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CARTAS CHILENAS
A lei do teu contrato não faculta
que possas aplicar aos teus negócios
os públicos dinheiros. Tu, com eles,
pagaste aos teus credores grandes somas!
5 Ordena a sábia Junta que dês logo
da tua comissão estreita conta;
o chefe não assina a portaria,
não quer que se descubra a ladroeira,
porque te favorece, ainda à custa
10 dos régios interesses, quando finge
que os zela muito mais que as próprias rendas.
Por que, meu Silverino? Porque largas,
porque mandas presentes, mais dinheiro
..........................................................................
Agora, Fanfarrão, agora falo
15 contigo, e só contigo. Por que causa
ordenas que se faça uma cobrança
tão rápida e tão forte contra aqueles
que ao Erário só devem tênues somas?
Não tens contratadores, que ao rei devem
20 de mil cruzados centos e mais centos?
Uma só quinta parte que estes dessem,
não matava do Erário o grande empenho?
O pobre, porque é pobre, pague tudo,
e o rico, porque é rico, vai pagando
25 sem soldados à porta, com sossego!
Não era menos torpe, e mais prudente,
que os devedores todos se igualassem?
Que, sem haver respeito ao pobre ou rico,
metessem no Erário um tanto certo,
30 à proporção das somas que devessem?
Indigno, indigno chefe! Tu não buscas
o público interesse. Tu só queres
mostrar ao sábio augusto um falso zelo,
poupando, ao mesmo tempo, os devedores,
35 os grossos devedores, que repartem
contigo os cabedais, que são do reino.
A LUNETA MÁGICA
Chamo-me Simplício e tenho condições naturais ainda mais tristes
do que o meu nome.
Nasci sob a influência de uma estrela maligna, nasci marcado com
o selo do infortúnio.
Sou míope; pior do que isso, duplamente míope, míope física e
moralmente.
Miopia física: — a duas polegadas de distância dos olhos não
distingo um girassol de uma violeta.
E por isso ando na cidade e não vejo as casas.
Miopia moral: — sou sempre escravo das idéias dos outros; porque
nunca pude ajustar duas idéias minhas.
E por isso quando vou às galerias da câmara temporária ou do senado,
sou consecutiva e decididamente do parecer de todos os oradores que
falam pró e contra a matéria em discussão.
Se ao menos eu não tivesse consciência dessa minha miopia moral!...
mas a convicção profunda de infortúnio tão grande é a única luz que
brilha sem nuvens no meu espírito.
Disse-me um negociante meu amigo que por essa luz da consciência
represento eu a antítese de não poucos varões assinalados que não têm
dez por cento de capital da inteligência que ostentam, e com que
negociam na praça das coisas públicas.
- Mas esses varões não quebram, negociando assim?... perguntei-lhe.
— Qual! são as coisas públicas que andam ou se mostram quebradas.
— E eles?...
— Continuam sempre a negociar com o crédito dos tolos, e sempre se
apresentam como boas firmas.
Na cândida inocência da minha miopia moral não pude entender se havia
simplicidade ou malícia nas palavras do meu amigo.
REDAÇÃO
INSTRUÇÃO: Leia a seguinte paródia de Millôr Fernandes.
PROPOSIÇÃO
Os textos que serviram de base às questões de números 08, 09 e 10
mostram que o problema da corrupção não é novo em nosso país. Na
atualidade, tomamos conhecimento de várias formas de corrupção por
meio da imprensa, bem como a vemos abordada em peças teatrais,
telenovelas e ilustrada em quadrinhos, charges e programas cômicos. A
maioria dos brasileiros condena a corrupção, considerando-a culpada dos
principais males que atingem o país, mas há também quem afirme que é
uma "doença sem remédio" ou que faz parte da natureza de nossa
sociedade. Nesse contexto, o cartum de Millôr Fernandes, parodiando
um gênero de publicidade oficial, convoca sarcasticamente os jovens a
participar da corrupção em todos os setores da vida nacional.
