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Por que sofrer é importante?

Todos que sofrem, imagino eu, se fazem a pergunta: por que? A dúvida é tão profunda e a dor, por vezes,
tão visceral, que pensamos não merecer o que passamos. Mais do que isso, muitos blasfemam e duvidam
da ação de Deus em suas vidas. O humorista Chico Anisio, após a morte do filho da atriz Cecília
Guimarães, disse não crer mais em Deus, pois, como pode ele permitir que algo tão terrível aconteça com
um menino tão bom.

O fato é que o ser humano não costuma lidar bem com o sofrimento. Sempre achamos que não somos
merecedores das dores. Interessantemente, nessas horas encaramos Deus como um “evitador de
sofrimentos”; ele é alguém que existe para me proteger das situações de dor e garantir que as lágrimas
não me cheguem aos olhos.

Para qualquer um com o mínimo de conhecimento sério da Bíblia, tudo isso é um absurdo, embasado
numa teologia humanista, bem antropocêntrica. De fato, uma epistemologia capenga, ou antropocêntrica,
nos conduz a essa visão, na qual o Criador se volta para a criatura, ao invés de, a criatura servir aos
propósitos do Criador. Daí, você poderia perguntar como pode um Criador bom, trazer o sofrimento a sua
criatura. A dúvida revela justamente a noção antropocêntrica, na qual o homem só vê seu bem estar e se
esquece de que a vontade de Deus vai muito além do bem estar humano.

Deste modo, é salutar que entendamos porque sofrer é importante. Se cremos num Deus soberano, que
criou para uma razão, temos de confiar em sua infinita sabedoria e descansarmos no fato de que o
sofrimento tem seu lugar. Por isso, vejamos algumas razões para que o sofrimento seja importante.

1. Dá-nos uma clara noção de quem nós somos:

Certa vez ouvi o apologista, Ravi Zacharias, falando sobre a infidelidade do homem em relação a Deus.
Esta, segundo ele, não se torna mais próxima nos tempos difíceis, necessariamente. É quando estamos
bem, com uma vida repleta de prazeres e realizações, que costumamos abrir mão de nossa fé e
depositamos nossa confiança, esperança e significado nessas coisas.

A história de Israel é um exemplo deste ponto. Quando estavam num momento de prosperidade, com o
território crescendo, a riqueza se acumulando e os corações cheios de alegria, eles temeram que tudo isso
chamasse a atenção das outras nações. Com medo de serem invadidos, buscaram segurança não no
Senhor, mas na diplomacia. Fazendo acordos de paz e mútuo apoio com as nações vizinhas, Israel buscou
proximidade com quem não devia. Não demorou muito e começaram a se familiarizar com os costumes,
mulheres, religiões e deuses destas nações.

Graças a luxúria e falta de sabedoria de Salomão, a infidelidade se instalou em Israel e aquela nação, até
os dias de hoje, nunca mais foi a mesma. Por outro lado, todo o sofrimento decorrente obrigou Israel a
olhar novamente ao Senhor – pelo menos, o remanescente fiel. Quando o plano de mútua cooperação com
as outras nações falhou, o povo teve de lembrar daquele que os havia tirado do Egito e conduzido pelo
deserto.

Com todo esse sofrimento, o povo começou a entender melhor sua posição diante de Deus. Não era uma
boa idéia ignorá-lo e melhor ainda não esquecer de quem se é. O fato foi que Israel aprendeu com o
sofrimento duas coisas muito importantes: não temos o controle de nossas vidas e somos dependentes.

