Epistemologia é uma área filosófica que estuda a ciência, no sentido
de averiguar a solidez dos seus fundamentos e analisar criticamente a metodologia que utiliza.
2. Apresente uma definição breve de conhecimento
vulgar.
Conhecimento vulgar é o saber adquirido imediata e
espontaneamente a partir da experiencia, sem que haja qualquer intenção metódica, sistemática ou outra de cariz reflexivo.
3. Apresente uma definição breve de ciência.
Ciência é um conjunto estruturado de conhecimentos metódicos,
relativos e certas categorias de factos, objectivos ou fenómenos que são explicadas por leis susceptíveis de verificação.
4. Quais são os objectivos gerais da ciência?
O objectivo geral da ciência é o estabelecimento das leis que regem
os fenómenos, a fim de que estes possam ser: • Compreendidos • Previstos • Controlados Com a compreensão ou explicação, os fenómenos perdem o seu carácter desconhecido e são enquadrados numa lei, ou seja, explicados em termos de causa e efeito. Com a previsão, o homem sente-se mais seguro, pois, ao conhecer a regularidade das leis que explicam os fenómenos, pode prever a sua ocorrência. O controlo corresponde ao desejo do homem de dominar a natureza. Senhor das causas e condições que originam os fenómenos, o homem procura criar formas de as manipular, de modo a incrementar ou impedir o seu aparecimento.
5. Qual a diferença entre facto bruto e facto
científico?
Os factos brutos são os acontecimentos conforme ocorrem na
natureza. O seu conjunto constitui o universo natural, o que nos é dado à percepção. Os factos científicos são factos que o cientista constrói para evidenciar as explicações. São factos interpretados, elaborados racionalmente, solidários já de uma teoria científica. Ocorrem nas situações experimentais criadas em laboratório. 6. Como se constrói o facto científico?
O facto científico é construído pelo pensamento lógico e pela
imaginação do cientista que soube vislumbrar as relações existentes entre a heterogeneidade dos factos brutos ou naturais. Tais relações constituem a base da construção laboratorial e técnica do facto. Técnica, porque o procedimento científico exige a intervenção de instrumentos que permitem a reprodução artificial das relações escondidas na natureza, mostrando-as de modo evidenciado.
Universo Percepcionado Universo científico
A ciência tudo mede, O mundo aparece como transformando as um sincretismo de cores, qualidades em quantidades. Qualitativo sons, cheiros, sensações Quantitati Os enunciados científicos tácteis, etc. que afectam servem-se de números para vo os órgãos sensoriais. traduzir comprimentos de onda, frequências, etc. O mundo é uma amálgama de factos complexos e heterogéneos. Uma folha que cai da árvore, impelida Em termos científicos, todos pelo vento, executa ao os graves caem Diverso e Uno e acaso reviravoltas, num verticalmente, animados de heterogéneo giro espiralóide, tardando homogéne um movimento em que a a atingir o solo. Difere de o aceleração é constante. obliquidade da chuva e da verticalidade de um corpo pesado que é largado no ar. O mundo da ciência resume-se a uma série de relações. O frio não é uma O mundo é uma enorme propriedade do mármore, diversidade de coisas ou nem o calor uma Conjunto de Conjunto substâncias concretas e propriedade da lã. Frio e coisas individualizadas, dotadas de calor são relações concretas e de características relações estabelecidas entre os individualizada particulares e especificas órgãos sensoriais e os s de cada uma delas. objectos. O peso não é um atributo do chumbo, mas a manifestação de uma relação de dependência da gravitação, tal como a cor dos objectos manifesta a dependência da luz que reflecte. 7. Por que razoes se afirma que o conhecimento vulgar é acrítico, espontâneo e assistemático?
O conhecimento vulgar é acrítico, na medida em que é constituído
por um conjunto de crenças admitidas sem qualquer fundamentação racional. Nesse sentido, é um conhecimento: • Intuitivo – perceptivo, por provir especialmente da experiencia dos sentidos. • Dogmático, por aderir a opiniões correntes sem as examinar. • Baseado em preconceitos, fazendo generalizações a partir de ideias infundadas.
O conhecimento vulgar é espontâneo, na medida em que é adquirido
naturalmente nas vivencias do dia-a-dia. Nesse sentido, é um conhecimento: • Dado, por ser obtido sem esforço de elaboração racional. • Heterogéneo, por respeitar aos mais diversos assuntos da vida e do real. • Subjectivo, por reflectir os pontos de vista e motivações pessoais. • Ilusório, por traduzir aspectos enganosos das coisas, frequentemente indutores em erro.
