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“Adolescência: novelo de várias pontas /

adultos emaranhados”
Dra. Elsa Couchinho
(Psicóloga e Psicoterapêuta do ESCA)

Conferência inserida num projecto conjunto da


Escola Superior de Educação de Santarém e do Fórum Cultural Mário Viegas

Esta comunicação aborda questões particulares que não


abrangem tudo o que está em causa na Adolescência. A
perspectiva pela qual elas são abordadas é também limitada.
Pegaremos apenas em algumas pontas.

Em alguns momentos socorrer-me-ei da caricatura, para


podermos ver numa escala exagerada, o que na verdade é bem
mais nítido e simples, pois a grande maioria dos adolescentes
sobrevive à Adolescência, atravessa esse mar em condições
típicas, sem fenómenos raros como os tornados e os tsunamis.

Os diversos períodos do desenvolvimento colocam questões


a todos os que participam da Educação e do Crescimento, são
períodos de conquistas e reajustes. Porém, a Adolescência parece
suscitar angústias e medos mais intensos. Porquê?

Uma ponta para pegar: a autonomia. A Adolescência abre o


caminho da plena autonomia, da possibilidade de viver uma vida
separada, distinta daqueles de quem sempre se dependeu.

Prepara, no fundo, o lugar de liberdade da pessoa para


escolher e construir o que ambiciona, o que deseja.

Para os pais, é o tempo de se confrontarem com a


inevitabilidade de que, num futuro próximo, os seus bebés
deixarão de vez o ninho.

A par do desejo que todos os pais têm, de que as suas


crianças se autonomizem e sejam capazes de voar, surgem os
medos de não poder proteger, de não poder antecipar os perigos.
Começam a emaranhar-se.
É bem mais simples ajudá-los a andar! Prevenir as quedas,
as entorses, as cabeçadas.

Simples, porque acontece no ninho, lugar conhecido e


construído pelos adultos. Simples, porque andam, sem que se
afastem para além do domínio do olhar dos pais. Simples, porque
precisam e querem ainda, o colo e andar de mão dada.

Mas, se todos brindamos à conquista do andar, é verdade


que a seguir lá estamos nós pensando, que afinal, o bebé já não
está no berço. Onde estará? Em que se lembrará ele de tocar?

Não é tão simples, pois não?

O adolescente está já, em parte fora do ninho, num lugar que


os pais não conhecem nem dominam. E, em regra, recusa e rejeita
o colo e a mão-dada.

O adolescente precisa de experimentar e descobrir as suas


capacidades para ser autónomo. Precisa de ensaiar isso que é “ser
adulto”, embora seja ainda uma sereia, meio criança, meio adulto.
É precisamente neste meio, nesta condição indefinida, que surgem
as maiores dificuldades.

O adulto não pode relacionar-se com o adolescente


inteiramente como com uma criança, que já não é. Nem como
adulto, que ainda não é.

Mais, o próprio adolescente, parece a todo o momento


mudar as regras. Para umas coisas ele quer ser adulto, para outras
quer ser criança. Numas coisas ele é que sabe, noutras os adultos
têm a obrigação e o dever de ajudar e resolver. Algumas vezes
estas áreas não coincidem com as dos adultos.

Estes momentos são muitas vezes entendidos pelos


educadores, como lutas de poder, como exigências irrealistas. E
são!
Esta palavra “poder”, que tanto se veste com as roupas de
autoridade, como se veste de possibilidade. Eu tenho o poder de
decidir. Eu tenho possibilidades de escolha.

Peguemos então nesta outra ponta: estas lutas, que se


afirmam tantas vezes na voz do adolescente como: “eu é que sei”,
mas nas quais podemos ouvir possibilidades:

- a necessidade de experimentar e descobrir as suas capacidades,


de construir e escolher;
- a necessidade de se afirmar, como pessoa com identidade e
desejos próprios;
- a necessidade de se sentir perante os pares, logo perante si
próprio, como ser livre;

Estas lutas são, antes de mais, com eles próprios, pois estas
necessidades implicam lidar com dúvidas e inseguranças que têm
em relação a si próprios.

Espelham-se nos educadores, para que estes confirmem ou


não, a sua confiança nas suas capacidades. Espelham-se nos
educadores pois, aparentemente, a única forma que encontram
para confirmar estas possibilidades, é cortar de vez o cordão
umbilical, na ilusão de que isso é ser autónomo.

