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comércio e da publicidade
Ricardo Jorge Pinto e Jorge Pedro Sousa∗
Formam-se comunidades virtuais, frequente- alguns deles perceptíveis, outros nem tanto.
mente transnacionais, com normas e regras Numa visão panorâmica, parece-nos poder-
próprias (netiquette), que satisfazem necessi- mos considerar os seguintes eixos enforma-
dades comunicacionais e afectivas, entre ou- dores do que virá a ser a Internet:
tras, e que, por vezes, se convertem em co-
munidades reais devido ao factor proximi- 1. Hipermédia, hipertexto e interacção
dade. Potencia-se a veloz divulgação de in-
formações que podem servir de base à rápida Os comunicólogos já se aperceberam que,
actualização e reformulação de conhecimen- em maior ou menor grau, o formato afecta os
tos e referentes sobre a realidade. Produzem- conteúdos. E, se excluirmos o "mircanço"(a
se novas formas de expressão e de comunica- conversação on line através do IRC) e outras
ção. Surgem novas profissões e novos pro- modalidades específicas de utilização da In-
fissionais. Encontram-se novas formas de ternet, verificamos que o hipermedia, isto é,
trabalhar, ganhando expressão significativa a integração de gráficos, som (audio), ima-
o teletrabalho e a diferenciação de horários gens (vídeo) e texto, e o hipertexto, isto é, a
(quando eles existem). Os investigadores ci- capacidade de estabelecimento sucessivo de
entíficos encontram um terreno fértil para as links através de um sistema gráfico-verbal,
suas pesquisas e encontram também patama- de maneira a que seja o internauta interac-
res de entendimento com colegas de todo o tor, quando acede à rede, a definir o seu pró-
mundo. prio percurso segundo um sistema de enlaces
Ora, apesar da importância de que actu- lógicos de informação "de nó em nó", são
almente se reveste a Internet, o futuro este os formatos comunicacionais de eleição na
novo medium é incerto. Será até um lugar- maior rede mundial de computadores. Pro-
comum dizê-lo. Porém, estamos em crer vavelmente, no futuro próximo assim conti-
que é possível encontrar pistas para a cons- nuará a ser, embora condimentado com es-
trução de modelos que nos permitam ante- paços de realidade virtual, que, num futuro
ver um futuro próximo provável para a rede mais longínquo, poderão vir a constituir um
mundial de computadores. Por consequên- sector imenso no ciberespaço. As visões do
cia, é propósito deste trabalho enunciar siste- mundo, imaginavelmente, alterar-se-ão em
maticamente algumas das características que concomitância, redefinindo, principalmente,
a rede assumirá num futuro próximo, cer- as noções de espaço e de tempo, através de
tamente mescladas com aquelas que a rede um medium marcado pela interactividade.
continuará a ter.
2. Publicidade
2 Desenhando um modelo para a A exemplo do que ocorreu com os meios jor-
evolução previsível da Internet nalísticos, é provável que a Internet conti-
nue a ser financiada principalmente à custa
Estamos convictos, face às pistas que pos- de publicidade. Quando acedemos a um
suímos, de que o futuro próximo da Inter- motor de busca, encontramos publicidade.
net assentará em vários vectores principais, Para atingirmos determinados sites, recebe-
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comércio e dos serviços on line. A Amazon, quando a matriz cultural dominante é anglo-
por exemplo, já é uma das maiores livrarias americana, a Internet vai vencendo as resis-
do mundo. tências nacionais e coexiste com o Minitel,
Educação e prazer poderão ser factores formando uma espécie de superestrura mais
conjugados se for possível cativar os educan- vasta a que se pode aceder quando o Minitel
dos entretendo-os. E com a Internet nas es- é insuficiente.
colas parece ser possível.
