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O tráfico de escravos só foi proibido no século XIX, e mesmo depois de proibido ainda
havia navios vindo da África.
As listas dos resgates de cativos escravizados e libertados durante o reinado deD. João
V revelam que até brasileiros chegaram a ser capturados e vendidos no mercado
Africano.[2][3]
O trafico de escravos para o Brasil não era exclusivo de comerciantes brancos europeus
e brasileiros, mas era uma actividade em que os pumbeiros, que eram mestiços, negros
livres e também ex-escravos,[5] não só se dedicavam ao tráfico de escravos como
controlavam o comércio costeiro – no caso de Angola, também parte do comércio
interior –para além de fazerem o papel de de mediadores culturais no comércio de
escravos da África Atlântica.
Brasil
Iniciado na primeira metade do século XVI, o tráfico de escravos negros da África para
o Brasil teve grande crescimento com a expansão da produção de açúcar, a partir de
1560 e com a descoberta de ouro, no século XVIII. A viagem para o Brasil era
dramática, cerca de 40% dos negros embarcados morriam durante a viagem nos porões
dos navios negreiros, que os transportavam. Mas no final da viagem sempre havia lucro.
Os principais portos de desembarque no Brasil eram a Bahia, Rio de Janeiro e
Pernambuco, de onde seguiam para outras cidades.
Não é possível entender o Brasil sem antes entender a escravidão no Brasil, já disse uma
grande estudiosa do tema. Antes da chegada dos portugueses a escravatura não era
praticada no Brasil. Há grande dificuldade em se analisar a sociedade e os costumes
indígenas devido à diferença entre a nossa cultura e a dos índios, e ainda hoje existem
fortes preconceitos em torno da temática, sem contar a falta de dados, da diversidade de
documentos escritos e da dificuldade de se obtê-los. Os europeus, quando aqui
chegaram, encontraram uma população bastante parecida em termos culturais e
linguísticos. Esses indígenas se encontravam espalhados pela costa e pelas bacias dos
rios Paraná e Paraguai. Não obstante a semelhança de cultura e língua, podemos
distinguir os indígenas em dois grandes blocos: os tupis-guaranis e os tapuias. Os tupis-
guaranis se localizavam numa extensão que vai do litoral do Ceará até o Rio Grande do
Sul. Os tupis ou tupinambás dominavam a faixa litorânea do norte até a Cananeia, no
sul do atual Estado de São Paulo; os guaranis, na bacia do Paraná-Paraguai e no trecho
do litoral entre Cananeia e extremo sul do Brasil de anos mais tarde. Em alguns pontos
do litoral, outros grupos menores dominavam. Era o caso dos goitacases, na foz do rio
Paraíba, e pelos aimorés no sul da Bahia e norte do Espírito Santo ou ainda pelos
tremembés no litoral entre o Ceará e o Maranhão. Esses outros grupos eram chamados
de tapuias pelos tupis-guaranis, pois falavam outra língua.
Entre as tribos indígenas, além das atividades como a caça, a coleta de frutas, a pesca e,
é claro, a agricultura, havia também guerras e capturas de inimigos. Para a agricultura
usavam a terra até seu esgotamento relativo. Depois se mudavam definitiva ou
temporariamente para outras áreas. A derrubada de árvores e as queimadas eram um
modo costumeiro de preparar a terra para a lavoura e essa técnica foi incorporada mais
tarde pelos colonizadores. Plantavam feijão, milho, abóbora e especialmente mandioca
da qual faziam a farinha, que se tornou um alimento básico no Brasil a partir do período
colonial. A economia era destinada ao consumo próprio, sendo basicamente de
subsistência, e cada aldeia produzia apenas para suprir suas próprias necessidades,
havendo assim pouca troca de mercadorias entre aldeias. Mas existiam, sim, contato
entre as aldeias para a troca de mulheres e de bens de luxo, como penas de tucano e de
pedras para se fazer botoque. Dessas trocas nasciam alianças entre as tribos, que se viam
obrigadas a lutar uma ao lado da outra quando qualquer delas fosse atacada. Daí
nasceram as guerras entre as tribos e a captura de índios e inimigos de uma mesma
tribo.
É bom não confundir o simples apresamento de inimigos com escravização, que é mais
complexa. Tais inimigos, quando capturados, recebiam um tratamento diferenciado,
eram bem alimentados, às vezes andando livremente pela tribo e ajudando na caça e,
inclusive, obtendo da tribo, consentidamente, favores sexuais das índias. Isso se
prolongava até chegar o dia em que eram mortos em meio à celebração de um ritual
canibalístico, cujo costume se baseava na crença de que a bravura do guerreiro inimigo
passaria ao vencedor quando este se alimentasse da carne daquele outro bravo guerreiro.
