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As teorias do signo e as significações lingüísticas

Antônio Carlos da Silva1[1]

RESUMO: O presente artigo tem como principal objetivo apresentar um painel de


resultados obtidos a partir de estudos feitos sobre o signo e suas diversas
significações lingüísticas, com base nas teorias de Saussure, Hjelmslev, Barthes,
Borba, Peirce, Guiraud, Greimas, Bakhtin e Vigotsky, a fim de que seja possível
verificar a importância que têm o signo e suas emanações no estudo e na
compreensão da linguagem como elemento implementador das aspirações
lingüísticas e sócio-psico-ideológicas do homem.

PALAVRAS-CHAVE: signo, significante, significado, significação, semiótica,


semântica.

ABSTRACT: The present article shows a panel of results obtained from sign studies
and its several theoretical linguistic meanings by Saussure, Hjelmslev, Borba, Pierce,
Guiraud, Greimas, Bakhtin and Vigotsky; whereby, it can verify the importance of signs
and their emanations towards researches and understanding language as an enabling
element to linguistics aspirations and human social-psycho-ideological.

KEY-WORDS: sign, significant, significance, signification, semiotics, semantics.

1. Reflexão sobre os fundamentos semânticos e semióticos

Tendo em vista o estudo das diversas teorias do signo e suas significações, faz-
se necessária uma reflexão prévia sobre os fundamentos da Semântica e da Semiótica;
bem como as relações que cada uma delas tem com o tema em questão, o signo
lingüístico.

1[1]
. O autor é Licenciado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caetité –
Campus VI da Universidade do Estado da Bahia; é especialista em Metodologia e Didática do Ensino
Superior e em Língua Portuguesa pela União das Escolas Superiores de Cacoal. Atualmente é professor
de Língua Portuguesa e Coordenador do Curso de Letras da UNESC – Cacoal – RO. É organizador e
Coordenador do Infoletras e da Revista Literarius (publicações do Departamento de Letras da UNESC),
além de pesquisador, escritor e poeta.
1.1. O método semiótico tem por conceito fundamental o estudo do signo que,
conforme Saussure (2001), apresenta um primeiro elemento chamado significante,
caracterizado não por sua natureza material, mas como a imagem acústica, a impressão
psíquica do som, que pode desencadear um outro fenômeno psico-semiológico, o
significado, o segundo elemento constituinte do signo.
Saussure (2001), em seu Cours de Linguistique Générale, diz que a língua é o
mais importante dos sistemas de signos. Ele a considera o mais complexo e o mais
utilizado dentre os chamados sistemas de expressões sígnicas, mesmo sendo a língua,
para ele, apenas uma parte do universo semiológico. Ainda para Saussure, existe uma
ciência geral dos signos, da qual a Lingüística poderia ser tão somente uma subdivisão,
questão que será por nós elucidada com o apoio de Roland Barthes.
Para Charles Sanders Peirce (2000), a semiótica é constituída em três níveis: o
sintático, o semântico e o pragmático. O primeiro revela a relação que o signo tem com
o seu interpretante, o segundo diz respeito à relação existente entre o signo e o seu
referente (objeto) e o último se importa com a relação do signo com ele mesmo e com
outros signos.
É perfeitamente perceptível que a sociedade atual organiza-se em torno de um
grande e poderoso universo de signos, diga-se de passagem bastante complexo. De igual
modo, é também perceptível o estado absoluto em que se portam a linguagem humana e
seus signos de valor incondicional. Conforme Barthes (1991), nenhum outro sistema
com a mesma complexidade e grandeza foi observado em nosso espaço e tempo.
Dada a complexidade da linguagem humana, seus signos e respectivas
significações, Roland Barthes, além de definir a semiótica como sendo a ciência que se
ocupa do estudo de qualquer sistema de signo, considerando suas substâncias e/ou
limites, também refuta Saussure, quando diz que: “A Lingüística não é uma parte,
mesmo privilegiada, da ciência dos signos: a Semiologia é que é uma parte da
Lingüística; mais precisamente, a parte que se encarregaria das grandes unidades
significantes do discurso” (BARTHES, 1991, p. 13).
Embora acreditando que possa ser muito maior o universo do método
semiológico, tomaremos como suporte os elementos de Roland Barthes, como sendo
bastantes, a priori, para subtraírem da Lingüística cada uma das substâncias básicas e
necessárias “para permitir a preparação da pesquisa semiológica” (BARTHES, 1991, p.
13). Os Elementos de Semiologia foram agrupados por Barthes da seguinte maneira: I.
Língua e Fala; II. Significante e Significado; III. Sintagma e Sistema e IV. Denotação e
Conotação.
Assim sendo, torna-se possível perceber que o referido método de análise
semiótica é binário e trabalha com a idéia dicotômica dos elementos que, aparentemente
distintos, completam-se para formar o todo discursivo, dada a natureza dialética
existente entre eles.
1.2. Para definir o método semântico, necessário se faz antes definir semântica.
Segundo Pierre Guiraud (1980, p. 7), “semântica é o estudo do sentido das palavras”.
Guiraud (1980) apresenta três ordens principais de problemas que a semântica
tem que resolver em relação às análises dos diversos significados: primeiramente, um
problema psicológico – nesse caso ela deve solucionar questões e dar respostas a
perguntas que elucidam o signo e as relações intrínsecas do espírito dos interlocutores
de um discurso quando se comunicam; o segundo problema refere-se à lógica. Aqui, a
semântica precisa apresentar argumentos que dizem respeito à relação entre o signo e o
meio no qual ele é empregado. Deve descrever a situação propícia para um signo ser
aplicado e o que ele deve significar necessariamente quando relacionado com um objeto
no tempo e no espaço. Por último, a semântica deve solucionar os problemas
lingüísticos concernentes à significação, e estes são muitos, haja vista a complexidade
dos sistemas sígnicos, suas funções e formas.
A Semântica, conforme Guiraud, tem sido instrumento de três ciências distintas:
da psicologia, da lógica e da lingüística. O que neste trabalho nos interessa é o fato dela
constituir valioso instrumento para os estudos e análises dos sentidos e das significações
no âmbito da linguagem humana.
Assim sendo, “nossa ciência, assim definida, recobra um campo tão vasto que,
mesmo confinado aos estritos limites da língua, ultrapassa as fronteiras da lógica, da
psicologia, da teoria do conhecimento, da sociologia, da história etc.” (GUIRAUD,
1980, p. 12).

