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Correspondência:
Maria Elizabeth B. de Almeida
Rua dos Franceses, 498 apto. 31F
01329-010 - São Paulo - SP
e-mail: bbalmeida@uol.com.br
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003 327
Distance learning on the internet: approaches and
contributions from digital learning environments
Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Abstract
Keywords:
Contact:
Maria Elizabeth B. de Almeida
Rua dos Franceses, 498 apto. 31F
01329-010 - São Paulo - SP
e-mail: bbalmeida@uol.com.br
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A educação a distância — EaD, como bientes virtuais e interativos de aprendizagem
modalidade educacional alternativa para trans- e a produção de conhecimento individual e
mitir informações e instruções aos alunos por grupal nesses ambientes.
meio do correio e receber destes as respostas
às lições propostas, tornou a educação conven- Abordagens da educação a
cional acessível às pessoas residentes em áre- distância
as isoladas ou àqueles que não tinham condi-
ções de cursar o ensino regular no período Conforme Nunes (1993-1994), é co-
apropriado. A associação de tecnologias tradi- mum conceituar a educação a distância a par-
cionais de comunicação como o rádio e a te- tir de referências da educação convencional de-
levisão como meio de emissão rápida de infor- senvolvida com a presença física de professo-
mações e os materiais impressos enviados via res e alunos em um mesmo espaço segundo
correios trouxeram um novo impulso à EaD, determinada abordagem educacional. Keegan
favorecendo a disseminação e a democratização (1991) analisa os conceitos atribuídos à EaD
do acesso à educação em diferentes níveis, por autores que estudam essa modalidade edu-
permitindo atender grande massa de alunos. cacional sob ângulos diversos, evidenciando
Porém imputou à EaD a reputação de educação que alguns se embasam nas características
de baixo custo e de segunda classe. comunicacionais, outros na organização dos
A integração entre a tecnologia digital cursos, e há ainda aqueles que analisam a se-
com os recursos da telecomunicação, que ori- paração física entre alunos e professores ou o
ginou a internet, evidenciou possibilidades de tipo de suporte utilizado.
ampliar o acesso à educação, embora esse uso A utilização de determinada tecnologia
per si não implique práticas mais inovadoras e como suporte à EaD “não constitui em si uma
não represente mudanças nas concepções de revolução metodológica, mas reconfigura o
conhecimento, ensino e aprendizagem ou nos campo do possível” (Peraya, 2002, p. 49). As-
papéis do aluno e do professor. No entanto, o sim, pode-se usar uma tecnologia tanto na
fato de mudar o meio em que a educação e a tentativa de simular a educação presencial com
comunicação entre alunos e professores se rea- o uso de uma nova mídia como para criar novas
lizam traz mudanças ao ensino e à aprendiza- possibilidades de aprendizagem por meio da
gem que precisam ser compreendidas ao tem- exploração das características inerentes às
po em que se analisam as potencialidades e tecnologias empregadas.