1.1. Não temos o controle de nossas vidas;

Apesar de todos os esforços, Israel não conseguiu evitar o sofrimento. Acordos, associações e
aproximações não formam suficientes para evitar seu maior temor: invasão. Ainda que as nações vizinhas
tenham mantido o acordo, Israel não contou com vinda de uma nação distante, tão poderosa, que nem a
união de todos os seus aliados seria o bastante para dete-la.
Por mais que Israel (neste ponto já dividido entre Sul, Judá e Norte, Israel) tenha se empenhado, eles não
puderam evitar a invasão. Todos os seus esforços foram insuficientes para afastar o sofrimento. Assim
somos nós. Lutamos para não sofrermos para, no fim, sofrermos. Não temos o controle de nossas vidas e
dispensar tanto empenho para se evitar algum temor, via de regra, nos conduz a outros sofrimentos, pois
paramos de atentar para o que é mais importante: Deus.

Não que nos esqueçamos dele de todo, afinal, confiamos que ele irá nos dar o que pedimos. Acreditamos
que ele está ai para evitar que soframos e o que mal venha sobre nós. Assim, nos empenhamos em
orações, correntes, medidas e desmedidas para afastarmos a possibilidade de que nossos temores se
tornem realidade. Ainda que obtenhamos sucesso quanto a este temor, outras causas de sofrimentos
tomam lugar em nossas vidas, nos levando à dura realidade de que não temos controle de nossas vidas e
que o sofrimento é uma realidade inevitável num mundo caído.

Sofrer nos ajuda, portanto, a sermos mais humildes. Quando sentimos dor, lembramos de nossa pequenez
e de que nada está em nossas mãos, pois, mesmo com todas as precauções tomadas, o sofrimento se faz
presente em nosso dia a dia. Assim, percebemos que somos incapazes de nos manter sozinhos e que não
podemos andar sem um apoio, algo, ou alguém que nos conduza e nos sustente por esse mundo caído e
cheio de dor. Daí, nos deparamos sobre a segunda realidade sobre nós mesmos, a qual o sofrimento nos
ajuda a vislumbrar: somos dependentes.

1.2. Somos dependentes;

Devido à nossa incapacidade de evitar o sofrimento, a sensação de que se estar sozinho não é uma boa
idéia vai tomando conta. Percebemos que nossa inteligência, nossas medidas e nosso empenho não é
suficiente para nos manter nessa realidade tão dura. Não demora muito, e concluímos que precisamos de
alguém. Precisamos de alguém que nos sustente, aconselhe, ore, ilumine, proteja, enfim, ficar sozinho é
que não dá.

Quando estamos bem, dificilmente nos lembramos dessa realidade. Na verdade, nosso comportamento,
geralmente, é o de nos sentirmos auto-suficientes e capazes. Em nosso ego, alimentamos um complexo de
super-homem que tudo pode e nada atinge. Neste ponto, é desejável que logo venha o sofrimento, antes
que a ilusão tome conta de vez, e nos faça enxergar que não somos tão grandes assim e que precisamos de
outros.

Digo outros, pois, como iremos ver adiante, não é somente Deus quem nos apóia em meio ao sofrimento.
Irmãos, família e amigos são importantes e nos servem de apoio. É claro que entendo que todos eles são
usados pelo Senhor para nos ajudar, mas isso não os torna menos importantes, para nos mostrar o quanto
somos dependentes.

Quando este fato se torna claro, nossa humildade é melhor construída e nossa visão de nós mesmos é
menos distorcida. Não temos o controle de nossas vidas, estamos nas mãos do Criador. Certamente que
uma ajudinha não cai nada mau em tempos de aflição, afinal, quem não precisa de ajuda – e nada melhor
que o sofrimento para deixar isso bem claro.

2. Faz-nos enxergar a realidade em que vivemos;

Outro papel que o sofrimento exerce em nossas vidas é o de nos lembrar a realidade em que vivemos.
Não sofrer é uma possibilidade remota em nosso mundo e, quando alcançada, na verdade, significa viver
uma vida fora da realidade dura em que vivemos. Desta forma, aqueles que não sofrem as mazelas desta
vida, vivem, literalmente, num faz de conta.

