revigorado por um cresci-
mento narrativo impecável que vai da doçura até
a efervescência sem jamais quebrar a essência de
Cinema.
a
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b c d

imagem a. poster do filme “Zéro de Conduite”.


imagem b. as crianças em um ato de liberdade, após
colocar a bandeira da revolta no telhado do colégio.
imagem c. professor Hughet imitando Chaplin.
imagem d. o diretor da escola que aparece na figura de
um anão, traçando um paralelo entre seu tamanho e sua falta
de poder.
imagem e. a cena mais poética é a do dormitório, em
que os meninos guerreiam com travesseiros. Toda a cena é
registrada em câmera lenta numa elevação do ato de bravura
dos meninos. A música de Maurice Jaubert foi registrada ao
inverso numa tendência autenticamente surrealista.
imagem f. Jean Vigo representa os membros da Igreja, e f
Governo e Exército como bonecos de marionetes.
“O Atalante” (L’Atalante) (1934)

“L’Atalante”, seu último filme e único longa-


metragem, foi também a obra-prima de Jean Vigo.
O resultado é a mais autêntica expressão do lir-
ismo no cinema francês. Vigo repudia ao máxi-
mo qualquer tipo de sentimentalismo que uma
história como essa poderia despertar. Ao invés
disso, cria um ambiente de mistério, de intriga
e de ingenuidade por parte de seus personagens
mergulhados num conflito amoroso, onde o real e
o alegórico, o belo e o grotesco, coexistem natu-
ralmente.
Ao mesmo tempo em que o realismo beira o
documental – com um viés naturalista sobre a
situação econômica e social do país -, Vigo faz
emergir um mundo repleto de símbolos e fan-
tasias. Seu olhar fortemente marcado pelo sur-
realismo combina momentos de estranha graça,
conferidos pelas súbitas mudanças de humor de
Dita Parlo (como Juliette) e a presença marcante
de Michel Simon (como Père Jules), a situações
contraditórias à realidade, como a família que
acompanha o cortejo que mais parece uma mar-
cha fúnebre.
poster do filme “L’Atalante”. poster do filme “L’Atalante”.
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Mas não devemos nos esquecer que o real e a


ordem são apenas o pano de fundo para a desco-
berta anárquica do amor, do prazer, das relações
de intimidade e do contato com o outro. O human-
ismo e exotismo do velho Père Jules, a incrível
ânsia pela descoberta do prazer da inexperiente
Juliette e as tentações da Paris que o vendedor
a apresenta, sobrepõem-se à autoridade e sub-
missão de um marido que tenta anular as fanta-
sias e os desejos da própria esposa. A chave para
a felicidade está na carnalidade, na abundância,
o lirismo poético chega ao clímax visual quando Jean père Jules é uma das figuras mais importantes do filme. Ao
no exotismo encontrado na selvageria dos gatos e
mergulha no mar para procurar a imagem de Juliette, uma mesmo tempo em que ele traz de volta Juliette ao Atalante,
na cabine do truculento Père Jules. Não no mari-
das grandes metáforas do verdadeiro amor na visão do é ele mesmo quem desperta ainda mais sua vontade de sair
do. Este, só possuirá o amor de Juliette se con-
cineasta. dali, ao ver todos aqueles objetos de todo o mundo.
seguir aceitar todas as faces da vida e enxergar
sua amada com os olhos do coração.

família seguindo os noivos após o casamento, mais a cena é a prova de que os dois amantes continuam
parecendo com uma marcha fúnebre. conectados e apaixonados. Apesar de distantes, é possível
perceber que sentem o mesmo um pelo outro.
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Bibliografia

“A Propos de Nice” - http://www.youtube.com/watch?v=TvQGeunFMtA (parte 1 de 2)


- http://www.youtube.com/watch?v=6n1RRfEA46I (parte 2 de 2)

“Taris, roi de l’eau” - http://www.youtube.com/watch?v=as4VI8VRVj8

- http://pt.wikipedia.org/wiki/Nouvelle_Vague

- http://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Truffaut#A_Nouvelle_Vague

- http://pt.wikipedia.org/wiki/Z%C3%A9ro_de_conduite

- http://multiplot.wordpress.com/2008/06/27/zero-de-conduta-jean-vigo-1933/

- http://www.revistacinetica.com.br/oatalante.htm

- http://www.mnemocine.com.br/oficina/vigo.htm

- http://www.infopedia.pt/$jean-vigo

- http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=88&doc=7942&mid=2

- http://cira.marseille.free.fr/includes/textes/bios.php?ordre=1

« Vers Un Cinéma Social » - http://www.derives.tv/spip.php?article48

- GOMES, Paulo Emilio Salles. Jean Vigo (1905-1934). Cosac Naify, 2009.

- GOMES, Paulo Emilio Salles. Vigo, vulgo Almereyda. Companhia das Letras, 1991.

- MEGGS, Philip B. História do Design Gráfico. Cosac Naify, 2009.

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