limitações das tecnologias e linguagens empre- A integração de meios de comunicação
gadas para a mediação pedagógica e a apren- de massa tradicionais – rádio e televisão –
dizagem dos alunos. associada à distribuição de materiais impressos
O presente artigo constitui uma elabo- pelo correio provocou a expansão da educação
ração teórica a respeito dos estudos desenvol- a distância a partir de centros de ensino e pro-
vidos no Programa de Pós-graduação em Edu- dução de cursos, os quais emitem as informa-
cação: Currículo, da PUC/SP, explicitando as ções de maneira uniforme para todos os alunos,
abordagens usuais da educação a distância, as que recebem os materiais impressos com con-
contribuições do uso das TIC e distintas lingua- teúdos e tarefas propostas, estudam os concei-
gens de comunicação e representação do pen- tos recebidos, realizam os exercícios e os reme-
samento no processo educacional, bem como o tem aos órgãos responsáveis pelo curso para
potencial de interatividade das TIC (Silva, 2000) avaliação e emissão de novos módulos de con-
para concretizar a interação entre pessoas (alu- teúdo. Essa abordagem da EaD apresenta altos
no–aluno e professor–aluno), objetos de apren- índices de desistência, mas encontra-se disse-
dizagem e recursos hipermediáticos dos am- minada em todas as partes do mundo, devido
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à sua potencialidade de atender a crescente comunicação bidirecional entre professor e alu-
parcela da população que demanda pela forma- nos. O estar junto virtual, também denominado
ção (inicial ou continuada) a fim de adquirir aprendizagem assistida por computador (AAC),
condições de competir no mercado de trabalho. explora a potencialidade interativa das TIC pro-
Nessa abordagem de educação a dis- piciada pela comunicação multidimensional, que
tância, conta-se com a presença do professor aproxima os emissores dos receptores dos cur-
para elaborar os materiais instrucionais e plane- sos, permitindo criar condições de aprendizagem
jar as estratégias de ensino e, na maioria das e colaboração. Porém, é preciso compreender
situações, com um tutor encarregado de res- que não basta colocar os alunos em ambientes
ponder as dúvidas dos alunos. Quando o pro- digitais para que ocorram interações significativas
fessor não se envolve nas interações com os em torno de temáticas coerentes com as inten-
alunos, o que é muito freqüente, cabe ao tutor ções da atividades em realização, nem tampouco
fazê-lo. Porém, caso esse tutor não compreenda pode-se admitir que o acesso a hipertextos e re-
a concepção do curso ou não tenha sido de- cursos multimediáticos dê conta da complexida-
vidamente preparado para orientar o aluno, de dos processos educacionais.
corre-se o risco de um atendimento inadequa- Utilizar as TIC como suporte à EaD ape-
do que pode levar o aluno a abandonar a úni- nas para pôr o aluno diante de informações,
ca possibilidade de interação com o tutor, pas- problemas e objetos de conhecimento pode não
sando a trabalhar sozinho sem ter com quem ser suficiente para envolvê-lo e despertar nele
dialogar a respeito de suas dificuldades ou ela- tal motivação pela aprendizagem levando-o a
borações. criar procedimentos pessoais que lhe permitam
O advento das tecnologias de informa- organizar o próprio tempo para estudos e par-
ção e comunicação (TIC) reavivou as práticas ticipação das atividades, independente do horá-
de EaD devido à flexibilidade do tempo, que- rio ou local em que esteja. Conforme Almeida
bra de barreiras espaciais, emissão e recebimen- (2000, p. 79) é preciso criar um ambiente que
to instantâneo de materiais, o que permite rea- favoreça a aprendizagem significativa ao aluno,
lizar tanto as tradicionais formas mecanicistas “desperte a disposição para aprender (Ausubel
de transmitir conteúdos, agora digitalizados e apud Pozo, 1998), disponibilize as informações
hipermediáticos, como explorar o potencial de pertinentes de maneira organizada e, no mo-
interatividade das TIC e desenvolver atividades mento apropriado, promova a interiorização de
à distancia com base na interação e na produ- conceitos construídos”.
ção de conhecimento. Inserir determinada tecnologia na EaD
Conforme Prado e Valente (2002, p. 29) não constitui em si uma revolução metodológica,
as abordagens de EaD por meio das TIC podem mas reconfigura o campo do possível.
ser de três tipos: broadcast, virtualização da sala A leitura de um texto não linear (hiper-
de aula presencial ou estar junto virtual. Na texto) na tela do computador está baseada em
abordagem denominada broadcast, a tecnologia indexações, conexões entre idéias e conceitos
computacional é empregada para “entregar a articulados por meio de links (nós e ligações)
informação ao aluno” da mesma forma que que conectam informações representadas em di-
ocorre com o uso das tecnologias tradicionais ferentes linguagens e formas tais como palavras,
de comunicação como o rádio e a televisão. páginas, imagens, animações, gráficos, sons, clips
Quando os recursos das redes telemáticas são de vídeo, etc. Dessa forma, ao clicar sobre uma
utilizados da mesma forma que a sala de aula palavra, imagem ou frase definida como um nó
presencial, acontece a virtualização da sala de de um hipertexto, encontra-se uma nova situa-
aula, que procura transferir para o meio virtual ção, evento ou outros textos relacionados. Por-
o paradigma do espaço–tempo da aula e da tanto, cada nó pode ser ponto de partida ou de
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de cada software. Possuem bancos de informa- xibilidade do tempo e na localização do alu-
ções representadas em diferentes mídias (textos, no em qualquer espaço.
