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Porto Alegre
2004
2
BANCA EXAMINADORA:
Porto Alegre
2004
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço...
aos meus orientadores, Prof. Dr. Ignacio Iturrioz, por toda a atenção, pelos ensinamentos e
pelo constante incentivo, e Gladimir Grigoletti (Prof. ULBRA, Doutorando - UFRGS), pela
enorme ajuda e por ter acompanhado de perto o desenvolvimento deste trabalho.
aos meus pais Angela e Elio, pelo apoio, carinho e, acima de tudo, compreensão.
à Zamprogna S.A., pelo fornecimento do material utilizado na parte experimental deste traba-
lho, e a todos os colegas de empresa, por toda a ajuda e amizade.
a todos meus amigos, pelos momentos de descontração, fundamentais para o êxito neste se-
mestre.
4
RESUMO
Os perfis de aço formados a frio têm sido cada vez mais aplicados na Engenharia. A grande
relação largura/espessura destes perfis estruturais os torna bastante suscetíveis ao fenômeno
da flambagem local. Não se encontram muitos registros do estudo sobre o comportamento da
flambagem de perfis pouco convencionais, como telhas. Neste trabalho, se faz uma verifica-
ção experimental do comportamento à flexão de telhas de aço trapezoidais formadas a frio
com diferentes tipos de vinculação nas bordas longitudinais, tendo em vista a obtenção da
carga crítica de flambagem elástica e da carga de colapso. O modo crítico de flambagem evi-
denciado é o local, que também é previsto pelas análises numéricas através dos métodos dos
Elementos Finitos e das Faixas Finitas. Quando o carregamento é linearmente distribuído nos
terços do vão, observa-se que não há influência considerável da vinculação das bordas longi-
tudinais no comportamento das telhas quanto à flambagem, mas o mesmo não se pode afirmar
quanto à carga de colapso. É feita uma comparação qualitativa e quantitativa do comporta-
mento real das telhas com o previsto pelos modelos numéricos e pelos métodos teóricos de
cálculo, ou seja, o procedimento de dimensionamento da NBR 14762 e o Método da Resis-
tência Direta.
ABSTRACT
Cold-formed steel members have been largely used in Engineering. The elevated
width/thickness ratio of these members makes them susceptible to the local buckling phe-
nomenon. There are no many registers of the study of the unconventional members, such as
cold-formed sheets, buckling behavior. In this work, an experimental verification of cold-
formed steel trapezoidal sheets bending behavior, with different restraints at the longitudinal
edges, in view of the attainment of the critical elastic buckling load and the ultimate load, is
done. The evidenced critical buckling mode is the local one, which is also predicted by the
numerical analysis with Finite Elements and Finite Strips. When the loading is linearly dis-
tributed on the third parts of the opening between the supports, it can be shown that there is no
considerable influence of the longitudinal edges restraints over the sheet buckling behavior,
what cannot be said about the ultimate load. A qualitative and quantitative comparison be-
tween the real sheet behavior and the one predicted by the numerical models and the theoreti-
cian calculation methods, that is, the NBR 14762 specification and the Direct Strength
Method, is done.
SUMÁRIO
RESUMO 5
ABSTRACT 6
1. INTRODUÇÃO 9
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 9
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 10
3.5 Método das Faixas Finitas (MFF) e Método dos Elementis Finitos (MEF) 13
4. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA 13
5. METODOLOGIA 14
6. ANÁLISES E RESULTADOS 16
7. CONCLUSÕES 23
8. REFERÊNCIAS 24
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 24
1. INTRODUÇÃO
As estruturas metálicas compostas por perfis de aço formados a frio (de chapa do-
brada) têm sido cada vez mais empregadas na Engenharia no Brasil, tanto na construção civil
como na Engenharia Mecânica, através de chassis de veículos e longarinas de aviões, por e-
xemplo. Fabricados com aços de alta resistência mecânica, os perfis de chapa dobrada podem
ter paredes esbeltas, constituindo uma alternativa econômica. Também podem ser usados para
fechamento em coberturas e fachadas sob forma de telhas. A Figura 1.1 mostra algumas apli-
cações de telhas trapezoidais de aço formadas frio.