Sofrer nos ajuda a entender que a vida não é fácil; que as coisas não estão à nossa disposição; que as
pessoas tem suas próprias vidas e que não somos os únicos com problemas. De fato, viver sem sofrimento
é viver se enganando, pois, o sofrimento está lá, se não o vivemos é porque o ignoramos, como se ele não
existisse. Essa atitude é esperada de uma criança que não pode suportar a falta de seu brinquedinho, o
“não!” do papai, ou até algo realmente sério. De pessoas adultas, esperamos que encarem de frente os
problemas e que já tenham aprendido há tempos que a vida não é fácil.

O sofrimento, portanto, é um banho de realidade. Aliás, um banho necessário nesse mundo caído e cheio
de maldade. Não podemos andar como se os problemas não existissem. Lembro-me de uma irmãzinha lá
de Brasília, que num momento difícil de minha vida me cumprimentou perguntando se estava tudo bem.
Respondi que mais ou menos, pois estava com algumas preocupações em mente. Com um sorriso maroto,
ela me disse: - “Que isso, irmão?! Crente não tem problemas!” Passei alguns minutos tentando entender
de onde ela tirou idéia tão absurda e mostrando exemplos da Bíblia de que crente passa por muitas
dificuldades.

Foi impossível tirar tais ideias da referida irmã. A IURD já a tinha doutrinado muito e o pouco tempo que
ela passava em minha igreja não iria fazer tanta diferença. Contudo, devido às ironias da vida, e ao plano
divino, passado alguns anos, encontrei-a em Caldas Novas - GO. Quando ela me viu, correu e pulou no
meu colo aos prantos. O exagero da cena era na medida das dificuldades que ela passara até aquele dia e,
segundo ela, a pequena conversa que tivemos num relance em minha igreja foi fundamental para que ela
não perdesse a fé.

Casos como esses mostram como fugir da realidade do sofrimento pode nos conduzir a um mundo de
ilusões. O problema nem é tanto viver a ilusão, mas dar de cara com a realidade, pensando que a vida é
um mar de rosas. Não é à toa que muitos blasfemam, se desesperam e até perdem a fé, afinal, viviam num
mundinho sem sofrimento, com a consciência de que Deus estava lá, pronto para evitar que qualquer mal
lhes sobreviesse. Quando isso se mostra uma falácia, a tendência é a desorientação devido à falta de
experiência de como lidar com o sofrimento e à falta de entendimento das verdades bíblicas.

Sofrer, portanto, nos leva direto à realidade caída em que vivemos. Viver essa realidade, ainda que duro, é
necessário. Viver em ilusões é fadar-se à mentiras e a deturpar o papel de Deus em nossas vidas, para que
ele se encaixe nessa visão distorcida das coisas. A partir disto, vemos que o sofrimento também é
importante para nos mostrar a qualidade de nossa fé.

3. Mostra-nos a qualidade de nossa fé;

Na medida em que prosseguimos nesse texto, vemos diversas sinalizações da relação sofrimento e fé. De
fato, não é difícil encontramos nas Escrituras exemplos de que a fé é avaliada por meio do sofrimento.
Casos como o de Jó, Davi, Paulo e os irmãos da diáspora, mencionados em 1 Pedro, são evidências deste
ponto.

Em 1Pedro 1, vemos o apóstolo se comunicando com irmãos que passavam por momentos duros.
Ameaçados pela perseguição apoiada por Nero, muitos cristãos partiram para vários cantos distantes do
epicentro do cristianismo, Jerusalém, a fim de fugirem da morte certa. A fim de confortar e motivar
aqueles irmãos, Pedro mostrou que passar por aquele sofrimento era um momento significativo para a fé.
Mais do que sobreviverem, para o apóstolo o mais importante é que eles se mantivessem fiéis, com os
olhos fixos na herança que temos em Cristo, pois, se de fato cremos, temos nela algo mais valioso que a
própria vida.

Nas palavras de Pedro, aqueles tempos de aflição e sofrimento apurariam a fé de nossos irmãos como o
fogo apura o ouro. De fato, quando os tempos são ruins e a fé não é “das boas”, suas coisas são as
primeiras a serem abandonadas. Abandonamos nossas convicções teológicas; abandonamos nosso
exercício de piedade: oração, culto, comunhão e etc; abandonamos, por fim, o Senhor.