Ou seja, cortar o cordão umbilical dizendo: “tu não sabes”,


como única forma de ser um ser separado, com uma identidade
própria. Essa é a única forma, porque de facto, o adolescente
ainda não sabe quem é.

Se soubesse, saberia ser autónomo na relação com os outros


que são, simultaneamente diferentes e iguais. Então, como não
sabe, mas quer ser livre e autónomo, ele precisa de forma radical
de se distinguir daqueles de que depende, afirmando a toda a hora:
não sou como tu, se és dia eu sou noite.
E, quantas vezes do outro lado, encontramos os adultos
emaranhados agindo exactamente da mesma forma. Aceitando e
alimentando uma luta em que entram com armas ineficazes, num
terreno já minado. Afirmando-se na mesma condição, “eu é que
sei”.

Mais uma vez o adolescente troca-nos as voltas e a toda a


hora descobre que afinal:

- Os pais de um amigo fazem e pensam de outra forma;


- Que os professores não explicam o “inexplicável”;
- Que ele próprio dispõe de saberes com os quais confronta a
ignorância do adulto.
Como sair deste emaranhamento?

Os adultos, por o serem, têm o dever de fazer o que o


adolescente não é capaz: suportar a sua condição humana de saber
e não-saber, de poder e não poder. Só assim se cria espaço, para
que o que o adulto sabe, possa ser ouvido e compreendido pelo
adolescente.

Por vezes, reféns emaranhados no nosso medo de deixar à


deriva as nossas crias, dizemos: “eu é que sei”.

Bom, mas se esta afirmação da personalidade se desse a um


nível puramente intelectual e estético (escolhas políticas,
religiosas, roupas, músicas) ainda se aguentava. Mas ela passa
também para o domínio das regras, dos limites: mais uma ponta
para pegar.

Sai, não sai, com quem sai, até que horas, para onde vai?
Fala quando devia estar calado, cala-se quando devia falar?

Também aqui a afirmação do adolescente é radical, ele não


se submete ou se o faz, sub-repticiamente troca-nos as voltas, fará
pela calada, noutro lugar, noutras relações, o que se vê impedido
de fazer ali, na escola ou em casa. Não foi sempre assim?
Mais uma vez a luta corre o risco de se travar com armas
ineficazes num terreno minado.

Por vezes, reféns emaranhados do medo da impulsividade


do adolescente, reféns da ilusão do controle, os adultos travam
lutas irrealistas. Mais uma vez, os adultos têm o dever de fazer o
que o adolescente não pode, ou seja, estabelecer limites razoáveis
e estáveis.

Volto mais uma vez aos bebés! Esses tiranos!


Estão lembrados? Por volta dos 2 anos e meio quando
começaram as birras.

Birras? Não! Lutas de poder e de afirmação! Mexe onde


sabe que não pode, não deita quando são horas…

Como vivemos essas lutas? Dois exemplos de adultos


emaranhados:

1- Reféns do pouco tempo e reféns da culpa de não estar


sempre, de não dar tudo:

Nestas condições as birras não se apaziguaram, porque hoje


deita mais tarde ou brinca, por exemplo, com o objecto proibido,
com o comando da Tv. Todos temos os nossos dias, uns dias
estamos sólidos e seguros, noutros reféns e nesses, evitamos a
birra. Porque estamos cansados, porque coitadinho, parece que o
pouco tempo que estamos, estamos sempre a dizer Não! Porque
não queremos passar pela vergonha pública da birra.
Aqui, como vemos, claramente não existem regras nem
limites, existem contingências.

Outra exemplo:

2- Reféns de uma ideia de disciplina, do medo das crias não


perceberem que são pequenas, dependentes. Então não as
deixamos brincar connosco, fazer de nós fantoches: se é para
deitar é para deitar, não há cá copinhos de leite!
Não há espaço para testar os limites nem compreender as
regras.

Mostramo-nos em todo o nosso esplendor: somos mais altos,


mais fortes, falamos mais alto! Não existem regras nem limites,
existe o autoritarismo e o controle. A criança não cumpre nem
compreende as regras, apenas se submete.

Na verdade, em alguns momentos, estamos todos com um


pé cá e outro lá!

Só que as questões do adolescente já não são o comando da


Tv, nem podemos pegar ao colo e dizer: ficas aqui!

Também o adolescente testa os limites e mais, testa a sua


omnipotência. E, tal como uma criança de 2 / 3 anos, reconhecer
que há impossíveis é gerador de muita zanga. Parece que nos
odeiam!