Figura 1.1 - Aplicações de telhas trapezoidais: (a) fachada industrial; (b) silo.
Figura 1.2 - Desenho esquemático do tipo de telha utilizada no trabalho, com dimensões do perfil em mm.
2. REVISAO BIBLIOGRÁFICA
No levantamento bibliográfico referente à avaliação do comportamento de telhas metá-
licas, depara-se com grande dificuldade de se encontrar trabalhos que tratem do tema. Os tra-
balhos nacionais são ainda mais escassos, podendo-se citar a dissertação de Mestrado de Fon-
seca (2000). Os trabalhos que abordam a análise de instabilidade de perfis de aço formados a
frio, tanto analíticos e numéricos quanto experimentais, limitam-se a estudar perfis padrões,
como C e Z.
Fonseca fez um estudo sobre o comportamento de telhas metálicas autoportantes, com o
objetivo de avaliar diferentes tipos de ligação entre as telhas. Foram realizados ensaios de
flexão de telhas com prensa hidráulica até o colapso, com registro da carga aplicada e dos
deslocamentos medidos em diversos pontos com relógios comparadores. Foi feita uma com-
paração dos resultados com os valores teóricos obtidos pelo procedimento normativo da AISI
e por um modelo de elementos finitos baseado no comportamento linear elástico.
Outras dissertações que abordam o comportamento de perfis de chapa dobrada tratam de
fazer comparações entre os procedimentos normativos e os métodos numéricos utilizados na
análise. Chodraui (2003) avalia a flambagem por distorção em barras submetidas à compres-
são centrada e à flexão, comparando-se os resultados obtidos pelo procedimento da norma
10
brasileira, pela análise elástica via Método das Faixas Finitas e pela análise via Método dos
Elementos Finitos, onde são consideradas a análise elástica de autovalores e a análise não-
linear geométrica.
3. FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA
3.1 MODOS DE FLAMBAGEM A CONSIDERAR
Os perfis de aço formados a frio, diferentemente dos perfis laminados, que seguem pa-
drões que os tornam compactos, possuem várias formas e elementos esbeltos (com grande
relação largura/espessura, ou índice de esbeltez de placa). Elementos esbeltos, quando subme-
tidos à compressão ou à flexão, estão sujeitos aos fenômenos da flambagem local e da flam-
bagem distorcional (flambagens de placa). Além disso, o perfil, como elemento estrutural,
está sujeito à flambagem global (de barra), que depende do índice de esbeltez de barra.
A flambagem global corresponde à deformação da barra sem deformação da seção, e é
chamada de lateral com torção para vigas fletidas; ocorre para barras muito compridas. Na
flambagem local, os elementos (placas) flambam transversalmente, sem que ocorra translação
dos cantos ou dobras dos elementos; na flambagem distorcional, ocorre a flambagem de placa
juntamente com translação dos cantos, associada a um movimento de corpo rígido de algum
elemento com enrijecedor de borda ou a uma translação de um enrijecedor intermediário. A
diferença principal entre estes dois tipos de flambagem de placa é que a local ocorre para ín-
dices de esbeltez de barra menores. A Figura 3.1 ilustra alguns modos de flambagem.
Figura 3.1 - Exemplos de modos de flambagem para uma seção painel submetida a dois tipos de flexão.
My
λ= (1)
M CR
onde My é o momento que produz escoamento na fibra mais externa e MCR é o momento críti-
co de flambagem elástica. Existe um índice de esbeltez reduzido para a flambagem local e
outro para flambagem distorcional.
A Figura 3.2 ilustra as curvas de resistência associadas à flambagem local e distorcional
comparadas com a curva de flambagem elástica de Euler. Para barras suficientemente esbel-
tas, nota-se uma reserva pós-crítica para estes dois tipos de colapso, sendo mais acentuada
para a flambagem local. Num perfil que flambe localmente, o colapso vai ocorrer por flamba-
gem global ou pelo escoamento de sua seção flambada; num perfil que sofra flambagem dis-
torcional, o colapso será sempre por escoamento (Carvalho, 2004).