2. O Signo

Um signo é uma coisa que, além da espécie ingerida pelos


sentidos, faz vir ao pensamento, por si mesma, qualquer outra
coisa.
Santo Agostinho
É possível dizer que qualquer objeto, som, palavra capaz de representar uma
outra coisa constitui signo. Na vida moderna, todos nós dependemos do signo para
vivermos e interagirmos com o meio no qual estamos inseridos. Para o homem comum,
a noção de signo e suas relações não são importantes do ponto de vista teórico, mas ele
os entende de maneira prática e precisa. A utilidade do signo vai além do que
imaginamos: ao dirigirmos, por exemplo, precisamos constantemente ler e analisar
discursos transmitidos pelas placas de trânsito, pelas luzes do semáforo, pelas reações
do veículo ao meio ambiente etc. O homem intelectualizado não vive sem o signo,
precisa dele para entender o mundo, a si mesmo e às pessoas com as quais mantém
relações humanas.
As noções de signo são muito mais amplas e discutíveis do que podemos
imaginar; todavia, no presente trabalho nos limitaremos à análise de algumas
considerações referentes ao signo lingüístico que, doravante, constituirá o nosso
principal objeto de estudo.

2.1. O signo dicotômico de Saussure

Para Saussure (2001, p. 80-1), “o signo lingüístico é, pois, uma entidade psíquica
de duas faces”, é ainda “a combinação do conceito e da imagem acústica”. Para
entender melhor analisemos o gráfico abaixo:

Fig. 01

Embora as palavras conceito e imagem possam designar oposição, Saussure


resolveu substituí-las por significado e significante, acreditando que tais palavras
pudessem expressar com maior clareza a idéia de oposição entre os principais elementos
do signo: conceito e imagem. Para facilitar a compreensão, apresentaremos mais um
gráfico abaixo:

Fig. 02

O significante é a apresentação física do signo, de forma sonora e/ou imagética.


Se considerarmos o exemplo dado no gráfico acima, diremos que a imagem acústica da
palavra “sapo” é o significante para todos os fins.
O significado é o conceito que permite a formação da imagem na mente de um
indivíduo quando ele entra em contato com o significante; portanto, a representação do
sapo na figura 02 é o que podemos chamar de significado.
Com isto é possível dizer que o signo é o resultado de um conjunto de relações
mentais. Há em cada signo uma idéia ou várias idéias, de acordo com o contexto, com a
leitura ou com o leitor e seu estado emocional. O signo, para Saussure, é um elemento
binomial, a sua natureza é dicotômica. O significado e o significante traduzem as pontas
da bifurcação do signo, agem dialeticamente, embora sua relação de reciprocidade seja
considerada pelo próprio Saussure como arbitrária. Não é possível admitir a existência
do significante sem o significado e vice-versa, assim como não é possível estabelecer ou
definir um elemento de relação objetiva entre o conceito e sua imagem acústica. Para
explicitar melhor o nosso raciocínio, tomaremos como elemento de inteligibilidade o
exemplo que se segue: o animal classificado como batráquio da ordem dos anuros que,
como a maioria dos anfíbios, desenvolve-se na água, apresentando, quase sempre, na
fase adulta, hábitos terrestres, só procurando a água na época da reprodução, poderia ter
outro conceito diferente daquele atribuído a si: sapo. Qual é a relação entre a imagem
acústica e o conceito? São questionamentos como esses que realçam e justificam a idéia
de arbitrariedade do signo lingüístico. Esta questão da arbitrariedade, por sua
complexidade e excelência, merece ser tratada num trabalho posterior a este que se
predestina, tão somente, a estabelecer as diversas visões sobre o signo lingüístico e suas
significações.

2.2. O signo e suas significações em Hjelmslev

Embora a teoria do signo vista pela óptica de Saussure parecesse suficiente para
a análise dos elementos sígnicos do discurso, ao longo dos tempos percebeu-se que o
significante e o significado sem a significação que o contexto lhes atribui não poderiam,
por eles mesmos, responsabilizar-se por uma análise absolutamente perfeita. Por isso é
que a seguir apresentaremos a teoria das significações, vista em seu teorizador. Para
Hjelmslev (1975, p. 49), o signo que representa algo, tradicionalmente considerado, “é
de definição realista e imprecisa”, haja vista que a natureza das significações pode
alcançar profundidades interpretativas e analíticas muito mais extensas e extraordinárias
que aquela apresentada pela lingüística tradicional. Para Hjelmslev, o signo que se
define por uma função é um signo que se opõe a um não-signo, ou seja, é um signo que
funciona, que designa e que significa, é, acima de tudo, “um signo portador de uma
significação” (HJELMSLEV, 1975, p. 49).
O signo não pode ser considerado um elemento de natureza vazia, ou seja, um
signo frívolo, sem significação. Os signos, quando analisados fora de um contexto, são
apenas signos que nada ou quase nada significam, tendo em vista que sua máxima
realização dá-se pela relação que mantêm com outros signos dentro de um dado
contexto. Uma palavra pode ser considerada o contexto de um signo menor que ela, mas
que, por sua natureza significativa e pela organização e relação que estabelece com
outros signos menores, pode significar tanto quanto, ou muito mais que uma palavra
quando empregada como elemento menor de um contexto maior que a sua natureza.
Veja o que diz Hjelmslev:

As palavras não são os signos últimos, irredutíveis, da


linguagem, tal como podia deixá-lo supor o imenso interesse
que a lingüística tradicional dedica à palavra. As palavras
deixam-se analisar em partes que são igualmente portadoras de
significações: radicais sufixos de derivação e desinências
flexionais. (HJELMSLEV, 1975, p. 49)