Toda a tribo participava desse ritual e cabia a cada parcela da tribo (crianças, mulheres,
guerreiros e velhos) uma parte específica do corpo do adversário vencido. O movimento
artístico de 1922, chamado Movimento Antropofágico, tinha como base tais princípios.
Com a chegada dos portugueses os índios seus aliados passam a vender muitos dos seus
prisioneiros em troca de mercadorias. Este comercio era chamado de resgates. No
entanto, só podiam ser resgatados os índios de corda, aqueles que eram prisioneiros ou
escravos capturados nas guerras tribais e que iriam ser devorados; e os índios
capturados nas guerras justas, operações militares organizadas pelos colonos ou pela
coroa. A lei de 1610 decreta que o índio assim resgatado só poderia ficar escravizado
por 10 anos. Esta lei foi alterada em 1626 para que os índios pudessem ser escravizados
por toda a vida. Em 1655 uma nova lei proibia fazer guerra contra os índios sem ordem
do rei e impedia qualquer tipo de violência contra eles. Os índios convertidos ao
cristianismo não poderiam servir os colonos mais tempo do que o regulamentado pela
lei, deveriam viver livres dirigidos pelos seus chefes e padres da companhia. Estas
regulamentações desagradaram os colonos que em 1661 repetidamente se motinaram
em protesto.
As línguas indígenas, apesar de parecidas, não ajudavam a formar uma nação indígena,
coesa contra ataques externos, representando apenas grupos dispersos, muitas vezes em
conflito. Isso permitiu aos portugueses encontrar aliados indígenas na luta contra os
grupos que lhes resistiam. Uma forma de resistência aos colonizadores, principalmente
à escravização, foi o isolamento, alcançado por meio de permanentes deslocamentos
para áreas mais pobres. Os que assim procederam conseguiram, com algum sucesso, a
preservação de uma herança biológica, social e cultural. Se bem que há tribos isoladas
que por comercializarem diretamente com empresas estrangeiras, falam sua língua
materna mas também um inglês rudimentar para viabilizar os negócios. Como resultado,
temos hoje tanto grupos indígenas mais isolados como grupos indígenas que sofreram
uma maior mestiçagem, tanto no aspecto biológico como social e cultural, mostrando
sua influência na formação da sociedade brasileira. Certamente, o encontro desses
povos com os europeus foi catastrófico, pois de uma população tão numerosa - embora
os cálculos variem enormemente, entre 2 milhões e mais de 5 milhões - apenas entre
300 mil e 350 mil indígenas existam atualmente em território nacional.
Além disso, a escravização indígena era uma atividade que gerava lucros internos, ou
seja, a metrópole portuguesa não se beneficiava com ela. Portanto, a preferência pelo
trabalho escravo negro e não pelo índio se deve ao fato de que o comércio internacional
de escravos trazidos da costa africana era tão tentador que acabou se transformando no
negócio mais lucrativo da Colônia. Portugueses, holandeses e, no final do período
colonial, brasileiros disputaram o controle dessa área tão lucrativa. Portanto, o tráfico se
tornou mais do que um meio de prover braços para a grande lavoura de exportação, mas
uma potencial fonte de riqueza para quem vendia os escravos, tratados como coisa,
produto. Devido às dificuldades encontradas em escravizar os índios, a partir de 1570 a
Coroa portuguesa passou a incentivar a importação de africanos, tomando também
medidas para tentar evitar a escravização desenfreada e o morticínio indígena. Porém, a
transição da escravização indígena para a negra africana se deu de maneira diferente na
América portuguesa, variando no tempo e no espaço. Ela acabou mais rapidamente no
núcleo mais importante da empresa mercantil, destinada à exportação de produtos
agrícolas em grande escala. E demorou mais para acabar nas regiões periféricas, como é
o caso de São Paulo.
Esses fatores contribuíram para que a mão-de-obra africana fosse inserida nas lavouras
brasileiras, sendo obtida através do tráfico de escravos vindos principalmente das
colônias portuguesas na África. A atividade do tráfico negreiro inicia-se oficialmente
em 1559, quando a metrópole portuguesa decide permitir o ingresso de escravos vindos
da África no Brasil. Antes disso, porém, transações envolvendo escravos africanos já
ocorriam no Brasil, sendo a escassez de mão-de-obra um dos principais argumentos dos
colonos.