11
Figura 3.2 - Curvas de Resistência de Flambagem Local e Distorcional comparadas com a curva de flambagem
elástica (o carregamento é um momento fletor) (Fonte: Schafer, 2002).
Figura 3.3 - (a) Redistribuição de tensões numa placa que sofreu flambagem local; (b) placa efetiva; (c) variação
do valor do fator de redução de flambagem local.
Na formulação proposta por Winter (Yu, 2000), a largura efetiva pode ser escrita como:
bef = ρb (2)
onde ρ é o fator de redução, cujo valor varia em função do índice de esbeltez reduzido da bar-
ra (Equação 3). A variação de seu valor segue o comportamento da curva de flambagem local
(Figura 3.3(c)). Para índices inferiores a 0,673, a placa é inteiramente efetiva.
bt
λp = (3)
KE
0,95
σ
12
onde Mn é o momento fletor resistente nominal, ρFLT é o fator de redução associado à flamba-
gem lateral com torção, Wc,ef é o módulo de resistência elástico da seção efetiva em relação à
fibra mais comprimida, fy é a tensão de escoamento do aço (Carvalho, 2004).
Se ρFLT vale 1, não ocorre flambagem global (colapso por escoamento da seção efetiva);
se Wc,ef é igual a Wc, todos os elementos são inteiramente efetivos e não há flambagem local
(colapso por flambagem global). Se ambas as igualdades ocorrerem, o colapso será por esco-
amento da seção bruta, e, se nenhuma delas ocorre, há interação entre os modos de colapso.
O momento crítico de flambagem lateral com torção é especificado somente para seções
com pelo menos um eixo de simetria. Seu valor depende da inércia da seção em relação ao
eixo perpendicular ao de flexão e da inércia à torção.
Quando o perfil estudado resulta numa geometria complexa, não se pode recorrer à
Norma para o cálculo da flambagem distorcional, pois não se encontrarão soluções analíticas
prontas.
3.4 MÉTODO DA RESISTÊNCIA DIRETA
Schafer e Peköz propuseram um método alternativo de cálculo, a dizer o Método da
Resistência Direta (MRD) (Carvalho, 2004). A idéia do método consiste em escrever a equa-
ção de Winter para larguras efetivas em função das cargas envolvidas na análise e aplicá-la ao
perfil como um todo, alterando os coeficientes (Equação 5).
a a
Mn M CR M CR
= 1− b (5)
M LIM M LIM M LIM
onde Mn é o momento fletor resistente nominal, MLIM é a momento de colapso do perfil bruto
e MCR é o momento crítico de flambagem elástica. MLIM pode assumir o valor do momento de
escoamento da seção bruta (My) ou o momento crítico de flambagem global; a e b são coefici-
entes, que dependem do modo de flambagem analisado - local ou distorcional. Assim, pode-se
dizer que Mn é o momento de colapso da seção efetiva (considera interação com MLIM).
13
Figura 4.1 - (a) Modelo de carregamento utilizado, (b) distribuição de esforços cortantes Q, (c) distribuição de
momentos fletores M (previstos pela teoria de vigas).
5. METODOLOGIA
5.1 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
Foram ensaiadas à flexão três configurações de telhas de 2200mm de comprimento,
com 2000mm de vão livre. Primeiramente, ensaiou-se uma telha isolada com suas bordas li-
vres (Ensaio 1), seguida do ensaio com uma telha com suas bordas trespassadas com ondas de
outras duas telhas (Ensaio 2). Finalmente, ensaiou-se uma telha com bordas vinculadas (En-
saio 3), a qual teve suas bordas fixadas em um estrado fabricado com tubos de aço quadrados
de 70 x 70 x 3mm. Esta telha precisou ter sua onda incompleta cortada para possibilitar a fi-
xação no plano. A Figura 5.1mostra as três configurações de ensaio.
Para o ensaio de flexão das telhas de aço, foi montado um pórtico suficientemente rígi-
do para que sua deformação pudesse ser desprezada frente à deformação da telha ensaiada, o
qual se apresenta na Figura 5.2(a).