Com base no exposto, podemos fazer a seguinte análise: a forma verbal


“estudássemos” é um signo menor em relação ao contexto a que pode pertencer, ou seja,
quando empregada na frase, a exemplo: “Se estudássemos mais, passaríamos nos
exames”. A frase, nesse caso, é um signo maior em relação à palavra “estudássemos”,
que pode ser entendida como o contexto de signos menores contidos nela. Veja: em
(estud-á-sse-mos), da esquerda para a direita, podemos classificar os elementos
significativos da palavra e apresentar a significação contida em cada um deles. O
primeiro elemento significativo classifica-se como radical e contém a significação
lexical do ato de aplicar a inteligência; o segundo é a vogal temática e tem como função
indicar a que conjugação pertence o verbo; a terceira é a desinência verbal modo-
temporal e tem como função a indicação do tempo pretérito e do modo subjuntivo,
expressando, portanto, uma ação hipotética que poderia ocorrer no passado; finalmente,
o quarta elemento significativo é também uma desinência verbal, cuja função é
expressar o número e a pessoa do discurso.
A idéia da significação fica mais clara quando analisamos um dado signo fora e
dentro do seu contexto. Tomando a palavra manga como corpus, podemos ver que nem
sempre é possível relacionar o signo a sua significação, tendo em vista o seu
esvaziamento de sentido, em virtude do emprego solitário. Manga, em língua
portuguesa, é uma palavra que pode ter, dentro de um dado contexto, significação
diferente daquela que teria quando aplicada em outros contextos. A manga, peça do
vestuário é diferente de manga, o fruto que também é diferente de manga, a terceira
pessoa do presente do indicativo do verbo mangar. Outras incidências significativas do
signo manga poderão ser observadas mais adiante quando trataremos do signo em
Borba. Sobre o assunto, Hjelmslev diz que:

Considerado isoladamente, signo algum tem significação. Toda


significação de signo nasce de um contexto, quer entendamos
por isso um contexto de situação ou um contexto explícito, [...].
É necessário, assim abster-se de acreditar que um substantivo
está mais carregado de sentido do que uma preposição, ou que
uma palavra está mais carregada de significação do que um
sufixo de derivação ou uma terminação flexional.
(HJELMSLEV, 1975, p. 50)

É bom ressaltar aqui que os fonemas e as sílabas não podem ser considerados
como elementos significativos, ou seja, como expressões de signos. Hjelmslev (1975)
trata-os como partes das expressões de signos e mais tarde, em sua teoria, denomina-os
formas. Segmentando a palavra meninas em menin-a-s, o “a” e o “s” são fonemas, mas
também são desinências nominais que indicam, respectivamente, o gênero feminino e o
número plural do substantivo. Já na palavra sapo, o /s/ e o /a/ são apenas fonemas, não
podendo, portanto, ser considerados expressões de signos, mas tão somente partes de
uma expressão de signo. Hjelmslev pensa a respeita que:

Tais considerações levam-nos ao abandono de uma tentativa de


análise em “signos”, e somos levados a reconhecer que uma
descrição que esteja de acordo com nossos princípios deve
analisar conteúdo e expressão separadamente, cada uma destas
análises isolando finalmente um número limitado de grandezas
que não são necessariamente suscetíveis de serem comparadas
com as grandezas do plano oposto. (HJELMSLEV, 1975, p. 51)

Por fim, Hjelmslev considera que uma língua, dada a sua natureza significativa
muito mais complexa e subjetiva do que aquilo que se imagina, não deve ser pensada
como um sistema de signos, tendo em vista a sua riqueza em sistemas de figuras que,
antes de qualquer coisa, serviriam para formar signos. Dizer que a linguagem é um
sistema de signos é desconsiderar a sua essência mais profunda, é deixar de mergulhar
nas micro-significações desencadeadoras das macro-significações contextuais que, ao
longo dos tempos, responsabilizaram-se pelos registros e pelas transformações do
homem em sociedade e em si mesmo.

2. 3. O signo em Roland Barthes

Inicialmente, para Barthes, o signo é composto de um significante e de um


significado, conforme prenunciou Saussure, e ele acrescenta que “o plano dos
significantes constitui o plano de expressão e o dos significados o plano de conteúdo”
(BARTHES, 1991, p. 43).
2.3.1. Barthes (1991) define o significado como a representação psíquica de uma
“coisa” e não a “coisa” em si. Para fundamentar isso ele retoma Saussure, queste
chamou primeiramente o significado de conceito, reconhecendo aí o valor psíquico que
ele intrinsecamente carrega. Para clarear ainda mais o raciocínio de Barthes, tomaremos
como exemplo a famosa pintura A traição das imagens2[2] de René Magritte:

Fig. 03

Ceci n’est pas une pipe. E de fato não é um cachimbo. A mente pode trair os que
não lêem os signos como devem ser lidos. O significado da palavra cachimbo não é o
objeto cachimbo, mas a representação gráfica do objeto, sua imagem psíquica. O
significado expresso no quadro de Magritte pode ser lido e segmentado de várias
maneiras, conforme as diferenças culturais de um dado leitor. Com base nisso,
tomaremos Barthes novamente quando diz que “vários corpos de significados podem
coexistir num mesmo indivíduo, determinando, em cada um, leituras mais ou menos
‘profundas’”. (BARTHES, 1991, p. 47).
2.3.2. Para Barthes (1991), o significante pode ser analisado com as mesmas
observações que ele coloca para o significado, apenas com a diferença de ser o
significante um elemento mediador que se comporta como gerador, ou seja,
materializador da figura do objeto, o significado.
2.3.3. Por fim, Barthes (1991, p. 52) diz que “a significação pode ser concebida
como um processo; é o ato que une o significante e o significado, ato cujo produto é o
signo”. A significação, como elo de ligação entre o significante e o significado, não
constitui uma teoria nova, ou seja, quando Barthes discute o assunto embasa-se em
autores que o discutiram anteriormente, a exemplo de Hjelmslev e Lacan, retomado por
Laplanche e Laclair.

2[2]
. Disponível em: <http:// www. Surrealismo.net>. Acesso em 25 de abr. de 2003.
Assim como o significado é o conceito do signo e o significante a sua
representação acústica, a significação é, em tese, o fator psico-sindético entre eles. Todo
significante pode ter o seu significado prognosticado, de modo falso e/ou verdadeiro;
todavia, isso não pode constituir exatidão, pois a perfeita relação entre o significante e o
significado só será verificada em parte pelo contexto, em parte porque outros fatores
deverão ser levados em conta, tais como as relações extralingüísticas espaço/tempo e
sintonia entre interlocutores. Para esclarecer melhor o que estamos demonstrando,
daremos o seguinte exemplo: no campo das metáforas, da homonímia e das polissemias,
encontramos férteis modelos. Vejamos:

CAVALO – Campo das metáforas e comparações


(01) Ele compareceu montado no belo cavalo.
(02) Ele é um cavalo pela atitude que tomou.