imagens, vídeos, hipertextos), e interligadas Educação on-line é uma modalidade de
com conexões constituídas de links internos ou educação a distância realizada via internet, cuja
externos ao sistema. comunicação ocorre de forma sincrônicas ou
O gerenciamento desses ambientes diz assincrônicas. Tanto pode utilizar a internet
respeito a diferentes aspectos, destacando-se para distribuir rapidamente as informações
a gestão das estratégias de comunicação e como pode fazer uso da interatividade propici-
mobilização dos participantes, a gestão da ada pela internet para concretizar a interação
participação dos alunos por meio do registro entre as pessoas, cuja comunicação pode se
das produções, interações e caminhos percor- dar de acordo com distintas modalidades co-
ridos, a gestão do apoio e orientação dos for- municativas, a saber:
madores aos alunos e a gestão da avaliação.
Os ambientes digitais de aprendizagem • comunicação um a um, ou dito de outra
podem ser empregados como suporte para sis- forma, comunicação entre uma e outra pes-
temas de educação a distância realizados exclu- soa, como é o caso da comunicação via e-mail,
sivamente on-line , para apoio às atividades que pode ter uma mensagem enviada para
presenciais de sala de aula, permitindo expan- muitas pessoas desde que exista uma lista
dir as interações da aula para além do espaço– específica para tal fim, mas sua concepção é
tempo do encontro face a face ou para supor- a mesma da correspondência tradicional, por-
te a atividades de formação semipresencial nas tanto, existe uma pessoa que remete a infor-
quais o ambiente digital poderá ser utilizado mação e outra que a recebe;
tanto nas ações presenciais como nas ativida- • comunicação de um para muitos, ou seja,
des à distância. de uma pessoa para muitas pessoas, como
A fim de melhor compreender as diversas ocorre no uso de fóruns de discussão, nos
metodologias com as quais se desenvolve a edu- quais existe um mediador e todos que têm
cação a distância, com suporte em ambientes di- acesso ao fórum, enxergam as intervenções e
gitais de aprendizagem, é importante especificar o fazem suas intervenções;
significado de alguns termos freqüentemente em- • comunicação de muitas pessoas para mui-
pregados como equivalentes, mas que possuem tas pessoas, ou comunicação estelar, que
especificidades relacionadas com as formas como pode ocorrer na construção colaborativa de
esses ambientes são incorporados ao processo um site ou na criação de um grupo virtual,
educacional, quer se realizem nas modalidades como é o caso das comunidades colabo-
tradicionais do ensino formal, quer sejam ativida- rativas em que todos participam da criação e
des livres ou relacionadas a programas de forma- desenvolvimento da própria comunidade e
ção continuada. respectivas produções.