15
Figura 5.2 - (a) Pórtico de ensaio (ensaio 2 sendo realizado); (b) detalhe das hastes de fixação.
As telhas foram fixadas por baixo das terças com o uso de hastes galvanizadas com por-
ca, arruela e anel de borracha em cada onda alta (Figura 5.2(b)). Para o ensaio da telha com
bordas vinculadas, apoiou-se o estrado sobre o pórtico, diminuindo-se a distância entre as
vigas. A fixação da telha ao estrado se deu pelo mesmo método, com o acréscimo de seis rebi-
tes em cada borda longitudinal, conforme indicado na Figura 5.1.
O carregamento aplicado nos terços do vão foi centralizado em faixas de 500mm, para
que não implicasse em deformação excessiva nas bordas no ensaio com a telha isolada e devi-
do à impossibilidade de aplicar uma carga inteira na telha fixa ao estrado. Foram usados dois
tubos quadrados de 40 x 40 x 3mm com 1,86kg cada que foram apoiados uniformemente so-
bre as telhas com o auxílio de calços de isopor. Sobre os tubos, a carga pôde ser posicionada.
Buscaram-se dois resultados principais: a carga crítica de flambagem elástica e a carga
de colapso da telha. Para encontrar a carga crítica, foram utilizados cinco strain gauges, para
medição de deformações, e dois relógios comparadores, para medição dos deslocamentos ver-
ticais (ver Apêndice C), nas três amostras ensaiadas, conforme Figura 5.3, que mostra um
layout do sistema de aquisição de dados. Para a determinação da carga crítica, colocou-se uma
tábua de 1,30kg sobre os tubos e um recipiente centralizado com capacidade para 20 litros,
que foi cheio com água. Uma vez cheio o recipiente, e verificado o comportamento, substitu-
iu-se a tábua por um reservatório de fibra de vidro com capacidade para 500 litros (pesando
15kg), que foi igualmente carregado com água para a obtenção da carga de colapso.
Figura 5.3 - Layout dos pontos de medição com strain gauges e relógios comparadores.
Um cuidado que se tomou antes da realização dos ensaios foi à verificação da resistên-
cia das hastes galvanizadas e da telha quanto ao esforço concentrado nos furos por onde pas-
sam os ganchos; as hastes e o furo das telhas suportam pelo menos 491,5N. O procedimento
desta verificação está descrito no Apêndice D.
16
Figura 5.4 - Modelo via MEF para carga central: (a) telha com bordas livres; (b) telha com bordas vinculadas.
A análise foi dividida em três etapas. Na primeira, fez-se uma Análise Linear Elástica
(ALE) para verificar se a telha se comporta como viga. Na segunda, promoveu-se uma Análi-
se de Buckling (de autovalores), para se evidenciar os modos de flambagem e obter as cargas
críticas; foram obtidos os valores de α da Equação 6. Na etapa final, realizou-se uma Análise
Não-Linear Geométrica (ANLG) para captar o comportamento pós-crítico.
6. RESULTADOS E ANÁLISES
6.1 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
6.1.1 Ensaio 1: telha com bordas longitudinais livres
Carregou-se a telha com a tábua e a garrafa de 20 litros e com incrementos de um litro
de água até se atingir um carregamento de 127,7N, e de dois litros até 245,4N. Visualmente, a
telha não indicou a ocorrência de flambagem local e as deformações medidas pelos extensô-
metros não apresentaram mudança visível no comportamento. Assim, substituíram-se a tábua
e a garrafa pelo reservatório, voltando-se ao estágio de 183,6N e carregando-o com incremen-
tos de 2 litros até 379,8N e de cinco litros até o colapso. Foram observados os seguintes itens:
- A flambagem local ocorreu visualmente quando se atingiu o carregamento de 379,8N.
- O colapso ocorreu por escoamento quando se carregou a telha com 1262,7N.
- A flambagem local se iniciou na onda baixa 2, prosseguindo na onda 3, nas ondas 1 e
4 simultaneamente e, por fim, nas partes comprimidas dos elementos inclinados na
medida em que o carregamento foi aplicado.