MENTE – Campo das homonímias


(01) Rastreou a própria mente e nela nada encontrou.
(02) Por não saber da verdade, ela mente.

DOBRAR – Campo das polissemias


(01) Dobrou apenas uma folha de papel e acreditou estar cansado.
(02) Mal dobrou a esquina, enfartou, caiu e morreu.

Segundo Barthes (1991) o signo tem caráter arbitrário e só se realiza por associação
nos atos de fala. Nos três exemplos dados, as palavras cavalo, mente e dobrar
isoladamente não poderiam ser realizadas lingüisticamente, mas, quando aplicadas
dentro de um dado contexto, elas ganharam o que estamos aqui chamando de
significação, ou seja, o significado e o significante harmonizaram-se, convergiram.

St ↔ Sd


Podemos dizer que a significação é o elo de ligação entre o significante e o
significado, ou que a significação é a fusão do significante ao significado por meio de
um contexto bem definido. E com isso, concluímos mais um tópico deste trabalho, ao
apresentarmos a visão de Barthes a respeito do signo.

2.4. O signo contextualizado de Borba

O signo lingüístico transmite (ou veicula) uma informação


servindo-se de uma parte material e perceptível associada a
uma parte imaterial e inteligível. A parte sensível é o
significante e a parte não sensível é o significado. (BORBA,
1998, p. 19)

Como podemos observar na citação anterior, para Borba o signo é um elemento


de cunho primordial na veiculação do discurso lingüístico e também se apresenta de
forma binomial, ou seja, divide-se em significante e significado. Assim:

O signo também é arbitrário na medida em que cada sistema


lingüístico adota como pertinentes ou não determinadas
características que constituirão as classes de significantes e
significados que utiliza. (BORBA, 1998, p. 19)

Nesta questão da arbitrariedade do signo, Borba concorda com Saussure, mas


acredita na indissolubilidade das formas lingüísticas, uma vez que “o significante sem o
significado é apenas um objeto, que existe, mas não significa e o significante sem o
significado é indizível, impensável e inexistente”. (BORBA, 1998, p. 19)
Enquanto Saussure trata do signo como um elemento em si mesmo sem
apresentar suas características discursivas, Borba trata da sistematização do signo, ou
seja, ele diz que nenhuma palavra em “estado de dicionário” apresenta valor discursivo,
mesmo comportando as suas significações lingüísticas: significante e significado.
O signo analisado isoladamente é um elemento hermético, mas quando é
aplicado dentro de um contexto, seu significante ganha, além de um significado, a
competência de poder significar mais de um significado de acordo com as exigências
discursivas:

(1) Fui à feira e comprei uma gigantesca manga-rosa.


(2) Ele conseguiu rasgar a manga da camisa.
(3) Os bois foram levados para a manga do alagadiço.
(4) Por sua natureza escarnecedora, André manga de todos os amigos.
(5) Marta usou uma grande manga para aguar o jardim.
(6) Não conseguiu passar o pavio na manga do lampião.
(7) Nenhum resíduo passou com o licor, graças à eficiência da manga.
(8) Ao longe, era possível ver uma manga de soldados.
(9) Mandaram-no trocar apenas a manga do eixo, mas nada fez o dia todo.
(10) Estava na estrada e foi surpreendido pela manga que o acabou
ensopando.

Se o nosso objetivo aqui fosse apresentar os diversos significados da palavra


manga, certamente, encontraríamos muito mais que os apresentados acima. Mas
analisando cada significante destacado nos enunciados acima, é possível perceber, com
clareza, a existência de um significante para dez diferentes significados. No primeiro
caso o significante manga refere-se ao fruto da mangueira; no segundo, tem referência
direta com a parte do vestuário que cobre os braços; em (3), refere-se a uma roça de
capim, onde bovinos, eqüinos, ovinos, asininos e caprinos pastam; em (4), trata-se da
terceira pessoa do singular do verbo mangar; em (5), manga é o mesmo que mangueira;
em (6), refere-se a uma peça do lampião por onde passa o pavio; em (07), trata-se de um
filtro cônico para filtrar líquidos; em (8), pode significar grupo, ajuntamento, turma; em
(9), significa peça do motor que se localiza na caixa de graxa e em (10) o significante
tem como significado uma tromba d’água.
Com isso, é possível perceber que o valor do signo transcende as significações
dicotômicas de Saussure. É perfeitamente perceptível o valor discursivo do signo,
quando analisado além do significante e do significado. O signo, ao interagir com outros
signos, dentro de um dado contexto, pode, na sua explosão máxima, emitir as mais
diversas e surpreendentes significações, além de outras desejadas pelo emissor.
Por fim, vale ainda ressaltar que o signo pode ser analisado segundo três
aspectos básicos. São eles: o sintático, o semântico e o pragmático.
O sintático responsabiliza-se pela relação diplomática dos signos dentro de um
contexto, possibilitando, desta forma, ver que nenhum signo existe por si e em si
mesmo. “Um signo só funciona quando ajuda o intérprete a explicar algo e isso só pode
ser expresso com referência a outros signos” (BORBA, 1998, p. 21).
O valor semântico do signo dá-se pela relação sintática que ele exerce com outro
signo dentro do contexto, e tal relação deve ser a mais harmônica possível. “A
semântica focaliza a relação dos signos com os objetos que eles realmente denotam ou
podem denotar” (BORBA, 1998, p. 21).
Para Borba (1998, p. 21), “a pragmática trata da relação dos signos com seus
intérpretes”. O valor pragmático do signo está intimamente relacionado com a forma de
interação que ele apresenta, ao ser proferido ou captado, com os interlocutores de um
dado discurso.
Em síntese, o signo é o fio alimentador de uma teia chamada discurso. O signo
deve ser organizado e relacionado sintaticamente com outros signos, com o intuito de
comportar significações semânticas desejadas pelo discurso inicial; bem como ser
permeado de intenções pragmáticas, objetivadas pelo discurso final, pleno e ideológico.