Jogar videojogos através da Internet, de- 8. Concentração
frontando jogadores de toda e qualquer parte
do mundo, é um bom exemplo da utilização Se atentarmos no que aconteceu aos meios
da maior rede mundial de computadores para de comunicação após a febre desregulamen-
entretenimento e lazer. tadora dos anos oitenta e nos apetites da Mi-
crosoft, então é provável que a Internet ve-
nha a ser vítima de fenómenos de concen-
7. Sistema mundial de comunicação
tração de propriedade nas áreas da presta-
A Internet pode ser entendida como um pri- ção de serviços e do comércio on line. De
meiro patamar de um sistema planetário de facto, quer a prestação de serviços quer o co-
comunicação que pode corresponder à forma mércio on line poderão, progressivamente,
mais aproximada do conceito macluhaniano vir a ser arrebatados por grandes oligopó-
de "aldeia global". Esta é uma ideia de Ca- lios, à medida que se forem tornando cada
rey (1998) que partilhamos e que nos parece vez mais apetecíveis devido ao dinheiro que
particularmente pertinente se atendermos à movimentem e aos lucros que proporcionem.
convergência entre telecomunicações e in- Desta forma, será interessante acompanhar o
formática a nível mundial. Do nosso ponto que acontecerá às pequenas lojas on line à
de vista, esse sistema global de comunica- medida que as grandes corporações se forem
ção, assente nas auto-estradas globais da in- instalando na Internet. Atente-se, aliás, no
formação, configuradoras de velocidade e li- que diz Carey (1998: 34): a luta económica
berdade individual, está a posicionar-se su- entre as empresas que procuram dominar a
perestruralmente em relação aos sistemas na- Internet é o reflexo visível de uma mais pro-
cionais de comunicação, que se foram dese- funda transformação da estrutura das nações
nhando desde o século XIX, com a imprensa e das relações sociais.
massiva e, posteriormente, com o telégrafo,
o telefone, os caminhos de ferro, a rádio, a 9. Aproveitamento da televisão
televisão e os restantes meios de comunica-
ção social. O sistema televisivo será, num futuro pró-
Um exemplo a citar será o do sistema Mi- ximo, aproveitado para algo mais do que
nitel francês, cujo sucesso, inclusivamente, ver televisão e consumir informações atra-
terá promovido um certo atraso de adesão vés do teletexto. A televisão, seja ela a que
dos franceses à Internet. Apesar da dimen- for, isto é, seja ela de baixa definição, de
são desse sistema e da tradicional resistência alta definição ou de definição "ideal", sejam
francesa àquilo que vem de fora, sobretudo os ecrãs baseados em tubos de raios cató-
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dicos, cristais líquidos (LCD) ou painéis de minuição de custos que se tem verificado no
plasma, será uma porta de ligação a uma sector permitem-nos antever uma utilização
quantidade enorme de serviços interactivos. cada vez mais flexível da Internet, para os
A Web TV, por exemplo, ainda está a dar mais diversos propósitos. Aceder-se-á à In-
os primeiros passos, mas é provável que seja ternet do automóvel (por exemplo, para se
um sistema destinado ao sucesso global: está traçar uma rota para um determinado des-
a disseminar-se, os seus custos diminuem e tino ou para se saber quais as estradas con-
melhoram-se a olhos vistos o hardware e a gestionadas), no meio da rua, num café, em
velocidade de conexão. qualquer lugar. Além disso, é preciso não
Na Web TV, algo mais simples do que esquecer que se os telemóveis celulares di-
um PC mas ainda assim interactivo, a inter- gitais irão permitir a comunicação de ima-
face do utilizador é muito boa, estando ao gens em movimento (a nova geração de ser-
alcance de muitos inflo-excluídos por fenó- viços de telecomunicações móveis, chamada
menos pontuais de analfabetismo funcional IMT-2000, estará disponível por volta do ano
face às novas tecnologias informáticas e das 2001), além de texto e som, poderão igual-
telecomunicações. Vêem-se, assim, avôs de mente vir a incorporar software e hardware
provecta idade a mandar emails aos netos. que permitam o acesso directo à Internet.