- Quando se trocou a tábua com garrafa pelo reservatório, a leitura dos relógios compa-
radores foi menor do que a registrada anteriormente para a mesma carga.
A Figura 6.1 mostra as variações das deformações e dos deslocamentos medidos. A de-
formação de SG5 está multiplicada por –1.
17
14
900
SG1 Ensaio 1 R1 Ensaio 1
SG2 R2
SG3 12 Reta1
SG4 Reta2
700 SG5 [x(-1)] ""
Deformação de Compressão (E-6)
10
Deslocamento (mm)
500
8
300 6
4
100
379,8N
49,2462 249,2462 449,2462 649,2462 849,2462 1049,246 1249,246 2
-100
Carga Aplicada (N)
0
Carga Aplicada (N)
-300 49,2462 249,2462 449,2462 649,2462 849,2462
Figura 6.1 - Comportamento dos strain gauges e dos relógios comparadores para o ensaio 1.
Figura 6.2 - (a) Detalhe da flambagem local na onda baixa 3 e nos elementos inclinados adjacentes; (b) ruptura
por escoamento da seção efetiva.
A Figura 6.3 ilustra os pontos de escoamento ocorridos no colapso dos três ensaios. No
ensaio 3, a ruptura só ocorreu na linha de aplicação de carga.
Figura 6.3 - Pontos de ruptura: (a) ensaio 1 (na linha de carga e a 140mm da linha de carga); (b) ensaio 2 (na
linha de carga e a 105mm da linha de carga); (c) ensaio 3 (somente na linha de carga). A linha de carga está
indicada em vermelho.
Figura 6.4 - Distribuição de tensões na direção do comprimento: (a) telha com bordas livres e carga inteira, (b)
telha com bordas vinculadas e carga inteira.
19
Figura 6.5 - Modos de flambagem obtidos pela Análise de Buckling: (a) para telha com bordas livres e carga
inteira; (b) para telha com bordas livres e carga central.
Figura 6.6 - Distribuição de tensões na direção do comprimento da telha (SX) para o caso de bordas livres e
carga central em um incremento de carga que superou a carga crítica de flambagem elástica.
porque certas regiões no centro da onda analisada deixam de ser efetivas e as tensões concen-
tram-se nas bordas próximas às dobras. Deve-se destacar que foi ignorado este comportamen-
to próximo às linhas de aplicação de cargas, pois existe um grande efeito de concentração de
tensões.
Para cada um dos quatro casos estudados, traçaram-se simultaneamente os gráficos das
distribuições de SX para diversos incrementos de carga. O gráfico para o caso da telha com
bordas livres e carga central está exemplificado na Figura 6.7, permitindo uma visualização
clara do alívio de tensões associado à flambagem local. O valor de P no gráfico corresponde
ao valor da carga total aplicada sobre a estrutura, e o valor de P crítico de flambagem elástica
está compreendido entre os valores de 159,2N e 192,2N. Os gráficos correspondentes às ou-
tras configurações estão mostrados no Apêndice F.
3,00E+06
-7,00E+06
-1,20E+07
-1,70E+07 P=60,2N
P=93,2N
P=126,2N
-2,20E+07 P=159,2N
P=192,2N
Comprimento P=225,2N
-2,70E+07
Figura 6.7 - Distribuição de tensões SX no corte 3 para diferentes incrementos de carga, aplicado ao caso de
telha com bordas livres e carga central (P crítico entre 159,2N e 192,2N).
Todos os resultados das cargas críticas de flambagem elástica, para cada uma das confi-
gurações estudadas, obtidos pela Análise de Buckling e pela ANLG estão dispostos na Tabela
6.2. Convém observar que os valores das cargas para a ANLG foram obtidos por uma média
dos valores correspondentes aos incrementos de carga entre os quais ocorreu alívio de ten-
sões. Em comparação com a Análise de Buckling, este procedimento mostrou-se eficiente
para determinar as cargas críticas. Observa-se a pequena influência da vinculação longitudinal
e a grande influência do tipo de carregamento nas cargas críticas de flambagem.
