SCM – DE VANTAGEM COMPETITIVA A

NECESSIDADE DE SOBREVIVÊNCIA

T roca de informações entre montadora e cadeia de

fornecedores através de sistemas inteligentes racionaliza
processo produtivo e garante qualidade para o cliente final

Para a indústria automotiva, as teorias que envolvem o gerenciamento da cadeia

de suprimentos (Supply Chain Management - SCM) não são apenas mais um
modismo editorial. O cenário da automação industrial aponta investimentos cada
vez maiores nas linhas de produção. Como conseqüência imediata, ocorre uma
redução no tempo de ciclo e qualquer parada na linha, mesmo que por eventual falta
de peças, representa um prejuízo incalculável.
A Volkswagen BUC – Business Unit Curitiba entende que o sucesso de um
efetivo gerenciamento da cadeia de fornecimento depende do nível de
compartilhamento de informações estratégicas entre cliente e fornecedores.
Para se adequar ao inevitável processo de redução no ciclo de vida dos produtos, a
montadora conta com uma parceria extremamente sólida e confiável junto à cadeia de
fornecimento. Dentro dos conceitos de Early Supplier Involvement (envolvimento
dos fornecedores desde o desenvolvimento do produto até a instalação da fábrica),
vários fornecedores acompanharam a vinda da montadora (follow source), tendo um
prévio conhecimento da capacidade instalada do cliente, bem como das metas de
produção para novos modelos.O parque industrial da pré-montagem reforça o conceito
Egon Robert Hübner
de modularização da produção, em que a proximidade geográfica entre montadora e
sistemistas possibilita a entrega de componentes e módulos no sistema just in time (a
montadora recebe peças e componentes conforme programação, na exata seqüência de requisição da linha de montagem).
Visando manter um fluxo integrado de informações e evitar incompatibilidades tecnológicas, existe um investimento
permanente em sistemas unificados de Tecnologia da Informação (TI), interconectando montadora e fornecedores
diretos (first tier suppliers) via EDI (intercâmbio eletrônico de dados).

Idéia simples, sistemas Planejamento e Controle da Produção (PCP). Por detrás

dessa idéia bastante simples, existe um complexo
complexos envolvendo centenas de sistemas inter-relacionados, com
entradas e saídas junto a todos outros setores da empresa.
Gestão

Com o objetivo de assegurar o abastecimento da linha Para garantir a execução das inúmeras tarefas
de produção em uma cadeia logística que envolve milhares envolvidas no processo de SCM, o grupo VW utiliza-se de
de peças e componentes, a VW utiliza um conceito básico poderosas ferramentas de software para PCP, as quais são
de SCM, baseado na total integração entre Logística e continuamente desenvolvidas e adaptadas pela parceira