Posicionando-se como alguém que pensa em seu futuro e sabe que pode
encontrar no caminho a corrupção, manifeste sua opinião sobre o
assunto, escrevendo uma redação, de gênero dissertativo, sobre o
tema:
O JOVEM ANTE A CORRUPÇÃO: UM INIMIGO
A COMBATER OU UM DADO A ACEITAR?
Se julgar necessário, pode aproveitar também elementos fornecidos
pelos fragmentos de Cartas Chilenas e A Luneta Mágica.
Comentário
O tema da Vunesp primou por ser, acima de tudo, polêmico, pois exigiu
que o vestibulando tomasse uma posição diante do fato de que a
corrupção já é considerada como um problema antigo na formação do
povo brasileiro – como se observa em Cartas Chilenas (século XVIII) e A
Luneta Mágica (século XIX). Com o embasamento histórico fornecido
pelos textos e a charge de Millôr Fernandes publicada numa revista
atual, o candidato deveria procurar argumentos para propor ou uma
forma de combater a corrupção ou aceitá-la como inevitável. Bom tema.
Unesp 1999
INSTRUÇÃO: Leia os três textos seguintes.
ECOLOGIA Quando, em 1982, o cineasta Ridley Scott dirigiu o filme
Blade Runner – O Caçador de Andróides, ambientou sua utopia num
cenário de pesadelo: uma cidade sombria, suja, superpovoada,
submetida a uma incessante chuva ácida e com seus espaços totalmente
engarrafados por toda a sorte de veículos. Saía-se do cinema, então,
com uma indisfarçável sensação de alívio, para respirar ar puro e ver de
novo a luz do sol. Passados menos de 20 anos desde a realização do
filme, o horror que se viu nas telas, feito ficção, se aproxima
perigosamente da vida real.
Florestas ardem durante meses, rios são dados como irreversivelmente
mortos, crianças nascem descerebradas devido à poluição atmosférica,
navios derramam toneladas de petróleo nos mares, espécies animais e
vegetais são rotineiramente exterminadas. Há dez anos, por exemplo,
nem ao mais pessimista dos cidadãos do planeta ocorreria viver em uma
cidade onde os veículos têm de se alternar nas ruas de modo a tornar o
ar minimamente respirável, como ocorre hoje na Cidade do México e em
São Paulo. Num país de proporções continentais, como o Brasil, com
graves problemas sociais, essas questões se tornam particularmente
preocupantes. (‘’Ecologia’’. In: Guia de Profissões.
7ª ed. São Paulo: Unesp – Universidade
Estadual Paulista, 1998, p. 52.)
Unesp 98
INSTRUÇÃO : Leia os textos que se seguem.
A organização do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra)
ocupou em 1997 grande espaço nos meios informativos, por sua atuação
política em várias regiões do Brasil. Pesquisas publicadas revelam que
uma parte da população a considera legítima, oferecendo argumentos
como a má distribuição da terra no país e a presença de grandes
extensões improdutivas. Outra parte a condena, argumentando que a
atuação do MST desrespeita as leis, ferindo o direito de propriedade. A
questão agrária está mergulhada num conflito de interesses. Esta é uma
oportunidade de meditarmos sobre o significado do sentimento de perda
da terra, por uma considerável parcela da população. Nossa cultura,
como se sabe, se fez basicamente de portugueses e africanos exilados, e
indígenas expropriados de suas terras.
Além das implicações pontuais envolvendo a história do Brasil e a
formação da cultura brasileira, de acordo com várias áreas de estudos
humanistas, na simbologia da terra reside um dos mitos fundamentais
do ser humano, que extravasa os tempos e os continentes. Todos os
seres recebem dela o seu nascimento e, sendo a geratriz universal,
simboliza feminilidade. Suas virtudes são a doçura e a firmeza calma e
duradoura. Acrescente-se a humildade, etimologicamente ligada a
húmus. Identificada como a mãe primordial, a terra remete às idéias de
fecundidade e regeneração: dá à luz todos os seres, alimenta-os e
depois os recebe, como o germe fecundo.
