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A ORIGEM DA OBRA DE ARTE
RESENHA SOBRE TEXTO DE HEIDEGGER 
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 Eugênio Araújo, 1991.
"A origem da obra de arte". Poderia haver gênese mais obscura e incerta sobre a qual se debruçasse um filósofo? Talvez só a própria origem do homem e da humanidade, já que provavelmente arte e homem nascem juntos; aquela é fator humanizante deste. Visto assim, buscar a origem da obra de arte é tarefa mais difícil do se possa originalmente supor. Ela nasce do homem e com o homem: é um processo histórico, dirá Heidegger. Mas como ela nasce, quando nasce, e quando é verdadeiramente real? Qual a sua essência mais  profunda, que determina por isso seu caráter irremovível de obra de arte? São essas as questões sobre as quais Heidegger se debruça para responder à pergunta inicial: qual a origem da obra de arte? É interessante observar como o autor nos induz a uma verdadeira odisséia pelo mundo das idéias, dos conceitos e das palavras. Nesta viagem ele derruba vários deles, às nossas vistas e conosco. Ele nos excita, emociona e deixa-nos curiosos. A viagem é um mergulho vertiginoso às origens; um mergulho de volta, como um escafandrista que busca tesouros perdidos (sempre existente e conservados) nas mais profundas "fossas submarinas". Heidegger realiza esse mergulho de maneira competente e traz à tona e luz aquilo que sempre "esteve", que sempre "foi" e "é". Apenas se achava escondido. A odisséia começa com a simples constatação de que "a arte é a origem da obra e do artista." A arte e o artista estão na obra. Isto quer dizer que um não existe sem o outro.  No entanto, Heidegger pergunta sobre a essência da arte e responde que ela está na "obra real". Mas qual é e como identificar esta "obra real" e como ela aparece? Ele nos remete então à materialidade observável e sensível da obra, para que possamos melhor estudá-la. "Toda obra tem um aspecto de coisa; a coisa está na obra e vice versa." A obra de arte existe como as outras coisas. No entanto, ela é para nós mais que uma mera coisa. Ela é alegoria, carregada de valor simbólico. Nota-se pois, que Heidegger, assim tenta com desmistificar inicialmente a obra de arte, submetendo-a ao campo
das coisas
, cuida imediatamente em não igualá-la a estas, diferenciando-a através do seu caráter simbólico e alegórico. É preciso ir mais fundo nesta diferenciação e/ou interação entre obra e coisa. Até
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 Este texto foi apresentado como trabalho final da disciplina de graduação
 Evolução da Música
 
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, sob orientação do prof. Antônio Jardim (Dr. em Musicologia ), EBA/UFRJ, 1990, a partir do original "
El origen de la obra de arte
." Vale notar o procedimento pouco ortodoxo do professor, adotando um texto filosófico numa disciplina de área de música. Éramos apenas quatro alunos e passamos todo o período lendo e discutindo somente este texto, hermético e prolixo, mas que o professor recomendou como
fundamental  para discussão sobre arte
. Entre os alunos eu e minha querida amiga Magda Godinho (hoje também  professora da arte), com quem procurava discutir e esclarecer o texto. No final foi-nos solicitado um comentário escrito sobre o ele. Resolvi fazer uma espécie de resenha, em vez de enveredar pela crítica, o que requereria mais domínio no campo da estética. Apesar das dificuldades, tal estudo foi-me bastante proveitoso. Depois de vários anos de leituras acumuladas sobre arte, consigo entender bem melhor o texto e algumas idéias e conceitos básicos, que considero determinantes, como a diferenciação entre objeto útil e objeto estético, bem como entre arte e artesanato, conceitos aliás, presente em vários outros autores. A nota obtida foi 7,5 com o seguinte comentário: "
 É um bom trabalho, muito bem escrito, porém com algumas poucas imprecisões. Senti falta de um posicionamento menos diretivo e mais crítico."
Mas quem era eu na época para criticar Heidgger?? O texto é apresentado aqui na forma em que foi submetido ao professor.