2.5. O signo tricotômico de Peirce, lido em Peirce e em Walther-Bense

2.5.1. O signo e suas relações triádicas

Para Peirce (2000, p. 46): “Um signo, ou representâmen, é aquilo que, sob certo
aspecto ou modo, representa algo para alguém.”
A teoria do signo em Peirce é uma renovação de tudo o quanto já foi discutido e
teorizado em relação ao assunto. A idéia do signo pelo signo e do significante que tem
um certo significado fica obsoleta quando Peirce analisa o representâmen segundo as
suas relações triádicas: o representâmen, o objeto e o interpretante.
Conforme Peirce (2000), o representâmen é o signo primeiro, pode-se dizer que
é o signo como tal, o objeto é a representação do signo e o interpretante a consciência
intérprete do signo, ou seja, o seu significado. Todo signo gera um outro signo fruto da
mente e é isto que Peirce chama de interpretante.
Walther-Bense (2000, p. 4), ao discorrer sobre a teoria de base de Peirce, no
capítulo “O signo como relação triádica”, em sua obra A Teoria Geral dos Signos, diz:
“Um signo é, portanto, uma tríade de referências, ou uma relação triádica. Se esse algo
não apresenta essas três referências, então não se trata de um signo completo.”
A fim de criarmos uma representação visual das relações triádicas do signo em
Peirce, tomaremos as fórmulas de Max Bense e a interpretação de Walther-Bense, as
quais se seguem respectivamente em (01) e (02).
(01) è S = R (M, O, I)
(02) è RS = [(M ==> O) ==> I] ou então
RS = (M ==> O. ==> I)3[3]

Na representação (01) de Max Bense, a fórmula deve ser lida da seguinte


maneira: o signo (S) é igual às relações do signo em si mesmo (M), em seu objeto (O) e
em seu interpretante (I). Já para Walther-Bense, a fórmula deve ser lida: A relação
sígnica (RS) é igual a (M), o signo como tal, que gera (O), a “referência ao objeto”, que
gera (I), o interpretante.
Para justificar as relações anteriormente expostas e a máxima obediência à
ordem seqüencial das fórmulas, Walther-Bense afirma:

Com essa escrita fica de pronto evidente que a relação sígnica


deve ser concebida como uma “tríade ordenada” e que esse
ordenamento não deve ser transgredido. Por outro lado, fica
evidente que a referência ao meio representa uma primaridade,
a referência ao objeto uma secundaridade, a referência ao
interpretante uma terciaridade. Com base nisso também
podemos dessumir: nenhum signo é independente de um
interpretante, isto é de um intérprete, ou melhor, apenas um
intérprete pode introduzir, propor uma signo ou explicar algo
como signo. (2000, p.5)

2.5.2. A primeira tricotomia4[4] do signo

Peirce divide o estudo dos signos em ramos diferentes para fins de análise: a
primeira tricotomia trata do signo em si mesmo, a segunda refere-se às relações que o
signo tem com o seu objeto e a terceira apresenta as relações entre o signo e o seu
interpretante.

3[3]
apud. WALTHER-BENSE, Elisabeth, 2000, p. 5.
4[4]
Divisão de um tema em três partes lógicas, para efeito de estudos.
A primeira tricotomia é aquela em que o signo funciona com referência ao meio
e está dividida seqüencialmente em três partes chamadas por Peirce de quali-signo, sin-
signo e legi-signo.5[5]
2.5.2.1. O quali-signo (qualidade), segundo Peirce (2000), refere-se aos aspetos
qualitativos do signo. Cada estado material do signo ou cada fenômeno, que nele tem a
função de apresentar um caráter, é um quali-signo. Quando mudamos a dimensão, a cor,
o volume de um dado signo, o quali-signo nunca é o mesmo, o que podemos deduzir:
com a mudança de um quali-signo, o signo sofre alterações e passa a ser um signo novo,
ou seja, semelhante ao primeiro e não ele mesmo. Para clarear, tomemos como exemplo
as cores: o preto, na maioria das culturas ocidentais, indica luto, assim como o branco
representa a paz. O quali-signo possui aspetos sensoriais, pois pode ser percebido
gustativa, olfativa, tátil, auditiva e visualmente. Vejamos um outro exemplo: uma maçã
vermelha e aparentemente cheia de viço é um fruto próprio para o consumo; já a mesma
maçã murcha e de tonalidade escurecida não deixa de ser maçã, mas é uma maçã podre
e imprópria para o consumo. Este fenômeno pode ser percebido olfativa e visualmente.
2.5.2.2. O sin-signo (singularidade) está, conforme Peirce (2000), relacionado
com a permanência do signo no espaço e no tempo. Todo signo é particular, é
autônomo, porque goza de leis próprias para a sua organização e potencial de
significação. Veja o que afirma Walther-Bense:

O signo depende de determinados quali-signos implicados tanto


no espaço quanto no tempo. Por exemplo, determinada palavra
numa linha determinada de uma determinada página de um
determinado livro é um sin-signo, ainda que existam 10.000
exemplares desse livro no qual ela apareça. (2000, p. 12)

2.5.2.3. O legi-signo (lei), em Peirce, é o signo empregado consoante as normas


que o regem. Trata-se da convenção do signo num dado tempo e espaço. Para
exemplificar o legi-signo, podemos tomar as palavras de Walther-Bense:

São signos usados segundo as normas, por exemplo, as letras


do alfabeto de uma língua, as palavras de uma língua, os signos
matemáticos, químicos, lógicos nas ciências, os sinais de
5[5]
Segundo PEIRCE, Semiótica, 2000, p. 52.
trânsito, os signos meteorológicos, os da rosa dos ventos, os
algarismos do relógio, os graus dos termômetros. (2000, p. 13)

2.5.3. A segunda tricotomia do signo

Na sua segunda tricotomia, Peirce (2000, p. 52) apresenta o signo que pode ser
denominado como ícone, índice ou símbolo6[6].