Costumo dizer que a coisa mais importante nos tempos difíceis não é fazê-los irem embora, mas manter-
se fiel ao Senhor. Nos tempos bons, confiamos em nós mesmo e esquecemos de Deus. Nos tempos
difíceis, assumimos uma atitude autocomiserativa, nos achamos bons de mais para sofrer e negamos a
Deus. É uma cadeia mais trágica do que aquilo que nos faz sofrer em si e que pode mostrar que nossa fé
não é tão valiosa o quanto deveria.

Por outro lado, quando a fé prevalece, seu valor se torna evidente. Quando nos mantemos fieis,
glorificamos a Deus. Lembre-se de nossos três irmãos na fornalha. Nabucodonosor os viu com o anjo e
glorificou a Iavé, pois aqueles jovens foram fiéis, preferiram enfrentar a fornalha e prevaleceram. No
entanto, a fé não se mostra valorosa só por meio de vitórias – basta lembrar de Paulo, Estevão, John Huss
e outros mártires que mostraram o valor de sua fé pagando com a própria vida.

Para Pedro, o importante não era prevalecer sobre as dificuldades, mas prevalecer na fé. O valor disto
seria demonstrando pela glória e honra a Cristo em sua volta – isso é interessante, pois o valor pode não
ser claro agora, mas certamente o será na segunda vinda, o que é uma péssima notícia para os
imediatistas, que pensam que as coisas da fé são para já. Uma fé de qualidade se mostra firme no
sofrimento e redunda em glória, honra e louvor ao autor e consumador da fé.

3.1. É oportunidade de testemunho

Dentro deste aspecto, então, podemos ver que o valor de nossa fé é algo que também nos leva ao
testemunho. Permanecermos firmes no Senhor, mesmo em meio às dificuldades mais atrozes, demonstra
a grandiosidade de nosso Deus. Se mesmo em meio ao tempo mais terrível mostramos que não há o que
nos separe dele, testemunhamos ao mundo que não sofrimento que se compare à companhia de nosso Pai
celestial.

O sofrimento, então, é uma dura forma de testemunho, mas muito valiosa. Com este nível de testemunho,
incentivamos outros a abraçarem com ainda mais profundidade a fé. Pense, ou conheça histórias sobre
irmãos martirizados por suas convicções de fé. Já dei alguns nomes aqui, os quais inspiram por sua
coragem e devoção a Cristo, mesmo diante da morte.

Ao mostrarmos, portanto, o valor de nossa fé, estamos, ao mesmo tempo, testemunhando ao mundo. As
pessoas poderão ver nosso apego pelo Senhor e desejarem entender o por que de tanta fé, mesmo quando
ela não nos impede de sofrer. No sofrimento, busque mostra o valor de sua fé, fazendo com que pessoas
conheçam o amor que supera as circunstâncias mais terríveis. O melhor disso tudo, é que, à medida que
testemunhamos, percebemos que não estamos sozinhos e experimentamos outra razão para que
entendamos o sofrimento como algo importante a nós: traz união entre os irmãos.

4. Uni-nos aos que sofrem conosco:

Quando vemos catástrofes pelo mundo a fora, é comum que, mesmo em outros países, haja uma
movimentação para ajudar os afetados pela tragédia. Pessoas que jamais se moveram para ajudar outros,
se comovem e, de alguma forma, enviam sua ajuda a essas pessoas. O sofrimento, assim, é importante
para unir as pessoas.

Essa união é preponderante para se supere o sofrer. A empatia e a simpatia humana se afloram pela
capacidade que a maioria tem de se colocar no lugar do outro. Imaginar-se na dificuldade nos leva a
abraçar os que sofrem – ou, pelo menos deveria. Ai, é interessante notar que, como cristãos, podemos
perceber a aproximação de dois grupos de pessoas: as que passam, ou passaram pela mesma dificuldade;
e a própria igreja que assume o papel de chorar com os que choram.