Tabela 6.2 - Resumo das cargas críticas de flambagem elástica obtidas pelo MEF
Buckling ANLG
Bordas Carga
Carga Crítica (N) Carga Crítica (N)
Livres Inteira 313,1 294,1
Livres Central 217,5 175,7
Vinculadas Inteira 326,7 298,2
Vinculadas Central 192,6 170,4
dos – as ondas baixas e o enrijecedor – e a porção comprimida dos elementos inclinados não
são totalmente efetivos (necessita-se retirar porções de áreas virtuais para efeito de cálculo da
resistência). Isso faz com que o eixo baricêntrico desloque-se em direção às ondas altas para
cada porção retirada (Figura 6.8), realocando a distribuição de tensões (processo iterativo); ao
final, a área efetiva vai entrar em colapso por escoamento atingido antes nas ondas baixas e
enrijecedor. As áreas virtuais retiradas implicam numa redução do momento de inércia da
seção, o que se traduz em um momento de inércia efetivo e em um módulo elástico efetivo.
Todos os valores obtidos estão mostrados na Tabela 6.3. Os cálculos foram realizados despre-
zando-se as dobras e a espessura, ou seja, com base nas linhas médias dos elementos.
Tabela 6.3 - Propriedades geométricas da seção bruta e da seção efetiva
Propriedade Seção Bruta Seção Efetiva (ef)
Área - A (mm2) 523 296,1
Posição do centro de gravidade(1) - zCG (mm) 14,87 25,94
Momento de Inércia - I (mm4) 139400(2) 60320(3)
Módulo Elástico - W (mm3) 9377(2) 2325(3)
(1) Em relação à linha média da onda baixa (comprimida).
(2) Em relação ao eixo x-x da Figura 6.8.
(3) Em relação ao eixo G-G da Figura 6.8.
Figura 6.8 - Área efetiva dos elementos da seção e deslocamento do eixo baricêntrico de x-x para G-G. As áreas
virtuais retiradas estão em preto.
que 850mm, este modo não é crítico frente ao mínimo local. Também, a partir do gráfico,
constata-se que foi correto desconsiderar a flambagem global para o cálculo normativo.
As formas de flambagem para as duas configurações, correspondentes ao primeiro mí-
nimo (flambagem local), estão ilustradas na Figura 6.10. Estas formas são semelhantes às
obtidas pela Análise de Buckling (MEF).
670mm
Figura 6.9 - Curvas de flambagem elástica obtidas no CUFSM para telhas com bordas livres e vinculadas.
Figura 6.10 - Formas de flambagem correspondentes ao primeiro mínimo: (a) telha com bordas livres; (b) telha
com bordas vinculadas.
Não havendo interação com a flambagem global, o valor de MLIM será igual a My, ou
seja, 1898,7N.m. MCRl será 0,06 vezes o valor de MLIM: 113,9N.m. Com estes valores, aplica-
se a Equação 5, com a=0,4 e b =0,15, e obtém-se um valor de 586,2N.m para o momento fle-
tor nominal. Este valor é conservativo em relação ao obtido pelo procedimento normativo.
6.5 ANÁLISE COMPARATIVA
A Tabela 6.4 compara os resultados obtidos na análise experimental com os dos méto-
dos numéricos e normativo de cálculo. Observa-se que a ANLG realizada não foi desenvolvi-
da até o momento do colapso e que o procedimento da NBR só fornece a carga de colapso. Os
momentos fletores correspondentes aos ensaios e à ANLG e as cargas correspondentes ao
procedimento da NBR e do MRD foram obtidos supondo a distribuição de momentos da Fi-
gura 4.1.
Tabela 6.4 - Comparação entre resultados experimentais, numéricos e normativos.