2.5.3.1. O ícone segundo Peirce (2000, p. 52) “é um signo que se refere ao


objeto que denota apenas em virtude de seus caracteres próprios, caracteres que ele
igualmente possui quer um tal ojeto realmente exista ou não”.A palavra ícone vem do
grego e quer dizer imagem, por isso, quando representamos algo por meio de uma
imagem (desenho), estamos utilizando um ícone. Como exemplo, podemos tomar certas
placas de trânsito icônicas, ou seja, aquelas que representam travessia de pedestres (um
homem estilizado dando um passo a frete), linha férrea (imagem dos dormentes
cruzados por duas linhas paralelas). Conforme Walther-Bense (2000, p. 15), “são signos
icônicos, por exemplo, os retratos, os padrões, as estruturas, os modelos, os esquemas,
os diagramas, as metáforas, as comparações, as figuras, as formas (lógicas, poéticas
etc)”.
2.5.3.2. O índice, conforme Peirce (2000, p. 52), “é um signo que se refere ao
objeto que denota em virtude de ser realmente afetado por esse objeto”. O índice é,
portanto, um signo de referência a um dado objeto e/ou objetivo. Um bom exemplo
disso é o dedo indicador da mão que é usado para fazer uma referência direta a alguém
ou a alguma coisa. Trata-se da indicação de um caminho no espaço e no tempo. O
marcador de páginas de um livro é o indicativo da página em que você parou de ler ou
marcou para encontrar algo importante, isto é um índice. Podemos ainda mencionar as
placas de trânsito de indicação viária (setas), o pisca-pisca dos automóveis que são
usados como indicativo do movimento escolhido pelo motorista para virar, se para a
direita ou para a esquerda. O índice de uma dada obra é o indicativo dos conteúdos e as
páginas em que estão. No tempo, como índices referenciais, podemos fazer menção à
importância que têm as datas em relação aos acontecimentos: 22 de abril de 1500 é um
índice em relação ao descobrimento do Brasil pelos portugueses.

6[6]
. Segundo PEIRCE, 2000, 52. Semiótica.
2.5.3.3. O símbolo para Peirce (2000, p. 52) “é um signo que se refere ao objeto
que denota em virtude de uma lei, normalmente uma associação de idéias gerais que
opera no sentido de fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo àquele
objeto”. Vezes e vezes, o objeto não parece com sua representação; a associação do
signo ao objeto geralmente é instituída ao longo do tempo, por meio de uma assimilação
cultural. Numa rodovia, o motorista, ao ler uma placa de indicação viária, está fazendo a
leitura de um índice, mas se ao lado da placa for vista por ele uma cruz, estará fazendo a
leitura de um símbolo. A cruz está simbolicamente relacionada à morte. O motorista
poderá entender que naquele lugar ocorreu uma morte.

2.5.4. A terceira tricotomia do signo

A terceira tricotomia de Peirce diz respeito ao interpretante. Todo signo está


para um objeto, assim como todo objeto está interpretante para um intérprete. A última
das três tricotomias está em Peirce dividida da seguinte forma: rema, dicente e
argumento.7[7]
2.5.4.1. Em Peirce (2000, p. 43), um “rema (signo singular) é um signo que, para
seu interpretante, é um signo de possibilidade qualitativa, ou seja, é entendido como
representando esta e aquela espécie de objeto possível”. Como elemento clareador do
rema, podemos dizer que na frase As rosas são vermelhas, o predicativo – são
vermelhas – é um rema, pois trata-se da interpretação que o intérprete faz de uma
qualidade singular do signo.
2.5.4.2. Ainda para Peirce (2000, p. 52), “um signo dicente8[8] é um signo que,
para seu interpretante, é um signo de existência real”. Para esclarecer melhor a idéia do
signo dicente, tomaremos as palavras de Walther-Bense (2000, p. 52): “Na arquitetura,
a fachada de um prédio, que representa efetivamente uma unidade fechada e como tal
pode ser julgada ou afirmada, é um dicente”. O dicente é uma proposição, trata-se de
um signo que provoca e desperta uma reação crítica no intérprete. Por fim, pode-se
dizer que é a interpretação particular do leitor de um signo, seja ela negativa, seja
positiva. Com base nas afirmações anteriores, ainda podemos dizer que uma cerca é um
signo dicente, pois ela indica que o transeunte não pode passar daquele ponto. Já uma
porta aberta pode ser um convite, ou não – quiçá uma armadilha.

7[7]
Conforme PEIRCE. Semiótica, 2000, p. 53.
8[8]
Dicente vem do latim dicere – dizer.
2.5.4.3. Por fim, Peirce (2000, p. 53) apresenta e define o último elemento de sua
terceira tricotomia: “Argumento é um signo que, para seu interpretante é signo de lei”.
O argumento é o juízo verdadeiro que o interpretante faz do signo, portanto se
dissermos que um elemento “R” é igual a soma de um elemento “X” mais um elemento
“Y”, ou seja, (R = X + Y), estamos construindo um signo argumento, porque podemos
dizer que a soma de X mais Y é igual a R, ou seja, (X.+ Y = R). Com isso, é possível
perceber que o argumento que expressa verdades, ou juízos verdadeiros. É possível
construir o seguinte exemplo: Pedro está com uma doença “A”; Pedro morrerá porque a
doença é mortal e não possui cura. De posse destas informações, podemos deduzir que
todas as pessoas com a mesma doença “A” morrerão, porque ela é mortal. Peirce (2000,
p. 57) ainda diz: “Um argumento é um signo cujo interpretante representa seu objeto
como sendo um signo ulterior através de uma lei, a saber, a lei segundo a qual a
passagem dessas premissas para essas conclusões tende a ser verdadeira”.
Poderíamos escrever muito mais sobre a teoria triádica de Peirce; contudo,
aprofundar os estudos das teorias peircianas não é o nosso objetivo neste trabalho.
Muito mais poderia ter sido dito, exemplificado e esclarecido, mas para isso seria
necessário um trabalho de muito maior fôlego e amplitude que o proposto por nós ao
elaborarmos o nosso plano de ação.

2.6. O signo em Pierre Guiraud

Para Pierre Guiraud (1980, p. 15), “o signo é portanto um excitante – os


psicólogos dizem um estímulo, cuja ação sobre o organismo provoca a imagem
memorial de um outro estímulo; a nuvem evoca a imagem da chuva, a palavra evoca a
imagem da coisa”. Ainda para Guiraud (1980), os signos podem ser naturais ou não-
naturais. Os naturais são aqueles que têm relação direta com a natureza e seus
fenômenos naturais, a exemplo das nuvens carregadas que denotam chuva. Os signos
não-naturais (artificiais) são os criados pelo homem e/ou pelos animais de modo geral, a
exemplo dos códigos e símbolos usados para denotarem coisas e fenômenos. Guiraud
divide os signos em quatro grandes categorias, a saber: 1. os signos naturais
identificados e classificados pela ciência; 2. os signos de representação ou imagem
(quadros, fotografias etc); 3. os signos de comunicação ou símbolos que podem ser
associados ao processo de comunicação (letras, números etc) e 4. os signos de
comunicação icônico-simbólicos, tais como a moda, simbologias religiosas etc.
Conforme Guiraud (1980, p. 22), o signo é formado de duas partes, significante
e significado, as quais possuem uma relação psíquica bastante estreita entre elas:

Há portanto uma associação psíquica bipolar que compreende


dois termos: a forma significante e o conceito significado; e
duas fases: a evocação do nome pela coisa e a da coisa pelo
nome; o processo é recíproco.