Temos de ser capazes de fazer o que eles não podem: saber


que não somos omnipotentes, que não controlamos tudo, que o
mundo não é feito à nossa medida. Embora, também não
tenhamos que ser pessoas, completamente feitas à medida do
mundo.

Os adultos devem estabelecer regras e limites claros,


estáveis, realistas e sobretudo, que façam sentido.

E agora que pensámos um pouco sobre estes bebés que


pensam ser adultos, vamos pegar noutra ponta: estes adultos que
ainda se comportam como crianças. Que esperam de nós, exigem
de nós o impossível.

Novamente uma luta que por vezes se trava com armas


ineficazes e em terreno minado. Talvez o lugar onde mais
encontramos adultos reféns.
Reféns emaranhados da ideia de que se não forem satisfeitas,
as crianças, nas suas exigências, se afastarão ainda mais do ninho.
Estamos pois, a falar das exigências irrealistas, que dão a ideia de
que os adultos podem e devem satisfazer e resolver tudo.

Os adultos gostariam de a ver ser adulta, no sentido de ser


responsável pelas suas coisas, sobretudo as da escola, a
organização do seu espaço (quarto), protecção da sua saúde,
gestão do tempo. E afinal, quantas vezes têm de ser acordadas a
horas, lembradas dos prazos dos trabalhos, tempos de estudo…

Nesta ponta do novelo encontramos novamente as


possibilidades. O adolescente encontra nestas pequenas grandes
coisas, uma forma de se sentir cuidado, acompanhado. Aquele
lugar onde tolera e precisa de sentir que alguém o protege e está
do seu lado.

Mas, voltamos a perguntar porque é que este é um período


tão difícil para os adultos, se de facto algumas destas questões,
embora se revistam de características novas, não sejam
completamente desconhecidas?

Talvez porque no meio deste novelo encontremos um fio


que é tantas vezes desconfortável: a sexualidade. Porque muitas
vezes se olha para o fio da sexualidade, como tendo uma única
cor: o sexo. E ele é tão mais mesclado! Sabemos, há mais de cem
anos, que falamos antes de psicossexualidade. Que palavrão!

Que emaranhado é esse da psicossexualidade?

Desejar alguém é o desejo sexual mas, é muito mais que o


desejo sexual.

Cada um terá sem dúvida os seus padrões morais, balizas


fundamentais da sua construção como ser humano. Mas para que
possamos avançar é importante esclarecer que não é de moral que
tratamos aqui. Esses são os valores de cada um.
Na verdade, fomos encaminhando a criança para uma
identificação sexual (psicossexualidade), para uma escolha de
objecto sexual (psicossexualidade), para o desempenho de
funções e papéis ligados a uma identidade sexual
(psicossexualidade) e, subitamente, parece ser mais útil adiar o
assunto, esquecê-lo, ignorá-lo.

Tantas vezes os fizemos corar com a pergunta da


namoradinha ou do namoradinho, e agora achamos que é cedo,
que há tantas outras coisas importantes. Sempre quisemos que
fossem crescidos e agora, subitamente, parece dar jeito que se
faça um intervalo.

Também neste terreno o adolescente procura a sua


identidade e o seu lugar na relação com os outros. Para isso
precisa ter, definitivamente, instrumentos e meios que permitam
identificar, transformar e canalizar os afectos.

De facto, o corpo muda rapidamente e o adolescente vê-se


frente a frente com impulsos a que tem de dar resposta. Impulsos
que não são novos, mas que agora, naquele corpo e neste período
de enorme transformação, aparecem com outra urgência, com
outro ímpeto.

É nesta fase que se irão sedimentar e ajustar essas outras


peças que compõem um adulto. Por isso, o adolescente procura
descobrir e construir dentro de si e na relação com os outros, o
seu sentimento de ser homem ou mulher. Alguém que deseja, com
outro(a), construir uma relação privilegiada.

Numa tentativa bem intencionada, os educadores procuram,


algumas vezes, apresentar-se como os confidentes, ou o que
chamaria de adultos amigos.
Serei agora mais directa: os pais não são inimigos mas,
também não são amigos!
Querem-lhes bem, preocupam-se mas, não são amigos!
“Cada macaco no seu galho”!

Os adolescentes precisam que alguém seja pai e mãe, função


que nenhum professor, psicólogo, treinador ou outros… podem
por eles desempenhar.