O conhecimento vulgar é assistemático, por ser um amontoado
desorganizado de noções. Nesse sentido, é um conhecimento: • Sincrético, por respeitar a uma confusão de noções deficientemente delimitadas, misturadas umas com as outras. • Superficial, por tomar por real o que não é senão aparência.
8. Quais as diferenças fundamentais entre
conhecimento vulgar e conhecimento científico?
O conhecimento vulgar difere do conhecimento científico nos
seguintes aspectos: • O conhecimento vulgar é acrítico, isto é, intuitivo – perceptivo, preconceituoso e dogmático, enquanto o científico é crítico, ou seja, racional, autónomo e revisível. • O conhecimento vulgar é espontâneo, quer dizer, dado, subjectivo, heterogéneo e ilusório, enquanto o científico é metódico, isto é, construído, objectivo, homogéneo e positivo. • O conhecimento vulgar é assistemático, o que significa ser sincrético e superficial, enquanto o científico é sistemático, ou seja, especializado e rigorosamente estruturado.
9. Enuncie os principais momentos do método
científico.
Podem-se considerar cinco momentos no método científico:
• Observação de factos polémicos, isto é, que suscitam interrogações da parte do cientista. É o aparecimento de um problema. Trata-se de um momento mais racional que sensorial, dado a observação ser guiada já por conhecimentos prévios. • Colocação de hipóteses, que são explicações provisórias dos factos observados. Existindo em função destes, elas devem- se essencialmente à criatividade dos cientistas. • Dedução de consequências da hipótese. Este momento prepara a verificação, pois da hipótese se deduzem as consequências particulares que se destinam ao teste laboratorial. • Verificação das consequências, que é feita em laboratório, com o auxilio de instrumentos tecnológicos ou, nalguns casos, pela simples observação da ocorrência de fenómenos naturais. • Conclusão ou lei. Depois de as hipóteses resistirem ao teste da verificação, ficam “confirmadas”, o que autoriza a que vigorem como leis gerais, aplicáveis a todas as circunstâncias em que ocorram casos da mesma espécie de observados.
10. Qual o papel da hipótese no método científico?
A hipótese condensa todo o método científico, na medida em que
existe em função dos factos observados e acaba por ser a conclusão, no caso de a sua verificação a tornar efectiva. Ainda que o seu carácter provisório lhe retire algum valor, ela é de extraordinária importância ao guiar o cientista na elaboração do plano experimental a pôr em pratica para a validar. Se se verificar a sua falsidade, ela continua a ser indicação preciosa, pois, sabendo com certeza onde não reside a explicação, o cientista fica com o campo das novas hipóteses mais delimitado.
11. Por que se validam as hipóteses?
As hipóteses têm de ser validadas para deixarem o campo das meras
suposições. A comprovação é que vai transformá-las em conclusões ou leis que passam a vigorar como explicações dos problemas até que, eventualmente, surjam factos que as ponham em causa. Sem o processo de validação das hipóteses, a ciência reduzir-se-ia a um conjunto de lucubrações imaginárias, não credíveis pelas pessoas.
12. O que se entende por lei científica?
Lei científica é um enunciado universal que permite explicar os
acontecimentos naturais e prever a sua ocorrência.
13. Que problema filosófico se coloca a
propósito da validação das hipóteses?
A validação das hipóteses é uma fase crucial do método, pois é
decisória quanto à aceitação ou abandono daquelas. Resistindo a esta prova, a hipótese passa a ser aceite como lei ou teoria. O problema reside em saber se as leis ou teorias possuem um carácter de explicações definitivas ou provisórias. Por outras palavras, coloca-se a questão de saber se as leis científicas são válidas para sempre, ou só por algum tempo. O equacionamento filosófico deste problema é suscitado pela necessidade de explicar teorias que no passado eram consideradas credíveis e que, no entanto se viram ultrapassadas por outras diferentes ou mesmo contrárias.
14. Que se entende por verificacionismo?
O verificacionismo ou justificacionismo é a posição geral, assumida
tradicionalmente pelos filósofos e cientistas que crêem que o objectivo das experiencias laboratoriais consiste na verificação das hipóteses, a fim de que possam ser proclamadas como leis ou teorias verdadeiras a vigorar como explicações infalíveis e definitivas dos fenómenos a que respeitam.
15. Que objecção se levanta à tese
verificacionista?
A principal objecção que se levanta ao verificacionismo é a de que
observações laborais particulares não podem validar uma lei que é um enunciado geral. Assim, apesar de até ao momento as experiencias realizadas mostrarem que os corpos se dilatam quando aquecido, isso não significa que, no futuro, não possa vir a acontecer de modo diferente. Crer que experiencias particulares validem enunciados gerais é aceitar a falácia da afirmação do consequente como sendo uma forma valida de raciocínio.