Capturados nas mais diversas situações, como nas guerras tribais e na escravização por
dívidas não pagas, os escravos africanos provinham de lugares como Angola e Guiné.
Eram negociados com os traficantes Africanos (negros, também) em troca de produtos
como fumo, armas e aguardentes e transportados nos chamados navios negreiros. Esses
navios tinham destinos como as cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Luís,
e delas eram transportados para regiões mais distantes. Durante as viagens, muitos
escravos morriam em decorrência das péssimas condições sanitárias existentes nas
embarcações, que vinham superlotadas. Quando desembarcavam em solo brasileiro, os
escravos africanos eram vendidos em praça pública. Os mais fortes e saudáveis eram os
mais valorizados.
Havia protestos, embora por vezes distantes, sem continuidade e sem medidas
coercitivas, contra os maus tratos. Em 1º de março de 1700 por exemplo, o Rei de
Portugal D. Pedro II escreveu uma carta indignada ao governador-geral D. João de
Lencastre sobre os maus tratos dados aos escravos no Brasil: «... Não lhe dando fardas e
outros nem ainda farinha», e comentando dos «cruéis castigos, por dias e semanas
inteiras, havendo alguns que por anos se acham metidos em correntes, sendo mais cruéis
as senhoras em alguns casos para com as escravas, apontando-se alguns que obram
tanto os senhores como as senhoras com tal crueldade como são pingar de lacre e
marcar com ferro ardente nos peitos e na cara, executando neles a mutilação de
membros. De Francisco Pereira de Araújo se diz que cortou as orelhas a um, e pingou
com lacre; outro veio do sertão, a quem o senhor cortou as partes pudendas, entendeu
com uma sua negra; de outro, que se curou no hospital, se diz que foi tão cruelmente
açoitado do seu senhor que lhe provocara especialmente o rigor da Justiça Divina, pelo
que é de razão». Diz ainda de castigos que se fazem por suspensão de cordas em
árvores, para que os mosquitos os estejam picando e desesperando, sobre os açoitarem e
pingarem com a mesma crueldade que fazem os demais...»
Houve muito alvoroço com a necessidade de mão-de-obra nas Minas Gerais. Datado de
26 de março de 1700, um Bando do Governador do Rio Artur de Sá e Menezes proibiu
que fossem transportados para as Minas escravos de cana e mandioca, enquanto ao
mesmo tempo a Câmara se dirigia ao Conselho Ultramarino e pedia providências para
facilitar entrada de africanos. Conseguiu duas medidas: a instituição de um tributo de
4$500 por cada escravo tirado de engenhos e despachado para as Minas, (e desde Carta
Real de 10 de junho de 1699 havia direitos de entrada de 3$500 por cada negro vindo da
África para o Rio de Janeiro) e a liberdade de comércio de negros e do tráfico. A
própria Coroa traficava: e desde a Carta Régia de 16 de novembro de 1697 o preço de
cada negro vendido era 160$000; em 1718 o preço tinha subido a 300$000, embora
custo fosse de apenas 94$000.
A atividade do tráfico negreiro foi extremamente lucrativa e perdurou até 1850, sendo
oficialmente extinguida nesse ano com a Lei Eusébio de Queirós.L
O trabalho dos escravos
A atividade açucareira foi durante muito tempo o pilar sobre o qual a economia colonial
se sustentou. Foi desenvolvida principalmente na Zona da Mata, no litoral nordestino,
que oferecia condições naturais favoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar, produto que
obtinha grande aceitação no mercado europeu e que garantia alta lucratividade. Para o
seu cultivo, adotou-se o sistema de plantation, caracterizado pelo uso de latifúndios
monocultores. A extração da cana necessitava de um grande contingente de mão-de-
obra e foi a partir dessa necessidade que uma grande quantidade de africanos passou a
trabalhar nos engenhos - propriedades destinadas ao cultivo e produção de açúcar.
Os escravos domésticos - como indica o próprio nome - trabalhavam nas casas de seus
senhores, realizando serviços como cozinhar e costurar. Existiram ainda casos de
escravos que prestavam serviços remunerados e deveriam pagar parcela de sua renda ao
seu proprietário, os chamados “escravos ao ganho”, além de escravos que eram
alugados pelos seus senhores para desenvolver algum ofício (pedreiro, carpinteiro,
cozinheiro, ama de leite) a um terceiro, sendo assim “escravos de aluguel”. Estes dois
últimos tipos de escravos desenvolviam suas tarefas geralmente nos espaços urbanos.