 
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que ponta uma interfere e/ou determina a outra? O que é uma coisa? O que é uma obra de arte?
A OBRA E A COISA
Começa aqui mais precisamente a vertigem do mergulho heideggeriano, quando ele enuncia três maneiras equivocadas de ver, sentir, e conceituar a coisa. Agora ele também quer buscar a essência da coisa, para diferenciá-la claramente da essência da obra de arte. Ao buscar a coisa de três maneiras distintas, ele nos leva, nos faz acreditar e depois mostra-nos sua verdade. Antes nos confunde, depois nos estarrece.
A primeira maneira
 de tentar chegar à coisa e não consegui-lo remete`a terminologia, à toda linguagem ocidental. Segundo Heidegger, hoje nós simplesmente não sabemos o que falamos! Toda tradição linguística do ocidente, fundada no latim e suas degenerações, carrega consigo o estigma do equívoco. Tal fato se inicia quando da tradução do idioma grego para o idioma latino. O
grego
, ao fazer sua verbalização da
Terra
 (o ente
terra
, terra = natureza), o faz como resultado de uma "experiência original" e íntima com o ente, com a essência dele
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 Heidegger chama isso de "mundaninizar"; o
romano
, ao apossar-se das palavras e expressões do idioma grego, as adota sem as correspondentes "experiências originais". A palavra continua a mesma, mas passa a designar outra coisa. Ela  já não transmite o essencial da coisa, mas o dissimula e nos parece hoje arbitrária. Aqui Heidegger identifica a
"falta de terreno firme de todo pensamento ocidental".
 Todas as línguas descendentes do latim, filho do grego, apenas fizeram realçar esta "ocultação do ente", antes desolcutado pelos gregos em sua essência. A definição ocidental corrente utiliza-se da adjetivação. Assim, a coisa já não é ela própria, ela é isso ou aquilo (dura, mole, feia, macia, colorida, cheirosa, agradável, etc. ). Emitem-se notas a respeito da coisa, sem que se defina a coisa em si. O pior é que este tipo de procedimento não vale apenas  para as coisas em geral, mas para todos os entes, sendo, então, impossível, através dele, separar entre os que são coisa e os que não são. Assim está formada a primeira grande confusão!
A Segunda maneira
 de tentar captar a coisa seria quase uma espécie de fuga da visão acima: já que estamos tão distantes da coisa, esqueçamos de tudo e demos mais liberdade à coisa para que ele se mostre imediatamente! É preciso impregnar-se da coisa, senti-la em sua plenitude... Isto aconteceria através dos sentidos humanos, "atacados" pela coisa, num estado de total receptividade de sensações advindas dela. Heidegger diz, entretanto, que tanto o primeiro, quanto o segundo modos de ver a coisa pecam por exagero: um nos afasta e outro aproxima-nos demais da coisa; é melhor evitar os dois. "
 A coisa deve ser em si" 
, ele diz. Esse enunciado é de grande importância na visão heideggeriana.
A terceira maneira
de ver a coisa advém dessa visão sensitiva e sensível do ente e remete direto à materialidade dele. A coisa seria resultado de uma interação entre matéria e forma, conceito que serviria tanto para as
coisas naturais
 quanto para as
usuais.
 Heidegger então vai rápido e fundo num mergulho paralelo na questão
matéria/forma
 e nos descobre que esta visão remete ao ente ÚTIL, já que a utilidade tem papel preponderante no sentido matéria-forma-ente. Ele explica: do tipo de material depende a forma final do produto, que são ambos (o material e a forma dada a ele) idéias para a realização de algo, uma UTILIDADE. Assim, a conjunção matéria/forma não nos remete à coisidade da coisa e sim
 
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à utilidade do útil. Essa descoberta é deveras interessante e com ela Heidegger traça uma escala linear ascendente que vai da coisa à obra de arte, no qual o útil ocupa posição intermediária (1.coisa-2.útil- 3.obra de arte ). O autor aproveita essa passagem pela questão do útil e enuncia: "
O útil é aquilo que serve para algo, que é perecível, que sucumbe mediante ao uso e que deve servir muito bem e de forma super-eficiente àquilo a que se  propõe ( o ser-de-confiança do útil ); quando bem usado, essencialmente útil, o objeto útil é esquecido." 