Ensaios ANLG ANLG NBR MRD
TLCC TTCC TVCC TLCC TVCC TLCI TVCI TLCI TLCI TVCI
PCR (N) 379,8 262,1 360,2 175,7 170,4 PCR (N) 294,1 298,2 - 341,7 341,7
PCOL (N) 1252,9 1409,9 1458,9 - - PCOL (N) - - 2441,7 1758,6 1758,6
MCRl (N.m) 126,6 87,4 120,1 58,58 56,8 MCRl (N.m) 98,0 99,4 - 113,9 113,9
Mnl (N.m) 420,9 479,0 486,3 - - Mnl (N.m) - - 813,9 586,2 586,2
TLCI - Telha Livre com Carga Inteira
PCR - Carga crítica de flambagem elástica
TLCC - Telha Livre com Carga Central
PCOL - Carga de colapso
TVCI - Telha Vinculada com Carga Inteira
MCRl - Momento fletor crítico
TVCC - Telha Vinculada com Carga Central
Mnl - Momento fletor resistente nominal
TTCC - Telha Trespassada com Carga Central
23
7. CONCLUSÕES
A comparação do comportamento experimental à flexão de três configurações de telhas
trapezoidais formadas a frio com o comportamento previsto por análises numéricas e norma-
tivas levou às seguintes conclusões:
- O modo de flambagem observado nos ensaios é o local, ocorrido nas ondas baixas
centrais. Os modelos numéricos via MEF e MFF confirmam este modo.
- Os valores de cargas críticas obtidas nos ensaios 1 e 3 foram em média 114% maiores
do que os obtidos pelo MEF, enquanto que o do ensaio 2 foi 51% maior. As diferenças
podem ter sido causadas pela simplificação adotada na modelagem das condições de
contorno correspondentes às hastes de fixação.
- As análises pelo MEF e pelo MFF mostram que a vinculação das bordas não afeta a
carga crítica de flambagem elástica. Isso foi comprovado na comparação da carga crí-
tica obtida no ensaio 3 com a do ensaio 1 (apenas 5% menor). Esperava-se que o en-
saio 2 apresentasse comportamento semelhante, mas o valor obtido foi 31% menor do
que o do ensaio 1. Possivelmente, o resultado foi afetado por imperfeições iniciais do
material.
- O comportamento dos strain gauges foi semelhante nos três ensaios, indicando que a
formação de ondas de flambagem aproximou-se de um padrão para os três ensaios.
- A carga de colapso do ensaio 2 foi 12,5% maior do que a do ensaio 1 e a do ensaio 3
foi 16,4% maior (e a ruptura foi menos abrupta). Constata-se que quanto maior o grau
de vinculação das bordas longitudinais, maior será a carga necessária para colapsar a
telha. Além disso, o deslocamento medido por R1 no ensaio 3 chegou a ser 20% me-
nor do que no ensaio 1.
- Quando a flambagem local se iniciou, a telha perdeu rigidez, ocasionando uma passa-
gem do regime linear elástico para o regime não-linear, o que pôde ser visualizado pe-
lo gráfico de deslocamentos medidos pelos relógios comparadores (Figura 6.2).
- Os pontos de plastificação observados nos ensaio 1 e 2 coincidem com pontos de con-
centração de tensões nas bordas das ondas baixas verificados na análise pelo MEF. No
ensaio 3, a ruptura ocorreu somente na linha de carga, mas isto não afetou o compor-
tamento da telha quanto à flambagem.
- Através da análise pelo MEF, verificou-se que a aplicação de uma carga inteira cor-
responde a uma maior carga crítica de flambagem, já que haverá compressão dividida
entre as ondas baixas. A vinculação continua não afetando seu valor.
- As cargas de colapso obtidas nos ensaios 1 e 3 foram em média 23% menores do que a
prevista pelo MRD e a do ensaio 1 foi 49%menor do que o valor calculado pela NBR;
porém, estes dois métodos só consideram cargas inteiras. Mesmo assim, conclui-se
que a NBR prevê uma carga de colapso maior do que a dita pelo MRD, o que faz esta
opção de cálculo inadequada para este tipo de geometria de perfil, possivelmente pela
não inclusão de geometrias complexas na calibração das fórmulas de área efetiva.
Finaliza-se este trabalho com as seguintes considerações:
- O modelo de ANLG reproduz bem o comportamento real de flambagem das telhas.
Mas os resultados experimentais mostraram que ele precisa ser aprimorado (por e-
xemplo, refinando as condições de contorno) para fornecer respostas precisas.
- A incorporação de plasticidade num modelo de Análise Não-Linear Físico Geométrica
poderia se traduzir numa ferramenta para comparação da carga de colapso obtida ex-
perimentalmente com a obtida pelo MEF.
