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INSTITUTO POLITÉCNICO DE PORTALEGRE

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO


Mestrado em Jornalismo, Comunicação e Cultura
CIBERCULTURA - MAIO DE 2011
ÂNGELA DA CONCEIÇÃO MENDES

Baudrillard vs Matrix
Da Filosofia ao Cinema

No início do filme, Thomas Anderson – ou melhor, Neo – abre um exemplar de


“Simulacros e Simulação”, de Baudrillard, numa alusão directa dos irmãos Wachowski
ao pensamento do autor.
Neo abre um livro que não é livro, num capítulo que começa na página errada e que
ironicamente se chama “Sobre o Niilismo”. Este objecto é, em si, uma representação.
Baudrillard não era, no entanto, fã do filme. Disse anos mais tarde que a cultura
americana banaliza tudo e que os irmãos Wachowski fizeram uma leitura ingénua da
sua obra. Numa entrevista à revista brasileira “Época”, Baudrillard afirma que “Prefiro
filmes como “The Truman Show – A Vida em Directo” e “Dark City – Cidade
Misteriosa”, cujos realizadores perceberam que a diferença entre uma coisa e outra é
menos evidente.”
O facto é que a transposição de ideias tão complexas para o grande ecrã não é uma
tarefa fácil, ainda mais se é necessário ter em conta as especificidades da indústria
cinematográfica do final do séc. XX. Os efeitos especiais estavam em alta e os
blockbusters exigiam uma grande dose de acção e de beleza visual.
“Matrix” é ele mesmo um produto desta nova realidade simulada. Produzido por uma
das maiores indústrias culturais existentes, foi visto por milhões de pessoas em todo o
mundo e faz hoje parte de um imaginário colectivo.
Podemos então considerar que na concepção de “Matrix” há uma vontade explícita
de seguir o pensamento de Baudrillard, mas que o produto final se afasta tanto no seu
formato como no seu conteúdo da ideia inicial.
“Matrix” fala-nos de um mundo onde as máquinas assumiram o controlo e
escravizam os humanos, que são “produzidos” para alimentarem um sistema. Estes
humanos vivem uma vida normal, só que simulada num programa informático, a
Matriz, a reprodução perfeita da civilização humana nos finais do séc. XX, naquilo que
as máquinas consideraram ser o apogeu da nossa civilização.
Fora da Matriz, existe apenas um deserto escuro e frio, representativo de um planeta
pós-holocausto nuclear, aquilo que Morpheus chama de “Deserto do Real”, em mais
uma clara referência a Baudrillard. Já dentro da Matriz, existe uma alucinação colectiva
consensual. Como a personagem Cypher a descreve quando fala sobre o bife:
“Cypher: “You know, I know this steak doesn't exist. I know that when I put it in my mouth, the
Matrix is telling my brain that it is juicy and delicious. After nine years, you know what I realize?
[Takes a bite of steak]
Cypher: Ignorance is bliss.”

Para Cypher, a ignorância de viver uma simulação seria uma bênção, o mundo real
um inferno. Lamenta a sua escolha:

“Cypher: I know what you're thinking, 'cause right now I'm thinking the same thing. Actually, I've
been thinking it ever since I got here: Why oh why didn't I take the BLUE pill?”

Em “Matrix”, as ideias de realidade virtual ou de hiper-realidade de Baudrillard são


exacerbadas e, talvez por isso, acabam por se afastar do autor. Baudrillard fala-nos
numa sociedade onde estamos “ligados” constantemente pela informação, pelos meios
de comunicação em massa e pelas leituras que fazemos da realidade através deles.
Como o cachimbo de Magritte, não é um cachimbo mas sim uma representação do
mesmo, o mundo que percepcionamos através das imagens, dos sons e do que lemos é
uma percepção em segunda mão. Estamos afinal ainda presos na “Caverna” de Platão.
Trinity e Morpheus são aqueles que conseguiram libertar-se das correntes e
caminharam em direcção à saída da caverna, e voltam, agora, para contar aos que ainda
estão presos, sobre o mundo lá fora. E tal como na “Alegoria da Caverna” de Platão,
correm o risco de não serem entendidos pelos que ainda estão presos.
Mas Neo, o escolhido, percebe que tem o poder de mudar a realidade que afinal não
existe, ou que existe apenas na sua mente. E, por isso, sublima-se, e percebe o
funcionamento básico daquele mundo.

“Spoon boy: Do not try and bend the spoon. That's impossible. Instead... only try to realize the truth.
Neo: What truth?
Spoon boy: There is no spoon.
Neo: There is no spoon?
Spoon boy: Then you'll see, that it is not the spoon that bends, it is only yourself.”

Na leitura que faço de “Matrix”, encontro Baudrillard, como encontro Platão, ou


simbologias religiosas. Encontro também uma peça de ficção científica e um produto do
mundo cinematográfico que se expande através da técnica e cria uma mitologia que vai
para além das suas premissas iniciais.

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