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O que "tardio" geralmente transmite é mais um sentido de que as coisas são diferentes,
que passamos por uma transformação de vida que é de algum modo decisiva, ainda que
incomparável com as mudanças mais antigas da modernização e da industrialização,
menos perceptíveis e menos dramáticas porém mais permanentes, precisamente por
serem mais abrangentes e difusas.
Isso significa que a expressão capitalismo tardio traz embutida também a outra metade,
a cultural, de meu título; essa expressão é não só uma tradução quase literal da outra
expressão, pós-modernismo, mas também seu índice temporal parece já chamar a
atenção para mudanças nas esferas do cotidiano e da cultura. Dizer que meus dois
termos, o cultural e o econômico, se fundem desse modo um no outro e significam a
mesma coisa, eclipsando a distinção entre base e superestrutura, o que em si mesmo
sempre pareceu a muitos ser uma característica significativa do pós-moderno, é o
mesmo que sugerir que a base, no terceiro estágio do capitalismo, gera a sua
superestrutura, através de um novo tipo de dinâmica (Jameson, op. cit., pp. 24, 25).
Pois parece-me plausível que, em uma situação de fluxo total, o conteúdo da tela
passando diante de nós o dia inteiro, sem interrupção (ou cujas interrupções —
chamadas de comerciais — são menos intervalos do que oportunidades fortuitas para ir
ao banheiro ou para fazer um sanduíche), o que se costuma chamar de distância crítica
parece se tornar obsoleto. Desligar a televisão tem muito pouco a ver com o intervalo
de uma peça de teatro ou de uma ópera, ou com o grand finale de um filme de cinema,
as luzes se acendendo lentamente e a memória começando o seu trabalho misterioso.
De fato, se alguma distância crítica ainda é possível, ela está certamente ligada ao
trabalho da memória. Mas esta parece não desempenhar nenhum papel na televisão,
seja ela comercial ou não (ou, sinto-me tentado a dizer, no próprio pós-modernismo em
geral): nada aqui nos assombra a mente e nos faz conservar imagens como nos grandes
momentos do cinema (os quais, é claro, não ocorrem necessariamente nos "grandes
filmes") (op. cit., p. 94).