Por último, Guiraud não apresenta uma palavra para conceituar a relação entre o
significante e o significado, todavia não descarta a existência de tal elemento gerador de
uma associação recíproca entre os elementos da significação lingüística. Veja o que ele
escreveu sobre o assunto em questão: “É o estado da língua que determina os valores da
palavra, valores que são exatamente as possibilidades de relação que definem um campo
de emprego no discurso”. (GUIRAUD, 1980, p. 26)

2.7. As significações semânticas de Greimas

Em Greimas (1973), o signo não é definido como tal, ou seja, ele não apresenta
nenhuma terminologia que possa representar o conjunto das significações, como
fizeram Saussure, Hjelmslev, Peirce, Borba, Bakhtin entre outros. Mesmo não
apresentando um rótulo para designar um ponto no qual residem o significante e o
significado, Greimas coloca as duas terminologias dentro de um conjunto abstrato,
quando pressupõe a inexistência de um sem o outro e do outro sem o um. Se o
significado não é possível sem o significante, então eles se inter-relacionam,
completam-se, referem-se e, por natureza semântica, devem ser semas de um semema. É
lógico que o nosso objetivo aqui não é questionar por que Greimas deixou de lado a
nomenclatura signo e firmou-se apenas nas significações: o significante e o significado,
criados por Saussure e aperfeiçoados pelos semioticistas ulteriores a ele. Assim sendo,
nesta parte do nosso trabalho, centraremos então na definição de significante,
significado e significação.
2.7.1. Para Greimas (1973, p. 17), significantes são “os elementos ou grupos de
elementos que possibilitam a aparição da significação ao nível da percepção”, e
significados são o conjunto das “significações que são recobertas pelo significante e
manifestadas graças à sua existência”.
Greimas (1973), além de definir, apresentou uma classificação para os
significantes, conforme a ordem sensorial pela qual eles podem se apresentar. As
classificações podem ser de ordem:
è Visual – É possível determinar algo por meio de um sinal indicado, como o
polegar direito, um muxoxo produzido com leve ou brusca torção da face, por meio da
própria língua escrita e seus padrões etc.
è Auditiva – A língua oral é, talvez, o exemplo mais indicado; todavia, outros
significantes significativos podem ser aludidos, tais como: a música, as buzinas, sirenes
etc.
è Tátil – O braile9[9] é o melhor dos exemplos do significante tátil-sensitivo; por
outro lado, as carícias constituem também exemplos de fácil compreensão.
è Olfativa – Qualquer indivíduo em seu estado natural e sem quaisquer
problemas no sistema olfativo pode diferenciar as rosas das angélicas sem vê-las.
è Gustativa – Neste caso, podemos citar os degustadores que ganham a vida
experimentando e classificando alimentos com o auxílio do paladar apurado que têm. O
gosto de uma maçã, por exemplo, é diferente do gosto de um morango.
Como ressaltamos anteriormente, Greimas não admite a classificação de nenhum
significado sem um significante e, para clarear seu ponto de vista, ele apresenta um
conjunto de três relações que abaixo interpretamos:
2.7.1.1. Significantes de uma mesma ordem sensorial – podem constituir um
outro significante autônomo, ou seja, podem ser pequenos semas que compõem
conjuntos de sememas que podem significar estruturas ((mais) ou menos) complexas e
diferentes. Por exemplo: cada nota musical é um sema, o conjunto das notas forma um
semema, o semema organizado forma o sistema de uma música, e a música, pelos
elementos de um dado discurso, pode ser reconhecida e diferenciada de outra música,
exatamente pelo conjunto de semas que a compõem.
2.7.1.2. Significantes de natureza sensorial diferentes – podem referir e indicar
uma mesma significação. É o caso da língua oral e da língua escrita. Veja: O
significante oral /meza/ e o significante gráfico “mesa”, este percebido pelo sistema
sensorial visual e aquele pelo sentido auditivo dentro de um dado contexto, podem
possuir a mesma significação.
2.7.1.3. Significantes de várias procedências sensoriais – podem ser
interferentes num dado processo de construção de significações discursivas. Como
9[9]
Sistema de escrita e impressão para cegos, criado pelo francês Louis Braille.
exemplo, podemos tomar a comunicação humana que, geralmente, é constituída de
significantes orais, escritos e demonstrações gestuais. Pode-se assim dizer que esta
incidência é a habilidade humana em certificar-se da perfeita interpretação da
mensagem pelo interlocutor-receptor.
Com o conteúdo acima exposto, procuramos apresentar a visão de Greimas
sobre as significações e as relações que elas têm ao interagirem na formação dos
significados discursivos. Estudar Greimas não é apenas apresentar a sua visão de
significações, mas mergulhar nas suas profundas definições semântico-analíticas,
propósito que deverá constituir um novo projeto de estudos. Por enquanto, ficaremos
apenas nas considerações que apresentamos, isto porque o nosso propósito era
realmente apresentar de modo sucinto a visão de significações do autor em contraste
com outras visões emanadas de autores diferentes e que comportam pontos de vista
outros.

2. 8. As significações à luz da psicologia: palavras de Vigotsky

Ao desenvolver a teoria de análise das relações multifaces entre o pensamento e


a linguagem, Vigotsky (2000) fala com propriedade de dois elementos lingüísticos –
som e significado – que para ele convergem-se num só elemento chamado “palavra”.
Não queremos aqui, de modo algum, fazer análises e/ou apresentar o signo
segundo a óptica da psicologia na sua plenitude, mas sim apresentar mais uma maneira
de ver o signo e suas significações aplicados como instrumentos de decodificação do
espírito humano.
Em referência ao signo, Vigotsky fala de um tipo especial de análise a que ele
chama análise em unidades.
A unidade é, para Vigotsky, o que o signo é para os lingüistas, ou seja, uma
unidade que representa o todo e que pode ser subdivida em partes. Para melhor elucidar,
tomaremos a reflexão do próprio Vigotsky (2000, p. 5):

A chave para a compreensão das propriedades da água são as


suas moléculas e seu comportamento, e não seus elementos
químicos. A verdadeira unidade da análise biológica é a célula
viva, que possui as propriedades básicas do organismo vivo.
Assim como a molécula representa um microcosmo para a água, a célula para a
análise biológica, o significado da palavra é o microcosmo em relação ao pensamento
verbal, que deve ser, por sua natureza, o macrocosmo.
Por último, Vigotsky (1998) considera que o significado é um ato desencadeado
pelo pensamento e que uma palavra sem o seu devido significado é algo vazio que
quase nada, ou nada importa como elemento de fala.