4.1. Os que passam pela mesma situação;

É mais fácil para os que viveram ou vivem a situação, se compadecerem com o sofrimento alheio. Em
tempos difíceis, percebemos que o sofrimento dos outros é importante para torná-los mais sensíveis aos
que sofrem, a fim de darem apoio e, até mesmo, orientação em momentos de desorientação e desespero.
É claro que não devemos desejar o sofrimento de quem quer que seja, mas esse mundo de sofrimento
prepara pessoas para entenderem o que outras passam quando sofrem. Esse ciclo de dor que,
aparentemente parece ser sem sentido, traz a possibilidade de que “veteranos” daquela dor apóiem quem
precisa. Além disso, podemos contar com a presença da própria igreja do Senhor.

4.2. A igreja que se aproxima;

Nesse tempo de dor pelo qual minha esposa e eu passamos, experimentamos a união com nossos irmãos.
Pessoas de várias igrejas diferentes ligaram ou deixaram seu recado, ou mesmo nos visitaram, a fim de
nos ajudar a suportar a dor da perda de nosso bebê. Isso não só nos deu força, como também nos uniu e
apertou nossos laços com nossos irmãos.

Em Atos, vemos momentos em que a igreja orou por seus membros. Na prisão de Pedro (At 12), a igreja
empreendeu incessante oração por ele diante de Deus. Na impossibilidade de fazer outra coisa, os irmãos
oraram, ou seja, se voltaram para aquele que tem todo o poder em suas mãos. Por vezes, simplesmente
orar é uma ação muito importante para aqueles que sofrem. Nesse tempo tenebroso pelo qual, minha
esposa e eu, passamos, saber que nossos irmãos em Cristo oravam por nós, demonstrando não só que
sabiam a quem pedir, sentimos também o amor e que não estávamos sozinhos nessa luta.

De fato, não esperava menos da igreja do Senhor; desse corpo que trabalha pela mútua edificação (1Co
12; Ef 4) e que deve chorar com os que choram, ao tempo que riem com os que riem (Rm 12.15).
Provérbios nos diz que: “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (17.17). É nesse
tempo ruim que vemos o amor que há em Cristo naqueles que verdadeiramente são nossos irmãos. Ainda
que a inveja possa dificultar a rir com os que riem, a falta de amor, que é o grande veneno dentro da
igreja, torna impossível chorar com os que choram – e como choraram conosco!

Nos inúmeros telefonemas que recebemos, o lugar comum era o exercício de oração por parte de nossos
irmãos – além de minha esposa e eu. Por isso, posso dizer que essa união era marcada por outro fato que
mostra a importância do sofrimento em nossas vidas: a prática da oração.

5. Leva-nos à prática da oração

Espero, obviamente, que você não ore somente quando sofre. A ordenança bíblica é que a oração seja
uma constante em nossa vida. Contudo, sabemos que o crente tem seus altos e baixos. Por isso, entendo
que o sofrimento, ao nos lembrar de quem somos, nos faz orar, buscando Aquele que sabemos quem é e o
quanto pode.

Ao contrário do que muitos pensam, a oração não é um dom, mas uma obrigação e uma graça, ao mesmo
tempo. Todos os crentes devem ter vida de oração. Interessantemente, nas listas de dons, não vemos
qualquer menção à oração; isso porque não se trata de um dom, mas de uma ordenança de nosso Senhor,
como um meio de comunicação com nosso Senhor.

Vemos a oração num contexto de ordem, de lei, algo que deve ser observado por todos. Nosso Senhor não
disse: “buscai os que oram, para que o façam por você”; pelo contrário, ele disse algo mais do tipo faça
você mesmo: “Vigiai e orai” (Mr 13.33); ou ainda, como ensinou Paulo: “Orai sem cessar” (Ts 5.17).
Tempos de angústia são excelentes para que vejamos que não há melhor alívio do que a companhia do
Senhor, suficiente para nós, mesmo em tempos difíceis.

