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SUBJETIVIDADE E GRUPOS: ENTRE A ADAPTAÇÃO E SUBMISSÃO

Eneida von Eckhardt

Em primeiro lugar, pedimos ao leitor que analise, cuidadosamente, o texto de Rubens Alves
logo abaixo.

A ÁGUIA QUE (QUASE) VIROU GALINHA


Rubem Alves
"O tempo está chegando quando o homem não mais lançará a
flecha do seu desejo para além de si mesmo e a corda do seu
arco se esquecerá de como vibrar ... O tempo está chegando,
quando o homem não mais dará à luz de uma estrela.
O tempo do mais desprezível dos homens..." (Nietzsche)
O tempo está chegando quando todas as águias
se transformarão em galinhas."

(1) A idéia desta estória não é minha. Meu é só o jeito de contar...


(2) Sobre uma águia que foi criada num galinheiro.
(3) E foi aprendendo sobre o jeito galináceo de ser, de pensar, de
(4) ciscar a terra, de comer milho, de dormir em poleiros...
(5) E na medida em que aprendia, ia esquecendo as poucas lembranças
(6) que lhe restavam do passado. É sempre assim: todo aprendizado
(7) os vôos nas nuvens,o frio das alturas,
(8) a vista se perdendo no horizonte,
(9) o delicioso sentimento de dignidade e liberdade...
(10) Como não havia ninguém que lhe falasse destas coisas, e todas
(11) as galinhas cacarejassem os mesmos catecismos, ela acabou por
(12) acreditar que ela não passava de uma galinha com perturbação
(13) hormonal, tudo grande demais, aquele bicocurvo, sinal certo de acromegalia,
(14) e desejava muito que seu cocô tivesse o mesmo cheiro certo do cocô das galinhas...
(15) Um dia apareceu por lá um homem que vivera nas montanhas
(16) e vira o vôo orgulhoso das águias.
(17) -"Que é que você faz aqui?", ele perguntou.
(18) -"Este é meu lugar", ela respondeu. "Todo mundo sabe que galinhas vivem em
galinheiros,
(19) comem milho, ciscam o chão, botam ovos e finalmente viram canja: nada se perde,
utilidade
(20) total..."
(21) - "Mas você não é galinha", ele disse. "É uma águia".
(22) - "De jeito nenhum. Águia volta alto. Eu nem sequer, voar sei.
(23) - Pra dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens.
(24) - É mais seguir andando, passo a passo.
(25) E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia esquecida.
(26) Até que o homem, não agüentando mais ver aquela coisa triste,
(27) uma águia transformada em galinha, agarrou a águia à força,
(28) e a levou até o alto de uma montanha.
(29) A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas
(30) o homem não teve compaixão; jogou-a no vazio do abismo.
(31) Foi então que o pavor, misturado a memórias que ainda moravam em seu corpo,
(32) fez as asas baterem,a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranqüila dignidade,
(33) até se abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado.
(34) E ela finalmente compreendeu que seu nome não era galinha, mas águia...

Como professora de ensino superior, utilizei este texto algumas vezes em avaliações ou
estudos dirigidos em disciplinas de Psicologia aplicada, sempre solicitando articulações ou
análises. Foi impressionante a quantidade de vezes e as justificativas de análise até a linha
25. Elas, geralmente, associaram que o comportamento da águia era espontâneo e criativo
ao tentar viver como uma galinha, negando o final da estória que fornecia a dica de que o
raciocínio dos alunos poderia estar equivocado !
O que ocorria com os alunos, que compreendiam -com tanta segurança e certeza- que a
águia ao se esforçar ser uma galinhaera algo natural, significado de estar 'plenamente
adaptado e feliz' a um ambiente tão diferente do seu, negando sua verdadeira identidade?
Muitas vezes, retornava-lhes com a seguinte pergunta: 'se uma águia fosse solta num
galinheiro, o que ela faria?' Ficavam perplexos quando lhes lembrava que á águia atacaria as
galinhas, possivelmente, devorando-as ao invés de querer se parecer com elas e achar que o
problema estava com ela!

Reagiam com perplexidade, e às vezes com resistência, ao verificarem, que possível e


inconscientemente, o que ocorriam com eles, era uma identificação com o personagem
águia. Isto em análise institucional é conhecido como 'naturalização'.

Quando um sujeito incorpora valores e normas em seus processos de identificação e nas


suas relações sociais, os adota como naturais, e muitas vezes os eternizam. Muitos
processos instituintes e de inculcação ideológica mantêm um (as)sujeitamento, excluindo a
reflexão e análise das situações e de sua implicação nos lugares aos quais pertence,
perdendo suas autenticidade.