Por parte dos senhores, existia uma discriminação com relação ao trabalho, já que o
consideravam como “coisa de negros”. Convém ressaltar que houve casos de alforria,
isto é, de escravos que foram libertados. Essas libertações ocorriam pelos mais variados
motivos, desde vontade do senhor em virtude da obediência e lealdade do escravo até
casos em que o cativo conseguia comprar a sua liberdade. Vale ressaltar também que a
escravidão foi a base de sustentação da economia brasileira até o final do Império.
Resistência à escravidão
Convém ressaltar que essas revoltas são um dos fatores que contribuíram para a
abolição da escravatura. Diga-se que a escravatura também era frequentemente
praticada nos quilombos, por exemplo, no Quilombo dos Palmares os cativos eram
mantidos como escravos e utilizados para o trabalho nas plantações. No entanto, não era
abolir a escravatura que algumas destas revoltas tinham como objetivo. A revolta dos
Malês não só visava a libertação dos escravos africanos como pretendia escravizar os
brancos, os mulatos e os não muçulmanos.
Abolição da Escravatura
Pode-se encontrar nos fatores internos a ação de grupos abolicionistas compostos por
indivíduos oriundos de diversas camadas da sociedade. Deve-se distinguir entre aqueles
que eram favoráveis ao fim da escravidão os abolicionistas dos emancipacionistas, visto
que estes eram favoráveis a uma abolição lenta e gradual dessa relação de trabalho,
enquanto aqueles defendiam o fim imediato do trabalho escravo. Além da ação dos
grupos abolicionistas, deve-se destacar a atuação de resistência da maior vítima do
processo de escravidão, visto que os escravos não eram passivos e resistiam à
dominação das mais diversas maneiras, como fugas, revoltas, assassinatos, suicídios,
entre outros métodos.
Entre os fatores externos, pode-se destacar as pressões exercidas pelo Império Britânico
sobre o governo brasileiro. A Inglaterra vivia naquele momento o auge do fenômeno do
qual foi berço - a Revolução Industrial. O processo de industrialização demandava a
ampliação dos mercados consumidores a fim de se obter a venda da crescente produção.
O Brasil era um dos grandes parceiros comerciais ingleses, mas a relação de trabalho
escravista não garantia aos trabalhadores que dela foram alvos poder aquisitivo. Além
disso, o governo inglês já abolira a escravidão em todos os seus territórios.
As elites latifundiárias das colônias inglesas nas Antilhas sofreram perdas nesse
processo a partir do momento em que haviam ganhado mais um custo de produção com
o desenvolvimento de relações de trabalho assalariadas e que perdiam espaço na
concorrência com a produção brasileira. Sentindo-se lesados, esses latifundiários
passaram a exercer pressão sobre o parlamento inglês a fim de que a escravidão fosse
combatida de forma mais efetiva. Em 1845, o parlamento inglês aprovou a chamada Lei
Bill Aberdeen (em inglês, Aberdeen Act), que concedia à Marinha Real Britânica
poderes de apreensão de qualquer navio envolvido no tráfico negreiro em qualquer parte
do mundo. Como consequência da pressão inglesa, em 1850, o tráfico negreiro é
oficialmente extinto com a Lei Eusébio de Queirós. Com o fim da principal fonte de
obtenção de escravos, o preço destes elevou-se significativamente, uma vez que ocorre
uma diminuição na sua oferta. Já em 1871, é promulgada a Lei do Ventre Livre, que
garante a liberdade aos filhos de escravos. Oito anos depois, em 1879, inicia-se uma
campanha abolicionista estimulada por intelectuais e políticos, como José do Patrocínio
e Joaquim Nabuco.[2]
O sistema escravista enfraquece-se mais ainda com a Lei dos Sexagenários (1885), que
liberta todos os escravos com mais de 60 anos de idade.
Em 5 de maio de 1888, o Papa Leão XIII, na encíclica In Plurimis, dirigida aos bispos
do Brasil, pede-lhes apoio ao Imperador, e a sua filha, na luta que estão a travar pela
abolição definitiva da escravidão. No dia 13 de maio, a Lei Áurea é assinada pela
Princesa Isabel, extinguindo oficialmente a escravidão no Brasil.
A origem da feijoada brasileira tem sido alvo de controvérsias, alguns afirmam que, ao
contrário do que é amplamente difundido, não tem origem entre os escravos, mas em
um prato português. Nesse aspecto, entretanto, é importante ressaltar que partes dos
porcos utilizados no preparo da feijoada não eram usados pelos escravocratas, o que
reforça a tese de que, como em outros espaços da cultura brasileira, houve uma
reelaboração a partir do que os negros dispunham para sua alimentação.