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Artigo

A função social da escola e sua relação com a


avaliação escolar e objetivos de ensino
Cely do Socorro Costa Nunes*

RESUMO

Este artigo tem como finalidade abordar o fenômeno


avaliativo e seus efeitos no interior da sala de aula, na escola
e no mundo material. Parte-se do princípio de que o par PALAVRAS-CHAVE: Função social
avaliação/objetivos é uma categoria importante para se da escola. Fracasso escolar. Organização
compreender a organização do trabalho pedagógico escolar,
do trabalho pedagógico e avaliação.
pois os objetivos apontam o estado final e este estado está
em contradição com o estado real do aluno (FREITAS,
1995).
Professor, se o papel da escola é ensinar, por que ela
se preocupa tanto em reprovar? (SEDUC/RS, 2000).

A escola pública brasileira, mediante a de ensino (eliminação propriamente dita)1 ; sua


forma como organiza seu trabalho pedagógico e permanência por um determinado tempo
estabelece seus regulamentos, ritmos e rituais, (manutenção adiada)2 ; a manutenção provisória
ainda está longe de produzir o sucesso escolar e das classes populares em profissões menos nobres
de alcançar os fins educacionais assegurados (eliminação adiada) e a manutenção propriamente
constitucionalmente. dita das classes dominantes em profissões nobres.
Tal assertiva parte do entendimento de que Notoriamente são os alunos das camadas
assegurar à população escolarizável o direito à menos favorecidas economicamente da população
educação escolar em igualdade de condições de brasileira que engrossam as estatísticas da
entrada e permanência pela oferta de ensino repetência, da evasão e do abandono escolar,
público, gratuito e de qualidade em todos os níveis constituindo-se numa faceta do fracasso escolar.
de ensino, é um desafio que se coloca ao sistema São eles, antecipadamente, excluídos do sistema
oficial de ensino, aos gestores educacionais, aos de ensino quer seja pela insuficiência de ofertas
professores e à escola frente a persistência dos altos de vagas nas escolas públicas, quer seja pela
índices de crianças, jovens e adultos que têm este qualidade do ensino duvidosa que propaga,
direito negado, cujo critério básico, ao que tudo instituindo-se uma cultura do fracasso e da
indica, é a sua condição de classe. Dito de outra exclusão escolar. Sobre esta cultura do fracasso
forma, é a condição de classe social dos alunos escolar ARROYO (1992) esclarece suas
que vai determinar sua entrada ou não no sistema repercussões:

1
Sentido de privação, impedir o ingresso das camadas populares na escola.
2
Exclusão pura e simples das camadas populares do interior da escola, ou seja, a evasão, que inclui tanto a auto-exclusão como a exclusão por reprovação.
* Doutora em Educação pela UNICAMP. Professora Adjunta de Didática e Avaliação da UEPA e UNAMA.

16 Trilhas, Belém, v.1, n.2, p. 56-65, nov, 2000


Podemos partir da hipótese de que existe entre o ato de ensinar está mergulhado em explícitas (ou
nós uma cultura do fracasso que se alimenta dele implícitas) opções políticas, opções teórico-
e o reproduz. Cultura que legitima práticas,
metodológicas que fazem da escola um local de
rotula fracassos, trabalha com preconceitos de
raça, gênero e classe, e que exclui porque confronto entre as classes privilegiadas e
reprovar faz parte da prática de ensinar-aprender- desprivilegiadas economicamente. Para ambas,
avaliar. resguardando as devidas proporções, a escola
legitima e consolida a condição de classe dos que
Assim, apesar do preceito constitucional a freqüentam à medida que seus objetivos e suas
brasileiro em assegurar o direito educacional como práticas excluem ou mantêm determinados alunos
uma conquista social, estamos longe de tê-lo à no sistema de ensino. É a origem social do aluno
disposição da população escolarizável, edificando- que, a priori, determina sua entrada (ou não), o
se, portanto, a função marginal da escola: seletiva tempo de permanência e a sua saída do sistema de
e excludente. Como nos diz o referido autor (op. ensino. FREITAS (1991) contribui com esta
cit.): discussão quando nos esclarece que a eliminação
A consciência do direito à educação básica e manutenção ocorrem tendo como fundamento
avançou, porém não conseguimos que a escola
básico a classe social dos envolvidos. Conclui o
se estruturasse para garantir esse direito, ela
continua como uma instituição seletiva e referido autor que as práticas de avaliação deverão
excludente. ser vistas como instrumento de permanente
superação da contradição entre o desempenho real
A análise da função social da escola, do aluno e o desempenho esperado pelos objetivos,
portanto, está intrinsicamente relacionada com o por meio de um processo de produção do
conceito de fracasso escolar o que me indica conhecimento que procure incluir o aluno e não
compreender o fenômeno educacional na sua aliená-lo.
contradição, revendo e ampliando o conceito de A função seletiva da escola também pode
avaliação, pois a forma como esta tem sido ser explicada pela forma como os conteúdos e
concebida e praticada, tem contribuído para metodologias de ensino são trabalhadas no interior
sedimentar tal fracasso. da sala de aula. Tal forma tem primado por
Ao tomar como referência que a escola é conteúdos acríticos, sem muita significação e
uma instituição social e está em intensa relação relevância social para os alunos. Trabalhados de
com o contexto sócio-econômico-político, traz na forma arbitrária e dogmática culminam por
sua organização e estruturação do ensino, objetivos cumprir uma função de controle de mentes, de
e interesses de grupos sociais economicamente vozes, de corpo e de movimento de seus alunos,
diferentes. Esses interesses e objetivos que vão moldando-os para assumirem determinados papéis
orientar e sustentar uma determinada prática sociais com o intuito de conservar e manter a
educativa são definidos, portanto, por uma opção ordem social previamente estabelecida.
de classe social, às vezes não muito consciente A escola pela maneira de trabalhar seus
por parte das escolas, dos professores e dos alunos. conteúdos de ensino não consegue desvelar o
Ao se materializarem na prática pedagógica, cunho ideológico que existe neles, tornando-os
ocultam ou relevam as posições antagônicas que estáticos, cristalizados e divorciados das condições
esses grupos sociais se defrontam no interior da sócio-culturais dos seus alunos. Estes, por sua vez,
escola e da sociedade, vez que partem de não conseguem reconhecer nos conteúdos de
exigências e necessidades diferentes, frutos de suas ensino um significado socialmente útil daquilo que
relações com o mundo material. foi ensinado e supostamente aprendido. Sem
Portanto, se a prática escolar é orientada, conseguir estabelecer uma relação recíproca entre
organizada e dirigida por finalidades e objetivos, o produto escolar (saber) e sua vida prática,