Provavelmente, este novo tipo de utilizado- Trata-se de um exemplo da tão comentada
res obrigará a uma aproximação dos sites e fusão das telecomunicações com a informá-
das dinâmicas de navegação na Internet ao tica, que promoverá a emergência de servi-
cidadão mundial médio, o que se reflectirá ços de comunicação móvel multimédia.
nos conteúdos e nos formatos hipertextuais,
hipermédia e de realidade virtual. 11. Facilidade de utilização
Os televisores do futuro deverão evoluir
para um sistema de duas ou mais unidades Provavelmente, no futuro será mais simples
separadas, tais como um monitor e uma set- interagir com um computador, o que facili-
top box e um telecomando em muito idên- tará o acesso à Internet através dos PC’s. Bill
tico a um teclado de computador. As redes Gates dizia o seguinte, numa entrevista pu-
digitais de "televisão"permitirão a interacti- blicada em Setembro de 1998: "As pessoas
vidade. O acesso à Internet, serviços como o não estão a prestar atenção ao facto de que,
vídeo a pedido e a possibilidade de se troca- à medida que fazemos o computador falar,
rem conteúdos audiovisuais com os amigos ouvir, aprender, ver, este se transforma em
são apenas três exemplos decorrentes da im- algo muito diferente. Uma ‘placa’ que se
plementação de um novo sistema de televi- pode transportar à vontade, com uma reso-
são. lução suficientemente alta para que você se
possa sentir como se estivesse a ler. Pode
falar com ele e ele pode falar consigo. Até
10. Flexibilidade
pode ver quem está por perto. Estas coisas t
As possibilidades crescentes das telecomuni- a naturalidade da interacçãot chegarão, pro-
cações, a generalização do uso dos telemó- vavelmente, nos próximos cinco anos e cer-
veis GSM, cada vez mais pequenos, e a di- tamente nos próximos dez. (...) É a inter-
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face natural. As pessoas simplesmente não Há ainda uma forma de info-exclusão que
reflectem sobre isso. Quando quiser navegar merece ser combatida: a dos cidadãos porta-
na Web, você não indicará um endereço, mas dores de certas deficiências, como a cegueira
terá apenas de dizer uma frase (...)."2 ou deficiências motoras. Porém, para mui-
tos alguns dos cidadãos portadores de defi-
12. Baixo custo ciência, o teletrabalho com recurso à Inter-
net pode diminuir os problemas de integra-
As políticas de contenção das tarifas para na- ção social, laboral ou até afectiva.
vegação na Internet, em alguns casos incen-
tivadas pelos governos, tenderão a promover
14. luralidade
a info-inclusão e a disseminação da rede nos
países desenvolvidos. O acesso à Internet é potencialmente livre e
plural. Todos podem, potencialmente, ter a
13. Info-exclusão sua home page e gerir um site. Todos po-
dem, potencialmente, aceder à Internet e ob-
Apesar das políticas de contenção de tari- servar todos os seus conteúdos. Porém, se
fas, do aproveitamento do sistema televisivo potencialmente a pluralidade é um facto, na
para acesso à Internet e da globalização da realidade trata-se de uma pluralidade condi-
rede, a pobreza, o subdesenvolvimento e o cionada. Em primeiro lugar, nem todos têm
analfabetismo tecno-funcional impedirão a ainda capacidade económica nem conheci-
vasta maioria dos habitantes do Globo de ter mentos para elaborar uma home page, para
acesso à rede e promoverão a info-exclusão. gerir um site ou até para ter um computa-
Os mais pobres continuarão, provavelmente, dor relativamente recente com acesso à Inter-
a não poder aceder à urbe virtual, condena- net. Em segundo lugar, por muito plural que
dos às grilhetas da cidade real, apesar de ser a Internet seja, o facto é que a esmagadora
significativamente mais barato colocar um maioria das páginas é muito pouco consul-
computador com acesso à Internet numa re- tada. Se em dois anos mil pessoas clicarem
mota aldeia africana (bastaria até um velhi- numa home page, a pessoa que a introduziu
nho 386, um modem e uma linha telefónica) na rede, quanto a mim, já se pode dar por
do que aí instalar uma biblioteca de dimen- feliz. Por isso, existem diferenças significa-
são média. tivas entre os conteúdos efectivamente ace-
Será difícil diminuir a info-exclusão glo- didos e aqueles que raramente o são.
bal sem o desenvolvimento sustentado dos
países menos desenvolvidos e mais pobres.