2.9. O signo ideológico de Bakhtin: uma visão filosófica

O signo para Bakhtin é um elemento de natureza ideológica. Ele chega a afirmar


que todo signo é ideológico por natureza. “Tudo que é ideológico possui um significado
e remete a algo situado fora de si mesmo, [...], tudo que é ideológico é signo. Sem
signos não existe ideologia”. (BAKHTIN, 2002, 31). Desta forma é viável dizer que o
signo é carregado de significações ideológicas. Se tomarmos as expressões sígnicas de
Hjelmslev e suas significações contextuais para construirmos um signo perfeito,
inevitavelmente chegaríamos ao signo ideológico de Bakhtin. Nenhum signo isolado
possui valor em si mesmo. Todo signo deve ser contextualizado para ganhar
significação. Se um elemento sígnico não contiver em si uma carga de pura ideologia
emanada pelo contexto a que pertença, não poderá ser considerado um signo perfeito.
Assim sendo, Bakhtin (2002, p. 33) ressalta:

Cada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma sombra da


realidade, mas também um fragmento material dessa realidade.
Todo fenômeno que funciona como signo ideológico tem uma
encarnação material, seja como som, como massa física, como
cor, como movimento do corpo ou como outra coisa qualquer.

O signo embevecido de significação ideológica pode estar sujeito a critérios de


avaliação do meio ideológico e, naturalmente, ser entendido conforme a necessidade
contextual dos interlocutores. Quando o signo é contextualizado, o campo de domínio
do signo converge com o campo de domínio do fator ideológico que ele representa. Um
signo à margem é um signo sem valor significativo, mas um signo que refrata o seu
valor sígnico por meio da inter-relação que adquire no contexto com outros signos é um
signo repleto de significações. No lugar em que estiver um signo carregado de sentido,
ali também estará o ideológico; e tudo o quanto puder ser considerado ideológico, por
sua natureza representativa e significativa, deve ser considerado de valor semiótico,
conforme Bakhtin.
O homem vive ladeado de signos, cria signos para representar tudo o que quer,
interpreta os signos naturais para entender os fenômenos da natureza e, acima de tudo,
convenciona-os com a finalidade de perpetuar a consciência humana. Há até mesmo
signos extra-naturais para leitura, indagação e tentativa de compreensão do sobrenatural.
Mas é bom ressaltar que a consciência só pode, segundo Bakhtin, ser entendida como
tal quando se enche de conteúdo ideológico e interage com outras consciências. Isto
quer dizer que nenhum signo tem valor absoluto fora da interação social, ou seja, à
margem do contexto, seja ele o contexto do próprio signo ou o contexto dos
interlocutores que o utilizam como elemento de implementação, reflexão e
transformação do ideológico, analisado segundo limites de espaço e tempo.
Em síntese, pode-se dizer que o signo bakhtiniano é ideológico por natureza, não
porque não signifique algo vazio de sentido, de idéia; mas porque significa, acima de
tudo, algo que pode ser assimilado pelo ideológico ou que pode personificar o próprio
ideológico.

2.10. Considerações finais

Todas as teorias estudadas neste trabalho possuem uma propriedade em comum:


referem-se às significações que podem emanar de todas as coisas naturais, artificiais e
sobre-naturais – signos naturais, signos não-naturais e signos artificiais. Porém, vale
ressaltar que foi dada importância maior ao signo lingüístico em detrimento dos demais,
tendo em vista a sua meta-natureza, fato que o torna mais valoroso em relação a outros.
Todo signo não-lingüístico só pode ser traduzido por um signo lingüístico, nunca por si
mesmo. Diz Lopes (2000, p. 45):
O que precisamente aparta, de modo definitivo, os signos
verbais das demais espécies de signos artificiais é o fato de que
estes últimos serão sempre traduzidos pelos primeiros, meta-
signos universais; e estes, os signos verbais, só são traduzíveis
com adequabilidade por outros signos lingüístico-verbais. Eles
não se baseiam em significações de outra modalidade qualquer
de linguagem e, fora deles, não há inteligibilidade possível para
o homem.

O signo é para o homem a mola propulsora que o induz às transformações sócio-


culturais, tendo em vista a sua natureza ideológica, conforme Bakhtin (2002).
Saber se o signo foi melhor definido por Saussure, por Peirce, Hjelmslev,
Guiraud, por Greimas, Barthes, Borba, Bakhtin, Lopes, Vigotsky ou por qualquer
outro teórico não é relevante para este trabalho; muito menos foi critério definir se
o signo é melhor teorizado pela semântica ou pela semiótica. Vale dizer então que
a principal reflexão deste artigo foi a apresentação das diversas teorias do signo e
suas significações para que fosse possível verificar a importância que têm o signo
e suas emanações no estudo e na compreensão da linguagem como elemento
implementador das aspirações lingüísticas e sócio-psico-ideológicas do homem.

2.10. Referências Bibliográficas

BAKHTIN, Mikhail (Volochinov). Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: HUCITEC,
2002.
BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. São Paulo: Cultrix, 1972.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de lingüística. São Paulo: Cultrix, 1998.
GREIMAS, Algirdas Julien. São Paulo: Cultrix, 1973.
GUIRAUD, Pierre. A semântica. 3.ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 1980.
HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1975.
LOPES, Edward. Fundamentos da lingüística contemporânea. São Paulo: Cultrix, 2000.
PEIRCE, Charles S. Semiótica. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.
PEIRCE, Charles S. Semiótica e Filosofia. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 30. ed. São Paulo: Cultrix. 2001.
VIGOTSKY, Lev Semenovitch. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins fontes, 1998.
WALTHER-BENSE, Elisabeth. A teria geral dos signos. São Paulo: Perspectiva, 2000.
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