Educação on-line, educação a distân-
cia e e-Learning são termos usuais da área, O e-Learning é uma modalidade de
porém não são congruentes entre si. A educa- educação a distância com suporte na internet
ção a distância pode se realizar pelo uso de que se desenvolveu a partir de necessidades de
diferentes meios (correspondência postal ou empresas relacionadas com o treinamento de
eletrônica, rádio, televisão, telefone, fax, com- seus funcionários, cujas práticas estão cen-
putador, internet, etc.), técnicas que possibi- tradas na seleção, organização e disponi-
litem a comunicação e abordagens educacio- bilização de recursos didáticos hipermediá-
nais; baseia-se tanto na noção de distância ticos. Porém, devido ao baixo aproveitamento
física entre o aluno e o professor como na fle- do potencial de interatividade das TIC na cria-
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ato educativo, presencial ou à distância. Além disso, hipertextuais, cabendo ao aprendiz navegar
a educação presencial também pode fazer uso de pelos materiais, realizar as atividades propostas
recursos hipermediaticos. A amplitude da distância e dar as respostas, muitas vezes isolado, sem
é dada pela concepção epistemológica e respecti- contato com o formador ou com os demais
va abordagem pedagógica, a qual separa ou apro- participantes do programa. Nesse caso, o exer-
xima professor e alunos. Existe um conjunto de cício da autonomia pelo aprendiz incita-lhe a
aspectos indicadores da coerência com a concep- tomada de decisão sobre os caminhos a seguir
ção epistemológica que interferem na distância e na exploração dos conteúdos apresentados e a
direção comunicacional criada entre professor e disciplina nos horários de estudos. Os recursos
alunos, os quais se fazem presente tanto na edu- das TIC podem ser empregados para controlar os
cação presencial como na educação a distância. A caminhos percorridos pelo aprendiz, automatizar
distância, que pode afastar ou aproximar as pes- o fornecimento de respostas às suas atividades
soas, se refere à mediação pedagógica, sendo de- e o feedback em relação ao seu desempenho.
signada por Moore como “distância transacional”, Participar de um ambiente digital se
cuja amplitude pode ser medida pelo nível do aproxima do estar junto virtual (Prado e Valen-
diálogo educativo que pode variar de baixo a fre- te, 2002), uma vez que atuar nesse ambiente
qüente e pelo grau da estrutura variável entre rí- significa expressar pensamentos, tomar deci-
gida e flexível (Bouchard, 2000, p. 76). sões, dialogar, trocar informações e experiên-
Cada recurso mediático empregado na cias e produzir conhecimento. As interações por
educação a distância contém características meio dos recursos disponíveis no ambiente
estruturais específicas e níveis de diálogos pos- propiciam as trocas individuais e a constituição
síveis de acordo com a própria mídia, os quais de grupos colaborativos que interagem, discu-
interferem no nível da distância transacional. tem problemáticas e temas de interesses co-
Da mesma forma, em um ambiente de sala de muns, pesquisam e criam produtos ao mesmo
aula o nível de diálogo e participação dos alu- tempo que se desenvolvem (Almeida, 2001).
nos é propiciado pela abordagem pedagógica Desde modo, formam-se as redes de
assumida pelo professor e respectivas estra- aprendizagem que empregam Computer Me-
tégias e mediações pedagógicas. Bouchard diated Communications (CMC) para aprender
(2000, p. 78) prefere tratar da “latitude” ine- em conjunto por meio da interação, comunica-
rente a determinada mídia “em função das es- ção multidirecional e produção colaborativa
truturas e do diálogo que ela autoriza ou não (Baranauskas et al., 1999), com suporte em
autoriza, ao invés do grau absoluto de distân- ambientes digitais de aprendizagem, nos quais
cia intrínseca da mídia”. cada pessoa busca as informações que lhe são
Portanto, EaD não é apenas uma solu- mais pertinentes, internaliza-as, apropria-se
ção paliativa para atender alunos situados dis- delas e as transforma em uma nova represen-
tantes geograficamente das instituições educa- tação, ao mesmo tempo em que se transforma
cionais nem trata da simples transposição de e volta a agir no grupo transformado e trans-
conteúdos e métodos de ensino presencial para formando o grupo.
outros meios telemáticos. 6 Os programas de Ensinar em ambientes digitais e inte-
EaD podem ter o nível de diálogo priorizado ou rativos de aprendizagem significa: organizar si-
não segundo a concepção epistemológica e tuações de aprendizagem, planejar e propor
respectiva abordagem pedagógica. atividades; disponibilizar materiais de apoio com
Entretanto, mesmo com o uso de recur- o uso de múltiplas mídias e linguagens; ter um
sos das TIC, observa-se com maior freqüência a professor que atue como mediador e orientador
ocorrência de programas de EaD centrados na
disponibilidade de materiais didáticos textuais ou 6.Telemáticos: originário do grego tele, que significa “longe”, “distante”.