Orando, nos humilhamos diante de Deus, reconhecendo nosso lugar e nossa dependência. A oração não
muda o Pai, mas nos molda à sua vontade, à sua dependência e nos faz entender que nesse mundo de
pecado não outra forma de sermos completamente satisfeitos, a não ser naquele que nos criou. Muito mais
poderíamos falar sobre a oração, mas neste blog você pode encontra vários outros artigos sobre oração.
Mas, deste ponto, podemos ir ao entendimento de que o sofrimento nos conduz a ansiar pelo mundo
vindouro.
6. Faz-nos ansiar pelo que virá;

Em seu livro, Verdadeira vida cristã, Calvino demonstra esse ponto. Sofrimentos, dos mais variados, tem
um papel importante para que não nos apeguemos tanto a este mundo caído. Quando sofremos, isso deve
ser diretamente imputado à realidade que vivemos aqui. Deslumbrar-se com que há de bom nesta
realidade é dispensar o verdadeiro banquete que há no porvir.

A dificuldade trazida pelos bons momentos desta vida é perceber o quão passageiros eles são. Recomendo
uma leitura bem minuciosa de Eclesiastes, para que você veja bem a inutilidade desta vida, se ela não for
dedicada a Deus, portanto, voltada às coisas eternas.

Tudo que temos aqui, família, bens, prazer, posições, status, sonhos e ambições, são coisas passageiras e
vazias de significado em si mesmas. Somente o eterno Criador, quando servido por essas coisas, traz
sentido a elas. Isso significa que temos de nos desprender deste mundo, lembrando que nele tudo que é
bom passa e que o sofrimento é certo, a fim de ansiarmos e focarmos em nossa eterna herança. É o
sofrimento que nos lembra que mais desejável que viver em Paris, Londres, Nova Iorque, ou numa
cidadezinha agradável, segura e aconchegante, é passar a eternidade na Nova Jerusalém.

Sem enfrentarmos o sofrimento, entendo sua origem e sua intrínseca presença nesta realidade caída,
teremos uma visão distorcida e cheia de esperança nas coisas desta vida. O Senhor nos fala de novos céus
e nova terra (Ap 21.1), no entanto, aqueles que se proclamam crentes, servos de Deus, estão cada vez
mais voltados para este mundo velho, caído e cheio de dor e o pior, fantasiando uma vida cheia de glória
e completamente voltada para atrativos deste mundo. Nunca, ao meu ver, a fé das pessoas foi esvaziada
de seu propósito com hoje.

Líderes falam de uma vida sem sofrimento, atraindo desavisados e desavergonhados, que só querem se
satisfazer, atraídos por slogans tais como: “Pare de sofrer!” Como se isso fosse possível neste mundo;
como se esta fosse a promessa de Deus. Não vejo outra solução para essas pessoas, que não sofrer e terem
de encarar de frente a realidade deste mundo e entender que seus sonhos, desejos e realizações tem de ter
mais a ver com o que virá, que com o presente mundo.

Nossa realidade é caída, cheia de males e, ao mesmo tempo, repleta da glória de Deus. Ela está presente
em cada canto, para que não nos esqueçamos do propósito de tudo que há. Com o sofrer não é diferente,
ele tem um propósito na obra de Deus. Recuso-me a acreditar numa visão que põe Deus à parte de tudo
que acontece de ruim; isso é tornar meu sofrimento algo fora do controle de meu Senhor; é fazer de meu
sofrimento um acidente inevitável e despropositado, ao invés de torná-lo algo trazido por Deus, para um
propósito eterno e bom, por mais que seja difícil de entendê-lo; para mim, isso é insegurança total, pois
há alguma outra força controlando e movendo a história.