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mundial de TI, além de contar com uma equipe especializada
de suporte para situações que exigem reação imediata,
envolvendo reparametrização dos sistemas, chamadas
manuais aos fornecedores JIT e acompanhamento da
produção dos fornecedores em intervalos periódicos,
emitindo alertas sobre possíveis falhas de suprimento.
Na busca de maiores índices de
nacionalização, a VW realiza parcerias com
fornecedores, conseguindo, por processos
de engenharia simultânea, redução no
tempo de desenvolvimento do produto
Dentre as atividades rotineiras que causam impacto
diretamente no processo de SCM, as seguintes tarefas são
executadas automaticamente pelo sistema de PCP:
• seqüenciamento de peças e componentes, para
garantir o abastecimento na ordem requerida pela
linha de montagem;
• balanceamento do mix diário de produção, para
assegurar um tempo de ciclo médio entre modelos
com diferentes graus de complexidade, na mesma
velocidade da linha de montagem;
• gerenciamento da demanda e chamadas automáticas
para fornecedores JIT, levando em conta fatores como
previsão do mix de produção, séries especiais limitadas,
veículos pré-série com listas de componentes
diferenciadas e avisos de bloqueio decorrentes de
peças faltantes ou sucata de carrocerias.
Por meio de um sistema de planificação logística
unificada de materiais, torna-se possível controlar o fluxo
de materiais, da saída dos fornecedores até a disponibilização
na linha de produção e montagem final. Inseridos nesse
fluxo de informações, destacam-se vários macroprocessos
de logística:
• controle de estoques para peças importadas, job
stopper parts (peças críticas) e peças produzidas na
própria estamparia;
• registro de transações de mercadorias na portaria,
docas e pátio de contêineres;
• abastecimento da linha de montagem e armação
com veículos dotados de terminais móveis e leitores
de código de barras, interligados via rádio-freqüência
à central logística. Dessa forma, os operadores
logísticos garantem o atendimento às requisições
da linha de produção e montagem, através da lista
de componentes programada e seqüenciada,
minimizando a falta de materiais.
T ransações virtuais
Existe uma tendência generalizada e irreversível de
utilizar ferramentas web para transações ao longo da cadeia
de suprimentos. O motivo é simples: para participar do
processo de compras, o fornecedor de produtos ou serviços
não é obrigado a adquirir um software exclusivo, nem
interagir com sistemas proprietários de EDI.
A possibilidade relativamente simples de se criarem
sistemas B2B através da rede mundial deu origem a
audaciosos projetos de SCM, como o famoso portal global
de fornecedores B2B, denominado Covisint. Criado no ano
de 2000 por grupos mundiais de montadoras e fornecedores,
o projeto Covisint constitui uma bolsa de mercadorias via
Internet, apresentando um enfoque voltado aos leilões on-
line, onde o clima de tensão e a necessidade de resposta
imediata põem à prova a capacidade de planejamento e a
tomada de decisões de cada fornecedor participante.
O grupo mundial Volkswagen optou por não participar
do projeto Covisint, criando seu próprio portal de negócios.
Focalizando o core business, a montadora preocupa-se
com a tarefa principal de criar novos veículos e atender
às necessidades do cliente. Todas as tarefas de TI são
terceirizadas, e um único fornecedor atua globalmente
como provedor de serviços e soluções de tecnologia da
informação para todo grupo.
Através dessa parceria, atualmente todas as cotações
eletrônicas que passam pelo sistema de compras são
realizadas via portal Internet (e-supply), com total
segurança e sigilo, garantidos por sofisticados mecanismos
de criptografia. Todos os aplicativos estão consolidados
em um mesmo web site, utilizando-se uma identificação
única para todas as transações, sem haver inconsistências.
Além da interface com as opções de cotação e
compras nacionais, o portal VW apresenta alguns
diferenciais de destaque:
• ASN – Advanced Shipping Notice: consiste em um
intercâmbio eletrônico de dados, onde o fornecedor
emite um aviso antecipado de despacho de
mercadorias ao cliente. Através do sistema Rechner
Verbund System – RVS (sistema multirrede de
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computadores, com interconexão
de plataformas computacionais
genéricas), a montadora mantém total
controle sobre o envio, transporte e
recebimento de materiais, além de
oferecer inúmeras vantagens aos
fornecedores, como preferência de
atendimento e recebimento de
materiais na portaria, agilidade no
processamento de notas fiscais e diminuição dos
custos de transporte.
• Sistema global de cotação para transações de
comércio internacional junto a empresas filiadas ao
DUNS (cadastro internacional de EDI).
• Portal de negociação on-line para cotações em
tempo real, visando agilidade, transparência e
feedback imediato no processo.
Integração com o cliente
A montadora não se utiliza dos processos de SCM
apenas no âmbito de compras e suprimento. Na busca de
maiores índices de nacionalização, a VW realiza parcerias
de E2E (engineering to engineering) com fornecedores,
conseguindo, por processos de engenharia simultânea,
potencial redução no tempo de desenvolvimento do
produto. Nesse processo de co-design, verifica-se a
viabilidade técnica e econômica dos novos componentes
junto aos parceiros de desenvolvimento, através de análises
de modelagem e protótipos de manufatura integrada. Como
ferramentas de TI para E2E, a VW disponibiliza o Portal
3DC om de CAD Colaborativo, onde fornecedores e
parceiros de desenvolvimento traba-lham conjuntamente,
compartilhando a base de dados do sistema VW–KVS.
Mediante senhas de acesso, controladas hierarquicamente
Gestão
conforme a necessidade do fornecedor, é possível baixar
ou mesmo visualizar os desenhos de forma completamente
on-line, através de simples ferramentas web para
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Motivo de ser da
empresa, o cliente final
está integrado no plataforma PC ou mesmo workstations
processo produtivo, utilizadas pelas Engenharias de Produto.
podendo efetivar o Atingindo o final da cadeia produtiva,
pedido de um veículo busca-se uma total integração com as
personalizado ou revendas de automóveis e oficinas
escolher um modelo autorizadas, através de sistemas de EDI
disponível em estoque, que permitem checagem de estoque,
pelo navegador web modelos e cores disponíveis, bem como
acesso à base de dados de peças e
acessórios de todos os modelos da marca.
Motivo de ser da empresa, o cliente final está totalmente
integrado no processo produtivo, podendo efetivar o pedido
de um veículo personalizado ou mesmo escolher algum
modelo disponível em estoque, por meio de um simples
navegador web.
A busca por sistemas ágeis e flexíveis tornou-se pré-
requisito de sobrevivência no exigente e competitivo
mercado automobilístico. Portanto, as montadoras que
ficarem alheias aos processos de SCM serão atropeladas
por desafios logísticos, atrasos de entregas e rupturas no
processo de abastecimento. ν
Egon Robert Hübner é administrador pela FAE Business School,
especialista em Engenharia de Sistemas Industriais Elétricos e
responsável pelo sistema gerencial de fábrica na engenharia de
manufatura da Audi-Volkswagen.
E-mail: egon.hubner@volkswagen.com