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alienam-se do processo produtivo escolar e social. sujeito. Concordo com ENGUITA (1989) quando
Por extensão, as formas empregadas para afirma que a avaliação é de fato um mecanismo
trabalhar esses conteúdos têm privilegiado os onipresente na cotidianeidade das salas de aulas,
métodos-receptivos e de transmissão do vez que os alunos são constantemente avaliados.
conhecimento por meio do emprego de técnicas Destaco que essa avaliação não se restringe
de ensino que valorizam atividades de apenas a emitir juízo de valor sobre o grau de
memorização e repetição. Selecionados conhecimento (nível instrucional) dos alunos. Há
aleatoriamente, são substituídos quando os uma avaliação muito mais perversa e poderosa que
resultados vão se mostrando ineficazes para o a escola tenta escamotear que diz respeito a
alcance dos objetivos propostos. Por trás desta avaliação disciplinar e valorativa que vão
ótica, MARTINS (1991) conclui que o professor determinar, sobremaneira, a avaliação instrucional
tende a compreender e explicar os problemas do a que o aluno é submetido. Posso afirmar, então,
fracasso escolar como meramente pedagógico, que a avaliação instrucional, disciplinar e de
bastando alterar as técnicas de ensino para se obter valores constituem o “tripé avaliativo” de que o
resultados mais positivos. professor lança mão para emitir juízo de valor
Sem a devida compreensão das sobre o desempenho de seus alunos.
determinações sociais que incorporam o quê A dimensão instrucional da avaliação é
ensinar, como ensinar e para que ensinar, a escola relevada pela avaliação formal3 que a escola
tende a reproduzir em sua prática educativa um realiza. São aquelas práticas que envolvem o uso
trabalho alienado, um ensino mecânico e de instrumentos explícitos de avaliação, cujos
burocrático, tão presente ainda nas escolas: o resultados podem ser examinados objetivamente
professor passa ou dita a matéria (prima pelo pelo aluno, à luz de um procedimento claro. A
verbalismo), os alunos escutam atentamente e dimensão valorativa e disciplinar da avaliação é
copiam o que foi transmitido e tentam reproduzir relevada pela avaliação informal 4 que a escola
fielmente nas provas o que conseguiram reter de realiza e diz respeito à construção, por parte do
maior número de informações possíveis. Mediada professor, de juízo de valor sobre o aluno, cujo
pela relação conteúdo-forma, a obsessão pela processo de constituição está encoberto e é
manutenção da ordem, da disciplina, da aparentemente assistemático. De certa forma, a
pontualidade; a imposição das regras, dos ritos, avaliação informal, não se mostra de forma clara
dos regulamentos, da autoridade e da burocracia; para os alunos. Praticada de forma velada e
o tratamento impessoal dispensado aos alunos e dissimulada, mantém a ordem, controla a
professores, a escola, sutilmente, vai determinando disciplina, o comportamento do aluno ao mesmo
o que o aluno deve ou não aprender, como tempo em que trabalha certos valores e atitudes,
aprender mais rápido possível, em que ritmo influenciando o juízo de valor que vai ser proferido
(tempo) se dará esta aprendizagem. pela escola. Neste sentido, considero que a
Uma outra questão tem contribuído para a avaliação informal confirma a avaliação formal
edificação de uma escola excludente e seletiva: a (ou vice-versa) quando, por exemplo, o professor
prática da avaliação como mecanismo de consegue prever, antecipadamente, quais alunos
eliminação e manutenção dos alunos nas escolas, serão excluídos e mantidos ao longo do processo
demonstrando ser uma das práticas mais de ensino.
valorizadas pela escola, considerando o excesso Pelo processo de avaliação em curso na
de momentos avaliativos ao qual o aluno está grande maioria das escolas, revestido ora por um

3
– Cf. FREITAS, (1995).
4
– op. cit.