16. Quais as ideias básicas do
falsificacionismo? O falsificacionismo ou refutabilismo é uma posição encabeçada por K. Popper, que, ao analisar logicamente o raciocínio tradicional dos verificacionistas, conclui que a ciência incorria na falácia da afirmação do consequente. De facto, as experiencias que confirmam as consequências particulares deduzidas da hipótese não autorizam logicamente a conclusão de que as hipóteses são validas. A verdade do que é particular não implica a verdade do que é universal. Logo, nunca se pode comprovar que as hipóteses são verdadeiras. Popper considera que as experiencias devem ser feitas, antes, com o objectivo de invalidar as hipóteses, a única coisa que se pode fazer com segurança. De facto, de acordo com a regra do modus tollens, a falsidade da consequência particular implica a falsidade da hipótese geral. Na perspectiva de Popper, em laboratório, só se pode obter a certeza de hipóteses falsas se não de verdadeiras. Quando as experiencias comprovam a hipótese, esta não é uma verdade segura, sendo simplesmente uma conjectura mais ou menos provável que deve continuar a ser submetida a provas de falseamento. As conjecturas manter-se-ão em vigor, enquanto não forem destituías pela ocorrência de factos particulares que as contradigam.
17. O que é um paradigma científico?
Segundo Khun, a ciência não se faz individualmente, mas em trabalho
de equipa. Para ingressar numa equipa ou comunidade científica, os investigadores têm de se entender uns com os outros, tarefa facilitada pela aderência ao que designa por paradigma ou matriz disciplinar. A matriz ou paradigma disciplinar refere-se a uma espécie de “constelação” de ideias, valores e técnicos compartilhada pelos membros da comunidade científica. Dela fazem parte as crenças professadas, os problemas que sentem, a linguagem que adoptam, os acordos que estabelecem quanto a procedimentos.
18. Estabeleça a distinção entre ciência normal
e ciência em crise.
Khun vê na história da ciência uma alternativa de períodos de ciência
normal e períodos de ciência em crise. Os primeiros, caracterizados pela estabilidade, são períodos de desenvolvimento cumultivo que se regem por determinados paradigmas ou matrizes disciplinares. Os segundos são marcados por revoluções em que as matrizes terão de ser substituídas por outras.
19. Relacione racionalidade e objectividade
científica.
Racionalidade e objectividade identificam-se no plano formal. O que é
racional, no seu sentido mais depurado, é algo de lógico, de não contraditório, de necessário e, por isso mesmo, impõe-se a todos como algo de objectivamente válido. O esforço do cientista em prol da objectividade, isto é, da validade universal, tem de se traduzir num esforço de racionalidade. Em ambos os casos, existe a libertação do subjectivo e do afectivo, do carácter enganoso dos sentidos, dos preconceitos, de tudo, enfim, que se constitua como obstáculo ao exercício da razão.
20. Que diferenças existem entre objectividade
forte e objectividade fraca?
A objectividade forte tem o significado que classicamente era
atribuído à objectividade, isto é, algo de verdadeiramente ajustado aos factos, à sua estrutura interna, traduzindo-os com fidelidade. Objectividade significava universalidade. A lei científica, porque expressão exacta do que existe de constante nos fenómenos, era tida como explicação definitiva e absoluta, tradutora do que neles há de essencial. A objectividade fraca tem o sentido de inter-subjectividade. É o acordo dos cientistas em relação a proposições que representam a verdade possível, conseguida com os meios humanos e técnicos actualmente disponíveis. Tais proposições apresentam carácter revisível, podendo ser reformuladas, mesmo substituídas por outras que se mostrem mais adequadas à tradução e explicação da realidade.
21. Relacione os conceitos de objectividade e
revisibilidade.
Objectividade e revisibilidade científicas relacionam-se mediante
conceito de objectividade fraca. A objectividade é um ideal a atingir pela ciência: ser universalmente válida, o que implica que os enunciados sejam coerentes e concordantes com os fenómenos. A objectividade assim entendida garantiria a posse definitiva da verdade, o que não passa de um ideal. Por sua vez, a revisibilidade é significativa de que não existem proposições científicas definitivas e irreformáveis, antes provisórias e sujeitas a revisão. A evidencia de conceitos científicos que têm de ser substituídos por outros leva a que os investigadores procurem pôr-se de acordo quanto à verdade das proposições científicas tradutoras dos fenómenos que fazem parte da sua área de trabalho. Por isso se tende a ver no conceito de objectividade forte um mero ideal, adoptando-se o conceito de objectividade fraca, referente à verdade das proposições e teorias resultante do consenso estabelecido numa comunidade de cientistas.