- A medição com mais strain gauges na onda baixa poderia indicar com mais precisão
quais os pontos que estão em regiões de alívio de tensões. Diminuindo-se o incremen-
to de carga utilizado no ensaio, se poderia determinar com mais certeza o ponto de in-
flexão das curvas correspondentes aos sensores localizados nas zonas de alívio.
24
8. REFERÊNCIAS
SCHAFER, B. W. AISI - American Iron and Steel Institute - Direct strength method of
cold-formed steel design. January 7, 2002.
YU, W-W. Cold-formed steel design. John Wiley & Sons, Inc., New York, 2000.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BUDGELL, P.C. Finite element analysis with ANSYS: information and tips. Disponível
em www3.sympatico.ca/peter_budgell, 1998. Acessado em 23 de Outubro de 2004, às 21:30.
Figura B.1 - Relatório de ensaios do software TESC com os resultados das propriedades mecânicas à tração do
aço zincado correspondente às telhas ensaiadas na parte experimental deste trabalho.
Figura B.2 - Máquina universal de ensaios EMIC usada nos ensaios de tração.
27
Figura B.3 - Amostra dos corpos de prova ensaiados segundo NBR 6673/1981.
Figura D.1 - (a) Conjunto de haste de fixação e chapa a ser ensaiado; (b) carregamento do ensaio.
900 SG1 12 R1
SG2 Ensaio 2 R2
800 SG3 Reta2 Ensaio 2
SG4 10 ""
Deformação de Compressão (E-6)
600 8
500
6
400
300 4
200
2 262,1N
100
Carga Aplicada (N) Carga Aplicada (N)
0 0
36,4932 236,493 436,493 636,493 836,493 1036,49 1236,49 36,4932 236,4932 436,4932 636,4932 836,4932
2 2 2 2 3 3
Figura E.1 - Comportamento dos strain gauges e dos relógios comparadores para o ensaio 2.
1000 SG1 12 R1
SG2 R2
SG3 Ensaio 3 Reta1
Ensaio 3
SG4 10 Reta2
800
SG5 [x(-1)] ""
Deformação de Compressão (E-6)
Deslocamento (mm)
8
600
400
4
360,2N
200
2
Figura E.2 - Comportamento dos strain gauges e dos relógios comparadores para o ensaio 3.
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0,00E+00
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00
-5,00E+06
SX (Pa)
-1,00E+07
-1,50E+07
-2,00E+07 P=124,1N
P=192,1N
-2,50E+07
P=260,1N
P=328,1N
Comprimento P=396,1N
-3,00E+07
Figura F.1 - Distribuição de tensões no corte 2 para diferentes incrementos de carga aplicado ao caso de telha
com bordas livres e carga inteira (P crítico entre 260,1N e 328,1N).
1,50E+07
SX - Telha com Bordas Vinculadas e Carga Inteira
1,00E+07
5,00E+06
0,00E+00
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2
-5,00E+06
SX (Pa)
-1,00E+07
-1,50E+07
P=102,2N
-2,00E+07
P=158,2N
P=214,2N
-2,50E+07
P=270,2N
P=326,2N
-3,00E+07 P=382,2N
Comprimento
-3,50E+07
Figura F.2 - Distribuição de tensões no corte 4 para diferentes incrementos de carga aplicado ao caso de telha
com bordas vinculadas e carga inteira (P crítico entre 270,2N e 326,2N).
1,50E+07
SX - Telha com Bordas Vinculadas e Carga Central
1,00E+07
5,00E+06
0,00E+00
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2
-5,00E+06
SX (Pa)
-1,00E+07
-1,50E+07
-2,00E+07 P=58,4N
P=90,4N
-2,50E+07 P=122,4N
P=154,4N
-3,00E+07 P=186,4N
P=218,4N
-3,50E+07 Comprimento
Figura F.3 - Distribuição de tensões no corte 4 para diferentes incrementos de carga aplicado ao caso de telha
com bordas vinculadas e carga central (P crítico entre 154,4N e 186,4N).