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O sentido de localidade diz respeito ao Ressalta-se o desafio da avaliação ten-
espaço digital ou ciberespaço, cujas condições do em vista que os alunos se localizam em
são continuamente contextualizadas nas ações diferentes espaços e têm acesso ao ambiente
em desenvolvimento neste espaço, que fun- em tempos distintos. Mais uma vez, o uso das
cionam também como ferramenta para a memó- TIC em EaD traz uma contribuição essencial
ria. As ações realizadas no ciberespaço são pelo registro contínuo das interações, produ-
registradas e recuperadas a qualquer momento ções e caminhos percorridos, permitindo recu-
e de todos os lugares com acesso à internet, o perar instantaneamente a memória de qualquer
que permite refletir, apreender pensamentos e etapa do processo, analisá-la, realizar tantas
ações representados, descontextualizá-las do atualizações quantas forem necessárias e de-
espaço e tempo originários, apropriar-se destas senvolver a avaliação processual no que diz
ações e contextualizá-las em outras situações e respeito a acompanhar o desenvolvimento do
ecologias. Dessa forma, evidenciam-se novas aprendiz e respectivas produções ou analisar a
perspectivas para refletir e avaliar ações, repre- atividade em si mesma. A par disso, mesmo
sentações de pensamentos, significados expres- após a conclusão das interações, é possível
sos e ecologias criadas. recuperar as informações, rever todo o processo
e refazer as análises mais pertinentes em termos
Avaliação em educação a de avaliação.
distância com suporte em Nesse sentido, o Projeto Nave (Almeida,
ambientes digitais de interação 2001), desenvolvido por pesquisadores do Pro-
e aprendizagem grama de Pós-Graduação em Educação: Currícu-
lo, da PUC/SP, evidenciou a possibilidade de
Conforme Almeida (2002), é importante transformar a avaliação em um processo que
destacar o potencial da EaD com suporte em permite compreender o desenvolvimento do alu-
ambientes digitais e interativos de aprendiza- no e simultaneamente analisar a atividade em
gem para a representação do pensamento do realização de modo a identificar avanços e difi-
aprendiz e a comunicação de suas idéias, assim culdades a fim de redirecionar ações. Diante da
como para a produção individual e coletiva de disponibilidade de acesso aos registros das
conhecimentos. Devido à característica das TIC interações e produções, o próprio aluno teve a
relacionada com o fazer, rever e refazer contí- oportunidade de realizar a auto-regulação da
nuos, o erro pode ser tratado como objeto de sua aprendizagem.
análise e reformulação. Dito de outra forma, o Conforme Almeida & Almeida (2003), a
aprendiz tem a oportunidade de avaliar conti- concepção de conhecimento, ensino e aprendi-
nuamente o próprio trabalho individualmente zagem implícita no design educacional de um
ou com a colaboração do grupo e efetuar ins- curso à distância fornece o balizamento para a
tantaneamente as reformulações que conside- avaliação. Esta poderá direcionar-se para o con-
re adequadas para produzir novos saberes, as- trole do desempenho do aluno de forma mais
sim como pode analisar as produções dos co- eficiente do que em atividades presenciais, uma
legas, emitir feedback e espelhar-se nessas pro- vez que os ambientes digitais de aprendizagem
duções. Nesse sentido, Almeida e Prado (2003) fornecem estatísticas sofisticadas sobre os cami-
analisam uma experiência de resolução de pro- nhos percorridos pelo aluno e respectivas pro-
blemas em grupos colaborativos que interagem duções. Por outro lado, o registro da participa-
exclusivamente por meio de um ambiente digital ção do aluno e suas respectivas produções per-
de interação e aprendizagem e evidenciam o mitem também acompanhá-lo, identificar suas
potencial desses ambientes para a avaliação pro- dificuldades, orientá-lo, propor questões que
cessual e auto-avaliação. desestabilizem suas certezas inadequadas, enca-
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Educação a distância em ser visitado, explorado, trabalhado, não carac-
ambientes digitais de interação terizando local de visita obrigatória.