No galinheiro -se encarado como um campo de análise-, verificou-se que foi instituído que
naquele lugar todos deveriam ser iguais. O efeito disto nos sujeitos foi a produção de
sintomas da ordem do (des)reconhecimento de si mesmo e a culpabilização.

O que em análise institucional é chamado de instituído, no Psicodrama, pode se fazer um


paralelo com o conceito de conserva cultural. A conserva cultural alia-se aos papéis, e
necessitamos no dia a dia das nossas vidas, condutas, alguns padrões. Não há nada errado
com isto. Trata-se de uma adaptação necessária para nosso cotidiano. Mas, a neurose, na
melhor das hipóteses, é quando a conserva cultural bitola os sujeitos tornando-os rígidos,
principalmente, se esta conserva cultural for fruto de valores instituídos que destruam a
ética.

O papel do homem que atirou a águia no abismo é de um analista que fez com que a águia
encarasse sua verdade, sua identidade, levantando a barreira da repressão, resgatando o
desejo de voar do seu inconsciente, liberando sua espontaneidade, fazendo-a recriar seu
papel em seu verdadeiro habitat, desconstruindo seu sintoma.

Não há ética, nem saúde, nem felicidade na adaptação moralizada das instituições. Muitas
instituições de trabalho vêem seus trabalhadores trabalhando rotineiramente, muitas escolas
vêem seus alunos estudando sem fazer barulho ou perturbar a professora e os colegas. Por
de trás deste silêncio, muitas vezes se oculta um barulho ensurdecedor.

Seria melhor que as galinhas vivessem ciscando em seus galinheiros e as águias voando.
Muitas idéias e atitudes são reprimidas, que se ouvidas, poderia se extrair delas, boas idéias
de trabalho. As relações intersubjetivas analisadas revelam seus inconscientes e uma
dinâmica, que se disponibilizada, tornaria
desimpedida as instituições e todo seu verdadeiro potencial de trabalho.

REFERÊNCIAS

1) BAREMBLITT, G. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática.


Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos,1994.

2) ______________. Grupo: Teoria e Técnica, Rio de Janeiro: Graal, 1986.

3) BORGES, L. H. Sociabilidade, sofrimento psíquico e lesões por esforços repetitivos entre


caixas bancários. São Paulo: Fundacentro, 2002.

4) ECKHARDT, E. A subjetividade na educação contemporânea: por quê, por quem, para


quem? Instituto de Ensino Superior Prof. Nelson Abel de Almeida, Vitória:1997.
5) _____________. Os processos grupais de aprendizagem: um vôo de liberdade. 2000.
190f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação,
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000.

6) FREUD, S. Obras Completas, Rio de Janeiro: Imago, 1969.

7) KAËS, R. A instituição e as instituições: estudos psicanalíticos, São Paulo: Casa do


Psicólogo, 1991.

8) LAPASSADE, G. Grupo, organizações e instituições, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.

9) LOSICER in DAVEL, E. e VASCONCELOS, J. orgs. 'Recursos' humanos e subjetividade.


Petropólis: Vozes, 1996.

10) MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal. 2ª ed., Rio de Janeiro: Livros Técnicos e


científicos, 1983.

11) MORENO, J. L. Equipes que dão certo. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1994.

12) ____________ Fundamentos de la sociometria. 2º ed., Buenos Aires: Paidós, 1972.

13) ____________ Psicodrama. 2º ed., São Paulo: Cultrix, 1978.

14) PRATES, T. M. A. Análise Institucional e interdisciplinaridade. In A Extensão da Saúde


Mental. Vitória: EDUFES. (no prelo).

15) REVISTA DA CULTURA. Relações intepessoais e o dançar em grupo. Fundação Ceciliano


Abel de Almeida, Tânia M. A. Prates, Ana Maria S. Girão
e Eneida von Eckhardt. n.º 46, ano XVI, pág. 53-64, 1991.

25) VIDA DE INSETO. Direção: John Lasseter. Co-direção: Andrew Stanton. Produção: Darla
K. Anderson e Kevin Reher. Animação: Andrew Stanton e Donald McEnery & Bob Shaw. Cor,
dublado, EUA, Walt Disney & Pixar, 1997. 1 bobina (102 min). 35mm.

Fonte: http://www.analise-pam.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=62:subjetividade-e-grupos-entre-a-
adaptacao-e-submissao&catid=35:artigos&Itemid=66 (acessado em 12
maio 2011).

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