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caráter de formalidade ora de informalidade, os os não aptos, os que sabem e os que não sabem,
alunos são medidos, rotulados, classificados os que serão eliminados ou mantidos no sistema
conforme o grau de comparação do desempenho de ensino, pelo menos por algum tempo.
de certas habilidades e capacidades intelectuais, Assumindo um poder que lhe é conferido
de seu comportamento e de certos valores com os pela sociedade de classes que precisa colocar
objetivos proclamados (ou escondidos) pela homens certos nos lugares certos para o
escola. Desta forma, a avaliação não se restringe desempenho de funções específicas, a avaliação
apenas ao caráter instrucional, oficializado pelo entra como legitimadora dos papéis sociais a serem
currículo, tão bem valorizado pelos instrumentos cumpridos pelas classes sociais. As camadas
que quantificam o rendimento escolar dos alunos. menos favorecidas da população são credenciadas
Nela estão presentes, com forte visão punitiva e/ ao trabalho manual, à condição de subordinação,
ou premiativa, os aspectos disciplinares e à medida que são eliminadas do sistema de ensino
valorativos. antes mesmo de ingressarem nele, ou quando
A arbitrariedade da prática da avaliação ingressam, pela prática da avaliação da escola. As
também se manifesta quando o aluno passa ser o camadas mais favorecidas economicamente da
único elemento da comunidade escolar que deve população, que pela sua condição de classe entram
ser avaliado, excluindo-se, dessa forma, os demais: e permanecem na escola para consolidar seus
avaliação do projeto pedagógico, do currículo, de privilégios, são credenciadas ao trabalho
disciplinas, de gestão, de programas, de professor. intelectual, à condição de comando. Bourdieu e
Registro ainda o fato de que as regras e os critérios Passeron (1992) concebem a escola como uma
do processo avaliativo nem sempre se tornam instituição que consegue melhor do que qualquer
claras para os alunos. LUDKE (1992) nos esclarece outra dissimular as suas verdadeiras funções
que a avaliação é um grande jogo cujas regras só sociais, o que motiva as classes dominantes a
são estabelecidas por uma das partes e não são delegar-lhe cada vez mais o poder de seleção como
devidamente relevadas à outra. Nesta ótica, se ela fosse uma instância neutra. Referem-se eles
instaura-se, portanto, um clima de mistério e que a escola possui, simultaneamente, uma função
suspense sobre o que vai ser avaliado, de que forma técnica-de produção e comprovação de capacidade
e quando. A ocultação das regras e dos critérios, - e uma função social – de conservação e
estabelecidos por aqueles que sempre estão em consagração de poder e privilégios.
posição de comando, demonstra o caráter Neste sentido, a análise política da avaliação
arbitrário e a manifestação do poder que a me induz a uma ressignificação de seu conceito,
avaliação exerce no interior das escolas. compreendendo-a como o estudo sistemático dos
O veredicto dessas avaliações ao serem mecanismos de eliminação e manutenção que
transformadas em notas ou conceitos decidem o ocorrem no processo seletivo no interior da escola
destino que os alunos terão no decorrer de sua (FREITAS, 1995). Para além de elaborar
escolaridade (e de suas vidas): excluídos instrumentos objetivos de avaliação, aferir notas
(eliminação) ou mantidos (manutenção). Ao emitir e conceitos, estabelecer critérios que possam ser
juízo de valor sobre a performance do aluno, a mensuráveis, torna-se de fundamental importância
escola certifica o aprendido e o não aprendido, avaliar o processo de produção de conhecimento
rotula os fortes e os fracos, credencia os aptos e da escola como um todo.

Trilhas, Belém, v.1, n.2, p. 56-65, nov, 2000 19


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARROYO, Miguel G. Fracasso e sucesso: o peso


da cultura escolar e do ordenamento da
educação básica. In: EM ABERTO, Brasília,,
n. 53, 1992.
BOURDIEU, Pierre, PASSERON, Jean Claude.
A reprodução: elementos para uma teoria do
sistema de ensino. RJ: Francisco Alves, 1992.
ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola:
educação e trabalho no capitalismo. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1989.
FREITAS, Luis Carlos. Crítica da organização
do trabalho pedagógico e da didática.
Campinas: Papirus, 1995.
LUDKE, Menga e MEDIANO, Z. Avaliação na
escola de 1º grau: uma análise sociológica.
Campinas: Papirus, 1992.
MARTINS, Pura Lúcia Oliver. Didática teórica
e didática prática: para além do confronto.
São Paulo: Loyola, 1991.
Secretaria de Estado de Educação do Rio Grande
do Sul. Jornal da Educação. Agosto, 2000.
SOUZA, Clarice P. Avaliação do rendimento
escolar. Campinas: Papirus, 1991.

20 Trilhas, Belém, v.1, n.2, p. 56-65, nov, 2000

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