Mas uma coisa é certa, o sofrimento tem de ser ligado a Deus de alguma forma, pois, com entender a
cruz? O Criador enviou seu Filho para morrer. Ele teve misericórdia do pecador e por puro amor enviou
seu Filho, antes de tudo, para sofrer. Ser reconhecido em forma humana, passar fome, sede, rejeição,
açoites, traição e morte de cruz não são o sonho de qualquer pessoa, mas foi o plano de nosso Deus. O
questionamento simples de Cristo a seus discípulos foi tão simples e claro: “Lembrai-vos da palavra que
eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a
vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (Jo15.20).

O sofrimento não foi só dos discípulos; qualquer um que deseja seguir o evangelho, rejeitando este
mundo tem de estar pronto a ser rejeitado, perseguido e sentir na pele o que é lutar contra o pecado. Este é
o mundo em que vivemos e o sofrimento está ai para não deixar que percamos isso de vista. Mas não
somente isso, ao passarmos por tudo isso, somos solidários com nosso Senhor e entendemos melhor seu
amor e sofrimento. Por isso, o sofrimento nos faz entender melhor o amor de Cristo em sofrer por nós.
7. Porque nos faz entender o amor de Cristo ao sofrer por nós;

Entendendo que o Senhor é aquele que “cria a paz e faz o mal” (Is 45), poderíamos pensar que ele não é
tão bom assim. Por outro lado, podemos ver que nem mesmo seu Filho foi poupado de seu plano de
mostrar sua glória, mesmo em meio ao mais profundo sofrimento e escuridão humanos. Isso nos faz
lembrar que nosso Criador não é um sádico que só quer o sofrimento de sua criação. Em seu plano eterno,
o sofrimento maior foi reservado a seu Filho, que levaria sobre si o peso do pecado de seu povo.

Por mais que soframos, não teremos sobre nossos ombros a ira de Deus. Cristo, nosso Redentor, teve.
Quando sofremos, temos a oportunidade de entender o grande amor com que nos amou o Senhor. Ao
invés de blasfemarmos e perguntarmos o porque, a cada dor, deveríamos lembrar que nosso Salvador
sentiu algo tão profundo, ao ter o peso da ira de Deus sobre seu corpo, que chegou a questionar: “Eli, Eli,
lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46).

O Pai não desamparou o Filho, mas este, ao fazer-se pecado em nosso lugar, sentiu toda a separação que o
pecado faz entre Criador e criatura. Tanta dor em nosso Mestre não poderia significar outra coisa além do
fato de que nós, como seus seguidores, sofreríamos também. Seja pelo evangelho, seja pelos efeitos do
pecado, o sofrimento nos lembra que Jesus, que não tinha nenhuma necessidade, encarnou e tomou sobre
si nossas enfermidades e foi transpassado por nossas transgressões (Is 53).

Ao sofrer, portanto, não pense o quão “coitado” você é; lembre que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo
passou por dor ainda mais profunda, a fim de nos livrar do pior sofrimento que alguém pode
experimentar: a ira de Deus. Às vezes, penso eu, precisamos sofrer e lembrar o sofrimento de Cristo, para
valorizar o que foi feito na cruz.

Não estou defendendo qualquer espécie de masoquismos cristão, mas não posso olhar para o sofrimento
como simples fatalidade. Por entender que estou numa realidade criada, na qual o Criado estabeleceu
todas as coisas, inclusive seus propósitos, tenho de ver qual o papel do sofrimento em nossas vidas. As
Escrituras falam deste papel; elas enaltecem a fé que supera sofrimentos e o próprio sofrimento de Cristo
como algo de extrema importância para nossas vidas.

Para mim, isso não é culpar Deus de qualquer coisa, mas ver-me segura em suas mãos, pois sei que, se
sofro, sofre em suas mãos e em seus bons desígnios. Faça ele o que desejar de mim. Choro pelas dores
que ele me traz; alegro-me nas alegrias com as quais ele me abençoa, “Bendirei o SENHOR em todo o
tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios.” (Sl 34.1)

Soli Deo Gloria!

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