 Trata-se, como se vê, de algo bem distinto da obra de arte
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.  Nossa questão continua sendo, porém, o "cósico da coisa". O que de coisa na coisa e de coisa na obra de arte? Por extensão, o que há de arte na obra? Já que as três tentativas de ver a coisa pelos modos convencionais falharam
 – 
 ver o cósico na obra é impossível pelos meios até agora utilizados
 – 
 talvez isso seja sinal de que o material cósico da obra não pertença à obra.
"Tentamos captar uma realidade mais evidente na obra através de sua materialidade cósica e falhamos; portanto, o cósico não pertence à obra." 
 – 
 afirma Heidegger. Aqui ele propõe uma inversão nas investigações: já que não foi possível ver o que há de cósico na obra, tentemos ver o que há de obra no cósico, pois é certo que cósico e obra mantêm uma estreita relação entre si. A inversão é sutil, mas totalmente elucidante. A obra de arte é algo singular. Ela não é a cópia do real existente, mas a reprodução da "essência geral das coisas". A arte não copia, mas enuncia; nela há verdade e aí vive sua essência: pôr a verdade em operação. Assim a
arte seria o quarto caminho para chegar à essência, não só das coisas, mas dos entes em geral, além de si própria.
 É preciso
 – 
 diz Heidegger
 – 
 esquecer todos os pre-conceitos e equívocos anteriores e enveredar agora por esse caminho, em busca do cósico da coisa, do ser da obra, e do cósico da obra.
A OBRA E A VERDADE
Heidegger diz que a verdade acontece na obra de arte. Mas o que é essa verdade e como ela acontece aí? Aqui, um outro mergulho que começa com o enunciado já visto de que é necessário
"deixar a obra repousar em si, sobre si e só" 
, para que ela assim nos mostre a sua verdade. É preciso isolar a obra de toda relação que não seja dela com ela  própria. Ele ainda se questiona: mas não é próprio da obra de arte estar em estreita relação com o mundo? A resposta é curta: "
a obra só deve pertencer ao reino que se abre por meio dela e só ai mantém relações; o ser-obra só existe nesta abertura.
" A obra estabelece e cria seu próprio mundo (diferente de todos os outros); ela consagra e glorifica porque exige do ser obra que ele se manifeste
 – 
 a obra desfolha-se sobre si e nos apresenta o seu mundo e o mantém em imperiosa permanência. Neste
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 Hoje quando trabalho esta idéia com meus alunos exemplifico com o sapato. Um sapato verdadeiramente útil é aquele que não sentimos quando usamos. Esse é o ponto máximo do conforto do sapato, seu grau ótimo de utilidade. Qualquer sapato que se mostre à nossa consciência é porque nos incomoda, ou seja, não cumpre sua função primordial de ser útil e esquecível, porque funciona muito bem. O sapato que não se esquece é aquele que quando calçado, aperta e faz calo, não segura no pé, causa dores, desequilíbrio, etc. todos defeitos que podem ser considerados gravíssimos para um sapato. No entanto o ser humano inventou para ele uma outra categoria, o
sapato de arte
. Pensemos nos saltos agulha altíssimos que algumas mulheres gostam de usar e que custam boas dores na coluna; pensemos nas plataformas de Carmem Miranda, nada práticas;  pensemos no antigo costume chinês de usar calçados números muitas vezes menor que o pé, para diminuí-lo, etc. Há vários exemplos de como um sapato deixa de ser apreciado apenas por sua utilidade e passa a ser apreciado pela sua beleza ou seu efeito estético. Essa é uma diferenciação básica entre
coisa útil
 e
obra de arte
.

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