15. Fugacidade
Mas a info-exclusão nos países mais desen-
volvidos, que também é uma realidade, po- Amanhã, tal como hoje, é provável que os
derá ser combatida prioritarizando a educa- sites tão rapidamente sejam colocados como
ção e a ligação informática das pessoas e das retirados da rede. A fugacidade continuará,
organizações à Internet. por consequência, a marcar a Internet. É sin-
2
tomático que certas publicações científicas já
Cimeira Tecnológica. Exame Informática, ano 4,
n.o 39, Setembro de 1998: 32. aconselhem a que se mencione a data de con-
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uma cobertura para consumo próprio dessas ção. Dias depois, toda a máquina mediática
mesmas eleições. americana e mundial se debruçava sobre o
assunto.
Este caso revela, antes de mais, uma mo-
3 O novo paradigma informativo
dificação estrutural no papel ocupado pelo
O conceito de informação não passa incó- jornalista no cenário informativo. Quando a
lume nas transformações operadas no inte- Internet, como ficou demonstrado neste ar-
rior do sistema comunicativo pela emergên- tigo, proporciona um alargamento do espaço
cia das novas tecnologias. A própria ideia de divulgação e acesso à informação, é a
de notícia revela já sinais evidentes de uma função de gatekeeper do jornalista que fica
modificação epistemológica. A notícia –quer comprometido. O Conselho Editorial da re-
ela apareça nas páginas dos jornais, nos noti- vista Newsweek perde a sua eficácia, e o seu
ciários radiofónicos e televisivos, ou nos tex- tempo, a ponderar as questões éticas da re-
tos on-line das páginas electrónicas dos me- velação de um caso sexual envolvendo uma
dia– tornou-se um conceito diferente: é mais proeminente figura política.
analítica, menos factual, tornou-se um pro- O jornalista perdeu o monopólio do jogo
duto fragmentado na sua forma e mais diver- informativo. A sua função de filtro de in-
sificado no seu conteúdo. formação ficou agora condicionada pela en-
Ao mesmo tempo, a informação jornalís- trada em cena de mecanismos de divulgação
tica tradicional sente-se obrigada a adaptar- comunicativa ao acesso de todos.
se a novos modelos de construção de con- O jornalista só não se pode queixar de ter
teúdo. O jornalismo on-line não é um epi- sido apanhado de surpresa. Há vários anos
fenómeno, desligado da realidade dos me- que o seu território privilegiado de opera-
dia tradicionais. Pelo contrário, esse jor- ções vinha sendo invadido por “seres estra-
nalismo electrónico que emerge na Internet nhos”. Os talk-shows já tinham ocupado o
evolui afectando e sendo afectado por aquilo lugar dos tradicionais programas de entrevis-
que os jornalistas produzem nos meios tradi- tas jornalísticas e os noticiários de hora no-
cionais. bre desde a década de 80 que deixaram de ser
Não é por acaso que o escândalo se- o palco preferido dos políticos nas suas cam-
xual Clinton-Lewinsky apareceu pela pri- panhas. Nas eleições de 1992, o candidato à
meira vez na Internet, numa página de um presidência norte-americana Bill Clinton su-
repórter marginal ao sistema – o Drudge Re- biu vertiginosamente nas sondagens no dia
port (uma espécie de coluna de má-língua, seguinte a ter aparecido a tocar saxofone de
recheada de rumores e informações dispersas óculos escuros no popular programa ‘Arse-
sobre o cenário político americano). Muito nio Hall Show’ (cf. Taylor e Rosen, 1992).
antes de tudo e de todos, o Drudge Report A Internet veio acentuar esta tendência de
revelava que uma equipa de reportagem da perda de monopólio de gestão de informação
revista Newsweek possuía informações com- por parte dos jornalistas. Mas veio também
prometedoras acerca de um caso sexual en- colocar sérios problemas ao nível da recep-
volvendo o presidente Bill Clinton, mas que ção dessa mesma informação por parte das
questões editoriais impediam a sua publica- audiências. Como é que um “navegador”
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10 Ricardo Jorge Pinto e Jorge Pedro Sousa
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5 Bibliografia
ABRAHAMSON, David (1998) The visible
hand: Money, markets and media evo-
lution. Journalism & Mass Communi-
cation Quarterly, 75 (1): 14-18.
Sites
http://www.gpd.org/maig98
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