Nunca como agora a diversidade relacional foi tão


importante. Diversidade de modelos de identificação: professores,
treinadores, pai, mãe, outros adolescentes… Diversidade de
estilos de relação.

É nesta rede que o adolescente pode encontrar espaço para


colocar as questões que o atravessam.

Há questões que se colocam ao pai ou à mãe, aos


professores ou ao treinador, aos amigos. E há as que não se
colocam porque não há espaço, não há liberdade ou porque
simplesmente, não devem ser colocadas onde não é o lugar.

É pois, fundamental, que os adultos possam delinear e saber


respeitar o espaço de intimidade. O adolescente coloca os adultos
num lugar de exclusão onde ele próprio já foi colocado. Foi-lhe
dito que os adultos dormem num quarto, do qual ele está fora, que
há conversas que são de gente crescida. Chegou pois a sua vez, de
afirmar que há espaços que são apenas seus. Precisa de delinear o
seu espaço de intimidade.

Quase que se podia concluir que estarei a expulsar deste


terreno os adultos, dizendo que não podem saber, falar ou
questionar. Pelo contrário, gostaria apenas que nos
interrogássemos sobre quem fala, de que é que fala e onde é que
fala. E já agora porquê e para quê?
É preciso, antes de mais, que alguém possa ouvir, o que é
dito e o que não é dito. Parece simples, mas quantas vezes
ouvimos mesmo?
Ouvimos o que queremos ouvir, o que tememos ouvir?

Um bom exemplo disso é o sair à noite, como se a noite


encerrasse todos os perigos. De facto a noite, a escuridão foi
sempre esse lugar: o medo do escuro, do desconhecido, do ficar
só. Mas porque é que a noite só pode ser sinónimo disso?
Disso o quê? Acidentes de carro dão-se também durante o dia!
O que é a noite para nós?

A noite foi desde sempre o lugar onde ficámos frente-a-


frente com o que sempre esteve e estará lá, basta acender o
candeeiro e ver, está tudo igual. Mas na escuridão estão os nossos
medos, as nossas angústias. Os pais estão no quarto deles, a
dormir.

Temos medo porque estamos aqui sozinhos, como que


abandonados, será que se lembram de mim? Será que me vão
ouvir?
Sentimos angústia, zanga e decepção, aqueles que tanto nos
amam, abandonam-nos logo agora.
Os pais estarão a dormir?
Estarão a falar, a discutir?
Os pais estarão a fazer bebés?

Então a noite continua a ser este lugar, em que nós adultos


depois de tanto dar, de tanto investir, nos sentimos agora
abandonados, porque os nossos filhos nos deixam sós, e eles estão
a falar ou discutir com os seus amigos.

A noite continua a ser o lugar onde imaginamos, que alguém


estará a fazer bebés, que também se fazem durante o dia, só que
sem tantos medos e angústias. A noite é o lugar onde desejamos
que não sejam os nossos filhos a fazer bebés. De facto ainda não
chegou o tempo.
É preciso ouvir o desejo, a vontade, a falta.
É preciso ouvir o sonho, o medo, a procura.
É preciso ouvir.
Para depois falar.

Se ouvirmos apenas o emaranhado dos nossos medos, das


nossas angústias, da nossa história pessoal, falaremos apenas de
nós e para nós.
Depois de desfazer o emaranhamento, o ouvido ouvirá
várias vozes, a fala falará de um eu (com medos, com angústias,
desejos,...) e de um tu, de nós e dos outros, nesse lugar nasce a
relação livre e plena, porque desintoxicada. Nesse lugar surge o
adulto com saberes e valores, com uma história e vivências
próprias, que olha e se olha e que se deixa ver.

Nesse lugar podemos ser cavaleiros e cavalos, podemos até


rir porque sabemos que somos o cavaleiro e o cavalo, que o
adolescente é o cavaleiro e o cavalo. Alexandre O´Neill com o
seu humor tão desconcertante conta esta história:

A HISTÓRIA DA MORAL
Você tem-me cavalgado,
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.

Que uma coisa pensa o


cavalo;
outra quem está a montá-lo.
Alexandre O’Neill
AMIGO
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra
«amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que
se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,


Escrupulosos detritos?)
«Amigos» é o contrário de
inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,


Não o erro perseguido,
explorado,
É a verdade partilhada,
praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!


«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma
grande festa!

Alexandre O’Neill

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