Em muitas concepções antigas, a terra é personificada por uma deusa
(em grego Gaia, em latim Tellus). Na literatura, a terra fértil e a mulher
são freqüentemente comparadas. Assim, o trabalho agrícola é o ato
gerador; o lavrar a terra, a penetração sexual; a colheita e seus frutos
simbolizam parto e aleitamento. A terra expressa muitas vezes um ritual
sagrado: quando alguém quer regenerar-se das mazelas do mundo
pratica uma espécie de volta ao lugar onde nasceu, a sua terra natal.
[Baseado na seguinte bibliografia: CHERVALIER, J. e GHEERBRANT, A.
Dicionário de Símbolos. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.
BIEDERMAN, H. Dicionário Ilustrado de
Símbolos. São Paulo: Melhoramentos, 1993.]
Oferecemos-lhe, a seguir, dados sobre a transformação migratória por
que passou o Brasil, entre 1940 e 1991 – uma das causas de nossa
perda de identidade e do desemprego na cidade, hoje em dia.
POPULAÇÃO RURAL (PR) E URBANA
(PU) NO BRASIL, EM %.
Texto 1
“A faculdade, hoje, é tábua de salvação das famílias de classe média,
que não conseguem acumular bens e precisam recompor seu patrimônio
a cada geração”, explica a socióloga Gisela Taschener, da Fundação
Getúlio Vargas, de São Paulo. Atualmente, 8% dos brasileiros possuem
diploma universitário”. “A universidade é valorizada porque, no mundo
de hoje, o capital do cidadão médio é sua escolaridade”, completa
Gisela. Para as famílias que se equilibram com dificuldade entre a
prestação da casa e a possibilidade de trocar o carro no final do ano, a
faculdade dos filhos é o único patrimônio que se pode deixar. Para os
filhos das famílias humildes, o diploma é uma das poucas esperanças de
ascensão social. (Veja, Escravos da Angústia, 12/11/1997)
Texto 2
O vestibular, embora considerado injusto por muitos, especialmente
aqueles indolentes e incapazes de superá-los, é um instrumento
democrático, que proporciona aos concorrentes igualdade de condições.
(Vladimir Antonini, Curitiba, PR, Veja, Cartas, 19/11/97)
Texto 3
Considero o vestibular a maior prova de ineficácia do sistema
educacional brasileiro. Não se pode analisar um nível de conhecimento
em apenas “uma tarde de domingo”. Principalmente porque estão
presentes aspectos emocionais que podem ser decisivos. (Rodrigo Frank
de Souza Gomes, Fortaleza, CE, Veja, Cartas, 19/11/97)
Texto 4
Nos Estados Unidos e na Inglaterra, há um teste depois do 2º grau, mas
a avaliação depende de várias outras coisas, entre elas o histórico
escolar, cartas de recomendação e o resultado de entrevistas na
universidade. (...) Na França, quem conclui o 2º grau tem direito à
faculdade desde que seja capaz de agüentar o ritmo puxado dos estudos
superiores, responsável pelo abandono do curso por mais da metade dos
matriculados. (Veja, Escravos da Angústia, 12/11/97)
Texto 5
(Não foi apresentado pela Vunesp)
Vestibular, um mal necessário
O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais
favorecidas economicamente.
Os candidatos que estudaram em escolas com infra-estrutura deficiente,
como as escolas públicas do Brasil, por mais que se esforcem, não têm
condições de concorrer com aqueles que freqüentaram bons colégios.
Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de
condição financeira inferior, o problema não seria resolvido, pois a falta
de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo graus, comprometeria
o ritmo do curso superior.
As diferenças entre as escolas públicas e privadas são as verdadeiras
responsáveis pela seleção dos candidatos mais ricos.