e aprendizagem, leitura e Devido à diversidade da realidade brasi-
escrita leira e à dificuldade ou até impossibilidade de
acesso às TIC por parcela considerável da popu-
A educação a distância com suporte lação, a educação a distância no Brasil conti-
em ambientes digitais numa perspectiva de nuará convivendo com as diferentes abordagens.
interação e construção colaborativa de conhe- Enquanto se procuram mecanismos para demo-
cimento favorece o desenvolvimento de com- cratizar a educação em todos os níveis, o gran-
petências e habilidades relacionadas com a de contingente de pessoas alijadas do acesso às
escrita para expressar o próprio pensamento, TIC continuará participando de cursos à distân-
interpretação de textos, hipertextos e leitura de cia por meio de tecnologias convencionais. Po-
idéias registradas pelo outro participante. Decor- rém, esses cursos podem tornar-se mais interativos
re daí o grande impacto que o uso desses e assumir uma abordagem mais próxima do estar
ambientes na EaD poderá provocar não só no junto virtual a partir do envolvimento dos forma-
sistema educacional, mas também no desenvol- dores em um programa de sua própria formação
vimento humano e na cultura brasileira, de tra- continuada por meio das TIC que os leve a refletir
dição essencialmente oral, tradição esta imposta sobre as contribuições dessas tecnologias à prá-
pela colonização e escravatura aliadas à moral tica pedagógica.
e à fé cristã, o que impediu o acesso da popu- O uso das TIC na EaD poderá levar à to-
lação brasileira à educação, bem como ao mada de consciência sobre a importância da par-
mundo da leitura e da escrita e à conseqüente ticipação de professores e tutores em todas as
formação de leitores e escritores (Cury, 2001). etapas da formação, a qual implica compreender o
Participar de um curso à distância em processo do ponto de vista educacional, tecno-
ambientes digitais e colaborativos de aprendi- lógico e comunicacional. Daí a possibilidade de
zagem significa mergulhar em um mundo vir- transferir tal percepção para a EaD convencional e
tual cuja comunicação se dá essencialmente buscar alternativas que favoreçam a interação entre
pela leitura e interpretação de materiais didáti- os participantes e a representação do pensamen-
cos textuais e hipertextuais, pela leitura da to do aprendiz, o que começa a se evidenciar nos
escrita do pensamento do outro, pela expressão meios de comunicação convencionais.
do próprio pensamento por meio da escrita. Tendo em vista a necessidade de fluência
Significa conviver com a diversidade e a singu- tecnológica para que a pessoa possa participar de
laridade, trocar idéias e experiências, realizar atividades à distância com suporte no meio digi-
simulações, testar hipóteses, resolver problemas tal, fica explícita a intrínseca conexão entre EaD,
e criar novas situações, engajando-se na cons- alfabetização e inclusão digital, mas isso não sig-
trução coletiva de uma ecologia da informação, nifica ser esta última pré-requisito para EaD e sim
na qual valores, motivações, hábitos e práticas que há necessidade de trabalhar o desenvolvimento
são compartilhados. de competências relacionadas com a alfabetização
Cada participante do ambiente tem a e inclusão digital quando as pessoas se propõem
oportunidade de percorrer distintos caminhos, a participar de cursos à distância. A par disso,
nós e conexões existentes entre informações, observa-se que os cursos à distância em ambien-
textos, hipertextos e imagens; ligar contextos, tes digitais e interativos de aprendizagem incitam
mídias e recursos; tornar-se receptor e emissor o desenvolvimento da expressão do pensamento
de informações, leitor, escritor e comunicador; pela representação escrita quando o aprendiz tem
criar novos nós e conexões, os quais represen- a oportunidade de discutir, expressar-se livremen-
tam espaços de referência e interação que pode te e desenvolver produções individuais e grupais.
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Recebido em 10.11.03
Aprovado em 26.11.03
Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida é professora da PUC/SP, Departamento Ciência da Computação e Programa de
Pós-Graduação em Educação. Doutora em Educação, PUC/SP. Autora de publicações sobre tecnologia e formação de
educadores. Co-organizadora das obras: Educação a distância via Internet; Gestão Educacional e Tecnologia, da Coleção
Formação de Professores (Avercamp - 2003).